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O papel (des)favorável da fotografia na atualidade

Postado em 18/12/2014 11h34min

Por Nathália Braga

Com o passar dos anos, fotografar se tornou mais acessível. A invenção de smartphones, tablets e pequenas câmeras portáteis facilita o registro em qualquer lugar. Há cerca de dez anos, a fotografia digital se popularizou pelo mundo e as empresas voltadas a esse mercado encontraram diversas formas de inovação. Segundo o coordenador do curso de Fotografia e professor da área de Comunicação Social, Leonel José de Oliveira, antes registradas de forma analógica, as imagens agora se transformaram em códigos, em linguagem virtual. “A digitalização tira a imagem do processo analógico e a coloca numa dimensão que está relacionada com a quebra dos códigos analógicos”, diz.

Com a existência da internet, surgiram as redes sociais e o processo de divulgação de imagens virtuais. Oliveira afirma que produzir e disseminar facilmente o conteúdo significa também um consumo facilitado por parte do público. A evolução dos computadores e celulares para a adaptação à internet contribui para a propagação das fotografias de forma instantânea nas redes sociais.

Um estudo realizado neste ano pela empresa Jetpac, proprietária do aplicativo Jetpac Citi Guides para iPhone, apontou que os brasileiros são os usuários que mais publicam imagens de pessoas sorridentes no aplicativo Instagram. A pesquisa analisou mais de 150 milhões de fotografias provenientes de 124 países por meio de um software, e as situações mais frequentes expostas pelos brasileiros são as noites nas baladas, shows, jantares e compras.

De acordo com o professor, as imagens compartilhadas nas redes sociais potencializam seu valor. “Hoje achamos que qualquer coisa é espetacular”, comenta. Ele observa que, atualmente, há o que se costuma denominar de “espetacularização” dos fatos, ou seja, uma supervalorização dos acontecimentos. Além disso, as pessoas esperam por aprovação das imagens publicadas e, se isso não ocorre, sentem-se excluídas.

O professor ressalta que os benefícios e malefícios do uso de fotografias na internet dependem da forma como o público lida com essas informações. Ele cita a diferença do vínculo entre o ambiente virtual e o papel, e explica que as imagens digitais consistem em dados de fluxo muito rápido, que não provocam reflexão. “A relação das pessoas com a máquina e com o papel difere no consumo das informações. A internet sugere a continuidade”, completa.

“Sou visto, logo existo”
A formanda em Psicologia pela Univates Fernanda Nicaretta elaborou uma pesquisa sobre fotos em redes sociais, em especial no perfil, para produzir seu Trabalho de Conclusão de Curso. Conforme ela, entre os aspectos abordados está a discussão acerca da imagem formada por cada pessoa e o que cada um oferece de si, a intenção a ser transmitida pela fotografia. “Algumas hipóteses são problematizadas. Uma delas seria o quanto a proposta das redes sociais parece ter 'casado' muito bem com uma necessidade contemporânea de ser visto”, explica.

Fernanda cita o psicanalista Joel Birman, o qual acredita que essa necessidade de exibição é decorrente de uma sensação de vazio carregado pelas pessoas e que se acentua em tempos de circulação intensa de informações, quando tudo se atualiza rápido. “Haveria, talvez, um medo, nem mais tanto inconsciente, de 'deixar de existir' para os olhos dos outros, de ser esquecido”, esclarece a acadêmica.

Para amenizar essa sensação, os internautas publicam imagens de si mesmo o tempo todo, como forma de mostrar aos outros sua existência, a vivência em diversos lugares e o número de amigos. Mostrar aos demais suas ocupações passa, então, a ser uma maneira de reafirmar a ação. “É como se potencializássemos aquela experiência por meio dos 'likes' que recebemos. Quanto mais pessoas verem, mais intenso, mais certeza de que aconteceu. Seria a lógica do 'sou visto, logo existo'”, declara.

Segundo Fernanda, a necessidade de atualizar os demais sobre nossas atividades não é ruim. Ela defende que as redes sociais existem para que vivências sejam trocadas com outras pessoas. Porém, acredita que é preciso atentar para qual experiência tem maior importância para cada um: direcionar os olhos para o celular e receber muitas curtidas, sentir o prazer de ser visto por diversas pessoas, ou viver o que acontece, sentir a intensidade do momento em um âmbito particular. 

 

Texto: Nathália Braga

 A invenção de smartphones, tablets e pequenas câmeras portáteis facilita o registro em qualquer lugar

Nathália Braga

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