UNIVERSIDADE DO VALE DO TAQUARI PÓS GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA D TRABALHO RISCOS ERGONÔMICOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL UM ESTUDO DE CASO Gustavo Bresolin Lajeado, abril de 2019 Gustavo Bresolin RISCOS ERGONÔMICOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL UM ESTUDO DE CASO Trabalho de Conclusão de Curso de Pós- Graduação apresentado na Universidade do Vale do Taquari, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Bacharel em Engenharia de Segurança do Trabalho. Área de concentração: Ergonomia Orientador: Prof. Me. Eduardo Becker Delwing Lajeado, abril de 2019 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a minha família, em especial aos meus pais Adilar e Ivone e meu irmão Augusto, que sempre me deram apoio em todos os momentos e são a base do meu ser. AGRADECIMENTOS Agradeço a minha namorada Tais pela compreensão e entendimento a respeito de minha ausência nesse período de Pós-Graduação e realização do trabalho de conclusão. Agradeço também a todos os professores pelos ensinamentos passados e a todos os colegas pelos momentos compartilhados, alguns alegres e outros sofridos, mas todos inesquecíveis. RESUMO A Construção Civil é um setor que se destaca no cenário nacional no que diz respeito à número de afastamentos devido a doenças ocupacionais ou acidentes de trabalho. As obras de pequeno porte hoje, dependem ainda da força dos homens, os quais apresentam baixo grau de instrução, trabalhando normalmente ao ar livre com condições de segurança precárias e materiais e ferramentas inadequadas no que se refere a ergonomia. Foi realizada uma pesquisa qualitativa, classificada como um estudo de caso de caráter exploratório, descritivo e explicativo em um obra de pequeno porte na cidade de São Valentim do Sul, Rio Grande do Sul. Foi realizado um levantamento dos riscos ergonômicos observados in loco e realizado a análise de cada tarefa utilizando o método REBA, obtendo assim o risco associado a cada atividade. A partir dos resultados obtidos, verificou-se a importância da aplicação da ergonomia no setor da construção devido ao alto número de tarefas com risco ergonômico elevado. Para isso, apresentou-se uma proposta de intervenções em todos os níveis organizacionais e com foco na conscientização tanto de empregados quanto de empregadores. Palavras-chave: Ergonomia. Ergonomia na construção. REBA. Riscos ergonômicos. ABSTRACT Civil Construction is a sector that stands out in the national scenery regarding to the number of absences due to occupational diseases or work-related accidents. The small-scale civil works today still depend on the strength of men, who have low education, working normally outdoors with poor safety conditions and inadequate materials and tools, when referring to ergonomics. A qualitative research was carried out, classified as an exploratory, descriptive and explanatory case study in a small- scale civil work in the city of São Valentim do Sul, Rio Grande do Sul. The ergonomic risks observed on-site were mapped and each task was analised using the REBA method, obtaining the risk associated for each activity. From the results, the importance of applying ergonomics in the construction sector were verified, due to the high number of tasks with high ergonomic risk. To this end, a proposal for interventions at all organizational levels was presented, focusing on the awareness of both employers and employees. Keywords: Ergonomics. Ergonomics in construction. REBA. Ergonomic risks. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Lesões dos trabalhadores da construção civil ......................................... 22 Figura 2 – Gabarito de locação ................................................................................ 27 Figura 3 – Execução de sapata ................................................................................ 29 Figura 4 – Formas de madeira para pilares .............................................................. 30 Figura 5 – Formas de madeira para vigas ................................................................ 31 Figura 6 – Execução de alvenaria ............................................................................ 32 Figura 7 – Chapisco, emboço e reboco .................................................................... 36 Figura 8 – Execução de acabamento ....................................................................... 36 Figura 9 – Pintura .................................................................................................... 38 Figura 10 – Posições do tronco ................................................................................ 42 Figura 11 – Flexão e torção do tronco ...................................................................... 43 Figura 12 – Posições do pescoço ............................................................................ 43 Figura 13 – Flexão e torção do pescoço .................................................................. 44 Figura 14 – Posição das pernas ............................................................................... 44 Figura 15 – Flexão dos joelhos ................................................................................ 45 Figura 16 – Posição dos braços ............................................................................... 45 Figura 17 – Abdução, elevação de ombro e apoio dos braços ................................. 46 Figura 18 – Posições do antebraço .......................................................................... 46 Figura 19 – Posição dos pulsos ............................................................................... 47 Figura 20 – Rotação de desvio lateral dos pulsos .................................................... 47 Figura 21 – Carga ou força ...................................................................................... 48 Figura 22 – Qualidade da pega ................................................................................ 49 Figura 23 – Atividade muscular ................................................................................ 50 Figura 24 – Classificação final do método REBA ..................................................... 50 Figura 25 – Software Ergolândia 7.0 ........................................................................ 51 Figura 26 – Ergolândia – pescoço, tronco e pernas ................................................. 52 Figura 27 – Ergolândia – carga ................................................................................ 53 Figura 28 – Ergolândia – braço, antebraço e punho ................................................. 53 Figura 29 – Ergolândia – pega ................................................................................. 54 Figura 30 – Ergolândia – atividade ........................................................................... 54 Figura 31 – Fluxograma ........................................................................................... 59 Figura 32 – Localização da obra .............................................................................. 60 Figura 33 – Pedreiro – Rebocar paredes baixas ...................................................... 65 Figura 34 – REBA – Rebocar paredes baixas .......................................................... 66 Figura 35 – Pedreiro – Rebocar paredes altas ......................................................... 67 Figura 36 – REBA – Rebocar paredes altas ............................................................. 68 Figura 37 – Pedreiro – Assentar tijolos .................................................................... 69 Figura 38 – REBA – Assentar tijolos ........................................................................ 70 Figura 39 – Pedreiro – Concretagem através de caminhão-bomba.......................... 72 Figura 40 – REBA – Concretagem através de caminhão-bomba ............................. 73 Figura 41 – Pedreiro – Sarrafeamento do concreto .................................................. 74 Figura 42 – REBA – Sarrafeamento do concreto ..................................................... 76 Figura 43 – Pedreiro – Colocação de azulejos ......................................................... 77 Figura 44 – REBA – Colocação de azulejos ............................................................. 78 Figura 45 – Pedreiro – Colocação de piso laminado ................................................ 79 Figura 46 – REBA – Colocação de piso laminado .................................................... 80 Figura 47 – Servente – Carregar tijolos .................................................................... 82 Figura 48 – Servente – Descarregar tijolos .............................................................. 82 Figura 49 – REBA – Carregar e descarregar tijolos ................................................. 83 Figura 50 – Servente – Transportar tijolos ............................................................... 84 Figura 51 – REBA – Transportar tijolos .................................................................... 85 Figura 52 – Eletricista / Encanador – Romper parede para passagem de tubulação 87 Figura 53 – REBA – Romper parede para passagem de tubulação sanitária/pluvial 88 Figura 54 – Eletricista / Encanador – Abrir canaletas com auxílio de martelete rompedor ................................................................................................................. 89 Figura 55 – REBA – Abrir canaletas com auxílio de martelete rompedor ................. 90 Figura 56 – Gesseiro – Colocação dos apoios das placas de gesso na laje ............ 92 Figura 57 – REBA – Colocação dos apoios das placas de gesso na laje ................. 93 Figura 58 – Gesseiro – Colocação das placas de gesso nos apoios ........................ 94 Figura 59 – REBA – Colocação das placas de gesso nos apoios ............................ 95 Figura 60 – Carpinteiro – Montar formas de madeira ............................................... 97 Figura 61 – REBA – Montar formas de madeira ....................................................... 98 Figura 62 – Ferreiro – Amarrar ferros ..................................................................... 100 Figura 63 – REBA – Amarrar ferros ....................................................................... 101 Figura 64 – Pintor – Fazer acabamentos com pincel ............................................. 103 Figura 65 – REBA – Fazer acabamentos com pincel ............................................. 104 LISTA DE TABELAS Tabela 01 – Pontuação do Grupo A ......................................................................... 48 Tabela 02 – Pontuação do Grupo B ......................................................................... 48 Tabela 03 – Pontuação do Grupo C ......................................................................... 49 Tabela 04 – Resultado do Software Ergolândia ....................................................... 55 Tabela 05 – Riscos ergonômicos por função ........................................................... 62 Tabela 06 – Resumo das Avaliações ..................................................................... 106 LISTA DE ABREVIATURAS ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas AET Análise Ergonômica do Trabalho NBR Norma Brasileira NR Norma Regulamentadora REBA Rapid Entire Body Assesment UNIVATES Universidade do Vale do Taquari 11 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 14 1.1 Definição do objeto de estudo ........................................................................ 15 1.2 Delimitação do problema ................................................................................. 15 1.3 Objetivos ........................................................................................................... 15 1.3.1 Objetivo geral ................................................................................................ 