UNIVERSIDADE DO VALE DO TAQUARI CURSO DE PEDAGOGIA A EDUCAÇÃO MUSICAL NO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO INFANTIL Kelly Cristine Formentini Fontana Lajeado, novembro de 2021 Kelly Cristine Formentini Fontana A EDUCAÇÃO MUSICAL NO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO INFANTIL Monografia apresentada no componente curricular de Trabalho de Conclusão de Curso II, do curso de Pedagogia, da Universidade do Vale do Taquari - Univates, como parte da exigência para a obtenção do título de Licenciada em Pedagogia. Orientadora: Profa. Dra. Fabiane Olegário Lajeado, novembro de 2021 Baila Bailarina A menina dançarina Movimentava seu corpo Bailava pela casa com leveza E sem muito esforço. Não importa a música Seus pés rodopiam pelo ar Sente-se única E ela só quer dançar. Baila bailarina Segue a melodia Move tua alma cristalina Com a luz que lhe irradia. Você canta, dança e contagia Se move por toda parte Você é poesia Você é arte!1 1 Poesia autoral escrita a partir de recordações da autora, que passou boa parte de sua infância dançando e cantando, onde quer que estivesse. AGRADECIMENTOS Subo em mais um palco da minha vida e a banda que me acompanha é formada por cada pessoa que esteve presente na caminhada que trilhei como acadêmica até aqui. Como em toda jornada, tive momentos de altos e baixos, nos quais trabalhei e naveguei nos estudos como uma marinheira solitária, pois certas coisas dependiam apenas de mim mesma. Logo, eu sabia que, quando pensasse em desistir, haveria pessoas especiais apoiando-me e reerguendo-me. Antes de tudo e todos, agradeço a Deus por ter guiado-me até aqui e por ter concedido-me muita sabedoria e paciência, pois agora eu ando devagar, mas já tive pressa, e aprendi que a calma deve ser minha companheira nesses momentos importantes. Em seguida, gostaria de agradecer a cada professor(a) que participou de minha trajetória acadêmica, mas, em especial, à minha querida professora orientadora Fabiane Olegário, que também me avaliou no Trabalho de Conclusão de Curso I. Ela não mediu esforços para acompanhar-me e orientar-me nesta etapa importante, sempre me apoiando, ouvindo, auxiliando, acreditando em meu trabalho e em meu potencial, que, muitas vezes, eu acreditava não possuir o suficiente. A você, querida profe Fabi, muito obrigada! É importante também agradecer à minha examinadora de banca, professora Angélica Vier Munhoz, que dedicou seu tempo para ler e avaliar meu trabalho nas bancas dos Trabalhos de Conclusão de Curso I e II. Agradeço às orientações, que me auxiliaram para potencializar esta pesquisa. Não posso deixar de agradecer às minhas colegas e amigas de caminhada acadêmica, Laura Gasparotto Lagemann e Raquel Thaís Arcari da Costa, que desde o início estiveram ao meu lado. Laurinha, agradeço por todas as conversas, videochamadas e risadas, és parte da minha formação, pois sempre esteve ao meu lado, tanto nos momentos bons quanto nos difíceis. Quel, só quem nos conhece bem sabe de toda a nossa história, e nessa trajetória você sempre me acompanhou e apoiou, sempre conseguindo arrancar uma risada nos momentos complicados, agradeço por toda a fidelidade e a sinceridade. Minhas amigas, vocês foram importantes para esta minha conquista e saibam que a amizade de vocês sempre estará guardada em um lugar especial. Agradeço também à ex-colega Suzinara Strassburger Marques que atendeu ao meu pedido e pôde revisar minha pesquisa, auxiliando e aconselhando em relação à essa. Também, um agradecimento especial às queridas professoras que fizeram parte do meu grupo focal. As trocas de ideias e novas aprendizagens foram essenciais para compor este trabalho. Um agradecimento mais especial eu dedico aos meus amados pais, Rosemeri Sangalli Formentini e Tarso Formentini, que sempre me amaram incondicionalmente e nunca mediram esforços em prol de minha felicidade e sucesso. Obrigada por todos os longos abraços e orações, e, principalmente, por sempre acreditarem em mim, mesmo com meu gênio difícil e minha teimosia. Por último, agradeço ao meu estimado noivo, Cristian Delazari Fontana, que foi quem mais me acompanhou nesta etapa e foi minha fonte de apoio. Agradeço-lhe muito por toda sua paciência e incentivo. Obrigada por todos os momentos em que foi minha calmaria, em que segurou minha mão quando eu pensava em desistir. Só você mesmo viu as noites em que me mantive acordada quando a maior vontade era descansar, e sempre compreendeu quando eu precisava manter-me mais distante para desenvolver meu trabalho. Saiba que, assim como você foi meu pilar, eu sempre serei o seu. RESUMO O presente estudo foi desenvolvido a partir do Trabalho de Conclusão de Curso I, iniciado no semestre 2021/A, e do Trabalho de Conclusão de Curso II, realizado durante o semestre 2021/B e vinculado ao curso de Pedagogia da Universidade do Vale do Taquari - Univates. O problema de pesquisa buscou compreender como podemos pensar a educação musical no currículo da Educação Infantil, tendo como objetivo investigar o desenvolvimento do trabalho do educador com a musicalização em relação ao currículo da Educação Infantil. Esta pesquisa utilizou o método de grupo focal que segundo Gatti (2005) é uma técnica que permite manifestar e reunir vários pontos de vista, além de proporcionar ao indivíduo uma maior liberdade de expressão, sendo favorecidas as relações interpessoais e a potencialidade de agregar novas ideias e aprendizagens acerca do assunto. A pesquisa foi desenvolvida durante os encontros com um grupo de cinco professoras titulares de Educação Infantil oriundas de uma mesma instituição de ensino situada no município de Roca Sales, interior do Rio Grande do Sul. O debate e as reflexões ocorridos a partir da fala das educadoras foram essenciais para a realização de análises e considerações relacionadas à temática de educação musical. Percebeu-se que a música e suas vivências são importantes para o desenvolvimento emocional, psicológico e também motor da criança. Além disso, o professor, ao promover a musicalização em sua rotina, enriquece e aprimora seus ensinamentos e práticas escolares. Palavras-chave: Currículo. Base Nacional Comum Curricular. Educação Infantil SUMÁRIO 1 É SOBRE CANTAR E PODER ESCUTAR MAIS DO QUE A PRÓPRIA VOZ 2 2 A MÚSICA PELAS LENTES DA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR 5 2.1 A Arte na BNCC 6 2.2 A Arte e a música no currículo da Educação Infantil 7 3 CURRÍCULO: A MÚSICA NO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO INFANTIL 13 3.1 A música no currículo escolar 15 4 GRUPO FOCAL 18 4.1 ENCONTROS COM PROFESSORES: Um relato de grupo focal 20 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 30 Referências 32 Apêndices 35 2 1 É SOBRE CANTAR E PODER ESCUTAR MAIS DO QUE A PRÓPRIA VOZ2 Se essa rua fosse minha… Teriam calçadas coloridas por mãos pequenas de crianças embaladas pelas músicas cantadas em brincadeiras de cirandas, plantas e flores guiadas pelo balanço do vento e pela luz do sol, que irradia dentre os jovens que brincam e correm pelo local. Assim como na bruma leve das paixões que vêm de dentro, a música tem a capacidade de elevar a imaginação para novos rumos, relembrando momentos especiais e energizando a mente genuína de uma criança. Difícil é a gente explicar, que é tão lindo quando uma garotinha se deixa levar pela melodia da canção que é cantada ao pular corda com as amigas ou quando um garotinho grita e canta o hino do seu time de futebol ao chutar a bola ao gol. No passo da delicadeza, o mundo anda mais suave, e é com essa sutileza que o professor precisa fazer ecoar entre as crianças a sinfonia de boas emoções e sentimentos transformados pela música, seja cantada ou tocada. O futuro é uma astronave e os tripulantes serão as crianças que hoje podem ser tocadas pelo encanto do ensino do educador que cumpriu a missão de repassar saberes e, também, de aprender junto de sua turma. Ser professor é ser estrada, é guiar os aprendizes pelo caminho do conhecimento, independente da área de atuação. Em relação à música, a estrada é 2 Trecho da música Trem-bala, lançada em 2016 no álbum Trem-bala, de Ana Vilela. 