UNIVERSIDADE DO VALE DO TAQUARI - UNIVATES 

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU 

DOUTORADO EM ENSINO 

 

 

 

 

 

 

 

ARTE E POTENCIALIZAÇÃO DE SENTIDOS: ATRAVESSAMENTOS 

NO ENSINO  

 

 

Fabrício Agostinho Bagatini 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Lajeado/RS, outubro de 2020



 

 

Fabrício Agostinho Bagatini 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ARTE E POTENCIALIZAÇÃO DE SENTIDOS: ATRAVESSAMENTOS 

NO ENSINO  

 

 

 

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação 

em Ensino, na linha de pesquisa Ciência, 

Sociedade e Ensino, da Universidade do Vale do 

Taquari - Univates, como parte da exigência para 

a obtenção do título de Doutor em Ensino. 

 

Orientador: Prof. Dr. Rogério José Schuck 

 

 

 

 

 

 

 

 

Lajeado/RS, outubro de 2020



 

 

Fabrício Agostinho Bagatini 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ARTE E POTENCIALIZAÇÃO DE SENTIDOS: ATRAVESSAMENTOS 

NO ENSINO  

 

 

A Banca examinadora abaixo aprova a Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em 

Ensino, na linha de pesquisa Ciência, Sociedade e Ensino, da Universidade do Vale do 

Taquari - Univates, como parte da exigência para a obtenção do título de Doutor em Ensino. 

 

Prof. Dr. Prof. Dr. Rogério José Schuck 

Universidade do Vale do Taquari – Univates 

 

Prof. Dr. Paulo Rudi Schneider 

Universidade Regional do Noroeste do Estado do RS - UNIJUI 

 

Prof. Dr. Cezar Luis Seibt 

Universidade Federal do Pará 

 

Profa. Dra. Silvana Neumann Martins 

Universidade do Vale do Taquari - Univates 

 

Profa. Dra. Suzana Feldens Schwertner 

Universidade do Vale do Taquari - Univates 

 

 

 

Lajeado/RS, 09 de novembro de 2020



 

 

AVISO AOS DESAVISADOS 

Figura 1 – Na roca do fiar, o tecer desta escrita 

Artista: As fiandeiras – Diego Velasquez – Museu do Prado – Madri/Espanha 

 

Fonte:https://www.pinterest.co.uk/pin/238409374006723089/



 

 

É necessário avisar. Este não é um roteiro de escrita científica normal. Segue linhas 

outras. Na arte do escrever, não há um certo e um errado, há o escrever. Há um fio de sentido 

– desde o que se refere ao significado até o que perpassa o sentir. 

 Escrever é a materialização, o desenhar dos pensamentos em forma de palavras. 

Origina-se do latim ‘scribere’, riscar. É a agulha da roca riscando e tecendo, entrelaçando e 

tramando a justaposição dos fios. E, a forma de uma escrita “não só expressa diferentes 

modos de pensamento, mas também proporciona diferentes formas de leitura. É preciso ler na 

forma do escrito para sentir seu tom e estilo” (KOHAN, 2015, p. 67). Portanto, caro leitor, só 

siga adiante se você realmente for capaz de ser a fiandeira a compreender o tom e o som desta 

escrita ou se for curioso o bastante para querer saber o que acontece no final. Se é que vai 

haver um fim.  



 

 

AVISO AOS INSISTENTES 

Figura 2 – (Des)calce seus pés, pois a liberdade está nas asas 

Artista: Desconhecido 

 

Fonte: https://www.pinterest.se/pin/728738783430519762/ 

Se você chegou aqui, é porque é, de fato, corajoso. Ou seria audacioso? Curioso? Ou, 

simplesmente, compreende o tom e o som desta escrita. Não importa, se chegou aqui, é hora 

de seguir adiante. Sem temer, (des)calce seus pés e aceite a liberdade de suas asas.  



 

 

CONVITE  

Figura 3 – Caminho ou caminhos? 

Artista: Desconhecido 

 

Fonte: https://www.elo7.com.br/quadro-o-caminho/dp/D91D7D



 

 

Eis o começo. O princípio. O prelúdio de um anúncio que, mansamente, quer se fazer 

presença. Permita, a si mesmo, lançar-se numa nova viagem. Por páginas e caminhos ainda 

desconhecidos.  

Há um caminho por onde passo 

E outro que passa por mim. 

Um anda por meus passos 

E não tem fim. 

O outro é onde meus passos 

Perderam-se de mim (NETO, 2010, p. 17). 

Sim, há os receios, as angústias, as tentativas que dão certo e as que frustram o 

caminhar. Não, não tenha medo, também não tive. Desafie-se, seja ousado, assim como eu fui. 

Siga... Cuide para não se perder, ou se permita perder-se na imensidão territorial que está a 

percorrer. Se quiser, trace seu próprio rumo. Crie e recrie vias, sendas, atalhos, rotas de fuga. 

Deixe pegadas ou as apague a fim de que outros possam por aí passar, com seus próprios 

itinerários e ritmos andantes, suas próprias pisadas.  

Há muitos modos de percorrer um caminho, tantos quantos caminhos há. Acreditar 

em um desenvolvimento ordenado do caminhar, em um procedimento de caráter 

central e exato, é acreditar que existe o caminho e, como indicou Zaratrusta, o 

caminho não existe; existem, sim, muitos caminhos e meios de transpô-los 

(FERNANDES; OLIVEIRA, 2012, p. 221). 

Invente mapas, cartas-guia e, depois, jogue-as fora, queime-as ou largue-as aos quatro 

ventos para que possam perpassar horizontes. Não se deixe aprisionar. Liberte-se de suas 

próprias andanças para conseguir desbravar as vicissitudes dos percursos. Ouça a canticidade 

das palavras e suas transfigurações poéticas. Deguste, saboreie; se quiser, 

antropofagicamente, usurpe. Leia o oculto, o oco das palavras, seus efeitos de cores e 

sonoridades. Vasculhe, em seus interstícios, o pulsar da vida. Procure transpor suas barreiras 

em busca de significados e significâncias outras.   

Leia as entranhas do escrevinhar. Remexa seus vazios prenhes em busca de sentidos 

outros, de um olhar diferente daquele existente. Olhe para o já posto ou para o que vem a se 

constituir como se fosse a primeira vez. Desfaça as soldas do olhar a fim de que possa 

compreender a versatilidade dos olhos a contemplar. Leia os silêncios ou, até mesmo, como 

poetiza Lenz (2019), aquilo que não se escreve. Participe. Compreenda a intenção. As 

referências trazidas. As coisas que afetam e que levam a criar. 

  



 

 

Entregue-se de corpo e alma para que movimentos internos provoquem desassossegos 

e façam brotar novos sentimentos. A jornada nunca é certa e segura. É preciso ser audacioso e 

olhar além. Deseje e se deixe habitar pela visibilidade do ver (CARBONE, 2019). Ver o 

invisível, pois o olhar ultrapassa os olhos de quem aprende. É preciso ver para conhecer e 

conhecer para ver. É necessário esquecer os trajetos que insistimos em fazer e que sempre nos 

levam aos mesmos lugares. “É tempo da travessia; e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, 

para sempre, à margem de nós mesmos” (ANDRADE, texto digital1).  

Portanto, você, leitor, é artista convidado. Sinta o vento tocar seu rosto. Ouça o 

barulho das folhas. Encha os pulmões com novos ares. Mas, lembre-se: nunca mais somos os 

mesmos após darmos o primeiro passo. Tentar voltar, até se pode. Mas, “os caminhos de volta 

são exatamente aqueles que nos levam além” (LENZ, 2019, p. 9).  Seja bem-vindo!  

 

 

 

                                                           
1https://www.pensador.com/e_preciso_mudar_as_roupas/. Último acesso dia 22 de janeiro de 2020. 

 



 

 

DEDICATÓRIA 

Figura 4 – Quem te fez rio na busca pelo oceano? 

Artista: Sebastião Salgado - Coleção Gênesis 

 

Fonte: http://www.snpcultura.org/genesis_exposicao_ sebastiao_ salgado.html. 

http://www.snpcultura.org/genesis_exposicao_%20sebastiao_%20salgado.html


 

 

Não se consegue expressar, através da escrita, tudo o que se sente, pois as palavras 

fogem do sentir. São incapazes de traduzir todos os perceptos do viver. Às vezes, se não na 

maioria das vezes, as palavras comportam em si um sentir diferente daquele que as escolheu 

ou daquele que as recebeu. Gostaria de, nesta dedicatória, deixar as palavras mais ternas, as 

mais amorosas para aqueles a quem sou tão grato. Gostaria de dizer o quanto são importantes 

e caros para mim. Mas talvez as palavras que aqui escrevo não sejam suficientes para 

exprimir tudo o que sinto.  

Os gregos antigos acreditavam nas Parcas, velhas senhoras a tecerem o fino fio da 

vida. No fluxo do cerzir, linhas são cruzadas e planos são traçados. Na colcha da vida, 

pedaços coloridos vão sendo costurados. Nem todos são iguais. São diferentes cores, texturas, 

traçados, belezas, mas são esses pedaços que constituem o ser. São eles que me fazem ser 

quem eu sou. De retalho em retalho, vou me constituindo, vou crescendo ao sabor das 

chegadas, pois sempre haverá um retalho novo para adicionar à alma. Sim, há perdas 

também... Mas dessas ficam os ensinamentos e a saudade a comporem os remendos. Uma 

colcha de retalhos é um mapa de caminhos a sugerir “passos e descompassos de andarilhos de 

diferentes tribos” (SARDI, 2005, p. 8). 

Na colcha de retalhos, o desenho de um rio. Um rio e suas redes fluviais. Inúmeras. 

Artérias plenas de vida a pulsar. Algumas se encontram, formam lagos. Outras se perdem, em 

meio à imensidão. Criam labirintos. Caminhos em meio à floresta. O reflexo na água a formar 

desenhos outros: “Na contínua transformação, uma coisa passa a ser outra” (SALLES, 2014, 

p. 37). Nuvens condensadas pelo vento, rastejantes, firmes, crianceiras. Um céu que anuncia o 

início ou o fim de uma tempestade. A dispersão de uma névoa. Um rio e sua nascente. Meus 

pais: Neocir e Maria. Princípio cristalino de meu bebedouro.  

Mas um rio que se preze tem mais de uma nascente: minha nona Celestina e minha tia 

Miria, águas límpidas e incentivadoras. Os demais rios, confluências nascedouras: meus 

irmãos, Aline e Hernandez, e minha cunhada Juliana. Seus afluentes, joias raras da bacia 

hidrográfica: meus afilhados Lorenzo e Pietra. Esses, pequenos riachos a borbulhar vitalidade. 

Jorram aos borbotões a esperança a sorrir. Um misto de enxurradas a transbordarem as 

margens e calmaria de marés dançantes. 

 



 

 

O rio segue seu percurso, cria rumos outros, diferentes daquele que lhe foi imposto. 

Alarga as margens e assoreia o leito. Torna-se profundo ou rende-se à superfície. Deixa-se 

navegar ou proíbe que por ele passem. Mas, um rio só é o que é devido ao abastecimento de 

outras águas que nele deságuam. As águas fluentes e intensas de sabedoria de meu orientador 

professor Dr. Rogério José Schuck. Um amigo que indicou mundos possíveis e impregnou 

meu universo de possibilidades. Que trouxe, com suas águas, um espaço-tempo distinto. 

Apontou rumos em direção ao oceano, destino de todos os rios. Fez-me compreender que, na 

imensidão do mar, cada gotícula/rio faz a diferença. Obrigado por potencializar minhas águas 

turvas, por torná-las nítidas e brilhantes. 

Os amigos. Afluentes preciosos. Trazem consigo correntezas de outras paragens. 

Transbordam o rio; tornam-no denso em sua perenidade. Fluem e confluem com ele. Tornam-

no caudaloso e potente. “Um amigo é o desconhecido que vem como o vento e a noite – 

impalpável, hipnotizante” (FERNANDES; OLIVEIRA, 2012, p. 224). No encontro das águas, 

há trocas, metamorfoses, perdas e ganhos; um constante ir e vir, ondas e macaréus. Um 

encontro não é igual ao outro. Cada rio tem a sua identidade e seu percurso.  

Minha “Merma” Vanessa. Que suas águas continuem sendo potentes, a percorrer junto 

às minhas margens. Que possamos continuar nos afogando na mesma sanga, cabeceira ou 

olho-d’água. Que suas águas transpassem o infinito do próprio oceano. Continue vertendo 

vida e dando sentido à vida que em você nada.  

