0 

 

 

             UNIVERSIDADE DO VALE DO TAQUARI - UNIVATES 

CURSO DE HISTÓRIA 

 

 

 

 

 

 

A MOVIMENTAÇÃO TROPEIRA NA ABERTURA E CONSOLIDAÇÃO 

DOS CAMINHOS MERIDIONAIS DO BRASIL 

 

  

Carlos Augusto Weizenmann 

 

 

 

 

 

 

 

Lajeado, julho de 2020 



1 

Carlos Augusto Weizenmann 

 

 

 

 

 

 

 

A MOVIMENTAÇÃO TROPEIRA NA ABERTURA E CONSOLIDAÇÃO 

DOS CAMINHOS MERIDIONAIS DO BRASIL 

 

 
Monografia apresentada na disciplina de 
Trabalho de Conclusão II – do Curso de 
História, Universidade do Vale do Taquari - 
Univates, como parte da exigência para 
obtenção do título de licenciado em História.  
 
Orientador: Prof. Me. Sérgio Nunes Lopes 

 

 

 

 

 

 

 

 

Lajeado, julho de 2020 

 



2 

Carlos Augusto Weizenmann 

 

 

 

A MOVIMENTAÇÃO TROPEIRA NA ABERTURA E CONSOLIDAÇÃO 

DOS CAMINHOS MERIDIONAIS DO BRASIL 

 

A Banca examinadora abaixo aprova a Monografia apresentada na disciplina de 

Trabalho de Conclusão de Curso II, da Universidade do Vale do Taquari - 

UNIVATES, como parte da exigência para a obtenção do grau de Licenciado em 

História: 

 

                                 Prof. Me. Sérgio Nunes Lopes 

                                 Universidade do Vale do Taquari – Univates 

 

          Profa. Dra. Neli Teresinha Galarce Machado 

          Universidade do Vale do Taquari - Univates 

 

          Prof. Dr. Luís Fernando da Silva Laroque 

          Universidade do Vale do Taquari - Univates 

 

 

 

 

Lajeado, 16 de julho de 2020 



3 

 

 

 

 

 

AGRADECIMENTOS 

 

Gostaria de agradecer a todos que fizeram parte deste trabalho ou que me 

aturaram em todo este tempo de produção e vida acadêmica. 

Agradeço imensamente ao meu orientador Sérgio que teve paciência e rigidez 

nos momentos certos, na tentativa de que o trabalho pudesse alcançar excelência. 

Aos meus companheiros de vida acadêmica, em especial à Fernanda e ao 

Willian, que são amigos e parceiros para a vida toda. Foram eles, que me 

incentivaram, me fizeram rir e, especialmente, me aconselharam. 

A Neli e ao Laroque que aceitaram com carinho a participação na banca, me 

deixando honrado em saber que professores renomados querem contribuir para 

minha formação. 

A Camila e o Artur, um casal que considero amigos de coração, que me 

fizeram sentir que a vida é bela e única e que tenho que curtir cada instante 

apaixonadamente.  

A todos meus amigos e aos contatinhos que surgiram no caminho para que 

eu não desistisse de realizar este trabalho. 

Por fin, quiero que mi carrera como maestro sea tan hermosa como mi 

experiencia de intercambio.  

Obrigado a todos! 

 



4 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“Um povo sem conhecimento, saliência de seu passado histórico, origem e 

cultura é como uma árvore sem raízes”. 

          Bob Marley 

 



5 

 

 

 

 

 

 

 

RESUMO 

 

 

A temática do tropeirismo até fins do século XX era pouco visada pela 

historiografia, e quando enunciada, aparecia como uma atividade subsidiária de uma 

economia principal da segunda metade do século XVIII, a da extração aurífera. 

Assim, o objetivo deste trabalho é analisar a implicação do Tropeirismo 

dimensionando o seu protagonismo na abertura e consolidação dos caminhos 

meridionais. Trata-se de uma revisão bibliográfica de pesquisa qualitativa. Desta 

forma, as reflexões iniciais giram em torno de como o tropeirismo pode ser estudado 

e representado em uma perspectiva historiográfica e literária a partir de diferentes 

aportes teóricos, expondo aspectos econômicos, políticos, arqueológicos, sociais e 

culturais. Além disso, a literatura e a música são analisadas enfatizando a 

representação de uma perspectiva estética desses agentes sociais que permeiam o 

mito fundador do homem sulino. Em seguida, o movimento tropeiro é abordado 

dentro de uma análise socioeconômica a partir do conceito de Sistema Social para 

compreender como é realizada a movimentação na formação do território meridional. 

Portanto, o trabalho divide-se em duas partes: a da abertura e consolidação de 

caminhos e o surgimento de cidades como Cruz Alta/RS, Lages/SC e Castro/PR.  

 

Palavras-chave: Tropeirismo. Caminhos Meridionais. Sistema Social. 

 

 

 

 



6 

 

 

 

 

 

 

 

LISTA DE FIGURAS 
 

Figura 1 – Mapa da divisão territorial do trabalho do tropeirismo. .................. 41 
Figura 2 – Mapa das rotas e localidades por onde passavam os tropeiros .... 42 
Figura 3 – Mapa da região marcado por caminhos (2007) ............................. 46 
Figura 4 – Monumento tropeiro na entrada da cidade de Castro - PR ........... 51 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 



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SUMÁRIO 

 
 

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8 
 

2 REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO ...................................................... 12 
2.1 Sistemas sociais: os sistemas-mundo ............................................................ 13 
2.2 A vertebralização da História Econômica ....................................................... 15 
2.3 Revisão bibliográfica ........................................................................................ 17 
2.4 Pesquisa documental........................................................................................ 20 
2.5 Pesquisa qualitativa .......................................................................................... 21 

 
3 O TROPEIRISMO E OS REVEZES HISTORIOGRÁFICOS .................................. 24 
3.1 O tropeirismo pelas lentes do materialismo histórico ................................... 24 
3.2 O tropeirismo: para além das questões econômicas..................................... 26 
3.3 Arqueologia das tropeadas .............................................................................. 29 
3.4 O tropeirismo na literatura ............................................................................... 30 
3.4.1 O tropeiro na poesia....................................................................................... 31 
3.4.2 O tropeiro na música...................................................................................... 33 
 
4 A ATIVIDADE TROPEIRA NA FORMAÇÃO TERRITORIAL MERIDIONAL: UMA 
ANÁLISE SOCIOECONÔMICA ................................................................................ 36 
4.1 Interconectando caminhos: o sistema social de economia-mundo ............. 36 
4.2 A abertura de estradas...................................................................................... 39 
4.3 O surgimento de cidades .................................................................................. 44 
4.3.1 Cruz Alta – Rio Grande do Sul ...................................................................... 46 
4.3.2 Lages – Santa Catarina .................................................................................. 48 
4.3.3 Castro – Paraná .............................................................................................. 49 
 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 52 

 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 54 
 

 
 
 
 
 



8 

 
 
 
 
 
 
 
 

1 INTRODUÇÃO 
 

 

Indiscutivelmente, a historiografia procura retomar no século XXI a temática 

do tropeirismo em busca de uma melhor reconstituição da formação do território 

meridional tendo em conta a disputa entre Espanha e Portugal. 

Tratar a História dessa maneira pode ser realmente atraente, todavia, analisar 

de forma simplificada a movimentação tropeira limita a compreensão do que 

realmente foi este movimento como um todo. Este trabalho procura explorar o 

Tropeirismo dimensionando o seu protagonismo tanto na história do Rio Grande do 

Sul, como na história do Brasil Meridional. 

A dinâmica das movimentações antrópicas pelos espaços é imanente à 

existência da espécie. As motivações para tais deslocamentos variam e adquirem 

significados específicos em cada conjuntura. No contexto estudado os tropeiros 

compõem o grupo social a desempenhar um papel socioeconômico articulado com 

contextos mais amplos. A partir da revisão bibliográfica empreendida nessa 

produção tenta-se inferir: qual é a implicação da atividade comercial tropeira na 

consolidação dos caminhos que interconectam o Brasil meridional?  

As tropeadas surgem como um movimento propulsor em meio à estagnação 

da atividade aurífera. Desta forma, grande parte da historiografia argumenta que a 

movimentação tropeira interessava somente pela movimentação do transporte do 

ouro ao litoral. Assim, ignorou-se a importância socioeconômica e cultural, seja na 

abertura de estradas, que atualmente, são rodovias de importantes acessos ou no 

fomento à um comércio interior através das invernadas, que eram acampamentos 

que deram origem a freguesias, que hoje, são grandes cidades do Brasil Meridional. 



9 

A necessidade de analisar os aspectos sociais, econômicos e culturais para 

compreender a amplitude da movimentação tropeira e sua importância na formação 

territorial brasileira faz com que seja imprescindível questionar: qual é a importância 

das tropeadas na conexão entre regiões economicamente relevantes? Há relação da 

atividade tropeira com o surgimento de povoados nas margens dos caminhos? 

A partir da análise das produções de autores como Barroso (2006) e 

Neumann (2004) é possível constatar que há um discurso marginal por parte da 

ciência histórica frente aos aspectos sociais e culturais da movimentação tropeira. 

Sendo assim perceptível que a principal narrativa constituída do discurso 

historiográfico não partia da análise do movimento tropeiro como central, mas sim, 

das atividades econômicas principais para a legitimação do processo de colonização 

da América Portuguesa. 

Pesquisas desenvolvidas por estudiosos como: Frasson e Gomes (2010), 

Barroso (2006), Hameister (2002), Thomé (2012), Gil (2009) e Zimmermann (1991) 

possibilitam entender que há uma grande movimentação de compra e venda de 

cabeças de gado nos centros urbanos que estavam em formação, como São Paulo 

e Minas Gerais. Essa movimentação fora fator importantíssimo nas relações sociais, 

políticas e econômicas das regiões abrangidas.  A partir dessas atividades tropeiras, 

há o surgimento de caminhos como o das Tropas, de Viamão, Palmas, etc.  No 

percorrer dos caminhos, com o estabelecimento de pousadas, há o surgimento de 

pequenos acampamentos que originam grandes cidades. 

Neste trabalho, é desenvolvida uma análise socioeconômica e cultural de 

pesquisa bibliográfica, a fim de compreender a movimentação tropeira e suas 

influências na formação do território brasileiro meridional. Assim, a pesquisa terá 

como procedimento metodológico uma abordagem qualitativa partindo de uma 

centralidade da movimentação tropeira, permitindo identificar e mensurar a relação 

do movimento na abertura e consolidação dos caminhos. 

Desta forma, o objetivo geral deste trabalho se configura no estudo da 

implicação tropeira na consolidação dos caminhos que interconectam o Brasil 

Meridional, tendo como objetivos específicos: 



10 

− Pesquisar, a partir de uma revisão bibliográfica, o tratamento dispensado 

pela ciência histórica à atividade tropeira no Brasil Meridional; 

− Investigar a relevância socioeconômica da atividade tropeira na 

estruturação territorial do Brasil Meridional; 

− Discutir as influências das tropeadas na formação de cidades meridionais 

da América Portuguesa; 

− Identificar a relação entre as tropeadas e a abertura de novos caminhos, 

bem como na consolidação dos já existentes. 

Para tentar cumprir os itinerários acima referido o trabalho foi dividido em três 

capítulos.  

O primeiro capítulo apresenta o referencial teórico-metodológico da pesquisa, 

aplicando os conceitos de história econômica, pesquisa documental, revisão 

bibliográfica, pesquisa qualitativa e, especialmente, o conceito de Sistema Social a 

partir de Parsons (1966) que compreende a configuração dos espaços a partir de 

ações individuais de diferentes atores. A contemplação da teoria dos sistemas 

sociais a partir de sua proposição clássica tem como premissa tomá-la livre das 

contaminações que as evocações a posteriori trouxeram para o seu entorno. Assim, 

é introduzida a temática do tropeirismo e seus revezes nos caminhos percorridos 

também da perspectiva da construção da narrativa. 

O segundo capítulo retrata a temática do tropeirismo na perspectiva 

historiográfica a partir de diferentes aportes teóricos, o primeiro, de olhar 

materialista, o segundo em um panorama além das questões econômicas, o terceiro, 

a percepção arqueológica da movimentação e por último a literária, apresentando 

uma perspectiva estética, sendo dividida em duas partes: a música e a poesia.  