3 formada por ações de desafios e conquistas, que promovem o crescimento e o desenvolvimento das crianças na educação. Como uma bolinha saltitante, acabamos sempre pulando para frente ou para trás, lembrando-nos de momentos de nossa infância e juventude, e, em meu caso, na maioria deles havia música ou danças, pois o silêncio nunca foi uma opção. Nossos melhores dias ainda são desconhecidos, portanto, devemos continuar sonhando como se fôssemos viver para sempre, mas aproveitar como se fosse agora ou nunca. Quando penso nisso, tenho a certeza de que aproveitei, porque em muitos momentos de minha vida, na maioria, posso afirmar, estive dançando ou cantando, estava relacionando-me com a arte. Sinto que sou como a bailarina de uma caixa de música, meus pés não ficam fixos no chão durante o embalo de uma canção e a vontade é de voltar à minha época como bailarina, em que a cada ensaio sentia que não havia limites para meu corpo dançar. As melodias e canções fazem parte do nosso dia a dia, mesmo sem que sejam percebidas, desde o simples balançar do molho de chaves até o assovio do papagaio na varanda da vizinha. Unindo o gosto pela arte, principalmente a música, e o desejo e a curiosidade por compreender como é apresentada e aplicada a musicalização no currículo da Educação Infantil, construiu-se o problema: Como pensar a educação musical no currículo da Educação Infantil? Logo, o presente trabalho trata da educação musical no currículo da Educação Infantil, contemplando aspectos pedagógicos acerca da compreensão do planejamento realizado pelo educador e os materiais a que possui acesso, além de obter conhecimento sobre os documentos norteadores, principalmente a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) e o currículo escolar, baseando-se no objetivo geral de investigar o desenvolvimento do trabalho do educador com a musicalização em relação ao currículo da Educação Infantil. A primeira seção da pesquisa apresenta aspectos voltados à arte na Educação Infantil pelas lentes da Base Nacional Comum Curricular, segundo os campos de experiências, competências e habilidades voltadas a cada nível de ensino. Já na seção seguinte, será evidenciada a música no currículo escolar, 4 focando-se na área da Educação Infantil, apresentando as diferenças entre os documentos e como a música é destacada no currículo. Na seção subsequente, o foco será no trabalho realizado com o grupo focal, ressaltando o cronograma e a organização dos encontros planejados, além das observações destacadas dos debates, seguindo, após, para as considerações finais. 5 2 A MÚSICA PELAS LENTES DA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR E DO CURRÍCULO ESCOLAR A Base Nacional Comum Curricular, abreviada e mais conhecida como BNCC, foi formulada e organizada por especialistas de todas as áreas de conhecimento, que se uniram em prol de um mesmo objetivo: proporcionar e disponibilizar uma Base para toda a educação básica do Brasil. A Base tornou-se documento comum em espaços escolares, e serve de fundamento para planejamentos escolares, de modo a nortear educadores e profissionais conforme a área de ensino e a faixa etária da turma, reforçando saberes e competências a serem ressaltados em suas atividades e práticas em sala de aula. Conforme a BNCC na Educação Infantil, são apresentados campos de experiências para cada uma das 3 faixas etárias, ou seja, áreas cujo arranjo curricular compreendem e apresentam situações e experiências relacionadas aos saberes da criança em situações de seu cotidiano e a conhecimentos acerca de componentes de patrimônio cultural (BRASIL, 2018). Nesta seção, são destacados assuntos pertinentes ao tema da educação musical na área da Educação Infantil, enfatizando as competências e habilidades atribuídas à área no documento da Base Nacional Comum Curricular. 6 2.1 A Arte na BNCC Em 23 de fevereiro de 2016 foi aprovada a alteração do sexto parágrafo do artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), 9.394/96, de modo a fixar as diretrizes e bases da educação nacional referente ao ensino das Artes, dispondo que as artes visuais, a dança, a música e o teatro são linguagens do componente curricular do ensino da Arte, obrigatório nos diversos níveis da educação básica (BRASIL, 1996). Entretanto, na BNCC, o componente de Arte é apresentado como uma área da linguagem apenas na etapa do Ensino Fundamental, nas outras etapas é incluída como competência e habilidade. Já na Educação Infantil o contato das crianças com as artes é contemplado todos os dias, seja ao cantarem músicas rotineiras para o momento do lanche, ou ao dançarem escutando ou cantando músicas, até no momento de desenhar, modelar e pintar. Mesmo que a Base seja um dos documentos norteadores atuais para o planejamento curricular das instituições de ensino, é importante que seus conteúdos sejam estudados pelos profissionais da educação, decidindo o que lhes é cabível para aplicarem, além de organizarem seus objetivos e habilidades conforme as necessidades observadas em sala de aula. Tal afirmação justifica-se pelo fato de a BNCC ser um documento guia para a elaboração dos currículos escolares. Logo, a atitude de confrontar o documento a partir das necessidades e das possibilidades da turma torna-se essencial para que os professores possam questionar de forma crítica a BNCC. Nessa perspectiva, a atitude crítica em relação ao documento se dá pelo fato de alguns aspectos, entre eles o fato de o professor da Educação Infantil não possuir formação específica para o ensino e a prática artística e nem musical, o que acarreta desafios para compreender e buscar recursos para seus planejamentos e práticas pedagógicas. Os documentos norteadores sugerem que sejam oportunizadas formações específicas para o componente artístico para os educadores, contudo, nem todas as escolas ou secretarias municipais conseguem oportunizar uma formação voltada às artes, visto que nem sempre o ensino da arte é considerado fundamental na prática pedagógica docente. 7 Algo importante a ser destacado no ensino das artes é a falta de estrutura adequada para a efetivação das aulas de artes no espaço escolar, muitas vezes as aulas ocorrem na própria sala ou no pátio, por não haver um ateliê ou laboratório para a realização das atividades. Logo, é importante que os ambientes escolares sejam atraentes e potentes, e para isso a instituição contribui ao investir em materiais para o desenvolvimento de práticas pedagógicas envolvendo a música. 2.2 A Arte e a música no currículo da Educação Infantil a partir da BNCC A música é uma linguagem universal e cada pessoa define-a de um modo, assim como em cada cultura ela possui uma apresentação e um sentido diferente. Em algumas, é representada através da fala, em outras através de cantos ou invocações, passando desde formas expressivas até gestos e danças (JEANDOT, 1997). Pode-se afirmar que tudo é música, pois ao longo do nosso dia a dia somos acompanhados e invadidos por sons provenientes de todos os lugares, e a todo momento (RAVELLI; MOTTA, 2005). A música não é algo palpável e nem algo concreto. Por ser um fenômeno, a música precisa ser explorada pela criança através da produção ou da descoberta de sons com instrumentos ou objetos e brinquedos do cotidiano, logo, o indivíduo irá construir e enriquecer seu conhecimento musical, assim como pontua Brito (2003, p. 35): A criança é um ser “brincante” e brincando, faz música, pois assim se relaciona com o mundo que descobre a cada dia. Fazendo música, ela, metaforicamente, “transforma-se em sons”, num permanente exercício: receptiva e curiosa, a criança pesquisa materiais sonoros, “descobre instrumentos”, inventa e imita motivos melódicos e rítmicos e ouve com prazer a música de todos os povos. Não é preciso haver um motivo para que ocorra a música no ambiente escolar, em qualquer momento ativo ou lúdico há chances de ser iniciado um momento musical, seja por iniciativa das crianças ou do próprio professor. O educador, por sua vez, contribui no desenvolvimento da educação musical na 8 medida em que propõe um ambiente atrativo para novas descobertas e manifestações artísticas, partindo do ato de cantar as músicas de que as crianças mais gostam até a exploração do corpo como instrumento para gerar sons. Para Oliveira (2009, p. 5): Nesse sentido é importante ressaltar que é de responsabilidade do educador, enquanto um dos maiores modelos de imitação da criança, ser crítico e criativo na escolha do que apresentar a mesma, garantindo, com isso, que o trabalho seja interessante para ambos. O educador da área da Educação Infantil, consciente de seu ofício, compreende que os momentos de comunicação sonora e musical podem favorecer o desenvolvimento e crescimento