1 

 

 
 
 

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU 
MESTRADO EM AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

INTERPRETAÇÃO DO ESPAÇO GUARANI: UM ESTUDO DE CASO 
NO SUL DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO FORQUETA, RIO 

GRANDE DO SUL, BRASIL 
 
 
 

Fernanda Schneider 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Lajeado/RS, dezembro de 2014 



2 

 

Fernanda Schneider 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

INTERPRETAÇÃO DO ESPAÇO GUARANI: UM ESTUDO DE CASO 
NO SUL DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO FORQUETA, RIO 

GRANDE DO SUL, BRASIL 
 

 
Dissertação apresentada ao Programa de 
Pós-Graduação em Ambiente e 
Desenvolvimento do Centro Universitário 
UNIVATES, como exigência parcial para 
obtenção do grau de Mestre em Ambiente 
e Desenvolvimento. 
 
Orientadora: Profª. Drª. Neli Teresinha 
Galarce Machado 
 
Coorientador: Prof. Dr. André Jasper 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 

Lajeado/RS, dezembro de 2014 
 



3 

 

Fernanda Schneider 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

INTERPRETAÇÃO DO ESPAÇO GUARANI: UM ESTUDO DE CASO 
NO SUL DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO FORQUETA, RIO 

GRANDE DO SUL, BRASIL 
 

A Banca examinadora abaixo aprova a dissertação apresentada ao Programa de 
Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento, do Centro Universitário 
UNIVATES, como parte da exigência para a obtenção do grau de Mestre em 
Ambiente e Desenvolvimento: 
 
 
 
 

______________________________________ 
Profª. Drª. Neli Teresinha Galarce Machado (orientadora) – UNIVATES – RS 

 
_____________________________________ 

Prof. Dr. André Jasper (coorientador) – UNIVATES – RS 
 

_____________________________________ 
Profª. Drª. Simone Stülp – UNIVATES – RS 

 
_____________________________________ 
Profª. Drª. Juliana Rossato Santi – UNIR – RO 

 
_____________________________________ 

Prof. Dr. Klaus Peter Kristian Hilbert – PUCRS – RS 
 



4 

 

 

AGRADECIMENTOS 

 

 A Capes, pela concessão de bolsa para o desenvolvimento da pesquisa. 

 Aos amigos e colegas que conheci durante os nove anos de Setor de 
Arqueologia da UNIVATES, pelos conhecimentos e alegrias compartilhadas. Em 
especial a Patrícia, ao Jones e ao Eduardo, por terem aberto as primeiras portas; a 
Lauren, Natália, Jéssica e Sidnei, pela ajuda em campo e com as imagens; a Paula, 
pela destreza e carinho com a decapagem; a Karen, por aguentar meus devaneios 
tão de perto e ao Kreutz, pela amizade e ajuda sem fim com a pesquisa.  

 Aos amigos do Setor de Paleobotânica da UNIVATES, em especial a Isa e a 
Mariela, pela ajuda com o microscópio e conversas sobre botânica. 

 A Ana, pelo carinho e auxílio com as questões da Secretaria do PPGAD. 

 Aos colegas do mestrado, pelas horas agradáveis em aula e em campo. Em 
especial ao Samuel, pela ajuda com o abstract. 

 Aos professores que revi e conheci durante as disciplinas, pelas excelentes 
discussões interdisciplinares. Em especial a Simone, por toda a atenção em 
laboratório e contribuição dada à pesquisa. Agradeço imensamente a recepção em 
seu laboratório. Agradeço ainda a Paula, pela ajuda e disposição no laboratório de 
química. 

 Ao Rafael, por ter apresentado o mundo invisível dos microvestígios botânicos 
e, principalmente, por ter compartilhado os seus conhecimentos comigo. Agradeço 
toda a atenção, incluindo a parceria nos sustos vividos no laboratório de química! 
Sem dúvida, seguirei trilhando nesse caminho. 

 Ao Sr. Mertz e família, pela sempre gentil recepção em seu lar. 

 Ao André, pela coorientação e contribuição com as questões botânicas e, em 
especial, pela permissão para partilhar horas em seu laboratório. 

 Por fim, agradeço a Neli, minha orientadora. Não somente por tudo o que 
aprendi ao seu lado, pela confiança e amizade, mas, especialmente, por ter-me 
concedido à oportunidade de conhecer, pesquisar e refletir sobre a história de um 
povo tão fascinante. 

 

 

 



5 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

 

 

 

Dedico 

para Ana e Júlio (in memorian), meus pais,  

e para Gustavo.



6 

 

 

 

 

 

RESUMO 

 

Os estudos acerca das populações Guarani pré-coloniais têm indicado que esses 
são vinculados aos povos falantes do Tupi-Guarani, com gênese cultural em algum 
lugar do território amazônico, apresentando ampla dispersão espacial e uma longa 
duração temporal. Dessa forma, ocuparam uma considerável parcela do território 
que hoje se configura como Brasil, parte da Bolívia, do Paraguai, do Uruguai e da 
Argentina, deixando marcas significativas de sua cultura material e organização 
social nos territórios passados. Dentre os territórios abarcados, os Guarani 
ocuparam as planícies florestadas da porção sul da Bacia Hidrográfica do Rio 
Forqueta, Rio Grande do Sul, Brasil, no início do século XIV. Com vistas a 
compreender de forma mais detalhada as relações de apropriação espacial dessas 
populações no contexto supracitado, elaborou-se um estudo de caso no sítio 
arqueológico RS-T-114, na margem direita do Rio Forqueta, relacionando três 
perspectivas de compreensão do espaço: a dinâmica temporal; organização dos 
espaços da aldeia e a apropriação do “espaço verde” da área ocupada. Para a 
reflexão, articularam-se dados de campo obtidos para o sítio (datas radiocarbônicas, 
decapagem de um núcleo de solo antropogênico, plotagem de vestígios, análise da 
cultura material e análise de vestígios botânicos). Como resultado, a primeira 
perspectiva apresentou uma longa e contínua ocupação do espaço de até 340 anos; 
a segunda perspectiva demonstrou áreas de atividades distintas, assim como 
estruturas arqueológicas específicas: estruturas de descarte, estruturas 
arquitetônicas e estruturas de combustão, indicando intensas relações sociais; e, por 
fim, a última perspectiva demonstrou a possibilidade de recuperação de 
microvestígios botânicos, como grãos de amido e fitólitos no contexto do sítio, 
possibilitando, em conjunto com vestígios carbonizados, uma breve discussão 
acerca da apropriação de recursos florísticos. Concluiu-se que o sítio apresentou 
uma longa, contínua e intensa ocupação Guarani. Como explicação para essa 
dinâmica complexa, sugeriu-se que a apropriação das parcelas florestadas não 
tenha sido passiva, em uma relação de dependência. Pelo contrário, inferiu-se que 
houve uma apropriação criativa dessa parcela do espaço, pautada no manejo e na 
criação de áreas artificiais. 
 
Palavras-chave: Guarani pré-colonial. Cronologia. Ocupação do espaço. 
Organização da aldeia. Vestígios botânicos. 



7 

 

 

 

 

 

ABSTRACT 

 

The studies related to the precolonial Guarani people have shown these people are 
bound to the Tupi-Guarani speaking populations, which had their cultural genesis 
based somewhere in the Amazon. It shows great spatial dispersion over a long time 
period, thus, occupying a big portion of the Brazilian territory, part of Bolivia, 
Paraguay, Uruguay and Argentina. In these places were left remarkable signs from 
their material culture and social organization. Among the embraced territories, by the 
XIV century, the Guarani people were occupying the forested plain fields in the South 
portion of the Forqueta River Basin, in Rio Grande do Sul, Brazil. Aiming a more 
detailed comprehension of these spatial appropriations, was performed a case study 
in the archaeological site RS-T-114, in the right margin of the Forqueta River. Were 
related three perspectives on the spatial comprehension: temporal dynamics; space 
organization in the native village; and appropriation of the “green spaces” in the 
occupied area. For the reflection were used field data collected in the site 
(radiocarbon data, stripping of archaeo-anthropedogenic soil, plot traces, material 
culture analysis, botanic traces analysis). As result from the first perspective, was 
found a spatial occupation of over 340 years. The second perspective showed 
distinctive occupation zones, as well specific archaeologic activities: discard 
structures, architectural structures and combustion structures, demonstrating intense 
social relations. The third perspective showed the possibility of recovering botanical 
micro traces, as starch grains and phytoliths, making possible a brief discussion 
around the appropriation of the forested areas of the village. Was concluded the site 
had a long, continuous and intense Guarani occupation. As explanation for this 
complex dynamic, it is suggested that the appropriation of the forested spaces was 
not passive, in a dependence relation. On the contrary, was inferred that the activities 
on forested spaces was guided by the management and creation of artificial areas.  

 
Keywords: Precolonial Guarani. Chronology. Occupation of space. Organization of 

the native village.  Botanic traces.



8 

 

 

 

 

 

LISTA DE FIGURAS 

 

Figura 01 - Recorte amostral selecionado para a escavação. No canto sul observa-

se a presença do perfil artificial. ................................................................................ 46 

Figura 02 - Visualização do NSA 2 e as subdivisões efetuadas na quadrícula D2 ... 47 

Figura 03 - Representação das camadas estratigráficas presentes no perfil da 

quadrícula D2. ........................................................................................................... 48 

Figura 04 - Visualização do NSA 2, da ação de uprooting e destaque para a 

presença de uma feição em forma de “bolsão” ......................................................... 49 

Figura 05 - Perímetro demarcado para a coleta de carvão para a datação, com 

destaque para a visualização do ponto selecionado ao logo do NSA 2. ................... 50 

Figura 06 - Delimitação do perímetro de coleta dos fragmentos de cerâmica e, à 

direita, a localização dos fragmentos coletados. ....................................................... 51 

Figura 07 - Estrutura do Laboratório de Físico-Química da UNIVATES, 

disponibilizado para a análise das amostras ............................................................. 56 

Figura 08 - Procedimento realizado com escova úmida, gerando o sedimento 

referente à amostra EU ............................................................................................. 58 

Figura 09 - Banho ultrassônico, gerando o sedimento referente à amostra BS ........ 59 

Figura 10 - Resultado gerado em uma amostra da extração de grãos de amido ...... 60 

Figura 11 - Vista aérea da paisagem na qual o sítio RS-T-114 se insere, com 

destaque para a sua localização no sul da Bacia Hidrográfica do Rio Forqueta ....... 64 

Figura 12 - Perfil geomorfológico apresentado na paisagem de inserção do sítio. ... 65 

Figura 13 - Relação de proximidade entre os sítios RS-T-114; RS-T-122; RS-T-110 e 

RS-T-101, todos inseridos na margem direita do Rio Forqueta ................................ 69 

Figura 14 - Delimitação da Área 1 e da Área 2 ao longo do sítio RS-T-114. ............. 72 



9 

 

Figura 15 - Croqui do histórico de intervenções no sítio RS-T-114 ........................... 72 

Figura 16 - Estratigrafia do NSA 1 ............................................................................. 73 

Figura 17 - Reconstituição hipotética do comportamento do NSA 1. ........................ 74 

Figura 18 - Delimitação da área de decapagem estabelecida na Área 2 do sítio...... 75 

Figura 19 - Área 2 depois do evento de cheia de janeiro de 2010.. .......................... 76 

Figura 20 - Croqui de dispersão dos vestígios plotados na Área 2 até o ano de 2009, 

com destaque para duas concentrações ................................................................... 85 

Figura 21 - Croqui da distribuição dos vestígios arqueológicos presentes na 1ª 

camada, o horizonte A  ............................................................................................. 91 

Figura 22 - Início da escavação no NSA 2, visualização da delimitação in situ do 

perímetro de concentração de carvão e disposição do NSA 2 .................................. 93 

Figura 23 - Resultado final da decapagem do NSA 2 ............................................... 94 

Figura 24 - Vestígios agregados ao cluster evidenciado no NSA 2 ........................... 95 

Figura 25 - Croqui da distribuição dos vestígios arqueológicos presentes no final da 

decapagem do NSA 2 ............................................................................................... 96 

Figura 26 - Perímetro hipotético da estrutura de combustão..................................... 98 

Figura 27 - Relação entre estrutura de combustão e feição em forma de “bolsão” . ..99 

Figura 28 - Vestígios líticos evidenciados na quadrícula D2 ................................... 102 