No terceiro e último capítulo, o movimento tropeiro é apresentado a partir de 

uma análise socioeconômica. Neste capítulo, o conceito de sistema social é 

aplicado, desenvolvendo a ideia de que a atividade tropeira vai além das questões 

econômicas operadas nos espaços, exaltando as influências socioculturais. A partir 

disso, prioriza-se a movimentação tropeira na abertura e consolidação de caminhos, 

exemplificando a partir de três povoados que se tornam grandes cidades, sendo 



11 

elas: Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, Lages, em Santa Catarina e por último, 

Castro, no Paraná. 

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 



12 

 

 

 

 

 
 
 
 

2 REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO 
 

 

Apesar de habitar o imaginário e indicando parte do mito fundador do homem 

sulino é possível salientar que a temática do Tropeirismo tem sido pouco visada pela 

historiografia, constituindo-se em objeto de estudo muito recente. Pesquisas 

acadêmicas no âmbito da Arqueologia e da História sobre fins do século XX reiteram 

a prática tropeira como um movimento subsidiário do processo econômico principal, 

o da extração aurífera. 

Segundo Neumann (2004, p. 25) “A historiografia brasileira e particularmente 

a sul-rio-grandense, no século XX quase sempre procurou legitimar a expansão 

luso-brasileira em terras meridionais”. Assim, é possível compreender que os 

autores procuravam dar ênfase a procedimentos legitimadores, sendo que os fatores 

econômicos e políticos constituíram-se como os mais importantes. As atividades que 

não eram consideradas prioritárias na sustentação do paradigma da lusitanidade no 

Brasil Meridional foram ponderadas como subjacentes. 

Assim, este estudo procura tratar o Tropeirismo enunciando suas implicações 

sócio comerciais dentro dos processos de consolidação dos caminhos de 

interconexão do Brasil Meridional, desconstruindo a ideia de atividade periférica e 

introduzindo um teor central ao assunto. 

A partir disso, buscou-se realizar neste trabalho uma pesquisa bibliográfica de 

caráter qualitativo, analisando o movimento tropeiro dentro de um sistema-mundo de 

maneira socio-econômico-cultural para compreender as influências da 

movimentação na formação territorial do Brasil meridional. 

 



13 

2.1 Sistemas sociais: os sistemas-mundo 

 

Um sistema social é um modo de organização de elementos de ação e 

interação plural de atores individuais. Essa interação entre atores individuais 

somente se torna possível no momento em que há uma persistência ordenada 

desses elementos (PARSONS; BLANCO; PÉREZ, 1966). 

Segundo Parsons, Blanco e Pérez (1966) a ação é o mais importante em um 

sistema social. Desta forma, cada ator acaba se envolvendo em uma pluralidade de 

análogas relações de interação que podem desencadear diversos fins.   

Un sistema social —reducido a los términos más simples— consiste, pues, 
en una pluralidad de actores individuales que interactúan entre sí en una 
situación que tienen, al menos, un aspecto físico o de medio ambiente, 
actores motivados por una tendencia a «obtener un óptimo de gratificación» 
y cuyas relaciones con sus situaciones —incluyendo a los demás actores— 
están mediadas y definidas por un sistema de símbolos culturalmente 
estructurados y compartidos (PARSONS;BLANCO;PÉREZ, 1966, p. 7). 
 

Em vista disso, um sistema social é apenas um dos três aspectos de 

estruturação de um sistema total concreto de ação social. Os outros aspectos são 

relacionados ao sistema de personalidade de cada ator individualmente e de um 

sistema cultural que se estabelece a partir das ações destes atores 

(PARSONS;BLANCO;PÉREZ, 1966). 

De acordo com Arienti e Filomeno (2007) há uma complexidade para 

compreender os sistemas sociais. Essa complexidade se dá devido à diversidade de 

estruturas. Cada sistema social pode representar uma rede associada a processos 

culturais, econômicos e políticos, podendo ter dinamicidade própria e potenciais que 

diferenciam um do outro, mesmo que os procedimentos e estruturas os mantenham 

unidos. 

Segundo Califano (2009, p.14): 

Os sistemas sociais podem ser mini-sistemas, por sua modesta abrangência 
geográfica e duração, ou sistemas-mundo, por sua maior magnitude 
espacial e temporal, cuja única divisão do trabalho contém múltiplos 
sistemas culturais. 

Os minissistemas referem-se a economias tribais integradas a partir de uma prática 

recíproca em uma unidade única de trabalho efetivo, uma única cultura e 

administração política. Atualmente todos os minissistemas foram sobrepostos pela 



14 

expansão dos sistemas-mundo, e agora, somente estes são possíveis. Um sistema-

mundo como qualquer outro tipo de sistema social é dividido por unidades espaços-

temporais, onde o espaço é constituído por uma divisão de trabalho, para que assim, 

se possa produzir a materialidade deste mundo (ARIENTI; FILOMENO, 2007). 

Os sistemas-mundo em forma política, podem ser classificados de impérios-

mundo e economias-mundo. São denominados de impérios-mundo quando há 

envolvimento de dois ou mais grupos culturalmente diferentes que dependem de 

uma única administração vinculada a uma elite central, mas que os conecta 

geopoliticamente. Essa administração controla as divisões de trabalho e apropria-se 

dos excedentes a partir de redistribuição de tributos controlados por mecanismo 

burocráticos e amplos exércitos. Já as economias-mundo são completamente 

opostas, onde o mercado define o setor trabalhista, não a administração política do 

centro. (ARIENTI; FILOMENO, 2007).                  

Arienti e Filomeno (2007) referem o estudo de Braudel (1995) que propõe 

conceitualmente um esquema tripartido para a análise dos sistemas sociais. Para 

Braudel há uma divisão da vida econômica no capitalismo a partir de três andares. A 

primeira camada, a vida material, refere-se às atividades inconscientes, do cotidiano, 

da rotina, baseando-se mais no valor de uso do que pelo valor de troca. Já o 

seguinte andar, chamado de “economia de mercado” relata a vida econômica em si, 

o que se produz ao mercado, as relações sociais e o que é baseado no valor de 

troca. Já o último e superior é um mercado muito maior e complexo, definido pela 

competição e pela transparência das trocas realizada pelos atores. 

Para Braudel, quem opõe evento e estrutura e se detém ou no evento ou na 
estrutura são o sociólogo e o antropólogo. O historiador não comete este 
erro de análise. Ele os articula em uma “dialética da duração”. Por isso, para 
ele, é importante afirmar com força a importância e a utilidade da história, 
que trata das durações sociais, dos tempos múltiplos e contraditórios da 
vida dos homens. O historiador se interessa pelo que é mais importante na 
vida social: a oposição viva, íntima, repetida, entre o instante e o tempo 
lento a passar (REIS, 2008, p. 15-16). 

Aprofundar a temática do Tropeirismo é algo realmente laborioso por ser um 

movimento comercial que transpassa séculos e deixa resquícios que afloram na 

formação social das comunidades. Essas movimentações são possíveis de observar 

a partir de dados econômicos diante do seu processo de movimentação e também 

através da geografia humana gerada (BARROSO, 2006).  



15 

Para Furtado (1979) era impossível dissociar a importância do sistema de 

transporte com a atividade da mineração, de tal modo, que as tropas de mulas 

constituíam a base para o funcionamento de todo este conjunto, para que o ouro 

pudesse chegar ao litoral. Assim, se cria um grande mercado para estes animais.  

Segundo Pesavento (2007), ao longo dos anos 1980, apesar de em pequena 

escala, há uma vertente da historiografia brasileira inspirada na Escola de Annales. 

Essa vertente era apoiada na ideia do econômico-social com inspirações em Braudel 

e tinha como sustentação a estrutura e a conjuntura, delimitando-se na longa e na 

média duração.  

Para Burke (2011, p. 338),  

[...] os historiadores estruturais mostraram que a narrativa tradicional passa 
por cima de aspectos importantes do passado, que ela simplesmente é 
incapaz de conciliar, desde a estrutura econômica e social até à experiência 
e os modos de pensar das pessoas comuns. 
 

Deste modo, este trabalho desperta e sinaliza a relevância de estudar o 

Tropeirismo como um movimento indispensável não somente em sua compreensão 

estrutural econômica, mas também nos aspectos socioculturais vistos dentro de um 

sistema social. 

 

2.2 A vertebralização da História Econômica  

 

A História Econômica como campo de pesquisa surge depois da Economia e 

da História. É um campo de estudo que pode ter várias correntes que divergem em 

seus fundamentos teórico-metodológicos, sobretudo, por implicações políticas e 

ideológicas (SAES; SAES, 2013).  

A partir dos estudos da revista dos Annales entre os anos de 1929 e 1945, 

quando a revista estava em mãos de Lucien Febvre e Marc Bloch, se produzia cerca 

de 60% dos trabalhos voltados à História Econômica. De 1946 a 1969, quando 

houve a influência de Braudel, os trabalhos destinados à História Econômica 

decaíram para em torno de 40% da produção, sobretudo, devido às questões 

relacionadas ao desenvolvimento e subdesenvolvimento, que foram avolumadas 

pela internacionalização de capitais, Guerra Fria, etc. A partir deste momento, os 



16 

trabalhos voltados para o estudo econômico decaíram bruscamente e os princípios 

passaram a serem outros, surgindo a necessidade de uma indústria cultural 

(FRAGOSO; FLORENTINO, 1997). 

A História Econômica dividiu-se entre nova e velha. A nova história 

econômica, datada entre 1950 e 1960, preocupou-se com as questões do consumo, 

sendo assim, algo difícil de se separar do social e do cultural. Assim, surgem 

diversos novos campos, como até mesmo a História Social, que se fragmentou para 

tratar de novas nações, história do trabalho, história rural, história urbana, etc 

(BURKE, 2011). 

A utilização da História Econômica para tratamento de dados, consiste em 

debruçar-se em uma metodologia quantitativa. O historiador econômico tem como 

imprescindível o uso de ferramentas como a Estatística e a Econometria. A 

Estatística permite analisar o objeto de estudo de forma temporal, possibilitando 

levantar diversas características de uma certa população, já a Econometria permite 

relacionar dados gerados pela Estatística, elaborando diversificadas interpretações a 

partir da identificação das causas e dos comportamentos cíclicos (SOUZA, 2008).  

Para Fragoso e Florentino (1997) a história econômica pode ser agonizante, 

pois a análise econômica de forma excessiva pode-se tornar algo pouco atraente e 

distante da realidade e da complexidade da história humana. Por isso, recentemente 

a História Econômica acabou perdendo espaço para outros campos do saber 

histórico. A quantificação proposta em dados “vertebralizados” sugere apenas o que 

se ganha, não esclarece a perda, assim há uma limitação dos caminhos 

metodológicos e reflexivos que orientam o ofício do historiador. 

O historiador se instala na fronteira onde a lei de uma inteligibilidade 
encontra seu limite como aquilo que deve incessantemente ultrapassar, 
deslocando-se, e aquilo que não deixa de encontrar sob outras formas. Se a 
‘compreensão’ histórica não se fecha na tautologia da lenda ou se refugia 
no ideológico, terá como característica, não primordialmente, tomar 
pensáveis séries de dados triados (ainda que isto seja a sua ‘base’), mas 
não renunciar nunca à relação que estas ‘regularidades’ mantém com 
‘particularidades’ que lhe escapam (CERTEAU, 1982, p. 92). 
 

Segundo Arruda (1977) a mentalidade do quantitativo está interligado com a 

precisão que é demandada pelo capitalismo. A ideia de transformar a História 

Econômica em algo mensurável, técnico, matemático e rigoroso faz com que se 



17 

apresente uma história linear. Assim, os quantativistas criam ilusões de que somente 

o racional é matematizável e ignoram o social, sendo algo perigoso na realização de 

análises de particularidades de objeto históricos. 

A grande limitação desta História Econômica está no fato de que é 
necessário ir além dos dados para compreender a História do homem; é 
necessário captar as estruturas mais profundas, que meia dúzia de dados 
estatísticos ou modelos econométricos não são capazes de traduzir. Para 
atingirmos o âmago da explicação da História, o concurso de muitos 
elementos é indispensável. Nessa medida, e apenas nestes limites, é que o 
tratamento quantitativo dos dados, a realização de modelos, a adoção de 
testes de credibilidade das hipóteses, têm sentido, porque permitem o 
aprofundamento até a compreensão do processo subjacente (ARRUDA, 
1977, p. 481). 
 