Alessandra, fonte imorredoura de outros tempos diluvianos. Cataclismo torrencial a 

alegrar os dias. Rio portador de águas criadoras onde banhar-se é sair diferente do que se é.  

“Saiba que um amigo é uma pessoa com quem se tem prazer em compartilhar ideias de forma 

tranquila e mansa” (ALVES, 2008, p. 59). É sempre bom gastar o tempo conversando com 

você. Mais do que isso, agradeço por suas ideias, pois você é capaz de levar o ser a uma  

Experimentação esquizo de si, uma experimentação de si por meio do que outrem 

secreta, mas emite silenciosamente, de maneira tão cotidiana, que sequer sente que 

emite. O amigo capta o que outrem secreta. E se capta é porque é capaz daquelas 

forças, daquele grau de potência. O amigo tem em si a capacidade sensível para 

notar os signos que são perceptíveis para outrem, recebê-los e decifrá-los 

(FERNANDES; OLIVEIRA, 2012, p. 225). 



 

 

Aos demais amigos afluentes, Simone, Samai, Carliria, Aline, Mariângela, Giovana, 

Romildo, Cláudia, Omena, Ana Claúdia, Francisca, Inauã, José, Patrícia, Adriano, a secretária 

do PPGEnsino, Fernanda, peço que, mesmo que nossas águas um dia possam se separar 

continuem alagando incomensuravelmente meu leito, lembrando-se sempre de que “em uma 

amizade, cada um expande especialmente a si mesmo” (FERNANDES; OLIVEIRA, 2012, p. 

226). Que nossas águas continuem serpenteando ribanceiras, várzeas, cortando paisagens, 

transpassando montanhas, pedras, pontes, limites territoriais. Um rio não tem fronteira. 

Quando, dali adiante, desaparece, como que engolido pelas entranhas da terra, reaparece logo 

mais acima, farto e vivaz.  

Bons amigos são urdidura 

De férteis vinhedos 

Armados em significância e epifanias 

Trazendo familiaridade 

De aconchego e largas cercanias (REICHERT, 2019, p. 69). 

Aos participantes desta pesquisa, pequenos igarapés subafluentes, muito obrigado por 

doarem um pouco de suas águas, por permitirem conhecer suas encostas, enseadas, meandros, 

baías, canais - os estreitos e os navegáveis. Por permitirem adentrar seus mistérios, suas 

montantes e jusantes; conhecer o que habita em vocês; passear por seus golfos e penínsulas; 

descansar meu leito cansado em seus cabos, fiordes e falésias; e me encantar com seus recifes 

multicoloridos.  

Aos professores da banca, Dra. Silvana Neumann Martins, Dra. Suzana Feldens 

Schwertner, Dr. Cezar Luís Seibt e Dr. Paulo Rudi Schneider e demais professores do 

PPGEnsino, muito obrigado por propiciarem que, a cada imersão em suas águas, fosse um 

conhecimento diferente e que, a cada emergir, eu fosse outro. Por demonstrarem que um rio 

nunca é o mesmo, que um rio comporta em si outros rios a correrem mansamente ou 

vorazmente em um eterno fluir. Que um rio se transforma em outras coisas, um devir lago, 

mar, oceano. Um devir morte e vida. Que um rio é novo, mas traz consigo tudo o que 

encontra pelo caminho; que sua travessia é longa e que nada continua, nada é eterno; e o que 

existe é o recomeço.   

À Capes, por ter-me oportunizado a concretização de mais uma etapa, mediante uma 

bolsa de estudos visando à minha participação no Programa de Pós-Graduação em Ensino, da 

Univates - Universidade do Vale do Taquari. 



 

 

E o rio um dia chega ao oceano e se encanta hipnoticamente com a imensidão. Perante 

ele, a inquietação. A temeridade. Perante o oceano, o rio treme de medo.  

Olha para trás, para toda a jornada, os cumes, as montanhas, o longo caminho 

sinuoso através das florestas, através dos povoados, e vê à sua frente um oceano tão 

vasto que entrar nele nada mais é do que desaparecer para sempre. Mas não há outra 

maneira. O rio não pode voltar. Ninguém pode voltar. Voltar é impossível na 

existência. Você pode apenas ir em frente. O rio precisa se arriscar e entrar no 

oceano. E somente quando ele entra no oceano é que o medo desaparece. Porque 

apenas então o rio saberá que não se trata de desaparecer no oceano, mas torna-se 

oceano. Por um lado é desaparecimento e por outro lado é renascimento (OSHO 

https://www.pensador.com/frase/NTE2MDM1/). 

O rio, feliz, segue sem saber aonde chegar. Que todos os que acompanharam esse rio 

no qual me transformei, ou que viajaram por ele, continuem ajudando a ver e a contemplar o 

além do horizonte. E que todos que passem por mim permitam que eu me embebede em suas 

águas límpidas a fim de saciar a minha sede. 



 

 

POEMA INICIAL 

Figura 5 – Um sopro de vida: a arte e seus encantos 

Artista: Banksy -  "Menina com Balão". Obra triturada após leilão na Sotheby's 

 

Fonte:https://entretenimento.uol.com.br/noticias/afp/2019/02/05/tela-autodestruida-de-banksy-e-exposta-na-

alemanha.htm 

https://entretenimento.uol.com.br/noticias/afp/2019/02/05/tela-autodestruida-de-banksy-e-exposta-


 
 

 

Súbito 

 

No jogo do ator 

A dor do poeta 

No quadro do pintor 

A janela da alma aberta 

Nas mãos do escultor 

O barro na medida certa 

Na voz do cantor 

A letra que aviva o sentimento 

E se aloja no coração 

 

No compasso da dança 

O feitiço que atrai 

Na imagem da tela 

A cena que retrai 

No foco da lente 

A captura da luz 

Que ao disparo do botão 

Eterniza a imagem 

Dilata a pupila, cativa e seduz 

 

Na batuta do maestro 

O mapa da sinfonia 

No conjunto da obra 

O retrato da harmonia 

No registro do escritor 

O convite da palavra 

Que flerta com a realidade 

Cria asas e escapole 

Buscando a liberdade



 
 

 

E num repente 

A aprendizagem prenhe 

No recôndito da alma 

A potência da vida... 

O susto, 

A fuga, 

À luz! 

Criador e criatura. 

 

Súbito, nasce a ARTE! 

(ALESSANDRA AMES)2

                                                           
2 Por solicitação do autor desta tese, essa poesia foi escrita especialmente para este espaço (2020). A mesma 

autora criou diversos poemas que estarão presentes ao longo do texto da tese. 



 
 

 

RESUMO 

É necessário avisar. Este não é um roteiro de escrita científica normal. Segue linhas outras. Na 

arte do escrever, não há um certo e um errado; há o escrever. Há um fio de sentido – desde o 

que se refere ao significado, até o que perpassa o sentir. A escrita desta tese dá-se em forma 

de peça teatral. É no espaço teatral que ocorre o encontro do artista, da tese e do expect-actor 

(aquele que observa e age ao mesmo tempo). É no espaço entre o palco e a plateia que ocorre 

o diálogo, a fusão de horizontes e a compreensão do que está sendo dito. Mas, o que é 

encenado nos diferentes atos que compõem esta tese? Neles, falamos sobre a arte e a 

potencialização de sentidos no ensino. E, para contemplar tal temática, partimos de dois 

questionamentos: Como a arte vem contribuindo nos processos de ensino? Como a arte 

potencializa sentidos no ensino? Para responder a essas questões, definimos, como objetivo 

geral, investigar como a arte potencializa sentidos no ensinar. Cabe mencionar que 

desenvolvemos uma pesquisa qualitativa que teve, como metodologia principal, a 

Hermenêutica (GADAMER, 2015). Como primeiros objetivos específicos, buscamos 

investigar o conceito de arte na contemporaneidade e conceituar a arte a partir da perspectiva 

hermenêutica de Hans-Georg Gadamer. Para tanto, realizamos uma pesquisa bibliográfica 

centrada nesse filósofo alemão. Constatamos, a partir das leituras realizadas, que a arte está na 

vida do homem desde os seus primórdios, através de diferentes expressões: desenho, música, 

pintura, teatro, dança, comédia, drama. E que é da alçada da subjetividade, pois cada um 

possui uma percepção e uma compreensão a respeito do que é arte e da importância que ela 

tem para a humanidade. Além disso, constatamos que não somos nós que interpretamos a arte 

à luz de nossos interesses; é ela que se dá a interpretar na medida em que nos questiona. No 

seu constante movimento autopoiético, nunca é a mesma para quem diante dela se coloca. 

Aliás, mesmo que a contemplemos inúmeras vezes, sempre teremos um olhar diferente, e, a 

cada olhar, ela nos abrirá um ou múltiplos sentidos. Para compreender o que a obra de arte 

tem a nos dizer, temos de estar abertos ao diálogo que trava conosco, pois é por meio dele que 

constatamos a sua verdade, o seu jogo e movimento. Outro objetivo proposto foi averiguar as 

concepções prévias acerca de arte dos professores e alunos de uma escola da rede pública 

estadual de Capitão/RS, para verificar como as diferentes expressões artísticas vêm 

contribuindo na potencialização de sentidos no ensino. Para tanto, aplicamos um questionário 

dissertativo e aberto com 52 alunos do Ensino Médio (1º ao 3º ano) e nove professores da 

referida escola. Analisamos as respostas com base na Análise Textual Discursiva (MORAES; 

GALIAZZE, 2016) e a partir de quatro categorias, a saber: No Vale da Saudade, perceptos da 

arte; No Vale da Procura, a arte como presença na vida e no espaço escolar; No Vale do 



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Amor, a arte auxiliana compreensão dos conteúdos e instauraçãodesentidos; e No Vale do 

Conhecimento, a potencialização de sentidos. Mediante essas categorias, percebemos que a 

arte está presente na vida dos alunos e professores, auxiliando na formação da subjetividade, 

seja a partir do sentir ou das singelezas do cotidiano e do ser. Além disso, entramos em 

contato com as diferentes percepções de alunos e professores sobre o que é a arte, sobre sua 

importância e sua presença na vida e no espaço escolar. Também observamos como a arte 

auxilia na compreensão dos conteúdos e na instauração e potencialização de sentidos. Ainda 

buscamos desenvolver oficinas de arte com professores da rede pública estadual do município 

de Capitão/RS, denominadas Olhicriarte, uma junção dos termos olhar+criar+arte. 

Realizamos duas oficinas - uma de teatro e outra de escrita enquanto arte - por meio das quais 

os professores puderam experienciar a arte e buscar o autoconhecimento. As percepções 

dessas vivências foram relatadas, pelos participantes, em diários denominados “Diários 

Vivenciais”. Mediante a leitura de um total de 10 diários, verificamos que o experienciar não 

é algo objetivo ou que possa ser (re)produzido; ao contrário, é uma vivência que perpassa o 

corpo de cada um, de forma única e inexplicável. Constatamos que, quando o professor olha e 

cria a partir da arte, ele se torna artista, e, sendo professor artista, é capaz de lidar com os 

problemas que ocorrem na sua prática pedagógica e está em constante processo de 

aprendência (ASSMANN, 1998). Por último, procuramos realizar uma análise da práxis 

pedagógica no que tange à presença das artes numa atividade interdisciplinar entre as áreas 

das Ciências Humanas e das Linguagens. Para tanto, levamos em consideração um trabalho 

desenvolvido a partir do filme “Minha querida Anne Frank”, em que desafiamos os alunos do 

2º e 3º Anos do Ensino Médio a escreverem, em duplas, um diário contendo relatos, poesias e 

desenhos relativos a temas do filme. Ao todo, foram escritos 24 diários, os quais 

demonstraram que trabalhar com arte nos processos de ensino propicia, ao aluno, outra 

compreensão sobre o que está sendo trabalhado, bem como possibilita que ele exercite a 

empatia e vivencie o contexto histórico, na medida em que horizontes são fundidos e tradições 

são compreendidas, mas, acima de tudo, serve de fuga e de rompimento do cotidiano. Ao 

contemplar a arte na sua práxis pedagógica, o professor demonstra saber que uma aula não 

precisa ser idêntica à outra e que cada uma contém, em si, a multiplicidade, os devires, as 

variáveis e variantes do próprio existir. Por fim, considerando os resultados alcançados, é 

possível afirmar que esta tese comprovou que a arte pode e deve se fazer presente na práxis 

pedagógica, pois potencializa sentidos e permite olhares outros, diferentes dos existentes até 

então. A arte nos leva a pensares inexistentes, à compreensão de quem somos e do meio no 

qual estamos inseridos. Ela permite que sejamos críticos, questionadores. Ela nos desafia a 

enfrentar nossos medos, a demonstrar os sentimentos que mantemos, muitas vezes, guardados 

em nosso ser. Enfim, no momento em que há uma experienciação com a arte e a partir dela, 

há o processo criativo, há a possibilidade de olhicriar, há apropriação e potencialização de 

sentidos.  

