0 CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EM ENSINO DE CIÊNCIAS EXATAS A FUNÇÃO SOCIAL DO ENSINO DE MATEMÁTICA: RELAÇÕES ENTRE CONTEÚDO CURRICULAR E COTIDIANO FINANCEIRO Lisani Wiethölder Stahlhöfer Lajeado, março de 2013 B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 1 Lisani Wiethölder Stahlhöfer A FUNÇÃO SOCIAL DO ENSINO DE MATEMÁTICA: RELAÇÕES ENTRE CONTEÚDO CURRICULAR E COTIDIANO FINANCEIRO Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências Exatas, do Centro Universitário UNIVATES de Lajeado, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Ensino de Ciências Exatas. Linha de Pesquisa: Epistemologia da prática pedagógica no ensino de Ciências e Matemática. Orientadora: Profª. Drª. Marlise Heemann Grassi Coorientadora: Profª. Drª. Márcia Jussara Hepp Rehfeldt Lajeado, março de 2013 B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 2 Lisani Wiethölder Stahlhöfer A FUNÇÃO SOCIAL DO ENSINO DE MATEMÁTICA: RELAÇÕES ENTRE CONTEÚDO CURRICULAR E COTIDIANO FINANCEIRO A Banca examinadora abaixo aprova a Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Ensino de Ciências Exatas, do Centro Universitário UNIVATES, como parte da exigência para a obtenção do grau de Mestre em Ensino de Ciências Exatas. Profª. Drª. Marlise Heemann Grassi - orientadora Centro Universitário UNIVATES Profª. Drª. Márcia Jussara Hepp Rehfeldt - coorientadora Centro Universitário UNIVATES Profª. Drª. Marli Teresinha Quartieri Centro Universitário UNIVATES Profª. Drª. Silvana Neumann Martins Centro Universitário UNIVATES Profª. Drª. Liane Teresinha Wendling Roos Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Lajeado, março de 2013 B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 3 DEDICATÓRIA Ao meu esposo, Silvério, pelo incentivo, compreensão e apoio em toda minha trajetória. Aos meus filhos Juliane Elisa e Cristian Matias, pela compreensão nos momentos da minha ausência. À Silira, minha mãe, que me ensinou o valor da honestidade, do trabalho e do amor. Ao meu pai Edgar (in memorian), que, na dimensão em que está, certamente acompanhou meu desenvolvimento pessoal e profissional. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 4 AGRADECIMENTOS A Deus, que sempre emanou as forças espirituais necessárias para realizar este trabalho. À professora Drª. Marlise Heemann Grassi, pela competência, dedicação, paciência, carinho e por nunca ter medido esforços para a orientação deste trabalho. À professora Drª. Márcia Jussara Hepp Rehfeldt, pela competência, leitura atenta, colaboração e carinho. A toda equipe de docentes do Mestrado em Ensino de Ciências Exatas, pelas contribuições dadas para a minha formação. Aos funcionários do Centro Universitário UNIVATES, pela disponibilidade e atencioso desempenho de suas tarefas. À minha família, pelo incentivo, carinho e compreensão no dia a dia. Aos colegas do curso do Mestrado em Ensino de Ciências Exatas pelo companheirismo e amizade demonstrados. À equipe diretiva, professores e funcionários da Escola Municipal de Lajeado, pelo incentivo dado durante o trabalho. Aos estudantes da turma do oitavo ano B, da Escola Municipal de Lajeado, pela participação nas atividades propostas, pelos questionamentos e pelo interesse e envolvimento no estudo proposto. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 5 A todos que, de uma forma ou de outra, comigo colaboraram e souberam compreender as minhas ausências e respeitaram minhas opções. Que Deus os recompense! B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 6 “Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão”. Paulo Freire B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 7 RESUMO O controle financeiro ainda constitui um problema na cultura aquisitiva dos brasileiros. O salário da maioria da população é muito baixo, muitas vezes incompatível com o consumo que pode ser observado, especialmente em datas comemorativas. Constata-se uma grande facilidade na aquisição de créditos e os apelos midiáticos influenciam e prejudicam a população, criando falsas necessidades, levando à compra de produtos desnecessários, geralmente alterando o equilíbrio das finanças das famílias e das pessoas individualmente. Vislumbrando este contexto e buscando cumprir a função social do ensino, desenvolveu-se a proposta pedagógica investigativa detalhada nesta dissertação, partindo do pressuposto de que o currículo da escola na área de Matemática, quando focado na realidade ou cotidiano dos alunos, pode ter repercussões positivas na vida financeira de suas famílias. O objetivo central foi investigar possibilidades de modificação de comportamento do consumidor, através do desenvolvimento de uma proposta de matemática financeira, e o questionamento levantado para orientar as etapas do trabalho foi “Como alunos de oitavo ano do ensino fundamental reagem à proposta de ensino envolvendo análise crítica de situações e condições de aquisição de bens e produtos?”. A prática pedagógica investigativa foi realizada numa escola de ensino fundamental do município de Lajeado. Os participantes da pesquisa-intervenção foram os 19 alunos matriculados no oitavo ano, no turno da tarde. O estudo realizado foi de natureza qualitativa, com algumas abordagens quantitativas e a prática pedagógica pode ser caracterizada como um estudo de caso. As informações, no decorrer da prática pedagógica investigativa, foram obtidas através de registros realizados em locais visitados e análise comparativa dos preços registrados, entrevistas com os pais a partir de um questionário, bem como, relatórios e produções individuais e grupais. A análise das informações seguiu as orientações da Análise Textual Discursiva que contou com a desconstrução dos textos, o estabelecimento de relações e a organização em unidades de significado. A dimensão quantitativa foi representada por meio de tabelas e gráficos. A proposta pedagógica envolveu análises, pesquisas, entrevistas com pais, palestras, observações diretas e uso de softwares mat0402, e foram acompanhadas de debates e discussões que permitiram estabelecer relações com conteúdos de matemática. Os resultados apresentados e discutidos com os pais em reunião, oferecidos às pessoas que contribuíram com a pesquisa e expostos no quadro mural da escola, revelaram que o trabalho motivou alunos e pais a pesquisar preços, a pensar sobre seus gastos e investimentos e a modificar alguns hábitos gerados pelo apelo consumista da nossa sociedade. Os alunos participantes revelaram grande aceitação da proposta, envolveram-se nas atividades e manifestaram intenções de considerar as aprendizagens no seu cotidiano, permitindo entender que a função social do ensino da Matemática pode ser cumprida se o seu currículo estabelecer relações com a realidade dos educandos. Palavras chave: Educação Financeira. Ensino de Matemática. Função social do ensino. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 8 ABSTRACT The financial control is still a problem in the purchasing power of Brazilian culture. The wages of the majority of the population is very low, often incompatible with the consumption that can be observed, especially in celebrations. It can be seen a great facility in acquiring claims and the appeals media influence and harm the population, creating false needs, leading to buying unnecessary products, usually changing the balance of finances of families and individuals. Glimpsing this context and seeking to fulfill the social function of education, was developed in this dissertation, a detailed investigative pedagogical proposal starting from the assumption that the school curriculum in the area of mathematics, when focused on everyday reality or students, can have positive repercussions in the financial life of their families. The main objective was to investigate possibilities of modifying consumer behavior through the development of a financial mathematics proposal and the raised questions to guide the steps of the work was “How students of the eighth year of elementary school react to the proposed education involving critical analysis of situations and conditions for the acquisition of goods and products? ". The investigative pedagogical practice was conducted in a primary school in Lajeado City. Participants in the intervention research were 19 eighth graders who are enrolled in the afternoon. The study was qualitative, with some quantitative approaches and pedagogical practice can be characterized as a case study. The information, during the investigative pedagogical practice, was obtained through records of visited places and comparative analysis of prices recorded, interviews with parents from a questionnaire, as well as, individual and group reports and productions. The analysis of information followed the guidelines of Textual Analysis Discursive which included the deconstruction of texts, establishing relations and the organization into meaning units. The quantitative dimension was represented by tables and graphs. The pedagogical proposal involved analyzes, surveys, interviews with parents, lectures, observations and the use of software mat0402, and they were accompanied by debates and discussions that helped establish relationships with mathematic contents. The results presented and discussed with the parents at the meeting, available to people who contributed to the research and exposed in the school bulletin board, revealed that work has motivated students and parents to search for prices, think about your spending and investments and change some habits generated by the appeal of our consumerist society. The participating students showed great acceptance of the proposal, became involved in the activities and expressed intentions of considering the learning in their daily lives, allowing understand that the social functions of mathematics education can be fulfilled if your resume establish relations with the reality of learners. Keywords: Financial Education. Teaching Mathematics. Social function of education. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 9 LISTA DE ILUSTRAÇÕES LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Escolaridade dos pais dos alunos........................................................... 38 LISTA DE IMAGENS Imagem 1 – Atividade com o uso dos folhetos de promoções de mercado............... 44 Imagem 2 – Educandos anotando preços no mercado............................................. 47 Imagem 3 – Alunos fazendo atividades na sala de Informática................................. 72 Imagem 4 – Confecção de cartazes sobre a Educação Financeira........................... 74 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Interface do software mat0402................................................................. 55 LISTA DE APÊNDICES Apêndice A – Questionário aplicado aos pais....................................................... 99 Apêndice B - Pesquisa de preços em mercados.................................................... 101 Apêndice C - Tabela para registros de preços......................................................... 103 Apêndice D - Autoavaliação .................................................................................... 104 LISTA DE ANEXOS Anexo I – Autorização.............................................................................................. 106 Anexo II – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido........................................ 107 Anexo III - Artigo utilizado........................................................................................ 