Contudo, o historiador social não deve rejeitar metodologias quantitativas, 

mas sim, transformá-las em objeto de estudo e de utilidade. O quantitativo deve ser 

um instrumento de análise, aprofundamento e reavaliação e não somente dados e 

números que tenham final em si mesmos (ARRUDA, 1977). 

Dentro do próprio âmbito da história econômica, pode-se facilmente 
observar as inter-relações que existem entre os processos econômicos que 
estudamos e os que são analisados por outros ramos do conhecimento 
histórico – como a história social, a história política ou a história cultural, 
sem esquecer o importantíssimo campo da história das ideias (econômicas 
e outras). Como bem sabemos, não há compartimentos estanques no 
conhecimento histórico. Por essa razão, a história econômica só pode ser 
adequadamente estudada na medida em que tiver como pano de fundo o 
processo histórico como um todo, e não apenas seus aspectos econômicos 
(SZMRECSÁNYI, 1992, p. 131). 
 

Por isso, é importante destacar que analisar o movimento tropeiro somente de 

maneira econômica quantitativa inibe a compreensão da atividade nas relações 

socio-comerciais e culturais, seja na abertura e consolidação dos caminhos 

meridionais, nas relações de comércio interiorano ou no surgimento de cidades. 

2.3 Revisão bibliográfica 

 

A importância de revisitar bibliografias permite ao pesquisador compreender 

os fatos com maior amplitude do que realizar uma pesquisa direta, principalmente 

devido as muitas produções e materiais dispersos. A pesquisa bibliográfica permite 

que o investigador analise dados sem precisar percorrer todo o território (GIL, 2004). 

Assim, com a pesquisa bibliográfica há a possibilidade de estudar o tratamento da 

ciência histórica às movimentações tropeiras. 



18 

Para Gil (2004, p. 50) “A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de 

material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”. 

Na revisão bibliográfica devem aparecer trabalhos que sejam suporte ao 

investigador para que se tenha uma visão mais ampla sobre a temática pesquisada, 

como também trabalhos que façam contrapontos ao que se está estudando, ou seja, 

embasamentos e contraposições (BARROS, 2009). 

Para a realização da investigação, o historiador deve tratar de forma 

minuciosa os dados. Segundo Felix (1998, p. 91), 

A coleta de dados envolve duas atividades que são concomitantes e 
complementares: uma atividade de prática documental, realizada através do 
contato com os acervos documentais, e uma atividade de contato com a 
produção teórica e historiográfica referente ao tema geral da pesquisa. No 
primeiro caso, é o momento da localização dos acervos – da identificação, 
catalogação e seleção, da produção de instrumentos de pesquisa ou da 
seleção de quais utilizar e da atividade de fichamento e registro dos dados 
obtidos. 
 

Também fora revisada a bibliografia de Arqueologia Histórica a partir de 

trabalhos de Herberts (2009) e Silva (2010) para compreender a materialidade 

gerada nos caminhos tropeiros e, sobretudo, a influência tropeira nas 

transformações e (res)significações dos territórios. 

A arqueologia, como uma ciência social, deseja ultrapassar as abordagens 
funcionalistas e a simples busca pelo onde e quando determinados grupos 
desenvolveram suas mais diversas atividades. Almeja aproximar-se dos 
sujeitos e interpretar o sentido dos vestígios analisados em um complexo 
contexto num determinado espaço e tempo. Cientes, é claro, de que este 
sentido jamais será alcançado em sua totalidade, apenas tentamos nos 
aproximar deste, através de nossas construções particulares. Buscando, 
cada um fazer a sua viagem ao passado, por diferentes caminhos que nos 
levam as mais diversas interpretações (SILVA, 2010, p. 16). 
 

O espaço é apresentado como um meio de transformação de ação humana, 

então toda a construção social constituída, dá um novo sentido aos espaços. As 

transformações e configurações dos espaços são elaboradas por diversos grupos 

e/ou sujeitos em diferentes tempos, assim, diversas significações podem ou não 

serem atribuídas (SILVA, 2010). Deste modo, dentro da revisão bibliográfica foi 

possível revisitar trabalhos que utilizam como metodologia a Arqueologia da 

Paisagem.  Reflexões daquele matiz auxiliam na compreensão das transformações 

espaciais ocasionadas pela movimentação tropeira e também, nas análises 

documentais. 



19 

Além disso analisou-se a literatura e a música na compreensão de uma 

representação estética dos discursos que relacionam o tropeirismo. 

Para Chartier (2000) a relação da história com a literatura pode ocorrer de 

duas maneiras. A primeira, ressalta uma condição de relação absolutamente 

histórica dos textos, onde nessa perspectiva, não se deve cometer anacronismos de 

que toda produção textual, obras e outros gêneros foram compostos com critérios 

que sejam caraterísticos de uma relação com o escrito e, que há diversas operações 

e sujeitos por trás da construção desses sentidos. Já a segunda maneira, mais 

inesperada, é completamente o contrário disto, onde alguns textos literários podem 

representar de forma aguda e original o que fora redigido e transmitido 

esteticamente, considerando o texto escrito como algo fixo, estabilizado. 

O discurso literário resulta de uma reflexão e se constitui em uma mediação 
social, tal como o discurso histórico. Daí ser possível através das técnicas 
de expressão literária, tais como os modos de narrar e construir pontos de 
vista, poder-se revelar a história (SANTOS, 2007, p. 122). 
 

Segundo Santos (2007), o historiador ao trilhar uma aproximação 

multidisciplinar com ciências como a antropologia, filosofia, literatura, entre outras, 

encaminha a história para novas teorias, metodologias e técnicas. A 

multidisciplinaridade pode ser inovadora, pois, com a troca de saberes com outras 

áreas, se permite uma carga maior de capacidade criativa e competência para que o 

historiador possa exercer o seu ofício.  

A utilização da música como instrumento interdisciplinar pode auxiliar o 

historiador a descobrir processos pouco frequentados pela historiografia. Mas para 

isso, o historiador deve ir além do tradicional para buscar compreender as relações 

entre a canção e o conhecimento histórico. A utilização da música como documento, 

permite ao historiador habitar e desvendar obscuridades dentro da história, 

sobretudo, no que relaciona às camadas populares (MORAES, 2000). 

Um dos obstáculos gerais colocados às investigações no campo da música 
é a dificuldade em circunscrevê-la como uma “disciplina” voltada claramente 
para a produção do conhecimento. Algumas discussões e debates internos 
na área da musicologia têm procurado ressaltar a condição da música como 
um objeto do conhecimento, estabelecendo, assim, a distinção – se é 
possível mesmo fixar tal distinção! - entre “o fazer ciência e o fazer arte” e, 
consequentemente, entre os pesquisadores e os artistas. Sua identificação 
e organização como disciplina possibilitou certo avanço científico nos 
últimos anos ao incorporar as contribuições vindas da etnologia, 



20 

arqueologia, linguística, sociologia e, mais tradicionalmente, da estética e 
história (MORAES, 2000, p. 209). 
 

A música como algo imaterial atinge os sentidos dos receptores, e por se 

tratar de algo fundamentalmente artístico e estético, de usufruto pessoal ou coletivo, 

traz à tona singularidades e características próprias dos autores, e isso, remete 

essencialmente a sua cultura. Assim, os sons podem reproduzir características 

físicas e intangíveis que ganham sentido quando relacionadas ao social e o cultural, 

ganhando forma de música, portanto, produto de historicidade.  

Nesta perspectiva de revisão bibliográfica, a música e a literatura podem 

auxiliar a compreender a influência da movimentação tropeira nas questões 

socioculturais, sendo suporte na confirmação de que o tropeirismo fora uma 

atividade além das questões econômicas. 

 

2.4 Pesquisa documental 

 

A partir do século XX há uma crítica de noção sobre o que é o fato histórico, 

sendo este não apenas um objeto entregue e acabado, mas sim, resultado da 

organização do historiador. A noção de documento que se tem hoje é maior. O 

documento não é apenas um material compacto, objetivo, inócuo, mas sim, algo que 

expõe o poder da sociedade do passado a partir da memória. Atualmente amplia-se 

a concepção da área dos documentos, que antes, devido a história tradicional, era 

apenas reduzido ao uso de textos e artefatos da Arqueologia, esta, que por muito 

tempo fora separada da História. Os documentos neste momento chegam até 

abranger as palavras e os gestos (LE GOFF, 1990). A partir dessa perspectiva, 

pode-se considerar a música e a literatura como documentos para a análise estética 

do movimento tropeiro.  

De acordo com Jenkins (2004, apud Pereira e Seffner, 2008) o historiador tem 

a tarefa de investigar o passado como um objeto de estudo separado apenas pela 

linguagem. A história é produzida através de uma análise rigorosa das fontes e da 

separação de teorias e metodologias, sendo assim, um trabalho complexo e longo. 

Para que ciência histórica fosse reconhecida, fora necessário compreender que a 



21 

análise rigorosa transpassava desde o caráter documental até o monumental, e a 

partir deste momento, o documento acabou deixando de ser a única verdade. 

Contudo, é importante destacar que a pesquisa documental é importante na 

compreensão da história, pois grande parte da produção das ciências humanas 

provém de fontes escritas. O documento é um objeto de estudo que pode ser 

considerado determinante para a obtenção de dados, contudo, a hermenêutica é 

fundamental ao investigador (SÁ-SILVA; ALMEIDA; GUINDANI, 2009). 

A pesquisa documental recorre a fontes mais diversificadas e dispersas, 
sem tratamento analítico, tais como: tabelas estatísticas, jornais, revistas, 
relatórios, documentos oficiais, cartas, filmes, fotografias, pinturas, 
tapeçarias, relatórios de empresas, vídeos de programas de televisão, etc 
(FONSECA, 2002, p. 32). 
 

A história como ciência em sua consumação necessita o uso da técnica, da 

metodologia e do auxílio documental, contudo, este não deve ser inflexível. As 

regras jamais devem ser sólidas ou universais na análise do objeto de estudo do 

historiador (FÉLIX, 1998). O documento e a revisão bibliográfica permitem analisar 

dados palpáveis. Todavia, a partir da investigação do Tropeirismo como temática 

central é possível mensurar as influências do movimento na formação territorial e no 

advento de cidades do Sul da América Portuguesa. 

 

2.5 Pesquisa qualitativa 

 

O procedimento metodológico eleito para essa monografia observa o que 

prescreve uma abordagem qualitativa. A centralidade ao tropeirismo, permite 

identificar e mensurar a relação do movimento para compreender como suas 

particularidades são imprescindíveis na formação do território brasileiro.  

Flick (2009) conclui que no método qualitativo a comunicabilidade do 

investigador com o campo é essencial para produzir conhecimento, não sendo 

apenas uma variante que interfere no procedimento. A subjetividade é fundamental 

na análise do pesquisador, sendo que as emoções, atitudes, observações, 

impressões, entre outras, fazem parte da interpretação. 

Para Godoy (1995, p. 58), 



22 

[...] a pesquisa qualitativa não procura enumerar e/ou medir os eventos 
estudados, nem emprega instrumental estatístico na análise dos dados. 
Parte de questões ou focos de interesses amplos, que vão se definindo à 
medida que o estudo se desenvolve. Envolve a obtenção de dados 
descritivos sobre pessoas, lugares e processos interativos pelo contato 
direto do pesquisador com a situação estudada, procurando compreender 
os fenômenos segundo a perspectiva dos sujeitos, ou seja, dos 
participantes da situação em estudo. 
 

Segundo Günther (2006) uma pesquisa qualitativa não se define por si só, 

mas sim, sempre em contraponto com uma pesquisa quantitativa. Do mesmo modo, 

o investigador que é qualificado como quantitativo, raramente exclui o proveito em 

compreender as relações, por mais complexas que sejam. O investigador 

quantitativo busca relacionar as variáveis dentro das relações para poder chegar a 

tal compreensão enumerada.  