da criança de modo afetivo e cognitivo, além de criar e fortalecer vínculos com adultos e também com o ambiente social. O professor também é capaz de fundamentar os momentos de vivências do cotidiano escolar e conectá-los a outros em que a criança tenha a oportunidade de criar e compreender os conceitos musicais, indo além das situações em que apenas senta em uma roda e canta músicas com sua turma. Como afirma Lino (1999, p. 68), “a aprendizagem é assegurada pela estruturação cognitiva das hipóteses espontâneas que a criança constrói quando elabora seu conhecimento musical”. Logo, a criança pode tornar-se o construtor e o autor de suas ações e discursos, e o professor ocupa seu lugar de interventor no processo educativo e a escola transforma-se no lugar afetivo e social para o fazer lúdico da criança. Assim como afirma Motta (2011), as crianças são vistas como produtoras de cultura e exprimem através dela suas percepções e interações com os pares ou com os adultos. Promove-se, então, o desenvolvimento da criança como indivíduo social, relacionando-se com outros através da arte e sendo capaz de exprimir suas emoções. A autora também alega que a musicalidade desperta nas crianças a dança e o canto, além de estimular movimentos e uma maior atividade cerebral. Ainda, vários objetivos podem ser alcançados a partir disso, como: melhoria da linguagem, percepção, rítmica, coordenação e comunicação. No documento da BNCC, os conteúdos são dispostos por campos de experiência, e é no campo intitulado como Traços, sons, cores e formas da etapa da 9 Educação Infantil que a música é encontrada, já as habilidades são apresentadas conforme a faixa etária. Para os bebês, são apresentadas as seguintes habilidades: “(EI01TS01) Explorar sons produzidos com o próprio corpo e com objetos do ambiente”; e “(EI01TS03) Explorar diferentes fontes sonoras e materiais para acompanhar brincadeiras cantadas, canções, músicas e melodias” (BRASIL, 2018, p. 24; p. 44). Ou seja, os momentos cujo foco é a musicalização precisam ser voltados ao contato com diferentes brinquedos e utensílios no espaço da sala de aula, promovendo a descoberta de sons durante o momento do brincar ou atos relacionados à música, como o manuseio de instrumentos ou tecnologias que transmitem música. Ao estruturarem seus planejamentos de modo a explorar os sentidos e a curiosidade das crianças, os educadores contribuem para o período do berçário, em que o bebê passa a descobrir o mundo através de momentos de conhecimento do próprio corpo e também dos objetos ao seu alcance de interação. Em crianças bem pequenas, de 1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses, apresentam-se as habilidades de: “(EI02TS01) Criar sons com materiais, objetos e instrumentos musicais, para acompanhar diversos ritmos de música”; e “(EI02TS03) Utilizar diferentes fontes sonoras disponíveis no ambiente em brincadeiras cantadas, canções, músicas e melodias” (BRASIL, 2018, p. 24; p. 44). Neste caso, as habilidades são parecidas com as definidas para o berçário, porém, estas possuem definições de objetos já conhecidos pela turma, pois as atividades já não se limitam ao objetivo de descobrir, volta-se para a utilização de objetos e instrumentos em momentos de musicalização. Já para as crianças pequenas, de 4 anos a 5 anos e 11 meses, evidencia-se: “(EI03TS01) Utilizar sons produzidos por materiais, objetos e instrumentos musicais durante brincadeiras de faz de conta, encenações, criações musicais, festas”; e “(EI03TS03) Reconhecer as qualidades do som (intensidade, duração, altura e timbre), utilizando-as em suas produções sonoras e ao ouvir músicas e sons” (BRASIL, 2018, p. 24; p. 44). Para as crianças maiores, o foco e o objetivo são outros, já que os materiais e os sons são utilizados nos momentos de brincar, ao imaginarem e criarem nos diferentes espaços da sala de aula. Além disso, é 10 ressaltado que as crianças reconheçam as qualidades dos sons, já de acordo com a capacidade da faixa etária. Nessa direção, o objetivo é promover o convívio das crianças com diferentes manifestações artísticas, culturais e científicas em seu cotidiano escolar, possibilitando, por meio de atividades diversificadas, a vivência de novas formas de expressão e linguagens, podendo ser através da dança, da música, do teatro ou das artes visuais. A partir dessas situações, as crianças são capazes de potencializar suas criações e exercitar sua autoria, além de desenvolver seu senso estético e crítico, bem como enriquecer o conhecimento de si mesmas, do grupo e da realidade que as cerca. É importante que a aprendizagem faça sentido à criança e que os métodos de ensino ocorram a partir do contexto musical no qual a comunidade escolar está inserida, cabendo ao educador a função de buscar compreender o motivo da criação e do consumo dos diferentes métodos e expressões musicais. Nogueira (2003) ressalta que a linguagem musical tem sido uma das mais importantes linguagens da Educação Infantil, de modo a potencializar o ensino e a aprendizagem, principalmente, ao ser trabalhada junto às linguagens oral e escrita do movimento, da matemática, das artes visuais e também das ciências humanas e naturais. Logo, ao trabalhar a música com as crianças, o professor oferece as ferramentas básicas que possibilitam a compreensão e utilização dos meios musicais, sendo através de jogos, trilhas sonoras musicais, instrumentos percussivos, despertando o gosto pela música na criança. Ainda na BNCC (BRASIL, 2018, p. 34, grifos meus), estão previstos alguns direitos às crianças e que estão relacionados às artes, tais como: ● Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais. [...] ● Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na escola e fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia. 11 ● Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões, questionamentos, por meio de diferentes linguagens. Nessa perspectiva, é possível notar que os direitos são relacionados à exploração de objetos, materiais, movimentos, espaços e emoções, bem como à expressão via diálogos e emoções, e principalmente, ao brincar, ao fazer o principal que é esperado quando se é criança, explorar a criatividade e a imaginação. Tudo isso possibilita o desenvolvimento da relação da criança com os sons, com a musicalidade, motivando-a a criar, inventar e brincar enquanto envolve-se com ações que impulsionam à música. Ainda na área da Educação Infantil da Base, são propostas também algumas competências para a educação básica que podemos relacionar com as artes: ● Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural ● Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo (BRASIL, 2018, p. 7, grifos meus). É visível a relevância da Arte na formação das crianças e jovens, pois, durante as práticas, é possibilitado às crianças um autoconhecimento e desenvolvimento pessoal que não é adquirido apenas através da ciência. Entretanto, no texto da BNCC são ressaltadas apenas as práticas individuais, que potencializam as singularidades de cada criança, sendo deixados de lado os momentos importantes de socialização e aprendizagem com o outro. Algo a ser destacado também é o fato de a Base promover a desigualdade educacional, pois nem todas as instituições possuem condições ou acesso a determinados materiais para melhorias e adequações ao que é recomendado no documento. Ainda, é possível observar que a área de conhecimento de Arte no documento da BNCC está reduzida ao ensino e ao trabalho com expressões livres, 12 não sendo proporcionada às crianças uma apresentação mais consistente dos processos artísticos e da história da Arte. Ou seja, promove-se apenas um ensino superficial, limitando a imaginação das crianças. Outro ponto a destacar é o fato de o componente curricular de Arte não ser cobrado nos exames de desempenho nacionais, e, em decorrência disso, ocorre também a escassez de formações e cursos específicos das linguagens artísticas para os professores, além de diminuir a procura por cursos voltados à Arte nas instituições. Compreendendo melhor como estão propostas as competências e habilidades relacionadas às Artes na área da Educação Infantil pela BNCC, a próxima seção aborda como é proposta e trabalhada a música no currículo escolar da Educação Infantil. 