 

Palavras-chave: Artes. Sentidos. Processos de ensino. Hermenêutica. Experiência.  

 

 

 

 

 



 
 

 

RESUMEN 

Es necesario advertir que este escrito no es un guión de escritura científica usual; sigue otras 

líneas. En el arte de escribir no hay buena o mala escritura; hay un hilo conductor de sentido, 

pasando por lo que se refiere al significado, hasta rozar el sentir. Esta tesis está escrita en 

forma de obra teatral. Es en el espacio teatral donde se encuentran artista, tesis y expect-actor 

(quien observa y actúa al mismo tiempo). Es en el espacio entre el escenario y el público 

donde se desarrolla el diálogo, la fusión de horizontes y la comprensión de lo que se está 

diciendo. Empero, ¿qué está articulado en los diferentes actos que componen esta tesis? En 

ellos, hablamos de arte y de potenciar sentidos en la docencia. Así, para contemplar ésta 

temática, abrimos el telón con dos preguntas: ¿Cómo el arte viene contribuyendo en los 

procesos de enseñanza? ¿Cómo el arte potencia sentidos en la enseñanza? Para responder a 

estas preguntas, definimos, como objetivo general, investigar de qué modo el arte potencia 

sentidos en la enseñanza. Cabe mencionar que desarrollamos una investigación cualitativa que 

toma la Hermenéutica como su principal metodología (GADAMER, 2015). Como primeros 

objetivos específicos, buscamos investigar el concepto de arte en la época contemporánea y 

conceptualizar el arte desde la perspectiva hermenéutica de Hans-Georg Gadamer. Para ello, 

realizamos una búsqueda bibliográfica centrada en éste filósofo alemán. Comprobamos, a 

partir de las lecturas realizadas, que el arte ha estado en la vida de la humanidad desde sus 

inicios, a través de distintas expresiones: dibujo, música, pintura, teatro, danza, comedia, 

drama, entre otras. Y, que ésta, es del orden de la subjetividad, pues, cada uno tiene una 

percepción y un entendimiento de lo que es el arte; así como de la importancia que tiene para 

la humanidad. De igual forma, corroboramos que no somos nosotros quienes interpretamos el 

arte a la luz de nuestros intereses; es ella que se da a interpretar, al mismo tiempo que nos 

interroga. En su constante movimiento autopoiético, nunca es la misma para quienes se 

debruzan con ella. De facto, aunque la contemplemos innumerables ocasiones, siempre 

tendremos una mirada diferente, y con cada mirada se abren uno o múltiples sentidos. Para 

comprender lo que la obra de arte quiere comunicarnos, tenemos que estar abiertos al diálogo 

que nos convida, porque es a través de ella que constatamos su verdad, su juego y su 

movimiento. Otro objetivo propuesto fue indagar las concepciones previas de arte, de 

profesores y alumnos, pertenecientes a una escuela pública departamental (provincial) ubicada 

en el municipio de Capitão/RS/Brasil, para verificar cómo las diferentes expresiones artísticas 

han contribuido a la potenciación de sentidos en la enseñanza. Para ello, se aplicó una 

encuesta abierta a 52 estudiantes de los últimos años de secundaria, y a nueve docentes de la 

escuela en cuestión. Analizamos las respuestas a partir del Análisis Textual Discursivo 



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(MORAES; GALIAZZE, 2016), en base a cuatro categorías, a saber: En el Valle de la 

Nostalgia: perceptos del arte; En el Valle de la Procura: Arte como presencia en la vida y en 

el espacio escolar; En el Valle del Amor: el arte ayuda a comprender los contenidos y 

establecer sentidos; y En el Valle del conocimiento: la potenciación de los sentidos. Gracias a 

estas categorías percibimos que el arte está presente en la vida de estudiantes y docentes, a la 

vez que ayuda en la formación de la subjetividad, ya sea desde el sentir, o desde la simpleza 

de la cotidianidad y del ser. Del mismo modo, entramos en contacto con las distintas 

percepciones de alumnos y profesores sobre qué es arte, sobre su importancia, su presencia en 

la vida y en el espacio escolar. También, observamos cómo el arte ayuda a comprender los 

contenidos, a instaurar y potenciar sentidos. Todavía, buscamos desarrollar talleres de arte con 

maestros de la escuela pública departamental (provincial) en Capitão/RS/Brasil, llamados 

Micrearte (Olhicriarte en portugués), una combinación de los términos mirar + crear + arte 

(Micrearte). Realizamos dos talleres, uno sobre teatro y otro sobre escritura literaria, en los 

cuales los profesores pudieron vivenciar el arte y buscar el autoconocimiento. Las 

percepciones de estas experiencias fueron informadas por los participantes en diarios 

denominados “Diarios vivenciales”. Al leer un total de 10 diarios, encontramos que vivenciar 

no es algo objetivo ni que se puede (re)producir; al contrario, es una experiencia que va más 

allá del cuerpo, de manera única e inexplicable. Verificamos que cuando el docente mira y 

crea a partir del arte, se convierte en artista y, siendo un maestro artista, es avezado para lidiar 

con los problemas que se presentan en su práctica pedagógica, y está en un proceso de 

aprendencia(ASSMANN, 1998). Finalmente, buscamos realizar un análisis de la praxis 

pedagógica en torno a la presencia de las artes en una actividad interdisciplinar entre las áreas 

de Humanidades e Idiomas. Para eso, tuvimos en cuenta un trabajo desarrollado a partir de la 

película “Memorias de Anne Frank”, en la que desafiamos a los alumnos de 10º y 11º de 

bachillerato a escribir, en parejas, un diario que incluyese reportajes, poesías y dibujos 

relacionados con la temática de la película. En total se redactaron 24 diarios, que demostraron 

que laborar con arte en los procesos de enseñanza proporciona al alumno una nueva 

comprensión de lo que se está trabajando. Además, le permite ejercitar empatía y vivenciar 

los contextos históricos, en la medida que se fusionan horizontes temporales y tradiciones son 

comprendidas; pero, sobre todo, sirve como fuga y ruptura de la cotidianidad. Al contemplar 

el arte en su praxis pedagógica, el docente demuestra saber que cada clase que imparte no 

necesita ser idéntica a otra, y que cada una contiene en sí la multiplicidad, los devenires, las 

variables y variantes de la propia existencia. Finalmente, considerando los resultados 

alcanzados, es posible afirmar que esta tesis comprobó que el arte puede y debe estar presente 

en la praxis pedagógica ya que potencia sentidos, y permite una forma de mirar diferente a las 

habituales. El arte nos lleva a pensar lo impensado, a comprender quiénes somos y el entorno 

cotidiano; de igual forma, nos permite ser críticos, cuestionadores. Adicionalmente, nos 

desafía a enfrentar nuestros miedos, a manifestar los sentimientos que a menudo guardamos 

en nuestro ser. Por fin, en el momento en que existe una vivencia con el arte y a partir de ella, 

se dá un proceso creativo, se dá  la posibilidad de Micrearte (Olhicriarte en portugués), se dá 

apropiación y potenciación de sentidos. 

  

Palabras clave: Artes. Sentidos. Procesos de enseñanza. Hermenéutica. Experiencia.  

 

 



 
 

 

ABSTRACT 

One has to be warned. This is not an ordinary scientific writing script. It follows distinct 

guidelines. In the art of writing, there is no right or wrong; there is only writing. There is a 

line of thought – beginning with what regards meanings to what encompasses feelings. The 

writing of this dissertation is done as that of a theater play. In the theater venue, the encounter 

of the artist, the dissertation, and the spect-actor (the one who watches and plays at the same 

time) takes place. In this venue between the stage and the audience is where the interlocution 

occurs, as well as a merge of the horizons, and the understanding of what is being said. But 

then, what is staged in the several acts that constitute this dissertation? The art and the 

potentializing of the meaning/senses in teaching. To complement this theme, we base 

ourselves on two questions: how has art been contributing to the teaching processes and how 

does it potentialize the meanings/senses in teaching? To answer these questions we 

established, as a general purpose, the investigation of how art potentializes meanings/senses 

in teaching. To do so, we developed a qualitative research whose main methodology was the 

Hermeneutics (GADAMER, 2015). As specific purposes, we aimed to investigate the 

concepts of art within contemporaneity based on Hans-Georg Gadamer’s hermeneutic 

perspective. For that purpose, a bibliographical research based on this German philosopher 

was carried out. Based on the readings, we concluded that art has been in human life since its 

very beginning, through diverse expressions: drawing, music, painting, theater, dance, 

comedy, drama. Subjectivity encompasses it, once each one has a perception and 

understanding of what art is, and of its relevance to humankind. Furthermore, we concluded 

that it is not up to us to interpret art in light of our interests, but rather, art enables 

interpretations as it questions us. In its self-poetical unceasing movement, it is never the same 

before the one who stands to see it. Moreover, even if we contemplate it several times, we 

will always have a different look at it, and in each look, it will offer us one or multiple 

meanings. To be able to understand what works of art have to tell us, we have to be open to 

the interlocution that they hold with us, once it is through it that we verify their truth, their 

game, and movement. Another purpose established was verifying the previous concepts about 

art the teachers and students of a state public school in Capitão/RS/Brazil had to verify how 

the diverse artistic expressions have been contributing to the potentializing of 

meanings/senses in teaching. To that end, an open/dissertation questionnaire was applied to 

52 students of the Secondary School (1st to 3rd year) and 9 teachers of the said school. The 

answers were analyzed through the Discursive Textual Analysis (MORAES; GALIAZZE, 

2016) based on four categories: in the Valley of Longing, perceptions of art; in the Valley of 



22 

 

 

Quest, art as a presence in life and in the school venue; in the Valley of Love, art assists in the 

understanding of contents and establishment of meanings; and in the Valley of Knowledge, 

the potentializing of meanings/senses. By using these categories, we realize that art is present 

in the life of students and teachers, assisting in building subjectivity, whether from the 

feelings or the subtleties of daily life and the beings. Furthermore, we get in touch with 

students’ and teachers’ different perceptions of art, with its relevance and presence in their life 

and in the school venue. We also observed how art assists in understanding contents and in 

potentializing meanings/senses. Additionally, art workshops were developed with teachers of 

the state public schools of the municipality of Capitão/RS; they were called Olhicriarte, a 

merge of the words Olhar (look)+ criar (create)+ arte (art). Two workshops were offered, one 

of drama and the other of writing as art – through which the teachers could experience art and 

search for self-knowledge. The perceptions of these experiences were reported by the 

participants in journals called “Experience Journals”. Upon reading a total of 10 journals, we 

verified that experiencing is not an objective act, or one that may be (re)produced; on the 

contrary, an experience is felt by each individual’s body, in a unique and inexplicable way. 

We conclude that, when teachers look at and create based on art, they become artists, and as 

teachers-artists they are capable of dealing with the problems that occur in their pedagogical 

practice, and are in a constant process of learning (ASSMANN, 1998). Finally, we attempted 

to analyze the pedagogical praxis regarding the presence of arts in an interdisciplinary activity 

involving the Human Sciences and Languages. To do so, we took into consideration a work 

based on the Movie “Dear Anne Frank”, in which we challenged the 2nd and 3rd-year students 

of the Secondary School to write, in pairs, a journal with accounts, poetry, and drawings 

related to elements in the movie. Twenty-four journals were written, and they showed that 

working with art in the teaching process stimulates students to have a diverse understanding 

of what is being worked, as well as it enables them to develop empathy and experience the 

historical context, as horizons become merged and traditions are understood, but above all, it 

is an escape from and a disruption to the daily life. Upon observing art in their pedagogical 

praxis, teachers show that they know that one class does not need to be identical to others, and 

each of them contains in itself, the multiplicity, the becoming, the variables and varying of 

existing itself. Finally, when considering the outcomes, one can state that this thesis has 

proved that art may be and has to be present in the pedagogical praxis, once it potentializes 

meanings/senses and allows other looks, unlike the ones existing until then. Art leads us to 

inexistent thoughts, to the understanding of who we are and of the environment we belong to. 