108 Anexo IV - Artigo utilizado........................................................................................ 109 Anexo V - Artigo utilizado......................................................................................... 110 Anexo VI - Artigo utilizado........................................................................................ 111 Anexo VII - Artigo utilizado....................................................................................... 113 Anexo VIII - Artigo utilizado...................................................................................... 117 Anexo IX - Artigo utilizado........................................................................................ 118 Anexo X - Artigo utilizado......................................................................................... 119 Anexo XI - Artigo utilizado........................................................................................ 120 Anexo XII - Artigo utilizado....................................................................................... 121 Anexo XIII - Artigo utilizado..................................................................................... 123 Anexo XIV - Artigo utilizado..................................................................................... 124 Anexo XV - Artigo utilizado...................................................................................... 126 Anexo XVI - Artigo utilizado..................................................................................... 127 Anexo XVII - Artigo utilizado.................................................................................... 128 Anexo XVIII - Artigo utilizado................................................................................... 129 Anexo XIX - Artigo utilizado..................................................................................... 130 B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 10 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 11 2 REFERENCIAL TEÓRICO..................................................................................... 19 2.1 Função Social da Escola.................................................................................. 19 2.2 A Educação Matemática e os PCN................................................................. 22 2.3 Educação Financeira......................................................................................... 23 2.3.1 Um pouco sobre a História do Dinheiro....................................................... 32 3 METODOLOGIA..................................................................................................... 33 3.1 Contextualização do lócus da Pesquisa......................................................... 33 3.1.1 Alguns Dados do Município.......................................................................... 33 3.1.2 Caracterização da Escola............................................................................... 36 3.1.3 Caracterização do Grupo............................................................................... 37 3.2 Método de Pesquisa.......................................................................................... 38 4 DETALHAMENTO DAS PRÁTICAS INVESTIGATIVAS...................................... 42 5 RELATOS E REFLEXÕES SOBRE A TRAJETÓRIA PEDAGÓGICA E INVESTIGATIVA ...................................................................................................... 82 5.1 Uma Reflexão acerca da minha Prática e a Visita às Famílias...................... 82 5.2 A Exposição das Produções Individuais e Coletivas à Comunidade Escolar...................................................................................................................... 85 5.3 Relato da Prática para Colegas........................................................................ 86 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................... 89 REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 94 APÊNDICES.............................................................................................................. 98 ANEXOS.................................................................................................................. 105 B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 11 1 INTRODUÇÃO O interesse pelas Ciências Exatas me marcou desde a infância. A partir dos primeiros anos na escola, já gostava dos números, de fazer cálculos, de achar a resposta certa e de ajudar os colegas que encontravam dificuldades na Matemática. Gostava de fazer compras e cuidar do dinheiro que ganhava, do troco que recebia e de observar e anotar os preços dos produtos. No Ensino Médio, optei em matricular-me no curso Auxiliar de Contabilidade, pois sabia que o mesmo oferecia possibilidades de trabalhar com números e talvez com dinheiro. Formei-me e, em seguida, consegui trabalho em um supermercado, na função de operadora de caixa. Adorava o serviço, mas senti que não conseguiria crescer financeiramente e nem profissionalmente. No mercado, observava e me chamava atenção a disposição dos produtos nas prateleiras. Os produtos supérfluos estavam próximos aos caixas, fazendo com que as pessoas os percebessem ao esperar em filas e os comprassem com facilidade. Já os produtos de primeira necessidade se encontravam mais distantes do caixa. Preocupava-me com as pessoas que compravam a prazo e, geralmente, produtos supérfluos. Prestei vestibular para ingressar no Ensino Superior e, aprovada, iniciei o curso de Administração - Comércio Exterior, na UNIVATES, no qual atuava o professor Nelson Beinecke, como docente na área da Matemática. Este profissional incentivou-me a fazer a Licenciatura em Matemática, pois na época faltavam professores para lecionarem este componente curricular, nas escolas de Educação Básica. Após ter cursado dezesseis disciplinas no curso de Administração, troquei para a Licenciatura em Matemática e Ciências. Confirmando a previsão do professor B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 12 Beinecke, fui contratada para lecionar as disciplinas de Matemática e Ciências, em regime emergencial, um ano após ter iniciado o novo curso. A partir de então, passei a gostar sempre mais dos números, e estudava para me aperfeiçoar cada vez mais. Lecionando à noite, tinha alunos que já trabalhavam e se queixavam que o seu salário era muito baixo, mas observava que muitos compravam roupas e calçados de marcas caras, em contraponto, para comprar os produtos de primeira necessidade faltava dinheiro. Como gostava de falar e aconselhar sobre este assunto, já os alertava para se esforçarem ao máximo no trabalho e reservar sempre um pouco do seu salário. Continuei meus estudos, realizando a Pós-Graduação em Educação Matemática, na Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC, desenvolvendo a monografia intitulada “A Desmotivação dos alunos nas aulas de Matemática”. Em seguida, cheguei ao mestrado em Ensino de Ciências Exatas, no qual me foram proporcionadas oportunidades de pesquisar, estudar e trabalhar, aprofundando meus conhecimentos sobre a Educação Financeira e outros temas ligados ao ensino de Ciências e Matemática na contemporaneidade. Sabe-se que, atualmente, a questão financeira é um grande problema na cultura brasileira, pois o salário da maioria da população é muito baixo quando comparado com as horas trabalhadas e, além disso, grande parte das pessoas, muitas vezes, gasta mais do que ganha. Constato que existe uma grande facilidade na aquisição de créditos. A mídia, que está voltada para o consumo, prejudica a população, criando falsas necessidades, propagando a ideia de que você vai ser feliz se adquirir certos produtos. Isso faz com que o consumo de produtos desnecessários altere o equilíbrio das finanças das famílias e das pessoas individualmente, que geralmente veem diminuídos os recursos necessários a uma vida tranquila e, muitas vezes, à sobrevivência. Na opinião de economistas, o consumo impulsiona a economia, gera empregos e, consequentemente, o crescimento do país. Entretanto, é preciso considerar os efeitos que o estímulo ao consumo traz para famílias e pessoas individualmente, que, com pouca informação e orientação, ainda alimentam a cultura B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 13 do ter em detrimento do ser. Kiyosaki (2008), alerta sobre os perigos do excesso de gastos e da pouca preocupação com um orçamento equilibrado. O analfabetismo financeiro da maioria da população gera a falta de habilidade em avaliar promoções e conferir taxas de juros. Ao abordar essa questão, Cerbasi (2003) questiona os impulsos que levam as compras e os resultados destas atitudes que podem ser motivo de stress, brigas conjugais e até doenças ligadas a fatores emocionais. A análise da atual situação econômica das famílias brasileiras revela que houve uma ascensão das classes C e D, percebida principalmente pelo aumento do poder aquisitivo. Dados divulgados no Jornal Zero Hora do dia 19 de fevereiro de 2012, apresentados pelo articulista Trezzi, revelam que as condições de vida de grande parte da população, no que se refere à habitação, lazer e acesso a bens materiais, vem se modificando significativamente. Entretanto, essa mudança de condição econômica está trazendo algumas preocupações em relação às formas como as famílias vêm administrando os seus recursos. Essa preocupação, manifestada por economistas e gestores de diferentes áreas refere-se à população brasileira que vive em diversas regiões do país, e também reflete situações percebidas na comunidade em que atuo como professora. A cada ano que passa, o convívio com vários tipos de pessoas ratifica essa percepção. Os altos salários ou os salários que contemplam todas as necessidades de uma família são privilégio de uma minoria. Significa que a maioria da população ganha um salário muito baixo, muitas vezes insuficiente para pagar as despesas do mês. Como agravante, existe a condição de analfabetismo financeiro, caracterizado pelo consumismo sem planejamento, pelo pagamento de altos juros em compras parceladas e pela ausência de uma reserva de dinheiro para emergências, que mesmo de pouco valor, pode ser extremamente providencial em situações inesperadas. O programa Globo Repórter exibido no dia 9 de março de 2012, que abordou a temática deste estudo, começou com a seguinte pergunta: Vale a pena economizar? O foco do programa estava concentrado na situação de brasileiros, que mesmo exercendo profissões com baixa remuneração, conseguiram acumular bens B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 14 e garantir uma vida tranquila, assegurada pelas condições financeiras proporcionadas pelo hábito de poupar e de consumir de forma racional e planejada. Todas as pessoas entrevistadas destacaram a importância da valorização de cada centavo, da boa disposição para o trabalho, do bom humor, de comprar somente o necessário, de economizar no uso da luz e da água, de optar por compras à vista e de sempre pensar antes de fazer uso dos recursos de que dispõe. Uma observação mais atenta sobre fatos e fenômenos que acompanham a realidade financeira de cidadãos, deixa evidente o mau uso do dinheiro, causado muitas vezes pelas manipulações midiáticas repetitivas e insistentemente presentes em anúncios e em diferentes programações. O apelo ao consumo, pautado pela facilidade de se obter crédito, pelas mensagens que sugerem sucesso e felicidade com a compra de certos produtos e pelo enganoso processo de prestações e carências para o primeiro pagamento, tem