13 3 CURRÍCULO: A MÚSICA NO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO INFANTIL Enquanto a BNCC aponta o que se espera que as crianças desenvolvam ao longo da Educação Básica, o currículo compõe-se de um planejamento acerca do que será ensinado em sala e dos objetivos de conhecimento esperados. Segundo as palavras de Assumpção e Costa (2006), para ser transformadora e emancipatória, a educação precisa estar centrada em um contexto curricular que considere as singularidades dos sujeitos, bem como suas culturas e suas histórias. A BNCC não é o currículo e nem substitui o mesmo, mas há uma relação em que um complementa o outro, pois os currículos escolares podem consultar o documento como uma forma de repensar as suas práticas, o que não significa moldar-se ao documento, podendo simplesmente adequar as proposições da Base à sua realidade, levando em consideração a autonomia da rede de ensino e da instituição, assim como o contexto e as características dos alunos (BRASIL, 2018). A Base indica os objetivos a serem desenvolvidos, mas é o currículo que apresenta os materiais, as estratégias didático-pedagógicas, bem como as metodologias a serem adotadas durante o planejamento. Moreira e Silva (2008, p. 7) conceituam o currículo como um documento que vai além de apenas uma listagem de conteúdos: “o currículo há muito tempo deixou de ser apenas uma área meramente técnica [...]. Já se pode falar agora em uma tradição crítica do currículo, guiada por questões sociológicas, políticas, epistemológicas”. Logo, o currículo propõe uma visão para além de uma definição de conteúdos. 14 “O currículo é um documento de identidade” (SILVA, 1999, p. 150), pois faz parte da trajetória e compõe a identidade da instituição. Além disso, é um documento privilegiado nos conselhos nacional, estaduais e municipais de educação, aos quais compete estabelecer as diretrizes e bases curriculares de diferentes níveis e modalidades de educação. Portanto, não há escola e nem ensino sem um currículo. No Brasil, há uma política curricular que está expressa pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) - Lei n. 9.394/1996, salientando que compete à União em colaboração com os estados, o Distrito Federal e os municípios o estabelecimento de diretrizes para a educação básica que irão nortear os currículos e seus conteúdos, com o objetivo de assegurar a formação básica comum (BRASIL, 1996). Já o Conselho Nacional de Educação (CNE), recriado pela Lei n⁰ 9.131/1995, é constituído como órgão responsável por normatizar e supervisionar a educação nacional, além de elaborar Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) promovidas a todos os níveis, etapas e modalidades de educação no país. Sendo assim, o currículo é também uma questão de Estado, e possui o CNE como órgão legislador. No contexto educacional atual, é cabível afirmar que o currículo pode ser definido de diferentes formas, como: um conjunto de disciplinas, resultados de aprendizagens, experiências a serem desenvolvidas e princípios orientadores. Os autores Libâneo, Oliveira e Toschi (2012) compreendem o currículo como um meio de seleção da cultura produzida pela sociedade para promover a formação das crianças, é algo que se espera que seja aprendido e ensinado na instituição de ensino. O currículo não se limita a um documento formal. Para a formação do currículo, é necessário discutir que tipo de cidadão se quer formar, antes de debater e formular o conteúdo a ser ensinado. O documento apresenta os conhecimentos escolares que serão abordados nas áreas de conhecimento, dentre as concepções existentes em cada componente e entre os próprios componentes, o que impacta também na maneira como será implementado na escola. Ainda, antes de pensar em formular o currículo escolar, é importante que a equipe pedagógica tenha conhecimento acerca da realidade na qual a comunidade 15 está inserida e, também, da rotina e do cotidiano escolar de que a criança está participando. A partir das considerações de Moraes (1996, p. 30), “se a realidade é complexa, ela requer um pensamento abrangente, multidimensional, capaz de compreender a complexidade do real e construir um conhecimento que leve em consideração essa mesma amplitude”. Além disso, o currículo escolar é visto como um documento norteador para as práticas pedagógicas, sendo organizado pela própria instituição de ensino. Seguindo as competências e habilidades propostas nos documentos oficiais e aplicando e produzindo práticas potentes de ensino, o professor é capaz de contribuir para a formação e o desenvolvimento de um cidadão capaz de viver em meio social e de realizar ações cognitivas e comunicativas. Segundo Lopes (2004, p. 194), “as práticas e as propostas desenvolvidas nas escolas também são produtoras de sentidos para as políticas curriculares”. Diante disso, os professores promovem e utilizam diversos recursos para implementar o que lhes é proposto nos documentos oficiais. O trabalho do professor vai além de ler e elaborar situações de aprendizagem, ele interpreta, reelabora, concorda ou discorda, cria, constrói materiais e situações de aprendizagem que promovem o desenvolvimento da criticidade dos estudantes. É importante que desde as temáticas até os objetivos a serem trabalhados em sala de aula pelos educadores sejam organizados e pensados conforme as tradições, capacidades e condições da instituição de ensino, pois nem todas possuem o quadro completo de professores capacitados, verbas para novos materiais e/ou salas e espaços adequados para determinadas atividades. Perante a organização do currículo, resulta também uma nova identidade pedagógica para a escola, mostrando os poderes, as funções, os limites e as possibilidades da instituição. 3.1 A música no currículo escolar 16 Conforme a Base e o currículo, as escolas têm trabalhado a música desde as primeiras faixas etárias até o último ano do Ensino Médio, sendo apresentada em campos de experiência na Educação Infantil e em componentes curriculares das áreas de conhecimento no Ensino Fundamental e Médio. A possibilidade de a musicalização ocorrer dentro das escolas, mais precisamente na Educação Infantil, se dá por meio de ferramentas para sua reflexão, através de práticas que possibilitem o uso da música e que trabalhem a diversidade da criança, explorando seu potencial criativo. Entretanto, em muitas escolas, a linguagem musical ainda é usada apenas em momentos de mudança na rotina, como a acolhida, a hora do lanche, a hora de brincar etc., sendo deixada de lado em modos que possam auxiliar o desenvolvimento infantil. Na escola, é importante que a criança aprenda a expressar-se e que tenha consciência dessa liberdade, podendo criar suas próprias melodias, assim como movimentos e ritmos, trabalhando desde o cognitivismo até a corporeidade. Muitos professores ainda utilizam a música como meros instrumentos para apresentar "musiquinhas" em datas comemorativas (SARAIVA, 2013). Vale ressaltar a importância de o professor estar ciente acerca do que as crianças conhecem sobre música. Elas já possuem um conhecimento prévio, e isso tem de ser levado em consideração ao organizar ou planejar uma aula. Além de organizar seu planejamento baseando-se no currículo de sua turma, o educador pode potencializar seu trabalho ao estudar o que a turma obteve de aprendizagens no ano anterior. Como cada ação possui uma reação, é fundamental que o professor observe as reações perante objetos e momentos ligados à música, de modo a reconhecer se ocorrem experimentações ou se ainda é necessário estudar e buscar mais conhecimento e recursos. Este trabalho é do educador, mas ele pode levar e debater essas observações com a equipe pedagógica, avaliando o que está determinado nos documentos norteadores e o que está além deles. É interessante ter presente que as temáticas e linguagens vivem em constante transformação, por isso é importante que o professor continue enriquecendo seus planejamentos através de estudos, pois o que foi aprendido em 17 uma época pode não ser atrativo em outro momento, e as modificações ocorrem em todas as áreas. Portanto, é importante que o licenciado enriqueça e potencialize suas práticas, sempre desenvolvendo a musicalização conforme previsto pelo currículo na faixa etária da Educação Infantil. Em seguida, partindo da problemática focada em como pensar a educação musical no currículo da Educação Infantil, será aprofundada a temática da música no currículo escolar a partir das práticas com grupo focal realizada pela pesquisadora junto ao grupo composto por professoras de Educação