Figura 29 - Tratamento de superfície e funcionalidade de exemplares de cerâmica

 ................................................................................................................................ 105 

Figura 30 - Miniaturas de potes verificadas na quadrícula D2/2. O primeiro constitiu-

se em um mini yapepó ............................................................................................ 106 

Figura 31 - Remontagem de parede corrugada reforçada, com marcas de 

carbonização, provavelmente de um pote com dimensões elevadas ..................... 106 

Figura 32 - Presença dos cambuchí caguâba pintados e dos tembetá no perímetro 

da estrutura de combustão e áreas próximas ......................................................... 108 

Figura 33 - Cambuchí caguâba pintados evidenciados no perímetro da estrutura de 

combustão e áreas próximas .................................................................................. 109 

Figura 34 - Distribuição dos vestígios plotados na Área 2 até o ano de 2011; 

exposição hipotética dos NSA(s) e localização das estruturas de combustão. ....... 111 

Figura 35 - Inserção hipotética dos NSA(s) na paisagem do sítio RS-T-114 .......... 112 

Figura 36 - Sementes de Euphorbiaceae ................................................................ 121 

Figura 37 - Sementes carbonizadas de Arecaceae – morfotipo 1 ........................... 123 

Figura 38 - Sementes carbonizadas de Arecaceae – morfotipo 2 ........................... 124 



10 

 

Figura 39 - Sementes carbonizadas sem identificação – morfotipo 3 ..................... 125 

Figura 40 - Tipos de possíveis grãos de amido evidenciados nas amostras .......... 127 

Figura 41 - Fitólitos tipo “opaque perforated plates” evidenciados nas amostras.... 128 

Figura 42 - Relação entre as datas radiocarbônicas estabelecidas para o sítio RS-T-

114 e para o sítio RS-T-101. ................................................................................... 142 



11 

 

 

 

 

 

LISTA DE GRÁFICOS 

 

Gráfico 01 - Relação geral de datas obtidas por C14 para o sítio RS-T-114 e 

calibradas pelo programa OxCal 3.0. ...................................................................... 117 

Gráfico 02 - Relação de datas obtidas por C14 para o NSA 2 e calibradas pelo 

programa OxCal 3.0. ............................................................................................... 118 

Gráfico 03 - Relação de datas obtidas por C14 para o sítio RS-T-114 e destaque para 

a data obtida para o sítio RS-T-101, calibradas pelo programa OxCal 3.0 ............. 142 



12 

 

 

 

 

 

LISTA DE QUADROS 

 

Quadro 01 - Relação de datações sistemáticas realizadas no NSA 2. “0” significa o 

início e “0,08 m” o final da espessura da mancha ................................................... 114 

Quadro 02 - Relação de todas as datas obtidas por C14 para o sítio RS-T-114 ...... 115 



13 

 

 

 

 

 

LISTA DE TABELAS 

 

Tabela 01 - Relação entre matéria-prima e tipo de vestígio encontrado na quadrícula 

D2. ........................................................................................................................... 101 

Tabela 02 - Relação de matéria-prima e tipo de tecnologia de modificação 

empregada no lítico da quadrícula D2 ..................................................................... 101 

Tabela 03 - Quantificação de fragmentos de cerâmicas evidenciadas na quadrícula 

D2 ............................................................................................................................ 103 



14 

 

 

 

 

 

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 

 

AD - Ano Domini 

AMS - Accelerator mass spectrometry  

AP - Antes do Presente 

BF - Before Present 

BR - Rodovia Federal 

BS - Banho Ultrassônico 

C - Carbono 

CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior 

CEPA - Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas 

CNPQ - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico 

EMATER - Associação Rio-Grandense de Empreendimentos de Assistência Técnica 

e Extensão Rural 

EU - Escova Úmida 

L - Leste 

LACIFID - Laboratório de Cristais Iônicos Filmes Finos e Datação da Universidade 

de São Paulo 



15 

 

M - Metros 

MEV - Microscópio de Varredura Eletrônica 

N - Norte 

N - Nitrogênio 

NSA - Núcleo de Solo Antropogênico 

O - Oxigênio 

PPGAD - Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento 

PRONAPA - Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas 

PUCRS - Pontifício Universidade Católica do Rio Grande do Sul 

RS-T - Denominação para sítio arqueológico localizado no Vale do Taquari 

TECNOVATES - Parque Científico e Tecnológico do Vale do Taquari 

TL - Termoluminescência 

TPI - Terra Preta de Índio 

UFPR - Universidade Federal do Paraná 

UNIR - Universidade Federal de Rondônia 

UNIVATES - Centro Universitário Univates 

UTM - Universal Transversal de Mercator 

 



16 

 

 

 

 

 

SUMÁRIO 

 

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 18 
 

2 APONTAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS ............................................... 24 
2.1 Fundamentação teórica ................................................................................... 24 

2.1.1 Revisão da literatura e identificação das narrativas científicas na 
arqueologia Guarani ........................................................................................... 24 

2.2 Metodologia ..................................................................................................... 35 
2.2.1 Abordagem tomada para a pesquisa ......................................................... 36 
2.2.2 Atividades de campo .................................................................................. 45 
2.2.3 Atividades de laboratório ........................................................................... 51 

 

3 O SÍTIO ARQUEOLÓGICO RS-T-114: CONTEXTO AMBIENTAL, 
INTERVENÇÕES ARQUEOLÓGICAS E ESTUDO DE CASO ................................. 63 

3.1 Contexto ambiental .......................................................................................... 63 
3.2 Contexto arqueológico ..................................................................................... 68 

3.2.1 O conhecimento prévio produzido no sítio arqueológico RS-T-114 ........... 77 
3.2.1.1 Captação de recursos .......................................................................... 77 
3.2.1.2 Cerâmica ............................................................................................. 78 
3.2.1.3 Lítico .................................................................................................... 80 
3.2.1.4 Vestígios arqueofaunísticos ................................................................. 81 
3.2.1.5 Vestígios botânicos.............................................................................. 82 
3.2.1.6 Dispersão dos vestígios e áreas de ocupação do sítio ........................ 83 
3.2.1.7 Cronologia ........................................................................................... 86 

3.3 Intervenção atual: o estudo de caso no sítio arqueológico RS-T-114 .............. 87 
3.3.1 Dispersão dos vestígios e identificação de estruturas arqueológicas ........ 90 
3.3.2 Novas datas por C14: cronologia e formação do registro arqueológico .... 113 
3.3.3 Vestígios botânicos .................................................................................. 119 

 

4 O ESPAÇO GUARANI: TRÊS PERSPECTIVAS DE APROPRIAÇÃO ESPACIAL 
NO SUL DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO FORQUETA .................................. 131 

4.1 Primeira perspectiva: dinâmica de ocupação e movimentação da aldeia ...... 131 
4.2 Segunda perspectiva: organização do espaço da aldeia e áreas de atividade
 ............................................................................................................................. 145 
4.3 Terceira perspectiva: a apropriação do “espaço verde” Guarani ................... 159 

 



17 

 

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 177 
 

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 183 
 

APÊNDICES ............................................................................................................ 205 
 

ANEXOS ................................................................................................................. 215 
 



18 

 

 

 

 

 

1 INTRODUÇÃO 

 

 O propósito deste trabalho encontra-se na tentativa de interpretar diferentes 

relações dos Guarani pré-coloniais com o espaço. Nas assertivas propostas por 

Hodder (1984), faz-se possível analisar o espaço a partir de três níveis. Um de 

alcance amplo, pautado na relação entre o homem e o ambiente; outro de alcance 

intermediário, relacionado ao entendimento do assentamento e das áreas funcionais 

do sítio e, por fim, um de alcance imediato, voltado à interpretação das unidades dos 

assentamentos. Apesar de partir de uma abordagem pós-processual, as assertivas 

de Hodder (1984) não diferem substancialmente dos três níveis de análise espacial 

estipulados por Clarke (1977). Para esse autor, em seu postulado processual, seria 

possível relacionar o espaço em uma análise macro, ou seja, regional; semi-micro, 

quer dizer, dentro do sítio e, por fim, micro, com relação ao entendimento de 

estruturas específicas. 

 Os pressupostos de Clarke (1977) e Hodder (1984) serviram de inspiração 

para muitos trabalhos espaciais em arqueologia, proporcionando um alto grau de 

discussão em torno do conceito de espaço. Apesar da profundidade de reflexão 

submetida a esse conceito nos últimos anos, não se pretende aqui problematizar ou 

discutir as suas categorias teóricas elevadas. Propõe-se, ao contrário, uma estampa 

de análise bastante maleável. Visto isso, com algumas diferenças em relação aos 

autores citados acima, que estipularam seu entendimento de espaço sobre a 

dimensão plana e física, medidas em níveis e escalas subsequentes, até mesmo 

quando a proposta fez-se em um tom pós-processual, a compreensão presente dar-

se-á com base na concepção de espaço relacional apresentada por Massey. 



19 

 

 Em relação às premissas da geógrafa, têm-se como principal inspiração as 

ideias expostas na terceira parte de sua obra de 2005, For Space, quando as 

barreiras entre a concepção de tempo e espaço apresentaram-se extintas, 

conferindo, então, maior dinamicidade interpretativa à reflexão espacial. A partir de 

seu postulado heterogêneo, foi possível articular três perspectivas volúveis de 

análise do espaço Guarani, não se constituindo, dessa forma, de categorias 

espaciais fixas. Além da volubilidade pretendida entre as categorias espaciais 

elegidas, procurou-se demonstrar que as relações espaciais são indissociáveis da 

temporalidade de ocupação Guarani, tecendo-se uma rede entre tempo de 

ocupação, ritmo, movimentação, organização e apropriação social do espaço. 

 Estaria o primeiro nível relacionado a uma perspectiva ampla de 

compreensão da dinâmica temporal e da movimentação no espaço Guarani. O 

segundo, em uma perspectiva média, aproximando-se também dos níveis 

intermediários propostos por Clarke (1977) e Hodder (1984), estaria relacionado à 

reflexão sobre a organização do espaço e das áreas de atividades em partes da 

aldeia estabelecida. E, por fim, a terceira perspectiva, mais específica, estaria 

relacionada à apropriação do espaço enquanto unidade física, nesse caso, 

representado pelas evidências da utilização do que chamaremos aqui de “espaço 

verde”1 da aldeia, entretanto, sobrepujando a relação apenas material dessa parcela 

do espaço. Nesse caso, a interpretação da apropriação dessa pequena parcela do 

espaço fez-se como uma relação de apropriação social. 

 Para o desenvolvimento das premissas sugeridas acima, optou-se pelo 

estudo de caso em um sítio de ocupação Guarani pré-colonial estabelecido no sul da 

Bacia Hidrográfica do Rio Forqueta. O sítio RS-T-114 foi selecionado por dois 

motivos essenciais. O primeiro deles está pautado no considerável histórico de 

pesquisas arqueológicas desenvolvidas em sua área, iniciadas em 2005 e 

continuadas até o presente ano, proporcionando uma série de informações prévias e 

a possibilidade de ampliação das expectativas interpretativas. 

 As campanhas iniciais lançaram esforços para a compreensão da cultura 

material advinda do sítio e do reconhecimento de sua implantação na paisagem. 

                                                           
1
 A denominação de “espaço verde” refere-se a apropriação dos recursos florísticos da área 

estipulada para o estudo de caso, a qual se optou por relegar uma conceituação genérica. 



20 

 

Demonstrou-se, nesse momento, que a área investigada possuía não só uma 

quantidade considerável de vestígios arqueológicos, mas um importante grau de 

conservação de suas estruturas, especialmente aquelas formadas pelos núcleos de 

solo antropogênico, ou seja, as manchas escuras enriquecidas por vestígios 

orgânicos e materiais arqueológicos, que, a título de logística textual, serão 

abreviadas nesse trabalho para NSA. 

 Trabalhos posteriores debruçaram-se sobre a delimitação de áreas de 

captação de recursos ambientais, especialmente dos materiais líticos, assim como 

sobre um diálogo com outros sítios arqueológicos de ocupação Guarani 

evidenciados ao longo da margem direita do Rio Forqueta (sítio RS-T-122, sítio RS-

T-101 e sítio RS-T-110) e com áreas que apresentaram potencialidade para a 

ocupação Guarani. Os avanços na descrição e análise dos vestígios arqueológicos 

acompanharam a inserção de datações para o sítio, com métodos distintos, tanto 

por termoluminescência (TL)2 como radiocarbônicos (por C14). Iniciou-se ainda a 

elaboração de áreas amplas de escavação, incluindo a utilização de técnicas de 

decapagem e plotagem tridimensional das evidências arqueológicas. Nos últimos 

anos, com o objetivo de proporcionar maior clareza de entendimento às áreas 

delimitadas para a escavação, atentou-se especialmente para esse último quesito 

citado, inserindo esforços no campo de análise espacial. 

