UNIVERSIDADE DO VALE DO TAQUARI - UNIVATES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EM ENSINO ESPELHO, ESPELHO MEU: GESTOR ESCOLAR EMPREENDEDOR, EU? Tatiane Reginatto Vier Lajeado, dezembro de 2019. Tatiane Reginatto Vier ESPELHO, ESPELHO MEU: GESTOR ESCOLAR EMPREENDEDOR, EU? Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ensino, da Universidade do Vale do Taquari - Univates, como parte da exigência para a obtenção do grau de Mestre em Ensino. Orientadora: Profa. Dra. Silvana Neumann Martins. Coorientadora: Profa. Dra. Jacqueline Silva da Silva. Lajeado, dezembro de 2019. AGRADECIMENTOS Ao final de mais uma etapa de minha vida, creio que ela não teria se concretizado se não fossem algumas pessoas que me acompanharam durante todo esse processo. Inicialmente minha família e colegas de trabalho que me apoiaram a participar do processo de seleção deste programa. Já estando no programa não posso deixar de agradecer minha orientadora Silvana Neumann Martins que, além de me apresentar o empreendedorismo, acolheu meus anseios e compartilhou minhas expectativas desde o princípio. Já minha coorientadora, que além de somar como professora do curso, veio a agregar nesta etapa da pesquisa, sempre com um olhar atento sobre o ensino na educação infantil. Muitas foram as disciplinas, vários os debates, as leituras, as trocas de experiências e certamente inúmeras foram as aprendizagens. No desemaranhar destas aprendizagens, destaco os professores do Curso, que com dedicação e entusiasmo oportunizaram-me ótimas construções. Os colegas também tiveram grande importância nesta caminhada, destaco, em especial as colegas Jordana e Denise, agradecendo o apoio nos momentos de dúvidas e o compartilhamento das informações. Faz-se necessário um agradecimento aos sujeitos investigados que oportunizaram minha pesquisa. Faz-se necessário citar a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) que me possibilitou a realização deste curso, que certamente tem e virá a agregar muito em minha caminhada na ceara do ensino e da educação. À minha família, em especial meu marido Gabriel e meus pais Claudio e Beatriz, com carinho, agradeço pela compreensão, pois foram muitos os momentos em que estive dedicada a este projeto que vem a tornar-se a realização de mais um sonho. E certamente ao meu pequeno Théo que acompanhou em meu ventre a conclusão desta etapa. EPÍGRAFE A poesia guardada na gaveta não produz emoções, nem provoca revoluções, a não ser, talvez, para quem a criou (o que pode ser muito). O empreender do poeta significaria abrir a gaveta, publicar, comunicar a poesia e conseguir que ela transporte corações e mentes. Fernando Dolabela RESUMO Liderar? Gerir? Independente da interrogativa, torna-se latente pensar na figura do gestor, em especial do gestor escolar empreendedor (CAMPOS, 2017). A presente investigação, surge com o intuito de averiguar quais reflexos repercutem no desenvolvimento do ensino de uma escola de Educação Infantil a partir das ações de gestores empreendedores. Os dados foram obtidos através de entrevistas semiestruturadas norteadas pela análise de imagens com uma gestora e duas professoras da instituição e dos registros do Diário de Itinerância. A análise dos dados aproximou-se da análise de conteúdo (BARDIN, 2011). Após a análise dos dados, evidenciou-se que a gestora possui características de um gestor escolar empreendedor, mesmo que ainda esteja desenvolvendo algumas. Foi possível também, identificar a relação do exercício destas características da gestão empreendedora com os processos de ensino da escola, evidenciados desde a organização e manutenção do espaço, a compra de materiais, as intervenções didáticas, até mesmo a aproximação com as crianças e com as famílias. PALAVRAS-CHAVE: Educação Empreendedora. Gestão Escolar. Educação Infantil. ABSTRACT Lead? To manage? Regardless of the interrogative, it becomes latent to think of the figure of the manager, especially the entrepreneurial school manager (CAMPOS, 2017). This research aims to find out which reflexes have repercussions on the development of the teaching of a preschool based on the actions of entrepreneurial managers. Data were obtained through semi-structured interviews guided by image analysis with a manager and two teachers of the institution and the records of the Itinerancy Diary. Data analysis approached content analysis (BARDIN, 2011). After data analysis, it became evident that the manager has characteristics of an entrepreneurial school manager, even though she is still developing some. It was also possible to identify the relationship between the exercise of these characteristics of entrepreneurial management and the teaching processes of the school, evidenced from the organization and maintenance of the space, the purchase of materials, the didactic interventions, even the approach with the children and the children. families. KEYWORDS: Entrepreneurial Education. School management. Child Education. LISTA DE ILUSTRAÇÕES LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Olhar-me no espelho ............................................................................. 12 Figura 2 - Caminhada teórica ................................................................................ 18 Figura 3 - A gestora e a Educação Infantil ............................................................ 19 Figura 4 - A gestão escolar ................................................................................... 23 Figura 5 - A figura do diretor escolar ..................................................................... 26 Figura 6 - A lâmpada, o empreendedorismo e a educação empreendedora ........ 30 Figura 7 - As Características de um Gestor Escolar Empreendedor ..................... 34 Figura 8 - O gestor escolar empreendedor ........................................................... 39 Figura 9 - A caminhada metodológica ................................................................... 42 Figura 10 - Minha cidade cercada de montanhas ................................................. 43 Figura 11 - Os sujeitos da caminhada ................................................................... 45 Figura 12 - Diário de Itinerância recorte 1 ............................................................. 47 Figura 13 - As imagens ......................................................................................... 48 Figura 14 - Diretor de Escola 1 .............................................................................. 50 Figura 15 - Diretor de Escola 2 .............................................................................. 51 Figura 16 - Diretor de Escola 3 ............................................................................. 51 Figura 17 - Diretor de Escola 4 .............................................................................. 52 Figura 18 - Diretor de Escola 5 .............................................................................. 53 Figura 19 - Diretor de Escola 6 .............................................................................. 53 Figura 20 - Análise de Conteúdo ........................................................................... 55 Figura 21 - As imagens, o diário e a análise ......................................................... 57 Figura 22 - As características no espelho ............................................................ 58 Figura 23 - Diretor de Escola – 1 ........................................................................... 59 Figura 24 - Diretor de Escola – 2 ........................................................................... 60 Figura 25 - Diretor de Escola – 3 ........................................................................... 60 Figura 26 - Gestão e ensino não se fazem sozinhos ............................................ 66 Figura 27 - Os sonhos de cada um ....................................................................... 69 Figura 28 - Sonho meu .......................................................................................... 72 Figura 29 - Diário de Itinerância Recorte 2 ............................................................ 73 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Direitos de aprendizagem e desenvolvimento na Educação Infantil .. 21 Quadro 2 - Características do empreendedor, segundo Dolabela (2003) ............ 35 Quadro 3 - Características do Empreendedor segundo Dornelas (2012) ............. 35 Quadro 4 – Características do Empreendedor segundo o SEBRAE ..................... 37 Quadro 5 – Gestor Empreendedor segundo Campos (2017) ................................ 38 Quadro 6 - As dez características do Gestor Escolar Empreendedor ................... 40 Quadro 7 - Resumo da Abordagem metodológica da investigação ..................... 56 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS BNCC Base Nacional Comum Curricular CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CCE Características Comportamentais do Empreendedor CNE Conselho Nacional de Educação CNP Círculo de Pais e Mestres CTG Centro de Tradições Gauchescas DCNEI Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil ECA Estatuto da Criança e do Adolescente G Gestora IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação P1 Professora 1 P2 Professora 2 PDDE Programa dinheiro direto na escola PIBID Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SUMÁRIO 1 OLHAR-ME NO ESPELHO ................................................................................ 12 2 A CAMINHADA TEÓRICA ................................................................................. 18 2.1 A educação infantil novos contornos.......................................................... 19 2.2 A Gestão Escolar ........................................................................................... 23 2.3 A figura do diretor escolar e seu papel no ensino ..................................... 26 2.4 A lâmpada, o empreendedorismo e a educação empreendedora ............. 30 2.5 As Características de um gestor escolar empreendedor .......................... 34 3 A CAMINHADA METODOLÓGICA ................................................................... 42 3.1 Minha cidade cercada de montanhas e a escola do morro ....................... 43 3.2 Os sujeitos da caminhada ............................................................................ 45 3.3 As imagens .................................................................................................... 48 4 AS IMAGENS, AS ENTREVISTAS, O DIÁRIO E A ANÁLISE .......................... 57 4.1 Primeira categoria: “Já estamos na oitava” ............................................... 58 4.2 Segunda categoria: “Impossível pensar o ensino sem a gestão” ............ 66 4.3 Terceira categoria: “Esses sonhos movem a gente” ................................. 69 5 SONHO MEU ..................................................................................................... 72 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 776 APÊNDICES ......................................................................................................... 81 APÊNDICE A - Termo de anuência .................................................................... 82 APÊNDICE B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ........................ 84 APÊNDICE C - Roteiro da entrevista semiestruturada com professores ....... 86 APÊNDICE D - Roteiro da entrevista semiestruturada com diretor/a ............. 