Infantil, em que são abordados e apresentados os de entendimentos de cada participante acerca do tema foco. 18 4 PESQUISA COM GRUPO FOCAL Para Gondim (2003), o grupo focal é uma metodologia de pesquisa que integra, discute, avalia o tema proposto, sendo flexível e dinâmico. Na primeira etapa dos trabalhos são realizados momentos e atividades de descontração, cujo comportamento pode envolver o grupo durante a reunião e desencadear a discussão proposta. A pesquisa realizada com um grupo focal pode ser caracterizada também como um recurso para compreender o processo de construção das percepções, atitudes e representações sociais de grupos humanos, segundo Gondim apud Veiga e Gondim (2001, p. 151). É fundamental que o foco principal seja em um tema de conhecimento de todos os participantes, de modo a facilitar as interações e discussões, e que os pesquisados tenham experiências e visão do mundo que os cerca, potencializando o resultado da pesquisa. Através do grupo focal, é possível que os sujeitos encontrem um momento para uma maior liberdade de expressão, sendo esta favorecida pelo ambiente e pelo grupo presente. Ainda, é muito fácil de ocorrer influências de meio social, e, nesta situação de debate, é provável que cada indivíduo compreenda novas ideias e novas possibilidades relacionadas ao tema. Também, ao reportar-se ao grupo focal como uma atividade de produção de dados, faz-se menção de que o método é utilizado quando se deseja compreender diferenças e divergências, contraposições e contradições (GATTI, 2005). Nessa direção, Gatti (2005, p. 9) aponta que: 19 O grupo focal permite emergir uma multiplicidade de pontos de vista e processos emocionais, pelo próprio contexto de interação criado, permitindo a captação de significados que, com outros meios, poderiam ser difíceis de manifestar. Sob essa perspectiva, este estudo com grupo focal teve como objetivo evidenciar e compreender como a música perpassa o currículo por meio das práticas pedagógicas do professor. Nesta pesquisa, o grupo focal foi formado por 5 (cinco) participantes, sendo professoras da Educação Infantil de uma mesma escola. Cada professora é titular de um nível, desde o berçário até o nível 5, e a primeira turma é a única em que a professora não conta com a presença de aula especializada de música no currículo de seu nível. Ao longo do texto, não constará o nome das participantes, que foram identificadas com nomes fictícios, propostos no primeiro encontro para garantir o anonimato, deixando claro a particularidade. Além disso, não foi exigido que todas respondessem cada uma das questões propostas. Para a realização da conversa, o mediador/pesquisador é responsável pelo encaminhamento e direcionamento dos pontos a serem discutidos e trabalhados nos encontros, além de incentivar a participação dos componentes, aprofundando as discussões, de modo a possibilitar a revelação de novas ideias e novos olhares em relação à temática pautada. Neste caso, a mediadora foi a própria acadêmica e norteou as professoras a respeito da temática e do objetivo da pesquisa, explicando em seguida como daria seguimento aos debates e oficinas. Gondim (2003, p. 154) ainda explica como o mediador tem de trabalhar com o grupo: Para conseguir tal intento ele precisa limitar suas intervenções e permitir que a discussão flua, só intervindo para introduzir novas questões e para facilitar o processo em curso. Igualmente é necessário estar atento para não deixar que o grupo comece a falar sobre um assunto importante muito tarde para ser explorado e evitar que as interpelações findem antes da hora. A pesquisa foi organizada em 4 (quatro) encontros, cujo foco foi a realização da discussão e de oficinas com o grupo focal. Para isso, foi preciso organizar um planejamento que contemplou o grupo, a temática, o local, o convite, a produção de 20 dados e o cronograma. O plano baseou-se nos aportes teóricos de Swanwick (1991), que compreende a música como uma forma de jogo, composta de um triângulo constituído pelos elementos: domínio, imitação e jogo imaginativo; sendo esses elementos a base para a elaboração de 3 oficinas ao decorrer dos 4 encontros. A ideia de realizar jogos partiu do princípio de ser algo presente nas brincadeiras cotidianas das crianças e, segundo Mársico (1982), o jogo é a essência da infância, e por isso é importante que não fique de fora das aulas de música. O convite para as professoras foi realizado via encontro presencial no local de trabalho, verificando a possibilidade da participação nos dias agendados e a aceitação de cada uma, além de ser entregue ao diretor da instituição a Carta de Apresentação da pesquisadora, informando dados da graduação, sendo apresentado o motivo e explicado o trabalho e a pesquisa a serem realizados. No dia anterior de cada encontro, as professoras foram relembradas do compromisso via redes sociais. O ambiente escolhido foi a casa da pesquisadora, por ser um ambiente confortável, calmo e diferente do cotidiano das professoras, sendo ofertado um espaço tranquilo e sem distrações, onde o grupo esteve disposto em uma roda, possibilitando a visualização de todos. Para captar melhor as falas e pontos importantes, utilizou-se o recurso do aplicativo de um gravador de voz e as participantes foram avisadas antecipadamente sobre isso. O celular com o gravador ficou disposto em um painel do ambiente e a captação de voz facilitou a transcrição posteriormente. Na sequência, segue a descrição das oficinas e dos encontros realizados: 4.1 Encontros com professores: um relato de grupo focal Quarta-feira: 20/10 - viagens pelo o que definimos como música Este foi um dos dias que mais ansiava para chegar, pois não sabia se daria conta e se as participantes iriam gostar e participar da proposta. Porém, tudo ocorreu bem, pois as professoras chegaram já se sentindo à vontade, sentando-se, observando o local e conversando entre o grupo. 21 Para iniciar, foi realizada uma acolhida às professoras, sendo apresentada a pesquisa, seu objetivo e a temática, além do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), realizando a coleta das assinaturas das professoras logo em seguida. Este primeiro encontro teve como foco um momento de conversa com o objetivo de debater acerca das músicas marcantes para as participantes, relembrando momentos de suas infâncias e refletindo sobre suas turmas em momentos de musicalização. Enquanto ocorria a conversação, ao fundo tocava músicas de gênero instrumental, de modo a acompanhar o momento. As perguntas que nortearam a discussão foram: O que é música para você? Qual música lembra a infância de vocês ou algum momento bom? Como as crianças reagem quando você utiliza música na sala de aula? Você “vê” a musicalização como algo fácil ou difícil de trabalhar/desenvolver? Um breve silêncio instalou-se no local, pois parece fácil pensar sobre o que é música e como ela está presente no nosso dia a dia, mas não há apenas uma definição para isso, e as ideias diferiram em muitos pontos. Para a professora Milena, “tudo é música, qualquer som que você escuta te remete à música”, já para a professora Alice, “qualquer expressão pode ser música”. Em relação à musicalização em sala de aula, debateu-se acerca da questão de que muitas vezes são as próprias crianças que pedem para que seja colocada alguma música para dançarem, como relatou a professora Cecília, e segundo Pinter (s.d.) “[...] a criança ao ouvir sons ou ritmos musicais [...] acaba por fazer leves movimentos com a cabeça e com o corpo. A música leva a criança a uma viagem em sua criatividade, percorrendo caminhos imaginários”. Também, que em alguns momentos ela ocorre de maneira espontânea, sendo um exemplo quando descobrem um novo som feito com a boca, com as mãos, os dedos, como apontou a professora Emily: “os nossos pequenos têm muito a questão da produção de música corporal, com o corpo que a gente produz, eles tentam repetir e fazer novamente, e isso tudo é uma base para começar a trabalhar a música naquele momento” e isso pode ser visto como um processo de 22 aprendizagem, porque para Vygostky (1994) a criança interage pelos ambientes em que convive e, por isso, está sempre em contato com novas informações. Sábado: 23/10 - dominando objetos e instrumentos Ao chegarem no ambiente, as professoras encontraram uma mesa com diversos objetos de sucatas ou utensílios do dia a dia (como panelas, colheres de pau, etc.), e foram convidadas