It enables us to be critical and questioning. It challenges us to face our fears, and to show 

feelings that quite often we keep within ourselves. Ultimately, whenever there is experiencing 

of art or with it as a basis, there is the creative process, there is the possibility of olhicriar, 

there is an allocation and potentializing of meanings/senses.  

 

Keywords: Arts. Meanings/Senses. Teaching processes. Hermeneutics. Experience.  

 



 
 

 

LISTA DE FIGURAS 

Figura 1 – Na roca do fiar, o tecer desta escrita ......................................................................... 3 

Artista: As fiandeiras – Diego Velasquez – Museu do Prado – Madri/Espanha ........................ 3  

  

Figura 2 – (Des)calce seus pés, pois a liberdade está nas asas ................................................... 5 

Artista: Desconhecido................................................................................................................. 5 

 

Figura 3 – Caminho ou caminhos? ............................................................................................. 6 

Artista: Desconhecido................................................................................................................. 6 

 

Figura 4 – Quem te fez rio na busca pelo oceano? ..................................................................... 9 

Artista: Sebastião Salgado - Coleção Gênesis ............................................................................ 9 

 

Figura 5 – Um sopro de vida: a arte e seus encantos ................................................................ 14 

Artista: Banksy -  "Menina com Balão". Obra triturada após leilão na Sotheby's ................... 14 

 

Figura 6 – À sombra do mandacaru, li meu primeiro livro ...................................................... 28 

Artista: Sebastião Salgado ........................................................................................................ 28 

 

Figura 7 – Transformei-me em vários, inclusive em mim ....................................................... 43 

Artista: Octavio Ocampo - Tribunal de Quixote ...................................................................... 43 

 

Figura 8 – No abrir das cortinas, a vida e a arte ....................................................................... 47 

Artista: Foto de Michael Dantas – palco do teatro Amazonas/BR ........................................... 47 

 

Figura 9 – Na palma de minha mão, (h)a vida ......................................................................... 49 

Artista: Albrecht Durer – “Mãos” ou “Mãos que oram” .......................................................... 49 

 

Figura 10 – O menino lê. Que(m) lê o menino? ....................................................................... 71 

Artista: Eduard Swoboda (1814 – 1902) .................................................................................. 71 

 

Figura 11 – Nas janelas do corpo (ou da alma), a arte do olhar ............................................... 85 

Artista: Margaret Keane - The First Grail ................................................................................ 85



 
 

 

Figura 12 – Nas cartas da mão, o destino a sorrir................................................................... 106 

Artista: Paul Cézzane - Os Jogadores de Carta. 1890. Metropolitan Museum of Art ............ 106 

 

Figura 13 –  Frida: conte-me teus segredos e te direi o que é a arte....................................... 130 

Artista: Frida KAHLO - Autorretrato com colar de espinhos e beija-flor/1940 Harry Ranson 

Humanities Research Center Art Collections Texas, Estados Unidos ................................... 130 

 

Figura 14 – Um duelo de vida e morte: a bailarina/cisne e o cisne/bailarina ......................... 163 

Artista: Desconhecido............................................................................................................. 163 

 

Figura 15 – Na “Ode à Alegria”, o “Pensador” a sentipensar ................................................ 192 

Artista: O pensador - François - Auguste-René Rodin -1902 - Museu Rodin - Paris ............ 192 

 

Figura 16 – À beira do bosque, desfiz-me ao vento ............................................................... 216 

Artista: Desconhecido............................................................................................................. 216 

 

Figura 17 –  No cachimbo de Magritte, um pensar hermenêutico ......................................... 228 

Artista: René Magritte - La trahison des imagens – 1928 ...................................................... 228 

Artista: René Magritte - Les deux mystères – 1966 ............................................................... 228 

 

Figura18 – No abraço, a lembraça amiga ............................................................................... 262 

 

Figura 19 – No peito, o convite do pássaro pela liberdade..................................................... 266 

Artista: René Magritte - O terapeuta ...................................................................................... 266 

 

Figura 20 – No violentar metamórfico, o nascer do conhecimento........................................ 276 

 

Figura 21 – “No voo lírico do pincel”: a aura da obra de arte ................................................ 319 

Artista: “O estúdio do artista” de Johanes Vermeer - Kunsthistorisches Museum de Viena, na 

Áustria........ ............................................................................................................................ 319 

 

Figura 22 –  O que vê o pintor/professor na arte do ensino? .................................................. 360 

Artista: Waltercio Caldas – Los Velásquez/1993 ................................................................... 360 

 

Figura  23 – Uma aula pode ser muitas coisas, desde que proporcione a experiência para o 

pensar.......... ............................................................................................................................ 364 

 

Figura 24 – Dämon/Demone/Demonio/Démon/Demon – Demônio, independente da 

língua.............. ........................................................................................................................ 373 

 

Figura 25 – Na porta do inferno o dizer  maldito ................................................................... 376 

 

Figura 26 – Anne Frank: a menina que cantava e encantava ................................................. 379 

 

Figura  27 – “As estrelas são os olhos de quem morreu de amor” (COUTO, 2012, p. 35).... 381 

 

Figura 28 – Muitos caminhos e  um só  destino ..................................................................... 391 

 

Figura 29 – O que meus olhos veem na melodia da dor? ....................................................... 394



 
 

 

Figura 30 – No lugar do amor, suspiros mortais .................................................................... 396 

 

Figura 31 – “A lágrima é águae só a água lava a tristeza” (COUTO, 2012, p. 34) ................ 397 

 

Figura 32 – No “ vigiar e punir”, a escrita da dor .................................................................. 398 

 

Figura 33 – Um símbolo, uma história: a impossibilidade do esquecer ................................. 408 

 

Figura 34 – Em cada escrita uma história............................................................................... 411 

 

Figura 35 – Você nem imagina o que contigo aprendi ........................................................... 414 

 

Figura 36 – Escrevo minhas últimas palavras numa carta (in)finita ...................................... 418 

Artista: Johannes Wermeer - Senhora escrevendo uma carta e sua criada ............................. 418 

 

Figura 37 – Curiosa e artisticamente, libertei-me das amaras do existir ................................ 434 

Artista: Zenos Frudakis - Freedom ......................................................................................... 434 

 

Figura 38 – Só tu és capaz de sentir a potência de tuas asas .................................................. 441 

Artista: Rene Magritte – O Grande Família – 1963 ............................................................... 441 

 

Figura 39 – No fechar das cortinas, a (in)certeza de um fim.................................................. 442 

Artista: Desconhecido............................................................................................................. 442 



 
 

 

SUMÁRIO 

1 PRELÚDIO – UMA EXPLICAÇÃO (DES)NECESSÁRIA ........................................... 28 
 

2 UM PRÓLOGO FORA DE LUGAR, MAS NÃO MENOS IMPORTANTE ................ 43 
 

3 O ABRIR DAS CORTINAS ............................................................................................... 47 
 

4 UMA CANTATA EM VERSO E PROSA DO QUE ESTÁ POR VIR ....................................... 49 

 

5 CINCO ATOS: O ENREDO TEÓRICO .......................................................................... 71 
 

6 1º ATO – VI E NÃO ENXERGUEI: OLHEI E FUI ALÉM ........................................... 85 
 

7 2º ATO – NO MOVIMENTO DO IR E VIR, O JOGO E A ARTE ............................. 106 
 

8 3º ATO – A AUTOPOIESE DA ARTE ........................................................................... 130 
 

9 4º ATO – NA PONTA DO PÉ: A ARTE E A POTENCIALIZAÇÃO DE 

SENTIDOS....... ..................................................................................................................... 163 
 

10 5º ATO – É NECESSÁRIO PENSAR: A ARTE NOS PROCESSOS DE ENSINO . 192 
 

11 QUATRO ATOS: A METODOLOGIA, A PRODUÇÃO E A ANÁLISE DOS 

DADOS...... ............................................................................................................................ 216 
 

12 6º ATO – NO MÉTODO HERMENÊUTICO, A COMPREENSÃO DO VER 

ARTÍSTICO .......................................................................................................................... 228 
 

13 7º ATO – NAS ASAS DO PÁSSARO, A ARTE E A INSTAURAÇÃO DE SENTIDOS 

NOS PROCESSOS DE ENSINO......... ............................................................................... 266 

13.1 Os preparativos para a jornada .................................................................................. 277 

13.2 No Vale da Saudade, perceptos da arte ...................................................................... 279 

13.3 No Vale da Procura, a arte como presença na vida e no espaço escolar ................. 289 

13.4 No Vale do Amor, a arte auxilia na compreensão dos conteúdos e na instauração de 

sentidos .......... ....................................................................................................................... 293



 
 

 

13.5 No Vale do Conhecimento, a arte potencializa sentidos ........................................... 302 
 

14 8º ATO – OLHICRIARTE: O EXPERIENCIAR ARTÍSTICO ................................ 319 
 

15 9º ATO – A ARTE A PERPASSAR OS PROCESSOS DE ENSINO ......................... 360 

15.1 O contexto histórico ...................................................................................................... 372 

15.2 O Diário de Anne Frank .............................................................................................. 377 

15.3 O porquê da escrita de um diário ............................................................................... 384 

15.4 Cada diário, uma personagem. Cada personagem, uma história ............................ 386 

15.5 Eles vieram e nos levaram: os soldados e a captura de judeus ................................ 387 

15.6 Trilhos da morte: para onde vão todos esses caminhos? .......................................... 390 

15.7 O Inferno: a chegada no campo de concentração ...................................................... 393 

15.8 Purgatório: o cotidiano nos campos de concentração ............................................... 399 

15.9 A morte veste-se de anjo .............................................................................................. 401 

15.10 Paraíso: as lembranças, a confiança em Deus e a esperança .................................. 402 

15.11 O paraíso é alcançado: a libertação .......................................................................... 405 

15.12 O encontro com Anne Frank ..................................................................................... 406 

15.13 O que esse trabalho demonstrou: percepções do professor e dos alunos .............. 407 
 

16 DESFECHO - OU SERIA UM GESTO (IN)ACABADO? .......................................... 418 
 

REFERÊNCIAS ...................................................................................................................444 
 

APÊNDICES..... .................................................................................................................... 467 
 

APÊNDICE A – Questionário para os Alunos ................................................................... 468 

APÊNDICE B – Questionário para os Professores ........................................................... 469 

APÊNDICE C – Termo de consentimento livre e esclarecido professores ..................... 470 

APÊNDICE D – Termo de consentimento livre e esclarecido responsáveis pelos 

discentes.... ............................................................................................................................. 472 

APÊNDICE E – Termo de assentimento alunos menores de idade ................................. 474 

APÊNDICE F – Declaração de anuência ........................................................................... 476 

APÊNDICE G – Declaração de anuência ........................................................................... 477 

APÊNDICE H  – Termo de consentimento livre e esclarecidoprofessores participantes 

na oficina “olhicriarte” ........................................................................................................ 478 

APÊNDICE I  – Termo de consentimento livre e esclarecido .......................................... 480 

APÊNDICE J  – Termo de consentimento livre e esclarecido pais ou responsáveis ...... 482 

APÊNDICE L – Termo de assentimento alunos menores de idade ................................. 484 
 

ANEXOS ......... ..................................................................................................................... 486 

ANEXO A – Palavras ........................................................................................................... 487 

ANEXO B – Me ajuda a olhar ............................................................................................. 488 

ANEXO C – Versos soltos 1 ................................................................................................. 489 

ANEXO D – Versos soltos 2 ................................................................................................. 490 

ANEXO E – Escrevo porque... ............................................................................................ 491 

ANEXO F – Versos soltos 3 ................................................................................................. 492 

ANEXO G –  Samba da Utopia ........................................................................................... 493 

ANEXO H – Na língua do "F" a possibilidade do comunicar e do escrever .................. 494 

ANEXO I – Na língua do "F" a possibilidade do comunicar e do escrever .................... 495 

ANEXO J – O lixo ................................................................................................................ 496



28 

 

 

1 PRELÚDIO – UMA EXPLICAÇÃO (DES)NECESSÁRIA 

Figura 6 – À sombra do mandacaru, li meu primeiro livro 

Artista: Sebastião Salgado 

 

Fonte: https://www.ilpost.it/2015/06/20/salgado-altre-americhe/salgado-altre-americhe-6/ 



29 

 

 

O que se passa na mente das pessoas? O que se passa em nossa própria mente? Quais 

são os meus e os seus pensares? Sr. Rabuja, o que procura?  

Todas as manhãs, bem cedinho, ele sai de sua casa em direção às vielas do povoado. 

