CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE PEDAGOGIA TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH): ENTRE DIAGNÓSTICOS E O DESEJADO CONTROLE DOS CORPOS Clarissa Tambara Correia Lajeado, novembro de 2014 Clarissa Tambara Correia TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH): ENTRE DIAGNÓSTICOS E O DESEJADO CONTROLE DOS CORPOS Monografia apresentada na disciplina de Trabalho de Curso II, do Curso de Pedagogia, do Centro Universitário UNIVATES, como parte da exigência para a obtenção do título de Licenciatura em Pedagogia. Orientadora: Dra. Mariane Inês Ohlweiler Lajeado, novembro de 2014 Clarissa Tambara Correia TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH): ENTRE DIAGNÓSTICOS E O DESEJADO CONTROLE DOS CORPOS A Banca examinadora abaixo aprova a Monografia apresentada na disciplina de Trabalho de Conclusão II, na linha de formação específica em Pedagogia, do Centro Universitário UNIVATES, como parte da exigência para obtenção do grau de Licenciatura em Pedagogia: Profa. Dra. Mariane Inês Ohlweiler – orientadora Centro Universitário UNIVATES Profa. Dra. Maria Isabel Lopes Centro Universitário UNIVATES Lajeado, novembro de 2014 AGRADECIMENTOS A minha professora orientadora, Mariane Inês Ohlweiler, pelos seus ensinamentos, pela amizade, pela paciência nas orientações e incentivo em todos os momentos, que tornaram possível a conclusão desse trabalho. Obrigada. A minha mãe, minha fortaleza, que me transmitiu os mais valiosos saberes, que compartilha comigo cada vitória, derrota, lágrimas e alegrias ao longo desta caminhada. Sua presença significou a segurança de que não estava sozinha. Essa conquista também é sua. Amo você. Ao meu esposo Alex Sandro, por ser esta pessoa maravilhosa, que em muitas vezes se colocou em segundo plano para me ajudar nos momentos que mais precisei. Obrigada pelo carinho, paciência e principalmente por me trazer a paz na correria de cada semestre. Amo você. Aos meus irmãos Leticia e Luís Fernando que, sempre me incentivaram em todos os novos desafios, me dando a certeza que vocês estariam sempre ao meu lado. Obrigada por fazerem parte da minha vida. Aos meus sobrinhos, em especial, Bernardo e Gustavo que, mesmo ainda sem compreender muito a vida, participam de todas as minhas conquistas, em que muitos finais de semana, me proporcionaram seu carinho e brincadeiras, fazendo até, eu esquecer, das minhas preocupações e ansiedades. Dedico todo meu amor a vocês. RESUMO Este trabalho de conclusão de curso tem como objetivo analisar e apresentar diversos pontos de vista e definições sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Busca-se compreender o transtorno em suas causas, efeitos e formas de tratamento, bem como de que forma este vem sendo abordado por diferentes áreas do conhecimento, principalmente no campo da Educação. O que acontece com as crianças caracterizadas com TDAH e as questões relativas aos psicofármacos utilizados neste tratamento também constituem o campo de estudo desta pesquisa. O referencial teórico principal está baseado em Caliman (2008), Argollo (2003), Coutinho (2008) e Richter (2012). O material empírico foi obtido em duas escolas do município de Lajeado/RS. No primeiro semestre da pesquisa, foi realizado levantamento teórico acerca do tema e um projeto piloto com uso de questionários com professoras de uma escola de Educação Infantil. No segundo momento, foram realizadas entrevistas e observações em uma Escola de Ensino Fundamental. Para além das características do distúrbio, procurou-se analisar os discursos acerca do mesmo, em especial, entre os profissionais da educação. A partir dos dados coletados, pode-se constatar uma relação ambígua entre as ações relatadas pelos docentes e as práticas observadas, principalmente no que tange a atividades de apoio e acompanhamento pedagógico. Em consonância com o levantamento bibliográfico, a pesquisa de campo permite inferir que muitos alunos são “rotulados” como hiperativos e há um grande número de encaminhamentos de crianças para realização de diagnósticos na área da saúde, consequentemente também há um alto índice de medicalização infantil. Palavras-chave: TDAH. Diagnóstico. Psicofármacos. Discurso. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABDA - Associação Brasileira de Déficit de Atenção DSM - Manual diagnóstico e estatística de transtornos mentais TDAH - Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 7 2 UM POUCO DA HISTÓRIA ................................................................................... 10 3 QUESTIONANDO O DIAGNÓSTICO .................................................................... 13 4 COMO IDENTIFICAR A CRIANÇA HIPERATIVA ................................................. 20 5 PERCEPÇÕES DE PROFESSORAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL SOBRE O TDAH ........................................................................................................................ 23 6 TRATAMENTO OU CONTROLE DOS CORPOS? ............................................... 26 7 PRIMEIRAS CONSTATAÇÕES ............................................................................ 29 8 OBSERVAÇÕES SOBRE O TDAH EM UM ESPAÇO ESCOLAR ........................ 30 9 OBSERVAÇÕES DE UM ALUNO COM TDAH: VIVÊNCIAS EM UMA SALA DE AULA ........................................................................................................................ 38 10 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 41 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 43 ANEXOS ................................................................................................................... 45 ANEXO A – Termo de consentimento entregue às professoras entrevistadas . 46 ANEXO B – Entrevistas estruturadas com professoras da Educação Infantil ... 47 ANEXO C – Termo de consentimento entregue à professora e orientadora educacional .............................................................................................................. 52 ANEXO D – Termo de consentimento informado para o diretor da escola ........ 53 ANEXO E – Entrevista estruturada com professora e orientadora do Ensino Fundamental ............................................................................................................ 54 7 1 INTRODUÇÃO O estudo que originou este trabalho partiu de algumas inquietações que me provocaram a interessar-me mais pela temática da hiperatividade, a partir das minhas experiências na área da educação, na Educação Infantil e mais recentemente no Ensino Fundamental, assim como algumas vivências pessoais. Ao começar minha jornada pela Educação Infantil, percebi o quanto estamos sempre querendo crianças “perfeitas”, me refiro aqui no sentido de que não corram pela sala, que falem baixo, ou que façam apenas o que determinamos no momento. Se analisarmos nossa postura no dia a dia, estamos sempre ditando regras. O que de certo modo é o que se espera da escola, que aos poucos, através da disciplina, esta instituição vá moldando o indivíduo para conviver em sociedade. O que podemos observar, é que a maioria das professoras se queixa de seus alunos, ou porque não param quietos, ou porque não prestam atenção quando elas estão falando, e estes mesmos alunos, muitas vezes se tornam rotulados como os “pestinhas” da turma. Porém, será que eles são realmente “alunos problema”? Ou seria apenas o modo de ser de cada indivíduo que possui as suas particularidades? Como me referi anteriormente, a questão da hiperatividade me aguçou mesmo foi em um dia normal de trabalho, ao entregar uma aluna para sua mãe, pedi um beijo na despedida, como normalmente acontece e, a aluna não quis dar o beijo. Neste momento, a mãe fez a seguinte afirmação: “Deixa profe é assim mesmo, tenho que dar uma ritalina mesmo para ela pra vê se muda”. Logo pensei: como assim? As pessoas pensam que qualquer comportamento dito “indesejado” já é 8 motivo para uma criança ser rotulada como hiperativa? Será que não estamos fazendo julgamentos precipitados em relação aos nossos alunos tidos como “diferentes” no comportamento diante de outros? Ou será que estamos sempre procurando culpados para nossas angústias, diante de alunos que apresentam comportamentos diferentes dos demais? Outro fato que me fez pensar em pesquisar sobre este tema ocorreu fora do ambiente escolar. Em uma aula de hidroginástica em que falávamos sobre desenvolvimento de crianças, uma senhora afirmou “ouvi dizer que se estimular demais as crianças pode deixá-las hiperativas”. Essa é a prova do quanto a hiperatividade está presente nos mais variados espaços e discursos.. Diante dessas duas questões, o meu lado profissional despertou ainda mais, para ir além de ler reportagens na internet sobre este assunto, e compreender como ele vem cada vez mais se popularizando no meio da educação. Senti-me motivada a estudar mais a respeito. O meu intuito inicial era realizar uma pesquisa procurando realmente saber como surgiu esse distúrbio, quais as causas, tratamentos e seus sintomas, pois o que mais se tem escutado de pais e professores é o termo hiperatividade. A partir de tais experiências percebemos também que há um crescente número de diagnósticos de crianças com transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), nome oficial dado para a Hiperatividade, bem como um aumento considerável na prescrição de medicamentos para as crianças desatentas e indisciplinadas. Para esmiuçar e compreender estas questões, o presente trabalho irá perpassar um pouco pela história de como surgiu o termo “crianças anormais”, trazendo também as contribuições de algumas pesquisas relacionadas à hiperatividade, bem como o que profissionais de diferentes áreas pensam em relação a esse distúrbio de aprendizagem. Teremos como base para esta pesquisa alguns autores centrais como Caliman (2008), Argollo (2003), Coutinho (2008) e Richter (2012). 9 O objetivo central desta pesquisa, portanto, é compreender o TDAH e suas causas, passando pelos psicofármacos nesse tratamento e seus efeitos, bem como, apresentar as várias interpretações nas diferentes áreas, mas em especial, no campo da Educação. O problema que norteou a pesquisa é: de que maneira tem sido caracterizado o TDAH e quais as suas implicações na atuação de professores? 