87 12 1 OLHAR-ME NO ESPELHO Figura 1 - Olhar-me no espelho Fonte: Da autora, 2019. “Nunca tenha vergonha de perguntar, de se posicionar! ” Mal sabia a minha querida mãe o quanto suas palavras se tornaram combustível em minha vida. A profissional que me tornei e que se constitui diariamente, carrega consigo as palavras sábias de sua família, bem como de marcantes professores com os quais tive a honra de conviver e aprender. A menina do interior, primeira graduada da família, tornou-se professora, em seguida coordenadora pedagógica (FIGURA 1) e vem percebendo, a cada novo desafio com que se depara, o quanto mais de conhecimento necessita para que se tornem efetivas suas conquistas. A filha única que no ano de 2005, aos quatorze anos de idade, ingressou em um colégio interno, acreditando no diferencial que o mesmo poderia trazer a sua carreira, que trabalhou desde os dezessete anos em escolas e que a certa altura, no ano de 2011, enxergou nas bolsas de Iniciação Científica da Universidade 13 (FIGURA 1) e do Programa de Iniciação à Docência (PIBID) um expoente para sua formação como Pedagoga, é a mesma que vislumbrou o Mestrado Acadêmico em Ensino como uma possibilidade de repensar e, por que não, qualificar o contexto que a circunda. Aprofundar questões mais pontuais da formação de professores/gestores, debater junto de colegas engajados nos mesmos ideais, em repensar e qualificar a escola, certamente são os propulsores que motivaram minha trajetória no curso. Observar, desacomodar, intervir, descobrir e refletir sobre a escola, são caminhos necessários para a qualificação do ensino brasileiro. Por anos as palavras de minha mãe incentivaram minhas ações. Quase que naturalmente as lideranças frente a alguns projetos, desde apresentações de trabalhos, lideranças de turma, mobilizações na formação de grupos de jovens da igreja ou de grêmios estudantis, tornaram-se comuns em minhas vivências. O “peso” de certas lideranças exigiu de mim, por vezes, reflexões e também a busca de informações. Este conhecimento acerca da atuação na liderança encontrei em cursos desde muito jovem e também na escolha da minha especialização em Supervisão e Orientação Educacional, em 2015. Já no final da graduação, em 2014 (FIGURA 1), o meu interesse pelo diferencial que os gestores escolares possuem, na potencialidade de inovação e qualificação de suas instituições, motivou-me na pesquisa e consequentemente na escrita de meu Trabalho de Conclusão de Curso. Iniciei ali uma investigação sobre gestão escolar empreendedora, que não se findou e ao mesmo tempo requeria a experiência na área da gestão escolar, algo que ainda julgava importante e almejava vivenciar, não apenas estudar ou pesquisar. Em 2015 veio o convite: assumir a Coordenação Pedagógica do Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos de uma escola pública (FIGURA 1). Confesso que foi desafiador para a professora de Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental da época. Os estudos adicionais, o apoio de colegas da equipe diretiva e as “horas extras” foram constantes, mas as recompensas que foram colhidas tornaram-se animadoras e, certamente, confirmam minha ideia inicial de que o gestor tem um grande potencial de mudança em suas mãos. 14 Já no Mestrado em Ensino, em 2018, algumas inquietações continuaram a permear meus pensamentos. Quem são nossos gestores? Percebem o “poder” que possuem? Eles possuem características de um gestor empreendedor? É possível reconhecer o quanto suas ações implicam nos processos de ensino das escolas que gerem? Para o pesquisador, a motivação da investigação costuma perpassar o que realmente lhe afeta, a pesquisa seria como um espelho dos nossos desejos, refletindo nossos gostos e concepções (YIN, 2015). Ao ingressar no mestrado iniciei também outra caminhada docente, em um novo município. Deparei-me com novas instituições, novos colegas, novos alunos, novos gestores, novos jeitos de fazer escola. Estes novos encontros, seja na academia ou na trilha profissional confirmaram meu tema de interesse de investigação: a gestão escolar empreendedora. Liderança? Gestão? Gestão e suas implicâncias no cotidiano das pessoas. Questionamentos e afirmativa um tanto atuais eu diria, ou não? Refletir sobre a gestão empreendedora após um ano eleitoral seja, talvez, a primeira prerrogativa de que as próximas páginas serão válidas, ou pelo menos instigantes, ao leitor. Espera-se que elas possam propiciar novas reflexões e permitam costurar diretamente as ações de um gestor com o contexto no qual encontra-se inserido. Quando me refiro, aqui, ao gestor, é possível reconhecê-lo em uma série de instituições, sejam públicas, privadas, empresariais e escolares, onde podemos encontrá-lo. Neste trabalho a gestão de interesse é a escolar, por isso, inicialmente é necessário conceber a escola como uma espécie de organização sistêmica aberta, ou seja, um conjunto de elementos, de pessoas com diferentes papéis e estruturas de relacionamento, que interagem e se influenciam mutuamente (LÜCK, 2009). Pensarmos educação como um ato político e não neutro (FREIRE, 1999), torna-se outro ponto de partida significativo. Nos estudos de Paro (2010), a concepção de política como convivência entre sujeitos, envolvidos numa relação de poder, torna-se a premissa da possibilidade do caráter democrático da educação. O fato é que gestão pressupõe convivência, tomada de decisão e gera reflexos cotidianos aos envolvidos nesse processo (PARO,2010). Torna-se 15 inevitável, assim, nos remetermos às nossas “experiências gestoras”. Certamente, já nos experimentamos como “geridos” e, em alguns momentos, remetemo-nos aos nossos gestores, refletindo sobre suas diferenças, atitudes, posturas, sejam positivas ou negativas, e o notório impacto destas ações em nossas vidas. Agora pergunto: e os gestores, sejam suas experiências passadas ou atuais, percebem o quanto suas atitudes e decisões refletem nas pessoas e nas instituições em que trabalham? Conhecem suas características pessoais e profissionais? Seus pontos fortes, aqueles que estão sendo desenvolvidos e outros que ainda precisam ser revistos? Aos sermos convidados a refletir sobre os referidos questionamentos, percebemos as deficiências atuais do próprio ato de reflexão. As questões compreendidas como suscetíveis a análises, acabam por serem priorizadas ao emergirem no dia a dia, sofrendo influência direta do meio que nos constituem. Faz- se necessário assim, delimitar estas questões, formando um conjunto que possa auxiliar-nos neste processo de “olhar-se no espelho” e verificar quais são os nossos pontos fortes em relação à gestão, quais os que estão sendo desenvolvidos e os que precisam se desenvolver. Para auxiliar nas reflexões sobre a temática gestão escolar voltei-me aos pressupostos da educação empreendedora que visa a formação de indivíduos com atitudes empreendedoras e protagonistas, que possuem mentes sedentas por sonhar, planejar e inovar (MARTINS, 2010). A educação empreendedora emergiu dos pressupostos do empreendedorismo e ao atrelar os estudos de diferentes autores proponho, nesta dissertação, refletir sobre as características do Gestor Escolar Empreendedor. O gestor escolar empreendedor tem a capacidade de motivar professores e alunos, tornando-os mais proativos, inovadores e até mesmo empreendedores. Urge, assim, uma gestão escolar empreendedora norteada pela educação empreendedora e atrelada a uma gestão participativa e democrática, que torna-se sim um desafio aos pedagogos e aos demais educadores. E certamente este desafio alimenta a fome de mudanças e transformações, que por décadas permeia muitas escolas. Assim, se uma gestão escolar empreendedora pode modificar uma escola, o que não poderia modificar professores e alunos que vivenciam a educação empreendedora cotidianamente? (REGINATTO et.al., 2015, p. 85). 16 Nessa perspectiva, apresento o problema que alicerçou esta investigação e o meu pensamento enquanto pesquisadora: Quais reflexos repercutem, no desenvolvimento do ensino em uma escola de Educação Infantil, a partir das ações de um gestor escolar empreendedor? Para que o leitor compreenda melhor o desenrolar desta proposta de investigação, apresento como objetivo geral desta pesquisa: Investigar quais reflexos repercutem no desenvolvimento do ensino de uma escola de Educação Infantil a partir das ações de um gestor escolar empreendedor. Atrelados ao objetivo geral e problema apresentado, relaciono os seguintes objetivos específicos, nos quais me apoiei para buscar responder à questão de pesquisa: - Socializar e refletir sobre as características do gestor escolar empreendedor com a diretora de uma escola de Educação Infantil; - Identificar as características empreendedoras já desenvolvidas, as que que estão sendo desenvolvidas e as que poderiam ser desenvolvidas por uma gestora escolar; - Analisar as percepções de duas professoras acerca da repercussão de possíveis reflexos nos processos de ensino, a partir da atuação de uma gestora empreendedora, na Escola de Educação Infantil; Para confirmar este desejo de investigação, apresento o restante da pesquisa, na qual o leitor continuará sua caminhada conhecendo alguns preceitos da Gestão Escolar e problematizando comigo a figura do diretor. Nas próximas curvas encontrará a história da lâmpada e seu entrelace com o Empreendedorismo e a Educação Empreendedora. Refletiremos juntos, o leitor e eu, sobre as características do empreendedor e construiremos as dez características do Gestor Escolar Empreendedor. Em outro momento da caminhada, o leitor percorrerá as trilhas teóricas da metodologia, que darão chão firme aos pés flutuantes. Conhecerá a cidade cercada de montanhas, os outros companheiros de viagem e descobrirá a beleza das 17 imagens. Aliás, as imagens abrirão todas as leituras, pois compuseram-se entrelaçadas à construção destas linhas. Por fim, o leitor descobrirá como se deu a análise de toda a caminhada, encontrando em Bardin (2011) parceria para esta tarefa, buscando encontrar considerações acerca das inquietações que motivaram esta pesquisa. Por fim, destaco a escolha do título desta dissertação, “Espelho, espelho meu: gestor escolar empreendedor eu? ”, penso que como as imagens sempre foram essenciais dentro de meu aprendizado, a imagem que procuramos pela manhã em frente ao espelho é a nossa. Durante o dia nos deparamos pouco com a nossa imagem, mas tudo que com ela realizamos, impacta na vida de outras pessoas, quiçá o diretor de uma escola. A conhecida questão do universo infantil, em que a madrasta questiona o espelho sobre quem seria mais bela do que ela, reflete a simbologia, nesta dissertação, de nos observarmos frente às nossas incertezas, questionando nossas ações, desejos e visualizando seus reflexos ao que nos cerca. Que a gestora, sujeito desta investigação, tenha visualizado suas ações e refletido sobre elas, que eu, como coordenadora pedagógica, possa refletir sobre as características do gestor escolar empreendedor e enxergar meus passos como gestora, e que para você leitor, esse movimento de olhar-se no espelho e refletir sobre suas incertezas e seus desejos também possa ser possível. Boa viagem! 18 2 A CAMINHADA TEÓRICA Figura 2 - Caminhada teórica Fonte: Da autora, 2019. Apoiar-me em referenciais válidos acerca da Educação Infantil, Gestão Escolar, Educação Empreendedora e do Perfil do Empreendedor, tornou-se passo primordial da caminhada. Revisitei leituras, encontrei e fui apresentada pela minha orientadora e meus professores a novas produções. Inicio, abordando a Gestão Escolar, retomando quem a integra, suas proposições e implicações no cotidiano das instituições. Dou um destaque à figura do diretor, que tanto me intriga e, por isso, torna-se sujeito desta investigação. Não esqueço, porém, do empreendedorismo, desbravo seu surgimento, bem como seu entrelace misterioso, porém esclarecedor como uma lâmpada. Reafirmo os entrecruzamentos do empreendedorismo com a educação, através da Pedagogia Empreendedora 19 (DOLABELA, 2003) e, finalmente, concentro-me na compilação das características do Gestor Escolar Empreendedor. 