Com sua estatura encurvada e roupas esfarrapadas, mochila amarrotada presa às costas, 

procura não se sabe o quê e “movimenta-se como alguém que não sabe o que é pressa” 

(FETH, 1996, s/p). Sempre pontual, nunca se atrasa, a ponto de permitir que os relógios da 

cidade, inclusive o da velha torre da igreja, sejam acertados conforme o compasso rítmico de 

seus anosos passos. Conforme o Sr. Rabuja, assim são as pessoas velhas - carregam o tempo 

no bolso de suas vestimentas. Cautelosamente, como se joias raras fossem, guardam cada 

minuto, cada hora e cada dia de sua existência. Mas, o Sr. Rabuja guarda algo mais. Ele é um 

colecionador de pensamentos. Desde os mais dantescos até os mais ínfimos. Os mais pesados 

e os leves, como plumas ao vento. 

Assim que ouve algum, ele abre a mochila, assobia suavemente, e aquele 

pensamento logo chega voando, entra na mochila e se junta aos outros que já se 

encontravam lá dentro. Alguns vêm voando suavemente, outros se aproximam tão 

depressa que quase derrubam o Sr. Rabuja. Uns acham logo a entrada da mochila, 

outros demoram um tempo. Alguns são tão inquietos e desajeitados que escorregam 

e caem na calçada. Cada pensamento tem seu comportamento próprio. Pensamentos 

são coisas imprevisíveis (FETH, 1996, s/p.). 

O Sr. Rabuja que, ao longo de sua vida, já viu de tudo um pouco, já se espantou e 

deixou de se espantar, às vezes para e se questiona como os pensamentos podem ser tão 

diferentes uns dos outros. Na solidão de sua casa, organiza-os em uma vasta prateleira: 

Na prateleira da Letra A, por exemplo, encontramos os pensamentos acanhados, 

aflitivos, agressivos, amalucados, amáveis, arrojados... 

Na prateleira da letra B encontramos os pensamentos belos, blasfemos, bobos, 

bonachões, bondosos, brilhantes, burlescos... 

Na prateleira do C temos os pensamentos caóticos, corajosos, criteriosos, curiosos 

(FETH, 1996, s/p.). 

E assim, continuamente, a prateleira alfabética vai se enchendo de pensamentos. Cada 

qual em seu lugar. Mas o Sr. Rabuja tem de estar bem atento, pois os pensamentos são quase 

transparentes e é muito fácil confundi-los pela miopia do olhar. Às vezes, os pensamentos 

mais brincalhões resolvem se esconder. Fogem e desaparecem a seu bel-prazer. E lá se vai o 

Sr. Rabuja, pacientemente, procurá-los.  

Então, ele procura aquele pensamento de joelhos por todo o quarto, por todos os 

cantos escuros. Mas isso não é muito frequente e só acontece com os pensamentos 

atrevidos, com os animados, com os marotos e com os vulgares. E como o Sr. 

Rabuja é um homem pacífico, basta ele ter um pensamento especialmente bonito nas 

mãos para se esquecer de tudo o mais (FETH, 1996, s/p.). 



30 

 

 

Após terminar a classificação, o Sr. Rabuja deixa os pensamentos a descansar, a 

maturar. Em seguida, deposita-os cuidadosamente na terra fértil, no imenso jardim de sua 

casa. Não demora muito - talvez entre o despertar da noite e o alvorecer do novo dia - nos 

canteiros úmidos de orvalho, brilham, as flores mais magníficas e raras que se pode imaginar. 

E, sem que o Sr. Rabuja se aperceba, a alomorfia acontece. “Pouco a pouco, com grande 

delicadeza, as flores se dissolvem. Elas se desfazem em inúmeras partículas que parecem 

floquinhos de poeira dançando ao sol. Ao primeiro ventinho, se dispersam, colorindo todo o 

céu” (FETH, 1996, s/p.). 

Em meio a uma melodia suave, os pensamentos, um a um, modificados em si e 

transformados pelo árduo trabalho do Sr. Rabuja, novamente voltam a se dissipar à procura de 

alguém.  

*** 

Fecha o livro. Olha para o pequeno grupo a esconder-se sob a sombra do velho 

mandacaru espinhento. No seu entorno, a terra árida do sertão. Na singeleza das vestes, o 

encanto pelas palavras. Na tempestade dessas, suas próprias fragilidades (KETZER, 2017). 

Foi o primeiro livro que leu sozinho em público, pois há pouco descobriu as palavras, seus 

códigos e signos.  Mas, já sabe, de própria vivência, que 

A palavra não escolhe apenas um signo para uma significação já definida, como se 

vai procurar um martelo para pregar um prego ou um alicate para arrancá-lo. Tateia 

em torno de uma intenção de significar que não se guia por um texto, o qual 

justamente está em vias de escrever. Se quisermos lhe fazer justiça, teremos de 

evocar algumas daquelas que poderiam estar em seu lugar, e foram rejeitadas, sentir 

como teriam atingido e agitado de outro modo a cadeia da linguagem, a que ponto 

esta palavra era realmente a única possível, se essa significação devia vir ao mundo 

(MERLEAU-PONTY, 2013, p. 69). 

Está feliz, pois descobriu que a palavra é portadora de múltiplos signos e que cabe ao 

leitor ler o seu sentido, ou seja, que é “o leitor que deve atribuir significado a um sistema de 

signos e depois decifrá-lo” (MANGUEL, 1997, p. 21). Não só está feliz, como repete a si 

mesmo que se trata de uma emoção sem fim. Sente-se o próprio Sr. Rabuja, com suas vestes 

maltrapilhas e dignas, a recolher pensamentos e a dissipá-los para aqueles que, atentamente ou 

distantes, os ouvem.  

Suas mãos calejadas pelo trabalho árduo tornam-se sedosas ao folhearem o livro. Seus 

olhos cansados tornam-se firmes, ao decifrarem as letras, e vivazes ao perderem a cegueira 

analfabética do olhar. Seu corpo toma outra postura. Tem a nítida impressão de que, ao se 



31 

 

 

deixar possuir pelo texto, a beleza acontece. Mais do que isso, alimenta-se dela, sacia sua 

fome de curiosidade. E, ao ler, torna-se um artista das palavras. “É através das palavras, entre 

as palavras, que se vê e se ouve” (DELEUZE, 2011, p. 9). Ousadamente, explica às crianças, 

ali presentes, que é pela palavra que dialogamos, nos expressamos, dizemos quem somos e 

quem nos habita. Mas adverte: as palavras, por si sós, são incapazes de dizer todo um pensar.  

As palavras são objetos magros incapazes de conter o mundo. Usamo-las por pura 

ilusão. Deixámo-nos iludir assim para não perecermos de imediato conscientes da 

impossibilidade de comunicar e, por isso, a impossibilidade da beleza. Todas as 

lagoas do mundo dependem de sermos ao menos dois. Para que um veja e o outro 

ouça. Sem um diálogo não há beleza e não há lagoa. A esperança na humanidade, 

talvez por ingênua convicção, está na crença de que o indivíduo a quem se pede que 

ouça o faça por confiança. É o que todos almejamos. Que acreditem em nós. 

Dizermos algo que se toma como verdadeiro porque o dizemos simplesmente 

(MÃE, 2017, p. 40). 

“Todas as lagoas do mundo dependem de ao menos sermos dois” (MÃE, 2017, p. 40). 

De fato, dialogar é da alçada do duo, um que vê e outro que ouve.  Duas pessoas, dois seres. 

Mas o diálogo também pode ser entre o ser e as palavras.  

A leitura é uma conversa. Os lunáticos respondem a diálogos imaginários que 

ouvem ecoar em algum lugar de suas mentes; os leitores respondem a um diálogo 

similar provocado silenciosamente por palavras escritas numa página. Em geral a 

resposta do leitor não é registrada, mas em muitos momentos ele sentirá a 

necessidade de pegar um lápis e escrever as respostas nas margens de um texto. Esse 

comentário, essa glosa, essa sombra que às vezes acompanha nossos livros favoritos, 

estende e transporta o texto para o interior de um outro tempo e de uma outra 

experiência; empresta realidade à ilusão de que um livro fala a nós (seus leitores) e 

nos faz viver (MANGUEL, 2005, p. 10). 

Sim, desde o momento em que aprendeu a decifrar as palavras, passou a dialogar com 

elas. Passou a viver uma vida que não a sua, mas que, ao mesmo tempo, não estava dissociada 

de sua realidade e de seu viver. Aprendeu os limites da palavra. Sim,  

Alguns pensam que os seus argumentos, por sua clareza e lógica, são capazes de 

convencer. Levou tempo para que compreendesse que o que convence não é a ‘letra’ 

do que falamos; é a ‘música’ que se ouve nos interstícios de nossa fala. A razão só 

entende a letra. Mas a alma só ouve a música. O segredo da comunicação é a poesia. 

Porque poesia é precisamente isso: o uso das palavras para produzir música. Pianista 

usa piano, violeiro usa viola, flautista usa flauta – o poeta usa a palavra (ALVES, 

2008, p. 97). 

Por isso aprendeu que, para dialogar com as palavras, é necessário auscultar seus 

ruídos, pois, no oculto de seus ocos, existe o germinar de cores e sons. É necessário vasculhar, 

em seus interstícios, o pulsar da vida e procurar transpor suas barreiras em busca de 

significados e significâncias outras. É necessário “considerar a palavra antes de ser 

pronunciada, o fundo de silêncio que não cessa de rodeá-la, sem o qual ela nada diria, ou 



32 

 

 

ainda pôr a nu os fios de silêncio que nela se entremeiam” (MERLEAU-PONTY, 2013, p. 

69). Para descobrir o silêncio contido na palavra, para dissecá-la, retirar sua pele, a 

necessidade cirúrgica de “fazer um corte até a medula, seguir cada artéria e cada veia e depois 

dar vida a um novo ser sensível” (MANGUEL, 2009, p. 33). E, nada de ser um taxidermista - 

não se trata de um empalhamento de palavras; ao contrário, é preciso respeitar a palavra e 

compreender cada vida que ela comporta e liberta.  

Depois que aprendeu a ler, passou a se sensibilizar consigo e com o outro. Modificou-

se e modificou seu entorno, pois “todos lemos a nós e ao mundo à nossa volta para vislumbrar 

o que somos e onde estamos. Lemos para compreender, ou para começar a compreender” 

(MANGUEL, 1997, p. 20). E, nesse ler o entorno e o mundo, “já se soma um esforço de 

decifrar as coisas sem sentido” (KETZER, 2017, p. 39). 

Vislumbrou que, na profundidade do que se apresenta nas páginas do livro - que 

necessita ser lido fora de suas fronteiras (JABÉS, 2014) -, existe um caminho sem fim. E que 

se deixar sumir na história, que porventura o enreda, é a garantia de que as coisas não 

assombrem mais. Que os fantasmas apenas guardam o sono ou até mesmo libertam os sonhos. 

E que, ao libertar-se das correntes que o oprimiam, a vida passou a existir sem problemas. Ao 

ler, concorda com Proust e ousa parafraseá-lo: 

Pelos [livros] podemos sair de nós mesmos, saber o que vê outrem de seu universo 

que não é o nosso, cujas paisagens nos seriam tão estranhas como as que porventura 

existem na Lua. Graças à [leitura], em vez de contemplar um só mundo, o nosso, 

vemo-lo multiplicar-se, e dispomos de tantos mundos quantos artistas originais 

existem, mais diversos entre si do que os que rolam no infinito (apud DELEUZE, 

2010, p. 40).3 

Passou a “ad-mirar” (ZANELLA, 2013) as coisas com outro olhar. Aliás, seus olhos 

tornaram-se tão pequenos perante a imensidão, que não cabiam mais em si. Foi necessário 

compartilhar outros olhos para conseguir ver a vastidão. Compreendeu que ler é caminhar 

para dentro de si. “Eu disse que ler é como caminhar dentro de mim mesmo. E é verdade. 

Quando lemos estamos a percorrer nosso próprio interior” (MÃE, 2018, p. 59). Entendeu que, 

ao ler, os pensamentos se (trans)formam e transforma-se o próprio leitor, seus pensamentos, 

suas emoções e sua condição axiológica (ZANELLA, 2013). Descobriu-se um ser em devir e 

tornou-se dono de si.  E, pela primeira vez na vida, sentiu a sensação de ser livre.  

 

                                                           
3 No original, no lugar de livros e leitura, lê-se arte. 



33 

 

 

*** 

Palavras. Sempre no plural. Existem aos milhões. São como os pensamentos que o Sr. 

Rabuja coleciona. Necessitam serem caçadas, plantadas, cultivadas, para que, de um instante 

ao outro, possam florescer e se dispersar novamente ao ar.  