10 2 UM POUCO DA HISTÓRIA Os estudos sobre as crianças começaram há muito tempo, sendo pouco a pouco anexadas algumas características para esta fase da vida que corresponde hoje ao que nomeamos infância. Segundo os estudos de Coutinho (2008), estas características foram definidas primeiramente por católicos como Erasmo, Vives e Rabelais (autores de guias e livros instrutivos para pais), e pelos protestantes Lutero e Calvino que mesmo discordando de alguns pontos em relação aos estágios da criança, e o momento certo de atribuir a aprendizagem das letras, ambos acreditavam que era necessário ensinar-lhes desde muito cedo a fé e os bons costumes. Junto a estes intuitos de moralização, está atrelada a formação da família cristã, com definição de papéis do homem e da mulher dentro da família, o desejado amor de pai e mãe fica evidente. Ou seja, é no período da Modernidade que, junto ao estatuto da infância nascem também os ideais de família e mais especificamente da família conjugal. Os estudos envolvendo as crianças e suas respectivas etapas de desenvolvimento vêm de um longo processo, porém podemos constatar que em certa medida, o foco passou a ser o comportamento dos sujeitos infantis. A título de exemplo, trago abaixo um excerto de Walkerdine (1998, p.167) a partir do seu estudo sobre a obra de Charles Darwin “Um esboço biográfico de um infante”. Formaram-se Sociedades de Estudo da Criança e a prática de observar crianças se tornou bastante generalizada. Os corpos das crianças eram pesados e medidos. Estudavam-se os efeitos da fadiga, bem como seus interesses; imaginações; ideias religiosas; atitudes em relação às condições atmosféricas, aos adultos: desenhos; bonecas; mentiras; ideias e seus estágios de crescimento.[...] [Esses discursos] eram extraídos da Biologia, 11 da Topografia e do senso comum da vida cotidiana (WALKERDINE, apud COUTINHO, 2008, p.167) Estudos realizados em torno da invenção da infância resultaram na definição de cada fase da vida. Em relação a isso se fez uma distinção de comportamento para cada fase em que a criança se encontrava, definindo assim o comportamento esperado enquanto “normal” para cada idade (IWALKERDINE, apud COUTINHO, 2008). Segundo Eberstadt (apud CALIMAN, 2008), os estudos sobre o transtorno TDAH, começaram no final da década de 80, e se estenderam até a década de 90, primeiramente nos Estados Unidos, ocorrendo nessa época uma explosão publicitária em torno do diagnóstico do transtorno. Até então os exames eram realizados somente com crianças, mas por outro lado, o TDAH também começou a ser visto como uma desordem que acompanhava o indivíduo até a vida adulta. Existem muitos estudos que procuram comprovar que esse transtorno de fato existe e que vem sendo descrito há muito tempo, desde o século XIX, já existem descrições sobre o mesmo. Há também estudos epidemiológicos mostrando que existem taxas semelhantes de TDAH em vários países do mundo, independentemente da cultura em que estão inseridos os sujeitos, as taxas parecem semelhantes, conforme afirma a psiquiatra Rosário em entrevista concedida a Veja (2013, texto digital). Trago para essa discussão também o texto “TDAH é uma doença inventada”? Escrito em setembro de 2010 para o site da Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA). Além de trazer as dúvidas existentes sobre o distúrbio, o autor do texto, o Presidente do Conselho Científico da ABDA, Paulo Mattos, levantou alguns pontos que também confirmam a existência do TDAH. No entanto, ele afirma que, ainda existe uma outra questão que está por trás desse distúrbio, é a situação da indústria farmacêutica. Há informações de que esse distúrbio tenha sido criado com o intuito de vender remédios. Matos (2014) questiona: será que a Organização Mundial da Saúde, que não possui nenhum vínculo com estas indústrias, “listaria o transtorno como parte dos diagnósticos da 12 classificação internacional das doenças, não só na sua última versão (CID-10), como também nas anteriores (CID-8 e CID-9)”? (MATTOS, 2014, s/p1). O autor finaliza o seu texto com uma pequena crítica, falando que em todo contexto, sempre houve pessoas “com pouco espírito crítico embora bem intencionados e espertos mal intencionados na história da medicina” (MATTOS, 2014, s/p). Existem divergências sobre a existência do transtorno por alguns profissionais da psicologia, embora a maioria dos profissionais da área acredite na sua existência, muitos afirmam que sua causa é o próprio diagnóstico. E em relação ao diagnóstico, muitas áreas se entrelaçam ao falar sobre o mesmo, havendo controvérsias dentre elas. A atual nomenclatura do TDAH foi instituída em 1994 pela American Psychiatric Association, com a publicação da quarta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais (DSM-IV). Em décadas remotas, outras nomenclaturas já haviam designado um quadro clínico semelhante: “reação hipercinética da infância”, “dano cerebral mínimo”, e posteriormente, por não serem detectadas anomalias na estrutura cerebral dos indivíduos acometidos pela doença, passou a se chamar “disfunção cerebral mínima” (CALIMAN, 2010). Richter (2012, p. 48) pontua que historicamente: Até 1980, a hiperatividade era vista como um transtorno típico da infância cujos sintomas tendiam a desaparecer após as crianças entrarem na adolescência, que eram a agitação exagerada e a impulsividade. A revisão do DSM, e a consequente ampliação da quantidade de transtornos e expansão dos critérios de diagnósticos dos transtornos já existentes, culminaram na publicação da terceira edição do manual em 1980. Os critérios da hiperatividade foram ampliados e passaram a incluir também a desatenção como um de seus sintomas. A partir destes dados iniciais, parto agora para informações específicas sobre o diagnóstico do TDAH, e no capítulo sequente, trarei as características que “definem” uma criança hiperativa, como o transtorno pode ser detectado, seu tratamento, opiniões de diferentes áreas em relação a esse distúrbio, passando pelo contexto familiar e escolar. 1 Artigo disponível no site: <http://www.tdah.org.br/br/textos/textos/item/223-tdah-%C3%A9-uma- doen%C3%A7a-inventada?.html>. 13 3 QUESTIONANDO O DIAGNÓSTICO Conforme mencionado anteriormente, existem divergências sobre a existência do transtorno e inclusive o diagnóstico é apontado como uma das “causas de produção” do TDAH. Esmiuçarei aqui algumas diferenças sobre a compreensão do mesmo em diferentes áreas. Rocha, Carvalho e Pacheco (2010) pontuam que para a Pedagogia, o TDA/TDAH está relacionado às dificuldades nas percepções e, consequentemente, na aprendizagem. A Psiquiatria explica como sendo um excesso de atividade motora, impulsividade e ausência de atenção. A abordagem comportamental por sua vez procura diagnosticar o transtorno “(...) a partir de uma avaliação do comportamento no ambiente, e analisando quais as situações em que os sintomas aparecem” (Ibid., p. 52). Tanto para a neurologia quanto para a psiquiatria, o TDA/TDAH são explicados como possíveis disfunções do sistema nervoso central. O neuropediatra Schwartzman, em uma entrevista para revista Época (2006), afirma não ter dúvidas sobre a existência do TDAH, mas acredita que estamos discutindo a questão errada, pois o problema é que existem diagnósticos malfeitos e pessoas com transtorno, mas sem diagnóstico. Muitas crianças tomam a Ritalina2, sem ter TDAH, em casos que, segundo Schwartzman (Ibid.), o problema poderia ser resolvido com mudanças nas atitudes 2 Ritalina é um medicamento fabricado pela empresa Novartis, é o nome comercial do metilfenidato, um tipo de estimulante do sistema nervoso central que faz parte do grupo de fármacos conhecidos como psicoestimulantes. Esse medicamento foi disponibilizado para venda a partir de 1955 e é utilizado no tratamento de sintomas do TDAH. 14 familiares, através de escolas menos rígidas e de tratamento psicopedagógico. Talvez estes usos abusivos e desnecessários expliquem o porquê das vendas triplicado no Brasil nos últimos cinco anos. Entretanto, outra questão que está atrelada ao TDAH são as variáveis do diagnóstico, que podem ser diferentes de acordo com a cultura de cada país. Nos EUA, por exemplo, as pessoas diagnosticadas com TDAH acabam sendo rotuladas como “sujeitos anormais”, devido ao impacto econômico negativo causado por estes indivíduos. Sendo elas também vítimas desses discursos, pois são vistos como um setor de risco da sociedade (CALIMAN, 2008). Esse problema é visto com seriedade pelo povo americano que destinou até um dia oficial, sendo o dia 7 de setembro, o dia da Consciência Nacional sobre o TDAH. Segundo a resolução 370 de 2004 nos Estados Unidos, o TDAH abrangia 3 a 7% das crianças e adolescentes em idade escolar (2 milhões ) e 4% dos adultos (8 milhões) (CALIMAN, 2008). Um dos motivos destes números tão elevados são os interesses econômicos que se formaram em torno do TDAH. Hoje existe uma indústria em volta desse problema, em setembro de 2004, a revista The Economist (apud CALIMAN, 2008) trouxe dados de que pelo menos 40 novas drogas farmacêuticas já estavam sendo desenvolvidas. Como já me referi anteriormente no texto, devido às diferentes áreas envolvidas, acabam por surgir também diferentes diagnósticos, havendo controvérsias entre os profissionais, porém grande parte destes acredita no tratamento com fármacos, como uma forma de controlar esses indivíduos. Dentro deste panorama trago, ainda, para esta discussão, uma reportagem de Marilyn Wedge (2013, texto digital), em que podemos fazer comparações de como é visto o TDAH na França e nos Estados Unidos, pontuo alguns dados interessantes a serem pensados. A reportagem traz como título um questionamento “Por que as crianças francesas não tem déficit de atenção”? Nos Estados Unidos, pelo menos 9% das crianças em idade escolar foram diagnosticadas com TDAH, e estão sendo tratadas com medicamentos, enquanto que na França essa porcentagem é inferior a 0,5%. Cabe aqui questionar o porquê dessas diferenças tão gritantes. 