15 1.3.2 Objetivos específicos ................................................................................... 16 1.4 Justificativa ...................................................................................................... 16 1.5 Estrutura ........................................................................................................... 17 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................ 19 2.1 Acidente de Trabalho ....................................................................................... 19 2.1.1 Doenças Ocupacionais ................................................................................. 21 2.2 Legislação ........................................................................................................ 22 2.3 Construção Civil ............................................................................................... 23 2.3.1 História........................................................................................................... 23 2.3.2 Atual cenário ................................................................................................. 24 2.3.3 Perfil do operário da construção ................................................................. 25 2.3.4 Processos construtivos ................................................................................ 26 2.3.4.1 Locação da obra ......................................................................................... 26 2.3.4.2 Fundações .................................................................................................. 27 2.3.4.3 Formas de madeira para estruturas de concreto armado ....................... 30 2.3.4.4 Alvenaria ..................................................................................................... 32 12 2.3.4.5 Instalações Hidrossanitárias ..................................................................... 33 2.3.4.6 Instalações Elétricas .................................................................................. 33 2.3.4.7 Acabamento ................................................................................................ 34 2.3.4.8 Revestimentos ............................................................................................ 37 2.3.4.9 Pintura ......................................................................................................... 38 2.4 Ergonomia ........................................................................................................ 39 2.4.1 Análise Ergonômica do Trabalho - AET ...................................................... 39 2.4.2 Método REBA (Rapid Entire Body Assesment) .......................................... 41 2.4.3 Software Ergolândia ...................................................................................... 51 2.5 Ergonomia e a Construção civil ...................................................................... 55 2.5.1 Prevenção ...................................................................................................... 55 2.5.1.1 Ginástica Laboral ....................................................................................... 57 2.5.1.2 Escola de Posturas .................................................................................... 57 3 METODOLOGIA ................................................................................................... 58 3.1 Classificação da pesquisa ............................................................................... 58 3.1.1 Caracterização da obra ................................................................................. 59 3.1.2 Classificação dos trabalhadores.................................................................. 61 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................ 62 4.1 Riscos ergonômicos ........................................................................................ 62 4.2 Pedreiro ............................................................................................................ 65 4.2.1 Tarefa 1 – Rebocar paredes baixas .............................................................. 65 4.2.2 Tarefa 2 – Rebocar paredes altas................................................................. 67 4.2.3 Tarefa 3 – Assentar tijolos ............................................................................ 69 4.2.4 Tarefa 4 – Concretagem através de caminhão-bomba ............................... 71 4.2.5 Tarefa 5 – Sarrafeamento do concreto ........................................................ 74 4.2.6 Tarefa 6 – Colocação de azulejos ................................................................ 77 4.2.7 Tarefa 7 – Colocação de piso laminado ....................................................... 79 4.3 Servente ............................................................................................................ 81 4.3.1 Tarefa 1 – Carregar e descarregar tijolos .................................................... 81 4.3.2 Tarefa 2 – Transportar tijolos ....................................................................... 84 13 4.4 Eletricista / Encanador ..................................................................................... 86 4.4.1 Tarefa 1 – Romper parede para passagem de tubulação ........................... 86 4.4.2 Tarefa 2 – Abrir canaletas com auxílio de martelete rompedor ................. 89 4.5 Gesseiro............................................................................................................ 91 4.5.1 Tarefa 1 – Colocação dos apoios das placas de gesso na laje ................. 92 4.5.2 Tarefa 2 – Colocação das placas de gesso nos apoios ............................. 94 4.6 Carpinteiro ........................................................................................................ 96 4.6.1 Tarefa 1 – Montar formas de madeira .......................................................... 96 4.7 Ferreiro ............................................................................................................. 99 4.7.1 Tarefa 1 – Amarrar ferros............................................................................ 100 4.8 Pintor .............................................................................................................. 102 4.8.1 Tarefa 1 – Fazer acabamentos com pincel ................................................ 102 4.9 Resumo das avaliações ................................................................................. 105 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 113 5.1 Conclusões ..................................................................................................... 113 5.2 Sugestões para trabalhos futuros ................................................................ 114 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 116 ANEXOS ................................................................................................................ 125 14 1 INTRODUÇÃO No mundo todo tem-se observado, principalmente na indústria da construção civil, que novos métodos, controles e planejamentos inseridos na execução das obras, não acompanham o ritmo, por exemplo, de teorias aplicadas a projetos ou tecnologias inseridas em outros setores da indústria (GEHBAUER, 2002). Gehbauer (2002) reforça ainda que, a integração entre projeto e execução está longe do ideal, sendo assim, no que diz respeito ao planejamento de uma obra, há um grande potencial de melhoria nos processos. Para Ferreira (2001), a questão ergonômica passou a ser um ponto de preocupação para construtoras a partir do momento em que se começou a relacioná-la com os afastamentos de seus funcionários, pois é de conhecimento geral que os postos de trabalho da construção civil impõem ritmos repetitivos, emprego de força, posturas inadequadas, entre outros riscos potenciais. Com os passar dos anos, houve um aperfeiçoamento da legislação que trata dessa questão, inclusive percebeu-se um avanço na atuação dos sindicatos e do Ministério Público em fiscalizar estes postos de trabalho. Para Ferreira (2001), as informações relacionadas à ergonomia e construção civil são dispersas em uma enormidade de publicações, devido ao fato da construção civil ser uma área de estudo muito ampla e diversificada, dificultando a adequação das empresas a esse novo momento e a termos uma visão dos problemas como um todo. Nesse contexto, este trabalho tem como finalidade colaborar para que essas informações sejam mais difundidas e aplicáveis ao setor, abordando as mais 15 diversas etapas de uma obra da construção civil afim de estampar os problemas vivenciados pelos trabalhadores do setor e levar estudantes, profissionais e empresas relacionadas, a compreenderem melhor a situação atual e o que podemos fazer para melhor a qualidade de vida de tantos trabalhadores que atuam dentro de um canteiro de obras. Na sequência, serão apresentados itens como o objeto de estudo, delimitação do tema, objetivos gerais e específicos, justificativa do presente estudo e a estrutura geral do trabalho 1.1 Definição do objeto de estudo Riscos ergonômicos a que estão sujeitos os operários da construção civil (pedreiros, serventes, carpinteiros, ferreiros, eletricistas, encanadores, gesseiros e pintores) de uma obra de pequeno porte na cidade de São Valentim do Sul, Rio Grande do Sul. 1.2 Delimitação do problema Quais as atividades, na construção de uma obra de pequeno porte na cidade de São Valentim do Sul, Rio Grande do Sul, apresentam riscos ergonômicos aos trabalhadores? Por consequência, quais as intervenções necessárias para reduzir os riscos laborais e a integridade física destes? 1.3 Objetivos 1.3.1 Objetivo geral O estudo tem como principal objetivo analisar os riscos ergonômicos a que estão sujeitos os operários da construção civil e com isso, levantar uma preocupação quanto à saúde ocupacional dentro do setor, propondo intervenções em vista de uma melhora ergonômica nas atividades relacionadas. 16 1.3.2 Objetivos específicos a) Identificar através de pesquisa bibliográfica, os riscos ergonômicos associados à construção civil; b) Identificar, através de pesquisa in loco, os riscos ergonômicos observados durante a realização das tarefas no posto de trabalho; c) Aplicar a metodologia REBA nas atividades identificadas como de maior impacto ergonômico no trabalhadores, afim de identificar o risco e a necessidade de intervenção; d) Avaliar a forma como os operários trabalham, demonstrando os riscos que estes profissionais estão submetidos e a relação com possíveis doenças ocupacionais; e) Propor intervenções pontuais para minimizar riscos laborais e a integridade física do trabalhador, aumentando sua qualidade de vida; 1.4 Justificativa Conforme Silva (2014), o ramo da construção civil é destaque em afastamentos e acidentes de trabalho no Brasil, pois trata-se de um trabalho árduo e de intenso esforço físico. Reforça ainda, que a ergonomia deve ser um fator de preocupação, pois através de boas práticas podemos minimizar riscos laborais e proteger a integridade física dos trabalhadores do setor. Segundo o MPT (Ministério Público do Trabalho, 2018), num intervalo de tempo de apenas cinco anos, entre 2012 a 2017, a construção civil apresentou uma taxa de afastamentos de 2,4% do total de ocorrências no país, o que corresponde a 7,5 milhões de dias de trabalho perdidos. Já o Observatório Digital de Saúde e Segurança do Trabalho (2018) mostra números ainda maiores, onde os afastamentos envolvendo exclusivamente a construção de edifícios atingem a marca de 49.294 casos, representando 3,30% do total no mesmo período. 