2.1 A educação infantil novos contornos Figura 3 - A gestora e a Educação Infantil Fonte: G1, 2019. A Educação Infantil, hoje compreendida como primeira etapa da Educação Básica, é a entrada da criança na creche ou na pré-escola, a expressão “pré- escola”, no entanto, preconiza seu passado, compreendido como algo que antecedia o período escolar e apenas preparava para o Ensino Fundamental (BRASIL, 2018). A imagem acima (FIGURA 3) mostra crianças de uma escola de Educação Infantil, interagindo com a gestora da instituição e esta relação que busco ressaltar neste trabalho. Inicialmente encontro que a partir da Constituição Federal de 1988, tornou- se o dever do Estado o atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a 6 anos de idade e, somente, a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 1996, é que a Educação Infantil passa a ser parte integrante da Educação Básica. Já na LDB de 2006 crianças com seis anos de idade completos até a data corte (31 de março) passar a ser do Ensino Fundamental e a Educação Infantil passa a atender crianças de zero a 5 anos. A partir da Emenda Constitucional nº 59/2009, é determinada a obrigatoriedade da Educação Básica dos 4 aos 17 anos, 1 G, refere-se à gestora, um dos sujeitos desta investigação, que serão posteriormente apresentados. 20 isto faz com que todas as crianças de 4 e 5 anos sejam matriculadas em instituições de Educação Infantil. Diante desta trajetória legal há também uma trajetória histórica, pedagógica e um processo de transformação da educação infantil, este caminho já era evidenciado, em 2010, por Barbosa (2010, p. 1) Nos vinte anos transcorridos desde então, a visão constitucional do direito a vaga nas creches e pré-escolas para pais que trabalham vem sendo substituída pela ideia do direito de toda criança a frequentar uma escola de educação infantil. Isso evidencia uma significativa mudança na compreensão dos direitos das crianças e também uma importante aposta na contribuição que a escola de educação infantil pode oferecer às crianças pequenas e suas famílias. Dentro dessa mudança na compreensão do papel da Educação Infantil, o cuidar e o ensinar, que vem se consolidando na Educação Infantil é entendido como um processo indissociável nesta etapa (BRASIL, 2018), permanece edificado e vem agregando novos conceitos e valores. Caberia assim a Educação Infantil ampliar o universo de experiências e habilidades das crianças a partir da acolhida de suas “vivências e seus conhecimentos construídos no ambiente da família e no contexto de sua comunidade, e articulá-los em suas propostas pedagógicas” (BRASIL, 2018, p. 36). O Artigo 4º das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil (BRASIL, 2009), definem a criança como um sujeito histórico e de direitos, que constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura, a partir das interações, relações e práticas cotidianas que vivencia (BRASIL, 2009). O brincar e as interações por ele desencadeadas, acabam por caracterizar o cotidiano infantil e promover o relacionamento dela com outras crianças, com adultos, com seus medos, frustrações, regulando suas emoções e estimulando afeto (BRASIL, 2009). Baseado no brincar e em demais eixos estruturantes que gerem as práticas pedagógicas na educação infantil e edificam as competências gerais objetivadas, a BNCC (BRASIL, 2018) elenca seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento: 21 Quadro 1 - Direitos de aprendizagem e desenvolvimento na Educação Infantil DIREITOS DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL • Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes grupos, utilizando diferentes linguagens, ampliando o conhecimento de si e do outro, o respeito em relação à cultura e às diferenças entre as pessoas. • Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais. • Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamento da gestão da escola e das atividades propostas pelo educador quanto da realização das atividades da vida cotidiana, tais como a escolha das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes, desenvolvendo diferentes linguagens e elaborando conhecimentos, decidindo e se posicionando. • Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na escola e fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia. • Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões, questionamentos, por meio de diferentes linguagens. • Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural, constituindo uma imagem positiva de si e de seus grupos de pertencimento, nas diversas experiências de cuidados, interações, brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição escolar e em seu contexto familiar e comunitário. Fonte: Da autora, baseado na BNCC (BRASIL, 2018), 2019. Diante destes direitos que se espera que possam ser criadas condições para que as crianças aprendam, mobilizando situações onde elas possam desempenhar um papel ativo, onde vivenciem desafios e sintam-se provocadas a resolvê-los, criando significados sobre si, os outros e o mundo social e natural (BRASIL, 2018). 22 Segundo Vygotsky (2001, p. 324) ensino e a aprendizagem são “fonte de desenvolvimento [...] estes processos de desenvolvimento não poderiam produzir- se por si mesmos sem a aprendizagem”. Assim “o bom ensino é aquele que conduz o desenvolvimento, atuando sobre aquilo que ainda não está formado na criança: o ensino deve fazer o desenvolvimento avançar” (VYGOTSKY, 2001, p. 333). Conota-se, a partir do documento e das contribuições de Vygotsky (1896 – 1934), a necessidade da intencionalidade educativa diante das práticas pedagógicas na Educação Infantil. Esta intencionalidade tende a ser garantida nas escolas, mediante a prática de docentes preocupados com o desenvolvimento destes direitos e cientes de seu papel na formação das crianças. Nesse sentido, Elkonin (1960) já afirmava que a intervenção do professor no jogo não suprime a criatividade da atividade lúdica, uma vez que na Educação Infantil, é preciso ensinar na e pela brincadeira. Para garantir o desenvolvimento do ensino Elkonin (1960, p. 499) acreditava tornar-se indispensável a organização da Educação Infantil, para que ela possibilitasse melhores resultados e tivesse a maior influência na formação integral das crianças. Outro grande responsável pela efetividade destas práticas e desta organização é o gestor escolar infantil, que tem em suas mãos a tarefa de gerenciar estes processos, uma vez que Gerenciar uma escola infantil supõe organizar e dar vida a esse ecossistema privilegiado que deve ser a escola. Gestores e educadores infantis, como profissionais do desenvolvimento infantil, são os principais promotores da potencialidade formativa dos contextos. Devemos exercer essa tarefa tanto de forma direta quanto por meio do apoio dos pais, de outros profissionais e membros da comunidade local. (ZABALZA; CERDEIRINÃ, 2015, p. 14). E buscando conhecer um pouco mais sobre o papel do gestor escolar, seja ele da educação infantil ou dos demais níveis de ensino, que traço as linhas da próxima seção, que situa a origem desse profissional e busca pontuar seus desafios atuais nos processos de ensino. 23 2.2 A Gestão Escolar Figura 4 - A gestão escolar Fonte: Da autora, 2019. Gerir, administrar, governar, dirigir, do latim gestio (FIGURA 5), gestativo, gestatório, gestação, nascimento? Manutenção da vida? Assim, procederam-se minhas primeiras reflexões e revisitações ao termo gestão. Desde o resgate do significado no dicionário online2, até a reflexão acerca de sua etimologia o termo me remete, quase que inconscientemente, à manutenção da própria vida. Quando me refiro à vida, é possível pensar na vida que pulsa no ambiente escolar. Vida de estudante, de funcionário, de professor, de coordenador, de gestor. Relações diárias, entrelaçadas na escola que “como um sistema social, se compõe de um conjunto de funções, todas elas mais ou menos inter-relacionadas e todas interinfluentes, de sorte que a maneira como são conduzidas as ações em uma determinada área afetam, de alguma forma, as ações de outra área” (LÜCK, 2009, p.7). Todo sistema, mesmo que constituído por diferentes sujeitos, possui um administrador, um gestor. Paro (2010, p. 765) destaca que, os termos administração 2 Site: https://www.dicio.com.br/gestao/ Acesso em: 20 ago. 2018. 24 e gestão, são sinônimos, classificando em sua essência este ato de gerir como a “utilização racional de recursos para a realização de fins determinados”. Ao longo da caminhada acadêmica, no programa de mestrado em ensino, encontrei colegas que julgavam, e manifestavam-se através de discursos variados, que o gestor eficiente seria aquele que melhor gerenciasse os recursos disponíveis em prol da comunidade que se insere. Prefiro partilhar e trilhar as construções do presente projeto de dissertação orientada pelo preceito de que o gestor esteja imbricado de demais necessidades que talvez possamos julgar superiores ao gerenciamento de recursos, pautando- me, em especial, nas afirmativas de Cury (2005) que conclui que a gestão “implica o diálogo como forma superior de encontro das pessoas e solução dos conflitos”. Ao gestor caberia assim, uma forma diferenciada de gerir, que estaria pautada no diálogo e constituída por diferentes habilidades. Mas quais seriam estas habilidades? Inicialmente trago, a partir das reflexões de Harari (2018), em seu livro titulado “21 lições para o século 21”, uma série de reconstruções e reinvenções sobre nossa maneira de pensar e agir que serão, e estão sendo, necessárias dentro deste século. Segundo Harari (2018, p. 319) “o gênero humano está enfrentando revoluções sem precedentes, todas as nossas antigas narrativas estão ruindo e nenhuma narrativa nova surgiu até agora para substituí-las”. Assim, me parece, que ocorre na gestão escolar, as narrativas acerca de um diretor que saiba destinar recursos e promova uma gestão participativa e democrática (PARO, 2003) vem sendo perpetuadas ao longo dos anos como chaves para uma gestão de qualidade. Sem a pretensão de desqualificar estes pontos da gestão escolar, porém inquietando o leitor sobre a necessidade de repensarmos essa figura do gestor diante da sociedade que vem se constituindo, busco encontrar a partir deste projeto de dissertação características que possam nortear um gestor escolar do século 21 em uma escola do século 21. Não são apenas os alunos que mudaram, os professores também, as relações humanas por si só exigem do profissional que trabalha na escola contemporânea uma postura diferenciada. Harari ínsita a necessidade persistente das escolas atuais proverem aos seus alunos habilidades predeterminadas, como fórmulas variadas, diferentes línguas e programações, 25 esquecendo das prováveis habilidades essenciais. Estas habilidades segundo Harari (2018, p. 323) estariam pautadas nos ...quatro Cs- pensamento crítico, comunicação, colaboração e criatividade. Num sentido mais amplo, as escolas deveriam minimizar habilidades técnicas e enfatizar habilidades para propósitos genéricos na vida. O mais importante de tudo será a habilidade para lidar com mudanças, aprender coisas novas e preservar seu equilíbrio mental em situações que não lhe são familiares. As mudanças então, são constantes, cotidianas e não me caberia aqui ignorá-las, ou acreditar que a escola possa estar alheia às mesmas. Vislumbrar uma escola que carregue em sua filosofia habilidades capazes de edificar uma sociedade melhor, deveria ser o centro neste processo de construção de uma sociedade que vislumbra o futuro, “na realidade, uma organização que criasse o futuro. Nem sempre é assim. A escola está firmemente fincada em conceitos do século XVII, pouco avançou no aspecto estrutural do poder” (CAMPOS, 2017, p. 