 Por outro lado, o segundo motivo para a eleição do sítio RS-T-114 deu-se, de 

certa forma, contrária às assertivas expostas acima. Apesar da densidade de 

produções realizadas no sítio, descritas brevemente acima, e dos esforços lançados 

                                                           
2
 Ambos os modelos de datação constituem-se de métodos diferentes, sendo o primeiro reconhecido 

como “absoluto” e o segundo como “relativo”. O C
14

 é um isótopo radioativo do carbono produzido 
continuamente na alta atmosfera para irradiação cósmica do N

14
. Uma vez formados, os átomos de 

C
14

 são incorporados ao CO2 atmosférico e assimilados no ciclo do carbono dos organismos vivos, da 
mesma forma que os átomos dos dois isótopos estáveis, C

12
 e C

13
. O conteúdo em C

14
 nos tecidos 

orgânicos está em equilíbrio com o conteúdo atmosférico, devido às trocas que se efetuam durante 
toda a vida do organismo. Quando ele morre, essas trocas deixam de existir e o C

14
 começa a se 

desintegrar continuamente, sem ser renovado. A vida média do C
14

 é de 5730 anos. Isto significa que 
um organismo que morreu há 5730 anos tem atualmente a metade do seu conteúdo original em C

14
. 

O padrão utilizado é de 1950 e o resultado é apresentado em anos “antes do presente" (AP) ou 
before present (BP), isto é, "antes do ano 1950” (SCHEEL-YBERT, 1999b, p. 297). Por sua vez, a 
termoluminescência, que vem dos minerais que estão dispersos na matéria-prima da cerâmica, é 
devida a exposição prolongada ao fluxo de radiação ionizante emitido por impurezas radioativas da 
própria cerâmica e do solo onde a peça foi enterrada. Uma característica particular da 
termoluminescência é que, uma vez aquecido para excitar a emissão de luz, o material não pode 
novamente emitir termoluminescência pelo resfriamento e reaquecimento. Para uma nova emissão, o 
material deve ser reexposto a radiação ionizante e, em seguida, aquecido. Considera-se que a 
termoluminescência seja proporcional ao tempo, podendo ser datada (FERRAZ et al., 2006, p. 287). 



21 

 

com análises espaciais prévias, notaram-se lacunas importantes em relação ao 

conhecimento das delimitações espaciais do sítio, não necessariamente sobre a 

dispersão espacial dos vestígios, mas especialmente sobre a profundidade 

interpretativa da dinâmica de ocupação da área - cronologia, ritmo, movimentação e 

permanência de ocupação -, assim como sobre a interpretação dos espaços 

pertinentes ao interior da aldeia, que poderiam proporcionar uma reflexão mais 

efetiva sobre a funcionalidade do sítio. Ao mesmo tempo, passou-se a atentar para 

outra dimensão de reflexão espacial: não somente sua apropriação territorial, mas 

também a apropriação social da parcela verde do espaço, representada pela pouca 

atenção destinada aos vestígios botânicos do sítio. 

 Assim, de forma sintética, o sítio RS-T-114 demonstrou-se interessante por 

apresentar, tomando como base as atividades regionais, um amplo histórico de 

pesquisas arqueológicas e, ao mesmo tempo, por denunciar lacunas salutares sobre 

a compreensão do espaço. Esses aspectos abriram precedentes para a realização 

de um paralelo entre o desejo de se refletir sobre questões epistêmicas amplas, 

voltadas à interpretação da dinâmica do espaço Guarani, assim como 

proporcionaram a resolução de necessidades pontuais do sítio. Dentre essas 

últimas, faz-se possível citar três pontos específicos: a apresentação de uma 

cronologia concisa por método absoluto (C14), a investigação da funcionalidade dos 

NSA(s) e o aprofundamento das análises dos vestígios botânicos, incluindo 

macrovestígios carbonizados e microvestígios botânicos, como grãos de amido e 

fitólitos. 

 Realizadas as apresentações iniciais, faz-se necessário expor a estrutura 

textual do trabalho. Além da “Introdução” e das “Considerações Finais”, o escrito 

conta com três outras partes. Na primeira, denominada de “Apontamentos Teórico-

Metodológicos”, estabeleceu-se basicamente uma revisão da literatura Guarani. No 

momento em que se postulou a intenção de uma pesquisa voltada a essas 

populações, priorizou-se a observação das narrativas científicas que se fizeram 

presentes na formação de tal disciplina. A partir da visualização das narrativas fez-

se possível a identificação de certa “vocação científica” na arqueologia Guarani para 

a escolha e análise dos dados arqueológicos. Esse jogo sintético possibilitou a 

compreensão - até certo ponto - do caminho tomado pela arqueologia Guarani e, 

consequentemente, da construção de um Guarani acadêmico, proporcionando a 



22 

 

eleição de uma postura particular frente ao tipo de direcionamento desejado para a 

pesquisa. 

 Com essas assertivas faz-se claro que os aportes teóricos não foram 

lançados para discutir conceitos relacionados às categorias espaciais propriamente 

ditas, uma vez que esses se encontram elaborados ao longo do texto, quando 

solicitados. Utilizou-se esse espaço para problematizar o status científico da 

arqueologia Guarani enquanto promotora de conhecimento, inclusive sobre a 

temática espacial pretendida, quando - como feito aqui - admite-se que as escolhas 

dos dados e a sua forma de interpretação influenciam impreterivelmente na 

produção de conhecimento. Por sua vez, para além da fundamentação teórica, 

nesse capítulo também foram descritos os recursos metodológicos utilizados. A 

apresentação desses aspectos seguiu um caminho pontual, destinando-se a relatar 

a abordagem tomada, os critérios metodológicos, os processos de campo e 

laboratório, assim como a descrição dos materiais utilizados nas etapas estipuladas 

para a pesquisa. 

 Na segunda parte, intitulada “Sítio Arqueológico RS-T-114” incluiu-se, de 

maneira geral, a apresentação do sítio tomado como estudo de caso. Em primeiro 

plano elaborou-se uma breve apresentação do contexto ambiental no qual o sítio se 

insere; em seguida, fez-se necessária a apresentação do contexto arqueológico do 

sítio, com a exposição de áreas arqueológicas vizinhas e a apresentação do 

histórico das intervenções realizadas em suas áreas, demonstrando, assim, as 

informações prévias existentes. Descreveram-se ainda as atividades organizadas 

para a presente discussão e seus resultados. Nesse ponto, destacou-se a dispersão 

dos vestígios, a variabilidade da cultura material, a formação do registro 

arqueológico, a cronologia de datas e uma rápida discussão acerca dos vestígios 

botânicos recuperados ao longo do recorte amostral proposto. 

 Cabe ressaltar ainda uma nota introdutória sobre a interpretação das datas 

por C14 obtidas para o sítio e para outros sítios regionais. Para a presente pesquisa, 

foram dispostos os dois principais resultados divulgados pelo Beta Analytic 

Radiocarbon Dating, laboratório responsável pela execução das amostras de carvão. 

Sendo assim: aquele que corresponde a conventional age, com a possibilidade de 

68%, denominado de “1 Sigma”; e o cálculo calibrado que, muitas vezes, confere um 



23 

 

intervalo maior, entretanto, uma maior probabilidade de aproximação (de 95%), 

denominado de “2 Sigma”. Apesar da exposição dos dois resultados, para a 

intepretação das datas levou-se em conta necessariamente o intervalo calibrado, a 

fim de proporcionar um debate cronológico mais seguro. 

 Ao finalizar esse adendo, relata-se a terceira e última parte do trabalho. Essa 

representou o paralelo reflexivo entre as experiências e contribuições obtidas nas 

intervenções realizadas no sítio RS-T-114 e na apropriação de informações já 

produzidas ao longo de outros trabalhos na arqueologia Guarani. Se a parte anterior 

destinou-se à apresentação, descrição das informações e resultados recuperados no 

sítio, esse capítulo, denominado “O espaço Guarani: três perspectivas de 

apropriação espacial no sul da Bacia Hidrográfica do Rio Forqueta” destinou-se às 

interpretações propriamente ditas, procurando-se atingir as três perspectivas de 

compreensão espacial lançadas acima, concluindo-se, então, o “fio de Ariadne” 

perseguido pela pesquisa. 



24 

 

 

 

 

 

2 APONTAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS 

 

2.1 Fundamentação teórica 

 

 O corpus teórico se compõe de reflexões divididas em duas partes. (1) A fim 

de se reconhecer as narrativas científicas que marcaram a arqueologia Guarani fez-

se necessário o estabelecimento de uma breve revisão da literatura. (2) A partir da 

visualização das narrativas científicas, fez-se possível colocar em uma balança a 

“vocação científica” da arqueologia Guarani, posicionando-se, então, sobre o 

direcionamento tomado para a pesquisa. 

 

2.1.1 Revisão da literatura e identificação das narrativas científicas na 

arqueologia Guarani 

 

 No campo científico, como indicou Binford em 1962, a arqueologia compõe-se 

basicamente de dois diálogos: um interno, através do qual os arqueólogos tem 

procurado desenvolver métodos para fazer inferências sobre o comportamento 

humano a partir de dados arqueológicos; e outro externo, diálogo no qual os 

arqueólogos se valem das informações para tratarem de questões genéricas 

relativas ao comportamento humano e à história. A partir dessa distinção, Trigger 

(2004, p. 2), em reflexão presente na obra seminal de 1989, “História do 

Pensamento Arqueológico”, estipulou que o diálogo interno qualificaria a arqueologia 



25 

 

enquanto disciplina particular e, por sua vez, o diálogo externo representaria a 

contribuição da arqueologia às ciências sociais. 

 Naquilo que Binford estabeleceu o diálogo interno e Trigger as influências 

internas, estão contidas as escolhas que o arqueólogo faz para discorrer sobre 

determinado assunto ou tema amplo. Nesse contexto, permite-se pensar que, antes 

mesmo da relevância da interpretação dos dados, cabe à escolha dos dados 

constituírem-se como fator crucial em uma investigação arqueológica. Reconhece-

se, dessa forma, que grande parte dos resultados das investigações trata-se de um 

reflexo das escolhas dos dados a serem discutidos. Seguindo ainda as 

considerações expostas pelos dois autores, pode-se pensar, assim como Copé 

(2006), que a visualização do diálogo interno do fazer arqueológico assemelha-se a 

identificação das narrativas científicas que compõem certa disciplina. 

 Nessa dinâmica, ao longo dos 150 anos de investigações da arqueologia 

Guarani, muitas informações foram sistematizadas e ampliadas, e, por 

consequência, outras descartadas, produzindo-se um status acadêmico acerca 

dessas populações. Em meio a isso, faz-se possível verificar algumas narrativas 

científicas em sua essência. Em primeiro lugar, pode-se dizer que sua trajetória se 

articula, em grande parte, à própria trajetória da arqueologia brasileira. De forma 

paralela, ambas surgiram em meados do século XIX e se desenvolveram de maneira 

assistemática até a década de 1950. 

 Noelli (1993), em sua síntese, ressaltou que os primeiros passos da 

arqueologia Guarani estiveram associados à etnografia, encontrando-se exemplos 

nas interpretações de viajantes e naturalistas. Da mesma forma, desde o século XVI, 

ou seja, nas primeiras décadas do contato, já era clara a noção de que falantes do 

Tupi (tronco linguístico do qual parte a família Tupi-Guarani) dominavam a maior 

porção territorial do Brasil e de suas adjacências, as "terras baixas" do leste da 

América do Sul. Nessa fase, a maioria das interpretações em arqueologia Guarani 

foram realizadas pensando na determinação dos centros de origem e de rotas de 

dispersão pelo território. Conforme Noelli (1993, p. 40), já em 1867 von Martius 

estipulou as primeiras teorias sobre as rotas de migração dos falantes do Tupi, 

definindo um centro de origem mais ao sul da Amazônia, apresentando ligação com 

ancestrais andinos. Ehrenreich, em 1881, contestou a hipótese de von Martius, 



26 

 

indicando um centro de irradiação cultural no coração do continente, nas regiões do 

Médio Paraná, Alto Paraguai e Bolívia, seguindo os grandes cursos fluviais, em 

ondas para o norte, leste e uma que teria seguido pelas terras do sul.  