17 Ainda segundo o MPT (2018), trabalhadores com menor remuneração são os que mais apresentam lesões incapacitantes, e autores como Medeiros (2013) e Cantisiani e Castelo (2015) destacam que a baixa remuneração é um dos diversos problemas que acometem o trabalhador da construção, apresentando rendimentos médios entre 9 e 10% inferiores aos demais trabalhadores brasileiros. Reforçando, dados do IBGE (2016) mostram que a indústria da construção apresentou a maior queda no salário dos trabalhadores, girando em torno de 10% de 2015 para 2016, o que agrava ainda mais a situação. No que tange à pesquisas publicadas na área da ergonomia e construção civil, podemos citar estudos como os de Nóbrega, Cartaxo e Mesquita (1997), Michaloski, Xavier e Saad (2006), Alcântara (2009), Onuka (2011), Medeiros (2013), Borba e Soares (2013), Silva (2014) e Netto (2015), o que as torna importantes para o aumento da qualidade de vida do trabalhador, porém ainda há muita carência de material nessa área de conhecimento. Busca-se portanto, através desse estudo, uma forma de demonstrar os perigos associados à atividade, a forma como o operário trabalha e se submete a riscos por ele não identificados e que são costumeiros. Espera-se também retorno positivo à empregadora por consequência da melhoria da qualidade de vida de seus funcionários. Fatores estes, que conforme citado anteriormente, colocam a informação ao alcance de quem realmente precisa e que também contribuem para a viabilização do estudo. 1.5 Estrutura O presente trabalho é composto por 5 capítulos discriminados a seguir. Capítulo 1 – Engloba a apresentação do trabalho, contendo a introdução, o objeto de estudo, a delimitação, os objetivos gerais e específicos e a justificativa da escolha do tema, visando um breve apanhado do conteúdo trabalhado. 18 Capítulo 2 – Este capítulo é composto pelo referencial teórico, o qual fornece o embasamento necessário para o andamento do trabalho, contendo abordagens sobre acidentes de trabalho, legislação pertinente, a indústria da construção civil e seu atual cenário, a ergonomia e a NR 17, metodologias de análise ergonômica e o vínculo entre a ergonomia e a construção civil contendo os pontos de conflito e formas de intervenção. Capítulo 3 - Apresenta a metodologia de elaboração da pesquisa, incluindo sua classificação e o planejamento utilizado. Capítulo 4 - Mostra os resultados obtidos juntamente com a discussão e análise destes, a fim de atender os objetivos traçados. Capítulo 5 - Por fim, o último capítulo apresenta as considerações finais deste estudo, destacando-se as conclusões obtidas e as sugestões para trabalhos complementares. . 19 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Sabendo-se que o presente estudo busca avaliar riscos e adequar as práticas incorretas visando um maior bem-estar ao trabalhador da construção, deve-se seguir diretivas presentes em Normas Regulamentadoras para a correta fundamentação teórica e legal da pesquisa. Com isso, o estudo baseia-se principalmente na NR 17 (Norma Regulamentadora 17) que se refere à ergonomia, a qual estabelece parâmetros que possibilitem a adequação das condições e do ambiente de trabalho, garantindo além de tudo, saúde e segurança do trabalhador juntamente com a eficácia do processo. 2.1 Acidente de Trabalho Conforme Vieira (2010), a indústria da construção civil gira em torno de investimentos que possibilitem a produtividade esperada, porém, tal produtividade só acontece com o envolvimento do trabalhador. Para isso, é de suma importância cuidarmos da saúde e segurança desse trabalhador, o qual impacta diretamente em perdas e qualidade de produção no setor (NETTO, 2015). Wachowicz (2013), destaca que a ergonomia, independente da situação, visa sempre adaptar o trabalho ao homem e para tal, a NR 17 (Norma Regulamentadora 17) estabelece que as condições de trabalho levem em consideração as características psicofisiológicas dos operários juntamente com a natureza da obra executada, tais condições incluem manuseio de materiais, utilização de 20 equipamentos, condições ambientais e a própria organização das tarefas. Ou seja, cabe à chefia e aos profissionais habilitados, adequar o volume de trabalho físico/mental que o operário poderá realizar a fim de protege-lo de acidentes e doenças ocupacionais (WACHOWICZ, 2013). Sabe-se que o setor da construção civil, em se tratando de acidentes de trabalho, apresenta taxas significativas conforme dados do MPT (2018) e Observatório Digital de Saúde e Segurança do Trabalho (2018) apresentados no capítulo 2.4 deste trabalho. Devem-se principalmente, ao fato de o trabalhador coexistir com os mais diversos riscos, associados ao grande número de tarefas executadas e as deficiências ergonômicas encontrada dentro de um canteiro de obra (CASTRO, 2001; NETTO, 2015). Vieira (2010) destaca o elevado custo que os afastamentos decorrentes de acidentes de trabalho no brasil geram e, conforme dados do Observatório Digital de Saúde e Segurança do Trabalho (2018), percebemos que o custo previdenciário de 2012 até a data da presente pesquisa gira em torno de 27 bilhões de reais somados a 315 milhões de dias de trabalho perdidos, comprovando o impacto negativo na economia do país. Destaca-se que os números considerados são apenas do trabalho formal, onde muito ainda se omite atualmente. A Lei 8.213/91 (Plano de Benefícios da Previdência Social), em seu artigo 19, define acidente de trabalho como da seguinte forma: Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do artigo 11 desta lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, ou a perda ou redução permanente ou temporária da capacidade para o trabalho. A mesma Lei 8.213/91 em seu artigo 20, mostra que as doenças ocupacionais têm equiparação ao acidente de trabalho, e segundo o artigo 118 geram os mesmos benefícios e direitos. 21 2.1.1 Doenças Ocupacionais Conforme a Lei 8.213/91 e a NBR 14280/2001, doenças ocupacionais dividem-se em doenças profissionais, sendo aquelas adquiridas em função do exercício de determinado trabalho, e doenças do trabalho, aquelas desencadeadas por condições especiais do trabalho, como exercício repetitivo de atividade laboral que provoque lesão. Tais doenças, segundo Alcântara (2009), não estão ligadas a apenas um setor da economia, sendo adquiridas pelas tarefas diárias a que somos submetidos. Reforça que, devido a construção civil fazer parte deste cenário, acaba produzindo as mais diversas doenças advindas de movimentos repetitivos, esforços físicos intensos ou bruscos e posturas inadequadas ou instáveis. Dentre as principais doenças que acometem o trabalhador, faz-se destaque para a LER (Lesões por Esforços Repetitivos) e a DORT (Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho), sendo atualmente as mais conhecidas e que atingem principalmente a coluna vertebral e os membros superiores (JUNIOR, 2005). Conforme Netto (2015) apud Guimarães (2009), a LER e a DORT são decorrentes de diversas atividades praticadas pelo trabalhador, as quais manifestam-se em músculos, articulações, tendões, ligamentos, nervos e vasos e, a dor provocada por tais lesões, são as causas principais dos afastamentos devido a incapacidade laborativa gerada por ela. Netto (2015) destaca ainda, que o trabalhador da construção civil é normalmente acometido por problemas osteomusculares que atingem principalmente a região lombar, concordando com o que diz Junior (2005). Em contrapartida, um estudo realizado em Santa Maria/RS por Diesel, Fleig e Godoy (2001), mostrado na Figura 1, destaca que as principais lesões envolvem contusões, entorses e ferimentos perfurantes, seguidos de tendinites. Inúmeras tarefas dentro do canteiro de obras, somadas, agravam o aparecimento de tais problemas, o que 22 nos leva a perceber problemas no ambiente e na organização do trabalho (MICHALOSKI, XAVIER E SAAD, 2006). Figura 1 – Lesões dos trabalhadores da construção civil Fonte: adaptado de Diesel, Fleig e Godoy (2001) 2.2 Legislação A legislação trabalhista no Brasil teve seu início a partir da revolução constitucionalista de 1932 que exigia normatização de legislações e também do processo eleitoral. Tal revolução culminou na Constituição de 1934, considerada a primeira lei trabalhista brasileira, a qual segundo Vieira (2010), instituiu uma legislação um tanto quanto ampla no que se refere à acidentes de trabalho. 23 Em 1972, conforme Bitencourt e Quelhas (1998), o Governo Federal, através da Portaria 3.237, tornou obrigatório os serviços de segurança do trabalho nas empresas. Em 1978, através da Portaria 3.214, foram criadas as primeiras 28 Normas Regulamentadoras do trabalho as quais hoje, pertencem a um total de 36 normas e seus respectivos anexos (BITENCOURT E QUELHAS, 1998; PEREIRA, 2001). Dentre as 36 normas, encontra-se a NR 17 que trata de Ergonomia, a qual conforme citado no capítulo 2.1 deste trabalho, estabelece parâmetros para adequar o trabalho ao homem, visando maior conforto, segurança e desempenho. A primeira redação da NR 17 foi em 1990 através da Portaria 3.751 e em 2007 sofreu uma revisão que à complementou com mais dois anexos nas áreas de Checkout e Telemarketing. Bitencourt e Quelhas (1998) destacam que as Normas Regulamentadoras, como a NR 17, já descrevem procedimentos necessários para combater as chamadas “doenças modernas”, dentre elas LER e DORT mencionadas no capítulo 2.1.1 deste trabalho, e que possuem relação direta com as tarefas que exigem esforço físico e a incorreta organização do trabalho, como a construção civil. 2.3 Construção Civil 2.3.1 História Conforme Bazzo e Pereira (2006), a construção civil começou efetivamente no Brasil, com as primeiras casas construídas pelos colonizadores, seguidas por muros e fortins para a defesa do território. O autor ainda destaca que a construção civil permaneceu por muito tempo estagnada no país durante o período conhecido pela escravidão, devido a utilização de mão de obra barata e pouco interesse da monarquia na instalação de indústrias. Santos (2010) reforça que a construção civil começou efetivamente no Brasil entre os séculos XIX e XX, com mais de 400 anos de construções utilizando as técnicas de taipa de mão e taipa de pilão (socada) utilizando a mão de obra escrava da época. Ainda conforme Santos (2010), o auge da construção no país só foi 24 atingido nos anos 40 sob o comando do presidente Getúlio Vargas, devido ao Brasil dominar a tecnologia do concreto armado que vem sendo utilizada até hoje. Durante o regime militar na década de 70, Santos (2010) destaca o intenso investimento no setor para disponibilizar moradia a todos os necessitados, neste ponto iniciou-se a construção de prédios e infraestrutura como viadutos, metrôs e saneamento básico. Já nos anos 2000, Vieira (2006) relata o aparecimento da preocupação das construtoras com a qualidade final do produto, diretamente ligada à aspectos econômicos, sociais e ambientais. Tal preocupação resultou em maior qualificação da mão de obra, através de treinamentos e maior organização. 2.3.2 Atual cenário Conforme Vieira (2006), o setor da construção civil é de extrema importância para a economia brasileira. Em concordância a isso, dados divulgados pela CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) mostram que o setor entre os anos 2000 e 2017 representou um percentual médio de 5,6% no PIB total do país. De acordo com os dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), no último trimestre de 2017, a indústria da construção civil apresentou crescimento de 1%, o melhor dentre todos os setores da indústria. Além disso, dados do IPEA mostram que referente aos postos de trabalho na indústria de transformação, a construção civil equivale a 40% do total da mão de obra empregada. Já a Pesquisa Anual da Indústria da Construção (2005) realizada pelo IBGE, sinaliza mais de 100.000 empresas de construção civil com aproximadamente 1.600.000 trabalhadores, sendo que 73% desta empresas estão voltadas ao segmento de edificações. Sendo este segmento o que mais emprega na indústria da construção civil, é nele que o presente trabalho direciona seu maior foco, destacando a ergonomia como forma de qualificação do profissional. Nesse sentido, a NBR ISO 9000, define 25 qualificação como o grau no qual certo conjunto satisfaz a requisitos inerentes ao objetivo, ou seja, podemos inferir que a inserção dos preceitos ergonômicos na construção civil também é uma forma de qualificação do operário. Sendo assim, conforme Franco (1999), desempenho e produtividade estão diretamente ligados a qualidade de vida do profissional. 