124). Esta estrutura perpetuada do poder é retratada por Paro (2007, p. 84) onde afirma que ... as escolas dos vários sistemas de ensino do país se organizam de modo bastante semelhante, no formato piramidal, em que, no topo, fica a direção escolar; logo abaixo hierarquicamente os profissionais que prestam assistência e supervisão aos professores; a seguir, encontra-se o corpo docente e, logo abaixo, os alunos. O autor trilha seus estudos questionando esta estrutura e potencializando a necessidade de uma gestão democrática, ou ainda, como encontro nos estudos de Lück (2009) uma gestão participativa, que propicie a participação dos diferentes componentes da dita “pirâmide”. Esta busca por melhorias na gestão torna-se visível, em especial quando apontadas por dispositivos de avaliação externa, buscando o que Hernandez (2009) define como buena gestión, ou boa gestão. Infelizmente, segundo Hernandez (2009), o foco fica muitas vezes no local físico e não nos recursos humanos, o que não implica, diretamente, na capacidade de tomada de decisão dos gestores. Por mais que em muitas instituições de Ensino percebamos a existência de uma Equipe Gestora, que pode ser composta por orientador, supervisor 26 educacional, vice-diretores, membros da diretoria do Círculo de Pais e Mestres (CPM) e membros da secretaria, busco nos apontamentos latentes que centralizam na figura do diretor a responsabilidade última destas equipes. Paro (2007, p. 104), potencializa na figura do diretor a importância da tomada de decisão de toda a equipe, onde ele afirma que “queira-se ou não, a figura do diretor de escola ainda é um dos determinantes mais importantes da qualidade dos serviços desenvolvidos pela instituição escolar”. Sendo assim, me cabe aqui refletir sobre a constituição deste papel, em especial, e as possíveis características que o mesmo evidencia na sua prática. Busco assim, nas próximas linhas, reconhecer e situar o papel do diretor escolar. 2.3 A figura do diretor escolar e seu papel no ensino Figura 5 - A figura do diretor escolar Fonte: Da autora, 2019. 27 “Se não se comportar irá até a sala da diretora (FIGURA 5)! Atenção todos, pois, o diretor irá falar! Colega, o diretor marcou uma reunião comigo será que algum pai de aluno veio reclamar? O diretor precisa ver isso logo, mandar arrumar essa porta antes que emperre de vez! ” (AUTORA, 2019). Poderia aqui, estender-me com diferentes exclamativas voltadas ao cotidiano do diretor escolar, que certamente preencheriam diversas páginas. Ciente da relevância do papel do diretor em diferentes recortes da escola, vale ressaltar que “as reflexões acerca da temática de administração escolar são preocupações desde os anos 1940” (ROSA, 2016, p. 21). Não posso classificar assim, meu sujeito de interesse de pesquisa como inédito, mas posso acreditar e defender suas “mutações” ao longo das décadas. Desde os estudos de Antônio Carneiro Leão (1939), até as obras de Lourenço Filho (1972) sobre a educação escolar e a ênfase na importância da organização escolar (REGINATTO et al., 2015), situam-se os entrelaces de tal organização com a esfera legal. Encontro assim, na Lei de Diretrizes e Bases (LDB), mais especificamente no artigo 12, as incumbências dos estabelecimentos de Ensino: I - elaborar e executar sua proposta pedagógica; II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros; III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas; IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente; V - prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento; VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola; VII - informar os pais e responsáveis sobre a frequência e o rendimento dos alunos, bem como sobre a execução de sua proposta pedagógica. VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre a execução da proposta pedagógica da escola; (Redação dada pela Lei nº 12.013, de 2009) VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz competente da Comarca e ao respectivo representante do Ministério Público a relação dos alunos que apresentem quantidade de faltas acima de cinquenta por cento do percentual permitido em lei. (Incluído pela Lei nº 10.287, de 2001) 28 VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município a relação dos alunos que apresentem quantidade de faltas acima de 30% (trinta por cento) do percentual permitido em lei; (Redação dada pela Lei nº 13.803, de 2019) IX - promover medidas de conscientização, de prevenção e de combate a todos os tipos de violência, especialmente a intimidação sistemática (bullying), no âmbito das escolas; (Incluído pela Lei nº 13.663, de 2018) X - estabelecer ações destinadas a promover a cultura de paz nas escolas. (Incluído pela Lei nº 13.663, de 2018) Transfigura-se como tarefa inconcebível, desvincular o diretor escolar de qualquer uma destas incumbências, uma vez que o mesmo tem “a responsabilidade quanto à execução eficaz da política educacional do sistema e desenvolvimento pleno dos objetivos educacionais” (LÜCK, 2009, p. 16). Não há a pretensão de que, ele sozinho, estejam atendendo todas elas, sua figura, porém, responde em primeira instância o cumprimento das mesmas, pois, segundo estatutos vigentes, é “aquele que ocupa o cargo hierarquicamente mais elevado no interior de uma unidade de ensino” (PARO, 2010, p. 769). Ainda devido a sua posição central na escola, o “desempenho de seu papel exerce grande influência (tanto positiva, como negativa) sobre todos os setores e pessoas da escola” (LÜCK, 2009, p. 16). O diretor vai influenciando o ambiente que atua, e diante desta seu desempenho e influência, que depende, a qualidade do ambiente escolar, o desempenho do quadro pessoal e os próprios processos de ensino (LÜCK, 2009). Nessa direção é importante refletir aqui, sobre o significado de ensino, que segundo Anastasiou (1997) deriva do latim in signare e significa marcar com um sinal da vida, sinal de busca por conhecimento. Ensinar, torna-se, “uma tarefa que inclui um uso intencional (algo ou alguém se destina a fazer, portanto, com meta explícita) e um uso de êxito (resultado bem-sucedido de ação). Inclui, assim, “um conjunto de esforços e decisões práticas que se refletem em caminhos propostos. ” (ANASTASIOU,1997, p. 95). O diretor não fica isolado deste processo de ensino, faz parte dele, seu trabalho se estende em tamanha amplitude, pois atende desde o aluno, às famílias, à comunidade e, consequentemente, a sociedade (SENA, 2014). 29 Torna-se pertinente, ressaltar que a partir das definições de Anastasiou (1997) sobre ensino e das proposições de Sena (2014) acerca do papel do gestor neste processo, reforça-se a implicação expoente desta pesquisa, o envolvimento do gestor no ensino. Sua intencionalidade no processo é definida seja de forma direta, no cotidiano, ao entrar nas salas, ao repreender um aluno por uma postura incorreta, ao receber as famílias, acolher as crianças, ou indireta quando busca melhorias para o ambiente físico, ou estimula a formação pedagógica de seus professores. Lück (2009) afirma que é responsabilidade do gestor a tarefa de promover na escola este ambiente de aprendizagem para comunidade e que a “ação do diretor escolar será tão limitada quão limitada for sua concepção sobre a educação, a gestão escolar e o seu papel profissional na liderança e organização da escola” (LÜCK, 2009, p. 15). É possível compreender assim, que o papel do diretor não é simples, pois quanto “maior for a escola e mais complexo seu ambiente, mais árdua se torna a tarefa do diretor para desincumbir-se do seu papel” (LÜCK, 2009, p. 18). Esta árdua tarefa exige preparo, maleabilidade aos diferentes acontecimentos, ponderação nas decisões, pois “cada vez mais os espaços escolares estão se sofisticando [...] diretor e equipe gestora devem ser qualificados, para tanto é importante a preparação dos gestores para assumirem estas tarefas” (CAMPOS, 2017, p. 174). Esta preparação pode ser encontrada em cursos de formação específicos para atuação na gestão escolar, porém, eles não serão a única garantia de sucesso nesta tarefa. Afirmar que o gestor precisa estar imbuído de diferentes características e atravessado por diferentes práticas, torna-se outro ponto relevante. Proponho assim, pensarmos sobre empreendedorismo e posteriormente atrelá-lo às práticas de gestores escolares. 30 2.4 A lâmpada, o empreendedorismo e a educação empreendedora Figura 6 - A lâmpada, o empreendedorismo e a educação empreendedora Fonte: Da autora, 2019. Empreendedorismo? O que lhe parece leitor? Palavra em voga na mídia? Palavra que lhe remete a implementação de novos negócios? Inicialmente, talvez, eu possa corroborar com as afirmativas acima, uma vez que a palavra empreendedorismo é constantemente evidenciada e veiculada em nosso cotidiano, porém, torna-se necessário refletir tamanha evidência. Trata-se de uma palavra que carrega consigo diferentes contextualizações, mas acima de tudo forte potencialidade. Mas pouco sabia eu, sobre empreendedorismo em meados de 2011, quando a coordenadora da pesquisa em que eu atuava, e hoje minha orientadora de mestrado, falou-me sobre a lâmpada (FIGURA 6). Não é a lâmpada das ideias, nem a lâmpada mágica do Aladim3, mas a lâmpada que, naquela época, estava no teto sobre nossas cabeças. Se esta lâmpada, que estava ao lado de tantas outras naquela sala, parasse de funcionar, 3 Aladim é um personagem fictício do conto de origem árabe conhecido como Aladim e a Lâmpada Maravilhosa. O conto de Aladim é um dos mais famosos da coletânea árabe As Mil e Uma Noites. 31 quais seriam os movimentos necessários dentro de uma instituição para substituí- la? Em instituições maiores, como era o caso da universidade em que estávamos, existe um setor responsável por estes reparos, no entanto, este setor precisa ser informado sobre a lâmpada queimada para que ocorra a substituição. Uma sala utilizada por diferentes professores e bolsistas, limpa por diferentes equipes de limpeza, que possui uma única, dentre várias outras, lâmpada queimada. Mas saiba leitor, o indivíduo que entrar naquela sala, observar a lâmpada queimada e informar o setor de manutenção, está tendo um ato empreendedor, assim, está sendo empreendedor. Empreendedor porque conseguiu enxergar além de suas atribuições, conseguiu melhorar um local comum, fez além do que lhe competia, tomou iniciativa, pois, “Iniciativa é uma das características mais poderosas que você pode ter” (PESCE, 2012, p. 147). Ao realizar uma busca, referente ao verbo “empreender”, em dicionários de Língua Portuguesa, encontro como ato de decidir realizar ou apenas, realizar. O empreendedorismo está assim, “relacionado à resolução de problemas do dia-a-dia, de forma ágil e inovadora, e ao desenvolvimento de novas oportunidades de crescimento profissional e social” (AUDY; MOROSINI, 2006, p. 61). Mas o termo não foi sempre assim reconhecido, em minhas diferentes pesquisas encontro o surgimento do empreendedorismo atrelado ao século 18, no contexto da Revolução Industrial. Afirma-se ainda que o termo teria sido utilizado pela primeira vez pelo economista irlandês Richard Cantillon (1680 – 1734), buscando nomear o ato de correr riscos (REGINATTO et al., 2015). Conhecido em francês como entrepreneur e em inglês como entrepreneurship, o empreendedorismo ganhou contornos atrelados à inovação por Schumpeter (1992), no século 20 (REGINATTO, et al., 2015). Gosto, porém, de pensar que “o próprio homem primitivo, por exemplo, já possuía uma veia empreendedora. Para sobreviver naqueles tempos remotos era necessário construir diversas ferramentas de sobrevivência” (REGINATTO, 2014, p. 15). Independente a quem atrelarmos a origem do empreendedorismo, torna-se evidente sua validade ao longo dos séculos, bem como na sociedade atual. Diante desta afirmativa Dornelas (2012, p. 20) reflete, se o “papel do empreendedor foi sempre fundamental na sociedade. Então por que o ensino do empreendedorismo 32 está se intensificando agora? ”. Dornelas segue buscando responder a própria indagação e evidencia que com o avanço tecnológico atual a urgência de novos empreendedores torna-se bem maior que no passado, haveria assim, uma necessidade de “formalizar conhecimentos, que eram apenas obtidos empiricamente no passado” (DORNELAS, 2012, p. 20). Dolabela acredita que eis aí um dos propósitos da educação empreendedora, buscar novas realizações, mas também romper obstáculos e derrubar mitos, como “o mito de que empreender é coisa para poucos, um saber impossível de ser ensinado” (DOLABELA, 2003, p. 30). Gostaria assim, de um mundo com mais pessoas capazes de identificar a lâmpada queimada, responsabilizar-se por ela, trocá-la, mas também, talvez, projetar uma nova, mais econômica e com maior luminosidade. Estaria aí o desafio da educação empreendedora de “construir novos valores em uma sociedade heterogênea” (DOLABELA, 2003, p. 33), onde os diferentes, mesmo pensando diferente, seriam capazes de agir pelo bem comum. A necessidade de indivíduos proativos e aptos a empreender reforçam a edificação de uma educação empreendedora que “deve desenvolver a autoestima e valorizar o potencial de persistência dos alunos diante de resultados não esperados, diante do erro e do que os outros consideram fracasso” (DOLABELA, 2003, p. 30). Ainda segundo Dolabela, pensarmos em uma educação empreendedora, em uma pedagogia empreendedora, seria potencializar uma estratégia didática que desenvolvesse a capacidade empreendedora dos alunos, isto desde a educação infantil. Esta estratégia é norteada pela denominada “Teoria Empreendedora dos Sonhos”, em que “em um primeiro momento o aluno desenvolve um sonho, um futuro onde deseja chegar, estar ou ser” (DOLABELA, 2003, p. 55). Motivar os alunos a buscarem seus sonhos, através da capacidade empreendedora, torna-se algo possível, valendo-se de pequenas rupturas no sistema de ensino e na própria sala de aula. Diante disso é possível afirmar que são “empreendedores os profissionais de ensino que estão silenciosamente fazendo a revolução na educação, formando empreendedores e tornando-se empreendedores” (DOLABELA, 2003, p. 36). Mas quem são estes profissionais? Quase que momentaneamente vem à mente a figura do professor e, certamente, é 33 dele grande parte da tarefa, pois a “A educação empreendedora que defendo neste trabalho quer oportunizar uma transformação positiva nas instituições de ensino, através de professores empreendedores. E essas transformações têm o objetivo de ressignificar as dimensões pessoais, pedagógicas e culturais que permeiam o ato educativo” (MARTINS, 2010, p. 39). Mas as transformações não ocorrem isoladas, se para que o aluno se torne um empreendedor, seu professor precisa estar se tornando empreendedor, como acredita Dolabela (2003). Para isso, o professor precisa estar em um ambiente que propicie e ampare práticas empreendedoras. Nesse sentido acreditar em uma escola empreendedora pode ser uma caminhada longa, porém observar que o gestor desta instituição acredite na educação empreendedora e se perceba como empreendedor pode ser o primeiro passo, pois “se há uma proposta de ação, então deve-se investir em uma gestão escolar empreendedora. A gestão é a chave neste processo de mudança e, inaceitavelmente, esta questão não aparece como relevante nos fóruns de debate sobre educação” (CAMPOS, 2017, p. 168). Diante deste passo inicial, porém potente, faz-se relevante esta pesquisa que buscou averiguar quais são os reflexos que repercutem no ensino de uma escola de Educação Infantil a partir das ações de uma gestora empreendedora. No entanto, preciso, inicialmente, reconhecer as características de um gestor escolar empreendedor e voltando-se a esta busca que se constitui a próxima seção. 34 2.5 As Características de um gestor escolar empreendedor Figura 7 - As Características de um Gestor Escolar Empreendedor Fonte: Da autora, 2019. O espelho reflete a imagem, reflete o que vemos, mas pode embaralhar as letras, tornar o direito esquerdo e o esquerdo direito (FIGURA 7), a propósito, lembro-me que quando criança, isto me era um grande atrativo. Há uma conformidade com aquilo que vemos diante do espelho, o reflexo diário de uma imagem comum, mas em certos dias com olhos mais criteriosos observamos uma ruga nova, uma espinha, uma mancha, que, por hora, nos causa espanto. O proposto aqui é um olhar para si, reconhecer, inicialmente, as características de um gestor escolar empreendedor, mas quais seriam estas características? Para pontuá-las, antes que possam ser utilizadas nesta pesquisa, busquei em diferentes autores suas definições sobre as características de um perfil empreendedor. Começo meu passeio pelas características apontadas por Dolabela (2003): 35 Quadro 2 - Características do empreendedor, segundo Dolabela (2003) 1. Perseverança 2. Iniciativa 3. Criatividade 4. Protagonismo 5. Energia 6. Rebeldia a padrões impostos 7. Capacidade de diferenciar-se 8. Comprometimento 9. Capacidade incomum de trabalho 10. Liderança 11. Orientação para o futuro 12. Imaginação 13. Proatividade: define o que deve aprender a partir do que deseja fazer 14. Tolerância a riscos moderados 15. Alta tolerância a ambiguidades e incertezas Fonte: Da autora, adaptado de Dolabela, (2003, p. 58). O autor evidencia, em especial, a capacidade que o empreendedor tem de destacar-se, pensando e agindo diferentemente dos demais. Na sequência, revisito as características sugeridas por Dornelas (2012), sendo na mesma quantidade das estabelecidas por Dolabela (2003), porém, pontuando novas questões. Quadro 3 - Características do Empreendedor segundo Dornelas (2012) Características dos Empreendedores de Sucesso 1. São visionários Eles têm a visão de como será o futuro para seu negócio e sua vida e, o mais importante: eles têm a habilidade de implementar seus sonhos. 2. Sabem tomar decisões Eles não se sentem inseguros4, sabem tomar as decisões corretas na hora certa, principalmente nos momentos de adversidade, sendo isso um fator chave para o seu sucesso. E mais: além de tomar decisões, implementam suas ações rapidamente. 3. São indivíduos que fazem a diferença Os empreendedores transformam algo de difícil definição, ou seja, uma ideia abstrata, em algo concreto que funciona, transformando o que é possível em realidade. Sabem agregar valor aos serviços e produtos que colocam no mercado. Continua 4 Cabe aqui uma ressalva, o empreendedor de sucesso, segundo Dornelas não se sente inseguro, porém, certamente o gestor escolar empreendedor, por atuar em um ambiente coletivo, pode sim sentir-se inseguro em alguns momentos e repensar certas decisões. 36 4. Sabem explorar ao máximo as oportunidades Para a maioria das pessoas, as boas ideias são daqueles que as veem primeiro, por sorte ou acaso. Para os visionários (os empreendedores), as boas ideias são geradas a partir daquilo que todos conseguem ver, mas não identificaram algo prático para transformá-las em oportunidade, por meio de dados e informação. Para Schumpeter (1949), o empreendedor é aquele que quebra a ordem corrente e inova, criando mercado com uma oportunidade identificada. Para Kirzner (1973), o empreendedor é aquele que cria um equilíbrio, encontrando uma posição clara e positiva em um ambiente de caos e turbulência, ou seja, identifica oportunidades na ordem presente. Porém, ambos são enfáticos em afirmar que o empreendedor é um exímio identificador de oportunidades, sendo um indivíduo curioso e atento a informações, pois sabe que suas chances melhoram quando seu conhecimento aumenta. 5. São determinados e dinâmicos Eles implementam suas ações com total comprometimento. Atropelam as adversidades, ultrapassando os obstáculos, com uma vontade ímpar de “fazer acontecer”. Mantêm-se sempre dinâmicos e cultivam um certo inconformismo diante da rotina. 6. São dedicados Dedicam 24h por dia5, 7 dias por semana, ao seu negócio. Comprometem o relacionamento com amigos, com a família, e até mesmo com a própria saúde. São trabalhadores exemplares, encontrando energia para continuar, mesmo quando encontram problemas pela frente. São incansáveis e loucos pelo trabalho. 7. São otimistas e apaixonados pelo que fazem Eles adoram o trabalho que realizam. E é esse amor ao que fazem o principal combustível que os mantêm cada vez mais animados e autodeterminados, tornando-os os melhores vendedores de seus produtos e serviços, pois sabem, como ninguém, como fazê- lo. O otimismo faz com que sempre enxerguem o sucesso, em vez de imaginar o fracasso. 8. São independentes e constroem o próprio destino Eles querem estar à frente das mudanças e ser donos do próprio destino. Querem ser independentes, em vez de empregados; querem criar algo novo e determinar os próprios passos, abrir os próprios caminhos, ser o próprio patrão e gerar empregos. 9. São líderes e formadores de equipes Os empreendedores têm um senso de liderança incomum. São respeitados e adorados por seus funcionários, pois sabem valorizá-los, estimulá-los e recompensá-los, formando um time em torno de si. Sabem que, para obter êxito e sucesso, dependem de uma equipe de profissionais competentes. Sabem ainda recrutar os melhores para assessorá-los nos campos onde não detêm o melhor conhecimento. 10. São bem relacionados (networking) Os empreendedores sabem construir uma rede de contatos que os auxiliam no ambiente externo da empresa, junto a clientes, fornecedores e entidades de classe. 11. São organizados Os empreendedores sabem obter e alocar os recursos materiais, humanos, tecnológicos e financeiros, de forma racional, procurando o melhor desempenho para o negócio. 12. Planejam, planejam, planejam Os empreendedores de sucesso planejam cada passo de seu negócio, desde o primeiro rascunho do plano de negócios, até a apresentação do plano a investidores, a definição das estratégias de marketing do negócio, etc.; sempre tendo como base a forte visão de negócio que possuem. Continua 5 Em contrapartida a ideia de Dornelas (2012), Dolabela (2003) acredita que a própria vida social, faz com que o empreendedor possa repensar suas ações em um lócus diferente daquele que empreende. 37 13. Possuem conhecimento São sedentos pelo saber e aprendem continuamente, pois sabem que quanto maior o domínio sobre um ramo de negócio, maior é sua chance de êxito. Esse conhecimento pode vir da experiência prática, de informações obtidas em publicações especializadas, em cursos ou, mesmo, pode vir de conselhos de pessoas que montaram empreendimentos semelhantes. 14. Assumem riscos calculados Talvez essa seja a característica mais conhecida dos empreendedores. Mas o verdadeiro empreendedor é aquele que assume riscos calculados e sabe gerenciar o risco, avaliando as reais chances de sucesso. Assumir riscos tem relação com desafios. E para o empreendedor, quanto maior o desafio, mais estimulante será a jornada empreendedora. 