Trajetórias de feminização no trabalho hospitalar Trajectories of feminization in hospital work Tábata Milena Balestro Borges1, Priscila Pavan Detoni2 Resumo: O objetivo deste trabalho é compreender as trajetórias de feminização no espaço hospitalar, entendendo os reflexos da divisão sexual e das relações de gênero nas práticas de trabalho, com base em uma pesquisa realizada em um hospital na serra gaúcha. Utilizou-se, como metodologia, a análise de discurso das trajetórias de vida das trabalhadoras, através de entrevistas semiestruturadas. Participaram desta pesquisa nove mulheres com escolaridades e funções diversas. As análises compuseram-se pelos seguintes elementos: o trabalho como possibilidade de autonomia e sustento; o trabalho feminino precarizado diante da divisão sexual do trabalho e no início da carreira; o trabalho feminino doméstico como pouco reconhecido e obrigatório; a duplicidade da jornada em ser mãe e trabalhadora; e o cuidado como atribuição naturalizada das trabalhadoras da saúde. Conclui-se que essas mulheres sentem-se realizadas no trabalho, apesar de serem pouco valorizadas, diante dos marcadores sociais de gênero e faixa etária. Rever suas trajetórias permitiu repensar que as dificuldades em relação à feminização do trabalho não sejam estendidas para a próxima geração, além da possibilidade de produzir saúde. Palavras-chave: Feminização, cuidado, trabalho hospitalar Abstract: The goal of this study is to understand the pathways to the feminization within hospitals, comprehending the outcomes of sex division and gender relations at work based on a research performed in a hospital in the state of Rio Grande do Sul. The methodology used was semi-structured interviews about the workers’ life paths and analysis of discourse. Nine women with a wide range of education and varied functions participated in this research. The analysis was made of the following elements: work as autonomy and sustenance; precarious female work due to sexual division of labor and beginning of career; female domestic work as under acknowledged; the double journey of being a mother and a worker; and caretaking as a natural attribution to the female health provider. It is concluded that these women feel fulfilled at work even being little recognized because of the social markers of gender and age. To review their life paths allowed them to rethink so the difficulties regarding feminization of work does not get expanded to the next generation, plus the possibility to strengthen their health. Keywords: Feminization, care, hospital work Introdução Este artigo apresenta as trajetórias de feminização3 no espaço hospitalar, entendendo os reflexos da divisão sexual e das relações de gênero nas práticas de trabalho, com base em 1 Graduanda em Psicologia pela UNIVATES, Graduada em Administração pela Faculdade Cenecista de Bento Gonçalves. Contato: tabatabalestro@yahoo.com.br 2 Psicóloga, Mestre e Doutora em Psicologia Social e Institucional (UFRGS) e Docente da UNIVATES. Contato: ppavandetoni@gmail.com 3 Para Yannoulas (2011, p.271) feminização se refere a “um significado qualitativo que alude às transformações de significado e valor social de uma profissão ou ocupação, originadas a partir da feminilização ou aumento quantitativo e vinculadas à concepção de gênero predominante em uma época.” 1 uma pesquisa realizada em um hospital na serra gaúcha. Dessa forma, é importante considerar as constantes transformações nas relações de trabalho e de gênero. O desejo por realizar esta pesquisa surgiu através da experiência de uma das pesquisadoras, que trabalhou por um período de quatro anos em um hospital no interior do RS, no qual o total de colaboradores correspondente era cento e dezoito (1184) e, desse total, cerca de noventa e nove (99) representava o número de mulheres, ou seja, 84% dos trabalhadores do hospital eram mulheres. Essa foi a circunstância que mobilizou o pensamento sobre na feminização do trabalho em saúde, uma vez que o quadro de funcionários/as do hospital em sua maioria é composto por mulheres, filhas, mães, donas de casa, trabalhadoras, portanto cuidadoras no contexto da saúde. Durães, Jones e Silva (2010) apontam que as mulheres possuem maior oportunidade de colocação no mercado de trabalho em setores de públicos, nos serviços, sobretudo, de saúde e de educação, no comércio e no setor industriário, quando se trata de produção têxtil, alimentos e bebidas. Esses autores consideram que, mesmo sendo perceptível o aumento de mulheres no mercado de trabalho nos últimos anos, situações que denotam a divisão sexual do trabalho5 estão ainda muito presentes. Para Wermelinger, Machado, Tavares, Oliveira e Moysés (2010), o setor da saúde apresenta forte vocação para a ocupação de mulheres, em que o contingente feminino tem se tornado majoritário nesse ramo da economia. Pastore, Rose e Homem (2008) afirmam que o setor da saúde tem se caracterizado pela presença da divisão sexual do trabalho, no qual, predominantemente, as mulheres atuam nas funções voltadas ao cuidar, por essa prática ser vista e reconhecida como um processo naturalizado e, por vezes, precarizado. Antunes (2014) aponta que estamos vivendo um momento de “precarização estrutural do trabalho”, referindo-se às novas características encontradas em nosso cotidiano profissional, como por exemplo: a fragilidade do contrato de trabalho formal e regular que vem sendo modificado por formas atípicas de trabalho precário e/ou voluntário; cooperativas que estão sendo criadas a fim de extrair recursos dos/as trabalhadores/as e, por outro lado, não há uma contra partida que assegure as condições mínimas para o desempenho de suas 4 Dado obtido do CAGED, no mês de 09/2016. 