15 Nos Estados Unidos, os psiquiatras pediátricos consideram o TDAH como um distúrbio biológico, com causas biológicas, sendo o tratamento também biológico, com medicamentos estimulantes como a Ritalina. Por outro lado, os psiquiatras infantis franceses veem o TDAH como uma condição médica que tem causas psicossociais e situacionais, em vez de tratarem os problemas de concentração com medicamentos, preferem avaliar o problema subjacente que está causando o sofrimento nesta criança, não o cérebro da criança, mas o seu contexto social. Esta é uma maneira diferente de ver as coisas, se comparada aos americanos que atribuem todos os sintomas de uma disfunção biológica a um desiquilíbrio químico no cérebro da criança. Segundo Druckerman (apud WEDGE, 2013, p. 2), é a maneira como os pais educam seus filhos. Na França os pais oferecem uma “matriz” ou “estrutura” desde o seu nascimento, por exemplo, não é permitido que a criança tome um lanche quando quiser, as refeições são em quatro momentos do dia. De acordo com Druckerman (Ibid.), as crianças aprendem a esperar pacientemente a refeição, tendo uma visão diferente de disciplina. Limites aplicados de forma coerente fazem as crianças se sentirem seguras e felizes na visão francesa. Diante desses pontos, ela acredita que faz todo sentido que as crianças francesas não precisem de medicamentos para controlar seu comportamento porque aprendem o autocontrole no início das suas vidas. Para a área da Educação estas questões são interessantes para pensarmos na “produção” dos sujeitos hiperativos na contemporaneidade. Em certa medida, é como se o “desejado controle” dos corpos infantis pudesse ser garantido mediante um diagnóstico ou um medicamento. Os remédios não eliminam o TDAH. Mas a Ritalina, um dos medicamentos mais utilizados, tende a ajudar a criança a melhorar sua atenção e seu desempenho escolar. Esses medicamentos, em geral, são recomendados para crianças maiores de cinco anos, após um diagnóstico exato e acompanhado do tratamento psicopedagógico apropriado, como destaca Orjales (2007). A autora ainda afirma que são vários fármacos utilizados, mas hoje o metilfenidato é o recomendado pelo Comitê de Fármacos da Associação Americana de Pediatria, por não ter efeitos colaterais graves (apenas uma certa dificuldade para iniciar o sono e redução do 16 apetite) e ser efetivo em 70 ou 80% das crianças (CABANYES; POLAINO- LORENTE apud ORJALES, 2007). Estudos recentes contradizem esta afirmação sobre os efeitos colaterais. Em uma reportagem do jornal Bem Estar de novembro deste ano foi divulgado, por exemplo, que: [...] o diagnóstico e o tratamento medicamentoso de TDAH agora pode ser dado somente para crianças acima de 12 anos. Na edição anterior do Manual de Psiquiatria DSM a idade mínima para tratar era 7 anos. Os danos do uso de medicação indevida em crianças foi tamanho que os psiquiatras recuaram e mudaram esse ponto no Manual (BEM ESTAR, 2013, p. 9). Ainda nesta mesma linha, segundo Pastura e Mattos (2004, apud RICHTER, 2012, p. 38): [...] o medicamento ameniza os sintomas durante cerca de até quatro horas após ser ingerido, podendo apresentar reações adversas como perda de apetite, cefaleia, náuseas, insônia, taquicardia, tonturas, vômitos, psicose e, em alguns casos, perda de peso e diminuição do crescimento, possivelmente em função da perda de apetite ocasionada pelo medicamento. Percebemos que o tratamento medicamentoso e suas reações podem prejudicar a formação das crianças em vários sentidos, sendo necessário repensar algumas práticas em torno do medicamento Ritalina. Destacaremos aqui alguns aspectos sobre a Ritalina retirados de uma reportagem da revista Veja (fevereiro de 2013), na qual é relatado o aumento do uso do medicamento para o tratamento do TDAH entre crianças de 6 a 16 anos, e cuja prescrição tem relação direta com as atividades escolares. A prescrição cai durante as férias escolares, tendo um aumento no segundo semestre, ou seja, quando as crianças voltam às suas atividades, conforme relata o presidente da Anvisa, Dirceu Barbano. Assim, o professor é peça chave para o tratamento, pois ele ajudará o médico a regular a dosagem, já que o efeito da medicação dura somente o período escolar, e ele é o único que poderá informar sobre a recuperação da criança (ORJALES, 2007). O que sabemos através das pesquisas é que a maioria dos adultos usa este medicamento como potencializador cerebral. Ou seja, para além das crianças, esses medicamentos também são usados pelos CEOs (diretores executivos) das 17 empresas mais famosas do mundo, soldados americanos e franceses. Também acadêmicos e pessoas que buscam a otimização da atenção (CALIMAN, 2008). De acordo com estas observações, se uma pessoa “normal” faz uso desses medicamentos como forma de melhorar sua performance cerebral, podemos supor que pessoas diagnosticadas com TDAH não são pessoas “doentes”, porém com dificuldades de concentração se comparadas com as pessoas ditas “normais”. E aqui chegamos a uma indagação importante: o que realmente estamos pensando em relação aos nossos alunos? Será que não estamos rotulando nossas crianças, ao invés de repensar algumas questões? Parece que estamos sempre as comparando umas com as outras, buscando algum problema, algo de errado para culpá-las. Será que não estamos também buscando algum motivo para alguns de nossos fracassos? Por que não despertar nesse nosso aluno, o real interesse nos assuntos tratados em sala de aula? Será que também não cabe a nós parar um pouco e pensar onde está o erro? Se é que realmente existe o que poderíamos chamar de erro. Outra consideração que nos permite repensar nossas atitudes, são as transformações pelas quais a sociedade vem passando e o reflexo disso para as crianças, que também sofrem com as mudanças. Se antes o professor era o centro de tudo, o dono do saber, e as crianças não tinham opinião própria, o que ocorre hoje é que elas já trazem consigo uma bagagem de casa, com diferentes personalidades e vivências. Cada um possui uma cultura diferente e moldar estes diferentes alunos já não é mais tarefa fácil como era antes, e por esses motivos muitas vezes acabamos por não conseguir “homogeneizar” todos da mesma maneira e aqueles tidos como “diferentes” da turma acabam se tornando os “anormais” aos olhos dos professores. Mas se esses alunos vêm de culturas e educação diferentes, será que realmente são anormais por se comportarem de maneira diferente, ou é o modo de ser de cada indivíduo? Em contrapartida a estas observações, trago a seguir algumas informações obtidas a partir de uma reportagem do Globo Repórter, exibida em 21/09/2009. Podemos perceber que o tema do TDAH está presente nos mais variados meios, 18 desde reportagens em revistas de grande circulação (Época, Veja) e em programas de grande audiência como o Globo Repórter3. Segundo a psiquiatra Ana Beatriz (especialista entrevistada pela equipe do programa), o TDAH não é um distúrbio que acontece de uma hora para outra, ou seja, não é por qualquer falta de atenção que possa surgir de repente alguém diagnosticado com TDAH. Pois o distúrbio, segundo a especialista, não se desenvolveria culturalmente, com o passar do tempo, mas trata-se de algo orgânico e genético, ou seja, a criança já nasceria com o TDAH. Embora o TDAH não possa se originar culturalmente (segundo a psiquiatra entrevistada), torna-se pertinente questionar que, se existem executivos, ditos pessoas normais, utilizando estes medicamentos para potencializar a concentração, será que todas as pessoas diagnosticadas são realmente portadoras de TDAH? Se sim, quem são os normais da nossa sociedade? Deixo aqui esses questionamentos para repensarmos nosso modo de enxergar nossos alunos em sala de aula. O que podemos perceber é que cada vez mais as crianças vêm sendo diagnosticadas com TDAH, e é muitas vezes na escola que esse transtorno é observado, pois a tendência é que essas crianças permaneçam maior tempo na escola do que em ambiente familiar. Conforme Freitas (2011, apud RICHTER, 2012, p. 36): [...] muitos dos problemas antes considerados como questões do domínio da educação escolar, como a indisciplina, a distração, a inquietude, e que a escola não assume mais como seus, tem sido transferidos a outros domínios, como as da medicina, psicologia, psiquiatria, neurologia. Outra questão a ser considerada, é que na sociedade contemporânea está mudando a forma como os alunos vêm chegando às nossas escolas. Para além de particularidades culturais e do indivíduo conforme referido anteriormente, alertamos para a presença de todos os artefatos midiáticos que estão presentes na vida das crianças desde muito cedo, espalhados nas ruas, em casa e nos mais variados espaços públicos. Com os variados aparatos midiáticos e tecnológicos as crianças já vêm acostumadas a toda essa profusão material, mesmo antes de entrarem no meio 3 Globo Repórter é um programa da Rede Globo, exibido semanalmente desde o ano de 1973, e sua melhor audiência em 2013 foi de 1.600.000 domicílios, medida na Grande São Paulo. 19 escolar elas já dominam os aparelhos eletrônicos, muitas vezes com mais facilidade do que nós adultos, e tudo isso tende a refletir em sala de aula. O que acontece é que os professores têm a difícil tarefa de “competir” com toda essa tecnologia, tendo o grande desafio de proporcionar a essas crianças aulas atrativas. Mas isso muitas vezes não acontece em determinados meios escolares, deixando o aluno desinteressado nas aulas, o que causa também muitas vezes a desatenção, sendo este um dos princípios básicos a serem observados em crianças com TDAH. Ou seja, os alunos “desatentos” podem ser precocemente encaminhados para um diagnóstico de TDAH. Segundo Bujes (2006, apud RICHTER, 2012, p. 36), “[...] há alguns indivíduos que nem o confinamento, nem a vigilância conseguem controlar”. Esses indivíduos que não conseguem acompanhar a turma e se dispersam com facilidade, são diagnosticados como sendo portadores do TDAH. A partir destes dados iniciais, parto agora para informações específicas sobre o TDAH, como as características que “definem” uma criança hiperativa, como o transtorno pode ser detectado, seu tratamento, opiniões de diferentes áreas em relação a esse distúrbio, passando pelo contexto familiar e escolar. 