a explorarem-nos, sendo conduzidas por músicas tocando ao fundo. O objetivo desse primeiro momento foi observar como ocorreriam as ações e interações com o outro e com objetos ao serem conduzidas por música. Aqui, entrou em observação o elemento “domínio”, que se refere à conduta lúdica na qual predomina a “centração” em materiais musicais. O domínio promove os modos sensorial e manipulativo. Pelo modo sensorial, de acordo com Swanwick (1991), corresponde-se às impressões dos sons e do timbre, os contrastes de intensidade e altura e a experimentação com instrumentos e outras fontes sonoras. Trata-se, então, de uma exploração livre, sem a preocupação com a estrutura regrada da música. As professoras, ao serem “liberadas” para a exploração dos objetos, pois estavam ansiosas, passaram boa parte do tempo explorando o som que cada objeto fazia ao ser tocado em uma superfície ou contra outro objeto. Algumas produziram melodias em conjunto, enquanto revezavam o uso dos utensílios. Todas gostaram da experiência, pois, segundo a professora Alice, “a gente voltou um pouco a ser criança”, e para a professora Emily: “e pensar que são todos utensílios e objetos que temos e usamos todos os dias em nossas casas”. Em relação aos utensílios, Penna (2014, p. 21) afirma que: Os instrumentos de percepção são necessários para que o indivíduo possa ser sensível à música, aprendê-la, recebendo o material sonoro/musical como significativo. A musicalização é um processo em que as potencialidades de cada indivíduo são trabalhadas e preparadas de modo a reagir ao estímulo musical. Neste encontro foi possível refletir acerca dos diversos materiais que temos ao nosso alcance e que podem ser utilizados em sala de aula também para produzir sons e trabalhar jogos musicais com as crianças. Logo, foram observados também aspectos da relação música-indivíduo, que podem ocorrer a partir de três papéis 23 diferentes: de criadores, ou seja, compositores e improvisadores; de intérpretes, no papel do instrumentista e cantor; e de participantes, ao estarem apreciando uma música. Em seguida, foi conduzido um novo debate, com o objetivo de discutir os recursos utilizados bem como os locais e repertórios escolhidos pelas professoras em suas práticas escolares, partindo de questões como: Você possui dificuldade em encontrar materiais e recursos? Por quê? Há um objetivo específico seu para trabalhar a musicalização em sala de aula? Qual o repertório escolhido? A primeira pergunta foi respondida ainda durante a oficina, mas as professoras concordaram que falta acesso aos instrumentos musicais, como violão, tambor, teclado, flauta e ukelelê, por exemplo. Para a professora Emily, seria mais fácil se o professor de aula de música tivesse mais de um instrumento de cada tipo, pois “o próprio professor da Educação Infantil precisa pesquisar e precisa ir atrás de músicas e instrumentos, e facilitaria muito se alguém da área da música trouxesse essas coisas para nós”. Claro, como já comentado, os objetos do dia a dia são uma opção para trabalhar a música com as crianças, mas as participantes também concordaram que seria enriquecedor que as crianças tivessem contato com os clássicos já conhecidos. Em relação aos objetivos específicos do planejamento, a professora Cecília comenta que “tendo a aula especializada, damos conta de atingir os objetivos da BNCC, mas no nosso currículo, tanto escola e quanto nível, temos objetivos fora da Base que precisamos contemplar”. Todas as professoras concordam ao afirmarem que a Base possui poucos objetivos voltados à arte, com foco na música, e todos muito amplos, já que faltam especificações, segundo elas. Para a professora Cecília, “a teoria é a base do nosso trabalho e a gente precisa ter um embasamento teórico para saber o que estamos fazendo e por que estamos fazendo aquilo”. O que as desmotiva é a falta de instruções e métodos dispostos na Base. No currículo há mais informações e, ainda, conforme a professora Cecília, "é preciso dar elementos para as crianças”, é preciso que sejam dispostos aos educadores ideias e 24 esboços de como conduzir ou promover dinâmicas relacionadas às práticas musicais enquanto “aula normal” e não aula especializada de música. As professoras recorrem, muitas vezes, para brincadeiras antigas, às vídeo-aulas musicais de canais de streaming da internet e pesquisas relacionadas à cultura para aprofundarem seus conhecimentos acerca das temáticas a serem trabalhadas e enriquecerem seus planejamentos. Podemos relacionar com os pensamentos de Cunha (2001) que afirma que o educador constrói seu conhecimento ao longo do cotidiano, não apenas em âmbito escolar, mas de todos os conhecimentos aprofundados em suas vivências. QUARTA-FEIRA: 27/10 - eu imito, tu imitas Este encontro teve como momento inicial a interação através de um jogo de mímica. Em uma caixa estavam guardados papéis com nomes de músicas conhecidas e trabalhadas na Educação Infantil, como a tradicional música Pintinho Amarelinho, por exemplo. Uma participante por vez tirou um papel da caixa, mas sem mostrar para ninguém. Em seguida, usando movimentos de mímica, precisou performar trechos da canção para que as outras participantes tentassem adivinhar qual era. O objetivo, além da interação, foi propor uma atividade que trabalhasse a criatividade e a expressividade individual de cada participante, utilizando músicas cotidianas do contexto escolar das professoras. Esse segundo tipo de jogo, denominado por Swanwick (1991) de “imitação”, corresponde a momentos de representação, quando a referência centra-se em eventos já vivenciados. Pela imitação, pode haver relações com os fatos da vida, o que Swanwick (1991) denomina de caráter expressivo. Cada interpretação de uma música oferece um universo particular de gestos, de sentimentos e de ênfases. Em suma, a imitação em música, na dimensão da expressividade, é um ato que exige algum nível de acomodação (SWANWICK, 1991; PIAGET, 1946). A imitação não se reduz a uma mera cópia, pois exige do sujeito afinidade, empatia, identificação e interesse, e, ao imitar, expandimos nosso repertório de ação e pensamento. 25 Outro objetivo deste encontro foi debater acerca das atividades, ferramentas e métodos utilizados para o planejamento escolar relacionados à musicalização. As professoras foram conduzidas em uma conversa iniciada com a seguinte questão: A música já está planejada para a aula ou ocorre de modo espontâneo? Creio que este foi um dos encontros mais divertidos. As professoras estavam empolgadas com o jogo ao ponto de quererem competir entre si mesmas. Mas, como todo início possui um fim, encerramos o jogo e demos início ao debate daquele dia. Para todas as professoras, exceto a professora Milena, que é titular da turma do berçário, há uma vez por semana a aula especializada de música, ministrada por um professor especialista em musicalização. Entretanto, seria importante que houvesse aulas de música para bebês, pois segundo Godoi (2011, p. 18): O ambiente sonoro, assim como presença da música em diferentes e variadas situações do cotidiano fazem com que os bebês, e crianças iniciem seu processo de musicalização de forma intuitiva. Adultos cantam melodias curtas, cantigas de ninar, fazem brincadeiras cantadas, com rimas parlendas, reconhecendo o fascínio que tais jogos exercem. Nas outras turmas, além do momento semanal, a música ocorre de modo planejado pelas educadoras em poucos momentos do cotidiano, mas também ocorre a musicalidade de modo espontâneo. Essa espontaneidade é promovida durante brincadeiras, jogos e rodas de conversa entre os alunos, como relata a professora Emily: "você realiza atividade com música e às vezes nem percebe". Além disso, há os momentos rotineiros em que a música é usada para identificar o que será feito em seguida, como a música para guardar brinquedos, a música para lanchar e a música da chegada e identificação das crianças. Conforme a professora Alice, "a música precisa fazer parte diariamente da rotina, nos rituais dentro dos rituais", de modo a integrar a música no cotidiano da criança e a exercitar sua memória e ações mentais. SÁBADO: 30/10 - imaginando e refletindo como fortalecer o vínculo com a música No último encontro, o primeiro momento foi conduzido com o jogo Uma palavra, uma música, no qual uma participante por vez sorteou uma ficha com uma 26 palavra (havia uma caixa com palavras sortidas), lendo-a em voz alta. Em