5 Divisão sexual do trabalho é um conceito que foi criado e estudado pela autora francesa Danièle Kergoat (Hirata e Kergoat (2007). 2 atividades; os novos modelos de administração que visam disseminar a ideia de que as flexibilizações do salário, do horário e da função são benefícios. Para Hirata (2001/02), a amplitude do espaço que as mulheres vêm obtendo no mercado de trabalho chama a atenção devido ao modelo de trabalho precário, vulnerável e flexível. Dessa forma, as trabalhadoras ainda vivenciam em suas práticas profissionais reflexos de uma história de luta contínua, e que precisa ser tratada com a devida atenção. Por isso, esta pesquisa buscou entender o processo de feminização do trabalho em um setor da saúde, especificamente, em um hospital de média complexidade, no qual problematizou-se os desafios encontrados pelas mulheres em relação à equidade de gênero no trabalho, uma vez que trabalho e gênero estão diretamente associados. O trabalho, conforme Nardi (2006) é central para o desenvolvimento da estrutura social, material e psíquica dos sujeitos. E o gênero é um fator que constitui o sujeito, uma vez que o/a trabalhador/a imprime em sua dinâmica de trabalho características que se referem à divisão sexual do trabalho, marcada pela generificação dos sujeitos, do que seria trabalho de homem e de mulher. Deste modo, a análise das trajetórias de vida das trabalhadoras pesquisadas foi composta pelos seguintes eixos orientadores: o trabalho como autonomia e sustento; o trabalho feminino precarizado diante da divisão sexual do trabalho e no início da carreira; o trabalho feminino doméstico como pouco reconhecido e obrigatório; a duplicidade da jornada em ser mãe e trabalhadora; e o cuidado como atribuição naturalizada das trabalhadoras de saúde. Gênero, trabalho e cuidado A fim de compreender como ocorre a feminização do trabalho na área da saúde, tendo em vista a divisão sexual, entende-se que os conceitos de gênero, trabalho e cuidado estão diretamente associados. Na sociedade ocidental, só é possível existir dentro de um gênero, feminino ou masculino. A partir dessa divisão, monta-se uma trajetória para estes gêneros, seja através do comportamento, do corpo ou através do trabalho. Para Meyer, Klein, Da’Igna e Alvarenga 3 (2014), o entendimento de gênero é construído e implicado através de discursos instituintes de feminilidades e de masculinidades que são produzidos e ressignificados ao mesmo tempo. Isso implica considerar que as instituições sociais, os símbolos, as normas, os conhecimentos, as leis, as doutrinas e as políticas de uma sociedade são constituídas e atravessadas por pressupostos de gênero e, ao mesmo tempo, estão implicadas com sua produção, manutenção e ressignificação (MEYER et al., 2014). Para Butler (2013), o gênero é culturalmente construído, diferente da ideia de que o sexo é naturalmente concebido. Tal percepção torna-se fundamental para a mudança de concepção do senso comum, pois a diferenciação desses entendimentos nos remete a desnaturalizar a ideia de que o feminino está ligado à postura de fragilidade ou submissão, como também para explicar preconceitos que ainda existem em torno da reiteração que é feita para designar os corpos nos seus postos de trabalho. Butler (2013, p.58-59) ainda aponta que “ser de um gênero é um efeito”, ou seja, a construção social desse “ser” passa por efeitos/modificações das mais diversas no cotidiano, sendo uma consequência disso, por exemplo, a divisão sexual do trabalho. Tendo em vista um número considerável de mulheres que atuam no setor da saúde, Hirata e Kergoat (2007) apresentam o conceito de divisão sexual do trabalho e atentam para dois aspectos fundamentais: o primeiro aponta questões sociográficas, que visam identificar como se dá a distribuição de homens e mulheres no mercado de trabalho, e as variantes de tempo e local dessa distribuição; o outro aspecto apresenta que as desigualdades funcionam geralmente de forma sistemática e que isso também está associado às diferentes práticas profissionais e, portanto de gênero. Com relação à divisão sexual do trabalho na área da saúde, Durães et al. (2010) afirmam que o setor da saúde tem sido socialmente reconhecido como trabalho feminino. Os autores argumentam que isso ocorre devido ao fato de que tais atividades profissionais geralmente são semelhantes àquelas desempenhadas no cotidiano da mulher, como por exemplo, o cuidado com a família. Pastore et al. (2008) salientam que há uma maior incidência de feminização no contexto da saúde nas áreas de enfermagem, higienização e no setor de nutrição. Isso se refere aos diferentes modos que o meio social cristaliza ou regula o que define ser homem ou ser mulher e quais lugares e atribuições seriam mais apropriados para cada sujeito, dentro da 4 perspectiva de gênero. Para alguns postos, é preconizada a virilidade e, em outros, o cuidado, uma vez que a dinâmica das relações de trabalho, como as de gênero, é fundamental na constituição de cada sujeito. De acordo com essa perspectiva, Scott (1995) destaca que o gênero é um conceito histórico, e que demarca em seu terreno questões socioculturais que permanecem em constante fluxo, evocando reflexões acerca da construção da caminhada da mulher. A autora indaga: Qual é a relação entre as leis sobre as mulheres e o poder de Estado? Por que (e desde quando) as mulheres são invisíveis como sujeitos históricos, ainda que saibamos que elas participaram de grandes e pequenos eventos da história humana? O gênero legitimou a emergência de carreiras profissionais? [...] Houve, em algum momento, conceitos de gênero verdadeiramente igualitários sobre os quais fossem projetados ou mesmo fundados sistemas políticos? (SCOTT, 1995, p.93). Assim sendo, gênero é uma categoria em curso, que se relaciona inclusive com a