20 4 COMO IDENTIFICAR A CRIANÇA HIPERATIVA O TDAH pode ser identificado por pais e professores, os três princípios básicos a serem observados são: a desatenção, a hiperatividade e a impulsividade. As crianças que possuem desatenção acabam por desenvolver dificuldades em realizar tarefas escolares, é fácil de perder sua concentração, não costumam terminar suas tarefas em casa destinada a elas, não gostam de participar de atividades propostas que envolvam esforço mental, são desorganizadas perdendo seus pertences com frequência. Se estão na frente da TV costumam não responder quando lhe dirigem a palavra, parecendo estar sempre com a cabeça “no mundo da lua” (ARGOLLO, 2003, p. 198). A hiperatividade leva a criança a agitar as mãos ou os pés ou se remexer na cadeira, a abandonar sua cadeira em sala de aula ou em outras situações na qual se espera que permaneça sentado (“na sala de aula toda hora pede pra ir ao banheiro”), a correr ou escalar em demasia, em situações nas quais isso é inapropriado (“enquanto esperava para ser atendido, estava correndo nos corredores”), a ter dificuldades em brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazer (“é muito barulhento, quando chega da escola parece que entrou em casa 10 meninos”) a estar frequentemente “a mil”, ou “a todo vapor”, e falar demais (“me cansa de tanto falar”) (ARGOLLO, 2003, p. 198-199). A impulsividade assim como a desatenção desenvolve certos comportamentos nas crianças que acabam respondendo as perguntas que as pessoas fazem antes de as perguntas serem completadas. Tendem a ter dificuldades em se relacionar com outras crianças, pois não sabem esperar a sua vez na hora de andar em um brinquedo, não sabem respeitar as regras dos jogos querendo sempre ganhar, interferem nas brincadeiras das outras crianças sem serem chamados causando tumultos (ARGOLLO, 2003). Para que este diagnóstico seja identificado, é preciso que as crianças apresentem estes sintomas acima citados antes dos 7 anos de idade, com duração 21 de pelo menos 6 meses, e que pelo menos 6 sintomas, tanto de desatenção como de impulsividade sejam encontrados em dois contextos sociais, familiar ou escolar. Outros procedimentos necessários para esse diagnóstico são conversas com pais e professores e as informações que eles passam a respeito do comportamento da criança e suas atitudes em casa e na escola, inclusive a própria criança participa desse processo (ARGOLLO, 2003). Dentro desse panorama trago, ainda, um ponto em relação ao diagnóstico. Entre os questionários mais populares e mais utilizados em pesquisas a fim de avaliar a hiperatividade infantil, Orjales (2007) aponta os questionários de Conners (1969). Estes questionários, no entanto, recebem críticas por sua carga comportamental e sua menor eficácia para a detecção de crianças cujo peso sintomatológico recai no déficit de atenção. Por isso, no ano de 1997, Farré-Riba e Narbona elaboraram uma versão castelhana das escalas de Conners, A Escala Escolar de Conners Revisada. Trata-se de uma escala com 20 itens, em fase experimental, que permite avaliar de forma conjunta ou separada o déficit de atenção, a hiperatividade/impulsividade e o transtorno de conduta (ORJALES, 2007, p. 301). As formas de tratamento podem ser várias, mas tendem a iniciar-se com psicoterapias e fármacos, também se procuram realizar intervenções a respeito da vida social, realizando conversas com pais, sobre como colocar em ação algumas estratégias, para ajudar a lidar com os seus filhos. Os professores passam pelo mesmo processo recebendo orientações sobre como organizar a sala de aula para receber um aluno com TDAH, procurando tarefas curtas, explicações curtas, para cada parte da atividade a ser executada. Existem por exemplo, algumas tarefas e outras atividades físicas que tendem a auxiliar o professor a controlar a criança, deixando-a no seu controle emocional (ARGOLLO, 2003). Em alguns casos, de crianças que possuem alguma dificuldade de aprendizagem, faz-se, necessário o acompanhamento com uma psicopedagoga. Já em casos mais extremos em que as crianças apresentam morbidades relacionadas aos seus problemas como, por exemplo, a depressão, ansiedade e comportamentos disruptivos, é importante que haja um acompanhamento terapêutico tanto para a família como para a criança. Quando a terapia está associada a um ambiente bem estruturado pode-se permitir doses menores de medicamentos (ARGOLLO, 2003). 22 O contexto familiar é muito importante para uma criança com TDAH, pois os pais são a segurança que a criança precisa. O comportamento dos pais diante das crianças tem grande influência na melhora ou no agravamento das atitudes dos portadores de TDAH. É preciso, acima de tudo, ter um ambiente familiar estruturado, onde essas crianças tenham regras bem definidas, que ao mesmo tempo em que saibam como exigir certas atitudes, saibam também reconhecer seus esforços e para isso. É preciso, acima de tudo, um ambiente acolhedor, calmo, e principalmente, muito afetivo (ORJALES, 2007). Para além da família, com o intuito de problematizar as questões que dizem respeito mais especificamente às ações escolares, entrevistei algumas professoras e analisei as suas percepções e conhecimentos sobre o TDAH. Na sequência trago maiores detalhes sobre a metodologia de pesquisa adotada. 23 5 PERCEPÇÕES DE PROFESSORAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL SOBRE O TDAH Como um exercício inicial, um “projeto-piloto”, apliquei questionários4 com cinco professoras de uma Escola de Educação Infantil da cidade de Lajeado/RS. O motivo da escolha desta escola se deu pela mesma ser meu ambiente de trabalho, assim como pela proximidade com as colegas, o que proporcionou maior abertura para responder o questionário que trago a seguir. Um dos critérios para a escolha das professoras foi à idade e seu tempo de atuação na área da Educação Infantil, pois acreditei que, pelo fato de possuírem uma trajetória maior na área da Educação, também tivessem uma gama maior de vivências com situações que envolvem crianças com TDAH ou rotuladas como hiperativas. Tendo em mãos algumas das respostas das educadoras que aceitaram 5 participar da pesquisa, procedemos a uma breve análise, procurando pensar o papel da escola e dos professores nos encaminhamentos e diagnósticos de TDAH. Ao realizar as entrevistas, percebi que nos primeiros momentos, as professoras ficaram com um pouco de receio, pois logo se sentiram na obrigação como professoras, de responderem corretamente, trago a seguir um apanhado geral em relação às respostas que apareceram. 4 As perguntas do questionário encontram-se na íntegra no Anexo B. 5 Foram entregues termos de consentimento aos participantes, que se encontram na íntegra no Anexo A. 24 A professora entrevistada A (35 anos) 6 , logo de início relatou que não conhecia muito sobre o assunto, mas pelo que escutava falar era um déficit de atenção, concentração, dificuldades para ficar quieto, necessitando o corpo estar mais em movimento, dificuldades de aprendizagem. A professora B (39 anos), em sua entrevista, também acrescentou ser um déficit de atenção, que se baseia nos sintomas de desatenção, quando uma pessoa é muito distraída e de hiperatividade quando uma pessoa é muito ativa, agitada além do comum, concluindo que só é hiperatividade quando intervém significativamente na vida e desenvolvimento normais da criança.7 A professora C (46 anos), entende que a criança hiperativa não consegue conter seu corpo parado em momentos em que a atividade exige, se balançar se está sentado na cadeira, ou procura algo para poder movimentar suas mãos e corpo. Mostra-se angustiada quando não consegue realizar tarefas, apresenta dificuldades de concentração, distraindo-se com facilidade. A professora D (27 anos), apenas mencionou que é uma doença em que todos sofrem muito, colocando uma experiência vivenciada em uma escola em que trabalhou, onde notou que havia uma criança de quatro anos com sintomas de TDAH, esta não tinha concentração, mudando de brinquedo e brincadeira a todo instante, desafiando a professora em todos os momentos, para concluir apenas completou: “Essa é uma situação muito complicada”. A professora E (47anos) e última professora entrevistada relatou que esse transtorno caracteriza-se por distração, agitação, impulsividade, esquecimento, desorganização. Uma criança ou um adulto que sofre desse transtorno tem dificuldades em manter a concentração, costuma ser muito agitada e tem dificuldades para fazer as coisas até o final, tendo com isso problemas de aprendizagem. Destacando ainda que é comum encontrar esses sintomas em crianças, porém é essencial o diagnóstico correto para separar o caso de crianças que estão simplesmente agindo conforme sua idade, das que realmente precisam de ajuda de um profissional ou de medicação, por fim afirmou que se os sinais de 6 Para garantir o anonimato das professoras participantes da pesquisa, as mesmas foram identificadas por A, B, C, D e E, e a respectiva idade entre parênteses. 7 As respostas, ao serem reproduzidas, tal qual as entrevistadas obtidas, estão destacadas em itálico. 25 desatenção, hiperatividade e impulsividade já vem se prolongando por vários meses, pode ser um alerta para procurar um médico. Ao concluir as análises dos questionários, percebi que das cinco professoras entrevistadas, três delas em suas respostas utilizaram-se do uso das mesmas expressões como “déficit de atenção”, “desatenção”, “agitada”, “movimentar o corpo”. Diante disso podemos perceber que a maioria das professoras pensa a respeito do TDAH apenas como algo que caracteriza as crianças como muito agitadas, necessitando estar a todo o momento com o corpo em movimento. Da mesma forma, as crianças com pouca concentração já parecem ser caracterizadas com hiperatividade. O que não mencionaram nos questionários é que esses sintomas também precisam aparecer no contexto familiar, necessitando de uma conversa com as famílias envolvidas, sendo necessário permanecer esses sintomas pelo menos por mais de seis meses. Em relação a outros dois questionários, uma delas apenas comentou sobre uma experiência que uma colega passou, afirmando que a professora em questão não sabia como agir, não respondendo realmente o que entendia por TDAH. Acredito que na verdade essa professora não tinha muito conhecimento sobre o assunto, o mesmo ocorreu com uma das professoras que na preocupação em responder a questão de maneira correta, pesquisou em sites relacionados ao TDAH, para então responder a pergunta. A partir desta breve análise penso que algumas professoras manifestaram em suas falas algumas informações sobre o TDAH, as quais podem ser obtidas em rodas de conversa com professores, ou revistas e programas de televisão, conhecendo alguns dos sintomas ditos “populares”, que muito escutamos falar. Pensando nisso, o que ocorre, é que muitas vezes por os alunos desenvolverem apenas um ou dois desses sintomas, já são encaminhados para um diagnóstico. Para prosseguir nestas discussões, tomaremos como base autores que dialogam com a perspectiva de Michel Foucault (1997) e as novas formas de controle e disciplinamento dos corpos. 