 Foram, no entanto, os escritos etnológicos de Nimuendajú (1987) que mais 

influenciaram os trabalhos acadêmicos posteriores. Em relação às hipóteses de von 

Martius e Ehrenreich, é acrescentada com esse autor a motivação religiosa 

conhecida como a busca da “terra sem mal” (yvy marã e'ỹ), determinada, por alguns, 

como principal impulso para a expansão Tupi ao longo do território. Apesar da 

influência desse trabalho, Noelli (1993, p. 43-48) ressaltou uma série de equívocos 

interpretativos nas ideias apresentadas por Nimuendajú, incluindo o fato de o autor 

ter-se baseado apenas em experiências do início do século XX para a fuga e a 

busca de novos territórios, apresentando conclusões amplamente descoladas do 

contexto pré-colonial.  

 Para Noelli (1993, p. 55-56), de uma forma geral, as interpretações advindas 

da etnologia exerceram grande influência sobre a arqueologia Guarani. Dessa 

forma, praticamente todos os trabalhos produzidos entre os anos de 1930 e 1950, 

estiveram ligados, sem critério científico definido, ao estudo da cerâmica ou de 

analogias diretas entre arqueologia e etnografia. Esse momento da arqueologia 

Guarani é considerado por alguns autores, como Noelli (1993) e Soares (2004), 

como o de “domínio etnológico”. 

 Foi somente a partir da década de 1950 e principalmente da década de 1960 

que as pesquisas arqueológicas no Brasil passaram a apresentar paulatinamente 

um status científico. Tal mudança ocorreu principalmente com a aplicação de 

técnicas advindas de fora do país, ligadas especialmente a uma escola francesa e 

outra americana de arqueologia. Conforme Dias (2003, p. 10), a atuação pioneira da 

escola francesa no Brasil remonta à ação de Rivet, na década de 1950. Foi por 

intermédio desse pesquisador que o casal Anette Laming-Emperaire e Joseph 

Emperaire iniciaram seus estudos no Brasil. As principais contribuições das missões 

franco-brasileiras relacionaram-se ao desenvolvimento de estudos sobre tecnologia 

lítica e arte rupestre, assim como da estruturação de projetos de campo de longa 

duração, com metodologias de decapagem em áreas amplas, voltados a investigar o 

povoamento inicial do território brasileiro. 



27 

 

 A arqueologia Guarani recebeu aportes importantes da arqueologia francesa 

especialmente nos anos sessenta, com o estabelecimento do Projeto 

Paranapanema em São Paulo sob a coordenação de Pallestrini. Noelli (1993, p. 39) 

ressaltou que as técnicas adotadas por esse projeto permitiram que se 

representasse graficamente o plano arquitetônico das estruturas das aldeias. No 

entanto, para o autor, em níveis práticos pouca informação agregou ao 

conhecimento Guarani, visto que foi quase inexistente o número de sítios decapados 

em sua totalidade. Nesse âmbito, Soares (2004, p. 32) ressaltou que apesar da 

tentativa de Pallestrini de se apropriar de áreas amplas, a própria pesquisadora 

admitiu limitações em termos práticos, incluindo o pouco tempo para pesquisas e a 

necessidade de estabelecimento de recortes amostrais artificiais nas escavações. 

 Apesar dos esforços mantidos pelo Projeto, somente a partir dos anos 1965, 

com a instalação do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA), 

coordenado pelo casal Betty Meggers e Clifford Evans, houve uma padronização 

metodológica e técnica em grande escala na arqueologia brasileira e Guarani 

(SOARES, 2004). Meggers e Evans, capitaneados pelo Smithsonian Institution de 

Washington, Estados Unidos, e de instituições brasileiras, como o Conselho 

Nacional de Pesquisas (CNPq), entre o período de 1965 e 1971, prepararam cursos 

de formação de arqueólogos em todo o país, realizando ainda levantamentos e 

escavações cujo objetivo era definir as principais culturas arqueológicas e suas 

consequentes dispersões pelo território (FUNARI & ROBRAHN-GONZÁLEZ, 2008, 

p.16). 

 A partir dos escritos de Evans e Meggers (1965) pôde-se perceber que, em 

sua atuação, a escola americana se caracterizou por trabalhos prospectivos 

padronizados, concentrados ao longo de cursos de rios e voltados ao 

estabelecimento de cronologias relativas e absolutas. As intervenções nos sítios 

geralmente restringiam-se a coletas superficiais assistemáticas de amostras para 

elaboração de seriações, acompanhadas de sondagens de pequena extensão 

realizadas em níveis artificiais de 0,10 m. As interpretações partiram de conceitos de 

tradição e fase, adaptados das propostas de Willey e Phillips (DIAS, 2003, p. 9). 

Apesar das recorrentes críticas ao Programa, sintetizadas especialmente em Dias 

(1995), a mudança da perspectiva amadora para a científica na arqueologia 



28 

 

brasileira se deu, em grande parte, a partir das premissas desse Programa (NOELLI, 

1993; SOARES, 2004). 

 Prous (1999, p. 30) demonstrou que essa fase da arqueologia foi também 

responsável pela polarização de linhas de atuação no Brasil. Durante a década de 

1970 e parte da década de 1980, a maioria dos arqueólogos foi se enquadrando em 

um dos dois “clãs” relatados acima - a escola francesa ou a escola americana. 

Segundo Noelli (1993, p. 40), o que distinguia o PRONAPA do Projeto 

Paranapanema eram os métodos de trabalho, sendo o primeiro prospectivo e o 

segundo de escavações intensivas em sítios e regiões específicas. Essas diferenças 

técnicas, prospecção/velocidade versus decapagem/lentidão, geraram disputas 

inexplicáveis nos campos da arqueologia. Nesse âmbito, para Prous (1999, p. 30), 

poucos pesquisadores percebendo que ambas as escolas eram complementares 

tentaram escapar dessa dicotomia. Dividiu-se, então, de maneira negativa o 

panorama arqueológico do país, dificultando a reflexão crítica e atrasando a 

penetração de outras tendências. 

 Na arqueologia Guarani, as assertivas do PRONAPA fizeram-se 

especialmente presentes. A partir do Terminologia3 (CHMYZ, 1966), os 

pesquisadores do PRONAPA descreverem as populações como portadoras de uma 

tradição tecnológica ceramista, nomeando-as de “Tradição Tupiguarani”, sem o uso 

do hífen (SCATAMACCHIA, 1990, p.181), para diferenciar a denominação Tupi-

Guarani, com hífen, referente a família linguística. Objetivou-se designar 

formalmente uma tradição cultural caracterizada por cerâmica policrômica (pinturas 

em vermelho e/ou preto sobre engobo branco e/ou vermelho), cerâmica com 

decoração corrugada e escovada, por enterramentos secundários em urnas, 

machados de pedra polida e pelo uso de tembetás (CHMYZ, 1966, p. 146). 

 Apesar dessa distinção teórica entre cultura e língua, não se deixou de utilizar 

a linguística para a interpretação de temas relativos aos Guarani pré-coloniais, 

especialmente em relação ao centro de origem e rotas de dispersão. Sendo assim, 

ao longo dos anos essa dissociação teórica passou a dar lugar à correlação direta 

entre o que é chamado de tradição Tupiguarani e os grupos indígenas falantes da 
                                                           
3
 Manual metodológico de classificação da cerâmica estipulado pelo PRONAPA. Apresentou as bases 

analíticas das pesquisas desse Programa. 

 



29 

 

família linguística Tupi-Guarani. Conforme Rogge (2004, p. 70), tal correlação entre 

língua e cultura material levou alguns pesquisadores a abandonar a terminologia 

oficial do PRONAPA e passar a utilizar termos como “subtradição Guarani” 

(BROCHADO, 1984; RIBEIRO, 1991), “tradição Guarani” (BROCHADO, 1984; DIAS, 

2003), “Guarani pré-históricos” (SOUZA, 2002), “Guarani pré-coloniais” (DIAS, 2003) 

ou simplesmente “povos Guarani” (NOELLI, 1993; NOELLI, 1999/2000) para as 

ocorrências arqueológicas no sul do Brasil e região platina.  

 Observa-se, dessa forma, que foi a filiação entre a língua e a produção 

cultural que deram o tom aos principais conceitos designados aos Guarani4. Assim, 

estariam esses vinculados aos povos falantes da família linguística Tupi-Guarani 

(VIVEIROS DE CASTRO, 1986), ligados ao tronco linguístico Proto-Tupi (PROUS, 

1992, p. 371). Observa-se também, como ressaltou Noelli (1993, p. 56), que apesar 

da diminuição da utilização de fontes etnográficas nessa fase da arqueologia 

Guarani, as interpretações ainda continuaram muito influenciadas por ideias 

etnológicas, especialmente com base em Metráux. Muitas vezes, como afirmou o 

autor, ao ponto de prevalecerem sobre as evidências arqueológicas. Dessa forma, o 

momento reconhecido como de “domínio arqueológico” (NOELLI, 1993; SOARES, 

2004), em que se propôs a redução da utilização de etnografias (MILHEIRA, 2008), 

ainda suscitou a interpretação etnográfica, especialmente sobre temas como 

expansão e colonização do território.  

 Foi, no entanto, entre o final da década de 1970 e início da década de 1980 

que a arqueologia Guarani começou a esboçar uma nova direção científica para a 

utilização etnográfica (DIAS, 2003; MILHEIRA; 2008). José Brochado, apesar de ter 

iniciado seu caminho de pesquisa seguindo os aportes do Terminologia, mudou de 

direcionamento ao longo dos anos. Segundo Soares (2004, p. 25), após seguir para 

seu doutorado nos Estados Unidos, entre 1977 e 1981, o autor aproximou-se das 

ideias ecológicas de Lathrap (1970; 1975), seu orientador, e afastou-se das 

ordenações do PRONAPA. Em sua tese, defendida em 1984, resgatou e uniu as 

                                                           
4
 Apesar de consolidada a relação entre grupo e língua, em recente artigo, Soares (2012, p. 784) 

reinaugurou a discussão acerca da relação entre a cultura material e a língua desses povos. Para o 
autor, a língua não representaria, necessariamente, a cultura; e filiação linguística não seria, 
obrigatoriamente, parentesco. Diferenças de língua não implicariam em diferentes técnicas, assim 
como não condicionariam povos de mesma língua a terem a mesma cultura material. Dessa forma, ao 
pensar em uma arqueologia Guarani, o autor considerou que o compartilhamento da língua não seja 
o único demarcador ou definidor para tratar da sociedade. 



30 

 

possibilidades interpretativas da etnografia e da etno-história para a compreensão 

dos sítios arqueológicos Guarani, reinaugurando a analogia entre o grupo étnico e a 

cerâmica arqueológica. 

 Representando a releitura da utilização de dados etnográficos vinculados aos 

estudos da arqueologia Guarani, pode-se dizer, dessa forma, que com seus escritos 

teve-se a inauguração de uma nova narrativa para a arqueologia Guarani, baseada 

no estudo integrado de etnografia, etno-história e arqueologia. Essa linha de análise 

pululou como tendência na arqueologia Guarani a partir da década de 1980, mas 

especialmente na década de 1990, onde a relação entre os Guarani pré-coloniais e 

históricos fez-se em uma linha de continuidade. Durante a década de 1990, 

pesquisas com esse perfil podem ser encontradas nos trabalhos de Brochado, 

Monticelli e Neumann (1990), Tocchetto (1991), Noelli (1993; 1996; 1999-2000), 

Brochado e Monticelli (1994), Monticelli (1995), Landa (1995), Assis (1996) e Soares 

(1997).  

 Dentre esses, a pesquisa de Noelli (1993) destacou-se em relação à tentativa 

de utilização de analogias etnográficas para a construção do conhecimento sobre a 

apropriação do espaço Guarani pré-colonial. O autor proporcionou uma exaustiva 

revisão bibliográfica sobre as produções referentes a essas populações: desde os 

primeiros relatos, como de Burmeister em 1871, até os últimos trabalhos do ano de 

1992, antes da publicação de sua dissertação, reuniu e revisou sistematicamente 

360 obras da arqueologia Guarani.  