temática do trabalho, uma vez que os meios de produção e a divisão de renda reproduzem as relações. Para Detoni e Nardi (2012, p.66), “as relações de gênero são constituintes dos modos e dos processos de subjetivação, [...] a subjetividade como uma produção da experiência de si, em um determinado contexto sócio histórico.” Nessa perspectiva, a constituição do sujeito se dá através das atribuições de gênero, na qual o sujeito define-se ou é definido, bem como o entendimento de que trabalho faz parte da identidade social dos sujeitos (Nardi, 2006). Para Merlo, Bottega e Perez (2014), o trabalho continua possuindo um espaço de centralidade na vida das pessoas, como preconizou Dejours (2000). Devido a esse fato, ele pode ser fonte de prazer ou de sofrimento, questão essa que vem ao encontro dos objetivos desse estudo, que se refere a potencializar o cuidado e produzir saúde para essas trabalhadoras, apesar das precarizações decorrentes da feminização. Deste modo, percebe-se uma conexão importante na relação gênero e trabalho. Para Araújo (2001/02, p.133), as mulheres passaram a ingressar no mercado de trabalho, de forma crescente, durante “as décadas de 1920 e 1980, acompanhando os processos de industrialização e de urbanização da sociedade.” A autora também salienta que as ocupações femininas tradicionais daquele período eram caracterizadas por serviços domésticos, atividades em prol do próprio consumo e da família, além de serviços como “magistério, 5 enfermagem, comércio, telefonia, alguns setores industriais, como os ramos têxtil e do vestuário, e nos serviços pessoais, como cabeleireiras, manicures, lavadeiras.” Durante décadas, as mulheres vêm absorvendo possibilidades significativas de oportunidades no mercado de trabalho, fazendo com que a feminização do mercado de trabalho acompanhasse os processos de reestruturação produtiva e globalização. Carvalho, Cavalcanti, Almeida e Bastos (2008, p. 440) questionam: “será que na divisão de trabalho por gênero há uma tendência recorrente à assunção pelas mulheres e/ou a atribuição a elas, mais do que aos homens, do papel de cuidadora?” De acordo com Meyer et al.(2014), a feminização é marcada pelo lugar de cuidadora dos vulneráveis, dos doentes. Para tal, Guimarães, Hirata e Sugita (2011, p. 154) colocam que “no Brasil e nos países de língua espanhola, a palavra “cuidado” é usada para designar a atitude; mas é o verbo “cuidar”, designando a ação, que parece traduzir melhor a palavra care”. Nesse sentido, Dumont (2012, p.43) refere que “o cuidado é tratado de forma naturalizada como modos de sentir e agir das mulheres”, por esse motivo, o gênero estabelece “centralidade na construção das relações” e, assim, se inicia a divisão sexual do trabalho. Diante disso, é interessante refletir que as mulheres são treinadas para exercer funções de cuidado desde a infância, por exemplo, brincadeiras de bonecas, cuidar dos irmãos, auxiliar nos serviços domésticos. Nesses contextos, a menina passa a assumir o papel de mulher e, na medida em que cresce, o que era apenas brincadeira de infância se naturaliza em suas práticas diárias. Contudo, cabe destacar que, muito recentemente, as mulheres vêm assumindo postos de trabalho fora de casa, assalariado e com direitos, afinal isso só foi possível no Brasil a partir de 1932, quando se conquistou o direito do sufrágio universal6, fruto das lutas dos movimentos feministas. O trabalho das profissionais mulheres em um ambiente hospitalar A condição do público feminino exercendo a prática do cuidado leva à reflexão sobre a naturalização do papel da mulher na sociedade, desde os primórdios, que se referia ao cuidado dos filhos, da casa. Assim sendo, Yannoulas (2011, p. 283) aponta que o conceito de feminização se refere a aspectos qualitativos observados na mudança que uma determinada 6 Direito ao Voto: No Brasil, apenas em 1932 a mulheres passa a ter o direito ao voto e também de ser votada. (Lopes, 2014, p.2). 6 ocupação atravessa. Essas mudanças estão “vinculadas à imagem simbólica do feminino predominante na época ou na cultura especificamente analisada”. Nesse contexto, torna-se importante considerar os processos históricos de industrialização e urbanização, marcos esses fundamentais para a compreensão do conceito de divisão sexual do trabalho. Conforme aponta Yannoulas (2011, p.276), o trabalho passou a ser caracterizado como “trabalho produtivo e assalariado, excluindo todas as atividades destinadas à reprodução da vida biológica e social. Trabalhar foi pensado como uma atividade a ser realizada extramuros, uma atividade pública. Cuidar do lar, dos filhos, dos idosos e da família ficou delimitado como atividade não trabalho, privada”. A autora ainda complementa que o processo de feminização pode ser considerado “uma categoria em movimento, em processo de construção”. Hirata (2001/02, p. 10) afirma que, historicamente, “a atividade feminina continua concentrada em setores como serviços pessoais, saúde e educação”, por isso a feminização do trabalho em saúde. Assim, a abordagem dessa temática diz respeito a compreender o posicionamento do público feminino nos diversos contextos sociais do trabalho, levando em consideração que estudar e pesquisar o tema divisão sexual do trabalho, tendo em vista as constantes transformações que o mundo do trabalho vem percorrendo, torna-se um grande desafio, visto que ainda hoje temos reflexos da história em que as mulheres eram diferentemente tratadas em relação aos homens. Outro analisador importante a ser observado no ambiente hospitalar é a hierarquia estabelecida nas relações entre os profissionais. Para Santos (2010, p.148), “na estrutura hospitalar, as relações de poder manifestam-se em diversos campos de atuação”. O autor suscita pensar no poder