gerado grande número de endividados. Estes, perdem a noção do valor total de pequenas contas a pagar e assumem outras dívidas, geralmente mais significativas e comprometedoras, para quitar as anteriores. Insere-se nesse cenário, o uso indiscriminado do cartão de crédito, também vilão do desequilíbrio financeiro. Inúmeros autores abordam o problema da população em relação à Educação Financeira. Entre eles, podemos citar Frankenberg (2002), Cerbasi (2003, 2004), Kiyosaki e Lechter (2004), Pimentel (2007), Trump e Kiyosaki (2007), Domingos (2008), Kiyosaki (2008), Kern (2009) e Stuart (2009). Os autores comentam sobre vários problemas de situações financeiras que as pessoas sofrem, alertam sobre a necessidade do controle dos ganhos e gastos e ressaltam a importância de uma Educação Financeira, com a qual as pessoas poderão ter uma nova visão e novas atitudes em relação ao dinheiro. Estudos já desenvolvidos por Kern (2009) e Strate (2010), no Programa de Pós-Graduação, Mestrado Profissional em Ensino de Ciências Exatas no Centro Universitário UNIVATES, também mencionam os problemas anteriormente citados. No município onde leciono, igualmente observo o problema do consumismo e a falta de planejamento financeiro das famílias. Habitações com “chão batido”, alimentação restrita, vestuário insuficiente para os períodos de frio e até a B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 15 dissolução de famílias (entrega de filhos para parentes ou outras famílias) para garantir a sobrevivência, são fatos que fazem parte do contexto e que repercutem nas condições de saúde, na harmonia familiar, no lazer e no acesso à cultura e bens necessários para uma vida digna e com perspectivas. Por isto, penso que é importante começar a propor nas escolas atividades referentes à educação financeira. Observo que muitos alunos compram produtos desnecessários, gastando o dinheiro dos pais, que pode fazer falta para comprar produtos de primeira necessidade. Percebi, no decorrer de minhas atividades docentes, que também os pais necessitam de uma educação financeira. Embora ainda não esteja explicitamente incluída no currículo escolar, os professores podem adaptar os conteúdos de forma a abordar a questão do controle financeiro. A falta desta abordagem no ensino também já foi colocada por Cerbasi (2004), que observou que a educação financeira não faz parte dos currículos das escolas brasileiras nos diferentes níveis de ensino. Acredito que nas vivências cotidianas, como uma pesquisa de preços em supermercados do bairro e observando as compras à vista e a prazo, pode estar o início de uma mudança de atitude em relação à economia, extensiva à família. Nessa perspectiva, os adolescentes, ao terem aulas práticas sobre o orçamento familiar, podem observar se existem diferenças nas compras e entender porque a cultura poupadora e investidora consegue sempre rendimentos maiores. As aulas podem ser mais motivadoras para os alunos e também muito importantes para os pais, pois com o planejamento familiar provavelmente aconteça uma maior tranquilidade financeira. Movida por essa hipótese e pela possibilidade de intervir, mesmo que de forma modesta, nesta realidade, planejei e desenvolvi uma proposta de prática pedagógica investigativa a ser descrita nos segmentos a seguir. Selecionei o estudo sobre Educação Financeira, esperando, assim, ajudar os alunos, e por extensão, os pais e a comunidade escolar. Trabalhando o conteúdo de Matemática com exemplos práticos do dia a dia, com pesquisa de preços, análise de diferenças de preços à vista e a prazo, incentivando o controle de gastos e o B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 16 planejamento da sua situação financeira, é possível ter um referencial que auxilie a todos a administrar seus rendimentos. Considerei a possibilidade de, através da minha prática pedagógica investigativa, cumprir a função social esperada de docentes que atuam em diferentes níveis de escolaridade, em especial os que envolvem a Educação Básica, espaço de intervenção capaz de constituir referencial de mudança de concepções e de hábitos culturalmente instalados. A proposta foi orientada pela seguinte questão: Como alunos de oitavo ano do Ensino Fundamental reagem à proposta de ensino envolvendo análise crítica de situações e condições de aquisição de bens e produtos? No desdobramento desta questão procurei saber: - Que concepções os alunos têm sobre compras à vista e a prazo? - Como são percebidos os apelos e as mensagens implícitas em comerciais e programas veiculados nos meios de comunicação social? Induzem ao consumo? - Como os alunos resolvem situações problemas do cotidiano utilizando conteúdos matemáticos? - Que modificações podem ser percebidas nas concepções sobre a utilização de recursos financeiros? Parti do pressuposto de que o currículo da escola na área de Matemática, quando focado na realidade ou cotidiano dos alunos, pode ter repercussões positivas na vida financeira das famílias e, nesse sentido, a prática pedagógica investigativa foi organizada em torno do objetivo de investigar possibilidades de modificação de comportamento do consumidor, através do desenvolvimento de uma proposta de Matemática Financeira. Para o alcance deste objetivo geral foram definidos os seguintes objetivos específicos: - Averiguar quais as concepções dos alunos sobre Educação Financeira; B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 17 - Analisar e problematizar coletivamente as mensagens presentes nos folhetos de propaganda distribuídos rotineiramente e que induzem ao consumo; - Questionar pais e alunos em relação ao seu controle financeiro e discutir os resultados em sala de aula; - Atentar para a importância da pesquisa dos preços em supermercados para melhorar o seu controle financeiro, comparando quantidades inteiras e fracionadas; - Analisar se as compras à vista são mais compatíveis para a economia do indivíduo e calcular a possível redução de custos; - Estudar possibilidades de diminuição de gastos como contribuição à economia familiar; - Alertar pais e alunos sobre a importância da reserva financeira; - Analisar os resultados de uma proposta de ensino de Matemática Financeira apoiada em metodologias inovadoras e diferenciadas. O trabalho está estruturado em seis capítulos. Além da presente introdução, na qual abordo a minha trajetória, os motivos da opção pela Matemática, os desafios sociais e profissionais da minha caminhada, a questão de pesquisa e os objetivos a serem atingidos, apresento: No capítulo dois, os aportes teóricos que fundamentaram minha prática investigativa, organizando-os em três segmentos. O primeiro traz uma reflexão sobre a função social da Escola. O segundo, sobre a Educação Matemática e os PCN. No terceiro, selecionei informações sobre Educação Financeira, apoiada no pensamento de vários autores que vêm se dedicando ao estudo e divulgando dados e argumentos envolvendo essa temática. No capítulo três, o detalhamento da metodologia da pesquisa, incluindo a contextualização do lócus da pesquisa, dados e informações sobre o município em que a escola está localizada, características da escola e dos alunos participantes do projeto. Além disso, explicito o método de pesquisa e a metodologia utilizada para analisar os dados e informações obtidas através dos instrumentos de coleta. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 18 No capítulo quatro, registro as etapas da prática pedagógica, que foram realizadas durante dois meses com a turma matriculada no oitavo ano do Ensino Fundamental. No capítulo cinco, apresento os relatos e as reflexões sobre a trajetória pedagógica e investigativa, com o detalhamento das atividades envolvendo as visitas às famílias, a exposição das produções individuais e coletivas à comunidade escolar e apresentação da prática para colegas. No capítulo seis, as considerações finais, organizadas em torno dos resultados obtidos com o desenvolvimento da prática pedagógica investigativa, considerando realidades e possibilidades contextuais, concepções e observações pessoais sujeitas a redimensionamentos. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 19 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Função Social da Escola A educação é uma atividade que exige muita dedicação, esforço, criatividade, simplicidade e atualização constante. Compreender e transformar o ensino são tarefas muito delicadas, que impõem ao professor muitos desafios a serem superados. Os adolescentes estão em contato com vários meios de comunicação, nos quais podem encontrar valores, informações, modelos de conduta e formas de pensar inadequados, para uma boa convivência na sociedade. Sacristán e Pérez Gómez (1998, p. 11) ao analisarem o papel da escola afirmam: Facilitar, por meio da educação, o desenvolvimento de indivíduos com capacidade de pensar e atuar de maneira racional e com relativa autonomia exige da escola propostas, processos e estratégias, parcialmente diferentes dos desenvolvidos em épocas anteriores. Levando em conta o complexo e dialético processo de socialização que a escola cumpre nas sociedades contemporâneas, é necessário aprofundar a análise para compreender quais são os objetivos explícitos ou latentes do processo de socialização e mediante quais mecanismos e procedimentos ocorrem na atualidade. Em relação ao complexo processo de socialização na escola, Pérez Gómez (1998, p. 14) entende que “o objetivo básico e prioritário da socialização dos alunos/as na escola é prepará-los para sua incorporação no mundo do trabalho”. Mas podemos nos questionar: O que significa preparar para o mundo do trabalho? Como podemos cumprir esse propósito diante das diferenças sociais? Como podemos contribuir com a igualdade de oportunidades uma vez que o desenvolvimento econômico requer mudanças aceleradas no mercado de trabalho? Pérez Gómez (1998, p. 15) considera que: B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 20 De qualquer forma, é importante indicar que a preparação para o mundo do trabalho requer o desenvolvimento nas novas gerações, não só, nem principalmente de conhecimentos, idéias, habilidades e capacidades formais, mas também da formação de disposições, atitudes, interesses e pautas de comportamento. Estas devem ajustar-se às possibilidades e exigências dos postos de trabalho e sua forma de organização em coletividades ou instituições, empresas, administrações, negócios, serviços [...]