Pesquisa surge como alternativa no combate à fome
Postado em 16/01/2017 09h54min
Por Artur Dullius
A fome e a desnutrição são uns dos grandes problemas no Brasil. Contudo, mesmo diante de tantas pessoas nessa situação, também há uma realidade contraditória em que toneladas de alimentos são desperdiçados e eliminados indiscriminadamente todos os dias. Mantimentos que poderiam ser aproveitados como rica fonte nutricional e de combate à fome acabam não chegando à mesa dos brasileiros.
O relatório “Estado da Insegurança Alimentar no Mundo”, elaborado pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), calcula que, entre 2012 e 2014, 805 milhões de pessoas estavam cronicamente subalimentadas no mundo. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil esse número ultrapassa a marca de 7 milhões (em 2013).
Diante dessa realidade, um estudo realizado na Univates busca caminhos para o combate à desnutrição. Mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento, Caroline Lima Zanatta viu no aproveitamento de vegetais não conformes à comercialização uma fonte alternativa de vitaminas e minerais que pode contribuir substancialmente para aumentar a disponibilidade de nutrientes.
Segundo o coordenador da pesquisa, professor Eduardo Miranda Ethur, o mercado exige um produto dentro de certos parâmetros de qualidade, com padronização de tamanho, peso, formato e ausência de deformações. No entanto, muitas frutas e vegetais que não atendem ao estipulado podem ser utilizados na alimentação, pois possuem qualidades nutricionais que não deveriam ser desprezadas. “É o alimento que não é comercializado pois está machucado, por exemplo, mas está em condições de uso. Às vezes é uma pequena mancha que pode ser tirada com a ponta da faca, mas comercialmente o produto não interessa mais ao cliente”, explica.
Carolina selecionou três desses alimentos (beterraba, cenoura e o espinafre) a fim de preparar diferentes produtos. Após os processos de higienização, descasque, fatiamento e secagem, a pesquisadora transformou o que antes era um resíduo em matéria-prima. “A proposta era transformar esses alimentos não conformes em outra fonte de alimento. Então transformamos esses vegetais em farinha, com a qual fizemos pães, bolos e vitaminas”, explica Ethur, salientando que, em situações normais, cerca de 40% dos alimentos são perdidos desde a produção até o momento que é colocado à mesa.
Rico em nutrientes
O pesquisador garante ainda que os vegetais, mesmo após terem passado pelo processo de transformação, mantêm grande parte dos nutrientes, o que possibilita a fabricação de produtos com valor nutricional melhor que os oferecidos normalmente no comércio. “É uma forma de trabalhar a ingestão de nutrientes de forma mais agradável, pois nem sempre você quer comer beterraba, mas comendo o pão não sente o gosto. Também há a questão dos nutrientes, pois você pode comer bem, mas não estar nutrido, e esses alimentos são ricos nisso”, afirma.
De acordo com o Ministério da Saúde (2009), as doenças causadas por deficiências nutricionais impedem que milhares de pessoas tenham saúde e bem-estar. O problema surge como um entrave para que crianças consigam crescer e se desenvolver de acordo com o esperado, enquanto que adultos e idosos necessitam da alimentação adequada para manter a saúde.
Diante disso, Ethur garante que os produtos teriam valor ainda maior quando inseridos na alimentação de crianças e idosos. “Buscamos trabalhar com algo que tivesse boa aceitação, pois praticamente todo mundo come algum tipo de pão, bolo ou massa”, conclui.
Texto: Artur Dullius
Elise Bozzetto