Cada palavra contém  

Um viajante que acata 

A procura de itinerários 

Que desvelem caminhos 

Ou rotas de fuga num mapa 

 

Cada palavra é um poço 

Em relação conjugal 

Marcas e diagramas 

Entonações e entranhas 

De consoantes e vogais 

 

[...] 

 

Às vezes se agrupam 

Pouco confiáveis 

Em estranho solipsismo 

Ou se enrolam em estrofes 

E as de estribilho... 

Que do sofrer 

Fazem estoque 

 

Tem as que se aproximam 

As que desatam 

As que nascem 

As que se desfolham 

No momento exato 

 

[...] 

 

Mas não faz mal... 

A toda hora 

Outras virão 

Com seus postulados 

Afinal são muitas 

Espalhadas 

Por tudo que é lado (REICHERT, 2019, p. 74-6). 

 

É difícil encontrar as palavras certas na hora de nos expressarmos. E, mesmo 

escolhidas, uma a uma, a fim de serem meticulosamente expostas nas prateleiras/linhas do 

escrevinhar, podem dizer algo diferente daquilo que gostaríamos de ter dito. “A palavra 

escrita está pela palavra oral, mas se caracteriza como realidade outra, a possibilitar a quem a 

lê experiências diversas de quem as ouve” (ZANELLA, 2013, p. 36).  

Destarte, pensar em uma escrita, em seu formato e nas palavras que a compõem, não é 

nada fácil. Qual estrutura iremos seguir? A científica? A romancista? A poética? A filosófica? 



34 

 

 

Depois de escolhida, a dúvida - será esta estrutura capaz de dizer tudo aquilo que 

pretendemos?  Pensar em uma escrita e em suas palavras demanda demora, dedicação, deixar 

que o tempo presente nos bolsos do vestir dite as regras do transcurso temporal.  

Escolher palavras é fazer tal qual o Sr. Rabuja - depois de pescadas no vocabulário 

pessoal e alheio, é necessário deixá-las descansar. É preciso niná-las, acalentá-las, olhá-las de 

vez em quando. Trocá-las de lugar, caso seja necessário. Deixá-las em silêncio, pois é no 

silenciamento das palavras, ou de quem as escolhe, que ocorre o movimento do (re)(des)fazer 

da escrita (ZANELLA, 2013). Deixá-las maturar a fim de encorparem, ganharem tom e sabor 

para, só então, semeá-las na folha em branco. 

“Num turbilhão de encantamento, o tilintar dos dedos nas teclas vão registrá-las a fim 

de preencherem a tela supostamente vazia do computador. Deleite, por certo, arrebatamento, 

sem dúvida” (ZANELLA, 2013, p. 123). Uma escrita é da alçada do inacabamento. Assim 

anuncia Deleuze: “escrever é um caso de devir, sempre inacabado, sempre em via de fazer-se, 

e que extravasa qualquer matéria vivível ou vívida. É um processo, ou seja, uma passagem de 

Vida que atravessa o vivível e o vivido” (2011, p. 11). 

Pensar em uma escrita e em suas palavras não é somente uma questão de colocar 

engrenagens escreventes para funcionar. Também demanda ousadia e sensatez de fabricá-las 

para a escritura: “[...] tampouco sabia como se daria [...] não se tratava só de inventar uma 

forma que atendesse ao que precisava ser dito, senão, inventar uma forma de dizer que 

encarnasse um sentido, enquanto ele se produzia de escrita” (FARINA,1999, p. 18). É preciso 

lembrar que, ao se escrever, a palavra escrita vai além do aprisionamento da folha em branco. 

Ela ganha vida. Ela percorre, galopa, voa para muito além da imaginação.  

Escrita é, nesse sentido, palavra dirigida a um ou muitos outros, reais ou 

imaginários, com o(s) qual(is) o autor se comunica, dialoga. Outro(s) que pode(m) 

ou não compartilhar conhecimentos vários, pode(m) ou não participar do contexto 

extraverbal pressuposto e cuja condição, em relação ao não dito, inaugura a própria 

escrita e a orienta. Outro(s) que pode(m) vir a responder a essa palavra, em tempos, 

espaços e intensidades variadas, a depender do que é dito e dos muitos contraditos 

que a partir deste podem vir a ser produzidos (ZANELLA, 2013, p. 120). 

Para o formato da escrita desta tese, escolhemos o enredo teatral e suas variações e, no 

que tange às palavras, as poéticas e filosóficas, pois são essas que oportunizam “sons 

cientificamente musicais que favorecem um mergulhar na leitura. O pulsar nas entrelinhas” 

(ZANELLA, 2013, p. 11). Sim, ousadamente quebramos a cientificidade do escrever 

acadêmico, mas sem deixar de alcançar e apresentar o resultado de uma pesquisa científica. 



35 

 

 

Mais do que isso, trazemos, na escrita, as marcas leitoras do pesquisador mediante uma 

narrativa teatral “do movimento constitutivo de olhares, ouvires e sentires, e das escolhas 

teóricas e metodológicas objetivadas em textos disponíveis a olhares de muitos outros que 

possam ressignificá-los, reinventá-los” (ZANELLA, 2013, p. 25). Dessa forma, todas as 

palavras presentes nestes escritos tornam-se sinfonias abertas cujos acordes estão “à espera de 

outras notas que possam vir a dialogar com o que aqui se apresenta” (ZANELLA, 2013, p. 

25). 

*** 

O desenrolar da tese passa-se em um teatro. Por teatro, compreendemos a junção dos 

verbos gregos “ver, enxergar”, ou seja, é o lugar de ver, “ver o mundo, se ver no mundo, se 

perceber, perceber o outro e sua relação com o outro” (ARCOVERDE, texto digital, p. 601). 

E, mais do que isso, perceber que “só o outro transforma o eu em sujeito” (ZANELLA, 2013, 

p. 15). O teatro é a arte da coletividade, da dependência, devido à necessidade da existência 

de um público e “essa carência é a motivadora direta da influência que cada elemento de uma 

apresentação pode causar em relação aos outros. Essa mistura nada mais é do que a 

interatividade” (BARROS, 2002, p. 9). Uma interatividade que se faz presente entre ator e 

expect-actor4 e onde tudo o mais são questões suplementar es (PAVIS, 2008).  

É no espaço teatral que ocorre o encontro do artista, da tese e do expect-actor. E aqui 

cabe uma ressalva explicativa - o expect-actor é um outro que, ao se relacionar com o que se 

passa no palco, com os artistas que aí se encontram e com o enredo em si, o reinventa e já se 

apropria dele. É um outro que observa (expect) e age (actor) ao mesmo tempo, 

Sob o prisma de sua história, seus interesses, suas motivações, afecções e vontades. 

Falo de expect-actor em vez de expectador, justamente para demarcar sua condição 

ativa, o lugar que assume perante a(s) realidade (s) como alguém que não somente 

assiste ao mundo, mas que o reinventa continuamente, ainda que essa sua condição 

inventiva não venha a ser reconhecida. Expect-actor como um ou vários outros 

possíveis, em diferentes tempos e espaços, que podem vir a estabelecer relações 

estéticas com a obra criada e engendrar, como o olhar/ouvir/sentir transfigurados 

nesse encontro, outras obras, para si, para tantos outros (ZANELLA, 2013, p. 43). 

No encontro, há troca(s). Um diálogo constante, uma fusão de horizontes 

hermenêuticos. Ao longo do espetáculo, o jogo acontece. E, como tal, “os atores representam 

seus papéis, e assim o jogo torna-se representação, mas o próprio jogo é conjunto de atores 

                                                           
4 Termo cunhado pelo diretor de teatro brasileiro, Augusto Boal. 



36 

 

 

(spielern) e expect-actores. De fato, é aquele que não participa do jogo mas assiste quem faz a 

experiência mais autêntica e que percebe a ‘intenção do jogo’” (GADAMER, 2015, p. 164).5 

É na representação que ocorre no palco que o jogo “eleva-se a sua idealidade própria” 

(GADAMER, 2015, p. 164). Ainda, conforme o autor, “a encenação de um espetáculo teatral 

não pode ser separada dele como algo que não pertence ao seu ser essencial, já que é tão 

subjetivo e fugidio como as vivências estéticas nas quais é experimentado” (GADAMER, 

2015, p. 172). Por último,  

O palco teatral é uma instituição política de natureza única, porque somente na 

execução faz transparecer aquilo tudo que há no jogo, a que está aludindo, os ecos 

que desperta. Ninguém sabe de antemão qual será o ‘resultado’ e o que irá se perder 

no vazio. Cada execução é um acontecimento, mas não um acontecimento que se 

oponha ou posicione ao lado da obra poética como algo autônomo; o que acontece 

no acontecimento da encenação é a própria obra (GADAMER, 2015, p. 209). 

No palco, os artistas deixam-se levar pelo seu representar e, como intérpretes 

mediadores, “representam o jogo da arte na medida em que, pela sua aplicação, situam-se 

diante de um conteúdo rico em significados e, compreendendo-o, buscam interpretar o sentido 

do que realizam” (VASCONCELOS, 2013, p. 70). O artista necessita compreender sua 

própria importância e precisa entender o que está falando (GADAMER, 2015). No jogo da 

representação, “o intérprete mediador abdica de sua subjetividade, para recriar-se através da 

própria orientação da obra por ele apresentada. [...] O jogo se consuma com o assistir do 

expect-actor” (VASCONCELOS, 2013, p. 66).  O artista entrega seu corpo ao outro, àquele 

que nasce de si mesmo e ganha outra vida que não a sua, mas não necessariamente dissociada 

dela. Ao mesmo tempo em que se deixa levar, convence a plateia, expect-actriz, a 

acompanhá-lo. 

Destarte, os expect-actores, por sua vez, acompanham e seguem seu próprio fluxo e o 

movimento do artista. Nem este nem aqueles sabem o final. Os artistas, embora conheçam o 

enredo, não sabem como ele será recebido pelo expect-actor, cuja reação é sempre uma 

surpresa. Conseguir sua aprovação é muito difícil, uma vez que a plateia é a grande juíza e só 

ela é responsável pelos aplausos - demonstrados com palmas e bravos - ou pelos apupos, em 

meio a assovios e gritos de desagrado. Já os expect-actores, por não conhecerem o enredo, 

acompanham o desenrolar da trama sem se darem conta da sua própria importância e da sua 

participação no espetáculo. Isso porque, no jogo teatral, não há um “fazer para”, mas sim um 

“fazer com”, ou seja, sem um público, a peça teatral deixa de acontecer.  

                                                           
5 No original, lê-se espectadores. 



37 

 

 

Entre o limiar do palco e a primeira fila de poltrona, um espaço. Um limite fronteiriço 

entre o mundo do artista e o mundo dos expect-actores presentes na plateia. Ambos os lados 

projetam e contemplam horizontes. Ambos procuram compreender melhor a si mesmos. Cada 

um procura compreender quem é o outro que o interpela. É nesse espaço que ocorre a troca de 

energias, de influências, a tentativa de fazer ver e perceber e, acima de tudo, ocorre a fusão de 

horizontes.  

Todos eles juntos formam esse grande horizonte que se move a partir de dentro e 

que abarca a profundidade histórica de nossa autoconsciência para além das 

fronteiras do presente. Na realidade, trata-se de um único horizonte que engloba 

tudo quanto a consciência histórica contém em si (GADAMER, 2015, p. 402).  

Nesse espaço, olhares são tecidos e se abre a possiblidade de compreender que o que 

se viu não é suficiente e que o olhar permite ir além. É nesse espaço que artistas e expect-

actores, dão a sua contribuição para a compreensão desta tese, pois é nele que as imagens 

poéticas são sentidas, recebem um valor intersubjetivo e serão repetidas a fim de comunicar o 

entusiasmo (BACHELARD, 2008). Certamente, haverá encontros, estranhamentos, não 

aceitação, repulsa, reconhecimento, empatia, acolhimento, busca por um sentido, uma 

incompreensão compreensível, apontamentos. Haverá olhares sobre o que se passa e sobre o 

que escapou ao próprio olhar, pois o teatro “convida para a experiência da intensidade” 

(SCHNEIDER, 2015, p. 13).  

Os artistas, em palco, representam seus papéis para o outro, seja o expect-actor, na 

plateia, ou aquele que, porventura, venha a ler o que se passa no jogo como um todo. A 

participação dos artistas no jogo “não é mais determinada pelo fato de serem totalmente 

absorvidos e se perderem nele, mas por jogarem (representarem) seu papel por referência, 

tendo em vista o conjunto do espetáculo no qual não eles, mas os expect-actores devem ser 

totalmente absorvidos” (GADAMER, 2015, p. 164). Na intensidade do representar, os artistas 

deixam de ser quem são e passam a ser um outro a transmitir algo a alguém. Ou seja, “a 

identidade daquele que joga não continua existindo para ninguém” (GADAMER, 2015, p. 