2.3.3 Perfil do operário da construção Conforme Dal Bello (2015), a indústria da construção civil tem um caráter provisório e de certa forma nômade. Complementando, Meseguer (1991) nos mostra que a mecanização na construção civil ainda é muito pequena, fazendo com que exista um uso acentuado de mão de obra. Cardoso (2013) destaca que a indústria da construção apresenta tantas peculiaridades que acaba tornando o setor um tanto quanto diferente dos demais setores da indústria nacional. Concordando com Dal Bello (2015), afirma que a transitoriedade e o processo por etapas do projeto são particulares ao setor, porém, destaca que tais fatores não são levados em consideração na área trabalhista. Para entender um pouco do perfil do trabalhador da construção, temos estudos como o de Barbosa e Lima (2007) que nos mostram a baixa escolaridade dos trabalhadores do setor, sendo 33% com primeiro grau incompleto, e que 12% do total do trabalhadores concentra-se na função de pedreiro. Outro estudo de Cantisani e Castelo (2015) reafirmam o baixo grau de instrução no setor, destacando que a média de anos de estudo dos trabalhadores é 2 anos inferior à média nacional dos trabalhadores. Em contrapartida a isso, um estudo realizado por Garcia e Dias (2011) demonstra aumento da escolaridade dos trabalhadores da construção e que a mão de obra envelheceu cerca de quatro anos. Cantisani e Castelo (2015) reforçam Garcia e Dias (2011) no que diz respeito ao envelhecimento da mão de obra do setor, mas destacam que tal fator segue de mãos dadas com o aumento do número de trabalhadores com carteira assinada, alcançando 3,2 milhões em 2013. Porém, ao autores alertam para o grande número de trabalhadores informais, representando 26 o maior grupo dentro do setor, com 3,6 milhões dos 8,5 milhões de trabalhadores da construção. Com isso, Cordeiro e Machado (2002) reforçam a necessidade de investimento no setor, no que diz respeito ao treinamento e capacitação dos trabalhadores, os quais estão intimamente ligados ao resultado final do produto, trazendo além de maior qualidade, maior segurança e um menor número de acidentes. 2.3.4 Processos construtivos O processo produtivo da construção civil, segundo Nóbrega, Cartaxo e Mesquita (1997), é bastante diversificado, envolvendo diversas etapas, das quais pode-se destacar locação da obra, fundações, estrutura, alvenaria de fechamento, instalações e reboco ou revestimento. No estudo realizado por Santiago (2008), mesmo com toda a tecnologia inserida no setor, fica evidente que ainda existe muita utilização de processos construtivos inteiramente artesanais em todas as etapas mencionadas por Nóbrega, Cartaxo e Mesquita (1997), realizados de forma improvisada conforme a cultura do local, a qual é passada de pai para filho. No capítulo atual, serão descritos alguns dos principais processos construtivos em obras de pequeno porte, como a tratada neste trabalho, são eles: 2.3.4.1 Locação da obra Conforme Calçada (2014), a locação da obra é parte dos serviços iniciais de uma construção, sendo considerada por muitos a mais importante, pois é a partir dela que temos a certeza que as medidas de projeto irão ser atendidas no decorrer da execução. Calçada (2014) descreve as etapas de execução de um gabarito de locação como sendo: 27 Crava-se pontaletes de pinho no solo a uma profundidade de 50cm, com uma distância de 1,50m entre eles; Nos pontaletes, são fixadas tábuas de 20cm em todo entorno da obra, ficando normalmente a 1,00m do chão; Nas tábuas, são colocados pregos representando os eixos da edificação, conforme o projeto; Nos pregos, são fixadas linhas interligadas a face oposta de mesmo eixo, estas linhas representam os eixos de projeto e são através delas que distâncias e prumos são verificados; Para um melhor entendimento, a Figura 2 a seguir nos mostra um gabarito montado com todos os itens acima listados. Figura 2 – Gabarito de locação Fonte: Paz (2015) 2.3.4.2 Fundações Conforme Gehbauer (2002), as fundações podem sem classificadas em duas grandes classes, as fundações rasas e as profundas. Ainda segundo o autor, estas 28 classes podem se dividir em fundações diretas ou indiretas, sendo que as diretas descarregam o peso diretamente no solo (fundações rasas) e as indiretas normalmente associam-se a estacas, a qual utiliza atrito lateral e resistência de ponta para descarregar o peso suportado (fundações profundas). Neste trabalho, será enquadrada apenas as fundações rasas ou superficiais, especificamente sapatas, as quais normalmente são encontradas em obras de pequeno porte onde a carga atuante da estrutura é pequena. Vallejos (2013) descreve alguns procedimentos importantes na execução de fundações diretas por sapatas, sendo eles: Escavação da vala para instalação da sapata, altura mínima de 70cm, devendo atingir solo resistente ou que suporte a carga de projeto; Compactação da vala e regularização de nível e taludes, adicionando uma camada de brita no fundo; Molhar a vala para o solo não “roubar” a água do concreto durante a execução; Execução de camada de 5cm de concreto simples para apoio da sapata; Execução das formas da sapata, normalmente executadas somente nas laterais, ficando a sapata com formato de bloco; Colocação da armadura da sapata; Colocação da armadura de arranque do pilar; Concretagem da sapata; Como pode-se ver, existe uma diversidade grande de tarefas durante a execução de uma fundação, sendo importante destacar os riscos associados, os quais segundo Vallejos (2013), dividem-se em riscos de acidentes e riscos à saúde, conforme segue: 29 Riscos de acidentes: soterramento e queda de pessoas e materiais; Riscos à saúde: exposição a luz solar, poeiras, químicos e água ou solo contaminado; Tendo em vista os riscos, podemos associá-los a alguns danos conhecidos como, no caso dos acidentes, traumatismos, ferimentos e contusões, e no caso dos riscos à saúde, fadiga, desidratação, câncer e problemas respiratórios (VALLEJOS, 2013). A Figura 3 a seguir, mostra a execução de fundação direta por sapata. Figura 3 – Execução de sapata Fonte: do Autor (2019) 30 2.3.4.3 Formas de madeira para estruturas de concreto armado Formas de madeira são elementos transitórios dentro de um canteiro, normalmente reutilizáveis. Servem apenas para dar forma e suporte a elementos de concreto armado até que sua cura seja alcançada ao ponto de retirar as formas sem danificar a estrutura (UEPG, 2014). Calçada (2014), mostra que primeiramente marcações de madeira são fixadas na laje ou nas sapatas, para o correto encaixe das formas, as quais são previamente montadas por marceneiro qualificado dentro do canteiro. Após o painel é colocado dentro das marcações previamente fixadas deixando uma face aberta para a inserção da armadura, após isso o painel é fechado, nivelado e aprumado, com fixações e contraventamentos, garantindo a correta concretagem do elemento. A Figura 4 a seguir, mostra a execução das formas de um pilar, com os elementos mencionados. Figura 4 – Formas de madeira para pilares Fonte: do Autor (2019) 31 Calçada (2014) ainda faz destaque para as formas de vigas a lajes, porém ambas dependem dos pilares concretados para a correta fixação das mesmas, com a inclusão de escoras de madeira ou metálicas no meio dos vãos para a correta sustentação, impedindo deformações inesperadas. A Figura 5 mostra a execução de formas de madeira para vigas, nesse caso vigas de baldrame apoiadas no solo, sem a necessidade de escoras adicionais. Figura 5 – Formas de madeira para vigas Fonte: do Autor (2019) O processo é extremamente artesanal, com o recorte das tábuas feita in loco, conforme necessidade. Problemas também podem ocorrer devido à falta de pregos para fixação das tábuas, ou falta de gravatas de travamento da parte superior, ocasionando a abertura das tábuas e o embarrigamento lateral da viga. Calçada (2014) faz duras críticas ao sistema artesanal adotado na grande maioria das obras de pequeno porte frente a alta tecnologia empregada na construção civil atualmente, relacionando isso a resistência cultural que existe no nosso país. 32 2.3.4.4 Alvenaria Valle (2008) define alvenaria como um elemento com propriedades únicas capaz de constituir elementos estruturais ou de vedação. Obras de pequeno porte normalmente utilizam estruturas de concreto juntamente com alvenaria portante, ou seja, a própria alvenaria tem função estrutural de suportar elementos sobre ela. Dentre os processos necessários para a execução de uma parede de alvenaria, temos primeiramente a execução da primeira fiada, ou seja, a marcação da primeira linha de tijolos com as devidas medidas e alinhamentos respeitados. Calçada (2014) destaca que tal processo deve ser feito por profissional qualificado pois irá acarretar no correta esquadro da obra. Posteriormente, Calçada (2014) mostra que o assentamento das fiadas seguintes é feito com argamassa, porém faz destaque para que os blocos utilizados sejam colocados de tal forma que uma fiada não fique alinhada com a fiada seguinte superior, conforme Figura 6 a seguir. Figura 6 – Execução de alvenaria Fonte: Campos (2019) É importante destacar que a partir do momento que a alvenaria chegar a uma altura tal que seja necessário o uso de andaimes, escadas ou banquetas, é necessário a adequação destes, conforme a NR-18. 33 2.3.4.5 Instalações Hidrossanitárias Temos por instalação hidrossanitária, dentro de uma residência, a tubulação que conduz tanto o esgoto como a água potável e pluvial. O processo de execução consiste em deixar esperas de tubulação na estrutura ou então romper a alvenaria existente para o encaixe de canos e mangotes. Em reforço ao citado, Calçada (2014) destaca que o processo de execução de instalações hidrossanitárias sofre grande interferência de outros sistemas, como alvenaria, ar condicionado, instalações elétricas e até a própria estrutura, resultando em um quebra-quebra desnecessário dentro do canteiro. Outro ponto de conflito é a execução em desconformidade ao projeto, resultando em retrabalho e mais tempo desperdiçado. Os processos necessários para a execução de instalações sanitárias e hidráulicas são basicamente os seguintes: Deixar esperas de tubulação dentro da estrutura a ser concretada ou alvenaria a ser assentada; Fazer a colagem das conexões, evitando vazamentos; Romper alvenaria para a instalação da tubulação hidráulica; Correta fixação dos elementos, com argamassa ou arames, este último devendo ser retirado ao final da obra, pois pode sofrer corrosão e danificar a tubulação; Ligação das tubulações hidráulicas ao registro de passeio e das tubulações sanitárias ao sistema de fossa-filtro e por fim sumidouro, ou rede de esgoto existente no logradouro. 2.3.4.6 Instalações Elétricas É uma etapa da obra que necessita de mão-de-obra especializada, pois tanto os processos quantos os projetos são de maior complexidade se comparados a 34 outras etapas da obra. Porém, Calçada (2014) destaca a falta dessa mão-de- obra qualificada, onde construtoras detém apenas funcionários com experiência prática, o que pode acarretar em problemas futuros dentro de edificação. Quantos aos processos de execução, Calçada (2014) faz destaque aos seguintes: Esperas de tubulação seca dentro da estrutura; Passagem de eletrodutos na alvenaria, gerando rasgos na parede pronta, consequentemente ocasionando um grande desperdício de material; Esperas de caixas de interruptor, tomadas e centros de distribuição; Enfiação dos cabos através dos eletrodutos; Instalação de tomadas, interruptores e espelhos; Instalação de disjuntores junto ao centro de distribuição e ligação da rede junto a concessionária; Conforme a NR-10, toda equipe que trabalhe com instalação elétrica deve conter alguém treinado e em condições de supervisionar os trabalhos a serem executados, portanto é de bom grado que os processos sejam feitos por pelo menos dois trabalhadores ao mesmo tempo. Ainda conforme a NR-10, é necessário utilizar dispositivos de segurança em painéis e caixas, sendo recomendável o trabalho em rede desenergizada, que normalmente é o que acontece em obras desse porte. 