. Os alunos aprendem conteúdos e condutas através das interações sociais que ocorrem na sala de aula ou na escola. Muitas vezes, o processo de ensino previsto no currículo oficial não estimula os interesses e preocupações dos adolescentes, que cumprem um ritual e focam seus estudos nas exigências do vestibular e não na aprendizagem que constrói e reconstrói conhecimentos. A aprendizagem das normas, valores e estratégias de interação social é um propósito do currículo escolar com o objetivo de qualificar as relações entre as pessoas, em diferentes contextos sociais. A formação pessoal, responsável pela forma de ser, pensar e agir é um componente fundamental no exercício da profissão e da cidadania. No processo de socialização na escola também acontecem contradições, como o fato de cada educando ter as suas próprias ideias, valores e interesses. Cada ser humano pensa e age de forma diferente, pois vem de culturas diferentes com estruturas familiares cada vez mais diversas, mas sempre há espaço na sala de aula para as negociações, para se chegar a um acordo comum ou mais próximo. Isso deve ser coordenado pelos professores ou pelos responsáveis da turma. Em relação à função educativa da escola na sociedade pós-industrial contemporânea, Pérez Gómez (1998, p. 22) afirma: [...] deve-se concretizar em dois eixos complementares de intervenção: - Organizar o desenvolvimento radical da função compensatória das desigualdades de origem, mediante a atenção e o respeito pela diversidade. - Provocar e facilitar a reconstrução dos conhecimentos, das disposições e das pautas de conduta que a criança assimila em sua vida paralela e anterior à escola. A escola que forma o nosso futuro cidadão não pode aceitar o fracasso escolar. A organização da escola e a formação profissional do professor devem garantir um ensino, que atente para a singularidade de cada aluno sem deixar de B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 21 considerar as características dos grupos que compõem as diferentes turmas com as quais trabalha. Um dos desafios da educação é combater a desigualdade, favorecendo a criação de condições igualitárias para todos os indivíduos na sua vida social e profissional. Na sociedade atual, a escola não é mais o único espaço de construção de conhecimentos e distribuição de informações. Existem vários meios de comunicação que cumprem este papel e são facilmente acessíveis aos educandos, entre esses, a televisão e a internet. Esses meios de comunicação podem ser acessados e assistidos com muita facilidade, rapidez e tranquilidade. Esta rapidez de comunicação permite que o aluno entre na escola com uma grande quantidade de informações e sirva como um complemento para a sua aprendizagem. A escola também é responsável para orientar os educandos sobre as diversas informações que estes têm acesso. Em relação à função da escola Pérez Gómez (1998, p. 26) argumenta: [...] colocar a exigência de provocar a reconstrução por parte dos alunos/as, de seus conhecimentos, atitudes e modos de atuação requer outra forma de organizar o espaço, o tempo, as atividades e as relações sociais na aula e na escola. É preciso transformar a vida da aula e da escola, de modo que se possam vivenciar práticas sociais e intercâmbios acadêmicos que induzam à solidariedade, à colaboração, à experimentação compartilhada, assim como a outro tipo de relações com o conhecimento e a cultura que estimulem a busca, a comparação, a crítica, a iniciativa e a criação. A escola atual necessita de uma transformação de suas práticas pedagógicas e sociais, repensando as funções, bem como as atribuições do professor. O objetivo básico da escola deveria ser o de facilitar e estimular a participação crítica de todos os alunos nas suas diversas tarefas realizadas em sala de aula e também no modo de viver na comunidade democrática de aprendizagem. A análise crítica de situações, a observação atenta de fenômenos e a capacidade de pensar e agir de forma autora podem ser favorecidos pelo ensino criterioso da Matemática, e é possível no desenvolvimento da proposta dos PCN da Educação Nacional. Neste sentido, cabe trazer algumas considerações sobre o assunto. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 22 2.2 A Educação Matemática e os PCN O ensino da Matemática envolve uma área de conhecimento muito importante, porque quase tudo na vida está relacionado a números. Desde a hora que acordamos já usamos os números para contar as horas. Mas, existe uma grande insatisfação em relação à aprendizagem da Matemática em sala de aula. A Matemática pode resolver problemas do nosso cotidiano, mas, algumas vezes, é usada de modo mecânico e repetitivo na sala de aula, provocando assim, uma desmotivação dos alunos. O ensino precisa estar mais centrado na utilização direta do seu conteúdo, no dia a dia do educando. Assim, é possível uma facilidade maior para a sua aprendizagem e para o seu raciocínio lógico. Isso está se tornando um desafio para a maioria dos professores de Matemática. Estes precisam mudar suas estratégias de ensino e de aprendizagem. Conforme os PCN (BRASIL, 2001, p. 29): A Matemática comporta um amplo campo de relações, regularidades e coerências que despertam a curiosidade e instigam a capacidade de generalizar, projetar, prever e abstrair, favorecendo a estruturação do pensamento e o desenvolvimento do raciocínio lógico. Faz parte da vida de todas as pessoas nas experiências mais simples como contar, comparar e operar sobre quantidades. Nos cálculos relativos a salários, pagamentos e consumo, na organização de atividades como agricultura e pesca, a Matemática se apresenta como um conhecimento de muita aplicabilidade. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 2001), é necessário que a Matemática desempenhe sua função na formação de capacidades intelectuais, na estruturação do pensamento, na habilidade do raciocínio dedutivo do aluno, na resolução de problemas em situações da vida cotidiana e nas tarefas do mundo do trabalho e no apoio à construção de conhecimentos em outras áreas curriculares. Como vemos nos PCN (BRASIL, 2001, p. 37): As necessidades cotidianas fazem com que os alunos desenvolvam uma inteligência essencialmente prática, que permite reconhecer problemas, buscar e selecionar informações, tomar decisões e, portanto, desenvolver uma ampla capacidade para lidar com a atividade matemática. Quando essa capacidade é potencializada pela escola, a aprendizagem apresenta melhor resultado. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 23 E ainda em relação ao professor e ao saber matemático consta nos PCN (BRASIL, 2001, p. 38) que: O conhecimento da história dos conceitos matemáticos precisa fazer parte da formação dos professores para que tenham elementos que lhes permitam mostrar aos alunos a Matemática como ciência que não trata de verdades eternas, infalíveis e imutáveis, mas como ciência dinâmica, sempre aberta à incorporação de novos conhecimentos. É oportuno que o professor seja um incentivador da aprendizagem, estimulando a cooperação entre os educandos. Com as perguntas e respostas de cada aluno e também com a participação do professor, existe uma grande possibilidade de ocorrer a aprendizagem significativa. D’Ambrosio (1996), diz que a função do educador é a de um associado aos alunos na consecução da tarefa e na busca de conhecimentos. Ambos devem crescer, social e intelectualmente, no processo. Moran (2007, p. 18) comenta: Bons professores são as peças-chave na mudança educacional. Os professores têm muito mais liberdade e opções do que parece. A educação não evolui com professores mal preparados. Muitos começam a lecionar sem uma formação adequada, principalmente do ponto de vista pedagógico. Conhecem o conteúdo, mas não sabem como gerenciar uma classe, como motivar diferentes alunos, que dinâmicas utilizar para facilitar a aprendizagem, como avaliar o processo de ensino-aprendizagem além das tradicionais provas. Como costumam assumir, por necessidade, um número de aulas cada vez maior, tendem a reproduzir rotinas e modelos; procuram poupar-se para não sucumbir, dão o mínimo de atividades possíveis para diminuir o tempo de correção. Preparam superficialmente as aulas e vão incorporando esses modelos, que se tornam hábitos cada vez mais enraizados. Sabemos que não existe um único caminho para um ensino de qualidade, mas é necessário conhecer diversas possibilidades de trabalho, para que o educador construa uma boa prática na sala de aula. D’Ambrosio (1996) apresenta a ideia de que um bom professor é aquele que se dedica com amor e preocupação com o seu próximo. Uma das tarefas do educador é de orientar e guiar as atividades dos alunos, através do empenho deles, levando-os a aprender, os conteúdos escolares, percebendo seu significado e sua importância. Conforme os PCN (BRASIL, 2001, p. 45): Ao revelar a Matemática como uma criação humana, ao mostrar necessidades e preocupações de diferentes culturas, em diferentes momentos históricos, ao estabelecer comparações entre os conceitos e B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 24 processos matemáticos do passado e do presente, o professor tem a possibilidade de desenvolver atitudes e valores mais favoráveis do aluno diante do conhecimento matemático. Em relação ao aprendizado Moran (2007, p. 11) cita: A sociedade está caminhando para ser uma sociedade que aprende de novas maneiras, por novos caminhos, com novos participantes (atores), de forma contínua. As cidades se tornam cidades educadoras, integrando todas as competências e serviços presenciais e digitais. A educação escolar precisa, cada vez mais, ajudar todos a aprender de forma mais integral, humana, afetiva e ética, integrando o individual e o social, os diversos ritmos, métodos, tecnologias, para construir cidadãos plenos em todas as dimensões. Moran (2007) também faz referência ao fato de que a educação é um compromisso de toda a sociedade e não somente da escola. Deve envolver os seres humanos, em qualquer situação: profissional, pessoal ou social e na maior parte do tempo. Podemos dizer que a escola, a família, os amigos, os colegas, a internet, os chefes, as empresas, todos educam e são educados. De acordo com D’Ambrosio (1996), uma percepção da história da matemática é importante numa discussão sobre a Matemática e o seu ensino. Ter uma ideia sobre por que e quando se resolveu levar o ensino deste componente curricular à importância que tem hoje, é aspecto importante para se fazer uma proposta de inovação em educação matemática e na educação em geral, principalmente em relação aos conteúdos. Muitos programas consistem de coisas acabadas, mortas e absolutamente fora do contexto moderno. Assim, é interessante que o ensino da Matemática envolva situações do dia a dia dos educandos, como por exemplo, atividades sobre a Educação Financeira. Sobre esse conteúdo será apresentado uma reflexão, a partir do posicionamento de diferentes autores. 2.3 Educação Financeira Ao buscar responder a pergunta “A escola prepara as crianças para o mundo real?” (KIYOSAKI; LECHTER, 2000) e pensando na importância de preparar os B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 25 educandos para a vida, para que possam agir com responsabilidade em situações que envolvem a educação financeira, poderíamos ter este como um dos objetivos a desenvolver na escola. Também faz referência ao fato (KERN, 2009, p. 15), quando diz: A visão que tenho de Educação Financeira é algo que poderá ampliar a concepção e leitura do mundo em que se está inserido. Quando se discute sobre problemas financeiros, planejamentos orçamentários, objetivos para o futuro, as escolhas que se têm feito, a qualidade de vida que se deseja e tantas outras questões a que esse tema remete, penso que essa reflexão precisa ser compartilhada. E é compartilhando que se conhecem as próprias necessidades e se pode ajudar os outros a visualizar as deles. Observando ao nosso redor, percebe-se que o consumismo está aumentando gradativamente. É tão fácil comprar porque as propagandas muitas vezes enganosas estão nos afetando cada vez mais. Todos os indivíduos são afetados por esta situação. Vários produtos são oferecidos para as crianças, adolescentes e adultos pela televisão, virtualmente e no nosso mercado atual. Encontramos muitas famílias que estão reclamando que o seu salário é muito baixo e insuficiente para pagar as despesas do mês. Com relação a isto, Domingos (2008, p. 23) comenta: “[...] o sucesso financeiro não depende de quanto você ganha, mas de como você lida com o que ganha. Já ouviu aquela máxima: ‘Não importa o que a vida faz com você, o que importa é o que você faz com o que a vida faz com você’?”