Enquanto as pesquisas quantitativas procuram enumerar, a pesquisa 

qualitativa costuma ser algo mais direcionado, sem medir acontecimentos. O foco da 

pesquisa qualitativa tem maior amplitude e tem perspectivas diferentes da 

metodologia quantitativa. A partir da pesquisa qualitativa se obtêm descrições no 

contato direto e interativo do pesquisador com o objeto de estudo, fazendo com que 

se entenda os feitos na perspectiva dos sujeitos participantes, para que assim, 

sejam interpretados os estudos (NEVES, 1996) 

Figueiredo, Chiari e Goulart (2013) afirmam que, quando o pensamento é 

materializado sob discurso, é considerado qualitativo, ou seja, um produto que é 

qualificado. Contudo, no momento em que há o compartilhamento de opiniões entre 

indivíduos, ou seja, o pensamento coletivo, também se pode afigurar em uma 

variável quantitativa. Analisar desta forma, possibilita compreender a relevância 

econômica do movimento tropeiro ao longo da consolidação dos caminhos 

meridionais brasileiros. 

Dentro das ciências sociais, os investigadores ao utilizarem de métodos 

qualitativos, estão mais preocupados em explicar os processos sociais do que as 

estruturas. O investigador se debruça em visualizar contextos e possibilidades de 

maneira empática com o objeto de estudo, implicando em melhores aproximações 

da realidade. Contudo, os métodos quantitativos e qualitativos não se anulam como 

instrumentos de análise (NEVES, 1997). Assim, o investigante que se debruça de 



23 

maneira quali-quantitativa ao objeto de estudo, pode se aproximar de resultados 

mais autênticos. 

Desta forma, a necessidade de uma análise qualitativa reflete na possibilidade 

de compreensão da atividade tropeira em sua totalidade, seja na sua relação 

socioeconômica ao longo dos caminhos ou na venda das diferentes mercadorias. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



24 

3 O TROPEIRISMO E OS REVEZES HISTORIOGRÁFICOS 
 

 

Este capítulo tem como propósito trazer apontamentos da historiografia, 

arqueologia e da literatura em relação ao movimento tropeiro. Sendo assim, fora 

dividido em 4 partes.  

A primeira e a segunda parte se referem a ótica de alguns autores das 

escolas teóricas do Materialismo Histórico e dos Annales, sobre como é visto o 

Tropeirismo na historiografia. A terceira parte, refere-se à Arqueologia, sobretudo, 

em como as tropeadas ocasionaram as mudanças na Arqueologia da Paisagem do 

território meridional brasileiro. E por último, a quarta parte, onde a literatura e a 

música apresentam um discurso sobre a atividade tropeira relacionando-a com o 

mito fundador do homem sul-rio-grandense. 

 

3.1 O tropeirismo pelas lentes do materialismo histórico 

 

Para Triviños (1987) o materialismo histórico é esclarecedor nas questões 

sociais, sobretudo nas relações materiais geradas a partir da associação homem-

natureza. A “consciência social” pode ser originada de ideias estéticas, políticas, 

religiosas, entre outras. Além disso, os meios de produção podem gerar os bens 

materiais a partir de forças produtivas, onde o homem relaciona sua experiência de 

trabalho com seus hábitos. 

O materialismo histórico define outra série de conceitos fundamentais para 
compreender suas cabais dimensões, como: sociedade, formações 
socioeconômicas, estrutura social, organização política da sociedade, vida 
espiritual, a cultura, concepção do homem, a personalidade, progresso 
social, etc. (TRIVIÑOS, 1987, p. 52). 

Sandra Jatahy Pesavento (1997) relaciona o tropeirismo com a história do Rio 

Grande do Sul a partir de bases econômicas. O tropeirismo é definido como uma 

economia subsidiária que surge a partir de uma demanda de uma economia central, 

que naquele momento era a da extração aurífera. A autora contextualiza os 

processos econômicos como a decadência do açúcar e da descoberta das Gerais, 

sendo essa última, um polo econômico de atração portuguesa e uma atividade 

renovadora ao sistema colonial. Pesavento (1997) assegura que é a partir de 



25 

atividades econômicas que se estabelece um domínio estratégico português em 

território brasileiro. 

Para Goulart (1961) aquela gadaria vivendo solta sem dono era nada mais 

nada menos do que lucrativo. Para quem buscava uma mercadoria de fácil 

comércio, essas cabeças de gado poderiam ser comercializadas em regiões 

desprovidas desses animais. 

Para Pesavento (1997) é a partir da atividade econômica principal que surge 

uma relevância ao gado do Sul, e é assim, que o Rio Grande do Sul se conecta ao 

restante do país. De tal modo, a partir do incentivo da coroa portuguesa, lagunistas e 

paulistas passam a rumar ao sul para prear gado e levar o tal gado perdido a zona 

de extração aurífera.  

Para Flores (2006) a criação de muares foi a principal economia da região dos 

Campos de Viamão, pois estes animais eram os preferidos para o transporte de 

cargas por serem maiores e mais resistentes. Sem os muares, o comércio teria sido 

impraticável no Brasil durante os séculos XVIII e XIX, já que o gado do tipo cavalar 

não resistia a viagens longas em terrenos irregulares. 

Foram motivações econômicas, derivadas da descoberta e exploração da 
Minas Gerais, especialmente as necessidades de abastecimento e 
transporte, que provocaram a integração do Sul ao mercado interno colonial 
(KUHN, 2011, p. 46) 
 

Pesavento (1997) considera que o tropeiro era um tipo social por excelência. 

O tropeiro era um chefe que andava armado conduzindo tropas, especialmente de 

muares, para comercializar nos grandes mercados, como o de Sorocaba.  

Gil (2009) constata que a negociação de animais era realizada por membros 

de uma elite local que viam possibilidades mercantis. Esta negociação era realizada 

sobretudo por aqueles que possuíam alguma condição de solicitar recursos ou 

empréstimos, já que os riscos não eram tão grandes para montar uma tropa, 

contudo, não era qualquer um que podia fazer esta montagem. 

Vamos agora avançar por este caminho. Comecemos no que chamo a “área 
de produção” pecuária, o que inclui não apenas a produção propriamente 
dita, mas também a produção social via contrabando. A Rota das Tropas 
interligava uma vasta área dentro do continente americano, no Atlântico Sul 
ocidental. Ela se inicia numa grande área de produção, que se estende da 
localidade de Cerro Largo, então sob domínio da Coroa de Castela, até o 



26 

Viamão, nos territórios portugueses. O caminho segue por uma região de 
serra até um planalto de cerca de 900 metros de altura, passando por 
alguns povoados como São Francisco de Paula, Vacaria e Lages, até 
chegar à região da Lapa e Curitiba, passando por Castro e outras pequenas 
povoações até a Vila de Sorocaba, de onde os animais eram redistribuídos 
para diversas regiões. Um percurso de mais de 1000 km, no qual pudemos 
contar mais de duas mil viagens de transporte de animais, apenas no 
sentido sul-norte, entre 1760 e 1810, feitas por mais de quinhentos 
negociantes com a ajuda de um número ainda maior de peões, capatazes, 
fiadores, cobradores, fiscais, entre outros como os que forneciam víveres na 
viagem ou os estancieiros que alugavam ou arrendavam campos de 
invernada (GIL, 2009, p. 60-61). 
 

A partir da ótica do materialismo histórico é possível afirmar que unidades 

econômicas são centrais para a análise. O dominante, a Coroa Portuguesa, exerceu 

os poderes de dominação econômica sobre as regiões, estabelecendo uma prática 

expansionista. A partir disso, o tropeiro aparece na análise destes autores como 

uma classe social em desenvolvimento, mas subordinada a uma elite.  

Na visão do materialismo histórico o movimento tropeiro não passou de uma 

atividade subsidiária, assim como as demais, pois estas, apenas auxiliaram o 

desenvolvimento da economia principal, a da extração aurífera.  

 

3.2 O tropeirismo: para além das questões econômicas 

 

Segundo Frasson e Gomes (2010) o movimento tropeiro pode ser 

considerado um ciclo econômico de longa duração, abrangendo o século XVII ao XX 

quando não havia estradas, apenas caminhos abertos por nativos. Segundo os 

autores, o movimento tropeiro não deve ser analisado somente a partir das 

necessidades de transporte de riquezas ou outras mercadorias, mas sim, como um 

movimento que é determinante na ocupação e integração do território, sobretudo, na 

constituição social do país. Constata-se como um movimento que dá origem à 

criação de povoados que se transformam em grandes cidades, sendo assim, 

importante para o desenvolvimento social e econômico.  

A temática envolvendo o tropeirismo se contextualiza e prolifera em 
diversos segmentos sociais e tem estimulado estudos sobre documentos de 
cartórios, acervos de museus temáticos, arquitetura de casas antigas em 
fazendas e centros urbanos, culinária, festas e diversos eventos 
relacionados ao folclore tropeiro. Essas iniciativas constituem fatos que 
renovam o apreço pela diversidade étnico-cultural e o reconhecimento da 
identidade social, as quais se integram às atividades da área da Educação, 
Turismo e Arte, estimulando assim a pesquisa científica e informações 



27 

sobre o movimento tropeirista e a formação dos povoados e consequente 
cidades ao longo do caminho (FRASSON; GOMES, 2010, p. 2). 
 

Hameister (2002) acredita que é inadequado classificar em categoria os 

“tropeiros” ou “condutores de tropas”, já que categorizar limita a análise e não dá 

conta de explicar a complexidade das relações sociais e dos distintos status dentro 

deste grupo. Para isso, utiliza de uma análise da micro-história buscando solucionar 

este tipo de investigação, seja através de minuciar textos de documentos ou 

cruzando diversas fontes de variadas naturezas, sobretudo, através do nome desses 

sujeitos e suas ligações sociais. 

As viagens de conduta de animais até os locais de sua venda eram muito 
longas. Duravam até três meses ou mais para Curitiba, nove meses ou mais 
até Sorocaba e mais de ano para as Minas. Foram estas relações, 
estabelecidas com famílias locais e que estabeleceram novas famílias ao 
longo do trajeto que deram sustento aos condutores. De uma certa maneira, 
estes relacionamentos possibilitavam a sua aceitação e assimilação nos 
diferentes locais onde exerciam seu ofício de comerciantes e condutores. A 
obtenção de bons negócios, compradores certos, e melhores preços para 
suas mercadorias, hospedagem, satisfação de necessidades básicas e 
mesmo sobrevivência, podiam depender do estabelecimento dessas 
ligações (HAMEISTER, 2002, 137-138). 
 

Hameister (2002, p. 137) complementa, 

O Caminho das Tropas não uniu apenas geograficamente os pontos de 
atividade de pouso, invernada e comércio de animais que ficavam ao longo 
de seu trajeto. Aproximou a gente que habitava os povoados, pequenos ou 
grandes, que passaram a contar com um fluxo sazonal, mas constante, de 
peões, condutores, comerciantes, tratadores e adestradores de animais. As 
famílias se utilizavam da rota. O contato entre membros de comunidades 
por vezes com mais de mil ou mil e quinhentos quilômetros entre elas se 
fazia através dos migrantes. Estes deixavam seus lugares de origem e de 
nascimento, mas não rompiam os vínculos com tais localidades. 
 

Para Fitz (2013) o tropeirismo teve fundamental importância em difundir 

valores culturais de região para região, abrindo caminhos, mas estes, não somente 

geográficos. Os tropeiros propagavam seus conhecimentos e ampliavam o repertório 

cultural por onde passavam, assim, sendo incontestável sua importância para a 

formação da sociedade contemporânea do Sul do país. 

A influência tropeira é considerada como um processo civilizador, pois 
contribuiu para a expansão cultural fazendo a integração do Brasil 
Meridional e deu sentido ao modo com que os povoados assistidos por eles 
encaravam a vida e as oportunidades que ela proporcionava (FITZ, 2013, p. 
23). 

Segundo Baddini (2002) grande parte dos historiadores até finais do século 

XX dissertavam sobre a ação tropeira apenas como atividade econômica importante 



28 

para o desenvolvimento paulista e sua inserção na política da Nação. Essa 

interpretação ignorava completamente as particularidades da movimentação 

tropeira, resultando em uma análise homogênea e sempre de caráter econômico, 

que era consequentemente, o de fornecimento de meio de transportes no centro-sul 

do país. 

Com relação ao conceito de “tropeirismo”, já foram consideradas as 
abordagens interpretativas que o consagram como termo explicativo de uma 
condição econômica e/ou política do centro-sul do Brasil. Tal conceito 
condiciona a leitura da história de Sorocaba em função do comércio de 
animais, permitindo a percepção da feira de muares como principal etapa 
dessa atividade mercantil na província. Portanto, uma leitura que favorece a 
sua valorização enquanto evento econômico nacional, desconsiderando sua 
capacidade de refletir as condições urbanas que possibilitaram o 
desenvolvimento dessa atividade na região (BADDINI, 2002, p. 275). 
 