2.3.4.7 Acabamento Após o levantamento das alvenarias e a conclusão dos serviços iniciais de instalações elétricas e hidrossanitárias, o processo de acabamento tem início, o qual 35 divide-se em chapisco, emboço e reboco. Estes processos, segundo Vallejos (2013), são conhecidos por revestimentos de argamassas. Conforme Gehbauer (2002), o chapisco antecede o emboço, sendo uma massa de cimento e areia lançada sobre a alvenaria, que para Vallejos (2013) tem a finalidade de proporcionar aderência sobre os elementos para receber a próxima camada. O chapisco pode ser lançado utilizando colher de pedreiro ou rolo de textura, sendo o primeiro o mais comum (GEHBAUER, 2002). Após a superfície chapiscada, inicia-se o emboço que serve como base preparatória de paredes e tetos para posteriormente receber o reboco ou algum outro revestimento. Para Vallejos (2013), o emboço tem a função de regularizar a superfície, deixando-a plana e aprumada, sendo uma camada de 2,5cm normalmente. Na execução dessa etapa, Gehbauer (2002) faz destaque para a preparação artesanal e sem controle de qualidade da argamassa utilizada, normalmente feita em betoneira ou até em caixas de madeira com utilização de enxadas para a mistura. Posteriormente ao emboço, executa-se o reboco que para Gehbauer (2002), tem função principal de preparar a superfície para receber pintura, já para Vallejos (2013) sua função é dar acabamento em emboço. Os materiais empregados na composição da massa são extremamente importantes, como cal fino e areia seca peneirada. O autor ainda faz destaque para a aplicação, quando se faz uso de desempenadeira de aço ou feltro e necessita-se de duas de mãos para um bom resultado (GEHBAUER, 2002). Na Figura 7, é apresentada uma ilustração das três etapas, chapisco, emboço e reboco, executadas sobre alvenaria de blocos de concreto. 36 Figura 7 – Chapisco, emboço e reboco Fonte: Vallejos (2013) Vallejos (2013) destaca que nem sempre o acabamento é composto das três etapas mencionadas (chapisco, emboço e reboco), porque quando o acabamento final for, por exemplo, por placas cerâmicas (conforme capítulo a seguir), executa-se apenas o chapisco e o emboço, sendo posteriormente executado o revestimento diretamente na superfície do emboço. Na Figura 8 a seguir, podemos ver uma residência com o processo de acabamento finalizado, tendo sido executado chapisco, emboço e reboco para receber pintura, como também chapisco e emboço para receber revestimento de pedra em seu volume central (já executado). Figura 8 – Execução de acabamento Fonte: do Autor (2018) 37 2.3.4.8 Revestimentos Os revestimentos cerâmicos previamente mencionados, segundo Vallejos (2013), são comumente utilizados em duas situações, conforme segue: Áreas molhadas: áreas de serviço, cozinhas e banheiros; Estética: fachadas ou volumes em destaque; Gehbauer (2002) destaca sua utilização em paredes e pisos, proporcionando ao local, condições adequadas de uso. Para sua execução, a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) fixa algumas normas que devemos ter como parâmetro, segue alguns exemplos: Revestimento de paredes externas e fachadas com placas cerâmicas – Procedimento. NBR 13755 / 1996. Revestimento de paredes internas e fachadas com placas cerâmicas – Procedimento. NBR 13754 / 1996. Execução de piso com revestimento cerâmico. NBR 9817 / 1987 Pisos para revestimento de pavimentos. NBR 6137 / 1980 Existem ainda os revestimentos com pedras, largamente utilizados para fins estéticos. Porém para Vallejos (2013), tais revestimentos tem funções importantes quando aplicados em elementos estruturais ou de vedação, como por exemplo, proteger o elemento do intemperismo além de proporcionar estanqueidade. Assim como outras etapas de uma obra, Vallejos (2013) mostra que a etapa de revestimentos também proporciona alguns riscos, sendo eles: Riscos de acidentes: projeção de partículas, choque elétrico, contato com ferramentas cortantes; Riscos à saúde: ruído, poeiras e químicos; Tendo em vista os riscos, podemos associá-los a alguns danos conhecidos como, no caso dos acidentes, lesões oculares, ferimentos, contusões e paradas 38 cardiorrespiratórias e no caso dos riscos à saúde, perda auditiva, problemas respiratórios e queimaduras químicas (VALLEJOS, 2013). 2.3.4.9 Pintura Segundo Gehbauer (2002), a pintura serve para proteger, colorir e facilitar a limpeza, e são aplicadas em duas etapas, a pintura base e a pintura com tinta. A primeira serve como base, proporcionando aderência e estanqueidade entre reboco e tinta, e a segunda é o acabamento final, gerando a estética esperada e a proteção da superfície, ambas podendo ser aplicadas com utilização de pincel ou rolo. O autor ainda faz destaque para a escolha correta da tinta a ser utilizada, pois para ambientes molhados, a tinta deve apresentar resistência a umidade e para áreas comuns, a tinta necessita apresentar resistência a choques e abrasão. Nóbrega, Cartaxo e Mesquita (1997) reiteram a importância da pintura ser bem executada, pois, reforçando que diz Gehbauer (2002), é responsável pelo acabamento final de paredes, esquadrais e forros, gerando a proteção da superfície dos elementos e habilitando a obra a ser entregue para seu uso fim. Na Figura 9 a seguir, é mostrado a mesma residência da Figura 8 do capítulo 2.3.4.7, porém com a pintura finalizada, proporcionando a ela, uma aspecto visual mais atraente e limpo. Figura 9 – Pintura Fonte: do Autor (2018) 39 2.4 Ergonomia O termo ergonomia vem do grego, sendo “ergon” referente ao trabalho e “nomos” referente a regras. Sendo assim, para Dul e Weerdmeester (2012) a ergonomia é a ciência que estuda adaptações e melhorias nos projetos, nas máquinas, nos equipamentos e nos processos, visando o bem-estar, a segurança, o conforto e a eficácia nas tarefas ou processos executados. Já para Couto (1995) e Iida (2005), a ergonomia basicamente é a adequação do trabalho ao homem, envolvendo o ambiente em que o trabalho é realizado e a organização implantada para que este seja executado com eficácia e segurança. Reforçando, Mali (2015) descreve a ergonomia como a ciência que busca uma harmonia entre a exigência das tarefas e a condição dos trabalhadores envolvidos, com isso proporcionando segurança tanto para o trabalhador quanto para a própria empresa. 2.4.1 Análise Ergonômica do Trabalho - AET Conforme Guimarães (2009), o primeiro passo da análise ergonômica recai sobre um estudo exploratório dos problemas entre o homem e o trabalho, sendo nessa fase a identificação das causas dos problemas a serem avaliados. Nesse sentido, Silva (2010) destaca que a aplicação de métodos de análise teve como consequência um grande avanço no diagnóstico prévio de problemas posturais dos trabalhadores, permitindo propor intervenções as quais buscam melhorias no ambiente de trabalho. Primeiramente, Ligeiro e Paschoarelli (2009) relatam que a AET (análise ergonômica do trabalho) era apenas realizada em trabalhos que continham atividades que desprendiam movimentos repetitivos. Seguidamente, o autor mostra que surgiram necessidades que fizeram com que a AET fosse aplicada em outros setores da indústria, surgindo assim adaptações referentes a diminuição da carga de trabalho, rodízio de tarefas, pausas, escola de posturas ou ginásticas laborais. 40 Sendo assim, é indispensável a utilização de métodos de análise ergonômica para se entender as características de cada atividade realizada, onde Borba e Soares (2013) destacam os principais: Método OWAS: Sistema de análise de postura de trabalho Ovako, do inglês Ovako Working Posture Analysis System; Método RULA: Avaliação rápida de membro superior, do inglês Rapid Upper Limb Assesment; Método REBA: Avaliação rápida do corpo inteiro, do inglês Rapid Entire Body Assesment; Método IS: Índice de deformação, do inglês Strain Index; Método OCRA: Ações repetitivas ocupacionais, do inglês Occupational Repetitive Action; Na execução deste trabalho, foi adotada a metodologia REBA, pois conforme os autores do método Sue Hignett e Lynn McAtmney (1999), este foi desenvolvido com base nos métodos RULA, OWAS e NIOSH para avaliar posturas imprevisíveis, se enquadrando no que acontece dentro do setor da construção civil, sendo baseado nas metodologias até então utilizadas. Ainda conforme os autores, seu diferencial é que permite avaliar posturas estáticas e dinâmicas, analisando as posturas adotadas em cada tarefa individualmente, as forças aplicadas, os tipos de movimentos, a atividade muscular, os movimentos repetitivos e a pega utilizada pelo trabalhador ao realizar sua atividade diária. Conforme Stall (2014), da mesma forma que o método RULA, o método REBA por tratar tanto de membros inferiores quanto superiores, orienta o avaliador sobre a necessidade de propor intervenções no que diz respeito às posturas adotadas, instrumentos utilizados, manuseio de cargas e organização do trabalho, baseadas na pontuação gerada pelo método. Portanto, pelo entendimento de ser um método completo para a devida aplicação e por ser baseado em metodologias consagradas, no decorrer deste 41 capítulo são apresentados comentários a respeito apenas do método REBA, incluindo o passo a passo de sua aplicação. 2.4.2 Método REBA (Rapid Entire Body Assesment) Conforme Almeida (2007), o método REBA, que em português significa avaliação rápida do corpo inteiro, foi proposto por Sue Hignett e Lynn McAtamney, sendo publicado na revista Applied Ergonomics, em 1999. Ainda segundo Almeida (2007), o método em questão é resultado de um extenso trabalho envolvendo os mais diversos profissionais, como ergonomistas, fisioterapeutas, enfermeiros e terapeutas, tendo sido feita a avaliação de mais de 600 posturas para sua elaboração. Trata-se de um método de análise postural, ferramenta útil para prevenir riscos e que é capaz de identificar condições de trabalho inadequadas (ALMEIDA, 2007). Para Pavani e Quelhas (2006), o método REBA é uma ferramenta para avaliar posturas forçadas adotadas em tarefas com qualquer carga animada, sendo similar ao método RULA, sendo a todos os membros do corpo e a trabalhos que envolvam movimentos repetitivos, sendo assim, uma ferramenta útil para avaliação geral, incluindo o setor da construção civil. No que tange a aplicação do método, o estudo original publicado por Hignett e McAtamney (1999), nos mostra a necessidade de informações prévias para sua utilização, sendo elas: Os ângulos formados pelos diferentes partes do corpo (tronco, pescoço, perna, braço, antebraço, pulso). Tais medidas podem ser feitas através de fotografias. A carga ou força utilizada pelo trabalhador, ou que seja de conhecimento prévio do observador. O tipo de aderência ou pega, das ferramentas ou materiais utilizados. 42 As características da atividade muscular do trabalhador (estático, dinâmico ou sujeitos a possíveis mudanças bruscas). Após, o método começa pela avaliação do Grupo A, o qual segundo Hignett e McAtamney (1999), engloba tronco, pescoço e pernas, começando pelo tronco conforme Figura 10 e 11 a seguir. Figura 10 – Posições do tronco Pontos Posição 1 O tronco é reto. 2 O tronco é entre 0 e 20 graus de flexão ou 0 e 20 graus de extensão. 3 O tronco é entre 20 e 60 graus de flexão ou mais de 20 graus de extensão. 4 O tronco é dobrado 60 graus. Fonte: adaptado de Hignett e McAtamney (1999) Tal pontuação do tronco pode variar devido a efeitos de torção ou flexão do tronco, conforme Figura 11. 