15. Criam valor para a sociedade Os empreendedores utilizam seu capital intelectual para criar valor para a sociedade, com a geração de empregos. Dinamizam a economia, inovando, sempre usando sua criatividade em busca de soluções para melhorar a vida das pessoas. Fonte: Dornelas, (2012, p. 5-7). O autor aqui também ressalta o poder de destaque do empreendedor, mas pontua em especial sua capacidade de planejar e qualificar-se, bem como respalda possíveis fracassos, uma vez que os mesmos assumam riscos, mesmo que calculados. Na sequência trago as dez Características do Comportamento Empreendedor desenvolvidas e trabalhadas pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE)6, sendo que, as mesmas são base para o ensino do empreendedorismo em muitas regiões (ESCARLATE, 2010), inclusive a universidade que estudo utiliza-se destas características nas disciplinas de Empreendedorismo. Quadro 4 – Características do Empreendedor segundo o SEBRAE Características do Comportamento Empreendedor (CCEs) 1. Estabelecimento de metas; 2. Busca de Oportunidades e Iniciativa; 3. Busca de Informações; 4. Persuasão e Rede de Contatos; 5. Exigência de Qualidade e Eficiência; Continua 6 SEBRAE- Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, trata-se de uma entidade privada brasileira de serviço social, sem fins lucrativos, que visa a capacitação e o desenvolvimento econômico de micro e pequenas empresas, estimulando o empreendedorismo no país. Disponível em:<http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae>. Acesso em: 20 out. 2019. http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae 38 6. Planejamento e Monitoramento Sistemáticos; 7. Comprometimento; 8. Persistência; 9. Disposição para correr riscos calculados; 10. Independência e Autoconfiança. Fonte: Escarlate/SEBRAE (2010, p. 16). Apesar de valer-me constantemente das características do Sebrae no desenvolvimento de meus estudos e minhas escritas acerca do perfil empreendedor, encontrei no livro de Márcio Campos (2017) alguns pontos julgados pelo autor como essenciais na gestão empreendedora das instituições de ensino e que, acredito, serem válidos nesta composição. Quadro 5 – Gestor Empreendedor segundo Campos (2017) 1. Ouse, inove e planeje 2. A necessidade da criação de uma fundação para apoio ao ensino 3. Gestão Participativa 4. A valorização dos processos gerenciais 5. O uso das técnicas de planejamento estratégico Fonte: Da autora, adaptado de Campos (2017). Os apontamentos do autor vão sendo descritos mediante a sua experiência em uma instituição de ensino, me interessa quando ele aponta, em especial, a gestão participativa e a valorização dos processos gerenciais. Os processos gerenciais tratam-se, segundo o autor, dos indicativos de avaliações externas que são comumente atrelados a questões burocráticas, mas suas regulamentações tornam-se imprescindíveis para o repasse de verbas e a valorização da escola. Outra necessidade apontada por Campos é de uma fundação de apoio, que em uma escola deve ser regulamentada pelo Projeto Político Pedagógico, atual e vivenciado na prática. Dentre as características elencadas acima, torna-se possível vislumbrar a seleção de algumas características que caracterizem este Gestor Escolar Empreendedor. Isto deve-se ao fato de que algumas refletem sinônimos, ou repetem-se nos quatro mapeamentos. No entanto, em um último resgate resolvi 39 voltar-me à um mapa conceitual construído em 2014, por mim a partir do meu Trabalho de Conclusão de Curso de Pedagogia. Na ocasião, a pesquisa se desenvolveu diante da problemática inicial de identificar qual a compreensão que os Gestores Escolares dos Municípios de Roca Sales, Encantado, Imigrante e Colinas tinham sobre o empreendedorismo na educação. Estas características foram organizadas após leituras e análise dos dados obtidos na época. Figura 8 – O gestor escolar empreendedor Fonte: Reginatto, 2014. A presença das expressões gestão democrática e participativa, conotam a necessidade de não se fazer gestão sozinho. Já a liderança faz-se necessária, bem como o estabelecimento do sonho que seria alcançado mediante planejamento, interesse grupal e paixão pelo que se faz. Analisando estes quatro levantamentos e buscando compilar as diferentes características do empreendedor, formando as dez características do gestor escolar empreendedor, estruturei o quadro a seguir: 40 Quadro 6 - As dez características do Gestor Escolar Empreendedor Características do Gestor Escolar Empreendedor 1. Sonha e registra os sonhos -entrelace entre Dolabela (2003) e Lück (2009)- O gestor escolar empreendedor sonha com diferentes possibilidades para a educação e, em especial, para a escola que atua, mas além de sonhas ele registra seus sonhos e estabelece metas para realizá-los, sem desistir jamais. 2. Possui Rede de Contatos -baseado em Dornelas (2012) e SEBRAE (2010) - Como empreendedor o gestor sempre tem, mantém e amplia seus contatos. Seja o número daquele encanador que faz o serviço logo, ou conhecer alguém que possa indicar um bom fornecedor de mantimentos, ou manter um bom relacionamento com pais de ex-alunos que virão dar uma “mãozinha” no que a escola precisar. 3. Planeja e replaneja - baseado em SEBRAE (2010) e Campos (2017)- Sim, planejamento. O gestor escolar empreendedor planeja os gastos, planeja a reunião, planeja o quadro pessoal, planeja como vai realizar aquela reforma de que a escola tanto necessita, planeja. 4. Lidera - baseado em Dolabela (2003) e Reginatto (2014)- Liderança é ter respeito perante os colegas, conseguir delegar com autoridade, mas sem autoritarismo, assumindo uma posição de guia do grupo. 5. Busca conhecimento -baseado em Dornelas (2012) e SEBRAE (2010) - Se o gestor não sabe fazer os slides da reunião ele pede auxílio, mas ele busca, acima de tudo aprender como fazer, justamente porque o conhecimento lhe move. Um aluno novo na escola com uma síndrome rara, ele estuda e busca compreender melhor. O formulário novo enviado pela mantenedora, ele procura compreender como preencher e qual a sua função. É o primeiro a interessar-se pelas formações continuadas. Continua 41 6. Escuta -entrelace entre Lück (2009) e Reginatto (2014)- O gestor escolar empreendedor promove uma gestão participativa, escutando seus professores, funcionários, alunos e a comunidade escolar. Ele oportuniza estes momentos, mostra-se aberto e utiliza o que escuta em prol da instituição e dos sujeitos que a compõem. 7. Inova - baseado em SEBRAE (2010) e Campos (2017)- O gestor escolar empreendedor está sempre observando sua realidade e vislumbrando maneiras de melhorá-la. As mudanças que implementa, por mais pequenas que sejam, passam a ser inovações daquilo que era constituído. Conformar-se com o que está perpetuado não é seu perfil, no entanto rever as inovações que não obtiveram êxito torna-se fundamental. 8. Se Compromete - baseado em Campos (2017) e Lück (2009)- O gestor escolar empreendedor é o responsável maior por sua instituição. Mesmo que não seja ele que esqueceu o portão aberto, ele questiona o responsável, buscando reaver a questão. Ele assume a instituição, dedicando-se às suas incumbências com afinco, buscando sempre o seu melhor. 9. É organizado - baseado em Lück (2009) e Dornelas (2012)- Organização é palavra de ordem para que o trabalho do gestor ocorra de forma empreendedora. Organizar os papéis, as metas, o horário da equipe, ou seja manter o equilíbrio e o fluxo da instituição, requer registros sistêmicos e organizados. 10. Integra e está integrado - baseado em Reginatto (2014) e Dornelas (2012)- O gestor escolar empreendedor busca promover a integração de sua equipe, potencializando um trabalho em conjunto. Também reconhece sua escola como parte de uma rede maior, que também carrega ideais e exigências. Fonte: Da autora, 2019. A partir desta revisão teórica e da compilação das características, formando as dez que foram utilizadas nesta investigação, é o momento de percorrermos a caminhada metodológica que deu contornos à esta pesquisa. 42 3 A CAMINHADA METODOLÓGICA Figura 9 - A caminhada metodológica Fonte: Da autora, 2019. Nem sempre encontraremos o pote de ouro no final do arco-íris, nem o arco- íris no final do caminho, mas quando isso acontece não é sinônimo de mera sorte, é sinal de que passamos pela tempestade e podemos contemplar a bonança. A fotografia (FIGURA 9) revela isto, uma viagem difícil, a primeira de 2019, com tempestade, fluxo intenso de automóveis, mas ao final um destino seguro e um arco- íris como marco de chegada. Nesta investigação me propus a percorrer certos caminhos, que me deram maior segurança de trajetória, bem como, me impulsionaram a atingir os objetivos 43 aqui propostos. Busco assim, apresentar na sequência, o conjunto de procedimentos que foram utilizados no decorrer desta rota, mesmo que sem a garantia de arco-íris no caminho. A presente investigação possui uma abordagem qualitativa, de cunho descritivo caracterizada como uma aproximação de um estudo de caso, definido por Yin (2010, p. 27) como “uma estratégia escolhida ao se examinarem acontecimentos contemporâneos, mas quando não se podem manipular comportamentos relevantes”. Buscando elucidar melhor o contexto deste estudo apresento, na sequência, o local em que se deu, bem como os sujeitos investigados e os instrumentos utilizados. 3.1 Minha cidade cercada de montanhas e a escola do morro Figura 10 - Minha cidade cercada de montanhas Fonte: Zuleica Lutz7, 2017. 7 Zuleica Lutz é uma fotógrafa local, a imagem encontra-se disponível para o público em sua página na rede social. Disponível em:<https://www.facebook.com/zuleicalutzfotografia/>. Acesso em: 21 out. 2019. 44 Uma cidade “cercada de montanhas”8 que se desenvolveu às margens do Rio Taquari e foi colonizada por “povos hoje irmãos”, alemães e italianos, como bem menciona seu Hino. Chamada anteriormente de Conventos Vermelhos, graças às águas barrentas do Rio Taquari que banham a cidade, Roca Sales foi emancipada em 18 de dezembro de 1954. O nome do município deu-se em homenagem ao encontro dos Presidentes do Brasil, Campos Sales, e do presidente da Argentina, Argentino Roca. Roca Sales faz divisa com Encantado, Colinas, Santa Tereza e Arroio do Meio. Tem sua economia na agricultura, em empresas calçadistas e de alimentos. Possui uma área de 208,630 Km² e tem cerca de 11.300 habitantes (IBGE, 20189). Minha cidade natal, sim, cidade de onde saí para estudar, trabalhar e que atualmente, retorno como membro do corpo docente municipal e estadual. A cidade possui doze escolas, sendo duas de Educação Básica Privadas, uma de Educação Básica Estadual e nove Escolas Municipais. O número estimado de alunos na Educação Infantil é de 350, já no Ensino Fundamental são cerca de 590 alunos e na Educação de Jovens e Adultos, uma base de 70 alunos10. Dentre as nove escolas municipais três são de Ensino Fundamental e seis de Educação Infantil. A escola escolhida para a realização da investigação foi uma escola municipal de educação infantil. Uma escola pequena, da qual já carreguei o logo no peito como funcionária. Hoje, em novas dependências localizada em um dos bairros mais altos da cidade, no alto de um morro, ela atende crianças de 4 meses até 4 anos, tendo em torno de 60 crianças, treze professores e monitores, duas funcionárias de apoio e uma diretora. Fundada em 2 de agosto de 2005 a escola é acolhedora, creio que em especial pelo aconchego de seu espaço familiar, por tratar-se de uma casa, que foi adaptada para o funcionamento da mesma. Tem um belo jardim, com brinquedos 8 As “aspas” ocorrem devido as expressões serem retiradas do Hino de Roca Sales, sendo a letra de Natalina Arcari e Augusto Grün, música de Gilberto Pozzoco e arranjo de Léo Führ, instituído sob Lei Municipal de Nº 1.508/15. 9 Dados obtidos no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Disponível em: <https://ibge.gov.br/>. Acesso em: 22 out. 2019. 10 Dados obtidos junto à Secretaria Municipal de Educação, após as matrículas no mês de fevereiro de 2019. 45 bem conservados, todo seu interior encontra-se bem pintado, limpo, organizado, tem trabalhos das crianças espalhados pela escola, mas nada agressivo aos olhos. As salas, no entanto, refletem a adaptação, sendo um tanto pequenas, permitindo pouca mobilidade das crianças e refletindo a necessidades de móveis sob medida, o mesmo pode-se afirmar do refeitório comporta poucas turmas o que reflete a necessidade de escala de horários. A escola é conhecida na cidade como a melhor escola de educação infantil do município, em especial, pelo trabalho desenvolvido, mas a escolha da instituição não se deu pela sua fama e sim pelas características de um de seus sujeitos. Descrevo na próxima seção o desenrolar desta escolha e nomeio o sujeito que motivou a mesma. 