estabelecido pelas categorias que regulamentam os profissionais, as relações sociais que sexualmente são hierarquizadas, em nível individual e coletivo. Para Hora, Ferreira e Silva (2013), é estatisticamente comprovado o número maior de profissionais do sexo feminino que atuam no âmbito hospitalar e, soma-se a isso, a sobrecarga de trabalho que é algo eminente no dia a dia da mulher, devido às tarefas domésticas, entre outras, que geralmente são desempenhadas em dupla jornada. Osório (2006) relata que as atividades em um hospital, tomando como base o exemplo do estado de São Paulo, são dinâmicas constantes, onde o quadro muda em instantes e o cenário é dinâmico, sendo preciso jogo de cintura por parte das profissionais que precisam se 7 adequar o tempo todo. Conforme Maturana e Valle (2014, p.3), é comum vivenciar em hospitais situações como “apresentar respostas rápidas relacionadas a situações-limite de vida e morte de pacientes, alta carga horária, atendimento ao público, muitas vezes, em estados emocionais alterados, sobrecarga de tarefas, conflitos de opiniões e pontos de vista divergentes com profissionais de outra formação acadêmica. Em uma pesquisa realizada no interior do Rio Grande do Sul, com uma equipe de atendimento pré-hospitalar, na qual Carreno, Veleda e Moreschi (2015) identificaram que a maioria dos profissionais que integravam a equipe era composta por homens, com idade superior a 36 anos, que ocupavam as funções de técnicos em enfermagem seguido, de médicos e enfermeiros, contrário as pesquisas encontradas até o momento. Nesse caso, a atuação do sexo masculino em atendimentos pré-hospitalares (SAMU7) é evidenciada constantemente devido às atividades que exige força e preparo físico. Por isso, que ao estudar feminização em um ambiente hospitalar não pode-se negligenciar o trabalho dos homens. Desse modo, o gênero só existe nas relações, sejam elas domésticas ou de trabalho, que hierarquizam um dos gêneros em detrimento do outro. Por esse motivo, a importância de promover ações de saúde sejam elas individuais e ou coletivas. Percurso metodológico “Todos esses que aí estão, Atravancando meu caminho, Eles passarão... Eu passarinho!” Mário Quintana Durante essa caminhada de pesquisa/escrita, buscou-se uma forma que representaria a fala das participantes e eis que surgiu a imagem de um pássaro, de um passarinho. Passarinho porque a maior parte das mulheres trouxe presentes em suas narrativas e trajetórias de vida o fato que o trabalho deu a elas a liberdade, a independência, além de inúmeras possibilidades de viver e olhar para a vida atribuindo-lhes um novo significado. Metaforizando o Poeminho do Contra, de Mário Quintana, segundo Franco (2009, pp. 75/76), o verbo "passarão", conjugação do verbo passar no futuro do indicativo, “deixa de ser tão somente verbo e torna- 7 SAMU: Serviço de Atendimento Móvel de Urgência. 8 se também um pássaro gigante, predador do passarinho, um bicho-papão ameaçador que, pela enormidade, não tem a agilidade do passarinho – este, quando viu seu caminho atravancado, bateu asas e voou.” No sentido literal da palavra, “pássaro grande”, não se comparam as qualidades do canto, da ligeireza, da liberdade caracterizado pelo “passarinho”. Dessa forma, as mulheres passarinhos são análogas às conquistas e as resistências dos movimentos feministas com relação a trabalhar, estudar e votar. Pode-se, então, associar a agilidade e a liberdade do passarinho com os constantes movimentos e deslocamentos que as mulheres realizaram nos últimos tempos, lutando pela igualdade de direitos e a liberdade social, comum na trajetória destas mulheres. Com base na associação da metáfora do Poeminho do Contra, participaram desta pesquisa, de forma livre e esclarecida, nove mulheres trabalhadoras de um hospital de média complexidade, com idades entre 20 e 54 anos; quatro solteiras, três em união estáveis ou casadas, duas separadas; seis delas têm filhos/as; seis delas são as únicas responsáveis pela renda familiar; oito brancas e uma parda; escolaridades e funções são variadas8. Neste estudo, pretendeu-se entender por que há um número significativo de mulheres que atuam no espaço hospitalar, ou seja, na área da saúde. Suas práticas profissionais podem estar associadas ao cuidado dos usuários do serviço, que se estende ao cargo de higienização, copa, cozinha, enfermagem, técnicas de enfermagem, nutrição, psicologia, farmácia, médicas, atendimento, entre outras. O corpus da pesquisa foi constituído pela análise das trajetórias de vida das trabalhadoras que, segundo Born (2001, p.4), se relacionam a “um conjunto de eventos que fundamentam a vida de uma pessoa.” O autor cita que: Normalmente é determinada pela frequência dos acontecimentos, pela duração e localização dessas existências ao longo de uma vida. O curso de uma vida adquire sua estrutura pela localização desses acontecimentos e pelos estágios do tempo biográfico (BORN, 2001, p.4). Esses acontecimentos não são eventos isolados, mas dizem sobre um determinado tempo e local, e atravessa as experiências de vida dos sujeitos, por isso tratamos aqui como 8 Não realizamos a identificação e/ou informações individuais das mulheres trabalhadoras, por ser um grupo muito pequeno. Percorremos pelas funções de higienização até a gestão hospitalar. 