167).  

Pelo palco desta tese irão passar a menina de olhos grandes, Frida Kahlo, jogadores de 

cartas, um inventor e um escultor. Também um maestro e sua orquestra, acompanhada de um 

coral. Um pintor e uma bailarina. Irão passar a poupa/menina e a passarada a sobrevoarem os 

vales em busca do pássaro encantado; o artista a ser julgado; e o professor a experienciar um 

processo de olhicriarte. Enfim, um eu escritor, orientador e leitor. E muitos mais que por aqui 



38 

 

 

desejarem passar. E irá passar todo aquele que se deixar levar pelo jogo da representação. Que 

se permitir esquecer sua identidade, sua subjetividade, para dar vida, corpo e voz ao outro 

que, por ora, está a representar. Portanto, trata-se de uma tese divertissement. Em suas 

apresentações, intercalam-se o espetáculo teatral, a dança e o canto e suas temáticas alternam 

a ficção e a utilidade pública e social no que tange ao ensino. 

 E, diante do palco, sentado em sua poltrona, os expect-actor. Há que se ter ciência de 

que o teatro lhe proporciona acessar universos múltiplos que existem apenas na sua 

imaginação. Ao se abrir para a obra, ele “é convidado a transportar-se para outro tempo, para 

um lugar diferente, e vive as emoções como se ele próprio fizesse parte dessa cena que 

acontece no palco” (SCHNEIDER, 2015, p. 13).  Mais do que isso, o teatro 

Coloca o expect-actor no lugar do jogador (ator). É ele, e não o jogador (ator), para 

quem e em quem se joga (representa) o jogo (espetáculo). É claro que isso não quer 

dizer também que o jogador (ator) não poderá experimentar o sentido do todo em 

que ele, representando, desempenha seu papel. O expect-actor tem somente uma 

primazia metodológica: pelo fato de o jogo ser realizado para ele, torna-se patente 

que possui um conteúdo de sentido que deve ser entendido, podendo por isso ser 

separado do comportamento do jogador (ator). No fundo, aqui se anula a distinção 

entre jogador (ator) e expect-actor. A exigência de se visar o jogo mesmo, no seu 

conteúdo de sentido, é igual para ambos (GADAMER, 2015, p. 164). 

Muitas vezes, no desenrolar da tese, o expect-actor tornar-se-á ser ativo no fluir da 

discussão. Tecerá diálogos diversos não só com as personagens e o arauto, mas com os 

demais membros da plateia. A esse movimento damos o nome de happening, ou seja, há uma 

participação do público no desenrolar do espetáculo “através de uma participação voluntária 

ou de ações de provocação que o levem a reagir” (TEIXEIRA, 2005, p. 147). Torna-se o 

expect-actor uma espécie de coautor e coator, pois, mesmo não sabendo do enredo em si, 

demonstra seu potencial criativo e sua capacidade para improvisar. 

Em cena, anunciando o roteiro da escrita e o desenrolar da história, bem como os 

rumos a serem percorridos, o arauto. Figura importante no contexto medieval, tinha a função 

de realizar as proclamações solenes, verificar os títulos de nobreza e proclamar as guerras e os 

acordos de paz. Em meio ao rufar dos tambores, o arauto pronuncia a temática deste escrito, 

sua problematização, seus objetivos, sua justificativa, seu referencial teórico. A tese está 

dividida em atos, os quais percorrem o olhar, a arte, a autopoiese, o jogo, o sentido, a 

potência, a arte no ensino.  

O arauto proclama também a metodologia, qualitativa e Hermenêutica, além da análise 

da produção de dados que, por sua vez, também está dividida em três atos. O primeiro deles 



39 

 

 

corresponde às entrevistas com alunos do Ensino Médio e professores de uma escola da rede 

estadual de Capitão/RS, cujas respostas são analisadas sob a perspectiva da Análise Textual 

Discursiva (MORAES; GALIAZZI, 2016) e estão divididas em quatro categorias. O segundo 

está relacionado às duas oficinas realizadas com os professores - uma sobre o teatro e a outra 

sobre a escrita enquanto arte - por meio das quais eles puderam passar por experiências 

artísticas e escrever esse experienciar em Diários Vivenciais. Por último, no terceiro ato, a 

arte a perpassar a práxis pedagógica, em que se faz presente uma atividade interdisciplinar 

realizada entre as áreas das Ciências Humanas e das Linguagens a partir do filme “Minha 

Querida Anne Frank” e da criação de um diário com relatos, poesias e desenhos por parte dos 

alunos do 2º e 3º Anos do Ensino Médio. Vale ressaltar que as oficinas e a prática pedagógica 

foram igualmente desenvolvidas em uma escola da rede estadual de Capitão/RS.  

O arauto, muitas vezes, faz com que os jogadores (atores), por algum momento, 

desapareçam, congelem em cena, tornando-se ele o jogador (ator) a comandar o espetáculo. 

Destarte, “nenhum deles tem um ser-para-si próprio, um ser que ele manteria no sentido de 

que seu jogo significaria que ‘está apenas jogando” (GADAMER, 2015, p. 166). O arauto 

toma formas diferentes. Ora é ele mesmo apenas a anunciar, ora é o juiz de uma partida de 

cartas. Outras vezes é o espelho auxiliar do maestro, o inventor de máquinas da memória, o 

homem em dúvida na porta. Há momentos em que o arauto se transforma no pesquisador, no 

expect-actor e, até mesmo, no leitor. Ele mesmo anuncia: “quem somos nós, quem é cada um 

de nós senão uma combinatória de experiências, de informações, de leituras, de 

imaginações?” (CALVINO, 1990, p. 138). Ainda, na busca da compreensão de si mesmo, 

acaba por declamar um poema da poetiza croata Wislawa Szymborska: 

A vida na hora 

Cena sem ensaio. 

Corpo sem medida. 

Cabeça sem reflexão. 

 

Não sei o papel que desempenho. 

Só sei que é meu, imperturbável. 

 

De que trata a peça 

Devo adivinhar em cena. 

 

Despreparado para a honra de viver, 

Mal posso manter o ritmo que a peça impõe. 

Improviso embora me repugne a improvisação. 

Tropeço a cada passo no desconhecimento das coisas. 

Meu jeito de ser cheira à província. 

Meus instintos são amadorismos. 

O pavor do palco, me explicando, é tanto humilhante. 

As circunstâncias atenuantes me parecem cruéis. 



40 

 

 

Não dá para retirar as palavras e os reflexos 

Inacabada a contagem das estrelas, 

O caráter como o casaco às pressas abotoado 

Eis os efeitos deploráveis desta urgência. 

 

Se eu pudesse ao menos praticar uma quarta-feira antes 

Ou ao menos repetir uma quinta-feira outra vez! 

Mas já se avizinha a sexta com um roteiro que não conheço. 

Isso é justo – pergunto (com a voz rouca porque nem sequer me foi dado pigarrear 

nos bastidores). 

 

É ilusório pensar que esta é só uma prova rápida 

Feita em acomodações provisórias. Não. 

De pé em meio à cena vejo como é sólida. 

Me impressiona a precisão de cada acessório. 

O palco giratório já opera há muito tempo. 

Acenderam-se até as mais longínquas nebulosas. 

Ah, não tenho dúvida de que é uma estreia. 

E que quer que eu faça, 

Vai se transformar para sempre naquilo que fiz (SZYMBORSKA, 2011, p. 30). 

Na busca de sua identidade, o arauto é muitos e não é ninguém. Uma multiplicidade 

em si mesmo - a compreensão de si está no palco e na vida. Do seu ponto de vista de jogador, 

“o que vem a ser o seu jogo, [...] não se trata de transformação mas de disfarce” (GADAMER, 

2015, p. 166). E, no jogo de disfarces, 

Quem está disfarçado não quer ser reconhecido, mas quer aparecer como se fosse 

um outro e ser considerado como se fosse o outro. Aos olhos do outro gostaria de 

não ser mais ele mesmo; gostaria de ser tomado por alguém. Não quer pois que o 

adivinhemos ou reconheçamos. Faz o papel de outro, mas ele joga da mesma forma 

que nós jogamos de alguma coisa na lida prática, isto é, meramente fingindo, 

simulando e aparentando. Aparentemente, quem joga o jogo dessa forma nega, de 

certo, a continuidade consigo mesmo. Mas na verdade isso significa que ele reserva 

para si essa continuidade consigo mesmo e só a sonega aos outros, para os quais 

representa (GADAMER, 2015, p. 166). 

O cenário, não menos importante que o jogo, é o espaço onde esse acontece, pois 

“todo jogo se processa e existe no interior de um campo previamente delimitado, de maneira 

material ou imaginária, deliberada ou espontânea” (HUIZINGA, 2004, p. 13). No palco, a 

presença dos atores e dos objetos que compõem o cenário - diferentes obras de arte: 

fotografias, pinturas, partituras, escultura, trechos de obras literárias. No palco, histórias são 

encenadas e narradas; teorias são descritas e fundamentadas; a metodologia vai sendo 

questionada e colocada em prática mediante a produção de dados.  

O palco, “lugar proibido, isolado, fechado, sagrado, em cujo interior se respeitam 

determinadas regras. [O que se passa nele] são mundos temporários dentro do mundo 

habitual, dedicados à prática de uma atividade especial” (HUIZINGA, 2004, p. 13). É no 

palco e através do palco que se sensibilizam os expect-actores presentes na plateia, os quais 



41 

 

 

são desafiados, constantemente, a cada ato, a correrem para dentro de si, a descobrirem seus 

olhares, seus sentidos, sua potência criativa. É pelo palco, e através dele, que descobrem seu 

corpo e sua alma. Seu ser e estar no mundo.  

No palco, espaço mágico, tudo pode acontecer. É nele que a vida se confronta com a 

morte, que amizades inusitadas surgem, que molduras vazadas aprisionam e libertam. É no 

palco que a obra se (re)cria autopoieticamente inúmeras vezes, bailarinas se transformam em 

constelações, penas microscopicamente tatuadas se transfiguram em obras de arte, máquinas 

inventivas surgem a fim de resgatar memórias individuais e coletivas. No palco projetam-se 

imagens de um tempo muito distante e próximo. É onde o inusitado confronta o já posto e o 

incerto leva ao delírio, às certezas. É onde se diz o que se quis dizer, na intenção de se dizer 

outra coisa. Onde se vê e se confronta o próprio olhar,  

Na plateia, os expect-actores compreendem que, aos poucos, as tessituras artísticas 

vão sendo tecidas e a proposta desta tese vai sendo apresentada. Mas sabem que, para que o 

jogo aconteça e todos possam, cada qual à sua maneira, participar da jogada, é necessário 

seguir a regra, pois o “jogo exige uma ordem suprema e absoluta: a menor desobediência a 

esta ‘estraga o jogo’, privando-o de seu caráter próprio e de todo e qualquer valor” 

(HUIZINGA, 2004, p. 13).  

Cada expect-actor sentirá de uma forma única e peculiar o que se passa. As sensações 

serão únicas e intransferíveis. Somente cada um será capaz de dizer se aprendeu, o quanto 

aprendeu e o que aprendeu, pois cada um deixará que o aprender perpasse seu corpo da forma 

que melhor lhe prouver. Cada um se sentirá mais ou menos à vontade para participar, se 

aventurar. Alguns irão participar do diálogo; outros apenas escutarão. Alguns irão se encantar; 

outros se espantarão. Uns acreditarão na magia; outros, nada de mágico irão ver. 

Haverá os que compreenderão e aqueles que dirão tratar-se de pura loucura. Mas, a 

estes últimos diremos: “em um instante de lucidez também pode ser necessária muita loucura. 

Isso é a nossa loucura necessária, talvez a suficiente para mostrar que, após adentrarmos nela, 

podemos ainda permanecer vivos” (KETZER, 2017, p. 38). Mas, uma coisa é certa. Ninguém 

que por aqui passar será o mesmo que entrou, nem mesmo aqueles que nada sentirem. E disso 

estavam cientes, pois o convite inicial foi claro: “nunca mais somos os mesmos após darmos o 

primeiro passo”. 