seguida, com o objetivo de trabalhar a memória e a criação de músicas, as outras participantes precisaram lembrar e/ou cantar trechos musicais que possuíssem determinada palavra em sua composição. Na categoria de “jogo imaginativo”, conforme Swanwick (1991), criamos um mundo de novas relações que estão além dos elementos que nos rodeiam. Essa conduta lúdica no jogo musical implica em transformações das estruturas e em uma nova reconstituição de possibilidades musicais. Essas são ativadas através de atividades que promovam a interação, a criatividade e a imaginação. Para concluir e finalizar o último encontro, o grupo foi guiado para um momento de debate, com o objetivo de refletirmos acerca da prática pedagógica de cada professora, do estudo e das formações das participantes através das seguintes perguntas: Vocês participam de cursos ou formações? Interessam-se por isso? Em quais áreas do conhecimento você utiliza a música? Relate uma experiência marcante em que trabalhou com música. Você tem alguma sugestão a indicar para o trabalho da música em sala de aula? Nesse último encontro as professoras puderam refletir acerca do fato de que são poucas as formações e cursos disponibilizados cujo foco é a educação musical, e, quando ocorrem, geralmente há o empecilho da distância e/ou dos custos. Ainda, para a professora Simone, seria essencial que as formações ocorressem pelo menos uma ou duas vezes ao ano, pois, além de enriquecerem o currículo da educadora, enriquecem e potencializam o estudo e o trabalho dos professores, assim como afirma Pinter (s.d.): [...] para um ensino musical de qualidade é necessário que as instituições de graduação e pós-graduação invistam em seus cursos para viabilizar a efetiva presença da música na educação infantil, porque é de suma importância ampliar o conhecimento cultural e histórico das crianças. . Além disso, Simone ainda compreende que "a música é interdisciplinar, em apenas uma música tu trabalhas infinitas coisas extremamente importantes". Logo, 27 os educadores estão aprofundando seus conhecimentos acerca da música ao participarem de cursos e formações, pois é importante que possua capacidade de ser crítico e criativo ao proporcionar atividades e brincadeiras musicais em sala de aula. Durante os encontros a atuação da mediadora foi de envolvimento mediano, mantendo o controle dos tópicos a serem discutidos e das perguntas norteadoras e redigindo comentários durante os debates. Já por parte das participantes, houve um envolvimento notório, pois o tema focal é pertinente às práticas pedagógicas de cada uma envolvendo a música. Sobre essa questão, a professora Cecília apresentou o seguinte relato: [...] a música precisa fazer parte diariamente da rotina, dentro dos rituais para iniciar a aula, no lanche, em uma oração... no ritmo quando eu chamo eles na praça também. Criança e música combinam muito bem, com a música tu chamas a atenção deles, chama a atenção para o que tu queres apresentar, faz eles terem mais atenção e concentração para o que tu vais propor. Em seguida, ressaltou-se uma das principais funções da música em sala de aula para as professoras, que é usá-la como meio de chamar a atenção do aluno e de identificar o que será feito no momento seguinte, como a música que antecede o lanche ou a música para guardar os brinquedos. Ao darmos sequência à discussão do tema “música”, as professoras concordam que trabalhar com a música na escola é, muitas vezes, algo inevitável, assim como relatou a professora Emily, “você faz atividade com música e nem percebe”. Algo muito discutido foi o fato de, na Educação Infantil, haver mais espaços de tempo livre, muitas vezes, recorrendo-se à música para entreter as crianças, como comenta a professora Simone: “a gente acaba trabalhando também com o improviso, para ver o que é possível fazer no momento”. Refletiu-se que a música nem sempre está planejada para ser trabalhada naquela data, mas, por estarem com tempo livre, acaba tornando-se um meio de distração para as crianças “terem o que fazer”. Ressaltou-se também a importância de ocorrerem aulas especializadas de música na área da Educação Infantil. Nesses momentos com um educador diferente 28 e voltado especialmente à musicalização, há uma diversificação de materiais e dinâmicas, e essas aulas passaram a serem obrigatórias a apenas há alguns anos, possuindo valor significativo para as participantes porque, segundo a professora Milena, “ela já toma mais conta e isso foi agora, antes não tinha e ela dá conta da música nos planejamentos”. Para a professora Emily, “facilita muito se alguém da área da música traz essas coisas para nós, porque a gente como o próprio professor da Educação Infantil precisa pesquisar e precisa ir atrás de música”. Logo, essa necessidade de pesquisar também foi comentada pela professora Cecília, que ressalta que “a gente precisa pesquisar muitas vezes músicas diferentes para explorar melhor o repertório, e é preciso dar elementos para as crianças”. Em relação aos elementos e objetos, Brito (2003, p. 74) nos diz que os objetos sonoros e também outros instrumentos podem ser descobertos se as crianças tiverem a chance de utilizar e manusear materiais variados e também se contarem com a orientação e o estímulo do educador ou educadora. Em relação aos documentos norteadores, as opiniões foram parecidas ao que já foi destacado durante o referencial teórico, ressaltando-se o fato de serem poucos os objetivos relacionados à música, assim como afirma a professora Emily: “[...] é difícil para quem lê, porque a BNCC possui poucos objetivos e muito amplos, e se tu fores pegar o referencial gaúcho ele já esmiúça um pouquinho mais […]”. Além disso, falou-se acerca da questão da falta de outros documentos cuja temática seja voltada às artes, mais especificamente à música, e segundo a professora Cecília: “[...] a teoria é a base do nosso trabalho, a gente precisa ter um embasamento teórico para saber o que estamos fazendo e porque estamos fazendo aquilo”. A professora Cecília também comenta que “a gente tendo a aula especializada, consegue dar conta de atingir os objetivos da BNCC, mas nós também, no nosso currículo, tanto escola e quanto nível, temos objetivos fora da Base que precisamos contemplar”, e esses objetivos vão além de saber desenvolver a imaginação das crianças ao criarem jogos musicais ou cantarem em uma roda em um espaço da sala. Ainda, como afirma Pinter (s.d.): [...] o educador precisa estar atento às diferenças culturais e às dificuldades de cada criança em relação às atividades apresentadas, fazendo diversas 29 experiências para se conseguir chegar a um trabalho ideal em sala de aula, que contemple todas as crianças. A técnica do grupo focal propiciou momentos de profunda reflexão por parte da mediadora e também das participantes, nos quais foram debatidos assuntos e situações de cunho pessoal e profissional, ambos relacionados ao tema focal. É perceptível a potência da técnica como método para aprofundar as relações entre indivíduos e o enriquecimento de conhecimentos acerca de determinados assuntos a serem discutidos. Algo pertinente a ser ressaltado é o tema trabalhado. A música ainda precisa ser muito discutida e muito desenvolvida em sala de aula, e esses momentos enriqueceram as visões e conhecimentos de cada indivíduo presente. Além disso, para a professora Emily, a música “é uma coisa muito presente e cada vez mais o professor vai ter que ter música para chamar os alunos”. Com a realização dos encontros, pode-se discutir acerca da temática da educação musical no currículo da Educação Infantil, e as oficinas favoreceram a expressão e a reflexão de novas visões e ideias acerca do assunto por parte da pesquisadora e também das participantes. A informalidade favoreceu uma maior liberdade de expressão vinda das professoras, e elas agradeceram por terem sido escolhidas para contribuírem com a pesquisa. Refletiu-se sobre a ideia de que momentos como esse poderiam ocorrer mais vezes, pois tornam-se importantes para a reflexão e o debate, tanto sobre a música como sobre outras temáticas presentes no currículo da Educação Infantil. A técnica de grupo focal, então, possibilitou um enriquecimento da prática de trabalho, vindo ao encontro da pesquisa e propiciando momentos de profunda discussão. 