 Para esse autor (1993, p. 2), as análises dos dados documentais e de campo 

revelaram uma semelhança comportamental entre os falantes do Tupi-Guarani 

frente a questões como cultura material, tecnologia, subsistência e espacialidade; 

demonstrando, como estipulado por Brochado, lenta continuação cultural, sobretudo 

para o período pré-colonial. Em um parágrafo relevante de seu texto, Noelli (1993, p. 

2) sintetizou sua noção de longa duração entendida para os falantes do Tupi-

Guarani, em especial para os Guarani: 

 

Por dois ângulos os Guarani e seus parentes Tupi-guarani derrubam 
qualquer idéia de mudanças rápidas em diversos níveis culturais. Pelo 
ângulo arqueológico, com uma profundidade temporal que deve ultrapassar 



31 

 

os 3000 anos, constata-se que houve uma uniformidade na produção de 
vasilhas cerâmicas e de implementos líticos. Isto reflete na reprodução de 
comportamentos sócio-econômicos bem definidos que passaram a ser 
registrados desde 1500 A.D. e persistem até o presente. Por trás das 
vasilhas cerâmicas, além da prescrição tecnológica, há todo um universo 
ligado à alimentação, que por sua vez revela a agricultura, etc. Pelo ângulo 
antropológico, no estudo da cultura material e das línguas, podemos 
verificar a prescritividade como evidência marcante. A similaridade dos 
significados na definição lingüística da cultura material, a uniformidade 
tecnológica e simbólica da subsistência, o padrão de inserção ambiental e a 
concepção da antropofagia registrados historicamente, considerando a 
vasta dispersão geográfica, constituem a prova de que os Tupi-guarani pré-
contato evitavam mudar seus comportamentos. 

 

 A definição de continuidade cultural descrita na citação acima encontra a sua 

inspiração na antropologia estrutural de Sahlins, através do conceito de 

prescritividade. Conforme esse autor (2003), nas sociedades prescritivas os eventos 

ocorridos tendem a não serem encarados como algo novo, ou seja, diante de 

acontecimentos específicos surgem respostas apoiadas na tradição. Há, então, uma 

apropriação do novo como algo já tradicional. A partir da prescritividade Guarani, 

Noelli (1993) e mais tarde Noelli (1999-2000), justificou a utilização de analogias 

etnográficas para a construção de sua pesquisa. A partir da reflexão do status quo 

dessa última, sob a influência do trabalho de Brochado e das assertivas de Kramer 

(1979), propôs a construção de um modelo etno-histórico de assentamento Guarani 

bastante coeso. 

 Durante a primeira década do século XXI, a vertente etno continuou a 

estabelecer-se fortemente na arqueologia Guarani, visualizada em trabalhos como 

de Silva (2000), Souza (2002), Dias (2003), Neumann (2008) e Milheira (2008; 

2010). Além desses autores, no mesmo período dos escritos de Brochado e Noelli, 

importantes trabalhos na arqueologia Guarani do sul do Brasil, como de Schmitz 

(1985; 1991), Schmitz et al. (1990), Klamt (1996; 2005) e Rogge (1996; 2004) 

também apresentaram correlação entre os Guarani pré-históricos e as populações 

coloniais e atuais. Nesse meio, no início da década de 1990, em um artigo sobre os 

Guarani pré-coloniais, Schmitz (1991, p. 31) ressaltou que haveria “[...] uma ligação 

inegável entre os Guaranis históricos e os reconstituídos através da arqueologia” e, 

mais a frente, relatou que para os Guarani “[...] não é fácil, nem interessante separar 

os dados históricos dos arqueológicos, devido a sua íntima conexão [...]”. 



32 

 

 Visto isso, em linhas gerais, a breve relação de trabalhos apresentados 

demonstrou que as narrativas arqueológicas construídas na arqueologia Guarani 

foram embasadas fortemente na etnografia, mesmo em momentos em que se 

propôs um maior desligamento dessas, quando, com a profissionalização de 

arqueólogos, as fontes não pararam de serem consultadas. A principal impressão 

retirada desse exercício é de que as informações etnográficas, atreladas também a 

utilização da linguística, marcaram fortemente não só a formação da arqueologia 

Guarani, mas o próprio desenvolvimento do conceito de Guarani. Esse contexto está 

estabelecido sobre uma vantagem considerável da qual parte essa disciplina, que é, 

justamente, o acesso a um grande volume de fontes etnográficas do contato e de 

estudos descritivos sobre populações atuais falantes do Tupi-Guarani. Dessa forma, 

estabeleceu-se o que se chamou aqui de “vocação” para o uso de analogias - 

especialmente etnográficas, mas também linguísticas - para o conhecimento dos 

Guarani pré-coloniais. 

 Nesse contexto, de uma forma geral, o conhecimento do espaço Guarani, 

sobretudo nas perspectivas tocadas pela pesquisa, fez-se em grande parte com o 

apoio dessa inclinação científica. Apesar de pesquisas arqueológicas de campo 

recorrentes nesses temas e dezenas de sítios escavados, os modelos lançados para 

a interpretação da ocupação, dispersão e organização do espaço interno da aldeia 

estiveram alçados fortemente em dados indiretos. Por sua vez, o conhecimento 

sobre o ambiente e a utilização de plantas pelos Guarani pré-coloniais faz-se, até o 

momento, totalmente com base em dados indiretos, especialmente a partir de 

descrições etnográficas e de analogias como, por exemplo, entre a forma e a função 

dos artefatos. 

 Como avaliação particular, essa caraterística possui dois lados distintos. Por 

um lado, como exposto acima, sabe-se que o conhecimento da arqueologia Guarani 

avançou consideravelmente com a utilização de analogias etnográficas. A partir da 

década de 1980, os estudos citados acima revisitaram a noção de utilização de 

dados indiretos, amadurecendo o debate e inserindo diferenças fundamentais em 

relação aos momentos anteriores, especialmente por agregar traços de cientificidade 

às consultas de fontes etnográficas. Soma-se a isso o fato de que em muitas 

pesquisas estritamente arqueológicas, como observado por Noelli (1993) e Rogge 

(2004), notam-se a aplicação de metodologias de campo aleatórias ou ainda 



33 

 

descrições meramente superficiais, proporcionado não mais do que informações 

genéricas sobre os Guarani. Nesses contextos, ressalta-se que os aportes 

antropológicos lançados pela vertente etno relegaram maior profundidade 

interpretativa aos sítios Guarani pré-coloniais, sobretudo sobre a ocupação e 

dispersão pelo espaço, uso da aldeia e da cultura material, oferecendo, da mesma 

forma, uma relação de longa duração cultural para o grupo estudado (BROCHADO, 

1984; NOELLI, 1993; MONTICELLI, 1995; LANDA, 1995; ASSIS, 1996; SOARES, 

1997).  

 Entretanto, se nas abordagens puramente arqueológicas notam-se atividades 

superficiais, isso também ocorre nos estudos que propõe a utilização de analogias 

etnográficas para a intepretação dos sítios. A partir das assertivas trazidas por Assis 

(1996), entende-se que a popularização da utilização dessa abordagem indireta 

acarretou um fator problemático às pesquisas, especialmente quando os dados 

históricos e etno-históricos são utilizados para explicações prontas e equivalentes, 

sem que dados diretos, obtidos no registro arqueológico, sejam igualmente 

problematizados. De forma paralela, muitas vezes ocorre apenas a “anexação” de 

um dado ao outro, sem levarem-se em conta os processos históricos posteriores.  

 Críticas nesse sentido foram alertadas por Noelli (1993) - apesar de tomar 

como base a etnografia - especialmente para o caso do conhecimento sobre a 

alimentação e do uso dos recursos florísticos das aldeias, quando, a partir dos 

dados etnográficos do período do contato, não se conseguiu mais do que 

generalizações vagas. Ou então as inferências apontadas por Rogge (1996) sobre 

as explicações funcionais aplicadas para a cerâmica Guarani, baseadas 

essencialmente na etnografia. Destacam-se ainda as assertivas lançadas por 

Soares (2004; 2012), quando esse apresentou ressalvas gerais quanto à utilização 

de analogias diretas de cunho etno para a interpretação de hábitos Guarani do 

período pré-colonial. 

 Esse autor, apesar de ter utilizado fontes etnográficas e etno-históricas em 

sua pesquisa de mestrado (1997), em sua tese (2004) e em recente artigo (2012) 

indicou que se a proposta de buscar indícios de comportamento social ou material 

do modo de ser Guarani nas descrições históricas é válida e aceita para o período 

de contato com o europeu, entre os anos de 1620 e 1800 (o período mais abundante 



34 

 

em documentos), a extrapolação para o período imediatamente anterior ao contato 

torna-se especulação aceita, porém, questionável. Ressaltou ainda, em uma 

metáfora capciosa, que a utilização indiscriminada de fontes distante espaço-

temporalmente apresentaria o risco de se construir um “Frankenstein Guarani” que 

nunca existiu (SOARES, 2012, p. 772). 

 Seguindo ainda uma avaliação particular do modelo analógico, destaca-se 

que em alguns pontos o próprio status positivo da utilização de analogias 

proporcionou certo grau de conformismo em relação à interpretação de sítios 

Guarani. Esse fator apresenta-se quando, em algumas oportunidades, o volume de 

informações obtidas com a etnografia originou a impressão de que tudo já se sabia 

sobre os Guarani, inclusive do período imediatamente anterior ao contato com povos 

além-mar. Visto isso, visualizam-se modelos baseados em analogias sendo 

replicados nas interpretações de campo sem que uma relação de teste com os 

vestígios obtidos em campo aconteça. Nesse sentido, Noelli destacou uma 

passagem de Menghin, em 1962, quando esse, observando a arqueologia Guarani 

da Argentina e do Paraguai, indicou que devido à copiosidade dos acervos históricos 

existentes, talvez fosse considerada supérflua a arqueologia Guarani em todas as 

suas abordagens. 

 Por vezes, esse conformismo pode ser também notado em estudos que 

propõe uma via essencialmente arqueológica, uma vez que, não raramente, se 

observam sítios em que as interpretações partem de dogmas arqueológicos e, 

mesmo com a visualização de contextos de campo específicos, esses não são 

problematizados criteriosamente. Um exemplo recai sobre o caso das manchas 

escuras, os NSA(s), evidenciadas quase que na totalidade de sítios Guarani. Apesar 

de possuírem uma característica de diagnóstico comparável ao papel da cerâmica 

Guarani, em poucos sítios realizaram-se decapagens horizontais em níveis naturais 

e plotagem dos vestígios, a fim de se evidenciar o comportamento real de tais 

estruturas (SOARES, 2004) e compreender os detalhes em âmbito de micronível 

(NOELLI, 1993). Ao contrário disso, ou seja, sem a apresentação de subsídios 

empíricos e experimentais sistemáticos, geralmente são relacionadas a estruturas 

de habitação Guarani, recebendo uma interpretação genérica referente a contextos 

domésticos. 



35 

 

 Visto isso, acredita-se que um caminho interessante esteja no paralelo 

reflexivo entre dados diretos obtidos no registro arqueológico e a adoção de 

informações etnográficas e etno-históricas, como visto em Carle (2002), Dias (2003) 

e Milheira (2008). Pesquisadores da escola processual como Gould (1978), Binford 

(1983) e Kent (1987) já haviam demonstrado, com distinções importantes, formas de 

integração entre ambas as classes de dados. Nos dois primeiros percebeu-se uma 

inclinação à relativização da utilização de analogias, pressupondo necessariamente 

testes in situ. Gould (1978), em um exercício reflexivo, trocou o termo "analogia" pelo 

termo "modelo", indicando que esses últimos deveriam constituir-se de 

aproximações relativas a comportamentos etnográficos regulares e não em 

equivalência entre os dois lados observados. Da mesma forma, Binford (1983) 

ressaltou que a analogia permitiria formular não mais do que hipóteses sobre o 

passado a serem testadas no registro arqueológico.  

 Já a última autora, Kent (1987), lançou mão para se pensar em uma 

possibilidade inversa, com a indicação de aportes etnográficos para a compreensão 

do registro arqueológico. A autora (1987) ressaltou o olhar aproximativo preterido 

pelo conceito de "etnografia arqueológica", insistindo na necessidade de se articular 

os dados da escavação arqueológica com os dados etnográficos e 

etnoarqueológicos, indispensáveis, conforme ela, quando da interpretação e síntese 

das informações empíricas obtidas em campo. Apesar das distinções, os três 

autores relacionaram a utilização complementar entre dados do registro 

arqueológico e dados indiretos, obtidos pelo viés etnográfico. 