9 trajetórias de feminização. A realização de entrevistas individuais com as trabalhadoras se deu a partir de um roteiro semiestruturado9, através de um convite e divulgação nos murais do hospital. Assim, nove mulheres se voluntariaram para participar da pesquisa, em uma sala reservada no hospital, mediante consentimento10. As entrevistas foram gravadas e transcritas na íntegra para posterior análise. A análise da trajetória de vida “permite descrever e entender como o trabalho atravessa os processos de subjetivação11 e expressa o conflito que caracteriza o jogo de verdades” (NARDI, 2006). Quanto aos jogos de verdade, Nardi (2006) faz uso do conceito Foucaultiano para pensar a relação ética e subjetiva que constitui a centralidade do trabalho na vida dos sujeitos, o que é parte de um elemento da nossa sociedade atual, ou seja, as relações de trabalho e de gênero atravessam a vida de todas as participantes da pesquisa. Análises e discussão dos resultados A partir das narrativas, analisaram-se as trajetórias de vida das trabalhadoras dentro do seu contexto social na interlocução de gênero e trabalho, em que são destacados como eixos comuns entre as participantes: o trabalho como possibilidade de autonomia e sustento; o trabalho feminino precarizado diante da divisão sexual do trabalho e no início da carreira; o trabalho feminino doméstico como pouco reconhecido e obrigatório; a duplicidade de jornada em ser mãe e trabalhadora; e o cuidado como atribuição naturalizada das trabalhadoras da saúde. Estes fragmentos unem perspectivas das trajetórias de vida das mulheres e marcam suas diferenças, por isso, utilizou-se das falas delas para entender a feminização no trabalho hospitalar. “Aos pouquinhos fui subindo, subindo, subindo...”: trabalho como possibilidade de autonomia e sustento 9 Roteiro semi-estruturado: foi construído a partir da inspiração do questionário utilizado por Moreira (2008, 2010) na sua pesquisa sobre trajetórias de vida de mães trabalhadoras, que busca a identificação das participantes, além de informações sobre a configuração familiar, e de modo especial compreender a dinâmica que se estabelece no contexto do trabalho. 10 Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa conforme CAAE: 64759116.5.0000.5310. 11 Na análise das trajetórias de vida é importante considerar os “processos” e dos “modos de subjetivação”. O modo de subjetivação está associado à maneira como os sujeitos relacionam-se com a regra e a forma como se vêem obrigados a cumpri-la e, ao mesmo tempo, reconhecer-se como ligados a esta obrigação. Enquanto, os processos de subjetivação podem ser compreendidos a partir da análise de como cada indivíduo se relaciona com o regime de verdade próprio em cada período, ou seja, a maneira como o conjunto de regras que define cada sociedade é experienciado por cada sujeito.(NARDI, 2006). 10 Com relação à ascensão no trabalho, percebe-se que essas mulheres se sentem livres, independentes e capazes quando possuem sua própria remuneração, por isso o trabalho ocupa uma possibilidade para que essas profissionais possam crescer, conquistar oportunidades e sentirem-se realizadas, além de garantir o sustento dos/as filhos/as (MOREIRA, 2008). Afinal, dois terços são responsáveis exclusivamente pela manutenção do lar. Desse modo, pode-se refletir sobre o quanto o trabalho representa uma necessidade para estas trabalhadoras, especialmente, neste estudo, para as mulheres, ainda que a precarização (ANTUNES, 2014) e a divisão sexual (HIRATA, KERGOAT, 2007) do trabalho ainda sejam desafios que precisam ser discutidos e repensados. “Porque do trabalho que vem o sustento [...] Claro a família em primeiro lugar, mas o trabalho anda ali, anda junto.” (Bem-te-vi) Para Moreira (2008, p. 105), a relação econômica atrelada à necessidade de trabalhar é “constituída tanto das formas possíveis de trabalho quanto das relações de gênero.” Isso pode ser observado nas narrativas das mulheres, de modo especial quando a mulher Águia diz que o salário “dele”, referindo-se ao companheiro, não é mais suficiente para dar conta das responsabilidades da casa. Ainda, conforme Moreira, se antes o trabalho, como forma de organização social, tornava possíveis relações de gênero, pautadas na divisão homem provedor (econômico) e mulher mantenedora (do bem-estar e dos cuidados com a família), hoje, o trabalho do homem não é garantia do sustento familiar. “[...] Só com o salário dele a gente não conseguia muita coisa e graças a Deus comigo trabalhando também, a gente consegue comprar as coisinhas que a gente quer.” (Canário) “[...] É uma questão de conseguir teu próprio dinheiro, tu ter um dinheirinho se precisar comprar alguma coisa, ir lá e comprar.” (Sabiá) A narrativa da trajetória da mulher Pintassilgo serviu de inspiração para definir o subtítulo da análise como “Aos pouquinhos fui subindo, subindo, subindo”, pois se percebe que a autonomia e a independência proporcionam às mulheres a realização de seus desejos. Isso fica muito claro nos relatos, inclusive na fala das demais mulheres, segundo as quais não 11 depender do marido traz a elas muita satisfação. É interessante observar que seis das nove mulheres entrevistadas são as únicas responsáveis pela renda familiar e as outras três trabalham também com o propósito de não serem dependentes de seus companheiros. “Eu me vejo que cresci profissionalmente, tipo eu era lá uma coisinha e nada e aos pouquinhos fui subindo, subindo, subindo.” (Pintassilgo) “[...] Mas assim, o principal sentimento era a independência, não depender 100% de meus pais.” (Azulão) “[...] Eu dou muito valor, procuro não faltar, procuro se tem que fazer, procuro fazer, porque é muito importante ter serviço, para mim ter carteira assinada, tem teu salário no final do mês, tu pode tipo, como é que vou te dizer, comprar uma coisa que tu quer, é outra vida.” (Tico-tico) Por meio da análise dessas trajetórias de vida compreende-se o que Nardi (2006) aponta como sendo a ética do trabalho, na qual também estabelece e reconhece socialmente o/a trabalhador/a como cidadão. Nesse caso, referindo-se à possibilidade que a mulher possui em desfrutar do que o trabalho pode oferecer-lhe: melhores oportunidades, satisfazer