. Domingos (2008, p. 91) ainda enfatiza: É óbvio que não desejo que venha a ter uma perda que o impeça de se sustentar. No entanto, é minha obrigação alertá-lo para essa possibilidade da forma mais enfática possível e por uma razão muito simples. Nossa cultura é marcada por um predominante descaso com o amanhã. Eu diria que no mínimo 90% da população vive apenas o momento presente, está presa ao imediatismo e não consegue se programar para viver o futuro com qualidade de vida e saúde financeira. Domingos (2008, p. 101) prossegue: [...] você deve reter 10% do que ganha se quiser abrir uma porta para a independência financeira. Porém, à medida que se habituar a poupar esses 10%, eles passarão a lhe parecer pouco. O esforço inicial será substituído pela sensação tranqüila de hábito. Quando perceber que esse hábito se transformou em cultura, é porque chegou a hora de avançar um pouco mais. Reter 10% dos rendimentos é muito importante, mas talvez não seja suficiente, dependendo do padrão de vida ao qual você está acostumado (Sic). B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 26 Sabe-se que, com a correria diária que as pessoas enfrentam, a maioria não faz mais a sua lista de compras, não pesquisa os preços e não mais observa e calcula o seu saldo na conta corrente. Pimentel (2007, p. 20-21) exemplifica: Imagina-se agora indo a um supermercado. Você está indo na hora do almoço e sem uma lista programada de itens a comprar. É claro que irá levar mais tempo e gastar mais e comprar o que não é necessário. Para um bom controle de gastos é preciso fazer uma programação. No caso da falta de controle financeiro, as pessoas perdem e desperdiçam as melhores oportunidades de suas vidas, levando toda a sua existência no sofrimento do pagamento de dívidas contraídas num círculo vicioso de um tal de “tirar daqui” para “pagar ali”. Para evitar o consumismo e fazer um controle no seu orçamento mensal, Pimentel (2007) salienta que é necessário pensar e viver prosperamente, contornar a ansiedade do consumo e das compras, fazer um projeto detalhado ao iniciar um investimento, saber as suas prioridades e livrar-se das dívidas, sempre que possível economizar parte dos rendimentos, ser sábio ao usar o seu dinheiro e procurar ter sempre um bom controle financeiro. A disciplina Educação Financeira não está inclusa nos currículos escolares, mas pode ser uma proposta para se trabalhar com os alunos. As crianças, desde o seu nascimento, já começam a se envolver no mundo financeiro e, quanto mais crescem e observam as coisas no meio em que vivem, mais aumentam o seu consumo. Por isso, é muito importante já ter um aprendizado em relação à parte financeira na escola, para poder se preparar quando começarem a ganhar o seu salário mensal. Também as crianças e adolescentes precisam entender que os pais estão batalhando para poder pagar todas as despesas deles. Os pais deveriam alertar mais os filhos sobre estas questões financeiras. Stuart (2009, p. 112) posiciona-se diante do assunto: Os adolescentes estão se transformando em alvo das empresas de cartões de crédito. Alguns pais dão aos filhos um cartão de crédito adicional para uso em emergências. Isso deve ser acompanhado por orientações sobre quando usá-lo, e você deve indicar também as armadilhas de se abusar do privilégio. Seja rigoroso a esse respeito. Pessoalmente, não creio que essa seja uma prática segura. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 27 Stuart (2009, p. 123) sugere: Estas são minhas seis regras para que os jovens façam compras inteligentes: 1. Atenha-se a seu plano. Só compre aquilo que está em sua lista de desejos. 2. Tenha controle. No caso de compras acima do planejado, primeiro pense a respeito durante 24 horas. No dia seguinte, algumas coisas não parecerão tão essenciais. 3. Pesquise. Compare preços e peça descontos. 4. Pense sobre as alternativas – cinco compras de “coisinhas” ou uma compra de algo que você realmente quer? 5. Seja chato e crítico em relação ao que está em oferta. Procure ser tão exigente quanto um adulto. Se o produto está arranhado, quebrado ou se os pontos da blusa estão soltando, peça um desconto ou a troca. 6. Mensagem do Planeta Pais: Não significa não. Trump e Kiyosaki (2007) comentam que é de grande importância que as famílias tenham uma educação financeira, para que no futuro possam ter tranquilidade nessa dimensão da vida. Através da educação, podemos ampliar a nossa visão, consequentemente adquirir capacidade para visualizar problemas econômicos e transformá-los em oportunidades. Entretanto, devemos ter o cuidado com o tipo de educação que recebemos. Percebe-se que parte da população vem perdendo controle sobre sua situação financeira. Os problemas começam a surgir quando falta dinheiro, quando ficam doentes e não têm plano para cobrir os custos e ao se aposentar, quando o dinheiro da aposentadoria não é mais suficiente. Kiyosaki e Lechter (2004, p. 68) relatam: Afinal, agora tínhamos uma pensão do governo, a Seguridade Social e, muitos de nós, o plano de pensão da empresa. Então, em vez de aprendermos a investir, preparando-nos para ser auto-suficientes após a aposentadoria, começamos a gastar como se não houvesse amanhã. Sob certos aspectos, foi bom porque a economia se expandiu a taxas altíssimas... mas acabamos nos tornando uma nação de esbanjadores... e as pessoas cada vez gastam mais. Porém, esse não é o maior problema decorrente do assistencialismo, dos direitos adquiridos e dos benefícios sociais – ou seja, um país com cultura assistencialista. Considerando que “[...] para conseguir a riqueza é preciso seguir um caminho planejado, talvez passar por algum sacrifício, e fazer isso conscientemente.” (CERBASI, 2003, p. 29), podemos começar a aprender a fazer um planejamento consciente. Isto pode ser ensinado pelos pais ou pelos professores, e é de interesse B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 28 geral. O autor ainda coloca que se analisássemos a cultura financeira do povo brasileiro, poderíamos perceber que existe um nítido padrão de comportamento, em relação aos objetivos de investimento e planos pessoais de grande parte de nossa população. Kiyosaki (2008, p. 72) expressa: Se as escolas tivessem educação financeira, talvez os trabalhadores pudessem administrar o próprio dinheiro, em vez de deixar que burocratas e banqueiros o administrem por eles. O problema em deixar a administração de seu dinheiro nas mãos do governo e dos banqueiros é que eles pensam que seu dinheiro é deles. Prossegue Kiyosaki (2008, p. 30) Se você é como a maioria das pessoas precisará de alguma inteligência financeira para sobreviver no mundo de hoje, se seu plano é viver com a previdência e a saúde social. Na verdade, você precisará de muita inteligência financeira se seu plano é viver com essa pequena soma de dinheiro. A mídia, impulsionada pelo mercado de trabalho, também nos ilude com relação às compras a prazo. Muitas vezes, o preço à vista não aparece, está escrito com uma letra menor ou, dizem que o preço à vista e a prazo é o mesmo, embutindo os juros no preço à vista. Poucos observam isto quando fazem compras. As prestações estão com um preço baixo, no entanto, nem sempre é analisado o preço total do produto. Por isso, é importante pesquisar os preços em mais lojas. Cerbasi (2004, p. 51) salienta: Se a criatividade não está em alta e não há como escapar do luxo, tenham como regra fundamental fugir dos financiamentos, que embutem juros altíssimos. Façam reservas, poupem para comprar à vista. Dinheiro investido vale mais do que aquele que vocês guardam em casa – os juros o fazem crescer. Dinheiro financiado vale menos do que aquele que vocês pagam – os juros roubam parte dele. Não existe “dez vezes sem juros”. Se o lojista se recusa a dar desconto à vista, visitem um concorrente e negociem. Sempre haverá alternativa mais barata que qualquer falso parcelamento sem juros, pois os juros estão embutidos de alguma forma. Cerbasi (2004) também comenta esta temática ensinada nas escolas. Se fosse exemplificado com assuntos cotidianos das famílias e comunidades, poderia ser que grande parte dos brasileiros ingressasse no seu primeiro emprego com planos de independência financeira. Este é um passo para construirmos um Brasil mais rico e desenvolvido. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 29 Prosseguindo, Cerbasi (2004) menciona a importância de pesquisar os folhetos de propaganda para aproveitar as compras mais baratas ou aproveitar as promoções dos supermercados. Com a pesquisa os consumidores poderão economizar, tendo o cuidado para não querer aproveitar as promoções em todos os supermercados, gastando menos com as compras mas perdendo dinheiro no consumo da gasolina. Em relação aos juros baixos ou inexistentes nos parcelamentos, o autor coloca que não existem juros baixos para o financiamento do comércio. Quando os juros são muito baixos é porque parte desses juros já está incluída no preço de venda à vista, podendo encontrar assim preços melhores na concorrência. Frankenberg (2002) comenta que a palavra “juros” e o oferecimento de crédito permitirão que você almeje uma vida melhor. A ampla discussão em relação aos juros é decisiva para definir a qualidade da sua vida. Em caso de ter-se uma poupança ou investimento, é melhor utilizar estes recursos e eliminar a necessidade do empréstimo. Os banqueiros e comerciantes conhecem bem a matemática financeira, sabem muito bem que quanto mais tempo levamos para pagar as compras ou empréstimos, mais dinheiro eles podem receber em forma de juros, que muitas vezes representam mais do que o dobro do preço da mercadoria. A pessoa atenta e bem orientada deve procurar o contrário, ou seja, pagar os menores juros possíveis, o que implica também em escolher taxas menores e prazos mais curtos para pagar. De acordo com Cigana (2012), o público está sendo impressionado pela propaganda com os juros que estão sendo reduzidos pela metade. Mas as taxas permanecem altíssimas. As pessoas precisam estudar e calcular o que realmente estão pagando pelos produtos comprados a prazo. Os brasileiros que gostariam de melhorar a sua situação financeira, podem fazer mudanças, lançadas como semente em salas de aula, com as práticas de ensino. Os professores poderiam incluir a educação financeira considerando situações do cotidiano do aluno e de sua família. Conforme Guindani, Martins e Cruz (2008, p. 11) “O conceito de ‘o que você quer para o futuro’ somado a ‘onde você quer estar daqui a 10 anos’ é o que chamamos de planejamento pessoal. E para se B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 30 realizar esse planejamento pessoal precisamos estar dispostos a mudar. E mudar não é fácil [...]”