 

2.2 Metodologia 

 

 Os elementos relacionados acima foram destacados para que se obtivesse 

uma noção geral da construção do conhecimento produzido pela arqueologia 

Guarani. A breve revisão da literatura demonstrou que as pesquisas nessa disciplina 

apresentam uma forte inclinação indireta, incluindo os assuntos referentes à 

compreensão e uso do espaço. Por outro lado, estabeleceu-se que poucos trabalhos 

estritamente arqueológicos detiveram-se a detalhes do registro de campo. Visto isso, 



36 

 

o balanço realizado entre as premissas descritas acima permitiram a elaboração de 

uma abordagem específica para essa pesquisa, assim como inspiraram a 

estruturação das atividades de campo e de laboratório, realizadas com vistas a 

complementar a abordagem elegida. 

 

2.2.1 Abordagem tomada para a pesquisa 

 

 Como ponto de partida, aventou-se experimentar as possibilidades presentes 

no próprio registro arqueológico, ressaltando-se a ideia de que esse disponibiliza 

informações de qualidade evidentemente mais direta. Estabeleceu-se, então, uma 

metodologia que permitisse a investigação do espaço nas três perspectivas 

pretendidas, conduzindo as atividades a partir de testes in situ. Em paralelo, 

delimitou-se que tal tarefa fosse realizada sem a promoção de um acúmulo de dados 

aleatórios de campo, visto que o sítio já possuía um amplo histórico de pesquisas e 

um considerável volume de vestígios arqueológicos evidenciados. Dessa forma, 

valendo-se dos 250 m² já escavados, das análises anteriores sobre a cultura 

material, dos croquis de intervenções passadas e de observações em campo, 

selecionou-se uma pequena “janela” arqueológica5 de quatro m² (quadrícula de 2X2 

m) em partes de um NSA evidenciado no sítio RS-T-114.  

 A abertura do recorte amostral antecedeu a decapagem por níveis naturais, a 

plotagem tridimensional dos vestígios presentes no pacote arqueológico, o registro 

total da evolução do aparecimento de materiais arqueológicos, a coleta sistemática 

de amostras de carvão para datações radiocarbônicas e a coleta de fragmentos de 

cerâmica para extrações químicas de microvestígios botânicos. Essas assertivas 

estiveram amparadas no conceito de décapage estabelecido por Leroi-Gourhan e 

Brézillion (1966, p. 321), que, segundo esses, consiste em seguir os movimentos do 

solo respeitando minuciosamente a manutenção em seu lugar, de todos os 

vestígios. 

                                                           
5
 Conceito utilizado também por Jacques (2007). 



37 

 

 Dessa forma, para as discussões referentes à primeira perspectiva de 

ocupação do espaço, procurou-se, a partir das datações sistemáticas obtidas pelo 

método de C14, apresentar uma boa documentação cronológica do sítio. As datas 

foram estabelecidas como o ponto de partida para as discussões acerca da 

dinâmica de ocupação e movimentação ao longo do espaço trabalhado e, quando 

acrescidas de observações relativas à formação do registro arqueológico, permitiram 

que se refletisse sobre os principais modelos adotados por pesquisas anteriores 

para esse tema. 

 Para a segunda perspectiva pretendida, relacionada à compreensão dos 

espaços evidenciados no sítio, também se atentou para elementos contidos no 

registro arqueológico. O tamanho restrito da “janela” arqueológica não foi suficiente 

para que se verificasse a completa horizontalidade de ocupação dessa área, assim 

como sugere o conceito de escavação ampla (PALLESTRINI, 1975), entretanto, 

proporcionou que se avaliasse o micronível de partes de uma mancha escura de 

sítio Guarani, assim como sugerido por Noelli (1993), disponibilizando informações 

sobre a presença de estruturas arqueológicas, seu comportamento, a dispersão dos 

materiais nos espaços do sítio, a presença de eventos pós-deposicionais e a 

formação do registro arqueológico de uma forma geral. 

 Esses elementos, somados a verificação da funcionalidade6 da cultura 

material e da ocorrência de variabilidade de potes de cerâmica, como exposto por 

Milheira (2008), permitiram a interpretação de áreas de atividade no sítio. Para Kent 

(1984; 1987), áreas de atividade constituem-se de locais em que eventos humanos 

particulares ocorreram e deixaram vestígios específicos; ou, como para Binford 

(1983), tratam-se de locais em que se desempenhavam uma série de tarefas 

integradas, ocorrendo, geralmente, em sequência temporal e de forma ininterrupta.   

 Por fim, para a perspectiva mais imediata de relação com o espaço - a 

visualização da apropriação do “espaço verde” Guarani - optou-se, da mesma forma, 

por evidenciar dados empíricos presentes no registro arqueológico. Entretanto, 

diferente das escolhas relatadas acima, que possuem correspondência com outros 

                                                           
6
 Ressalta-se que os aportes sobre a funcionalidade artefatual Guarani estão estabelecidos sobre 

dados indiretos, com base em etnografia e analogias de forma versus função. Entretanto, torna-se um 
elemento indispensável para a interpretação funcional das estruturas. 

 



38 

 

contextos Guarani abordados, a coleta de dados para essa última perspectiva deu-

se de forma exploratória, com base na disciplina de paleoetnobotânica7. Essa, a 

partir de um resgate de gênese apresentado por Pearsall (2010, p. 2), refere-se a 

uma parcela do campo de estudo da etnobotânica. Em 1941, Jones publicou um 

pequeno artigo intitulado “The Nature and Status of Etnobotany” que, segundo a 

mesma autora, formalizou o campo de investigação da humanidade relacionado ao 

uso de plantas, mais especificamente das relações entre as sociedades tradicionais 

e as plantas. 

 A etnobotânica logo foi ampliada ao estudo do homem antigo, quando Towle 

(1961), em sua clássica definição, estipulou que tudo o que permeia a associação 

entre homem e plantas relaciona-se com os estudos etnobotânicos, sem limite de 

tempo e cultura (PEARSALL, 2010, p. 1). Visto isso, estabeleceu-se uma direção 

paleo8 à disciplina. Conforme Scheel-Ybert (2004a), essa passou a permitir a 

obtenção de informações paleoecológicas (reconstruções ambientais) e informações 

paleoetnológicas (comportamento humano diante do ambiente) em contextos pré-

coloniais, produzindo suas informações especialmente a partir de macro e 

microvestígios botânicos. Conforme Babot (2007), os macrovestígios compreendem 

vegetais carbonizados ou não de frutos, sementes, tubérculos, raízes comestíveis, 

fibras, folhas e madeiras, ou seja, elementos visíveis a olho nu. Por sua vez, são 

microvestígios botânicos os elementos visíveis apenas sob magnificação, como 

grãos de pólen, fitólitos, grãos de amido, oxalatos de cálcio e anéis de celulose. 

 Apesar de tratar-se de uma disciplina consolidada em várias partes do 

mundo, no contexto brasileiro tem recebido um investimento maior apenas nos 

últimos anos, sobretudo em estudos de macrovestígios a partir da antracologia 

(estudo de lenhos carbonizados) e da carpologia (estudo de sementes). No Brasil, 

especialmente na região Sudeste, a antracologia começou a se desenvolver na 

                                                           
7
 Em algumas pesquisas utilizam-se o termo “Arqueobotânica” como equivalência para 

“Paleoetnobotânica”, entretanto, como ressalta Scheel-Ybert et al. (2005-2006), ambas referem-se a 
inclinações teóricas distintas, sendo a primeira mais técnica, de vertente europeia, e a segunda mais 
antropológica, de vertente norte-americana. 

 
8
 O termo “paleo” refere-se a uma metáfora relativa a contextos mais antigos, pautados pela 

arqueologia e utilizada por vários autores, não inserindo-se em contextos de antiguidade 
paleontológica. 



39 

 

metade da década de 1990, em estudos sobre povos sambaquieiros9, como visto em 

Scheel-Ybert (1996a; 1996b; 1998; 2000; 2001; 2003; 2004a; 2004b; 2005), Scheel-

Ybert et al. (1996; 2003; 2005-2006; 2006; 2010), Gaspar et al. (2004), DeBlasis et 

al. (2007); no litoral de Santa Catarina, como visto em Bianchini (2008); em menor 

grau em sítios de ocupação Tupinambá, como visto em Beauclair et al. (2008), 

Beauclair et al. (2009); também em regiões do Cerrado, como visto em Scheel-Ybert 

e Solari (2005); assim como na região da Amazônia Central, como visto em Scheel-

Ybert et al. (2010), Caromano (2010) e Silva (2012). 

 Por outro lado, a análise de microvestígios possui uma tradição menor na 

arqueologia brasileira, apresentando estudos efetivos apenas na última década, 

especialmente em relação à recuperação de grãos de amido e fitólitos aderidos a 

cálculos dentários, novamente de sítios sambaquieiros do Sudeste brasileiro, como 

em Boyadjian (2007), Wesolowski (2007), Wesolowski et al. (2010); em cropólitos, 

como em Teixeira-Santos (2010); a partir de sedimento de solos de sítios 

amazônicos, como em Bozarth et al. (2009) e sítios do litoral gaúcho, como em 

Pereira (2013); também aderidos a artefatos arqueológicos, especialmente em 

cerâmicas do contexto amazônico, como em Gomes (2008) e Cascon (2010) e para 

o contexto do Planalto catarinense, como em Corteletti (2012). 

 A partir do panorama de pesquisas estabelecido e das assertivas expostas 

por Scheel-Ybert et al. (2010) e Teixeira-Santos (2010), percebeu-se que macro e 

microvestígios tem disponibilizado informações relevantes sobre o ambiente e sua 

utilização, incluindo possibilidades que vão desde o conhecimento da dieta, cultivo, 

dispersão, domesticação de vegetais, processamento de alimentos e da cosmogonia 

dos povos pretéritos. Ressalta-se que ao longo da execução da metodologia de 

campo no sítio RS-T-114 evidenciou-se a presença de macrovestígios botânicos 

carbonizados em grande quantidade. Entre esses, verificou-se a presença 

majoritária de lenhos, assim como de alguns exemplares de sementes e 

endocarpos. Levando-se em conta a maior facilidade de identificação taxonômica 

em sementes, essas foram selecionadas para uma análise comparativa prévia de 

                                                           
9
 A palavra “sambaqui” é formada por dois termos da língua tupi: tamba, que quer dizer moluscos; e 

ki, que significa amontoado, depósito. Os sambaquis são amontoados de materiais orgânicos, 
constituídos predominantemente de conchas de moluscos e carapaças de crustáceos. Foram 
formados, ao longo de vários séculos, por povos que habitaram, sobretudo, o litoral do Atlântico, 
apelidados, em termos arqueológicos, de sambaquieiros (PROUS, 1992).  



40 

 

taxonomia, com vistas a aumentar o rol de informações obtidas com os 

macrovestígios botânicos.  

 Entretanto, para o contexto do sítio RS-T-114, optou-se pela priorização de 

análises de microvestígios botânicos. A escolha por essa classe de vestígios deu-se, 

em primeiro lugar, pelo status exploratório pretendido para essa etapa da pesquisa, 

possibilitando a visualização de vestígios botânicos não visíveis a olho nu, uma vez 

que a presença de macrovestígios botânicos carbonizados faz-se como uma 

constância no sítio, tendo recebido análises anteriores, como em Schmidt (2010). 

Além disso, levou-se em conta que para a arqueologia Guarani, de um modo geral, a 

análise dessa classe de vestígios constitui-se ainda como um vértice pouco 

pesquisado. 

 Dessa forma, partindo das experiências relatadas acima e de importantes 

trabalhos realizados na América do Sul e América Central (PIPERNO & HOLST, 

1998; PIPERNO et al., 2000; PERRY, 2005; DICKAU et al., 2007; ZARRILLO, 2004; 

ZARRILLO et al., 2008; DICKAU et al., 2011; BONOMO et al., 2011), mas 

especialmente de dois trabalhos em contexto brasileiro (CASCON, 2010; 

CORTELETTI, 2012), optou-se por selecionar amostras de cerâmica in situ para as 

extrações dos microvestígios botânicos, visto que os sítios Guarani são conhecidos 

pelo volume de cultura material agregada em seus contextos, incluindo a presença 

marcante de fragmentos de cerâmica. Os potes Guarani estão associados, 

geralmente, a contextos domésticos ou ritualísticos, servindo para armazenagem e 

consumo de algum alimento sólido ou líquido. Além do registro arqueológico, a 

etnografia indica com frequência a utilização de potes de cerâmica para o 

processamento de vegetais, tornando-os, então, uma importante ponte para a 

recuperação de vestígios botânicos de interesse econômico e ambiental para os 

Guarani. 