43 Figura 11 – Flexão e torção do tronco Pontos Posição +1 Há torção ou flexão lateral do tronco. Fonte: adaptado de Hignett e McAtamney (1999) Após isso, a pontuação do pescoço deve ser avaliada, o método prevê duas posições de pescoço conforme a Figura 12. Figura 12 – Posições do pescoço Pontos Posição 1 O pescoço é entre 0 e 20 graus de flexão. 2 O pescoço é dobrado mais do que 20 graus ou estendida. Fonte: adaptado de Hignett e McAtamney (1999) 44 Assim como o tronco, a pontuação do pescoço pode ser acrescida se houver torção ou flexão lateral, conforme Figura 13. Figura 13 – Flexão e torção do pescoço Pontos Posição +1 Há torção e / ou flexão lateral do pescoço. Fonte: adaptado de Hignett e McAtamney (1999) Para finalizar a avaliação do Grupo A, deve-se avaliar as pernas com duas posições possíveis, conforme Figura 14. Figura 14 – Posição das pernas Pontos Posição 1 Bilateral, a pé ou sentado. 2 Posição unilateral, apoiado ou posição instável. Fonte: adaptado de Hignett e McAtamney (19999) 45 Para as perna, a pontuação pode aumentar devido a flexão de um ou dos dois joelhos, conforme a Figura 15. Figura 15 – Flexão dos joelhos Pontos Posição +1 Há uma dobra ou ambos os joelhos entre 30 e 60 °. 2 Não dobrar um ou ambos os joelhos acima de 60 ° (exceto postura sentada). Fonte: adaptado de Hignett e McAtamney (1999) A seguir, o método parte para a avaliação do Grupo B, o qual segundo Hignett e McAtamney (1999), engloba braço, antebraço e punho, começando pelo braço conforme Figura 16 e 17 a seguir. Figura 16 – Posição dos braços Pontos Posição 1 O braço é entre 0 e 20 graus de flexão ou 0 e 20 graus de extensão. 2 O braço é entre 21 e 45 graus de flexão ou mais de 20 graus de extensão. 3 O braço é entre 46 e 90 graus de flexão. 4 Braço é dobrado mais do que 90 graus. Fonte: adaptado de Hignett e McAtamney (1999) 46 No caso dos braços, a pontuação pode ser acrescida devido a abdução e elevação dos ombros, porém também pode ser atenuada devido ao apoio dos braços, conforme Figura 17 a seguir. Figura 17 – Abdução, elevação de ombro e apoio dos braços Pontos Posição +1 O braço é abduzido ou girado. +1 Ombro elevado -1 Braço apoiado. Fonte: adaptado de Hignett e McAtamney (1999) Posteriormente, deve-se fazer a avaliação do antebraço considerando seus ângulos de flexão, conforme Figura 18. Figura 18 – Posições do antebraço Pontos Posição 1 O antebraço é entre 60 e 100 graus de flexão. 2 O antebraço é flexionado abaixo de 60 graus ou acima de 100 graus. Fonte: adaptado de Hignett e McAtamney (1999) 47 Para finalizar a avaliação dos membros superiores, o que resta avaliar é o pulso, sendo novamente avaliado devido a dois quesitos de flexão, conforme Figura 19. Figura 19 – Posição dos pulsos Pontos Posição 1 O pulso é entre 0 e 15 graus de flexão ou extensão. 2 O pulso é flexionado ou estendido ao longo de 15 graus. Fonte: adaptado de Hignett e McAtamney (1999) Tal valor, pode ser acrescido devido a rotação do pulso ou desvio lateral, conforme Figura 20. Figura 20 – Rotação de desvio lateral dos pulsos Pontos Posição +1 Há torção ou desvio lateral do punho. Fonte: adaptado de Hignett e McAtamney (1999) Concluídas as avaliações dos Grupo A e B, Sue Hignett e Lynn McAtamney (1999) apresentam duas tabelas das quais obtemos a pontuação individual para cada grupo, conforme Tabelas 01 e 02. 48 Tabela 01 – Pontuação do Grupo A TABELA 01 Tronco Pescoço 1 2 3 Pernas Pernas Pernas 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 1 2 3 4 1 2 3 4 3 3 5 6 2 2 3 4 5 3 4 5 6 4 5 6 7 3 2 4 5 6 4 5 6 7 5 6 7 8 4 3 5 6 7 5 6 7 8 6 7 8 9 5 4 6 7 8 6 7 8 9 7 8 9 9 Fonte: adaptado de Hignett e McAtamney (1999) Tabela 02 – Pontuação do Grupo B QUADRO B Braço Antebraço 1 2 Pulso Pulso 1 2 3 1 2 3 1 1 2 2 1 2 3 2 1 2 3 2 3 4 3 3 4 5 4 5 5 4 4 5 5 5 6 7 5 6 7 8 7 8 8 6 7 8 8 8 9 9 Fonte: adaptado de Hignett e McAtamney (19999) A partir da pontuação dos Grupos A e B, é necessário a avaliação da carga ou força aplicada no trabalho, a qual se existir ou for aplicada de forma brusca, pode alterar a pontuação do Grupo A, como mostra a Figura 21. Figura 21 – Carga ou força Pontos Posição 0 A carga ou a força é inferior a 5 kg. +1 A carga ou força é entre 5 e 10 Kg. +2 A carga ou a força é maior do que 10 kg. +1 A força é aplicada bruscamente. Fonte: adaptado de Hignett e McAtamney (1999) 49 Para o Grupo B, o qualidade da pega ou aperto, considerando uma boa aderência, pode alterar sua pontuação conforme Figura 22. Figura 22 – Qualidade da pega Pontos Posição 0 Boa aderência. A aderência é boa possibilitando boa pressão. +1 Aperto regular. O aperto de mão é aceitável, mas não com aderência ideal. 2 Aperto pobre. O aperto é possível, mas não é aceitável. 3 Aperto inaceitável. A aderência é desajeitada e insegura, não é possível o aperto da mão. Fonte: adaptado de Hignett e McAtamney (1999) Com as pontuações dos Grupos A e B atualizadas, deve-se consultar a Tabela 03, a qual nos dará uma pontuação considerando ambos os grupos como um só, chamado de Grupo C. Tabela 03 – Pontuação do Grupo C TABELA C A pontuação Score B 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 1 1 1 2 3 3 4 5 6 7 7 7 2 1 2 2 3 4 4 5 6 6 7 7 8 3 2 3 3 3 4 5 6 7 7 8 8 8 4 3 4 4 4 5 6 7 8 8 9 9 9 5 4 4 4 5 6 7 8 8 9 9 9 9 6 6 6 6 7 8 8 9 9 10 10 10 10 7 7 7 7 8 9 9 9 10 10 11 11 11 8 8 8 8 9 10 10 10 10 10 11 11 11 9 9 9 9 10 10 10 11 11 11 12 12 12 10 10 10 10 11 11 11 11 12 12 12 12 12 11 11 11 11 11 12 12 12 12 12 12 12 12 12 12 12 12 12 12 12 12 12 12 12 12 12 Fonte: adaptado de Hignett e McAtamney (1999) 50 Com a pontuação do Grupo C, deve-se avaliar a atividade muscular, consultando a Figura 23 e com ela, pode haver acréscimo de até 3 pontos devido ao corpo permanecer estático, existir movimentos repetitivos e posturas instáveis. Figura 23 – Atividade muscular Pontos Atividade +1 Uma ou mais partes do corpo permanecem estáticos, por exemplo suportado por mais de 1 minuto. +1 Movimentos repetitivos, por exemplo repetido mais de 4 vezes por minuto (excluindo distâncias a pé). +1 Importantes mudanças ocorrem ou posturas instáveis são adotadas. Fonte: adaptado de Hignett e McAtamney (1999) A pontuação final do método é classificada em cinco intervalos, cada intervalo corresponde a um nível de ação, cada nível de ação corresponde a um risco e cada risco indica a necessidade de intervenção, conforme Figura 24. Figura 24 – Classificação final do método REBA Pontuação Final Nível de ação Nível de Risco Atuação 1 0 Impagável Nenhuma ação é necessária 2. 3 1 Baixo A ação pode ser necessária. 4-7 2 Meio É necessário tomar medidas. 8-10 3 Alto É necessário agir logo. 11-15 4 Muito alto É necessária uma ação imediata. Fonte: adaptado de Hignett e McAtamney (1999) Conforme os autores Hignett e McAtamney (1999), o método deve ser aplicado para uma única postura, sendo que para uma análise de trabalho, deve-se considerar as posturas consideradas de maior representatividade. 51 2.4.3 Software Ergolândia O software Ergolândia 7.0 foi desenvolvido para auxiliar profissionais na área ergonômica e pode ser utilizado tanto por ergonomistas como por estudantes (REIS, 2013). Apresenta interface em português a qual facilita seu uso e também disponibiliza um banco de dados no qual são armazenadas as informações e análises utilizadas. O software contém diversos métodos de diagnóstico ergonômico, dentre eles o método REBA. O “menu” inicial apresenta as opções de método de análise (FIGURA 25) e após a escolha, uma nova janela é aberta, específica ao uso do método selecionado. Figura 25 – Software Ergolândia 7.0 Fonte: do Autor (2019). 52 Após a seleção, a janela do método REBA é aberta (FIGURA 26), solicitando a inserção de dados referentes a pescoço, tronco e pernas, carga (FIGURA 27), braço, antebraço e punho (FIGURA 28), pega (FIGURA 29) e atividade (FIGURA 30). Figura 26 – Ergolândia – pescoço, tronco e pernas Fonte: do Autor (2019). 53 Figura 27 – Ergolândia – carga Fonte: do Autor (2019). Figura 28 – Ergolândia – braço, antebraço e punho Fonte: do Autor (2019). 54 Figura 29 – Ergolândia – pega Fonte: do Autor (2019). Figura 30 – Ergolândia – atividade Fonte: do Autor (2019). Com os dados inseridos, acessa-se o botão “resultado”, o qual apresenta uma tabela com a classificação da atividade, contendo pontuação, significado da pontuação, e se existe necessidade de intervenção ou não, conforme Tabela 04. 55 Tabela 04 – Resultado do Software Ergolândia Fonte: do Autor (2019). Por fim, o programa possibilita o salvamento das informações em seu banco de dados, possibilitando seu gerenciamento e seu acesso em momentos futuros, além de fornecer a possibilidade de exportar e imprimir os resultados. 2.5 Ergonomia e a Construção civil Portanto, a Ergonomia aliada ao setor de construção civil, tende a proporcionar uma maior segurança e consequentemente maior satisfação a seus trabalhadores, agregando qualidade ao produto final. 2.5.1 Prevenção Medeiros (2013) afirma que a prevenção é uma forma de atuação que acontece antes que o problema ocorra ou se instale, com o objetivo de impedir sua ocorrência e suas consequências. O autor reforça a eficácia de treinamentos de correção postural, de grupos de relaxamento, palestras, questionários e folhetos explicativos dentro do setor da construção civil, pois a informação é de difícil acesso ou não é buscada pelo público alvo. Tais ações podem ser divididas em cinco níveis (MEDEIROS, 2013), sendo eles: Nível 1 – Promoção da saúde. Nível 2 – Proteção específica. 56 Nível 3 – Diagnóstico e tratamento. Nível 4 – Limitação do dano. Nível 5 – Reabilitação. Atualmente, Medeiros (2013) destaca a vantagem de se investir em prevenção, pois trata-se de uma diretriz do sistema de saúde atual, ou seja, investir preventivamente desprende menor custo do que de forma curativa ou reabilitadora. Para tal, medidas de controle são importantes para modificar as condições prejudiciais, as quais Medeiros (2013) mostra que resumidamente são as seguintes: Físicas: posto de trabalho, mobiliário e equipamentos. Biomecânicas: alterações posturais e planejamento do trabalho. Ambientais: conforto térmico, visual e auditivo. Diante do exposto, verifica-se que na construção civil, detentora de uma diversidade enorme de riscos, existe a real necessidade de uma planejamento em Segurança do Trabalho. Para tal, Camargo (1990) elenca uma série de itens que atenuam o serviço pesado da construção civil, como por exemplo a redução da jornada de trabalho, rodízio de trabalhadores em tarefas diferentes e intervalos para repouso. O rodízio acima comentado, consiste na variação de atividades que possibilitam a diminuição dos efeitos de um trabalho repetitivo ou estático, pois nesse caso, entram em ação diferentes grupos musculares, favorecendo a circulação sanguínea. Reforçando o que diz Camargo (1990), um estudo feito por Deliberato (2002) confirma que intervalos para repouso dentro do setor da construção civil, ao contrário do que se acha, aumenta a produtividade, pois reduz a incidência de disfunções musculoesqueléticas. Nesse contexto, existem recomendações ergonômicas conhecidas e atualmente aplicas na indústria em geral, conforme comentado nos capítulos 2.5.1.1 e 2.5.1.2 a seguir. 57 2.5.1.1 Ginástica Laboral Sempre um tema controverso, a Ginástica Laboral é alvo de constantes reclamações dentro da indústria. Trata-se, segundo Fernandez (1989), de exercícios físicos que trabalham as musculaturas pouco solicitadas e relaxam aquelas que trabalham com maior intensidade. O autor reforça a necessidade da análise do local de trabalho para aplicação de tal recomendação ergonômica, tal como constrangimentos e alterações do ambiente de trabalho, ou seja, deve ser compatibilizado com as exigências do setor envolvido. 