3.2 Os sujeitos da caminhada Figura 11 - Os sujeitos da caminhada Fonte: Da autora, 2018. A simbologia das mãos sempre me pareceu muito pertinente (FIGURA 11), afinal, tudo que realizamos está sendo sustentado por alguém, não é isolado. Minha escrita tem um leitor, um orientador e o embasamento de pesquisadores/autores. 46 Na escola não é diferente, não estamos sozinhos, não agimos sozinhos, não ensinamos sem aprender, não aprendemos sem ensinar. Ao ingressar no quadro do magistério municipal, mesmo que me sentido inicialmente sozinha, me deparei com outras tantas mãos e mentes. Na primeira semana de trabalho iniciei minha participação em um programa de formação continuada, instituído pelo município, no qual o público alvo eram os professores e gestores que atuam com crianças de 0 a 9 anos. As nove escolas municipais, sendo duas comunitárias mantidas pelo poder público municipal, foram convidadas. No entanto, apesar da grande participação dos docentes, apenas três gestores11, no caso diretores escolares, participaram, sendo um do Ensino Fundamental e dois da Educação Infantil. Ao definir o problema de pesquisa e com o desejo e a oportunidade de realizar a investigação no município em que atuo, precisava definir os sujeitos de minha investigação. Optei por uma seleção intencional partindo dos três gestores que, ao meu ver, já possuíam um perfil diferenciado, e até mesmo empreendedor, por se proporem a participar da formação. Essa atitude dos gestores vai ao encontro da definição do SEBRAE (2010) acerca de pessoas com perfil empreendedor serem indivíduos que buscam informações, ou conforme as características do gestor empreendedor, buscam conhecimento. Dentre os três gestores, tive uma ressalva imediata, por ser diretor da instituição que atuo. Restaram assim duas gestoras que atuam em Escolas Públicas de Educação Infantil do Município, uma delas, no entanto, era iniciante na escola, com tempo inferior a um mês de atuação e afirmava estar se familiarizando com o desafio e não saber se permaneceria no cargo, o que também me dava insegurança para prosseguir a investigação. Consequentemente restou uma gestora de uma escola de educação infantil, em um contato inicial com a secretaria de educação e posteriormente com a gestora, tive o aceite da instituição para a investigação. 11 A escolha dos diretores das escolas municipais de Roca Sales é realizada mediante indicação da autoridade competente, que, geralmente, realiza a seleção dentre o quadro de professores do município. 47 Após o aceite da gestora, vislumbrei a necessidade da participação de duas docentes da instituição que pudessem auxiliar a responder minhas questões norteadoras, em especial, auxiliar na identificação das características, bem como na relação com o ensino. A partir de uma visita à escola, tive a oportunidade de receber duas voluntárias, como descrevi em meu diário de itinerância. Figura 12 - Diário de Itinerância recorte 1 Fonte: Da autora, Diário de Itinerância, (2019). Deste modo, dados os sujeitos e o contexto, faz-se necessário indicar os instrumentos que possibilitaram a coleta de dados. 48 3.3 As imagens Figura 13 - As imagens Fonte: Da autora, 2018. Os canais de televisão aberta deixaram de ser ponto de minhas atenções há algum tempo, porém, não me mantenho alheia aos telejornais, em especial os locais, que, por vezes, discutem questões importantes dentro de nossa sociedade. Volto-me, em especial, às reportagens que me interessam, dentre elas as que abordam o tema educação, mas que nem sempre trazem resultados favoráveis. Propagandas governamentais (FIGURA 13) que buscam demonstrar mudanças de programas estudantis, estimular o ingresso do jovem na escola, são comuns, como bem retrata a imagem que abre esta seção. Mas algo que muito me intriga são os diferentes sujeitos que opinam acerca da educação, a forma com que muitas vezes as imagens são veiculadas a ponto de fragilizá-la ou expor suas deficiências. Comumente observamos, como bem afirma Schwertner (2019, p. 134), que a mídia e suas diferentes formas de veiculação, sejam jornais, websites, televisor “apresenta cotidianamente reportagens, imagens, entrevistas com especialistas (na maioria das vezes, administradores e empresários) que discutem suas opiniões acerca dos problemas em torno da educação”. O fato é que imagens acerca da educação são produzidas e dissipadas rotineiramente. Segundo Manguel (2001), a imagem é um dos poucos meios em que todos podem realizar a leitura, mesmo aqueles que não compreendem o código escrito. 49 Ainda fazendo referência aos estudos de Manguel (2001), torna-se necessário refletir que, segundo o autor, as imagens possuem uma leitura única, singular para o sujeito que a faz, pois, a imagem é capaz de despertar a sensibilidade. A imagem acaba, assim, por refletir o olhar do outro, mesmo que ao analisar a mesma figura cada sujeito aponte sentidos diferentes. Diante do título emergente desta investigação, a utilização da simbologia do espelho, ao refletir o indivíduo em sua essência, acredito que possa se fazer presente a partir do uso de imagens. O uso e a produção de imagem tornam-se assim ponto importante nesta constituição. Conforme Fischman e Sales (2014), pesquisas sobre imagens possuem grande potencial, em especial diante da cultura midiática atual. Tomado desse ângulo, pensar “sobre imagens fotográficas torna-se um trabalho importante para o pesquisador em educação que busca compreender os jogos de verdade de uma época” (SCHWERTNER, 2019, p. 134). A produção de dez imagens que refletissem o cotidiano do gestor escolar, foi um desafio lançado à diretora, bem como, se tornou um dos objetos desta investigação. A gestora buscou, a partir das imagens que produziu, elementos que refletissem suas percepções acerca das características de um gestor escolar empreendedor. Como pesquisadora, apresentei a diretora, a tabela com as dez características e a partir de uma entrevista não estruturada, mas com base na pergunta norteadora: Observando esta tabela e estas imagens, você consegue identificar as características empreendedoras que já desenvolveu, as que que acredita estar desenvolvendo e as que pensa que deveriam ser desenvolvidas? Neste tipo de entrevista, o entrevistador não age como detentor do conhecimento e valoriza a experiência do entrevistado, e como “é conduzida com base numa pergunta norteadora, habilita o sujeito a expressar o que está em sua mente e a explorar suas experiências da maneira que julgar mais conveniente” (GIL; SILVA, 2015, p. 105). Cabe salientar, que a partir das fotografias o gestor conseguiu “resgatar recordações potentes, tensões significativas e contraditórias que só o olhar – qualquer olhar – pode tornar visível” (FISCHMAN, 2006, p. 85). A imagem também se tornou elemento de análise dos demais sujeitos integrantes desta investigação. 50 As seis imagens a seguir, foram selecionadas intencionalmente por mim, através da busca Diretor de escola na página do Google Imagens12. Figura 14 - Diretor de Escola 1 Fonte: Google imagens. Na primeira imagem, optei pelo modelo quase que “clássico” de representar o diretor, ou diretora escolar, em sua sala organizada com uma mesa, seja cheia de papéis ou com um computador, pois imagens neste formato eram as opções mais presentes. Esta imagem, porém, não esboça a felicidade da diretora e, pelo menos a mim, conota um ar de insegurança, mas a organização da sala, a vestimenta impecável, as lixeiras vazias, entre outros elementos, tornaram-se pontos propulsores de análise. 12 O Google Imagens é um serviço de busca prestado pela empresa Google. O serviço consiste em fazer busca de imagens dos mais diversos tipos. Disponível em: <https://www.google.com/imghp?hl=pt-pt>. Acesso em: 12 out.2019. https://www.google.com/imghp?hl=pt-pt 51 Figura 15 - Diretor de Escola 2 Fonte: Google imagens. Esta segunda imagem, reflete as múltiplas tarefas do diretor escolar. Seria fácil relacioná-la ao gestor escolar empreendedor, atualizado (jornal), rede de contatos (celular), dimensão humana/participativa (café), busca por conhecimento (ponto de interrogação), inovação/ideias (lâmpada). Mas estas relações fazem-se possíveis quando nos colocamos em posição de análise, indo além do olhar, uma vez que “a leitura de um texto imagético exige que o espectador não se detenha apenas no aparente de uma imagem” (MAGNABOSCO, 2010). A análise de outros sujeitos pode implicar em outras observações. Figura 16 - Diretor de Escola 3 Fonte: Google imagens. 52 A terceira imagem traz à tona novamente o café e a mesa do diretor, mas, diferentemente da primeira imagem, aqui nada encontra-se em ordem. O acúmulo de trabalho, a pasta das matrículas, a pasta do PDDE (Programa Dinheiro Direto na escola)13, encontram-se em destaque, bem como a expressão do diretor, a qual conota, um ar de preocupação. Figura 17 - Diretor de Escola 4 Fonte: Google imagens. A quarta imagem e o que ela representa, no caso a presença do diretor em sala de aula, ou seu relacionamento com os alunos, foi cena rara na busca. Apesar da alegria das crianças, do quadro cheio de corações, flores e notas musicais, o jaleco branco do diretor e sua concentração nos registros na prancheta, suscitam outros olhares. 13 Criado em 1995, o Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) tem por finalidade prestar assistência financeira para as escolas, em caráter suplementar, a fim de contribuir para manutenção e melhoria da infraestrutura física e pedagógica, com consequente elevação do desempenho escolar. Também visa fortalecer a participação social e a autogestão escolar. Fonte: Disponível em: <https://www.fnde.gov.br/programas/pdde>. Acesso em: 12 nov. 2019. https://www.fnde.gov.br/programas/pdde 53 Figura 18 - Diretor de Escola 5 Fonte: Google Imagens. A quinta imagem segue a linha de escolha da quarta, o diretor imbricado na comunidade escolar. Aqui reflete muito a leitura do sujeito que analisou a imagem que pode definir se os adultos da reunião são pais ou professores. O semblante feliz da diretora e o ar de aceitação dos participantes, também são pontos destacáveis, assim como a posição das cadeiras, o jaleco branco e mulher grávida. Figura 19 - Diretor de Escola 6 Fonte: Google imagens. 54 A última imagem, porém, não menos significativa, representaria o autoritarismo do diretor escolar, ou pelo menos sua busca pela mesma. Estariam contempladas aqui também, em uma leitura da imagem, a pontuação sobre as regras, o fardamento e o cassetete, a posição de superioridade da diretora frente ao outro sujeito, a mim lido como criança. O ar franzino e a mão aberta, simbolizando talvez um movimento, são novos elementos de análise e propensão do discurso. Ao findar a explanação de minha seleção de imagens, gostaria de ressaltar a escolha de imagens desenho e não imagens fotográficas, uma vez que os mesmos não carregam tanto as feições de rostos que por vezes nos remetem a pessoas conhecidas. É importante ainda salientar que a pesquisa das imagens foi realizada no mês de janeiro de 2019, ciente de que o banco de imagens do Google é alimentado diariamente, é possível que as mesmas estejam dissipadas em uma nova pesquisa. A partir desta seleção, elaborei um roteiro prévio (APÊNDICE C) para ter como base na entrevista com as professoras da instituição que, além de explicitarem um pouco sobre sua trajetória, identificaram imagens que, segundo elas, melhor representavam a diretora da sua escola. Assim, para cada indivíduo uma mesma imagem pode representar algo diferente, ler imagens é diferente de ler palavras, pois ...em contraste com um texto escrito no qual o significado dos signos deve ser estabelecido antes que eles possam ser gravados na argila, ou no papel, ou atrás de uma tela eletrônica, o código que nos habilita a ler uma imagem, conquanto impregnado por nossos conhecimentos anteriores, é criado após a imagem se constituir (MANGUEL, 2001, p. 32-33). Registrar, assim, as percepções que impregnam o trajeto da pesquisa são pontos importantes, escolhi assim o Diário de Itinerância definido como um “bloco de apontamentos no qual cada um mostra o que sente, o que pensa, o que medita, o que poetiza, o que retém de uma teoria, de uma conversa, o que constrói para dar sentido à vida” (BARBIER, 2007, p. 133). O diário de itinerância permite impregnar um caráter de intimidade ao expressar nossas reações com relação ao que investigamos e o que nos cerca neste contexto (BARBIER, 2007). 