necessidades, liberdade de escolha, enfim, fazer uso dos recursos obtidos pela renda do trabalho, a partir de seus próprios desejos. “Tu tens que aprender a trabalhar...”: o trabalho feminino precarizado diante da divisão sexual do trabalho e no início da carreira Tendo como referência Hirata & Kergoat (2007), quando inferem sobre o trabalho feminino precarizado diante da divisão sexual do trabalho e no início da carreira, toma-se como base as trajetórias de vida sete das mulheres entrevistadas, as quais iniciaram suas trajetórias ainda muito cedo, na faixa etária dos dez aos vinte anos. A grande maioria delas já desempenhou atividades como: empregada doméstica, babá, atendente, entre outras. Geralmente, elas iniciaram em trabalhos informais e caracterizados com estereótipos de mulheres e com práticas de cuidado, o que demonstra experiência informal na área que atuam. Quatro dessas mulheres tiveram seus/suas filhos/as antes dos vinte anos de idade, ou seja, desde muito cedo, desempenham o papel de cuidadoras. Como aparece nas entrevistas: 12 “Foi bem difícil, eu nunca tinha trabalhado, claro ajudava o pai, eu perdi a mãe com onze anos [...] Aí tinha meu pai e meus irmãos tipo, tomei conta da casa [...].” (Bem-te-vi) “[...] Eu me ajuntei tinha treze anos, com quatorze tive meu primeiro filho, com quinze eu já tive meu segundo filho [...].”(Canário) Com relação à divisão sexual do trabalho, Madalozzo et al. (2010) consideram que os reflexos não estão presentes somente no âmbito do emprego e na participação diferenciada de homens e mulheres no mercado, mas, também, na forma como essas relações se difundem na sociedade, como nas famílias e nos lares, marcadas por desigualdades. Entretanto, ao rever suas trajetórias, essas mulheres percebem o quanto de dever e obrigação com relação às responsabilidades domésticas e cuidados em geral lhe foram impostos na construção de suas subjetividades, seja pela valorização do trabalho como pela forma de conduzir as vidas e os corpos (MOREIRA, 2010). O trabalho doméstico como naturalizado pode ser uma forma de conduzir a subjetividade das mulheres no trabalho e no cuidado, onde esta responsabilidade a elas atribuídas pode ser evidenciado neste relato ainda muito precocemente: “Com cinco anos eu fui morar com uma senhora lá, daí tu já começa, tu vai lavar a louça, varrer a casa, vai limpando aí cada dia ia aumentando né, as coisas assim. [...] Eu lembro que com sete anos vamos supor eu tinha uma boneca né, vou brincar, não, não pode... Ela pegou e jogou fora, tu tem que aprender a trabalhar, não a brincar.” (Tico-tico) Nessa trajetória, é evidente os aspectos do trabalho infantil e do trabalho doméstico como sendo de responsabilidade da mulher desde cedo. Paganini (2011) considera que, por mais que haja um aparato jurídico que visa erradicar o trabalho infantil, deve-se sensibilizar a sociedade para a garantia real dos direitos assegurados a todas as crianças e adolescentes. É importante dizer o quando foi doloroso para a mulher Tico-tico relembrar que, durante a sua infância, quase não pode brincar como as demais crianças e, sim, ser obrigada a trabalhar para ganhar a sua refeição diária. Ainda sobre as diferenças entre trabalhadores/as, a fala da mulher Sabiá está relacionada a comparações que são realizadas de papéis ocupados por homens anteriormente e que, agora, são exercidos por mulheres. Hirata e kergoat (2007, p. 599) colocam que a divisão 13 social do trabalho é caracterizada por “dois princípios organizadores: o princípio de separação (existem trabalhos de homens e trabalhos de mulheres) e o princípio hierárquico (um trabalho de homem “vale” mais que um trabalho de mulher).” Isso pode ser materializado diante da legitimação, no qual o estereótipo do trabalho doméstico é serviço exclusivo da mulher e a elas cabe menor capacidade de decisões em relação aos homens, o que se reproduz no ambiente do trabalho hospitalar. “[...] se tu tenta conversar com alguém eu sempre falei com mulher eu nunca tive dificuldades, agora com homem parece um pouco mais resistente, porque tu ta falando já te cortam.” (Sabiá) “[...] Mas vou dizer que a gente tem uma hierarquia, mas eu me sinto hoje muito mais a vontade para conversar com ela, levar um problema, pedir para me ajudar a solucionar uma coisa que eu não consigo sabe. Hum, antes quando a gente tinha um homem, não tinha, era bem difícil, bem difícil mesmo [...]”. (Pintassilgo refere-se à troca de chefia de um homem para uma mulher) “[...] a principal dificuldade é lidar com a comparação. Porque se existia uma pessoa que eles viam como o ideal, como perfeito né. [...] olha na verdade, nem tanto por ser mulher, mas por não ser tão velha, eu não sou nova. Talvez é a maneira como eu me visto, não sei.”(Canário) A idade e a forma de apresentação das mulheres, inclusive como se vestem interfere muito mais que nos homens nas relações de trabalho. Isso se refere aos marcadores sociais da diferença (PISCITELLI, 2009) que regulam as trajetórias dentro do gênero, da classe social, da geração, pois, de certa forma, quanto mais jovens (com cerca de 30 anos) essas mulheres assumem papéis de liderança, recebem hostilidades em meio as suas relações profissionais, passando por certa descredibilidade ao se compararem com uma liderança masculina, demonstrando que a divisão sexual do trabalho ainda se perpetua. Enquanto as mulheres com mais de 50 anos de idade são vistas com pouco rendimento para o trabalho hospitalar, segundo elas anunciaram em suas trajetórias. 