*** 



42 

 

 

Debaixo do mandacaru, o grupo contempla o leitor. Agradece cada palavra lida por 

ele. Consideram-no um rei. Veneram-no como tal, uma vez que é o único que sabe ler. Ler, 

em suas condições, é sinônimo de poder, de transformação da realidade. Antes de se 

dispersarem para dar continuidade à labuta diária, solicitam uma última leitura. Sentem como 

se ela tirasse o cansaço dos ossos, amaciasse a carne maltratada, apagasse as rugas do tempo 

impostas pelo sol escaldante, desfizesse os calos e sarasse as feridas. Como se erguesse a 

coluna torta do cabo da enxada e da foice, saciasse a sede da seca do sertão, matasse a fome 

insaciável a corroer as entranhas vazias e devolvesse o sonho aos olhos e a esperança ao 

coração.  

O homem os contempla. Sabe que o que pedem é pouco, muito pouco pelo tanto de 

que necessitam. Não é rei, não se considera um. Disso tem certeza. Distribui folhas aos 

demais, para que, ao ouvirem, imaginem ser sua a voz a proferir palavras belas. Em cada frase 

lida, a beleza e a poeticidade do acontecer. A descoberta da visão em meio às cegueiras da 

vida. Por isso, sob a sombra do velho mandacaru, ele lê “A cortesia dos cegos”. 

O poeta lê seus versos para os cegos. 

Não esperava que fosse tão difícil. 

Sua voz fraqueja. 

Suas mãos tremem. 

Ele sente que cada frase 

está submetida à prova da escuridão. 

Ele tem que se virar sozinho, 

sem cores e luzes. 

Uma aventura perigosa 

Para as estrelas da poesia, 

para as manhãs, o arco-íris, as nuvens, os neons, a lua, 

e o falcão tão alto e quieto no céu. 

Ele lê – pois já não pode parar – 

sobre o menino de casaco amarelo num campo verde, 

telhados vermelhos que contam no vale, 

números irrequietos na camisa dos jogadores 

e a desconhecida, nua, na fresta da porta. 

Ele gostaria de omitir – embora seja impossível –  

todos os santos no teto da catedral,  

a mão que acena do trem em partida, 

a lente do microscópio, o anel e seu brilho, 

as telas de cinema, os espelhos, os álbuns de 

fotografia. 

Mas é enorme a cortesia dos cegos, 

admirável a sua compreensão, a sua grandeza. 

Eles escutam, sorriem e aplaudem. 

Um deles até se aproxima 

com o livro de cabeça para baixo 

pedindo um autógrafo invisível (SZYMBORSKA, 2011, p. 40). 

 

 



43 

 

 

2 UM PRÓLOGO FORA DE LUGAR, MAS NÃO MENOS 

IMPORTANTE 

Figura 7 – Transformei-me em vários, inclusive em mim 

Artista: Octavio Ocampo - Tribunal de Quixote 

 

Fonte: http://www.scaryforkids.com/optical-illusion-art/. 

 

http://www.scaryforkids.com/optical-illusion-art/


44 

 

 

Quatro anos. O que são quatro anos diante de uma vida inteira? Quanto deixamos de 

fazer, quanto pôde ser feito ou, até mesmo, quanto de nós se modifica nesse tempo? Quatro 

anos podem parecer um tempo longínquo a se arrastar em horas letárgicas. Mas também pode 

passar rápido. Quase num piscar de olhos.  

E como corre o tempo. Quando se vê já se foram dez dias, dez horas, dez meses. O 

relógio íntimo de modo algum se parece com o relógio fixado na parede, sempre tão 

regular e previsível. [...] Um relógio que quisesse dar conta do tempo de um estudo 

deveria suportar toda uma variedade de velocidades. Uma pesquisa, um estudo, uma 

escrita se faz a golpes de velocidade ou lentidão. Às vezes, tudo é muito demorado, 

tardio; outras, infinitamente veloz. E, em certos momentos, à lentidão aparente do 

corpo subjaz uma velocidade louca, inédita. Um corpo, ainda que sentado, não está 

desprovido de velocidade, está, sim, às voltas com velocidades diante das quais se 

tem sempre a sensação de estar atrasado ou adiantado, de dar voltas desnecessárias. 

Os graus de velocidade ultrapassam os limites normais de percepção; mesmo imóvel 

um corpo é capaz de veicular uma louca produção de velocidades, desde as mais 

lentas às mais vertiginosas. Acontece, frequentemente, de não se escrever mais do 

que um parágrafo durante três ou quatro horas. E, no entanto, o estudante está 

trabalhando (FERNANDES; VIEIRA, 2013, p. 169). 

Quatro anos, um tempo diferente de todos os tempos, real e inconsciente. Um tempo a 

ser aproveitado intensamente, como se os relógios, a derreterem, apontassem seus ponteiros 

para outro lado, a brincarem feito crianças. Como se a própria vida fosse um pêndulo a 

demarcar a passagem das horas. Mas não podemos nos esquecer dos coelhos brancos e seus 

relógios de bolso a repetirem insistentemente: “É tarde! É tarde! É tarde, é muito tarde”6. É 

tarde, mas também não deixa de ser cedo. Quatro anos pode ser um ciclo com início e fim ou 

um simples recomeçar. Não importa 

Que dure o tempo 

Que o tempo se der 

Se for só rastilho 

Que também se faça referido 

Na lembrança que convier 

Mas já te digo... 

Tais momentos que trouxer 

Não serão futuro jazigo 

E sim festejos bem providos 

Na memória que enfim couber (REICHERT, 2019, p. 53). 

Quatro anos de uma jornada em que, muitas vezes, os pés estavam fincados no barro e 

“a cabeça ciscando nuvens” (REICHERT, 2019, p. 111). Em que foi necessário esvaziar a 

mente, colocar o dentro para fora e o fora para dentro (REICHERT, 2019). Mais eis que o 

tempo se finda. Não há mais o que protelar. Eis que os ensaios chegam ao fim. Os 

preparativos iniciais dão-se por encerrados. O convite foi lançado. A expectativa é grande. A 

espera, interminável. Há um frio na barriga e esse, talvez, seja um incentivo da coragem, a 

                                                           
6 Uma referência ao coelho da história “As aventuras de Alice no país das maravilhas” (CARROLL, 2002). 



45 

 

 

aplacar os temores. Há um arrepio que passa pela espinha dorsal e se irradia pelo corpo. Há a 

insegurança. A euforia e o tremor.  

Um leve espiar por entre as cortinas. Apenas o vazio, a imensidão solitária a se 

multiplicar. Nada ainda. Ao longe, barulho. Conversas. Risos a demonstrarem que o agito na 

bilheteria é grande. Serão muitos os expect-actores? Como irão receber a obra? Que críticas 

serão realizadas? Ou não haverá crítica alguma?  As cortinas estão prestes a ser abertas. É 

hora de respirar fundo. Abandonar a segurança do camarim. Pisar com segurança no palco. 

Acreditar que tudo dará certo. Afinal, nos preparamos para isso. É hora de se lançar sem medo 

no infinito. 

** 

Do lado de fora há o agito. De todos os lados, pessoas de diferentes idades, credos, 

etnias, gêneros vêm em busca da oportunidade de participar. A fila na bilheteria é imensa. É a 

primeira vez que muitos vêm ao teatro. Aceitaram o convite que lhes foi enviado. Não sabem 

o que as espera. É como se tateassem no escuro algo de que tanto necessitam. Todos 

procuram seus lugares. Pouco a pouco, o vazio se preenche. Alguns, até sem lugar ficam.  A 

casa está lotada. Murmúrios cá e lá.  

Soa o primeiro sinal. Os expect-actores se ajeitam na poltrona. Soa o segundo sinal. 

As luzes se apagam. Por entre as frestas da cortina, eles percebem uma luminosidade. São 

pequenos fachos de luz a iluminarem o palco. No cenário a se revelar, apenas alguns objetos 

soltos, a esmo, no espaço. Há murmúrios de espanto e incompreensão. “Uma breve atenção ao 

mistério das coisas basta para dissolver o pensamento” (SARDI, 2007b, texto digitado). O 

silêncio é feito. No espaço ecoa o vazio que se faz pleno de sons. Os intérpretes mediadores 

distribuem-se. Um flash fotográfico ressoa. No elenco, fazem-se presentes os instrumentistas, 

bailarinos, cantores, atores, artistas criadores e o domínio técnico de sua arte. Tornam-se 

estáticos em meio a movimentos invisíveis. Apenas um personagem se move.  

Os olhos dos expect-actores tornam-se grandes em meio ao breu. A surpresa do 

acontecer aguça a curiosidade, querem descobrir o que se passa. Um sinal do arauto convida 

os atores para que tomem suas marcas. Reverenciam Dionísio, Euterpe e Terpsícore. 

Repassam mentalmente o roteiro. Pedem permissão a Mnemosine e rememorizam seus 

passos, suas falas, suas deixas e passagens. O convite inicial toma forma. Um facho de luz 

direciona-se para a tela em branco prenhe de signos à espera do artista pintor e sua paleta de 



46 

 

 

cores. Um livro é desfolhado na memória. Inicia-se o jogo. Uma festa, um símbolo. A 

potencialização de sentidos. Os musicistas aninham seus instrumentos. Notas em suspensão. 

O maestro eleva sua batuta com uma das mãos e acaricia a partitura com a outra. A bailarina 

põe-se na ponta do pé. Quase um flamingo. Barítonos, sopranos, tenores e contraltos 

preparam o diafragma e potencializam sua voz ao toque da primeira nota musical.  

Em paralelo, o artista escultor acaricia a matéria-prima, dando forma a ela: “A relação 

do artista [criador] com sua matéria-prima é estabelecida na tensão entre suas propriedades e 

sua potencialidade” (SALLES, 2014, p. 60). Um embate que reverte em conhecimento. Uma 

luz ampla toma conta do espaço cênico. E, com o primeiro movimento de todos os artistas, 

uma respiração faz-se profunda. Os olhos enchem-se e é quebrada a barreira. Dissipa-se o 

distanciamento. Artista criador, intérprete mediador e expect-actor dialogam e esticam seus 

horizontes. As luzes fundem-se, criando uma atmosfera de aurora boreal onde o tempo e o 

espaço deixam de existir. Uma interpretação hermenêutica e autopoiética. A busca pela 

compreensão. Um encontro, um sentido de mundo. Verdades? As experiências nutrem de 

sentido o próprio sentir. A troca. O afeto  

Que sugere a contemplação compreensiva de todo assistir, ou seja, o jogo ali 

festejado torna-se a porta de entrada para uma realidade orientada pelo sentido da 

arte, cabe ao expect-actor, ali sentado em sua própria solidão, ser ultrapassado pelo 

espetáculo e entregá-la, com o seu assistir, à solicitação do conteúdo anunciado pelo 

advento da festa (VASCONCELOS, 2013, p. 43).  

Fim da espera. Soa o terceiro sinal. Abre-se a cortina. 



47 

 

 

3 O ABRIR DAS CORTINAS 

Figura 8 – No abrir das cortinas, a vida e a arte 

Artista: Foto de Michael Dantas – palco do teatro Amazonas/BR 

 

Fonte: https://www.portalmarcossantos.com.br/2019/07/19/releituras-de-musicais-e-trilhas-sonoras-de-filmes-

no-palco-do-teatro-amazonas/ 



48 

 

 

Lentamente, as cortinas se abrem. O palco, pouco a pouco, vai sendo iluminado. Nele, 

os artistas ocupam seus devidos lugares. A cortina aberta é uma simbologia do começo. Do 

esconder e mostrar o que deve, pode ou necessita ser visto. A cortina tem a função de ocultar 

temporariamente o cenário. É o signo material da separação entre a plateia e o palco,  

A barreira entre o que é olhado e quem o olha, a fronteira entre o que é semiotizável 

(pode tornar-se signo) e o que não o é (o público). Como a pálpebra para o olho, a 

cortina protege o palco do olhar; introduz por sua abertura, no mundo oculto, o qual 

se compõe ao mesmo tempo do que é concretamente visível na cena e do que pode 

ser imaginado, nos bastidores, com os ‘olhos do espírito’, como diz Hamlet, e 

portanto numa outra cena (a da fantasia). Toda cortina se abre, assim, para uma 

segunda cortina, que é ainda mais ‘inabrível’ (inconfessável) por ser invisível, se 

não como limite dos bastidores, como fronteira para o extracênico, logo para a outra 

cena (PAVIS, 2008, p. 77). 

A cortina, com sua presença, fala da própria ausência - “ausência esta constitutiva de 

todo desejo e de toda representação (teatral ou não). A cortina convoca e revoga o teatro, faz-

se denegação: mostra o q