Para Borges (2016) estudar a trajetória econômica de indivíduos tropeiros 

focando no negócio de muares autoriza conhecer a atividade “por dentro”. Assim, 

possibilitando um melhor conhecimento de como funcionava o mercado interiorano e 

os documentos nos registros de passagem, definindo semelhanças e diferenças 

dentro dos espaços coloniais.  

Zimmermann (1991) considera que a história não deve ser somente uma linha 

cronológica de fatos, mas sim, sendo a soma de legados passados, seja nas 

tradições, nos hábitos ou nas experiências de vida. É neste momento que o tropeiro 

é conectado devido a sua importância na formação histórico-social de cidades, como 

por exemplo a de Soledade. A imprescindibilidade de uma preservação do 

patrimônio folclórico surge especialmente na busca por uma preservação de valores 

culturais e de memória, já que cada vez mais é intensa a invasão de cunho 

econômico-cultural das elites. Zimmermann (1991, p. 22) assegura: “As danças, a 

música, a literatura oral, as manifestações religiosas de cunho popular, expressam 

muito da tonalidade afetiva e da alma de cada povo”.  

Para Vera Barroso (2006) até fins do século XX a temática do tropeirismo 

vinha sendo abordada perifericamente, contudo, desde 1992, em Bom Jesus se 

promove o Seminário Nacional sobre o Tropeirismo (Senatro) e o Seminário sobre o 

Tropeirismo no Cone Sul. A partir disso, o cenário da historiografia vem se 

modificando, especialmente, no que refere à ocupação do Rio Grande do Sul. O 



29 

tropeirismo desempenha um papel importante na demarcação de terras entre 

Portugal e Espanha na disputa por território.  

O tropeirismo é um fenômeno histórico de larga repercussão, definidor da 
ocupação e da economia dos espaços sociais abrangidos por sua atuação. 
Como processo delineador de relações de comércio e trocas, o movimento 
das populações por ele estabelecido formulou a construção de redes de 
múltiplos significados que assentaram as bases de muitas das comunidades 
brasileiras e americanas, ou seja, através do trânsito de tropas, paisagens 
foram alteradas e processos sociais foram desencadeados (BARROSO, 
2006, p. 172). 
 

Ao longo do século XX, a análise historiográfica trouxe para o texto histórico 

elementos até então marginais. A partir do movimento dos Annales é possível 

identificar o tropeiro na longa duração, especialmente pelas questões 

socioeconômicas e culturais. Aspectos do cotidiano incorporados a cultura de alguns 

locais decorrem da relação que o agente social tropeiro estabelece com o espaço e 

com os demais viventes à beira dos caminhos. 

 

3.3 Arqueologia das tropeadas 

 
Segundo Herberts (2009) a produção de bibliografia arqueológica é bem 

limitada comparada a produção da historiografia. Há poucos trabalhos de cunho 

arqueológico relacionados aos caminhos, sobretudo, das tropas. O Registro de 

Viamão acabou sendo um dos alvos destes poucos trabalhos de pesquisa voltados à 

Arqueologia da Paisagem, sobretudo, em diversos momentos no século XX. 

Na década de 1960 foram realizadas algumas prospecções propostas pelo 

Museu Arqueológico do Rio Grande do Sul, através do PRONAPA, sendo estas, 

coordenadas por Eurico Theófilo Miller. Na década de 1990, as pesquisas acabaram 

se acentuando com novos projetos, como o Projeto Arqueológico de Santo Antônio 

da Patrulha (HERBERTS, 2009). 

Em seu estudo sobre as estruturas viárias remanescentes entre os rios 

Pelotas e Canoas, em Santa Catarina, Ana Lúcia Herberts (2009) procurou analisar 

os caminhos como objetos de pesquisa, através da ótica da Arqueologia da 

Paisagem. Para isso, utilizou de perguntas primárias e iniciais para investigar, sendo 

elas: quais os vestígios arqueológicos que ainda são remanescentes nos caminhos, 



30 

quais os tipos de estrutura, como eram construídas, os materiais, a relação com o 

ambiente, a função dos corredores de pedra, etc. 

Farias (2013) em seu trabalho “Geóglifos gaúchos: um estudo sobre o 

tropeirismo e as cercas e currais de terra, pedra e plantas no sudoeste do Rio 

Grande do Sul, Uruguai e Argentina” constata que devido a quantidade dispersa de 

informações sobre as construções de currais e cercas, principalmente, pelas mais 

diferentes épocas, localidades, materiais, métodos de construção, entre outros, 

fazem com que seja necessário fazer recortes temporais e geográficos. Do mesmo 

modo que, muitas fontes abordam a temática de forma rasa, criando-se assim, a 

necessidade de juntar as informações para se entender melhor a cultura sul-rio-

grandense, a motivação da construção dos currais, das cercas anteriores ao arame 

de metal, sobretudo, nas estâncias e nas tropeadas. 

Herberts (2009) buscou averiguar dados disponíveis que indicassem locais de 

pouso de tropeiros, especialmente, para entender quanto tempo durava uma jornada 

tropeira pela região. 

A região dos campos de Lages reunia características ambientais importantes 
para o Caminho das Tropas: um relevo de amplos campos com suaves 
coxilhas onduladas, cobertura vegetal abundante de gramíneas e 
leguminosas, “capim mimoso”, propício para a pastagem, e era entrecortada 
por diversos cursos de água como banhados, córregos, lajeados e rios que 
formam a bacia do Rio Pelotas, fornecendo aguada durante todo o percurso. 
Nestes campos nativos, os animais poderiam se recuperar antes de seguirem 
com a viagem. Por outro lado, buscaram-se subsídios na iconografia e nos 
relatos de viajantes e ex-tropeiros sobre as formas de pousos, os locais, a 
infraestrutura e a tralha doméstica, apontando quais seriam os vestígios 
arqueológicos que poderiam ser encontrados nestes espaços e como eram 
estes locais. Os pousos ao relento e os sob barraca eram realizados em 
locais que não dispunham de estruturas construídas para o pernoite, ou 
quando, por algum motivo, a comitiva atrasava e não conseguia chegar a um 
local determinado de pouso no trajeto (HERBERTS, 2009, p. 176). 
 

A maior parte dos trabalhos que são produzidos sobre a Arqueologia da 

Paisagem em relação ao tropeirismo utilizam-se de estratégias metodológicas de 

pesquisa documental, seja ela cartográfica, iconográfica ou até mesmo textual, pois 

estes documentos auxiliam nas interpretações e análises dos vestígios materiais. 

 

3.4 O tropeirismo na literatura 

 



31 

Para Teixeira e Ertzoge (2012) a literatura é uma expressão de sentimentos, 

do ser, do ver, do sonhar a sociedade, sendo um elemento polifônico por excelência. 

Uma obra literária trata a história político-social de um grupo ou indivíduo dentro de 

determinado tempo e espaço. O romance, por exemplo, pode ser definido como um 

gênero que representa o “pensar a história”, pois estabelece uma memória do tempo 

e uma reconstituição dos espaços, tornando as sociedades e as práticas sociais 

objetos de reflexão. A partir desta abordagem, este subtítulo fora dividido em 2 

partes: a poesia e a música. 

 

3.4.1 O tropeiro na poesia 

 

Segundo Charão (2009) a história e a poesia estão conectadas desde as 

primícias, e, nesta conexão estão diversas linhas de pensamentos que são 

direcionadas para analisar aspectos de semelhança entre a realidade e a arte. O 

historiador tem como papel principal avaliar as fontes através de uma análise 

empírica, para assim, designar sua veracidade. 

Através da obra literária pode-se entender o imaginário social como ponto 
de referência no sistema de símbolos produzidos por uma determinada 
coletividade que organizam e regulam a vida coletiva. Esse imaginário não 
só representa a realidade, atua sobre ela acionando práticas e imprimindo 
direções essas representações são construções coletivas através das quais 
os grupos constroem sua identidade e elaboram sentidos para o mundo em 
que se encontram inseridos. Nesta visão a produção literária rio-grandense 
promoveu a construção de alguns signos e símbolos que foram marcados 
na memória como sendo parte da cultura na qual está inserida a figura do 
tropeiro (CHARÃO, 2009, p. 2-3). 

 
A partir deste gênero de texto, fora selecionado o “Poema de Tropeiro” de 

Luis Perequê para a compreensão dos espaços, das subjetividades e das 

expressões culturais proporcionadas pelas movimentações tropeiras. 

Poema de Tropeiro 
 
Era uma vez, 
Uma estrada tão bonita, 
Curva, descida e subida 
E a gente morava lá 
No pé da serra 
Num rancho em baixo do mato 
Pai e mãe, foice e machado 
Pra botar roça no chão 
Pra poder ter sete fio bem criado 
Ter feijoal florado 



32 

E mio sortano pendão 
E pai se acordava no pé do dia 
Chamava Lica e maria e mãe e se acordava também 
Minino, se acorda sem teimosia 
Que já tá raiando o dia 
Passarada, cantoria, é hora de trabaiá 
E era assim a vida do povo da forquia 
E no sistema da roça, nossa vida maravia 
Prantava um pouco de tudo e de tudo se coia 
Só se comprava o sá, querosena e a pinguinha 
Na birosca do arraiá que quase nada tinha 
E na manhã de sexta-feira pai punha a tropa na tria 
Gorumgumba de tropeiro 
Lembro ligeiro dizia: 
Mete a manta na potranca, puxa amula de guia 
Fio, vamo pra cidade cum carga de farinha 
Mulé, aqui cum Deus e cuida bem das criançinha 
Se a gente não vorta hoje, só amanhã de tardinha 
Tem caruela pros capado e mio dibuiado 
Dá de cumê pras galinha 
E os restoio da quiçamba é ração das cabritinha 
Foi a derradeira vez que nóis fez essa viagem 
Cá na curva do ruturvo 
Antes de chegar na varge da Maria Caetana 
Encontremo a caravana cum a notícia da cidade 
Tava fazendo a picada pra estrada de rodage 
Pra encurtar essa conversa 
Pode acreditar meu moço 
Vi morro do Pedroso ser cortado pelo meio 
E essa estrada tão bonita que cantei nesse ponteio 
Foi trocada pelo asfarto frio, faminto e feio 
Roceiro virou pedreiro 
Trabalhando em construção 
Fez as casa do estrangeiro 
Grileiro de nosso chão 
Tropeiro patrão de burro 
Hoje é burro de patrão 
(PEREQUE, 2010, texto digital). 

 

No poema o tropeiro é apresentado no seu dia a dia, seja nas longas e curvas 

estradas ou até mesmo no rancho com a sua família. É nos pequenos detalhes que 

o tropeiro ia se constituindo. O tropeiro era o agente que levava as notícias e 

informações pelos seus caminhos, que abria as picadas, que contava suas estórias.  

São nesses caminhos que as nostalgias dos grandes feitos são sentidas, entretanto, 

nelas surgiram o asfalto frio, pois o roceiro com o passar do tempo tornou-se 

pedreiro, construindo as casas dos estrangeiros que chegavam. 

No final do poema, o autor faz uma analogia, manifestando o tropeiro, antes, 

como “patrão do burro”, pois carregava sua mercadoria por longos e difíceis 

caminhos na esperança de chegar aos mercados. Contudo, hoje, o tropeiro se 



33 

tornou um “burro de patrão”, pois abandonou sua sina, sobretudo, pela sua 

prosperidade econômica.  

 

3.4.2 O tropeiro na música 

 

Segundo Moraes (2000), analisar a música é algo muito complexo para os 

historiadores, pois há necessidade de examinar os códigos e linguagens musicais. 

Entretanto, a música não deve ser impedida de ser utilizada na análise de questões 

culturais, pois as linguagens e códigos não devem impedir que o historiador 

manuseie canções como fontes históricas, pois elas podem auxiliar na compreensão 

iconográfica, bibliográfica, documental, cinematográfica, entre outras. 

De acordo com Napolitano (2002), as canções são ótimos instrumentos para 

a compreensão da história e da sociedade. A música não é apenas algo bom para 

se ouvir, mas também para se pensar. Experienciar musicalmente infere em atos de 

liberdade de criação e expõe comportamentos que autenticam o contexto histórico e 

cultural de qual o sujeito está inserido. 