 Dentre os microvestígios botânicos analisados em contextos arqueológicos, 

os grãos de amido e os fitólitos encontram-se como os mais populares. Os trabalhos 

relatados acima revelaram ainda a preferência por extrações conjuntas desses dois 

tipos de vestígios botânicos. Cascon (2010, p. 96), com base em Piperno (2006), 

ressaltou que a recuperação somente de fitólitos, por exemplo, não representaria a 

melhor abordagem para se averiguar o consumo de raízes e tubérculos, uma vez 



41 

 

que essas possuem um grande potencial de representatividade por meio da análise 

de grãos de amido; porém, pouca representatividade quanto à produção de fitólitos 

diagnosticáveis. Por outro lado, as informações sobre uma possível reconstrução 

paleoambiental de determinados espaços estaria mais facilmente associada à 

recuperação de fitólitos. 

 Essas diferenças correspondem essencialmente às distinções na forma de 

produção e de deposição desses vestígios no registro arqueológico. Os grãos de 

amido, conforme Teixeira-Santos (2010, p. 19), são moléculas de reserva energética 

formadas basicamente por dois polímeros orgânicos - amilose e amilopectina -, 

depositados em camadas alternadas em torno de um hilo. Visto isso, a sua 

identificação de origem é possível por meio da formação e agregação dos grãos de 

amido no interior do amiloplasto. Por meio de um longo caminho de pesquisa e 

experimentação, chegou-se a conclusão de que a morfologia dos grãos, a posição e 

forma do hilo, a espessura das camadas de amilose e amilopectina e a forma da 

cruz de extinção - um fator altamente birrefringente10 e que pode ser visualizado sob 

luz polarizada - permitem identificar a que grupos taxonômicos os grãos de amido 

pertencem. 

 Entretanto, cabe ressaltar que o processo de formação dos amidos resulta em 

dois tipos de amido com funções distintas de armazenamento: o transitório e o de 

reserva, influenciando, da mesma forma, nas características de preservação e de 

identificação. Conforme Teixeira-Santos (2010, p. 19), o amido se forma pela 

transformação da glicose durante a fotossíntese e se acumula em grande 

quantidade nos órgãos de estocagem das plantas, sendo utilizados para fornecer 

energia quando necessário. Ao mesmo tempo em que o organismo produz o amido 

de reserva, outro tipo de amido é formado em sua estrutura. Segundo Babot (2007), 

nos momentos em que o processo de fotossíntese é alto, ou seja, durante o dia, 

grãos bastante pequenos e de forma indeterminada são formados dentro dos 

                                                           
10

 A birrefringência apresentada por grãos de amido implica que esses, quando observados sob um 

microscópio com polarização cruzada, apresentam a formação de uma cruz de extinção negra 
(também chamada de cruz de malta) ao longo de sua estrutura. Esta cruz é um dos mais fortes 
atributos taxonomicamente correlacionáveis, permitindo identificações mais precisas da origem do 
microvestígio observado do que análises puramente morfológicas (BABOT, 2007). 

 



42 

 

cloroplastos, chamados de amidos transitórios ou temporários, sendo que à noite 

são reconvertidos em açúcares ou transformados também em amidos de reserva. 

 Para Babot (2007), devido às diferenças na composição bioquímica e no local 

em que são produzidos, os grãos de amido transitórios dificilmente são identificáveis 

taxonomicamente, pois são formados sob baixo controle genético e são menos 

resistentes do que os grãos de amido de reserva, resultando em pouca utilidade 

como ferramenta analítica. Estruturas aéreas de plantas, como folhas, caules 

verdes, frutos não maduros, botões de flores e grãos de pólen apresentam grande 

acúmulo de grãos de amido do tipo transitório. Em contraste com esse amido, os 

grãos de amido de reserva apresentam formas bem mais resistentes e são 

produzidos sob um rígido controle genético, implicando em uma forte correlação 

entre a morfologia do grão de amido e a classe taxonômica da planta que o 

produziu. Grãos de amido de reserva apresentam diversos atributos com significado 

taxonômico, como sua morfologia e seu caráter birrefringente sob luz polarizada, 

apresentando-se principalmente acumulados em raízes tuberosas, tubérculos, 

rizomas e sementes. 

Diferentemente da inconstância de preservação e resistência dos grãos de 

amido, os fitólitos - cristais de sílica ou oxalato de cálcio depositados no tecido 

botânico -, compõe a parte mais durável das plantas (IRIARTE & DICKAU, 2012), 

apresentando-se essencialmente indestrutível ao trato digestivo humano 

(PEARSALL, 2010). A formação dos fitólitos se dá quando uma planta absorve água 

na qual se encontra dissolvida sílica sob a forma de ácido monosilícico. A sílica é 

então depositada na planta através de dois mecanismos distintos de acumulação: 

formando fitólitos dentro de células especializadas e acumuladoras de sílica 

(idioblastos) ou sendo depositada nos espaços celulares e intercelulares das 

plantas.  

 Dessa forma, os fitólitos são produzidos em grandes quantidades por muitas 

famílias de monocotiledôneas e dicotiledôneas, e são encontrados em estruturas 

variadas como folhas, raízes, inflorescências, lenho e casca. As condições do solo, 

de clima e a disponibilidade de água são alguns dos fatores que influenciam 

diretamente na produção dos fitólitos pelas plantas (TEIXEIRA-SANTOS, 2010, p. 

19-20). Apesar de diversos estudos consolidados sobre a identificação desses 



43 

 

vestígios, inclusive em sítios arqueológicos (IRIARTE et al., 2001; IRIARTE, 2003; 

IRIARTE, 2005; 2006; 2007; IRIARTE et al., 2008; CASCON, 2010; DICKAU et al., 

2011; IRIARTE & DICKAU, 2012), em razão da grande diferença de forma de fitólitos 

dentro de uma única espécie, sua classificação foi considerada de difícil realização 

por muito tempo (TEIXEIRA-SANTOS, 2010). 

A identificação taxonômica dos fitólitos constitui-se, de uma maneira geral, em 

tarefa mais complexa. Entre os principais fatores que conduzem uma boa pesquisa 

para a identificação de fitólitos está na apropriação de uma coleção de referência 

regional de botânica, não disposta ainda para a área de estudo, e um conhecimento 

bastante maduro referente à composição morfológica dos vestígios, visto que os 

fitólitos apresentam uma ampla variedade de plantas presentes nas amostras. Por 

outro lado, os grãos de amido, apesar de também necessitarem de conhecimento 

apurado sobre taxonomia, possuem, geralmente, uma ligação mais próxima com 

plantas consideradas econômicas aos grupos humanos, restringindo-se, assim, a 

amplitude de possibilidades de identificação.  

 Além disso, observou-se que os fitólitos, constituídos de sílica, portanto 

resistentes, apresentam-se geralmente abundantes nas amostras. Por outro lado, 

não se faz possível inferir com segurança a presença de amidos em todos os 

contextos. Destaca-se, em relação a isso, que apesar dos resultados positivos para 

a preservação desses vestígios em sítios da Amazônia, do Sudeste brasileiro e 

Planalto catarinense, levou-se em conta as assertivas de Samuel (2006), quando 

esse considerou a possibilidade de grãos de amido em sedimentos tropicais 

apresentarem pouca preservação. Haslam (2004 p. 1718) também já havia alertado 

uma série de fatores responsáveis pela degradação de vestígios botânicos em 

contextos arqueológicos, especialmente de grãos de amido: 

 

The factors influencing the degradation of plant components in soils can be 
divided into two broad categories: soil properties such as pH, temperature, 
texture and moisture content, and soil constituents including enzymes, 
bacteria, fungi and earthworms

11
. 

                                                           
11

 “Os fatores que influenciam a degradação de componentes de plantas no solo podem ser divididas 
em duas grandes categorias: propriedade do solo, como o pH, temperatura, textura e teor de 
umidade; e constituintes do solo, incluindo enzimas, bactérias, fungos e minhocas” (Tradução livre). 



44 

 

 A partir do balanço dos elementos tratados acima, foi possível definir o 

caminho almejado para a análise dos microvestígios botânicos. Ressalta-se que a 

opção pela análise de microvestígios não se fez para inferir necessariamente sobre 

a presença/ausência de cultivos domesticados, uma vez que fontes etnográficas já 

apresentaram com clareza a prática de produção de alimentos domesticados pelos 

Guarani pré-coloniais (LA SALVIA & BROCHADO, 1989; SCHMITZ et al., 1990; 

SCHMITZ, 1991; NOELLI, 1993; BROCHADO & MONTICELLI, 1994), assim como já 

foram documentados vestígios carbonizados de milho em contexto arqueológico 

Guarani do sul do Brasil (SOARES, 2004). A busca por indícios diretos do uso do 

ambiente fez-se, em primeiro plano, para a avaliação tafonômica dos vestígios, ou 

seja, em relação à preservação de microvestígios botânicos no contexto trabalhado. 

Em segundo plano, além da relação tafonômica, abriu-se um breve espaço para 

inferências taxonômicas, quer dizer, sobre a possibilidade de identificação de 

algumas das plantas presentes no registro. 

 Apesar dos interessantes resultados apresentados por estudos conjuntos de 

grãos de amido e fitólitos, fatores como grau de complexidade de identificação, 

ausência de coleção de referência e incerteza de preservação, colaboraram para 

que as análises tivessem como prioridade a exploração de grãos de amido em 

detrimento dos fitólitos. Ressalta-se que eventualmente as amostras geradas nas 

extrações de grãos de amido apresentam a presença de fitólitos, possibilitando, 

nesses casos, inferências sobre as condições de preservação e identificação desses 

vestígios. 

 Visto isso, a pesquisa encontra-se estabelecida em dois vértices 

complementares: a interpretação do espaço Guarani em três perspectivas, como 

comentado acima, e a possibilidade de se atentar para esses temas a partir de 

dados diretos. Apesar da postura empírica e experimental até certa medida 

pretendida, buscando-se, como exposto por Gould (1978) e Binford (1983), testar in 

situ alguns modelos estabelecidos; a pesquisa também propôs dialogar em um 

sentido meo termo com concepções formuladas a partir de dados indiretos, 

especialmente da etnografia histórica, mas também atual, optando-se, assim como 

proposto por Kent (1987), por uma maior profundidade na interpretação 

arqueológica. 



45 

 

 Em relação às últimas assertivas relacionadas, cabe um adendo final. Ao 

prever uma articulação com dados indiretos, especialmente etnográficos, levou-se 

em conta o grau de prescritividade Guarani exposto por inúmeros arqueólogos 

(BROCHADO, 1984; SCHMITZ et al., 1990; SCHMITZ, 1991; NOELLI, 1993; 

MONTICELLI, 1995; LANDA, 1995; ASSIS, 1996; ROGGE, 1996; 2004; SOARES, 

1997; DIAS, 2003; OLIVEIRA, 2008; MILHEIRA, 2008; 2010). Entretanto, deixa-se 

claro que tal perspectiva não impede que a distância temporal e espacial, assim 

como os eventos de contato entre europeus e outros povos indígenas, tenha 

acarretado modificações sociais relevantes. Quanto a isso, Sahlins (1997a; 1997b) 

demonstrou que até mesmo em sociedades prescritivas as mudanças ocorrem em 

diversos graus e níveis, não se tratando de imutabilidade cultural, mas de 

(re)ordenação social a partir da tradição.  

 Dessa forma, com pauta na ideia de que em tempos de atividade os sítios 

certamente possuíam detalhes inatingíveis, e de que os fatores pós-deposicionais 

relegaram aos espaços estudados características sui generis, levou-se em conta 

aqui que o registro arqueológico não pode ser explicado com dados etnográficos em 

uma relação direta, entretanto, esses não deixam de representarem uma importante 

possibilidade para a compreensão geral de determinados contextos ou hábitos pré-

coloniais intrínsecos no ethos social Guarani. 