26 6 TRATAMENTO OU CONTROLE DOS CORPOS? A escola da contemporaneidade tem como estratégia, disciplinar com auxílio de novas formas de controle os seus alunos, nesse sentido contam com instrumentos tecnológicos para ajudar a disciplinar o grupo. Segundo Rocha (apud RICHTER, 2005, p. 35): “[...] a presença de equipamentos, a fim de prevenir ou constranger atos de violência, furtos, brigas, ou algazarra, denota uma mudança de ênfase dos dispositivos disciplinares para os dispositivos de controle”. Michel Foucault (1997) apresenta elementos de controle e disciplinamento dos corpos constituídos historicamente em sua obra “Vigiar e Punir”, no qual elenca três fatores desse poder disciplinar: a vigilância hierárquica, sanção normalizadora e o exame. Esta vigilância se dá como forma comportamental, os próprios integrantes desse sistema que alimentam o controle, ou seja, são delegados poderes de vigilâncias e controle sobre os indivíduos, aos próprios integrantes. Atualmente podemos perceber esse controle cada vez mais individualizado. No espaço escolar, por exemplo, a disciplina que mais se deseja alcançar é a autodisciplina, ou seja, a disciplina que parte do próprio sujeito, antes disciplinado com coações externas. No entanto, a sanção normalizadora cria uma disciplina que age como uma forma de punição mascarada, qualificando um conjunto de comportamentos, existindo uma forma de troca. Esses comportamentos, sejam eles inadequados ou não, acabam por classificar os indivíduos de forma individualizada, agindo como uma forma de recompensa ou punição. 27 Pela palavra punição, deve-se compreender tudo o que é capaz de fazer as crianças sentirem a falta que cometeram, tudo o que é capaz de humilhá- las, de confundi-las: uma certa frieza, uma certa indiferença, uma pergunta, uma humilhação, uma destituição de posto (FOUCAULT, 2013, p.172). E o exame complementa esse sistema de vigilância e controle dos corpos, sendo este representado por provas, que acabam por classificar os integrantes de forma individualizada de acordo com suas aptidões. Como me referi anteriormente, partimos desses conceitos para analisar como atualmente alguns desses mesmos discursos fazem parte das práticas do nosso sistema escolar. Encontramos escolas que ainda classificam turmas por suas aptidões, moldando os alunos conforme o seu regime e muitas vezes, punindo quem foge a regra, classificando-os. Existe uma fiscalização e uma nova forma de controle dos corpos, como sistemas de vigilância, e que faz de nós, sujeitos pertencentes a essa sociedade, muitas vezes os próprios responsáveis por este sistema repressor. Percebemos ainda, que a escola contemporânea conta com o auxilio destas novas formas de controle, para auxiliá-la a disciplinar o grupo. É uma forma de vigilância invisível, sendo esta mais eficaz do que as antigas formas de coerção. Os alunos que mesmo com toda a vigilância da contemporaneidade não conseguem obedecer às regras são dispersos em atividades que exigem maior concentração, não param deslocando-se a toda hora de um lado para outro, assim como também não esperam a pergunta terminar, para então responder. Esses alunos vêm sendo classificados como portadores do TDAH e o que a maioria dos especialistas recomendam, é o uso de fármacos que operam na direção de controlar seus corpos (RICHTER, 2012). Rose (2007) observa que as estratégias de controle estão adquirindo novas formas, sob duas vias. Uma delas se dá a partir da necessidade de entender as condições que levam à conduta desviante no sentido de identificar os indivíduos propensos e a intervir sobre eles a fim de reduzir o risco que representam para as suas famílias e comunidades. A outra via é condicionada pela necessidade de proteção da população das ameaças que a saúde física e mental desses indivíduos e de suas ações representam para a sociedade e eles próprios (RICHTER, 2012, p. 54). Baseada em Lima (2007), Richter (2012) afirmam que o uso dos psicofármacos não é visto só como uma forma de controle, mas também como um meio de adquirir maior eficiência, de superar o “humano”. O que mais se tem percebido em nossa sociedade é que estamos sempre utilizando de fármacos para 28 tudo, ou para melhorar nossa atenção, para mantermo-nos acordados para executar alguma tarefa, para superar alguma tristeza ou estado de desânimo, enfim, sempre fazendo uso de alguma droga para potencializar nossas capacidades. A utilização dessas drogas, dentre elas a Ritalina, por um número crescente de pessoas representa a adesão a “métodos de controle cada vez mais de coerção aparentemente não violenta” (ROSE apud RICHTER, 2012, p. 39). Estas questões serão aprofundadas nos próximos capítulos, junto a maior quantidade de material empírico coletado na segunda parte da pesquisa. 29 7 PRIMEIRAS CONSTATAÇÕES Tendo em vista essas primeiras considerações, vejo que ocorrem muitos equívocos quando falamos a respeito desse assunto, a começar pelos diagnósticos. Podemos perceber que existem sim alguns diagnósticos equivocados, e que muitas crianças estão usando a Ritalina (medicamento mais utilizado para o tratamento) sem ter real necessidade, tendo um grande movimento da indústria farmacêutica contribuindo para esse aumento do diagnóstico. Ao realizar meu projeto piloto, percebi que algumas professoras sentem receio ao falar sobre o TDAH, por não ter muito conhecimento sobre o assunto, concentrando-se apenas sobre seus principais sintomas. Visto que a Educação Infantil é uma fase ainda muito recente para se detectar uma criança com TDAH, como também não é aconselhável essa avaliação nesta fase, motivei-me a sair em busca de como esse tema também vem sendo percebido por profissionais que atuam em escolas de Ensino Fundamental, no caso desta pesquisa, da rede municipal de ensino, do município de Lajeado. O meu objetivo era poder estabelecer relações a partir dos conhecimentos sobre este distúrbio, vivenciando também como é a realidade de uma criança portadora do TDAH, tendo assim, contato maior com esta realidade. 30 8 OBSERVAÇÕES SOBRE O TDAH EM UM ESPAÇO ESCOLAR A escolha da escola para a realização do trabalho de campo ocorreu a partir da prática de Estágio Supervisionado dos Anos Iniciais I, momento no qual tive a oportunidade de observar e obter algumas informações sobre crianças com TDAH que se encontram na instituição. Quando entrei em contato com a escola para realizar a pesquisa, fui muito bem recebida pela coordenação da instituição. Conversei primeiramente com a coordenadora explicando o propósito de minha pesquisa, em seguida ela me conduziu à orientadora educacional (responsável por casos específicos, que necessitam de algum acompanhamento, essa profissional permanece na escola dois dias da semana). Num primeiro momento, ela foi muito aberta em falar sobre alguns casos encontrados na escola, o que me deixou muito motivada, pois, após algumas situações que a orientadora descreveu, senti que minha pesquisa teria muitos aspectos importantes a serem pensados. Porém, no dia marcado para a entrevista, apesar de ressaltar as questões éticas de anonimato dos participantes e do uso estritamente acadêmico dos dados, a orientadora8 resistiu em dar uma entrevista com o uso de um gravador, então combinamos de realizá-la em forma de questionário9. Ao recebê-lo de volta, me senti frustrada de certa forma, pois o que a orientadora havia trazido informalmente na 8 Foram entregues termos de consentimento à orientadora e a professora, que encontram-se na íntegra no Anexo C. 9 As perguntas do questionário encontram-se na íntegra no Anexo D. 31 primeira conversa, estava distante do que encontrei em suas respostas. Os motivos eu desconheço, talvez ela tenha ficado com medo de se comprometer. Em um segundo momento, voltei para a escola para então realizar as observações em uma turma de quinto ano, onde, segundo a orientadora havia pelo menos três crianças, uma com diagnóstico de TDAH, e as outras duas com algum outro tipo de problema neurológico, de acordo com parecer médico encaminhado para a escola, e que faziam o uso do medicamento Ritalina. Outros percalços aconteceram em relação a esta observação, pois a orientadora me informou que era uma turma muito difícil e que poderiam se agitar mais com minha presença, então ofereceu outro grupo para ser observado. Decepcionei-me mais uma vez pelo fato de ver por vezes inviabilizada a minha pesquisa de campo, mas penso que como pesquisadora, não posso me acomodar e esperar que tudo que planejei dê certo, percalços acontecem, que sirvam de aprendizado para seguir adiante. Afinal, trata-se da mobilidade da pesquisa, assim como percorremos diferentes caminhos de referenciais teóricos, esses muitas vezes conduzidos por outros autores, a pesquisa de campo e claro, também a análise são perpassadas por incertezas e percalços. Com essas considerações e descrições iniciais da inserção no espaço da pesquisa de campo, relato alguns dados da escola observada, assim como, uma breve análise das entrevistas estruturadas, que realizei na Escola de Ensino Fundamental, do município de Lajeado, com a Orientadora Educacional e com a professora do aluno observado. A escola observada conta com 451 alunos nos turnos da manhã, tarde e noite, sendo que na mesma escola há 10 alunos com laudo médico, 14 alunos com prescrição da medicação para TDAH e 23 alunos em outros tipos de atendimento (Cras, Creas, Laboratório de Aprendizagem). Ao realizar a entrevista com a orientadora educacional, ela levantou alguns pontos sobre os encaminhamentos realizados pela escola, assim como, a postura da família e da escola diante desse diagnóstico. 