55 A partir das imagens produzidas e posteriormente analisadas pela diretora à luz das dez Características do Gestor Escolar Empreendedor, as imagens escolhidas e argumentadas pelas duas professoras, bem como dos registros do Diário de Itinerância dou por tecidos meus instrumentos de coleta de dados. A análise dos dados aproximou-se da análise de conteúdo, que, segundo Bardin (2011, p.15), é um conjunto de instrumentos de cunho metodológico que se aplicam a discursos variados, “método das categorias, espécie de gavetas ou rubricas significativas que permitem a classificação dos elementos de significação constitutivas, da mensagem” (BARDIN, 2011, p. 37). Estas gavetas são constituídas a partir do que o autor denomina como Unidade de Registro, que se torna um elemento a ser codificado, podendo ser um tema, frase ou até mesmo palavra. Bardin (2011) propõe as três fases da Análise de Conteúdo explicitadas através da imagem abaixo: Figura 20 - Análise de Conteúdo Fonte: Da autora, baseada em (BARDIN, 2011), 2019. A primeira fase, denominada Pré-análise, também é denominada por Câmara (2013) como fase da organização, onde os instrumentos de coleta de dados são preparados e ocorre a chamada leitura flutuante (BARDIN, 2011), sendo a análise prévia dos instrumentos de coleta de dados. Na segunda fase, Exploração do Material, é que ocorre a definição das Categorias, possível após a categorização 56 dos dados emergentes. A terceira fase, Tratamento dos resultados – a inferência e interpretação, é onde se dá o processo de análise do conteúdo, baseado nos resultados obtidos pelo pesquisador, na busca de torná-los significativos e válidos. Ao me valer destas três fases creio que busquei aproximar-me dos preceitos da Análise de Conteúdo, proposta por Bardin (2011). Inicialmente escutei os áudios das entrevistas e com o auxílio de um aplicativo pude transcrevê-las e também analisar a fidedignidade das transcrições, caracterizando assim, a primeira fase proposta por Bardin (2011). Após a leitura flutuante, chegou o momento de explorar o material, buscar marcar pontos congruentes e também os convergentes, identificar os que se aproximavam dos objetivos traçados nesta investigação. E diante destes lócus, destes sujeitos e destes instrumentos, é possível produzir um resumo da abordagem com relação aos objetivos elencados primordialmente, que, além de conceber maior clareza ao que realizei, também retoma o significado das produções imagéticas, quando concebidas e organizadas em um quadro. Quadro 7 Resumo da Abordagem metodológica da investigação Objetivos Específicos Ações que foram desenvolvidas Socializar e refletir sobre as características do gestor escolar empreendedor com o diretor de uma escola de Educação Infantil; Pude realizar através da entrevista com a diretora, que, posteriormente, solicitou as características por e-mail, bem como as referências do livro sobre Pedagogia Empreendedora . Identificar as características empreendedoras já desenvolvidas, as que que estão sendo desenvolvidas e as que deveriam ser desenvolvidas pelos dois gestores escolares; Tornou-se possível através da entrevista realizada com a diretora diante das dez imagens que ela produziu e suas reflexões sobre elas. Pelos apontamentos das docentes e também será analisada por mim, enquanto pesquisadora, a partir dos registros realizados no diário de itinerância e da análise destes dados. Verificar possíveis reflexos, nos processos de ensino, destas características nas escolas de educação infantil pesquisadas. De aporte dos diferentes dados coletados, estabelecendo as categorias, e segundo os pressupostos da Análise de Conteúdo, pude perceber a existência destes reflexos nos processos de ensino da escola. Fonte: Elaborado pela autora, 2019. Diante desta tabela é possível verificar que pude atingir meus objetivos, porém como estas ações se deram? Como a análise se deu? Quais foram as categorias que emergiram? Estas informações são explicitadas no próximo capítulo. 57 4 AS IMAGENS, AS ENTREVISTAS, O DIÁRIO E A ANÁLISE Figura 21 – As imagens, o diário e a análise Fonte: Da autora, 2019. Eis que surge, aqui em minha mesa de escrita, um dos capítulos que mais me instigaram na composição, a análise dos dados (Imagem 21). A escolha das imagens me pareceu acertada, uma vez que “com destaque para nossa época, a imagem foi ganhando preeminência sobre a palavra escrita” (MAGNABOSCO, 2010, p. 131), mas também reforça a dubiedade de interpretações acerca de uma mesma imagem. 58 Através dos dados coletados, em especial das imagens analisadas nesta dissertação, emergiram as Categorias de Análise. Diante destas Categorias foi possível iniciar o tratamento das informações, tecendo descobertas e entrelaces suscetíveis à inferência e interpretação, pontos estes que explano nos subcapítulos seguintes, apresentando as três categorias emergentes, nomeadas a partir das expressões dos sujeitos participantes: 1ª “Já estamos na oitava? ”, 2ª “Impossível pensar no ensino sem a gestão” e 3ª “Esses sonhos movem a gente”. 4.1 Primeira categoria: “Já estamos na oitava” Figura 22 - As características no espelho Fonte: G, 2019. A partir das entrevistas e das imagens analisadas e produzidas foi possível identificar algumas características presentes na gestora. Inicialmente, destaco a surpresa de ver as dez características do gestor escolar empreendedor aqui propostas, a partir de diferentes embasamentos teóricos, sendo visualizadas na prática de uma gestora escolar. As relações entre cada característica, efetivadas pela gestora em sua prática cotidiana enquanto diretora, edificaram a validade das dez características do gestor escolar empreendedor apresentadas nesta dissertação. A gestora, aqui denominada como G, é pedagoga, pós-graduada em alfabetização e letramento, trabalha há 22 anos com educação infantil, sendo que destes está em seu terceiro ciclo como gestora, contemplando uma margem de 59 cinco anos como diretora, apenas de escolas de educação infantil. Já as professoras, aqui denominadas como P1 (Professora 1) e P2 (Professora 2) encontram-se finalizando a graduação. P1 compartilha seus três anos de educadora infantil com alegria, pois, após atuar no administrativo de uma empresa e ter tido seu próprio negócio, vê na educação seu antigo sonho se realizando. Já P2 trabalha cerca de seis anos com educação infantil, jovem, foi a única área em que atuou até o momento. Um dos objetivos específicos elencados nesta pesquisa era: Identificar as características empreendedoras já desenvolvidas, as que que estão sendo desenvolvidas e as que que deveriam ser desenvolvidas por uma gestora escolar. As imagens se tornaram cruciais para contemplar este objetivo, funcionaram tanto como ponto de partida para as falas quanto para retomadas e até mesmo sínteses de pensamento das entrevistadas. Inicialmente trago as imagens escolhidas pelas professoras para se referirem a sua gestora, sendo que das seis imagens, três foram selecionadas e justificadas por elas com exemplos cotidianos. “Eu achei difícil fazer isso, vejo ela com as crianças, mas como fico mais na sala com os bebês não é a cena que eu escolheria, vejo ela cheia de tarefas, mas acho que a melhor é essa primeira, porque eu vejo ela organizada, centrada no que ela faz, ela passa isso para nós” (P1, 2019). Figura 23 - Diretor de Escola – 1 Fonte: Google imagens. “Olha eu pensei e escolhi os que mais vejo ela essa 2, porque ela está sempre cheia de coisas, gosta de estar lendo, indo atrás do que precisa e do que 60 não sabe, usa bastante o celular para falar com os pais, vejo que ela tem uma relação muito boa com os pais, mas também está sempre vendo as coisas do rancho para o lanche se chegaram e se alguma coisa estragou, como é ela sozinha, bem dizer, ela faz muitas coisas” (P2, 2019) Figura 24 - Diretor de Escola – 2 Fonte: Google imagens. “(...), mas daí eu também escolho a outra, que é a 3, porque eu sei que ela faz a parte de prestação de contas para outras escolas e quando chega esses dias ela fica lá com os papéis concentrada, calculando, para fechar tudo direitinho. Mas acho sabe, que nisso ela é muito correta e organizada, porque nossa escola tem muita coisa que outras escolas não têm, falo coisas assim materiais sabe (P2, 2019) ”. Figura 25 - Diretor de Escola – 3 Fonte: Google imagens. A partir das falas das docentes é possível visualizar algumas das características do Gestor Escolar Empreendedor, tais como: 2 Possui Rede de Contatos, uma vez que pontuam sua relação com os pais e contatos em prol de materiais e alimentação (FIGURA 22); 3 - Planeja e replaneja, quando afirmam que ela controla os gastos e faz aquisições diferenciadas para a escola; 5 - Busca 61 conhecimento, quando afirma que está sempre lendo e “indo atrás” do que não sabe; 8 - Se compromete, ao pontuarem que ela faz a prestação de contas se dedica (FIGURA 22) a isso e inclusive faz para outras escolas; 9 - É organizado, ao pontuarem que ela passa isso para o grupo, sendo centrada no que faz. Ao trazerem suas contribuições as professoras refletiram seus olhares, uma vez que “o que vemos é a pintura traduzida nos termos da nossa própria experiência” (MANGUEL, 2001, p.27). Nesse sentido, parto então, para os apontamentos da própria gestora e de como ela se percebe através das características elencadas. Inicialmente a 1 - Sonha e registra os sonhos, a gestora pontua: “... eu digo que sim, porque levando para a escola, usando o exemplo dos objetivos com a rifa, a gente traça uma meta e daí tu tem que vencer essa meta e nisso os pais também são bem parceiros” (G, 2019). Segundo Dolabela (2003, p. 53) “a escola também pode ser vista como um instrumento para o desenvolvimento e a perpetuação da capacidade de construir sonhos coletivos” e sobre estes sonhos refletirei posteriormente. 2 - Possui rede de contatos: “... acho que sim, porque em primeiro lugar uma escolha minha disponibilizar meu whats e isso facilita minha comunicação com muitas pessoas, desde os pais e até com as pessoas que eu preciso, foi uma opção minha que tem consequências positivas e outras negativas [...] tenho muitos na minha agenda, na verdade das empresas até sei de cor alguns (risos) ” (G, 2019). Segundo Dornelas (2012, p. 32) “os empreendedores sabem construir uma rede de contatos que os auxiliam no ambiente externo”, e aqui no caso da diretora o relacionamento com as famílias, por exemplo, atua de certa forma nos processos internos da escola (FIGURA 23). 3 - Planeja, replaneja: “... não sei se eu planejo muito, eu tenho objetivos e traço metas, mas algumas coisas preciso fazer para resolver algo sem planejamento, por exemplo, talvez seja algo que eu esteja desenvolvendo” (G, 2019). Ao perceber que algumas 62 de suas características estejam em desenvolvimento, a gestora acaba por reconhecer condições que ainda precisa aprimorar, reforçando que “o espírito empreendedor é um potencial de qualquer ser humano e necessita de