2.5.1.2 Escola de Posturas Conforme Santos (2001), a Escola de Posturas é uma intervenção preventiva adotada com o objetivo de capacitar os trabalhadores para que assumam atitudes de autocuidado, por meio de orientações de um profissional capacitado. Os postos da construção civil não são fixos, se alternam em pouco espaço de tempo, sendo uma prática difícil por necessitar constante aplicação. Para Silva (2001), no setor da construção, a adequação correta dos postos de trabalho são a melhor alternativa para prevenir doenças ocupacionais, sendo realizada individualmente de obra em obra. 58 3 METODOLOGIA 3.1 Classificação da pesquisa A presente pesquisa utiliza o método dedutivo, no qual, segundo Mezzaroba e Monteiro (2006), se parte do conhecimento geral para aplicar no particular. Pode ser enquadrada em pesquisa qualitativa quanto à abordagem e classificada como um estudo de caso, assumindo caráter exploratório, descritivo e explicativo, que segundo Gil (2002) e Bogdan e Biklen (2003) busca nos familiarizar com o problema, descrever e explicar as práticas observadas e sugerir possíveis intervenções. Considerando a pesquisa como uma geradora de conhecimento na área da ergonomia, classifica-se como uma amostra simples e não-probabilística por ser tratar de uma obra de pequeno porte na cidade de São Valentim do Sul / RS, assumindo assim, conforme Bogdan e Biklen (2003), a forma de um estudo de caso único e de natureza aplicada. Quanto aos procedimentos técnicos, se fez uso de pesquisa bibliográfica para alavancar informações acerca da ergonomia e da construção civil, posteriormente realizou-se um levantamento fotográfico que identificasse a postura dos trabalhadores em suas tarefas diárias dentro do setor da construção. A seguir, foi desenvolvido uma sistemática de avaliação das posturas incorretas, separadas por função e posteriormente avaliadas através da metodologia REBA, adotada conforme capítulo 2.4.1, para por fim, associá-las às principais doenças e propor intervenções de adequação. O fluxograma de desenvolvimento das atividades é mostrado na Figura 31 a seguir. 59 Figura 31 – Fluxograma Fonte: do Autor (2019). A metodologia de avaliação se deu de forma descritiva e explicativa, através da caracterização das atividades realizadas e a forma como estas são executadas pelos trabalhadores. As imagens foram coletadas em visitas técnicas para acompanhamento da obra, por Engenheiro Civil, autor deste trabalho, o qual certificou-se de captar as posturas adotadas de forma natural e sem interferência externa. 3.1.1 Caracterização da obra A obra acompanhada situa-se na cidade de São Valentim do Sul/RS, pequena cidade da Serra Gaúcha e que conforme senso do IBGE (2010), conta com 2.233 habitantes. Tem como característica ser uma obra residencial unifamiliar de pequeno porte, com 150,00m², localizada próximo ao centro da cidade (Figura 32). 60 Figura 32 – Localização da obra Fonte: Google Earth (2017). Obras de pequeno porte em cidade de interior, possuem características particulares descritas a seguir. Trabalhadores autônomos. Equipamentos precários. Canteiro de obra em desacordo com a NR-18. Inexistência de EPI`s. Pouca ou nenhuma fiscalização. Portanto, são obras que apresentam um ambiente hostil ao trabalhador, o qual adota ações irresponsáveis, porém costumeiras. 61 3.1.2 Classificação dos trabalhadores Os trabalhadores presentes na obra acompanhada totalizavam 12 (doze), sendo eles: 03 (três) pedreiros. 02 (dois) serventes. 02 (dois) eletricistas/encanadores. 02 (dois) gesseiros. 01 (um) carpinteiro. 01 (um) ferreiro. 01 (um) pintor. Todos os trabalhadores eram autônomos, com idade entre 28 e 58 anos e que trabalhavam no setor da construção civil a pelo menos cinco anos, chegando a 35 anos de atuação. Dois pedreiros, com idades de 48 e 57 anos, apresentavam problemas nos braços e ombros devido ao exercício da profissão, enquanto um dos eletricistas/encanadores já havia sofrido acidente de trabalho, com perda total da visão de um dos olhos. 62 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Riscos ergonômicos No presente capítulo são apresentas as avaliações das posturas identificadas durante o acompanhamento da obra, como sendo de maior impacto ergonômico. As imagens foram divididas conforme as funções de cada trabalhador para melhor descrever como é feito cada etapa, como o trabalhador desempenha suas funções e como isso está impactando na sua saúde. Primeiramente foi esquematizado através de uma tabela (TABELA 05) os riscos ergonômicos detectados em cada função analisada, sendo posteriormente analisados os riscos mais presentes ou identificados com maior frequência durante a execução das tarefas. Tabela 05 – Riscos ergonômicos por função FUNÇÃO POSTURA FORÇA CARGA MOVIMENTOS REPETITIVOS VIBRAÇÃO RUÍDO PEDREIRO X X X X SERVENTE X X X X X X ELETRICISTA/ ENCANADOR X X X X X GESSEIRO X X CARPINTEIRO X X X X FERREIRO X X X PINTOR X X Fonte: do Autor (2019). 63 Pedreiro: o Foram identificas posturas inadequadas em diversas tarefas, como reboco e assentamento de tijolos. o Movimentos repetitivos existentes em tarefas como rebocar, assentar tijolo e nivelar concreto. o Exposto a vibração e ruído durante a concretagem de estruturas de concreto por fazer uso de vibrador elétrico. Servente: o Foram identificas posturas inadequadas em diversas tarefas, como carregar e descarregar tijolos e preparar argamassa na betoneira. o Foi identificado força excessiva ao carregar carrinhos de mão cheios de argamassa, tijolo ou concreto. o Houve carga excessiva durante o transporte de sacos de cimento de 50kg e de formas de madeira o Quanto aos movimentos repetitivos foi identificado grande repetição ao retirar argamassa do carrinho de mão para abastecer a plataforma de trabalho dos pedreiros. o Identificado vibração e ruído durante o uso de betoneira e misturador de argamassa. Eletricista/Encanador: o Posturas inadequadas em diversas situações, rompimento de alvenaria, colocação de tubulação e passagem de fiação elétrica. o Uso de força brusca ao romper paredes, através do uso de rompedor. 64 o Movimentos repetitivos encontrados em tarefas como amarrar fios e colar canos. o Vibração e ruído excessivo ao utilizar rompedor elétrico. Gesseiro: o Postura inadequada na colocação de suportes no teto, na colocação das placas de gesso nos suportes e no acabamento final. o Movimentos repetitivos ao rotacionar os ganchos no teto para sua fixação. Carpinteiro: o Postura inadequada ao utilizar a bancada de trabalho. o Força ao erguer formas de madeira. o Vibração e ruído ao fazer uso de serra circular. Ferreiro: o Postura inadequada ao cortar e amarrar barras de aço. o Força excessiva cortar barras de aço e ao erguer armaduras de sapatas, vigas e pilares acima de 50kg. o Movimentos repetitivos de rotação identificados ao amarrar barras de aço com uso de alicate e arame. Pintor: o Postura inadequada e movimentos repetitivos ao utilizar rolo de pintura e ao fazer acabamentos com pincel. Portanto, no decorrer do capítulo, serão analisadas as tarefas nas quais os riscos ergonômicos foram mais recorrentes. 65 4.2 Pedreiro O pedreiro é o principal trabalhador dentro de uma obra de pequeno porte, pois é ele quem coordena todo o processo, devido à falta de um mestre de obra. O pedreiro é responsável pela execução de fundações, estruturas de concreto, assentamento da alvenaria, realização de reboco e aplicação de revestimentos em paredes, pisos e tetos. 4.2.1 Tarefa 1 – Rebocar paredes baixas Na Figura 33, é mostrado a tarefa de rebocar paredes baixas, exigindo uma postura agachada do pedreiro, conforme segue. Figura 33 – Pedreiro – Rebocar paredes baixas Fonte: do Autor (2019). Na Figura 33, o pedreiro executa o reboco interno da platibanda da residência com uso de desempenadeira, a qual apresenta boa pega. O pedreiro apanha a argamassa no carrinho de mão atrás dele, girando o tronco diversas vezes, após 66 colocar o material na empenadeira, faz movimentos circulares contínuos e por longo períodos, afim de regularizar o reboco. Sua vestimenta é composta por calça e calçado fechado adequado (botina com CA), porém não utiliza capacete nem luvas de proteção contra os produtos usados na mistura da argamassa. O trabalho é feito com o tronco inclinado e rotacionado, inclusive apresenta movimentos circulares repetitivos com os braços ao realizar a atividade. O peso do trabalhador é distribuído em ambas as pernas, que ficam estáticas e levemente dobradas durante a atividade. Pode-se destacar o ambiente de trabalho como hostil, pois o trabalhador está refém dos efeitos do sol sem a utilização de protetor solar, existe muito material largado no chão e o carrinho de mão com argamassa foi colocado pelo servente atrás do pedreiro, estes dois últimos fatores podem acarretar em um acidente de trabalho. Na Figura 34, pode-se ver o resultado da aplicação do método REBA para a atual postura, os dados utilizados estão descritos no Anexo A. Figura 34 – REBA – Rebocar paredes baixas Fonte: do Autor (2019). Percebe-se através do resultado da Figura 34, o risco alto a que o trabalhador está exposto, devendo haver intervenção o quanto antes. Tal atividade, realizada da forma como foi identificada, poderá resultar em afecções musculoesqueléticas, cervicalgias, tendinites, lombalgias (OBERMULLER, 2017). Como forma de intervenção, primeiramente a adequação dos EPI`s é necessária, com uso de capacete e luvas de proteção para evitar alguma contusão ou acidente. Posteriormente, devido a atividade exigir um trabalho agachado, o 67 pedreiro deve flexionar uma das pernas para frente enquanto a outra se mantem com o joelho apoiado no chão, o tronco jamais deve ultrapassar o limite do joelho projetado a frente (GONÇALVES E DEUS, 2001), ficando de preferência de forma ereta. No que se refere aos movimentos repetitivos, Nakamura (2011) nos mostra que é importante a alternância dos braços na atividade, como também é uma tarefa que exige pausas e alongamentos. Outro ponto importante, conforme Gonçalves e Deus (2001) é a colocação da argamassa do carrinho ao nível da cintura do trabalhador e em local de fácil acesso, para não precisar haver o giro do tronco a todo momento. Os autores ainda reforçam a necessidade do abastecimento de argamassa contínua para que o pedreiro não exerça esta função, tal tarefa já é praticada pelo servente de forma correta. 4.2.2 Tarefa 2 – Rebocar paredes altas Na Figura 35, é mostrado a tarefa de rebocar paredes altas, exigindo uma postura com pescoço inclinado e braços acima do nível do ombro, conforme segue. Figura 35 – Pedreiro – Rebocar paredes altas Fonte: do Autor (2019). 68 Na Figura 35, o pedreiro executa o reboco interno da residência, próximo do teto. A tarefa se assemelha a descrita no capítulo 4.2.1 pois trata-se novamente de rebocar paredes, porém nesse caso, a parede a ser rebocada encontra-se a um nível acima do ombro do pedreiro, exigindo esforços e posturas diferenciadas. Novamente ele utiliza desempenadeira para a execução da atividade a qual apresenta boa pega. O pedreiro apanha a argamassa no balde ao lado dele, girando o tronco e se agachando diversas vezes, após colocar o material na empenadeira, faz movimentos circulares contínuos e por longo períodos, afim de regularizar o reboco. Sua vestimenta é composta por calça, calçado fechado adequado (botina com CA) e luvas de borracha, porém não utiliza capacete. O trabalho é feito com o tronco reto, pescoço inclinado para trás, ombro elevado e braço acima do nível do ombro, inclusive apresenta movimentos circulares repetitivos com um dos braços ao realizar a atividade. O peso do trabalhador é distribuído em ambas as pernas, que ficam estáticas e levemente dobradas durante a atividade. Pode-se destacar o ambiente de trabalho como adequado, pois o trabalhador está protegido de intempéries e da exposição ao sol, não existe material largado no chão e o andaime está sobre superfície firme, porém destaca-se a não adequação deste último aos padrões da NR-18, podendo provocar algum acidente, como queda do trabalhador. Na Figura 36, pode-se ver o resultado da aplicação do método REBA para a atual postura, os dados utilizados estão descritos no Anexo B. Figura 36 – REBA – Rebocar paredes altas Fonte: do Autor (2019). 