32 A Orientadora Educacional relatou que está neste trabalho há 2 anos, porém os encaminhamentos são constantes e fazem parte da rotina deste setor. Os encaminhamentos que são efetuados na escola são por diversos motivos, dentre eles estão, os problemas cujo foco está na família, características comportamentais que levam a crer que haja uma hiperatividade (TDAH), dificuldades na aprendizagem, sintomas de depressão, dentre outros. Ela acredita que o número de encaminhamentos tem aumentado, pois existem mais famílias que necessitem de intervenções, sejam elas mediantes conversação com profissionais especializados, atendimento psicológico, conselho tutelar, etc. O papel social da escola também faz com que gestores se sintam mais comprometidos na busca de uma melhoria da qualidade do ensino, o que acaba por ser prejudicado, se a criança não tiver o atendimento especializado de que necessita. Muitos pais buscam também fora do ambiente escolar (particular) profissionais especializados após conversarem conosco na escola sobre as dificuldades de seus filhos. Com essas palavras da orientadora podemos pensar sobre a necessidade do trabalho coletivo na resolução de problemas oriundos dos mais diversos meios. Mas pensando mais especificamente na figura do professor, retomo aqui o apontamento de Orjales (2007), autora que afirma que o professor é a peça chave para o tratamento, pois ele ajudará o médico a regular a dosagem, já que o efeito da medicação dura somente o período escolar, e ele é o único que poderá informar sobre a recuperação da criança. Este apontamento de Orjales (2007) nos faz pensar na extrema importância de haver essa troca entre a família e a escola, para melhor atendimento a este aluno, tanto na escola como em casa. Ao relatar como a escola tem lidado com esses encaminhamentos, afirma que a escola tem tido bastante trabalho quanto a isso. Após ouvirmos os professores (que geralmente são quem fazem a escuta), ouvimos o aluno, chamando a família, realizamos o encaminhamento, comentando que pode ser (somente uma conversa ou outro tipo de encaminhamento). Ficamos em contato com a família para acompanharmos o andamento dos atendimentos para trabalharmos em conjunto. Em muitos casos são realizadas reuniões com os Serviços para trabalharmos com 33 esse aluno como um todo, com suas especificidades, a fim de que ele tenha êxito em suas aprendizagens. Quando questionada sobre como a família age quando é convocada para conversar sobre o comportamento, explica que a família aceita muito bem essas intervenções. Há casos em que a família mesmo, após recomendação médica, não quer dar medicação. Em alguns casos, após três anos é que a família repensa e começa a dar a medicação. Nestes casos, é necessário reiniciar todo o encaminhamento novamente havendo uma perda considerável na aprendizagem. A posição da orientadora remete à dificuldade de alguns pais aceitarem e lidarem com filhos que apresentem algum problema de aprendizagem, o que envolve questões emocionais e de rótulos que já estão construídos socialmente. Ao responder o que a escola faz com o retorno dos encaminhamentos, afirma que a equipe diretiva juntamente com a psicopedagoga analisam os casos e as orientações repassadas pelo profissional que avaliou. As mesmas informações são repassadas ao professor que trabalha com este aluno para que tenha um auxílio para saber a melhor maneira de lidar com cada caso. Se necessário, é feito um currículo adaptado, observando o lugar que está disposto esse aluno na sala de aula, sendo feito também seguidamente um relato do professor, sendo necessária também, uma parceria com a família para acompanhar o desenvolvimento da criança em casa e na escola. Esta resposta nos faz pensar no “controle coletivo”, os estudos de Michel Foucault (2013) vêm ao encontro disso, ou seja, do aluno com laudo, que passa a ser um sujeito que será submetido a intervenções específicas, sobre o qual o “olhar está colocado”. Ou seja, é um aluno que passa a sofrer um forte investimento de poder, mediante análises, intervenções e avaliações constantes. Com o intuito de ouvir mais vozes que interagem com estes corpos a serem “controlados”, para além da orientadora, entrevistei também a professora do quinto ano. A professora entrevistada é formada em Pedagogia e trabalha na área há 25 anos, quando questionada sobre o que ela entendia por TDAH, ela relatou que é 34 uma criança inquieta, agitada, que necessita de bastante atenção e carinho para atingir um resultado satisfatório na sua educação. Em relação aos encaminhamentos médicos de crianças para diagnóstico, percebe de maneira satisfatória, verificando através destes tratamentos médicos, que ajuda bastante no resultado final. Observar o quanto, um encaminhamento, quando acompanhado de um diagnóstico, age como uma segurança para os professores em geral, que tendem a buscar os motivos da “não aprendizagem” de determinados alunos, transferindo o problema a outras áreas. Quando questionada se esses números de encaminhamentos têm aumentado e quais os motivos disso? Afirmou que “no nosso meio tá na média”, pois acredita que têm mais alunos tomando medicamento sem ter o TDAH, poucos com o laudo médico. Isso reflete a sociedade medicalizada em que vivemos hoje. Ou seja, independente de laudos médicos, a medicação é considerada a solução. Os medicamentos sobrepõem outras possibilidades de ação (terapêuticas), por exemplo. Em relação à segunda pergunta, “Quais os motivos desse aumento?” A professora entrevistada preferiu não dar a sua opinião. Ao responder a próxima pergunta sobre como a escola tem lidado com isso, referiu que tem visto esse problema com bastante atenção, para os mesmos não atrasarem no ensino aprendizagem, ou seja, há aqui a preocupação impregnada na escola moderna, a escola que deve ensinar em “completude” a todos. A escola que deve ensinar a todos da mesma forma. Ou seja, é necessário que os alunos aprendam todos da mesma forma, que atinjam os mesmos resultados para que possa se perpetuar o ideal “homogeneizador” da escola. A professora, ao responder a pergunta de como as famílias agem quando são convocadas para falar sobre o comportamento dos filhos, relata que em um primeiro momento com certa apreensão, mas na sequência aceitando que é melhor para seu filho. Me refiro aqui, sobre a postura da escola em relação a este convencimento, pois os pais muitas vezes por não terem um conhecimento mais especifico sobre esta área, acabam por confiar na orientação da escola. 35 Quando há um retorno dos encaminhamentos, a professora observa e verifica se o resultado está acontecendo. Em relação a sua postura diante de crianças que apresentam atitudes diferentes dos demais, procura dar uma atenção especial para as mesmas, para que atinjam os mesmos resultados dos outros. Para finalizar a última pergunta sobre como ela percebe seu comprometimento com as crianças encaminhadas, acredita que: procuro atingir o meu máximo para com as mesmas. Com base nessas respostas, penso que as questões de TDAH ainda são uma incógnita para muitos professores, que têm apenas o conhecimento informal, de rodas de conversas e muitas vezes não sabem como agir em sala de aula, diante de um aluno com esse comportamento. Ao realizar as entrevistas, principalmente com a professora da turma, percebi que ao ser questionada sobre assuntos referentes a alunos com TDAH e laudos médicos, senti certa insegurança por parte dela, também é inegável o quanto pode ter influenciado a minha figura de pesquisadora (a qual compreendo que não é neutra, por maior que tenham sido meus esforços nesse sentido). Ou seja, uma insegurança que talvez esteja refletindo um saber que é socialmente exigido, e que sabemos não está dado devido pluralidade de causas envolvidas. Analisando as falas da orientadora educacional, penso ainda sobre as questões dos diagnósticos. Se há vários alunos na escola com prescrição do medicamento Ritalina, sem ter o diagnóstico, como mencionou a orientadora educacional da escola, penso ser um dado preocupante, visto os efeitos colaterais que este medicamento causa. Retomo aqui as palavras de Pastura e Mattos (2004, apud RICHTER, 2012, p. 9) que afirmam: “o tratamento medicamentoso e suas reações prejudicam a formação das crianças em todos os sentidos, sendo necessário repensar algumas práticas em torno do medicamento Ritalina”. Acredito que a maioria dos pais desconheçam os efeitos colaterais que essas medicações causam em seus filhos, querendo apenas resolver o problema. Por outro lado, penso que as informações sobre os efeitos prejudiciais das medicações têm aumentado uma vez que, alguns pais, segundo uma das respostas da professora, têm resistido ao uso imediato dos fármacos. 36 Ainda sobre a mesma colocação da orientadora educacional, sobre o uso dos medicamentos sem diagnóstico, faço outro questionamento. Será que estes pais não poderiam resolver o problema de seus filhos, com conversas, mudanças na postura familiar, se envolvendo mais com o seu desenvolvimento, e tendo mais participação na vida escolar? O que se pode observar é que acabam aceitando, e muitas vezes, pedindo uma medicação para solucionar os problemas, assim não precisam ser questionados sobre suas posturas. Relembro aqui as palavras do neuropediatra José Salomão Schwartzman (2006, p. 11), “muitas crianças tomam Ritalina, sem ter TDAH, em casos que, segundo ele, o problema poderia ser resolvido com mudanças nas atitudes familiares, através de escolas menos rígidas e de tratamento psicopedagógico”. Não seria necessário parar e pensar mais no contexto das crianças? Procurar conversar com o corpo docente para encontrar outras alternativas, ao invés de procurar um medicamento para “mascarar” um outro problema? Pensar sobre estas questões me fez lembrar de uma experiência, que passei em meu trabalho, onde uma mãe foi chamada para conversar sobre o comportamento de seu filho, este relacionado a limites necessários para a fase em que se encontrava. A mãe ficou preocupada, porém explicamos o que era necessário: apenas mudanças em algumas atitudes, finalizando assim a reunião. Eis que, passados alguns dias, a mesma mãe veio ao meu encontro para levar o filho ao médico, até então uma ida normal, como consultas de rotinas. Porém, a mãe me fez a seguinte pergunta: “Profe, o que a senhora acha de pedir um remédio para ver se ajuda ele a se acalmar, porque tá muito difícil”. Logo pensei, é difícil dizer não a uma criança? É muito difícil tentar mudar? Para uma criança que só precisa de alguns limites que os pais precisam impor, por que precisamos achar remédios para tudo? É mais fácil se acomodar, mascarar as possíveis falhas, deixando que um remédio faça o seu papel de pai? Por que não tentar, persistir? Não vai ser de uma hora para outra que o comportamento irá mudar, é necessário todo um trabalho que exige tempo, para então perceber resultados. 37 Atitudes desse tipo me deixam preocupada, a tendência é sanar cada vez mais qualquer tipo de problema com algum fármaco. Vamos acabar querendo achar remédios para todos os nossos problemas. Onde vamos parar? Deixo estas questões para repensarmos a maneira como estamos encarando esses problemas, mais especificamente problemas de ordem educacional, pois, cada vez mais vemos os consultórios cheios de crianças encaminhadas. Esses, muitas vezes direcionados pela escola que acredita que o aluno possui algum tipo de dificuldade, sendo esta de aprendizagem ou concentração, e ainda, em outros casos, em que os pais por conta própria, buscam um auxílio profissional para sanar algumas atitudes de rebeldia. 