Para isso, fora utilizada a canção “A Última Tropeada” composta por Edson 

Copetti para compreender nos versos as influências estéticas do tropeirismo na 

formação histórico-cultural. 

A Última Tropeada 
(Edson Copetti) – Alma de Galpão 
 
É com saudade que recordo das tropeadas 
Chuvas e geadas que dobrei com meus avios 
Naquele tempo em que a lida me levava 
Onde eu cruzava serras, matas, campos, rios 
Tinha na estampa a rudeza do campeiro 
E, por primeiro, o respeito com a boiada 
Não há notícia que eu perdi algum novilho 
Neste meu trilho de cruzar léguas de estrada 
 
Eira, eira, boi 
Vai levantando a poeira do estradão 
Trago no peito as lembranças do passado 
E esta saudade me machuca o coração 
 
Que coisa linda a comitiva estendida 
Seguindo a lida na direção do povoado 
E a gauchada com a cuscada em retoço 
Neste alvoroço iam gritando com o gado 
Quantas façanhas que ficaram como exemplo 



34 

Para esses tempos que nos versos eu bendigo 
E dava gosto de ver toda a gauchada 
Sempre disposta a matar ou morrer pelo amigo 
Eira, eira, boi 
 
Encilho o mate e a nostalgia me peala 
Nada se iguala a este passado de andanças 
Espero ainda rever as grandes tropeadas 
Que, desgarradas, só as tenho nas lembranças 
Tenho consciência que não fico pra semente 
Mas pros tropeiros que me orgulho e tiro o chapéu 
Igual ao boi na sua derradeira jornada 
Faço minha última tropeada lá pro céu 
 
Eira, eira, boi... 
Vai levantando a poeira do estradão 
Trago no peito as lembranças do passado 
E esta saudade me machuca o coração 
(ALMA DE GALPÃO, 2016, texto digital). 

 

Nos versos do canto é romantizada a figura do tropeiro e enaltecida a 

organização do movimento, especialmente o do transcorrer das tropas e dos “lindos” 

e “difíceis” caminhos até chegar aos povoados.  Os versos expressam exaltação aos 

tropeiros no momento em que referem que era lindo como o tropeiro gritava com o 

gado e, principalmente a conexão de um tropeiro com o outro no decorrer da levada 

das tropas, sendo dispostos a morrer e matar pelo outro.  

O modo de vida tropeiro era vasto, complexo e levado como uma sina, pois 

segundo os versos, um tropeiro só deixava de tropear no momento da sua morte. Na 

letra da canção é possível sentir o amor pelo o que a tropeada significava para estes 

homens e também as lembranças deixadas para as gerações de filhos, netos e 

bisnetos.  

O orgulho pelo passado é evidente, sendo as tropeadas formadoras de uma 

cultura nos caminhos percorridos, seja nas vestimentas, no mate ou no modo de 

vida. De fato, a figura do tropeiro ficará na lembrança e as andanças vangloriadas na 

história. “Eira, eira, boi!” É esse sentimento que irá percorrer de geração em geração 

através dos versos da música, das poesias, etc. 

Como vimos ao longo deste capítulo, o tropeirismo pode ser estudado e 

representado da perspectiva historiográfica e literária a partir de diferentes aportes 

teóricos. O materialismo histórico priorizará uma análise econômica e política. Ao 

longo do século XX, as possibilidades de análise e representações historiográficas 



35 

expandiram-se abrangendo temáticas socioculturais. A literatura e a música, como 

supracitado, representaram daquela perspectiva estética o tropeirismo. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



36 

4 A ATIVIDADE TROPEIRA NA FORMAÇÃO TERRITORIAL 

MERIDIONAL: UMA ANÁLISE SOCIOECONÔMICA 

 

 

Ao longo deste capítulo, o tropeiro será abordado como um agente social que 

através de suas movimentações modificou os espaços, tanto de maneira econômica, 

quanto social e cultural. Logo, o tropeirismo será evidenciado como um movimento 

importante na constituição dos espaços meridionais, com a abertura de estradas e o 

surgimento de cidades. Essa importância da movimentação tropeira nos espaços 

será demonstrada através de aspectos historiográficos, arqueológicos e literários. 

 

4.1 Interconectando caminhos: o sistema social de economia-mundo 

 

O sistema social de economia-mundo capitalista no século XVIII era 

movimentado por um mercado que demandava metais preciosos. No momento em 

que houve a descoberta do ouro em abundância no Brasil, principalmente na região 

das Gerais, a atividade econômica aurífera tornou-se centro das atenções da Coroa 

portuguesa. Contudo, houve uma estagnação desta atividade, especialmente 

quando houve a diminuição da mão-de-obra escrava que extraía e transportava este 

ouro ao litoral. 

Desta forma, a partir da movimentação econômica através da comercialização 

de cabeças de gado, o agente tropeiro acabou sendo inserido dentro deste sistema 

social para abastecer o mercado que necessitava de um meio de transporte a 

direcionar o ouro ao litoral e, consequentemente, à metrópole. 

[...] el sistema social es esencialmente una trama de relaciones interactivas. 
Las instituciones más centrales son, por ello, las directamente constitutivas 
de las pautas de essas relaciones mismas, a través de la definición de los 
estatus y roles de las partes en el processo interactivo. Esta primera 
categoría será llamada instituciones relacionales. En segundo lugar, los 
actores particulares, individuales o colectivos, actúan sobre la base de 
intereses que pueden ser independientes, en un grado mayor o menor, de 
las pautas moral-integrativas del sistema social, es decir, la misma 
colectividad total. De ahí que, en términos del sistema social, es la 
regulación de la persecución de estos intereses más bien que la definición 
constitutiva de las metas y médios (PARSONS, BLANCO, PÉREZ, 1966, p. 
36). 



37 

Em virtude disso, mesmo que o agente tropeiro não soubesse diretamente 

dessa movimentação de mercado, acabou por interagir com estes atores através da 

comercialização de cabeças de gado, e desta forma, exerceu um papel 

imprescindível na formação territorial do Brasil. Essa movimentação comercial, 

sobretudo de muares, acabou tornando o mercado dependente, resultando como 

principal meio de transporte em território brasileiro no período colonial (BORGES, 

2016): 

O tropeiro pode ser enquadrado, sem prejuízo, como um tipo social 
transitório entre o século das bandeiras e as novas formas de ocupação 
territorial e de transações econômicas erigidas a partir do século do ouro. 
Do sertanista, carrega o gosto pela aventura e a habilidade para percorrer 
os mais remotos rincões do território, graças ao sólido conhecimento acerca 
das antigas trilhas indígenas, que também foram amplamente utilizadas por 
bandeirantes. Porém, esse tropeiro já apresenta alguns traços de 
sedentarismo, devido à necessidade de instalar ranchos de tropa para 
descanso da comitiva durante a jornada, em lugares fixos ou estratégicos, e 
uma certa conexão com as práticas capitalistas de então, também por 
exigência da profissão, pois as negociações comerciais se davam nos 
ranchos de tropa (ALGATÃO, 2015, p. 41). 
 

Todavia, é importante destacar que este trabalho não tem como objetivo 

adentrar o conceito de sistema social, mas sim, compreender os fatores além do 

econômico. A intenção é complexificar a atuação dos tocadores de tropa ampliando 

a dimensão analítica e desviando-se o quanto possível da exclusividade da 

abordagem econômica e do romantismo da representação do mito fundador do 

tropeiro. Para isso, é necessário debruçar-se na importância do movimento tropeiro 

e compreender as influências socioculturais na constituição dos espaços 

percorridos. 

A partir de Hameister (2002) é possível constatar que essa complexidade do 

tropeirismo exigia certa organização das tropas, sempre buscando agradar o 

mercado interno, mesmo que não fosse lucrativo. O tropeiro deveria estar sempre 

atento ao que era demandado pelo mercado das populações interioranas para poder 

realizar uma conexão através da sua comercialização, qual fosse a diligência: 

alimentação, montaria, carga, tração, tiro, etc. 

Os estudiosos em geral se tem preocupado muito mais em analisar não só 
a produção de mercadorias destinadas ao mercado externo, como também 
o comércio exterior, ficando relegados para um segundo plano, ou 
inteiramente esquecidos, o comércio interno, a circulação de mercadorias e 
de capitais no interior e o abastecimento das populações integradas na 
economia de exportação, havendo apenas alguns estudos sobre o 



38 

abastecimento das áreas mineradoras e do litoral canavieiro do Nordeste 
(PETRONE, 1973, p. 383). 

A organização do movimento evidencia a importância das atividades 

adjacentes frente a um comércio interiorano de diversas demandas, desconstruindo 

a ideia de subsídio de uma atividade econômica principal. Assim, sendo possível 

identificar que o acúmulo de capital e a consolidação de diversas cidades do Brasil 

Meridional se devem principalmente à flexibilidade comercial e às influências 

socioculturais dos tropeiros. 

O tropeirismo contribuiu muito para o que houvesse disseminação de 
valores culturais de uma determinada região para outra, abrindo espaço, 
não somente em termos geográficos, mas também para que propagasse 
uma gama de conhecimentos, ampliando o repertório cultural dos povoados 
por onde passavam. É incontestável a importância da atividade e do ir e vir 
desses agentes para a formação social contemporânea do Sul do Brasil 
(FITZ, 2013, p. 22). 
 

Frasson e Gomes (2010) permitem perceber que a mula era uma mercadoria 

valorizada, além de que os tropeiros também transportavam diversos produtos de 

gêneros alimentícios e manufaturados, e através de suas circulações, eram muitas 

vezes intermediadores de informações. 

Como um processo da economia-mundo capitalista, a divisão mundial do 
trabalho e a distribuição desigual do excedente geram atividades centrais e 
periféricas conforme a capacidade de a aliança capital e Estado absorver 
excedentes dos vários elos das cadeias mercantis, por meios econômicos e 
extra-econômicos (ARIENTI; FILOMENO, 2007, p. 108). 
 

Desta maneira, é possível perceber que dentro da historiografia brasileira o 

movimento tropeiro fora referido como uma atividade econômica periférica da 

considerada atividade central, a da extração aurífera. Barroso (2006, p.171) afirma 

que, 

A história colonial do Rio Grande do Sul está intimamente ligada ao 
Tropeirismo. Entretanto a historiografia gaúcha, até o último decênio, ao 
referenciá-lo, vinha abordando perifericamente o tema e, também, focando 
sua importância desprovida de outros sentidos. 
 

Por fim, fica evidente que as atenções da historiografia gaúcha e brasileira 

estavam voltadas à legitimação e consolidação portuguesa nos espaços territoriais 

brasileiros. Assim, ignorou-se as influências sociais, culturais e até mesmo 

econômicas das movimentações tropeiras no surgimento de estradas e povoados. 

 



39 

4.2 A abertura de estradas 

  

Apesar do caráter econômico da movimentação tropeira, diversos autores 

aqui citados, informam a importância do tropeirismo no surgimento de caminhos e, 

como essa movimentação acarretou na composição social e cultural desses 

espaços.  

A partir disso, Silva (2010) provoca a pensar como o aumento da demanda de 

mercado acabou engrandecendo o olhar luso sobre o território. Desta forma, 

investiu-se na abertura de estradas, que por muito tempo foram caminhos 

desbravados que tinham o objetivo de afirmar as áreas de mineração. A abertura de 

estradas no Brasil Meridional fora importante para a economia colonial, contudo, as 

rotas por si só não eram suficientes. Com a expansão do mercado comercial, os 

tropeiros foram evidenciados como importantes figuras do comércio colonial durante 

o século XVIII. Assim, a abertura de estradas propiciou a ocupação de localidades e 

o estabelecimento de propriedades. 

Os tropeiros paulistas que desciam ao Sul em busca de gado, especialmente 

muar, percorriam o caminho litorâneo até chegar a Colônia do Sacramento, pois 

eram nessas regiões do Prata que estavam os maiores criadouros de gado muar. 

Esta rota percorrida, fora chamada de “Caminho da Praia”, pois ligava Laguna à 

Colônia do Sacramento pelo litoral (AMBROSINI; OLIVEIRA; FAVRETO, 2017). 

É importante destacar que o transporte das cabeças de gado pelo litoral fora 

bastante complicado, devido aos mais diversos caminhos serem melindrosos e 

inexequíveis fazendo com que novos trechos interioranos fossem explorados 

(THOMÉ, 2012). 