. Kern (2009) também relata sobre a necessidade dos professores de aprender e criar condições para trabalhar os conteúdos relacionados com as vivências dos alunos, desenvolvendo um conhecimento capaz de ajudá-los a resolver situações envolvendo o mundo financeiro. Kern (2009, p. 115) ainda coloca que “A inclusão de Educação Financeira na escola pública demanda um longo trabalho de análise das necessidades básicas de cada realidade. De acordo com o Governo Brasileiro, é uma ferramenta de inclusão social”. Hepp (2011) também argumenta que não adianta obter um bom emprego, ótimos salários e promoções, se não entendemos sobre finanças pessoais. O orçamento pode ser um desastre mensal. Para evitar isso, podemos adotar um orçamento pessoal, que poderá ser um aliado ao nosso objetivo de sucesso, na gestão financeira pessoal. O consumo em excesso e as dívidas podem alcançar valores assustadores e tornar difícil o controle das finanças. Precisamos evitar isso, tomando medidas preventivas. Hepp (2011, p. 15) ainda cita: É importante ver os pais ensinando crianças a economizar e dar valor ao dinheiro, pois os jovens já devem começar a tomar os devidos cuidados com suas finanças desde muito cedo. Afinal, a expectativa de vida atual supera muito a de seus pais e avós. Portanto, há bem mais tempo de vida pela frente. A mesma preocupação com as finanças é relatada por Wessel (2013) que recomenda que o consumidor, com disponibilidade de dinheiro, opte pelo pagamento à vista, evitando o desperdício. No início do ano, é preciso lidar com várias obrigações financeiras, como Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), seguro obrigatório, anuidades de entidades, matrículas, material escolar, entre outras. Para isso, o consumidor precisa estar preparado e precisa avaliar as suas prioridades. De acordo com o autor, fazendo uma poupança, mensalmente, terá no próximo ano o dinheiro disponível para fazer esses pagamentos à vista, economizando com os descontos recebidos. Wessel (2013, p. 16) menciona: B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 31 Quem tem dinheiro na mão, tem poder de negociação. Então, o pagamento à vista será vantajoso porque a pessoa consegue bons descontos. Então, ao analisar o desconto a ser obtido com o pagamento à vista e o rendimento mensal da aplicação, pode ser mais vantajoso retirar o dinheiro para liquidar a dívida. Lembrando que o desconto obtido no pagamento à vista deve ser maior do que o rendimento dessas aplicações. Azevedo (2012, p. 59), citando o terapeuta financeiro Domingues, aponta os itens do planejamento elaborado pelo mesmo. Nesse roteiro, consta como primeira etapa: Conscientização: Diagnosticar - Reúna a família para fazer o diagnóstico das despesas, incluindo as crianças. - Anote em uma planilha de apontamento de despesas seus ganhos e gastos. - Registre o que possui de bens móveis (veículos) e imóveis (casas). - Registre quanto tem de dinheiro guardado até hoje. - Registre suas dívidas (se for o caso). - Assuma o controle de sua vida financeira. - Descubra o seu “eu” financeiro. Como segunda e terceira etapas, sugere “motivação” e “equilíbrio” respectivamente. Como quarta etapa cita (Ibidem, p. 59 - 60) a perseverança no: Poupar - Defina o destino do dinheiro guardado a curto, médio e longo prazo. - Poupe um valor diferente para cada sonho a ser realizado. - Compreenda seu perfil como investidor. - Poupe (guarde) entre 10% a 30% de seus ganhos. - Busque sempre o melhor desconto como forma de poupar. - Diversifique os investimentos de acordo com o tempo de realização dos sonhos. - Acompanhe os resultados obtidos periodicamente. Para realizar um estudo sobre a Educação Financeira é importante ter um conhecimento sobre o surgimento e a evolução do dinheiro. Este estudo foi realizado por diferentes autores, entre os quais, Togni (2011), cujos pressupostos e argumentos utilizo para fundamentar o segmento a seguir. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 32 2.3.1 Um pouco sobre a história do dinheiro Togni1 (2011) afirma que as transações comerciais já eram realizadas nas sociedades primitivas, naquela época trocavam mercadorias por outras de valor semelhante. As pessoas produziam produtos além do seu consumo e estes eram aproveitados para a troca. Podem ser citados: couro, fumo, óleo de oliva, mandíbulas de porco, peles, cobre, prata, ferro, diamante, gado, conchas, entre outros. O gado bovino foi usado várias vezes para as trocas. Conforme autora, depois do gado, foram realizadas trocas com metais preciosos, principalmente o ouro e a prata, isto por causa da dificuldade de transporte, seu grande volume e à sua perecibilidade. De acordo com Trigueiros (1997) não se sabe o ano correto do aparecimento das moedas metálicas, mas acredita-se que foi na Lídia, durante o século VII a.C. As moedas possuem diferentes funções, entre elas meio de pagamento, reserva de valor, medida comum de valores e fiduciária. As moedas durante estes anos tinham diversas formas, nos vários países do mundo, até chegar à atual, sendo que cada país tem a sua moeda específica. No Brasil as trocas começaram com os primeiros navegadores, que trocavam facas, anzóis e outros objetos com os índios. Aos poucos, também foi introduzida a moeda. Conforme Togni (2011, p. 21) “Em 8 de março de 1694, foi determinado por lei, emitida pelos governantes portugueses no Brasil Colônia, a criação da casa da moeda da Bahia, que deu origem à Casa da Moeda Brasileira [...]”. A mesma autora ainda relata que, por causa dos diversos processos inflacionários, planos econômicos e outros fatores, ao longo das décadas, no Brasil, a moeda circulante recebeu nomes e grafias variados, sendo que, desde 1942, foram os seguintes: Cruzeiro, Cruzeiro Novo, Cruzado, Cruzado Novo, Cruzeiro, Cruzeiro Real e, por último, o Real, que continua sendo a moeda oficial no Brasil. 1 Ana Cecília Togni, docente do Programa de Pós-Graduação – Mestrado em Ensino de Ciências Exatas, até 2011. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 33 3 METODOLOGIA A prática pedagógica investigativa foi realizada numa escola municipal de Lajeado e por este motivo serão apresentados alguns dados deste município. 3.1 Contextualização do lócus da Pesquisa 3.1.1 Alguns dados do Município Os dados deste item foram obtidos no site da Prefeitura Municipal de Lajeado (PREFEITURA, 2012). Os primeiros e legítimos proprietários do município de Lajeado foram os índios. As terras originaram várias fazendas, que depois de subdivididas, foram vendidas a imigrantes alemães e italianos. Fazenda dos Conventos foi a primeira denominação de Lajeado. Os alemães se estabeleceram a partir de 1854 e os italianos a partir de 1882. O fundador da cidade foi Antônio Fialho de Vargas. Fundou a Colônia dos Conventos em 20 de março de 1855. Com a construção do Engenho, em 1862, deu início ao povoamento de Lajeado. O Município de Lajeado foi criado em 26 de janeiro de 1891. A instalação oficial foi em 25 de fevereiro de 1891. O primeiro administrador foi Frederico Henrique Jaeger. A colonização arquitetônica deixou marcas inconfundíveis como o estilo arquitetônico até o comportamento das pessoas. São encontradas muitas construções em estilo enxaimel. Os imigrantes italianos também contribuíram para a riqueza do município. De Lajeado, originaram-se vários municípios, entre eles podemos citar: Guaporé, B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 34 Encantado, Arroio do Meio, Cruzeiro do Sul, Boqueirão do Leão, Progresso, Santa Clara do Sul, Sério, Marques de Souza, Forquetinha e Canudos do Vale. O município de Lajeado está situado à margem direita do Rio Taquari, no nordeste do Estado do Rio Grande do Sul. A cidade comporta os principais bancos que atuam no sistema financeiro, abriga a Univates, centro de educação e cultura, o Hospital Bruno Born, um dos mais avançados e modernos centros de saúde do Rio Grande do Sul. Na economia, destacam-se os ramos de abate de frangos e suínos, de bebidas, moveleiro, de candies, doces e chocolates. O município tem um shopping center, situado à margem da BR 386, além de outros comércios que se caracterizam pela sua diversidade e dinamicidade. Os segmentos que estão gerando mais renda são os da construção civil, hotelaria, educação, transportes, saúde, de desenvolvimento de novas tecnologias, entre outros. As religiões predominantes são a Católica e a Evangélica Luterana. O município tem aproximadamente 70 mil habitantes. A população é formada por imigrantes alemães, italianos, africanos e portugueses. O censo de 2010 mostrou o crescimento geométrico médio anual da população de 1,92% em Lajeado. A partir da década de 1980, a maior parte da população passou a residir na cidade. Atualmente o grau de urbanização é de 99%, consequência das consecutivas emancipações dos distritos e à ampliação do perímetro urbano. No ano de 2010, o Censo do IBGE indicou que 71.180 pessoas residiam na área urbana e somente 265 na rural. A densidade demográfica em 2010 atingiu mais de 790 hab/km². A média de moradores por domicílio apresenta um declínio, sendo em 2010 a média de 2,84 pessoas por domicílio. O declínio se manifesta na zona rural e na zona urbana. A taxa de natalidade é superior à de mortalidade. A evolução da pirâmide etária do município entre 2000 e 2010 segue um estreitamento de sua base (população jovem) e um alargamento do meio (população adulta) e topo (população idosa). De acordo com o censo Demográfico de 2010, o valor do rendimento médio nos domicílios urbanos é de R$ 1.146,78, enquanto que na zona rural é de R$ 700,20. O rendimento mediano, nos domicílios urbanos é de R$ 750,00 e nos rurais B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 35 é de R$ 567,00. O predomínio de domicílios conforme o rendimento domiciliar mensal per capita está na faixa de 1 a 2 salários mínimos. Em 2010, do total de domicílios do município, 67,7% apresentavam renda mensal per capita de até 2 salários mínimos. Entre os anos de 1991 e 2010, houve ampliação de emprego em quase todos os setores. O setor de Serviços gerou o maior aumento nominal, com um incremento de 6.395 vagas suplementares, o setor comercial com 4.259 e o setor industrial com 4.081 vagas a mais no período. Em relação ao período de 1991 a 2010, os salários médios pagos aos empregos formais, o Setor Serviços é o que teve a melhor remuneração, chegando a índices de 25% a 30% acima da média geral. Os outros setores apresentaram salários semelhantes, com exceção da Agropecuária que possui uma remuneração da sua mão-de-obra com valores inferiores. Durante esse período, o setor Serviços tem o maior salário médio pago, com 2,57 salários mínimos, e o setor Agropecuário apresenta o menor valor, com 1,62 salários mínimos. O maior número de empregados está no setor industrial, com um total de 11.057 pessoas. Em 1999, 4.581 pessoas recebiam até 2 salários mínimos, 10 mil empregados tinham a remuneração entre 2 a 5 salários mínimos, apenas 640 pessoas recebiam entre 10 e 20 salários mínimos e somente 149 pessoas tinham a remuneração superior a 20 salários mínimos. Em 2010, o quadro se altera muito, pois mais de 19.000 empregos tinham remuneração de até 2 salários mínimos mensais, enquanto que o volume dos empregados com os salários superiores a 5 salários mínimos reduziu significativamente. No ano de 2010, no município de Lajeado, 63,8% de empregados recebiam até 2,00 salários mínimos, 29,4% recebiam de 2,01 a 5,00 salários mínimos, 4,07% recebiam de 5,01 a 10,00 salários mínimo, 0,99% recebiam de 10,01 a 20,00 salários mínimos e 0,17% recebiam mais de 20,00 salários mínimos. Os maiores salários mínimos sempre ficam limitados em mãos de poucos. Podemos observar que entre os anos de 1999 e 2010, houve inchaços nas classes de trabalhadores com salários inferiores a 2 salários mínimos e as demais classes salariais reduziram significativamente o seu volume de empregos. Este B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 36 achatamento salarial que se abateu sobre os assalariados no município de Lajeado, também aconteceu na mão-de-obra empregada em todo o país. 3.1.2 Caracterização da escola A prática pedagógica investigativa foi realizada numa escola de ensino fundamental do município de Lajeado2. A escola tem atualmente 14 salas de aula, laboratório de Informática, sala de recursos multifuncional, miniauditório, secretaria, duas salas para equipe diretiva (direção e coordenação pedagógica), sala multiuso (destinada ao armazenamento dos estoques de materiais, como cartolina, folhas de ofício, lápis de cores, lápis, borrachas, cadernos, entre outros e computadores para uso dos professores), sala de professores, biblioteca, cozinha e refeitório. Também tem o ginásio de esportes, banheiros, cantina, pátio, pracinha e horta escolar. Na escola estudam 406 alunos. A equipe gestora é constituída por uma diretora, uma vice-diretora e uma supervisora, além delas, a escola conta com 32 professores, 2 estagiárias e 7 funcionários. A escola oferece Educação Infantil e Ensino Fundamental, nos turnos manhã e tarde, nos quais são atendidos todos os anos, com exceção da atual oitava série, a ser futuramente designada nono ano, que é atendida somente no turno da manhã. As salas-ambiente, organizadas de acordo com as áreas de conhecimento, recebem os alunos dos anos finais do ensino fundamental, que as frequentam de acordo com a disciplina programada. No turno oposto às aulas regulares, os alunos podem participar de oficinas de música, teatro e dança alemã. As oficinas de música e dança alemã são oferecidas para os alunos do 1º ao 9º ano, enquanto que a oficina de teatro é para alunos do 6º ao 9º ano. Além dessas atividades, a escola oferece o trabalho de horta escolar para alunos do 6º ao 9º ano, que acontece dentro do período de aula. A filosofia da escola é “Educar para formar pessoas capazes de refletir sobre o mundo para transformá-lo numa sociedade mais justa e humana”. Esta filosofia 2 Os dados descritos neste item são oriundos dos meus conhecimentos acerca da escola, bem como do Projeto Político Pedagógico. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 37 reflete os anseios e as necessidades da comunidade escolar e foi um dos motivos que me levou a propor o trabalho descrito nesta dissertação. A avaliação do processo de ensino e aprendizagem é realizada de forma contínua, cumulativa e sistemática. Os resultados da avaliação são comunicados aos pais em reuniões trimestrais, durante as quais os professores dos anos iniciais, analisam o desempenho dos alunos e em duas ocasiões (no final de cada semestre) entregam pareceres escritos. Nos anos finais, o registro da avaliação se dá trimestralmente através de notas. As notas são assim constituídas: peso 20 no primeiro trimestre, peso 30 no segundo trimestre e peso 50 no terceiro trimestre. Para ser aprovado o aluno precisa somar a nota 50 no final do ano. Para os alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem são oferecidas aulas de reforço e outras atividades de recuperação do conteúdo. 3.1.3 Caracterização do grupo Os participantes da pesquisa-intervenção foram os 19 alunos matriculados no oitavo ano, no turno da tarde. Nesta turma, 11 são meninos e 8 são meninas. Filhos de empregadas domésticas, de balconistas, de donas de casa, de merendeiras, de faxineiras, de pedreiros, de serventes, de pintores, de industriários, de motoristas, de operadores de máquinas e de marceneiros. A idade varia de 12 a 14 anos. Oito destes alunos estudam neste educandário desde pequenos em turmas da Educação Infantil. Sete vieram de escolas cicladas, caracterizadas pela organização do ensino em ciclos de formação e currículos com propostas de integração das diferentes áreas do conhecimento. Alguns evidenciam dificuldades de aprendizagem, entre os quais um dos dois repetentes. É uma turma estudiosa, dedicada e tem interesse em aprender. Alguns já pensam em trabalhar para ajudar os pais na renda familiar. Os pais apresentam baixa escolaridade, conforme pode ser visto no quadro 1 a seguir. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 38 Quadro 1 – Escolaridade dos pais dos alunos ESCOLARIDADE DOS PAIS PAI MÃE Até quarta série 4 5 Até sexta série 1 3 Ensino Fundamental 5 3 Ensino Médio Inc. 2 1 Ensino Médio 2 3 Ensino Superior - - Fonte: Autora da dissertação, 2012. 3.2 Método de pesquisa O estudo realizado é de natureza qualitativa, com algumas abordagens quantitativas. A pesquisa qualitativa tem a característica de interpretar a fala, a escrita, os gestos, as ações, investigar atitudes, valores, percepções e motivações das pessoas e não tem a preocupação estatística. Lüdke e André (1986, p. 11-13) citam algumas características: - A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento. – Os dados coletados são predominantemente descritivos. – A preocupação com o processo é muito maior do que com o produto. – A análise dos dados tende a seguir um processo indutivo. – Os pesquisadores não se preocupam em buscar evidências que comprovem hipóteses definidas antes do início dos estudos. – As abstrações formam-se ou se consolidam basicamente a partir de inspeção dos dados num processo de baixo para cima. A inserção da abordagem quantitativa nesta pesquisa apoia-se no argumento de Lankshear e Knobel (2008) que acreditam que exista um lugar viável para esse tipo de procedimento na área pedagógica, desde que bem executada e sem constituição de verdades. Ao afirmar que “não consideramos sensato ou proveitoso confrontar o domínio quantitativo com uma política pura e simples de exclusão” (Ibidem, p. 16), os autores validam o tratamento de informações proposto para a prática pedagógica a seguir apresentada. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 39 A prática pedagógica pode ser caracterizada como um estudo de caso, pois consiste em um estudo profundo de um objetivo, da maneira que permita um detalhado e um amplo conhecimento. O estudo de caso, segundo Gil (2006, p. 54) permite: a) explorar situações da vida real cujos limites não estão claramente definidos; b) preservar o caráter unitário do objeto estudado; c) descrever a situação do contexto em que está sendo feita determinada investigação; d) formular hipóteses ou desenvolver teorias; e e) explicar as variáveis causais de determinado fenômeno em situações muito complexas que não possibilitam a utilização de levantamentos e experimentos. As informações no decorrer da prática pedagógica investigativa foram obtidas através de registros realizados nos locais visitados e da análise comparativa dos preços registrados, entrevista com os pais a partir de questões de um questionário pré-elaborado (APÊNDICE A) e de relatórios e produções individuais e grupais. A análise das informações seguiu as orientações da Análise Textual Discursiva (MORAES, 2003) que contou com a desconstrução dos textos, o estabelecimento de relações e a organização em unidades de significado, captando o novo emergente e constituindo um processo auto-organizado. Na desmontagem dos textos, necessita-se descobrir o significado da leitura e os sentidos que se pode construir a partir de um texto. A partir daí, atinge-se a desconstrução e unitarização do corpus. É importante o envolvimento com materiais analisados possibilitando o surgimento de novas compreensões em relação às investigações. É necessário ter presente uma relação entre leitura e significado. Cada leitura de um texto pode trazer várias interpretações. Segundo Moraes (2003, p. 191), Pesquisas qualitativas têm cada vez mais se utilizado de análises textuais. Seja partindo de textos já existentes, seja produzindo o material de análise a partir de entrevistas e observações, a pesquisa qualitativa pretende aprofundar a compreensão dos fenômenos que investiga a partir de uma análise rigorosa e criteriosa desse tipo de informação, isto é, não pretende testar hipóteses para comprová-las ou refutá-las ao final da pesquisa; a intenção é a compreensão. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 40 Uma análise textual de caráter qualitativo é um processo rigoroso, trabalhoso, exigente e deve ser fundamentado em leituras cuidadosas e aprofundadas. Moraes (2003, p. 205) menciona “O modo de teorização mais tipicamente qualitativo é aquele que se propõe a construir novas teorias a partir do exame do material do corpus. Teorias são construídas a partir da análise”. Moraes (2003, p. 210) ainda coloca: A qualidade e originalidade das produções resultantes se dão em função da intensidade de envolvimento nos materiais da análise, dependendo ainda dos pressupostos teóricos e epistemológicos que o pesquisador assume ao longo de seu trabalho. A dimensão quantitativa foi representada por meio de tabelas e gráficos, que foram produzidos pelos alunos após as pesquisas, as visitas, os debates, as discussões, as reflexões e a realização das atividades em sala de aula, relacionando com os conteúdos didáticos de matemática. Para assegurar uma pesquisa ética, os pais e alunos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), antes do início das pesquisas, entrevistas e atividades a serem realizadas. Além disso, os nomes dos estabelecimentos onde foi feita a pesquisa e os nomes dos alunos e dos demais participantes da prática investigativa, foram preservados através das seguintes designações: - os alunos foram chamados de aluno A, aluno B, aluno C, ...; - as duplas de dupla A, dupla B, dupla C, ...; - os grupos de grupo 1, grupo 2, grupo 3, ...; - os pais de pai A, pai B, pai C,...; - os professores de professor A, professor B, professor C,...; - os mercados de mercado A, mercado B, mercado C, .... Os resultados deste trabalho foram apresentados e discutidos com os pais, oferecidos às pessoas que contribuíram com a pesquisa e expostos no quadro mural da escola. O conjunto de procedimentos e os respectivos resultados fundamentaram a presente dissertação de mestrado, focada especialmente no ensino e nas repercussões que este pode ter na vida de pessoas em formação, de famílias e comunidades. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 41 Durante a prática pedagógica, todas as tarefas realizadas foram anotadas num diário de campo. Algumas atividades foram fotografadas, como por exemplo, a análise nos folhetos de propaganda, a pesquisa de preços em supermercados, a construção dos gráficos representativos obtidos da pesquisa, a pesquisa em jornais e revistas sobre a Educação Financeira das famílias e as atividades realizadas em Laboratório de Informática (uso do software). Foi dado um cuidado especial para os alunos não serem identificados nas fotos. As atividades realizadas pelos educandos foram recolhidas, analisadas e avaliadas por mim. Alguns trabalhos feitos, apresentados e discutidos em aula, foram levados para as casas dos alunos, para conversar e refletir com os seus familiares, sobre as possibilidades de diminuição de gastos e sobre a importância da educação financeira. Obtidos os resultados, foi solicitado aos pais uma avaliação do trabalho realizado com os alunos. Estes, também fizeram a sua autoavaliação no final da prática pedagógica. Essa prática foi apresentada na Parada Pedagógica, evento realizado uma ou duas vezes por ano na escola. Os professores foram convidados a emitir parecer sobre o trabalho. O detalhamento destas participações é apresentado no capítulo cinco. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 42 4 DETALHAMENTO DAS PRÁTICAS INVESTIGATIVAS O estudo teórico, a observação atenta da realidade dos alunos, de suas famílias e da comunidade em que a escola está inserida, os compromissos do ensino como processo transformador, os objetivos e os questionamentos que acompanham minha docência, levaram-me a planejar e desenvolver uma proposta marcada pela diversidade e pela inovação metodológica. Esta proposta de cunho investigativo e reflexivo é descrita a seguir. Aula 1 – 28/09/12 – sexta-feira – 2o e 3o períodos Iniciei a aula organizando grupos de quatro componentes. Cada grupo deveria apresentar respostas para a seguinte pergunta: - O que queremos aprender sobre o uso do dinheiro? Os educandos anotaram as respostas em uma folha que, após apresentadas e anotadas no quadro, foram recolhidas. Os cinco grupos tiveram como resposta, estudar sobre como economizar, quatro relacionaram o estudo sobre os juros, três responderam comprar à vista ou a prazo, o que é melhor? Dois grupos relacionaram a pesquisa de preços, os gastos, saber como, quando e com que necessidade usar o dinheiro. Foi citado por um grupo, saber valorizar o dinheiro, investimento e o aparecimento e evolução do dinheiro, além disso, o que é o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI)? Por que este ano o IPI é reduzido? B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 43 Questionei sobre os produtos básicos que uma família precisa comprar. Em conjunto, fizemos a relação no quadro para posteriormente selecionarmos aqueles que iríamos pesquisar. A maioria se referiu aos alimentos como produtos básicos. Foram citados pelos alunos: farinha, arroz, açúcar, carne, feijão, azeite, massas, pão, leite, ovos, tomate, batata, cebola, vinagre, sal, maçã, banana e erva mate. Entre os produtos higiênicos e de limpeza foram citados: pasta de dente, sabonete, shampoo, papel higiênico e detergente. Discutiu-se sobre os produtos que iríamos comparar os preços de 1 kg, 2 kg e 5 kg. Foram citados o açúcar, o arroz e a farinha. Selecionamos os mercados nos quais seria efetuada a pesquisa de preços, sendo que foram citados dois mercados do bairro e dois de bairros vizinhos. Os alunos estavam ansiosos e com muita vontade para iniciar o novo estudo, pois se tratava de um assunto do seu interesse, podendo escolher o que mais gostavam de estudar e, além disso, sentar em grupos, facilitando o aprendizado. De acordo com Moran (2007, p. 29): Alunos curiosos e motivados facilitam enormemente o processo, estimulam as melhores qualidades do professor, tornam-se interlocutores lúcidos e parceiros de caminhada do professor-educador. Alunos motivados aprendem e ensinam, avançam mais, ajudam o professor a ajudá-los melhor. Alunos que provêm de famílias abertas, que apóiam as mudanças, que estimulam afetivamente os filhos, que desenvolvem ambientes culturalmente ricos, aprendem mais rapidamente, crescem mais confiantes e se tornam pessoas mais produtivas. Aula 2 – 01/10/12 – segunda-feira 3o período Os alunos organizaram-se em cinco grupos e cada grupo recebeu três folhetos de promoções de mercados. Solicitei que escolhessem 15 produtos que gostariam de comprar, anotando-os com o respectivo preço. Depois de elaborada a listagem de produtos e preços foi calculado o valor total da compra eventual. A partir desta listagem, os alunos deveriam separar os produtos de primeira necessidade e os produtos supérfluos. Anotando o produto e o respectivo preço, para fazer a soma total dos produtos de primeira necessidade e também a soma dos produtos supérfluos. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 44 Durante as escolhas dos produtos, observei que alguns grupos ficavam em dúvida para separar os produtos de primeira necessidade dos supérfluos. Foi possível perceber que alguns grupos, nas suas listagens elaboradas, incluíram vários produtos supérfluos e poucos produtos de primeira necessidade. Na tarefa inicial, não foi solicitada uma observação em relação à necessidade dos produtos, somente pela escolha de quinze produtos. Pois o objetivo desta tarefa foi observar se, na hora da compra, os alunos dão preferência aos produtos de primeira necessidade. Todos os grupos colocaram a bebida como supérfluo, com exceção de um grupo, que colocou o refrigerante de 3,3 litros como produto essencial, alegando ser mais barato do que as outras bebidas. Expliquei que o fato de ser mais barato não torna o refrigerante um produto de primeira necessidade. Neste momento, ainda não houve consideração em relação aos preços entre diferentes mercados. Estas listagens foram recolhidas para análise e para servirem de base para a continuidade dos trabalhos. Segue abaixo a imagem da atividade: Imagem 1 – Atividade com o uso dos folhetos de promoções de mercado Fonte: Autora da dissertação, 2012. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 45 Aula 3 – 02/10/12 – terça-feira 4o período Novamente entreguei os folhetos de promoções e as folhas com as anotações dos produtos e preços das mercadorias escolhidas pelos alunos. Analisamos a tarefa realizada na aula anterior e os objetivos desta tarefa. No primeiro momento, os alunos atribuíram preços aos produtos supérfluos que foram somados e serviram de referência para os seguintes questionamentos: 1- Qual é o custo do supérfluo? 2- Quanto você economizaria se evitasse comprá-los? 3- Voltando a listagem e aos preços, é possível substituir sem comprometer a qualidade? 4- Ao escolher o produto do folheto de propaganda, vocês comentaram sobre a sua utilidade? Esta atividade envolve operações com os números decimais. Os alunos poderiam somar os produtos com a calculadora, utilizando assim, ferramentas diferentes para fazer os cálculos. Alguns fizeram os cálculos no seu caderno, enquanto outros calculavam na calculadora para observar se no final os valores fechavam. Após, os grupos começaram a fazer as suas apresentações, durante as quais falaram sobre os produtos escolhidos, produtos de primeira necessidade, produtos supérfluos e sobre quanto poderiam ter economizado nas compras. Também relataram sobre a maneira como escolheram as suas mercadorias. Observei que um grupo escolheu, além do guaraná, somente produtos de primeira necessidade e ainda estavam procurando produtos de mesma qualidade com preço menor. Comentaram sobre a quantidade de dinheiro que poderiam economizar não comprando os supérfluos. Três grupos escolheram na maioria supérfluos e depois se apavoraram de quanto poderiam ter economizado comprando somente os produtos de primeira necessidade. Outro grupo relatou que economizaram muito escolhendo produtos de mesma qualidade, mas de preço menor. O trabalho escrito foi recolhido no final da aula para a avaliação. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 46 Este estudo mostrou que alguns já sabem como comprar os seus produtos para economizar, enquanto que outros compram o que primeiro enxergam nas prateleiras, sem observar a sua utilidade e o seu preço. Hepp (2011, p. 15) enfatiza: O consumo descontrolado e as dívidas crescentes podem, com rapidez, atingir proporções assustadoras e tornar muito difícil o gerenciamento de suas finanças pessoais. Não se permita chegar a esse ponto, tome uma atitude antes. Solicitei aos alunos que trouxessem artigos de jornais e revistas sobre Educação Financeira. Lembrei aos educandos que na aula seguinte fariam a visita aos mercados para fazer a pesquisa de preços. Aula 4 – 05/10/12 – sexta-feira 2o e 3o períodos Os alunos pesquisaram os preços dos principais produtos em quatro mercados localizados no bairro e nos bairros próximos da escola. Em grupos, os alunos pesquisaram os preços dos principais produtos que uma família precisa comprar. Cada grupo recebeu os seus produtos para pesquisar nos quatro supermercados. Vale registrar que já havia solicitado previamente a autorização aos donos dos supermercados para a realização desta pesquisa. Em dois mercados, os donos e funcionários elogiaram muito o trabalho, pois era uma atividade importante, que eles não tinham feito durante os seus anos de estudo e agora sabiam da necessidade de uma Educação Financeira. Relataram também que esta atividade motivava os alunos por ser mais prática e envolver vivências do cotidiano dos alunos e de suas famílias. Os alunos estavam ansiosos para fazer a pesquisa, pois possuíam interesse pelo assunto e a metodologia que priorizava a prática revelou ser uma estratégia adequada à participação ativa deles. Ao saírem dos mercados com os preços anotados nos seus rascunhos, conversavam entre si e vinham me contar sobre as B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 47 diferenças de preços que em alguns casos era significativo de um mercado para o outro. Alguns alunos comentaram que sempre compravam em um mercado e com a pesquisa descobriram que este cobrava preços mais altos nos produtos que vendia. Todos observaram a diferença nos preços de seus produtos, não esperavam tanta diferença de valores. Também descobriram que as marcas dos produtos não eram iguais nos mercados visitados e alguns não vendiam as marcas de baixo valor. O que mais chamou atenção na turma foi o preço por kg do pão francês, sendo que o preço mais barato foi R$ 4,19 e o mais caro foi R$ 6,00, uma diferença de R$ 1,81 por kg. Segue abaixo a imagem da atividade: Imagem 2 – Educandos anotando preços no mercado Fonte: Autora da dissertação, 2012. Durante o caminho, percorrido a pé, os alunos conversaram sobre mercadorias compradas à vista pelos pais e também relataram da valorização dos terrenos do bairro. Notei nos educandos o interesse em pesquisar preços e estudar sobre a Educação Financeira. É interessante fazer a pesquisa de preços em todos os produtos que queremos comprar, tanto as compras em mercados, como a B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 48 compra de eletrodomésticos, roupas, calçados, remédios, veículos e imóveis. Hepp (2011, p. 15) posiciona-se diante do assunto afirmando “Pesquise preços antes de realizar qualquer compra, seja um remédio ou sapato, seja um veículo ou imóvel. Vá pessoalmente ou utilize o telefone e a internet para comparar”. Ao chegarmos de volta na escola, os colegas professores também ficaram interessados e começaram a questionar sobre a pesquisa dos preços. Aula 5 – 08/10/12 – segunda-feira 3o período Os alunos terminaram de apresentar o trabalho sobre as compras através dos folhetos de promoções de mercado. Após, questionei-os sobre a pesquisa de preços em mercados que foi realizada na sexta-feira anterior. Na visita aos mercados, chamou atenção dos alunos: - A diferença de preços; - A qualidade dos produtos; - A diferença do preço por kg do pão francês (denominado cacetinho na cultura gaúcha); - O preço do tomate; - A disposição dos produtos nas prateleiras; - A quantidade e a variedade dos produtos. Após a visita, os alunos declararam por unanimidade que gostaram de fazer a atividade de pesquisa nos mercados, chamando atenção a diferença nos preços, e esta tarefa poderia ser aproveitada dali para frente. Durante o final de semana, fiz uma tabela com os produtos pesquisados nos quatro supermercados e seus respectivos preços (APÊNDICE B). A atividade seguinte foi a entrega desta tabela de preços aos alunos, e estes deveriam observar a diferença dos preços nas compras da farinha, do arroz e do açúcar de 1 kg, 2 kg e 5 kg. Também foi questionado aos alunos: - Como podemos analisar os dados na tabela? B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 49 - Olhando a tabela, em relação aos preços, marcas e quantidades, o que vocês podem observar? A tabela de preços elaborada foi levada para casa pelo educando e analisada em família. Após, os alunos começaram a responder o seguinte questionário: 1- O que é mais vantajoso comprar: um pacote de farinha de 5 kg ou comprar cinco pacotes de 1 kg da mesma marca? Por quê? 2- Analisando sempre a mesma marca, se comprar arroz, pacote de 2 kg, quanto pagarei por kg? Se comprar um pacote de 5 kg, quanto pagarei por kg? O que é mais vantajoso em relação ao preço? 3- Comparando a mesma marca de açúcar, em relação ao preço, o que é mais vantajoso comprar, um pacote de 2 kg ou um pacote de 5 kg? Quanto custa um kg em cada pacote? As respostas foram analisadas na