38 9 OBSERVAÇÕES DE UM ALUNO COM TDAH: VIVÊNCIAS EM UMA SALA DE AULA A seguir relato algumas atitudes e diálogos, assim como algumas práticas que me fizeram pensar ao acompanhar e observar uma turma, na qual, segundo a orientadora, havia um aluno com TDAH. Eis alguns questionamentos que me mobilizaram: o que realmente importa no contexto escolar? A prática em sala de aula ou a forma como a apresentamos? Minha observação aconteceu com um aluno do primeiro ano da manhã, durante sete dias. Vamos adotar aqui um nome fictício para este aluno: Pedro. Quando está medicado, Pedro passa despercebido diante dos outros alunos, pois aparenta ser uma criança muito tranquila, amorosa. No entanto, é preciso deixá-lo sempre ocupado com alguma atividade, gostando de realizá-la rapidamente, o que faz a professora lhe dar logo outra, terminando sempre primeiro que os demais colegas. Nos dias que seguiram, o mesmo acontecia, a professora dava as folhas de atividades, ele realizava tudo rapidamente a sua maneira, porém, tudo correto segundo as correções da professora. Também não gostava muito de pintar suas atividades, ou quando realizava a sua pintura, fazia tudo muito rápido, às vezes usando apenas duas, no máximo três cores, acredito como sendo uma forma de terminar antes que as demais crianças, que geralmente ainda estavam começando a pintar. 39 Porém no recreio, as coisas mudavam um pouco, percebi que quase ninguém gostava de brincar com ele. Segundo a professora, é porque logo ele arrumava confusão e desentendimentos, então a maioria dos recreios ele passa brincando sozinho, sentado mexendo na areia, andando no balanço, em alguns momentos chutava a bola para alcançar para outros alunos que estavam jogando por perto. Todas as crianças da turma sabem da sua condição e de seu tratamento, então, em alguns momentos de desentendimento com algum colega, os alunos já falam para a professora: “Profe olha o Pedro, ele não tomou o remédio dele hoje”. A mesma professora ainda faz mais um questionamento: “Pedro, a mãe não te deu o remédio hoje”? Assim que vi este diálogo, pensei: deve ser um dia cansativo para todos; porém nos dias que seguiram, percebi que os mesmos atritos e questionamentos persistiram. Logo observei que esse aluno já está carregando consigo um rótulo. Questiono as implicações desse rótulo, e a postura da professora ao interrogar Pedro sobre a medicação. Ao ser entrevistada, a docente afirmou que procura “dar uma atenção especial para que [estes alunos] atinjam o mesmo resultado que os outros”, mas a sua postura frente a esse aluno foi nada mais que rotulá-lo como sendo o causador de desavenças. Penso que dar uma atenção especial não seria também colocar o aluno no centro de todos os desentendimentos, dando sempre razão para o resto da turma, que já acaba por culpá-lo de tudo o que acontece. E pelo que pude observar, Pedro nem sempre foi o causador dos desentendimentos acontecidos em sala de aula. Em outros dias, tive a oportunidade de observá-lo sem os efeitos da medicação, o que causou certa agitação na sala de aula. Não terminava suas atividades, derrubava seus materiais no chão a todo o momento, se jogava na sala se arrastando de um lado para o outro e assim que a professora chamava a sua atenção, voltava para a classe, mas por um curto período, e logo voltava a fazer as mesmas coisas. Nesse dia parecia ser outro Pedro, não aquele dos dias anteriores, parecia um pouco mais nervoso, agressivo com os colegas, por qualquer motivo batia nos mesmos. No recreio, o isolamento, assim como nos outros dias, o mesmo acontecia, 40 porém dessa vez, sem a medicação, Pedro queria impor sua presença nas brincadeiras, o que logo gerava uma confusão com os colegas, sendo necessária a intervenção da professora que cuidava do recreio nesses momentos. Com base nestas observações, pude perceber como é a realidade desse aluno com TDAH, como é o seu comportamento frente aos colegas de sala, a postura da turma em relação a ele, assim como pude perceber que, nem sempre o discurso de um profissional frente a uma pesquisadora condiz com as suas ações em sala de aula. 41 10 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao começar essa caminhada, primeiramente meu foco era saber o que realmente era o TDAH, visto que esse tema está cada vez mais se popularizando, tanto nas mídias, como em reuniões escolares entre pais e professores. Na verdade, o termo hiperatividade tornou-se popular, pois, escutamos a todo instante as pessoas se autodenominarem hiperativas, muitas vezes por se definirem como pessoas inquietas. Com base nos levantamentos bibliográficos, o meu principal foco na saída de campo era observar a realidade de um aluno com TDAH em um espaço escolar. No entanto, me deparei com mais crianças com este distúrbio do que imaginava encontrar. E o mais surpreendente foi o número de crianças que tomam a medicação sem ter o diagnóstico. A partir dessas observações, percebi que a realidade de um aluno portador de TDAH não é tão simples como parece, pois, percebi o quanto estes alunos estão sendo rotulados como “alunos problema”. Eles carregam consigo um rótulo, sendo que o discurso que escutamos pelos profissionais responsáveis pela coordenação da escola, não condiz com as ações que pude observar dentro da sala de aula. Por outro lado, o mais surpreendente foi perceber que com tanta informação disponível na internet, revistas, artigos, entre outros, ainda há pais que aceitam fazer uso de uma medicação que causa tantos danos para o seu filho, mesmo sem o diagnóstico comprovado. De certa forma, isto é um reflexo da sociedade contemporânea que procura solucionar os mais variados problemas com o uso de 42 medicamentos. É a busca de uma segurança, tanto por parte da família quanto da escola. E a escola, por sua vez, deveria repensar algumas posturas, focando no que é realmente importante para compreender este transtorno e auxiliar com mais eficiência os alunos portadores de TDAH. Afinal, em uma sociedade tão diversificada, ainda buscamos insistentemente a homogeneização. A escola é, por excelência, uma das instituições criadas na Modernidade que mais perpetua o controle e o disciplinamento dos corpos. Cabe a nós educadores, questionar: o quanto toleramos o diferente? 43 REFERÊNCIAS ARGOLLO, Nayara, Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade: aspectos neuropsicológicos. Psicologia Escolar e Educacional, v. 7, n. 2, p. 197-201, 2013. BEM ESTAR. Algum limite, ao menos!. Lajeado: n. 31, p. 9, nov. 2013. CALIMAN, Luciana; VIEIRA. O TDAH: entre as funções, disfunções e otimização da atenção. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 13, n. 3, p. 559-566, 2008. CHEMIN, Beatris Francisca. Manual da Univates para trabalhos acadêmicos: planejamento, elaboração e apresentação. 2. ed. Lajeado: Univates, 2012. COUTINHO, Karyne Dias. Infância e o par Psicologia–Pedagogia. In: COUTINHO, Karyne Dias. A emergência da psicopedagogia no Brasil. Tese de Doutorado. UFRGS: Porto Alegre, p. 53-90, 2008. CRESCE 75% uso de droga para hiperatividade. Veja, São Paulo, fev. 2013. FOUCALT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. ed. 16, Editora Vozes, 1997. HIPERATIVIDADE. Globo Repórter, Rede Globo, jun. 2004. MATTOS, Paulo. TDAH é uma doença inventada? Disponível em: <http://www.tdah.org.br/br/textos/textos/item/223-tdah-%C3%A9-uma- doen%C3%A7a-inventada?.html>. Acesso em: 27 ago. 2014 ORJALES, Isabel. Déficit de Atenção/Hiperatividade: Diagnóstico e intervenção. In: GONZÁLEZ, Eugênio et al. (Orgs.). Necessidades educacionais específicas: intervenção psicoeducacional. Artmed Editora S.A. Porto Alegre, p. 295-317, 2007. REMÉDIOS demais. Época, São Paulo, n. 446, p. 108-115, dez. 2006. RICHTER, Bárbara Rocha. Hiperatividade ou indisciplina? – O TDAH e a patologização do comportamento desviante na escola. Dissertação (Mestrado) – UFRGS, Porto Alegre, 2012. 44 ROCHA, Cláudia; CARVALHO, Elisângela; PACHECO, Simone. Percebendo, sentindo e agindo de forma diferente. In: ZIEGER, Lilian. (org.). Psicopedagogia: diferentes contextos, diferentes olhares. Porto Alegre, p. 51-58, 2010. WEDGE, Marilyn. Por que as crianças francesas não têm deficit de atenção?. Disponível em: <http://equilibrando.me/2013/05/16/por-que-as-criancas-francesas- nao-tem-deficit-de-atencao/>. Acesso em: 12 out. 2014. 45 ANEXOS 46 ANEXO A – Termo de consentimento entregue às professoras entrevistadas TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO E ESCLARECIDO Eu,________________________________________,RG___________________declaro por meio deste Termo que ACEITO participar da coleta de dados da pesquisa do trabalho de conclusão realizada por Clarissa Tambara Correia, aluna do Curso de Pedagogia - Univates, sob a orientação da Profª. Mariane Inês Ohlweiler, docente do curso acima referido e demais licenciaturas. Declaro que fui informado/a de que o objetivo desta pesquisa é analisar as percepções e conhecimentos de professores/as sobre o “Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade” - TDAH. Para tanto, será utilizado o recurso de entrevista estruturada. Declaro que fui igualmente informado/a de que, as informações coletadas a partir desta pesquisa serão utilizadas apenas em situações acadêmicas (artigos científicos, seminários, etc), identificadas somente por nome fictício e número relativo à idade do participante. Estou ciente de que, em caso de dúvida, poderei contatar a pesquisadora para os esclarecimentos desejados. Fui informado/a ainda de que poderei deixar de participar da pesquisa a qualquer momento, mediante a comunicação à pesquisadora responsável pela mesma. _________________________, _____ de ________________________ de 2013. ___________________________________ Assinatura da Orientadora ___________________________________ Assinatura da Pesquisadora ____________________________________ Assinatura da/o participante 47 ANEXO B – Entrevistas estruturadas com professoras da Educação Infantil ENTREVISTA 1 Idade: 39 anos Quanto tempo trabalha na Educação Infantil: Trabalho a 10 anos na Educação Infantil. O que você entende por TDAH? A hiperatividade é um déficit de atenção que se baseia nos sintomas de desatenção, quando uma pessoa é muito distraída e de hiperatividade de quando uma pessoa é muito ativa, agitada além do comum. Só é hiperatividade quando intervém significativamente na vida e no desenvolvimento normais da criança. 