Esse caminho que tinha como objetivo conectar o extremo Sul do Brasil com 

os grandes mercados da região de São Paulo pode ser traçado tomando-se como 

referência a atual BR 101.  A rodovia é chamada BR-101 Osório-Torres e fora 

implantada pelo DAER em 1948. Essa autoestrada fora inicialmente construída a 

partir da atividade muar com o transporte de pedras. A atuação muar somente fora 

sobreposta no momento em que houve o processo de aperfeiçoamento das 

atividades de construção das rodovias (CANTON, 2003). 



40 

Segundo Canton (2003) fora somente após Segunda Guerra Mundial que os 

equipamentos mais sofisticados foram comprados. Antes disso, grande parte das 

rodovias do Brasil Meridional foram construídas a partir do lombo das mulas, 

inclusive, a BR-101. 

É importante destacar que a movimentação das tropas era realizada por um 

sujeito e seus auxiliares, e, somente em raras exceções ocorria de outra forma. 

Desta forma, alguns tropeiros faziam também o papel de intermediação do gado à 

região das minas. Por fim, estes tropeiros intermediadores além de movimentar o 

gado para a região mineradora, também municiavam mercados consumidores. (GIL, 

2002). 

Os campos tinham uma função importante para a movimentação do gado, as 

chamadas “estações-invernadas”. As invernadas tinham como objetivo, estabelecer, 

criar e circular o gado. As funções destes largos campos eram de alimentar estes 

animais por longos caminhos, destinando aos grandes mercados, sejam eles 

distribuidores ou consumidores. Algumas outras invernadas obravam de maneira 

diferente, muitas vezes, fazendo a regulação destes animais. (PETRONE, 1972). 

O estabelecimento das invernadas ocorria normalmente em regiões de largos 

campos e rios para que os animais pudessem se alimentar, como por exemplo, as 

planícies dos campos de Viamão. Assim, se originam diversas rotas que conectavam 

o Rio Grande do Sul com o restante do país, principalmente com os grandes 

mercados, que era o principal objetivo destes tropeiros (THOME, 2012). 

A divisão territorial do trabalho do tropeirismo no Brasil Meridional pode ser 

vista no mapa abaixo. Neste mapa, é possível identificar localidades voltadas à 

criação, as invernadas, a comercialização e também, as localidades que utilizaram 

as tropas como meio de transporte. 

Figura 1 – Mapa da divisão territorial do trabalho do tropeirismo. 

 

 



41 

 

Fonte: (STRAFORINI, 2001). 
 

Os caminhos tropeiros não apenas geograficamente foram importantes com a 

abertura e estabelecimento das invernadas, mas também foram de suma relevância 

a partir da mobilização comercial com a população local (HAMEISTER, 2002). 

[...] o tropeirismo do século XVIII, responsável pela abertura de estradas e 
caminhos que ligaram o planalto ao litoral, teve na mula a mercadoria que 
os tropeiros comercializavam para as áreas de mineração, servindo de 
transporte para manter a principal economia da Colônia Portuguesa na 
América. Entretanto esta atividade permitiu a abertura de inúmeras rotas de 
comércio, que posteriormente foram utilizadas na comercialização de 
bovinos, suínos e produtos agrícolas no Brasil meridional, além de 
tornarem-se referenciais para o estabelecimento de propriedades rural e 
povoado (FORTKAMP, 2009, p. 07). 
 

O processo de abertura de caminhos para o comércio do gado acaba 

possibilitando compreender a formação territorial meridional, e, não somente o 

caminho da Praia surge, como também outras vias de grande destaque, como o 

caminho de Viamão (denominado de Estrada Real), o caminho das Missões, etc. 

Estas rotas podem ser visualizadas no mapa abaixo. 



42 

Figura 2 – Mapa das rotas e localidades por onde passavam os tropeiros 

  

Fonte: (HAMEISTER, 2006). 

 

Silva (2010) apresenta em sua dissertação as implicações tropeiras na 

construção de espaços e paisagens sociabilizadas e vivenciadas por cada agente e 

em diferentes períodos. Assim, através da arqueologia com abordagens que 

ultrapassam análises funcionais, buscou aproximar esses sujeitos da realidade 

histórica.  

A convivência de diferentes grupos e indivíduos em uma mesma área, as 
tensões e negociações constantes e necessárias deste convívio, geram 
uma paisagem que não apresenta as características particulares de uma só 
parcialidade. Tampouco o mesmo sentido e significado para cada grupo ou 
indivíduo. A espacialidade e, consequentemente, a paisagem resultante, 



43 

conterá elementos e significados de quantos forem os atores e grupos 
envolvidos neste espaço. Gerando uma paisagem e uma espacialidade 
únicas, que só tem e adquirem sentido naquele espaço, em um determinado 
tempo (FRAGA, 2010, p. 26). 
 

Ainda segundo Silva (2010) as mais diversas estruturas que foram 

estabelecidas por tropeiros, como: os locais de pouso, as vendas, os currais, entre 

outras, movimentaram os espaços. A Coroa Portuguesa também impactou nessas 

movimentações espaciais com a criação de postos de registros e arrecadação de 

impostos em certos pontos estratégicos. Fora através do uso do espaço com 

estratégias materiais e de ocupação que se designou um novo sentido de 

espacialidade, sobretudo, com as relações de dominante e subordinado, criando-se 

um “campo de forças”. 

[...] não foi somente a formação das Vacarias que deu diferentes faces a 
paisagem da região. Com a emergência de um mercado consumidor, nas 
áreas mineradoras, aumentava a demanda do gado vacum e muar 
abundantes no sul da América. No entanto, para exploração das Vacarias e 
transporte do gado algumas rotas foram abertas. Procurei, ao comentar três 
rotas que cruzaram a região sul, compreender estes espaços de movimento 
como novos elementos de uma espacialidade que deixava transparecer 
suas principais características: um espaço socialmente elaborado, 
conhecido, nomeado e experimentado através do qual surgia uma nova 
paisagem (SILVA, 2010, p. 162). 
 

A partir das preocupações ambientais de preservação e conservação, houve 

uma valorização dos patrimônios naturais e culturais em contexto mundial durante o 

século XX. As modificações geomorfológicas realizadas pelos tropeiros na abertura 

de estradas possibilitaram, a partir desse momento, a realização de atividades 

geoturísticas. Essas atividades puderam incentivar e oportunizar o desenvolvimento 

econômico e cultural dos mais diversos municípios ao longo dos caminhos 

percorridos pelas tropas (CASSOL PINTO, 2013). 

Na literatura, o tropeiro aparece como desbravador de caminhos em diversos 

livros, como em “O Gaúcho “, de José de Alencar, em poesias como “Ao Tropeiro” 

de Florisbela Zimmermann, e em diversos poemas como “Romance do tropeiro 

doido” de Aureliano Pinto.  E, a partir da construção literária do imagético e do 

textual que se percebe aproximações sociais e culturais, tanto no âmbito material, 

quanto no subjetivo. A figura do tropeiro é representada a partir de lembranças, 

recordações, lugares, objetos, etc. É a partir da memória, da imaginação, da 

materialidade e de outras manifestações, que são construídas diversas realidades 



44 

culturais de grupos sociais que vão surgindo ao longo das passagens tropeiras 

(CHARÃO, 2009). 

Charão (2009) afirma que dentro da literatura, o tropeiro é definido como um 

condutor de cabeças de gado e responsável pela compra e venda dessas tropas. 

Entretanto, dentro da poesia gauchesca, o tropeiro adquire características 

diferenciadas e uma maior expressividade quando relacionado a temas da formação 

do Rio Grande do Sul. O tropeiro é destacado nas obras literárias como um agente 

diferenciado no trato com as atividades executadas e muitas vezes, dentro dos fatos 

narrados, os autores aparecem como espectadores dessas realizações, fazendo 

referências a aspectos socioculturais, como os modos de vida, costumes, as 

próprias tropeadas e invernadas. 

 

4.3 O surgimento de cidades 

 

De acordo com Thomé (2012) ao longo dos caminhos tropeiros, as pousadas 

deram origem a currais, fazendas e povoados. A abertura de vendas nessas 

localidades significava prosperidade. As mais diversas estruturas promoviam o 

aparecimento de núcleos populacionais, que mais tarde fizeram surgir grandes 

cidades.  

Nesse vaivém, constante, realizavam as tropas importante intercâmbio 
econômico e social, portadoras que eram de vida e civilização juntamente 
com os volumes alçados às cangalhas. Nas suas constantes viagens, 
traçavam um emaranhado de comunicações entre cidades, vilas, povoados, 
vilarejos, ao mesmo tempo que estabeleciam o contato dessas 
comunidades [...] (GOULART, 1961, p. 64). 
 

Existem documentos que retratam diversas cidades que surgem nos 

caminhos percorridos por tropeiros no Brasil Meridional. Desta maneira, utilizarei de 

exemplos de cidades e municípios de Santa Catarina para falar da importância do 

tropeirismo no seu surgimento ao longo dos caminhos e na origem dos seus nomes. 

O caminho das tropas que fora iniciado por volta do ano de 1797, por 

exemplo, traça diversos municípios de Santa Catarina, como: Lages, Águas Mornas, 

São José, São Pedro de Alcântara, etc. O tropeirismo acabou influenciando 

fortemente no modo de vida e na cultura local dessas cidades. A cidade de Rancho 



45 

Queimado, por exemplo, foi fundada por imigrantes alemães, mas teve suas origens 

herdadas em um nome tropeiro. Há histórias que retratam que naquela região 

diversos tropeiros passavam a noite em um rancho que acabou incendiado, 

constituindo-se assim o nome de Rancho Queimado (BAUER; SOHN, 2018). 

Além disso, é possível perceber as ligações comerciais e sociais entre 

diversas vilas ao longo dos caminhos tropeiros até a região de Sorocaba, sobretudo, 

através de casos específicos como o do Major português Antônio Novaes Coutinho. 

Este Major era casado com Ana Brandina de Almeida Novaes que faleceu no ano de 

1847 na vila de Castro, no Paraná. Antônio e Ana possuíam largos campos e terras, 

além de 22 escravos. Todavia, a morte de Ana fez Coutinho se transferir para a vila 

de Cruz Alta, pois ali aparecia como vereador eleito desde o pleito de 1834. Assim, 

ficando evidente uma conexão interprovincial com a demanda de cabeças de gado 

no percurso dos caminhos (ARAÚJO, 2008). 

No mapa abaixo é possível visualizar as 3 principais rotas de tropas. Estes 

trajetos eram chamados de: Caminho das Missões (ou Palmas), Caminho da 

Vacarias dos Pinhais e Caminho de Viamão. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



46 

Figura 3 – Mapa da região marcado por caminhos (2007) 

 
Fonte: (ZUCCHERELLI, 2008, p. 11). 

 

A partir disso, selecionei três cidades que estão entre os caminhos, sendo 

uma do Rio Grande do Sul, uma de Santa Catarina e outra do Paraná. Desta forma, 

tratarei da origem dessas cidades e da sua vinculação com o tropeirismo. 

 

4.3.1 Cruz Alta – Rio Grande do Sul 

 

No início do século XIX houve a necessidade de abastecimento dos centros 

consumidores e distribuidores de cabeças de gado, principalmente em São Paulo. A 

partir dessa demanda, é possível identificar através da análise de inventários post-

mortem de grandes fazendeiros de Cruz Alta que há diversos animais cavalares e 

muares sendo reproduzidos nas fazendas dessa região (SANTOS, 2010). 



47 

A partir de Santos (2010), percebe-se que o povoamento do Planalto Médio 

iniciou por volta de 1816, a partir de uma expedição comandada por Atanagildo Pinto 

Martins. Fora através da oficialização da Estrada das Missões que houve maior 

movimentação das tropas em direção ao oeste do Rio Grande do Sul. Assim, muitos 

militares e tropeiros paulistas, sobretudo, oriundos dos Campos Gerais, começaram 

a movimentar em direção a essas extensas terras e se apropriarem delas através da 

concessão de posse. O principal objetivo desses homens era de formar enormes 

estâncias pastoris para a criação de animais. 