14 “Eu era dona de casa, eu cuidava das crianças só...”: o trabalho feminino doméstico como pouco reconhecido e obrigatório Com relação ao trabalho feminino doméstico, é importante observar que três das participantes não o reconhecem como trabalho legítimo, pois têm a compreensão que ele começou a partir do momento que saíram do lar. Além disso, é possível também perceber que algumas das participantes, durante o período das suas formações, consideravam que não trabalhavam, apenas estudavam. Para Santos (2010), a estrutura familiar vem passando por modificações nos últimos anos e, com isso, os homens, principalmente os mais jovens, têm passado a compartilhar algumas tarefas domésticas com as mulheres, embora elas ainda continuem sendo a pessoa de referência com relação aos cuidados dos/as filhos/as e domésticos. Visto que os modos de trabalho são pautados por fazeres formais ou informais determinados pelo social, percebe-se, nas narrativas, uma desvalorização com os afazeres domésticos, cuidados com os filhos, ser estudante. De acordo com Meyer (2014), cabe a problematização no sentido de quais são os reflexos dos atributos que naturalizam atividades e características de homens e mulheres nas relações de cuidado? A autora também questiona como o que é naturalizado atravessa e legitima o conhecimento que é produzido, bem como as práticas profissionais na área da saúde. “Eu era dona de casa, eu cuidava das crianças só.” (Canário) “Eu comecei a trabalhar depois que eu me formei.” (Beija-Flor) Ao analisar a fala “eu era dona de casa, eu cuidava das crianças só”, a palavra “só” está imbuída do significado de que tais afazeres são diminutos, que precisam ser ampliados. Verifica-se aí a necessidade de desnaturalizar a ideia de um cuidado desvalorizado, culturalmente identificado como um trabalho informal e quase sempre precarizado, comumente feito por mulheres “Conseguir conciliar a casa e meu trabalho aqui...”: a duplicidade de jornada em ser mãe e trabalhadora 15 A duplicidade de jornada em ser mãe e trabalhadora também foi um elemento importante nas respostas das mulheres que, além de trabalharem no hospital, conciliam a maternidade e o trabalho doméstico em seu ofício. De forma geral, os horários nos hospitais são marcados por turnos de seis horas diárias, de segunda à sexta-feira, e de doze horas (plantão), em finais de semana, assim, o horário é alternado com o exercício da dupla jornada (OSÓRIO, 2006). Hirata e Kergoat (2007) explicam que a definição que retrata o trabalho doméstico vem passando por alterações, as quais propõem usar os seguintes termos: dupla jornada, acúmulo ou conciliação de tarefas, como se fosse apenas um apêndice do trabalho assalariado. Para Poldi, Borges e Araujo (2011), o patriarcado considera o trabalho doméstico como tarefa natural da mulher, o que, por vezes, dificulta a ascensão no público. Da mesma forma, percebe-se através das falas da mulher Pintassilgo e da mulher Canário, quão valiosa e potente foi a saída de seus lares para desenvolver um trabalho formal. No entanto, ainda estão latentes nos discursos as demandas da casa e a necessidade de conciliar ambos os trabalhos. “É uma vida tripla fora daqui... Filhos, marido, mulher, mãe, tudo... família. Tá, para mim é importante porque é como se fosse, eu saio daquele mundinho de dona de casa e to buscando alguma coisa fora assim [...].” (Pintassilgo) “Para mim, sempre tive um filho atrás do outro né, então tu começas, tem que cuidar da casa, tem o marido que chega de meio dia, tu tem que estar com o almoço pronto, o almoço tem que estar tudo organizadinho. [...] Eu não queria trabalhar o dia inteiro, eu achava difícil porque tinha meus outros guris que trabalhavam, tu tinha que ter comida na hora, roupa pra passar, comida para fazer, eu não vou vencer em fazer tudo no final de semana. [...] Para mim foi uma benção em todos os sentidos, eu conseguir conciliar a casa e meu trabalho aqui.”(Canário) A maior parte das mulheres retrata em suas falas a importância de conciliar a vida familiar com a profissional. De acordo com Hirata e Kergoat (2007, p.603), essa é uma “política fortemente sexuada, visto que define implicitamente um único ator (ou atriz) dessa “conciliação”: as mulheres, e consagra o statu quo, segundo o qual, homens e mulheres não são iguais perante o trabalho profissional.” Dado o contexto do desejo de atingir a igualdade por meio da conciliação de tarefas, talvez esteja aqui o grande desafio da mudança no olhar 16 sobre a divisão de tarefas, visto que, conforme Colcerniani et al. (2015), é uma produtora de desigualdades e tensões, evidentes na conciliação de vida profissional e trabalho reprodutivo. A mulher como o “sexo frágil” também foi uma das expressões evidenciadas nas falas destas trabalhadoras. Considerando as narrativas da mulher Canário e da mulher Pardal, evidencia-se um antagonismo de olhares. Para Canário, mesmo que haja homens que reconheçam as mulheres como sexo frágil, elas asseguram a capacidade em realizar diversas tarefas, não havendo restrições por ser de um determinado sexo. Já a mulher Pardal faz relação com a fragilidade e a sensibilidade da mulher quanto ao grau de força, pois há trabalhos que requerem um nível de esforço maior, os quais são, geralmente, melhor realizados por homens. Segundo ela: “[...]A gente é colocada como sexo frágil[...] Eu em casa sou homem e mulher, eu faço, faço encanamento. Digo o que dizem que a gente é. Mas a gente é muito mais forte do que qualquer homem, mas para eles a gente é frágil[...]”(Canário) “[...] O homem pode até fazer melhor no sentido de mais força, né. Acredito que a mulher é sexo frágil mesmo.