  

2.2.2 Atividades de campo 

 

 Em campo demarcou-se, como dito acima, uma pequena “janela” 

arqueológica no sítio RS-T-114. O espaço selecionado como recorte amostral, 

destacado em vermelho na Figura 01, localiza-se na planície de inundação do sítio, 

na margem direita do Rio Forqueta, em meio a um perímetro de escavação que se 

convencionou chamar de Área 2, correspondendo, nas intervenções passadas, a 

quadrícula D2. Para a definição da área, levaram-se em conta alguns fatores 

específicos. No ano de 2010, durante uma enchente atípica na região, a queda de 

uma árvore expôs um perfil artificial na direção sul da quadrícula D2. 



46 

 

Figura 01 – Recorte amostral selecionado para a escavação. No canto sul observa-
se a presença do perfil artificial. 

 

Fonte: Schneider (2014). 

 

 Com cerca de 1 m de profundidade, o perfil deixou evidente um NSA de 

coloração escura, que, para a presente pesquisa, será denominado de NSA 2 

(FIGURA 02). A estratigrafia do perfil foi importante para que se pudesse selecionar 

a área com o maior índice de preservação para a coleta das amostras de carvão 

para datação e para a coleta das cerâmicas para a extração dos microvestígios.  

 Da mesma forma, o perfil demonstrou-se interessante para a execução da 

metodologia de decapagem por níveis naturais, uma vez que foi possível utilizá-lo 

como guia para o procedimento de retirada das amostras sem que se misturassem 

as diferentes camadas estratigráficas.  

 Realizada a seleção do espaço amostral, com a intenção de proporcionar um 

maior controle do registro e da decapagem, a quadrícula D2 foi subdividida em 

quatro partes (subquadrículas D2/1; D2/2; D2/3 e D2/4) de um m² cada (FIGURA 

02). Na mesma Figura 02, faz-se possível notar os limites atingidos pelo NSA 2. 

 

Perfil artificial 

Parede sul 



47 

 

Figura 02 – Visualização do NSA 2 e as subdivisões efetuadas na quadrícula D2. 

 

Fonte: Schneider (2014). 

 

 Além da subdivisão da quadrícula em um plano horizontal, procedeu-se a 

divisão no plano vertical, ou seja, estabelecendo-se as diferentes camadas 

estratigráficas.  

 Dessa forma, três horizontes foram observados, classificados conforme 

Streck et al. (2008) em (1) horizonte A, caracterizado por um solo marrom-

acinzentado, com a presença de materiais cerâmicos e líticos, carvão e vestígios 

arqueofaunísticos em pouca densidade; (2) o NSA 2, caracterizado por uma bem 

definida camada escura de ocupação arqueológica, com a presença de vestígios 

cerâmicos e líticos, vestígios arqueofaunísticos, carvão e sementes que, a partir das 

assertivas referentes ao conceito de archaeo-anthropedogenic apresentadas por 

Kämpf et al. (2003), compõe a camada horizonte A Antrópico12; e, por fim, (3) o 

horizonte B, caracterizado por solo areno-argiloso, estéril de material arqueológico 

(exceto por um fragmento de cerâmica que “rasgou” a estratigrafia por meio de 

                                                           
12

 Dessa forma, os termos “NSA” e “horizonte A Antrópico” correspondem à mesma camada 

estratigráfica, optando-se nesse trabalho pela utilização do termo NSA e, eventualmente, 
denominações populares como “mancha escura”. 

D2/3 

D2/1 D2/2 

D2/4 

Limite sul do NSA 2 

Limite leste do 

NSA 2 



48 

 

perturbação pós-deposicional), notando-se ainda a penetração de partes do 

horizonte A Antrópico na última camada, conforme representação na Figura 03. 

 

Figura 03 – Representação das camadas estratigráficas presentes no perfil da 
quadrícula D2.  

 

Fonte: Elaborado por Schneider e Kreutz (2014). 

 

 Seguindo na descrição estratigráfica, o horizonte A possuía cerca de 0,10 m 

de espessura. Cabe ressaltar que essa camada apresentava, no início das 

intervenções, uma espessura maior. O resgate dos croquis de intervenções 

anteriores revelou que entre escavações passadas, limpezas e o desgaste 

ocasionado pela enchente, já haviam sido aprofundados 0,25 m na quadrícula D2. 

 Dessa forma, contando com a espessura original da primeira camada, o NSA 

2 estava, desde o início das intervenções, a cerca de 0,40 m de profundidade. O 

NSA 2 apresentou - na área em que se verificou maior preservação - a espessura de 

0,08 m, mas, como visto na Figura 03, confere-se também variação ao longo do 

perfil, chegando a atingir cerca de 0,16 m de espessura em uma feição que tomou 

forma de “bolsão” (FIGURA 04). 

 

 

 



49 

 

Figura 04 – Visualização do NSA 2, da ação de uprooting e destaque para a 
presença de uma feição em forma de “bolsão”. 

 

Fonte: Schneider (2014). 

  

 Como visto nas Figuras 03 e 04, foi possível notar traços de perturbação entre 

as camadas, especialmente pela ação de raízes em uprooting (MILDER, 2000), ou 

seja, “empurrando” a camada do NSA 2 ao longo do horizonte B, proporcionando 

misturas pontuais entre as mesmas. Nessa dinâmica, como ressaltado acima, 

verificou-se um fragmento de cerâmica a 0,60 m de profundidade. Depois de 

delimitada a área e realizada a verificação estratigráfica, iniciou-se a decapagem por 

níveis naturais. Evidenciaram-se os vestígios da primeira camada, o horizonte A, 

realizando-se a plotagem, o registro e a coleta individual dos vestígios. A segunda 

camada, correspondente ao NSA 2, por tratar-se da camada arqueológica típica, foi 

a área selecionada para a coleta sistemática das amostras de carvão para a datação 

e para a seleção de fragmentos de cerâmica para a extração de microvestígios 

botânicos. 

 A coleta das amostras de carvão não ocorreu de forma aleatória, escolhendo-

se uma mesma área horizontal e vertical do recorte amostral. Os critérios elegidos 

foram a maior preservação visual do NSA 2 e a maior incidência de amostras de 

carvão. Esses dois fatores coincidiram em um ponto em comum na subquadrícula 

D2/2, localizada na parte que visualmente conferia o maior grau de preservação do 

NSA 2, como exposto na Figura 05, demonstrando a espessura de 0,08 m. Para que 

a coleta sistemática fosse atingida, coletaram-se amostras de carvão verticalmente a 

cada 0,02 m seguindo a decapagem, de forma a se obter quatro camadas 

consecutivas de datação ao longo dos 0,08 m do NSA 2. 

  

Ação de uprooting Feição em forma de “bolsão” 



50 

 

Figura 05 – Perímetro demarcado para a coleta de carvão para a datação, com 
destaque para a visualização do ponto selecionado ao logo do NSA 2.  

 

Fonte: Schneider (2014). 

 

 Durante a decapagem, os fragmentos de carvão não selecionados para a 

datação foram plotados e coletados manualmente para futuras análises 

antracológicas. Todo o sedimento resultante da decapagem foi embalado 

separadamente por camadas e levado para laboratório, onde foram submetidos à 

flotação para a recuperação dos demais vestígios carbonizados não coletados 

manualmente, recuperando-se vestígios a partir de 0,002 m. Como exposto por 

Scheel-Ybert (2004a, p. 346), “[...] em regiões tropicais, a concentração do material 

arqueológico deve ser feita utilizando-se peneiras de malha de 4mm [...]. Podem-se 

usar peneiras de malha inferior, mas nunca superior”. Os vestígios evidenciados 

durante a decapagem foram plotados e coletados para posteriores análises em 

laboratório. 

 Como dito acima, a coleta dos fragmentos de cerâmica para as extrações dos 

microvestígios também ocorreram no nível do NSA 2. Seguindo os mesmos critérios 

de preservação supracitados para a coleta de carvão, delimitou-se novamente a 

subquadrícula D2/2. No contexto da escavação foram selecionados 12 fragmentos 

Perímetro delimitado para 

a coleta do carvão 



51 

 

de cerâmica, denominados de #121, #120, #114 #112, #105, #104, #103, #102, 

#101, #100, #99 e #63, localizados próximos ao perímetro de coleta das amostras 

para a datação (FIGURA 06). As amostras foram plotadas, registradas em croqui, 

coletadas com o auxílio de pinça cirúrgica esterilizada e imediatamente embaladas 

em papel alumínio. Essa medida, apresentada por Corteletti (2012), deve-se para 

evitar a contaminação das amostras com vestígios botânicos contemporâneos, 

especialmente de amidos, ou, até mesmo, para evitar a contaminação entre as 

diferentes amostras. 

 

Figura 06 – Delimitação do perímetro de coleta dos fragmentos de cerâmica e, à 
direita, a localização dos fragmentos coletados. 

 

Fonte: Schneider (2014).  

 

2.2.3 Atividades de laboratório 

 

 Como primeira atividade de laboratório procedeu-se o registro, a separação e 

a preparação das quatro amostras de carvão selecionadas em campo para a 

#120 

Perímetro de coleta dos fragmentos 
de cerâmica 

Amostras 
selecionadas 

 

#100 

#121 

# 63 

#114 
#105 

#112 

#104 

#102 
#103 
 

 
 

#99 

#101 



52 

 

datação sistemática. Essas foram enviadas ao laboratório Beta Analytic Radiocarbon 

Dating, em Miami, Estados Unidos, destinadas ao método AMS Standard de datação 

por C14. Os laudos resultantes das amostras disponibilizados pelo laboratório estão 

dispostos no Anexo A, recebendo análise e discussão na sequência do texto, 

especialmente nos itens 3.3.2 e 4.2. 

 Depois dessa etapa pontual, realizou-se a análise da dispersão e 

concentração dos vestígios ao longo do recorte amostral. Essa etapa foi executada 

mediante a observação dos croquis gerados em campo, de registros fotográficos, de 

remontagem das peças e comparações com plotagens anteriores na Área 2, 

presentes especialmente em Fiegenbaum (2009) e Wolf (2010). Os vestígios 

advindos da decapagem foram lavados e registrados no livro tombo. Além desse 

registro usual, cada peça recebeu um adesivo com o número de identificação da 

plotagem, a fim de possibilitar o manuseio livre das peças, sem a perda do registro. 

Essa medida permitiu a clara visualização dos vestígios inseridos nos croquis, assim 

como facilitou a compreensão da dinâmica de deslocamento dos vestígios durante 

as remontagens. 

 Essa atividade antecedeu à análise prévia da cultura material cerâmica e lítica 

presente na quadrícula. Nesse aspecto, ressalta-se que o foco esteve direcionado à 

interpretação da funcionalidade do registro arqueológico evidenciado, não 

promovendo-se densa descrição ou análise tecnotipológica dos vestígios. Destaca-

se que análises desse cunho já haviam sido realizadas de forma criteriosa por 

Fiegenbaum (2009) para o caso do material lítico; e por Fiegenbaum (2009) e Wolf 

(2010) para o caso da cerâmica do sítio RS-T-114, incluindo a reconstituição 

hipotética bastante completa de potes de cerâmica evidenciados no sítio 

(FIEGENBAUM, 2009, p. 124-125). 

 Para tanto, estipulou-se uma metodologia genérica para ambos os grupos de 

vestígios, mas que permitisse a mínima comparação com os resultados 

apresentados pelos autores citados acima. Dessa forma, para os materiais líticos 

avaliaram-se, em termos quantitativos, as matérias-primas de proveniência, as 

modificações tecnológicas e modificações naturais presentes nos vestígios. Em 

termos qualitativos, inferiu-se uma provável funcionalidade para alguns objetos, 



53 

 

especialmente aqueles verificados como artefatos, seguindo basicamente os aportes 

descritivos estabelecidos por Rogge (1996) e Fiegenbaum (2009). 

 Para a cerâmica observou-se a quantificação relacionada ao tratamento de 

superfície (corrugada, alisada, pintada, ungulada e variações entre essas) e o tipo 

de secção (borda, parede e fundo/base). Em termos qualitativos, buscou-se, da 

mesma forma que para o lítico, inferir sobre a funcionalidade dos potes. Ressalta-se 

que as tentativas na arqueologia Guarani de reconhecimento da função das vasilhas 

foram arquitetadas basicamente a partir de analogias indiretas - etnográficas ou 

morfológicas - estabelecendo a relação entre formas específicas e determinadas 

funcionalidades13. Nesse meio, o trabalho de Brochado (1977), ao propor uma 

relação direta entre a forma e a função de vasilhas cerâmicas de populações da 

Floresta Tropical