30 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao escolher a temática relacionada à música, eu sabia que o assunto não era muito debatido em graduações, formações e instituições de ensino, e acreditava que, ao finalizar o trabalho, estaria a par dos conhecimentos necessários sobre o ensino de música. Porém, a cada novo texto lido, mais eu aprendo, e isso não se finda neste trabalho, pois é perceptível a falta de produção e divulgação de conteúdos acerca da temática. O estudo veio ao encontro da minha paixão por música e pela curiosidade de aprender mais sobre a musicalização em minha área de atuação, a Educação Infantil. Compreendo, através deste estudo, que na escola a música pode ocorrer através de diversas maneiras, mas é através da musicalização que se pode contribuir para o desenvolvimento da criança e da turma. Ainda, é importante desenvolver uma escuta sensível e uma observação atenta, capazes de perceber e interpretar as emoções das crianças, de modo a despertar a sensibilidade, a percepção e a criatividade delas por meio de novos estímulos e métodos. Podemos pensar, então, a música como meio e instrumento enriquecedor para promover inúmeras aprendizagens durante o desenvolvimento da criança. Além disso, a música favorece também o desenvolvimento da criação e da imaginação, contribuindo para as práticas e aprendizagens em meio escolar. As práticas realizadas com o grupo focal foram muito significativas, pois contribuíram com a compreensão acerca da visão dos professores a respeito da 31 presença da música na Base Nacional Comum Curricular e no currículo escolar. Da mesma forma, entende-se a necessidade de momentos específicos para trabalhar a música. Com o desenvolvimento da pesquisa, sobretudo nos encontros de grupo focal, pode-se dizer que as professoras participantes utilizam a música como instrumento de apoio durante os momentos de ensino e aprendizagem. As educadoras não possuem tanta dificuldade para trabalhar com música, pois ela ocorre, na maioria das vezes, de modo espontâneo por parte da educadora ou das crianças que surgem, e partem de momentos livres e brincadeiras. Ainda, percebi com este trabalho a importante contribuição da musicalização para o desenvolvimento da socialização das crianças em espaço escolar. Através da música e das vivências em momentos musicais, o professor é capaz de desenvolver na criança a sensibilidade, a criatividade, o senso crítico, a expressão corporal, a imaginação, a memória, a atenção, a concentração, além de vários outros benefícios, planejando e considerando os objetivos e competências apresentados pelos documentos norteadores. Este trabalho significou, além de um marco em minha vida acadêmica, um salto em relação aos meus trabalhos e minhas pesquisas. Ainda, trabalhei em prol de uma pesquisa cuja temática ainda não é muito debatida e o referencial teórico não é extenso como em outros temas. Por isso, espero que outros estudantes e professores possam ter alcance a este trabalho, de modo a refletirem e complementarem seus estudos com o conteúdo aqui discutido. 32 REFERÊNCIAS ASSUMPÇÃO, Eracilda; COSTA, Marinês U. Organização curricular da educação básica. PIEB, Frederico Westphalen: Ed. URI, 2006. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Ministério da Educação. Brasília: Ministério da Educação, 2018. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=7960 1-anexo-texto-bncc-reexportado-pdf-2&category_slug=dezembro-2017-pdf&Itemid=3 0192. Acesso em: 10 set. 2021. BRASIL. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. 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São Paulo: Ícone, 1994, p. 108-113. 35 APÊNDICES 36 APÊNDICE A - Carta de Apresentação Eu, ____________________________________________, acadêmica do Curso de Pedagogia da Universidade do Vale do Taquari/RS, estou desenvolvendo o Trabalho de Conclusão de Curso com o problema “Como pensar a educação musical no currículo da Educação Infantil”. Para tanto, pretendo desenvolver os estudos na presente escola de modo a analisar as perspectivas de professoras da Educação Infantil acerca das aulas especializadas de música, dos momentos em que a música se faz presente em sala de aula e sobre seus entendimentos em relação à educação musical no contexto escolar. Os dados coletados serão de uso exclusivo da pesquisadora, sendo utilizados com a finalidade de fornecer elementos para a realização do Trabalho de Conclusão de Curso. Será assegurada a confidencialidade das professoras participantes da entrevista e da instituição de ensino. Eu, ____________________________________________, diretor(a) da instituição de ensino, aceito que a acadêmica do Curso de Pedagogia, ______________________________________ desenvolva sua pesquisa na presente instituição. 37 Diretor(a): _______________________________________________ CPF: __________________________________ Acadêmica: ______________________________________________ CPF: __________________________________ 38 APÊNDICE B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE): TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) Eu, ......................................................................................., aceito, pelo presente Termo, participar de um questionário para o estudo “Como pensar a educação musical no currículo da Educação Infantil” desenvolvido pela acadêmica do Curso de Graduação em Pedagogia, da Universidade do Vale do Taquari - Univates, de Lajeado/RS, Kelly Cristine Formentini Fontana, orientada pela Prof.ª Dra. Fabiane Olegário. Pelo presente Termo, fico ciente que: 1. O estudo tem por objetivo compreender a importância da música e das práticas durante momentos e atividades em sala de aula ministradas pelo educador, 39 relacionadas à educação musical composta no currículo da Educação Infantil; 2. A coleta de informações será feita mediante momentos mediados em um grupo focal que será aplicado a professores de Educação Infantil; 3. Posso pedir esclarecimentos sobre quaisquer aspectos do estudo antes e durante o seu desenvolvimento; 4. Posso abandonar a entrevista antes e durante o seu curso, sem quaisquer prejuízos para mim; 5. É-me garantido o sigilo quanto à origem das informações, não podendo ser revelada a minha identidade sem o meu consentimento; 6. As informações produzidas serão interpretadas e gerarão uma parte do trabalho que será desenvolvido na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso II, cujo resultado será apresentado em banca avaliativa, garantindo-se o sigilo da fonte das informações; 7. Estou ciente que esse tipo de pesquisa exige uma apresentação de resultados, devido a isso, autorizo a divulgação das informações, para fins exclusivos de publicação, divulgação científica e formativa de educadores; 8. Frente a qualquer dúvida, a acadêmica estará à disposição pelo e-mail: kelly.formentini@universo.univates.br. Assim, este Termo será expedido em duas vias, sendo uma via da acadêmica para que seja arquivado com a autora do estudo e outra em poderes do entrevistado. Lajeado, ...........de...............................................de 20...... mailto:kelly.formentini@universo.univates.br 40 Nome do Estudante Pesquisador: ........................................................................... Assinatura do entrevistado: ........................................................................................... APÊNDICE C - Roteiro de questionário a ser discutido com professoras de Educação Infantil - O que é música para você? - Qual música lembra a infância de vocês ou algum momento bom? - Qual música você define como a “sua música”? - Qual música você definiria como “a música da sua turma”? - Como as crianças reagem quando você utiliza música na sala de aula? - Você “vê” a musicalização como algo fácil ou difícil de trabalhar/desenvolver? - Em que locais você realiza atividades e momentos musicais? - Você possui dificuldade em encontrar materiais e recursos? 41 - Há um destino específico para trabalhar a musicalização em sala de aula? - Qual o repertório? Quais tipos de músicas costuma selecionar e quais critérios utiliza para escolhê-las? - Quais os tipos de atividades que você realiza com a turma? - Vocês participam de cursos ou formações? Se interessam por isso? - Você sabe tocar algum instrumento? - Em quais áreas do conhecimento você utiliza a música? - Você tem alguma sugestão a indicar para o trabalho da música em sala de aula? - A música já está planejada para a aula ou ocorre de modo espontâneo? - Você pode relatar uma experiência trabalhada por meio da música? 1