48 ENTREVISTA 2 Idade: 35 anos Quanto tempo trabalha na Educação Infantil: 17 anos O que você entende por TDAH? Não conheço muito bem e se é caracterizado somente como uma doença. Mas acredito, pelo que ouço falar, pois não tive alunos com está deficiência, que caracteriza-se por um déficit de atenção, concentração, dificuldade para ficar mais quieto, necessitando o corpo estar mais em movimento, dificuldade de aprendizagens. Infelizmente nunca pesquisei muito sobre isso. 49 ENTREVISTA 3 Idade: 27 anos Quanto tempo trabalha na Educação Infantil: 6 anos O que você entende por TDAH? Para mim TDAH é uma doença em que todos os envolvidos sofrem muito. Em uma escola em que trabalhei, realizei o meu estágio em 2008, notei que tinha uma criança de 4 anos com os sintomas de TDAH, o assunto era discutido em reuniões e em grupos de estudo, minha colega que era a professora da criança relatava que os pais não sabiam o que fazer. Na escola a mesma coisa, uma criança sem concentração nenhuma, não brincava, só mudava de brinquedo e brincadeira sem se envolver com uma por longo tempo. Com a professora lhe desafiava em todos os momentos (de rotina e brincadeiras livres no pátio). Essa é uma situação muito complicada. 50 ENTREVISTA 4 Idade: 46 anos Quanto tempo trabalha na Educação Infantil: 15 anos O que você entende por TDAH? Entendo que a criança hiperativa, não consegue conter seu corpo parado em momentos em que a atividade exige, se balançar se está sentada na cadeira ou procura algo para poder movimentar suas mãos e seu corpo. Mostra-se angustiada quando não consegue realizar tarefas. Apresenta dificuldades de concentração. Distrai-se com facilidade. 51 ENTREVISTA 5 Idade: 47 anos Quanto tempo trabalha na Educação Infantil: 5 anos O que você entende por TDAH? Entendo que esse transtorno, caracteriza-se por distração, agitação, impulsividade, esquecimento, desorganização. Uma criança, ou até mesmo um adulto que sofre desse transtorno tem dificuldade em manter a concentração, costuma ser muito agitada e tem dificuldades para fazer as coisas até o final, com isso tem problemas de aprendizagem. É comum encontrar esses sintomas em crianças, porém é essencial o diagnóstico correto para separar o caso de crianças que estão simplesmente agindo conforme sua idade, das que realmente precisam de ajuda de um profissional ou de medicação. Se os sinais de desatenção, hiperatividade e impulsividade já vem se prolongando por vários meses, pode ser um alerta para procurar um médico. 52 ANEXO C – Termo de consentimento entregue à professora e orientadora educacional Termo de consentimento informado para a professora da escola Eu, Clarissa Tambara Correia, aluna do Curso de Pedagogia, no Centro Universitário-UNIVATES, venho por meio deste solicitar a sua participação na pesquisa por mim realizada, sob a orientação da professora Mariane Inês Ohlweiler. Esta pesquisa trata-se de um Trabalho de Conclusão, que tem por objetivo, observar como é a realidade de um aluno com TDAH, procurando problematizar/ questionar os discursos acerca do distúrbio, em especial entre os profissionais da educação. Para tanto, a coleta de dados consistirá na realização de entrevista. Em nenhuma hipótese, você será identificado, utilizando-se para isto, na medida em que as entrevistas forem sendo realizadas, uma letra do alfabeto em substituição ao seu nome. O material obtido será de uso exclusivo da pesquisadora. Após a realização da pesquisa este material ficará guardado em lugar seguro. Este termo será lido por você, participante da pesquisa e esclarecido por mim, pesquisadora, em caso de dúvidas, antes da entrevista. Este termo será emitido e assinado em duas vias, sendo que uma via permanecerá com você participante, e a outra com a pesquisadora. Pelo presente Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, declaro que autorizo minha participação nesse projeto de pesquisa, pois fui informado(a) de forma clara e detalhada, livre de qualquer forma de constrangimento e coerção, da justificativa, dos procedimentos que serão realizados para a coleta das informações, todos acima mencionados. Data: ___/___/_______ Assinatura do entrevistado (a): __________________________________ RG do entrevistado (a): _________________________________ Assinatura da pesquisadora: _____________________________ 53 ANEXO D – Termo de consentimento informado para o diretor da escola Termo de consentimento informado para o diretor da escola Eu, __________________________________________________, na condição de diretor (a) da instituição ________________________________________________________, autorizo a realização da investigação desenvolvida pela pesquisadora Clarissa Tambara Correia, aluna do Curso de Pedagogia no Centro Universitário - UNIVATES. Fui esclarecido (a) de que a pesquisa poderá se utilizar de observações e entrevistas, tendo propósito único de pesquisa, respeitando-se as normas éticas quanto à identificação nominal dessa instituição, de seus profissionais, bem como das crianças da turma observada. A participação desta instituição é feita por um ato voluntário, o que me deixa ciente de que a pesquisa não trará nenhum apoio financeiro, dano ou despesa para a escola. A pesquisadora colocou-se à disposição para esclarecer quaisquer dúvidas que eu tiver em qualquer momento da pesquisa. Estou ciente de que esse tipo de pesquisa exige uma apresentação de resultados, por isso autorizo a divulgação das observações, das imagens, e das entrevistas geradas na escola para fins exclusivos de publicação e divulgação científica e para atividades formativas de educadores. Data: ___/___/_______ Nome do (a) diretor (a): ________________________________ Assinatura da pesquisadora: _____________________________ 54 ANEXO E – Entrevista estruturada com professora e orientadora do Ensino Fundamental Entrevistada: 1 Formação: Orientação Educacional 1- Da sua trajetória na escola, como você tem percebido os encaminhamentos de crianças para o diagnostico/ laudos médicos? É uma escola que há muito tempo tem Serviço de Orientação Educacional. Eu estou neste trabalho há dois anos, mas os encaminhamentos são uma constante e fazem parte da rotina deste setor. Os encaminhamentos que são efetuados em nossa escola são por diversificados motivos dentre eles: problemas cujo foco está na família (maneiras de lidar), características comportamentais que levem a crer que haja uma hiperatividade (TDAH), dificuldades na aprendizagem, sintomas de depressão dentre outros. 2- Esse número tem aumentado? Na sua opinião quais os motivos disso? Acredito que o numero de encaminhamentos tem aumentado pois existe mais famílias que necessitem de intervenções, sejam elas mediante conversação com profissionais especializados, atendimentos psicológicos, conselho tutelar etc... o papel social da escola também faz com que gestores se sintam mais comprometidos na busca de uma melhoria da qualidade do ensino, o que acaba por ser prejudicado, se a criança não tiver o atendimento especializado de que necessita. Muitos pais buscam também fora do ambiente escolar (particular) profissionais especializados após conversarem conosco na escola sobre as dificuldades de seus filhos. 3- Como a escola tem lidado com isso? A escola tem tido bastante trabalho quanto a isso. Após ouvirmos os professores (que geralmente é quem faz a escuta), ouvimos o aluno, chamamos a família, realizamos o encaminhamento, (pode ser somente uma conversa ou outro tipo de encaminhamentos). Ficamos em contato 55 com a família para acompanharmos o andamento dos atendimentos para trabalharmos em conjunto. Em muitos casos são realizadas reuniaoes com os Serviços para trabalharmos com este aluno como um todo, com suas especificidades a fim de que ele tenha êxito em suas aprendizagens. 4- Como a família age quando é convocada para conversar sobre o comportamento dos filhos? A família geralmente aceita muito bem estas intervenções. Há casos em que a família mesmo após recomendação médica, não quer da medicação. Em alguns casos, após três anos é que a família repensa ee começa a dar a medicação. Nestes casos, é necessário reiniciar todo o encaminhamento novamente, havendo uma perda considerável quanto a aprendizagem. 5- O que a escola faz com o retorno dos encaminhamentos? A partir dos resultados obtidos nestes encaminhamentos, a equipe diretiva juntamente com a supervisora, orientadora e psicopedagoga analisa os casos e as orientações repassadas pelo profissional que avaliou. As informações que são pertinentes ao trabalho do professor em sala, são repassadas aos mesmos, como por exemplo: maneira de lidar com cada caso, como obter um rendimento mais significativo nas aulas observando determinada situação, etc. Se for necessário (dependendo da indicação do profissional que avaliou a criança) é feito um currículo adaptado. É observado o lugar que esta disposto este aluno na sala e seguidamente é feito um acompanhamento através do relato do professor, ou, se necessário este aluno também é atendido no SOE. Conforme a necessidade apresentada pela criança, também é essencial realizar uma parceria com a família para acompanhar o desenvolvimento desta criança em casa e na escola. 56 Nome: Professora da turma observada Formação: Magistério, Pedagogia. 1- O que você entende por TDAH? É uma criança inquieta, agitada que necessita de bastante atenção e carinho para atingir um resultado satisfatório na sua educação. 2- De sua trajetória na escola, como você tem percebido os encaminhamentos de crianças para diagnostico/laudos médicos? Eu percebi de maneira satisfatória, verificando através destes tratamentos médicos, que ajuda bastante no resultado final. 3- Na sua opinião esses números tem aumentado? Quais os motivos disso? No nosso meio esta na media, mas acredita que tem mais alunos tomando medicamento sem ter TDAH. 4- Como a escola vem lidando com isso? Com bastante atenção, para os mesmos não atrasarem no ensino aprendizagem. 5- Como a família age quando é convocada para conversar sobre o comportamento dos filhos? No primeiro momento com certa apreensão, mas na sequencia aceitando que é o melhor para seu filho. 6- O que você faz com o retorno dos encaminhamentos? Procuro observa-las e verificar se o resultado esta acontecendo. 7- Qual sua postura diante de crianças que apresentam atitudes diferentes dos demais? Procuro dar a atenção especial para as mesmas, para que atinjam o mesmo resultado dos outros. 57 8- Como você percebe seu comprometimento com as crianças encaminhadas? Acredito que procuro atingir o meu máximo para com as mesmas.