[...] Ela é a parte mais frágil e mais sensível[...]” (Pardal) O antagonismo de ideias evidenciado nas narrativas das mulheres é de fato o que se presencia como legítimo e naturalizado no meio social. Em verdade, os estereótipos de fragilidade, fraqueza, sensibilidade, entre outros, são barreiras que ainda precisam ser superadas, sendo importante reconhecer que, em a nossa sociedade é generificada, conforme leciona Butler (2013), mas os sujeitos podem ter ações e subversões diante do que vivenciam. Desta forma, essa pesquisa também produziu nas participantes uma reflexão do porquê precisam desenvolver dupla jornada, afinal as tarefas do lar precisam ser desempenhadas pelas pessoas que o habitam e não apenas concentrar-se restritamente à mulher. Emergiu, durante as entrevistas, a motivação de olhar de outra forma para o que está posto e naturalizado, para desenvolver movimentos de reflexão do que se institucionaliza quanto ao modo de fazer e de ser mulher e pode produzir saúde para elas ou não. “Quem auxilia, quem presta atenção e presta cuidados é a mulher...”: o cuidado como atribuição naturalizada das trabalhadoras da saúde 17 Com relação ao número considerável de mulheres que atuam no contexto hospitalar, as trabalhadoras identificam essa feminização (YANNOULAS, 2011) devido ao cuidado já ser uma das tarefas naturalizadas das mulheres, considerando o que já realizavam nas atividades relacionadas às práticas de saúde e higienização em seu meio familiar (cuidar dos filhos/marido, afazeres domésticos). Com relação aos atributos que socialmente são incumbidos para homens e mulheres, Godim et al (2013) apontam que, devido à influência da cultura, homens tenderiam a assumir mais atributos de agressividade, competitividade, ao passo que as mulheres adotariam mais facilmente atitudes e comportamentos de sociabilidade, gentileza e amabilidade, pela valorização cultural da sensibilidade e do cuidado com a família e o lar. De acordo com os atributos que são reafirmados pelo papel social da menina, mulher, mãe, trabalhadora, percebe-se, conforme Godim et al (2013), a influência, quanto à divisão sexual do trabalho, em suas escolhas profissionais, entre outras, levando à compreensão do porquê há um número tão expressivo de mulheres que atuam no segmento da saúde. “A mulher é mais sensível, mais organizada. [...]” (Pintassilgo) “[...] Até mesmo a questão de um recém nascido, a mulher toma muito mais as rédias de cuidar, de limpar. [...] que é essa questão do cuidado com o paciente. Que já é imposta a mulher pela sociedade, não sei se pela sociedade, ou pela forma que é criado, pela história.” (Azulão) “Olha eu até acredito que seja a questão do cuidar, da sensibilidade, da preocupação com o outro, isso digamos que já culturalmente é destinado a mulher então acredito que muito pode, estar vinculado a questão da cultura também [...] essa área da saúde é mais procurada e vista como feminina em função de uma cultura, que já ta pré-determinado que quem cuida, quem auxilia, quem presta atenção e presta cuidados é a mulher.” (Beija-Flor) “[...] A mulher parece que tem mais, por ser dona de casa e as mulheres que tem filhos, a criança faz sujeira, tu vai lá e limpa, não tem mistério. E para o homem é mais complicado. Então eu acho que é porque na área da saúde tem menos homens, eles têm mais medo[...] a mulher é mais sensível nesse sentido.” (Pardal) 18 As trabalhadoras do hospital reconhecem a sua experiência empírica no cuidado com outras pessoas e com o ambiente, porém isso não consta como um atributo sempre válido quando consideram a separação entre o trabalho em casa e fora de casa. Por isso, percebeu-se que todas as trajetórias são atravessadas pelas marcas de gênero, divisão sexual do trabalho e precarização do trabalho feminino. Considerações finais A rotina de uma mulher que trabalha no hospital é cuidar do paciente, seus familiares, medicar, preparar as refeições, manter o ambiente limpo e organizado, além de atentar-se para os processos burocráticos, atualização no uso de novas tecnologias e práticas administrativas. Conclui-se, portanto, através da pesquisa, que essas mulheres sentem-se realizadas em suas trajetórias de trabalho, apesar de serem pouco valorizadas diante dos preconceitos advindos de marcadores sociais, atravessados principalmente pelo gênero e a faixa etária. Deste modo, a Psicologia pode colaborar na produção de cuidado, problematizando o nexo causal do adoecimento e sofrimento psíquicos no ambiente do trabalho (JAQUES, 2007), buscando formas de promoção e prevenção da saúde ao/à trabalhador/a, olhando para os marcadores sociais da diferença (PISCITELLI, 2008) como gênero, classe social, raça, etnia que intercectam trajetórias de vida.. Essa pesquisa evocou nas participantes um olhar mais atento ao seu espaço de trabalho, no sentido de perceber o que está a sua volta, o porquê de a sua configuração ser em sua maioria composto por mulheres, produzidas pela divisão sexual do trabalho e pela naturalização das experiências no cuidado, através da feminização do trabalho no hospital. Rever as trajetórias das trabalhadoras daquele local permitiu repensar os comportamentos sociais para que as dificuldades em relação à divisão sexual do trabalho não sejam estendidas para a próxima geração de seus/suas filhos/as, além da possibilidade de potencializar o cuidado e produzir saúde. É necessário, no entanto, levar em consideração que a divisão sexual do trabalho é um fator que estimula e provoca ainda muitas diferenças no meio profissional. Por esse motivo, é relevante desenvolver novos estudos sobre a temática, tendo em vista a necessidade de romper com paradigmas que são estereotipados pelas relações de gênero no campo do trabalho em saúde. Referências Bibliográficas Antunes, R. Desenhando a nova morfologia do trabalho e suas principais manifestações. (2014). In: A.R.C. Merlo; C. G. Bottega; K. V. PEREZ (Orgs.). Atenção à saúde mental do 19 trabalhador: sofrimento e transtornos psíquicos relacionados ao trabalho. 1. ed. Porto Alegre: Evangraf. Araújo, A. M. C. 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