Após a Expedição de 1816, pode-se verificar o aumento do fluxo migratório 
para o Planalto Médio, especialmente de militares e tropeiros procedentes 
dos Campos Gerais do Paraná. Fundaram-se nesta região estâncias 
pastoris destinadas à criação de muares e invernada das tropas que 
seguiam rumo a São Paulo. Com o aumento da circulação das tropas pela 
Estrada das Missões surgem os primeiros núcleos urbanos, originários de 
pontos de infraestrutura destinada aos tropeiros (SANTOS, 2010, p.19). 
 

Santos (2010) afirma que essa enorme extensão de campos propiciou às 

invernadas, pois essas paradas faziam com que diversos animais advindos da 

região fronteiriça e de países vizinhos pudessem se adaptar as terras e ao clima da 

região. A movimentação do tropeirismo nessa região promoveu um fluxo migratório 

maior para a região do Planalto Médio, fazendo com que surgissem diversos núcleos 

populacionais que eram destinados a abastecer as necessidades dos tropeiros, e 

um exemplo disso, é Cruz Alta. 

A cruz alta tornou-se ponto de invernada e um grande pouso para milhares 
de tropeiros oriundos das fronteiras com a Argentina e Uruguai, que se 
dirigiam até a Feira de Sorocaba para comercialização dos animais. O local 
consolidou-se ainda no final do século XVIII como Pouso dos Tropeiros e 
muitos passaram a residir nas proximidades, até que, no início do século 
XIX depois de uma tentativa sem sucesso, mudaram-se então mais para o 
norte estabelecendo-se onde hoje está o município de Cruz Alta, cuja 
fundação deu-se no dia 18 de agosto de 1821 em resposta a uma petição 
feita pelos moradores (IBGE, 2012, p. 01). 
 

Desta forma, é possível perceber a partir do estudo do povoamento da região 

do Planalto Médio, que há uma motivação econômica para o estabelecimento das 

estâncias. É especialmente a partir da apropriação dos largos campos que há o 

estabelecimento de cabeças de gado e paradas, chamadas de invernadas. As 

motivações econômicas acabaram fazendo com que surgissem núcleos 

populacionais, e, desta forma, estes núcleos foram se aperfeiçoando no atendimento 

a demandas infra estruturais dos tropeiros, fazendo com que houvesse influências 

socioculturais. 



48 

 

4.3.2 Lages – Santa Catarina 

 

A região que compreende o município de Lages na atualidade, fora um 

cenário de lutas políticas e econômicas durante séculos. Inicialmente, o povoado 

fora criado para defender o território pertencente a Coroa portuguesa frente a 

ataques espanhóis. Todavia, ao longo do tempo, adquiriu maior relevância por estar 

em localização estratégica em meio a passagem do Caminho das Tropas, que partia 

de Viamão à Sorocaba. 

Antônio Correia Pinto de Macedo fora um bandeirante paulista e um dos 

primeiros povoadores portugueses a chegar na região dos campos de Lages. Pinto 

de Macedo e diversos familiares foram centrais no desenrolar de acontecimentos 

políticos e administrativos, de Lages e de Santa Catarina. A fundação de Lages no 

século XVIII esteve intimamente ligada a defesa das terras da colônia portuguesa de 

ataques espanhóis (BOGACIOVAS, 1999). 

Sob a jurisdição de Rio Grande, os campos de Lages passaram ao domínio 
dos paulistas, através da bandeira de colonização para a fundação dirigida 
de Lages, do abastado Antônio Correia Pinto em 1766 (fundando 
oficialmente a Póvoa em 1771), para resguardar o caminho de Viamão a 
São Paulo, fixando, assim, mais um ponto de defesa (contra os espanhóis) 
na colônia meridional (BASTOS, 2011, p. 39). 
 

Segundo Bastos (2011) o povoado que compreende os campos de Lages, 

serviam de pouso e pastagem para as tropas de muares ou cavalares que rumavam 

para a região das minas. Desta maneira, o local acabou se configurando 

economicamente através da pecuária. 

A região de Lages por ter extensos campos e um relevo homogêneo, acabou 

sendo favorecida nesta atividade econômica. Assim, a estrutura deste território era 

composta por um latifúndio com grandes fazendas que aumentavam gradativamente 

suas criações. O desenvolvimento da região acabou sendo repentino, fazendo com 

que houvesse migrações de muitas famílias para esta região (BASTOS, 2011).  

Francisco de Souza e Faria foi um Sargento-Mor que traçou os caminhos 

chamados de Estrada dos Conventos que partem do litoral aos Campos de Cima da 

Serra, estimulando incursões para melhor exploração da serra catarinense. Muitas 

famílias e tropeiros começaram a povoar a região chamada de “Sertão das Lagens”, 



49 

por Souza e Faria.  Essa localidade era composta por inúmeros pinhais que 

formavam terras admiráveis para criação de gado (HERBERTS, 2009). 

Correia Pinto selecionou algumas famílias para povoar a região através de 

profissões indispensáveis para sua prosperidade: eram carpinteiros, ferreiros, 

obreiros, etc. Os moradores que se estabeleceram na região, além de empregar 

suas profissões eram tropeiros ou criadores de gado. Essas profissões exercidas 

faziam com que se tornassem negociantes natos. Correia Pinto fora um comerciante 

que tinha posse de muitas terras, e, dentro dessas terras haviam engenhos, uma 

ferraria, uma olaria etc. Antônio Correia Pinto produzia ferramentas indispensáveis 

como pás, foices, enxadas, além de farinhas de milho e trigo que eram 

comercializadas com a população local, e, o excedente para os mercados da região 

de Curitiba e Sorocaba (COSTA, 1982). 

Devido a impossibilidade de utilizar as vias de maneira direta para o 

escoamento da produção local, a maioria dos produtos eram mantidos em consumo 

interno (COSTA, 2001). Este débil comércio somente sobreviveu devido à região ser 

um entreposto de venda de cabeças de gado com preços favoráveis e, sobretudo, 

pela proximidade ao Caminho dos Conventos (BASTOS, 2011). 

Por fim, a região de Lages acabou sendo fundamental para a criação e 

distribuição do gado para o abastecimento de tropeiros que comercializavam nos 

mercados, sobretudo, de Sorocaba e das minas no século XVIII. Desta forma, fica 

claro que o surgimento de povoados, além de caráter protecionista para a coroa 

Portuguesa, configurava-se de maneira socio comercial ao abastecimento de tropas 

e ao desenvolvimento de um comércio interiorano. 

 

4.3.3 Castro – Paraná 

  

Segundo Fitz (2013) existiam algumas localidades que ofereciam condições 

adequadas para realização das invernadas, e um desses lugares constitui a atual 

cidade de Castro. Era natural ocorrer alagamentos e outros contratempos na região, 

especialmente pela localidade estar próxima ao rio Iapó. 



50 

O chamado “Pouso de Iapó” constituiu-se como uma localidade propícia para 

plantio e criação de animais. Assim, a paragem passou a desenvolver atividades 

tropeiras na região, sobretudo, através de intermédios na compra de cabeças de 

gado no Rio Grande do Sul (FITZ, 2013). 

A área correspondente à atual cidade de Castro estava localizada próxima a 

chamada Rota dos Tropeiros, e, pela fertilidade da terra e pelos largos campos para 

criação de animais, acabou impulsionando-se economicamente no envolvimento 

com o tropeirismo (FITZ, 2013). 

Castro teve a sua origem ligada ao requerimento da sesmaria por Pedro 
Taques de Almeida, cuja finalidade era a implantação de currais e 
invernadas para criação de bovinos e muares. Com a inauguração da 
Sesmaria de Sant´Ana do Iapó dá-se início à ocupação dos Campos Gerais 
(FITZ, 2013, p. 19). 

Fitz (2013) afirma que o desenvolvimento do “Pouso de Iapó” acabou sendo 

tão considerável que se transformou em uma freguesia chamada de Sant’Ana do 

Iapó. Dentro dessa freguesia já havia uma capela, residentes regulares, diversas 

fazendas ocupadas e até mesmo um comércio abundante, sobretudo, pela 

movimentação de tropas. 

 

Em 1788, a Freguesia de Sant’Ana do Iapó foi elevada à categoria de vila, 
denominando-se Vila Nova de Castro. No início do século XIX, Castro já era 
uma vila reconhecida por seu envolvimento nas atividades tropeiras e 
pecuaristas (FITZ, 2013, p. 20). 
 

Para Fitz (2013) graças a movimentação tropeira houve uma mudança na 

percepção sobre trabalho. O tropeiro por ter uma sina de desbravador e de 

aventureiro acabou criando um ideal de valores e princípios que influenciaram a 

população ao longo dos caminhos, dignificando a ideia de trabalho e a todos que o 

desempenhavam. 

A cidade de Castro, mesmo com a chegada de muitos imigrantes europeus 

preservou uma herança tropeira. Isso permitiu que esses traços fossem vistos até os 

dias de hoje, repercutindo no modo de vida e na cotidianidade dos habitantes. 

Na imagem abaixo, é possível perceber através de um pequeno monumento a 

representação de um legado deixado por tropeiros. 

 



51 

Figura 4 – Monumento tropeiro na entrada da cidade de Castro - PR 

 
 Fonte: (FITZ, 2013). 

 
Por fim, este capítulo não apenas evidencia as influências socioculturais dos 

tropeiros no surgimento de estradas e de cidades, mas também provoca a pensar 

que as atividades tropeiras vão além das questões econômicas. Dessarte, a 

movimentação tropeira não deve ser considerada subjacente de uma economia 

central que busca legitimar um Estado Nacional em solo brasileiro, e sim, uma 

atividade emancipadora que modifica os espaços através de suas interações sociais, 

culturais e até mesmo econômicas. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



52 

 
 
 

 
 
 
 

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 

 

A partir da revisão bibliográfica realizada, fora possível perceber que a 

historiografia brasileira estava preocupada em legitimar a ocupação e as atividades 

econômicas da Coroa Portuguesa em território brasileiro. Desta forma, considerou-

se que as atividades que surgiram em meio a apoderação do espaço por parte de 

Portugal, eram subjacentes ou auxiliares deste processo. 

Assim, a crítica à história econômica fica evidente no momento em que tudo 

se vertebraliza em dados econômicos para legitimar a ocupação portuguesa no 

Brasil. Estes dados buscavam assegurar que atividades econômicas centrais que 

eram orquestradas pela coroa portuguesa fossem principais na constituição da 

população que surge em meio aos caminhos. Dessarte, ocultando as atividades 

adjacentes e as questões socioculturais que eram estabelecidas nas relações com a 

população interiorana. 

Desta maneira, compreender a atividade tropeira dentro de um sistema social 

de economia-mundo fora necessário para entender a mentalidade econômica e 

comercial que surge em meio a este espaço. Ainda que, ignorassem as demandas 

características do período, os tropeiros compunham o projeto colonial arquitetado na 

metrópole. É a partir da ação e da interação individual de diversos atores dentro do 

território, que se percebe aproximações com interesses comerciais. Contudo, apesar 

do caráter econômico, as ações do tropeirismo provocaram modificações 

socioculturais no estabelecimento de povoados que surgiram em meio aos caminhos 

meridionais. 

Apesar da produção bibliográfica arqueológica ser bem limitada comparada a 

historiográfica é possível perceber através da Arqueologia da Paisagem, que utiliza 

métodos de pesquisa documental, seja cartográfica, iconográfica e até mesmo 



53 

textual, que as movimentações tropeiras modificaram os espaços através da 

construção de pousos, de currais, de vendas, etc. Além disso, com as preocupações 

ambientais de preservação das espacialidades em contexto do século XX, houve 

uma valorização de patrimônios naturais e culturais. Assim, muitas localidades que 

tiveram modificações geomorfológicas provocadas pelas movimentações tropeiras, 

foram incentivadas e “surfaram a onda” do geoturismo para o seu crescimento 

econômico. 

A partir de uma perspectiva estética da literatura e da música, o tropeiro 

aparece como um herói desbravador de caminhos. Essas construções literárias, 

sobretudo, do imagético e textual, apontam para questões socioculturais em âmbito 

material e subjetivo. O tropeirismo é representado a partir de lembranças, lugares, 

objetos, etc. Desta forma, a movimentação tropeira possibilitou através da 

materialidade e da subjetividade uma construção social e cultural de diversos grupos 

que se formaram ao longo dos caminhos e na consolidação dos espaços. 

A abertura de caminhos como o de Viamão, da Praia e das Missões 

propiciaram melhores condições de buscar este gado ao Sul. Assim, o 

estabelecimento de diversas localidades para o abastec