69 Percebe-se através do resultado da Figura 36, que o trabalhador está exposto a um risco médio, havendo a necessidade de intervenção. Tal atividade poderá resultar em afecções musculoesqueléticas, cervicalgias e tendinites (OBERMULLER, 2017). Como forma de intervenção, segundo Obermuller (2017), atividades realizadas por longos períodos em uma posição estática devem vir acompanhadas de pausas para descanso, inclusive por apresentar trabalho com os braços para cima que podem provocar dores nos ombros, nesse caso, a adequação da altura do andaime é uma solução viável. Quanto aos movimentos repetitivos, Obermuller (2017) reforça a necessidade de pausas e menciona a alternância dos braços como uma medida preventiva, indo de encontro ao que diz Nakamura (2011), mencionado no capítulo 4.2.1. 4.2.3 Tarefa 3 – Assentar tijolos Na Figura 37, é mostrado a tarefa de assentar tijolos ao nível da cintura, sendo uma altura pouco exigida a nível postural, mas que mesmo assim geram posturas e movimentos indevidos, conforme segue. Figura 37 – Pedreiro – Assentar tijolos Fonte: do Autor (2019). 70 Na Figura 37, o pedreiro realiza a tarefa de assentar tijolos a fim de elevar a alvenaria onde se encontra a caixa d`água da residência. Durante o período observado, os pedreiros realizavam a atividade a nível da cintura, pois estavam sobre andaimes, sendo uma prática acertada. Ambos os trabalhadores faziam uso de colher de pedreiro, a qual proporciona boa pega, pois se consegue o fechamento correto da mão e a aderência esperada. No que se refere aos processos, os pedreiros são abastecidos pelos serventes, os quais deixam os tijolos e a argamassa de assentamento no andaime (nível dos pés). O pedreiro por sua vez, necessita agachamento para apanhar os tijolos e a pega deste é indevida, pois a mão fica aberta. Após isso, o assentamento é realizado conforme a Figura 37. Sua vestimenta é composta por calça, calçado fechado adequado (botina com CA) e luvas de borracha, porém não utiliza capacete, somente chapéu de palha para proteção do sol. O trabalho é feito com o tronco levemente torcido, pescoço inclinado para baixo e braços dobrados. O peso do trabalhador é distribuído em ambas as pernas, que ficam estáticas e levemente dobradas durante a atividade. Pode-se destacar o ambiente de trabalho como indevido, pois o trabalhador está exposto as intempéries e a exposição ao sol, o andaime em que estão suspensos não está em conformidade com a NR-18 e existe muito material largado no chão. Na Figura 38, pode-se ver o resultado da aplicação do método REBA para a atual postura, os dados utilizados estão descritos no Anexo C. Figura 38 – REBA – Assentar tijolos Fonte: do Autor (2019). 71 Percebe-se através do resultado da Figura 38, que o trabalhador está exposto a um risco alto, havendo a necessidade de intervenção o quanto antes. Nesse caso, percebe-se uma avaliação pelo método REBA em conformidade com o apresentado no estudo de Michaloski, Xavier e Saad (2006), os quais avaliaram a tarefa utilizando o método RULA e alcançaram os mesmos resultados, comprovando a relação entre ambos os métodos, conforme cita Cardoso Junior (2006). Tal atividade realizada sempre em pé, de forma estática e com inclinação do pescoço, acarreta em estresse muscular, gerando dores nas costas e no pescoço e também fadiga nas pernas, ambos fatores acarretam em futuras cervicalgias e afecções musculoesqueléticas (OBERMULLER, 2017). Como forma de intervenção, podemos citar novamente as pausas para descanso, ginástica laboral ou alongamentos e variação das posturas adotadas no processo. No caso analisado, o ideal é realizar ginástica laboral, pois alonga cabeça, tronco, membros inferiores e membros superiores, evitando a fadiga muscular (OBERMULLER, 2017). Além da ginástica laboral e pausas para descanso, podemos propor alterações no ambiente de trabalho para proporcionar maior conforto ao trabalhador. Conforme Silva (2014), a colocação dos tijolos e da argamassa deveria ser na frente do trabalhador a uma altura que evite que este torça ou incline a coluna para pegar o material, sendo necessário uma plataforma adequada para sua colocação. 4.2.4 Tarefa 4 – Concretagem através de caminhão-bomba Na Figura 39, é mostrado a tarefa de concretagem da laje da residência, nesse caso, é utilizado um caminhão-bomba e o pedreiro apenas faz o manuseio da mangueira, conforme segue. 72 Figura 39 – Pedreiro – Concretagem através de caminhão-bomba Fonte: do Autor (2019). Na Figura 39, o pedreiro realiza a tarefa de concretagem da laje de cobertura da residência, tal tarefa hoje em dia, mesmo em obras de pequeno porte, é realizada através de caminhão-bomba com lançamento de concreto usinado através de uma mangueira adequado ao serviço. O pedreiro realiza a atividade com uma postura indevida, inclinando e rotacionando o tronco para manusear a mangueira que apresenta carga maior que 10kg, esta por sua vez, apresenta um diâmetro considerável, ocasionando também em uma pega desajustada. No que se refere aos processos, a postura analisada se restringe ao manuseio da mangueira de lançamento do concreto, à qual é realizada até preencher por completo as formas de madeira de pilares, vigas e lajes. Durante esse processo, outros pedreiros realizam a tarefa de nivelar o concreto em simultâneo a esta, tal tarefa é descrita no próximo capítulo 4.2.5. Sua vestimenta é composta por calça e botas de borracha, porém não utiliza capacete e nem luvas de proteção, acarretando em contato direto do concreto com a pele do trabalhador. O trabalho é feito com o tronco inclinado e levemente torcido e 73 braços dobrados. O peso do trabalhador é distribuído em ambas as pernas, que ficam estáticas e levemente dobradas durante a atividade, a qual durou cerca de três horas. O pedreiro se mantia por mais de um minuto na mesma posição e apresentou mudanças posturais grandes durante todo o processo. Pode-se destacar o ambiente de trabalho como indevido, pois o trabalhador está exposto as intempéries e a exposição direta ao sol, é um ambiente úmido que apresenta risco de queda em altura devido à falta de proteção nos beirais de laje (guarda-corpo) e falta de linha da vida, conforme recomenda a NR-18. Na Figura 40, pode-se ver o resultado da aplicação do método REBA para a atual postura, os dados utilizados estão descritos no Anexo D. Figura 40 – REBA – Concretagem através de caminhão-bomba Fonte: do Autor (2019). Percebe-se através do resultado da Figura 40, que o trabalhador está exposto a um risco alto, havendo a necessidade de intervenção o quanto antes. Tal atividade, com posturas similares as das tarefas de rebocar parede e assentar tijolos, acarreta em estresse muscular, gerando dores nas costas e fadiga nas pernas, podendo provocar, segundo Obermuller (2017), lombalgias e cervicalgias. Inclusive, por se tratar de um ambiente sempre úmido aliado a posturas desajustadas e esforço físico, a atividade pode vir a provocar artrite e artrose, enquanto que a falta da vestimenta adequada pode provocar reações alérgicas e inflamatórias devido ao contato direto com o cimento (NAKAMURA, 2011). Como forma de intervenção, as pausas para descanso seriam ideais, porém devido ao processo de concretagem não poder parar devido a questões estruturais e de qualidade do material final, não pode ser enquadrada nesse caso, logo, podemos propor o rodízio de trabalhadores na atividade. Claro que antes e após a tarefa, é importante realizar alongamentos para evitar algum tipo de contusão advinda dos 74 esforços e posturas adotadas. Nakamura (2011) indica o uso de botas de borracha (utilizada pelo pedreiro) para evitar o contato direto com a umidade do local, sendo uma forma de prevenção para futuros problemas nas articulações. Além da vestimenta adequada, podemos propor alterações no ambiente de trabalho e nas ferramentas utilizadas para proporcionar maior conforto ao trabalhador. Conforme a NR-18, é necessário a instalação de guarda-corpos nas periferias da laje e a utilização de linhas de vida para o trabalho próximo as beiradas, evitando possíveis quedas em altura. Já quanto as ferramentas utilizadas, é possível a utilização de um mecanismo de manuseio da mangueira, a qual deveria ser mantida na vertical enquanto dois ou mais trabalhadores a deslocariam pelos locais de concretagem, distribuindo os esforços e evitando as posturas identificadas. 4.2.5 Tarefa 5 – Sarrafeamento do concreto Na Figura 41, é mostrado a tarefa de nivelar concreto, tarefa realizada em simultâneo à descrita no item 4.2.4 anteriormente. No caso de nivelar concreto, pedreiros utilizam réguas de madeira com a finalidade de regularizar a espessura do concreto prevista em projeto e dar o acabamento final, processo este conhecido como “sarrafeamento”. Figura 41 – Pedreiro – Sarrafeamento do concreto Fonte: do Autor (2019). 75 Na Figura 41, o pedreiro realiza a tarefa de sarrafeamento do concreto, geralmente utilizando uma régua de alumínio ou madeira, sendo a segunda mais utilizada em obras de pequeno porte. O pedreiro realiza a atividade com o tronco inclinado e rotacionado, pescoço rotacionado para o lado, pernas levemente dobradas, além de movimentos repetitivos e permanência na atividade por longos períodos. Quanto a régua utilizada, apresenta bom diâmetro e boa aderência, proporcionando boa pega do instrumento. No que se refere aos processos, enquanto um pedreiro faz o lançamento do concreto através de mangueira, tarefa descrita no item 4.2.4, dois ou mais pedreiros fazem o sarrafeamento do concreto, jogando o concreto para frente e para trás afim de adensá-lo e regularizá-lo, preenchendo todos os vazios existentes. Sua vestimenta é composta por calça e botas de borracha, porém não utiliza capacete e nem luvas de proteção, apenas chapéu de palha para proteção do sol. O trabalho é feito com o tronco inclinado e durante o movimento com a régua, o mesmo também é rotacionado. O peso do trabalhador é distribuído em ambas as pernas, que ficam estáticas e levemente dobradas durante a atividade, a qual dura cerca de três horas. O pedreiro se mantia por mais de um minuto na mesma posição e realiza movimentos repetitivos em ciclos de no máximo cinco segundos cada. Pode-se destacar o ambiente de trabalho como agressivo, igualmente ao descrito no item 4.2.4, pois o trabalhador está exposto as intempéries e a exposição direta ao sol, é um ambiente úmido que apresenta risco de queda em altura devido à falta de proteção nos beirais de laje (guarda-corpo) e falta de linha da vida, conforme recomenda a NR-18. Na Figura 42, pode-se ver o resultado da aplicação do método REBA para a atual postura, os dados utilizados estão descritos no Anexo E. 76 Figura 42 – REBA – Sarrafeamento do concreto Fonte: do Autor (2019). Percebe-se através do resultado da Figura 42, que novamente o trabalhador está exposto a um risco alto, assim como na tarefa do item 4.2.4, havendo a necessidade de intervenção em ambas as tarefas. Tal atividade, provoca consequências similares às descritas anteriormente, como estresse muscular, lombalgias e cervicalgias (OBERMULLER, 2017). E novamente, por se tratar de um ambiente úmido aliado a posturas incorretas e intenso esforço físico, a atividade provoca problemas nas articulações e possíveis reações alérgicas caso haja contato direto com o cimento (NAKAMURA, 2011). Como forma de intervenção, descarta-se pausas para descanso pelos mesmo motivos citados no item 4.2.4, sendo o rodízio de trabalhadores o mais indicado, alternando entre sarrafeamento e lançamento do concreto. Assim como no item anterior, Nakamura (2011) indica o uso de botas de borracha para evitar a umidade presente no processo, à qual é utilizada por todos os trabalhadores. Outras intervenções podem ser adotadas nesse processo, além das já citadas no item 4.2.4 como guarda-corpo e linha de vida, podemos também eliminar as réguas utilizadas pelos pedreiros, pois além dos problemas ergonômicos associados, estas não são as mais indicadas para a execução da tarefa. Para correção, é necessário a instalação