CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES 

CURSO DE PEDAGOGIA 

 

 

Milena Pedrotti 

 

 

 

 

LITERATURA NO ESPAÇO ESCOLAR: HABITANTE OU 

TURISTA? 

 

 

 

 

 

 

 

Lajeado, novembro de 2016 



 

 

Milena Pedrotti 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

LITERATURA NO ESPAÇO ESCOLAR: HABITANTE OU 

TURISTA? 

 

 

 

Trabalho de Monografia apresentado na 

disciplina de Trabalho de Curso II – Curso 

dePedagogia do Centro Universitário 

Univates, como avaliação do semestre. 

Profª Orientadora: Ma. Rosiene A. Souza 

Haetinger 

 

 

 

Lajeado, novembro de 2016 



 

 

 

 

 

 

 

 

 

RESUMO 

 

 
 

 

 
O presente trabalho tem por objetivo analisar de que forma a literatura atua nos espaços 

escolares de duas instituições de ensino do Vale do Taquari a partir do tema “Literatura 

no Espaço escolar, habitante ou turista?”. Deste modo, utiliza-se como método a 

cartografia e dialoga-se com textos teóricos e literários, como Caio Fernando Abreu, 

Celso Gutfreind e Eduardo Galeano. Inicialmente, busca-se conhecer o “terreno” da 

literatura, elencando alguns conceitos, desvendando a sua história, função e relevância 

da mesma para os leitores. No decorrer da pesquisa, vai-se a campo com o intuito de 

observar a literatura nos espaços de duas escolas: uma da rede municipal e outra 

estadual a fim de colher pistas acerca de como a literatura transita em tais espaços. Por 

fim, baseada nas figuras do habitante e turista, percebe-se que em uma escola 

observada, a partir de elementos concretos, atitudes e impressões, a literatura habita, 

mas na outra instituição a literatura é turista, uma estrangeira. Diante dessas 

constatações, cabe refletir sobre a importância da literatura e as condições para que ela 

exerça o papel de habitante no espaço escolar.   

 

Palavras-chave: Literatura.  Habitante. Turista. Observações. Espaço escolar. 

 

 

 

 

 

 

 



 

 

 

 

 

 

SUMÁRIO 

 

 

1. INTRODUÇÃO..........................................................................................................5 

2. (RE) CONHECENDO O TERRENO DA LITERATURA.....................................6 

2.1 Entendendo o conceito de literatura e literatura infantil.....................................6 

2.2 Históriada literaturainfantil..................................................................................7 

2.3 Abordando a qualidade na literatura infantil........................................................8 

2.4 Relevância e função da literatura infantil............................................................ 10  

2.5 Problematizando a literatura infantil e o leitor...................................................12 

2.6 Analisando a literatura na escola..........................................................................13 

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS........................................................... 15 

4. PERFIL DA LITERATURA NOS ESPAÇOS ESCOLARES - UM 

PASSAPORTE PARA A INVESTIGAÇÃO............................................................. 17 

4.1.  Relato das observações relacionadas à literatura no espaço escolar realizadas 

em duas escolas do Vale do Taquari.......................................................................... 17 

 5. DESVENDANDO AS DUAS FACES DA LITERATURA................................. 27 

6. REFERÊNCIAS........................................................................................................ 33



 

 

 

 

 

 

 

INTRODUÇÃO 

 

 

 

 Há diversos estudos que comprovam a importância da literatura para o 

desenvolvimento das crianças, despertando nelas o prazer em ouvir histórias, 

desencadeando inúmeras emoções, auxiliando na resolução de conflitos, divertindo e 

despertando o mundo mágico do faz de conta. No entanto, o modo como ela apresenta- 

se nos mais diversos espaços do ambiente escolar, tais como a biblioteca, as salas de 

aula, o corredor, a sala dos professores, da direção ou até mesmo o pátio da escola, é 

algo que merece profunda atenção e estudo. 

 Desta forma, o presente trabalho, cujo tema é A literatura no espaço escolar: 

“habitante” ou “turista”?
1
, visa analisar, a partir de referencial teórico, observações e 

registros, como a literatura transita no espaço escolar. Para tanto, utilizarei as metáforas 

habitante e turista, buscando referenciais teóricos e literários que permitam relacionar 

tais expressões ao contexto da literatura no espaço escolar, problematizando as relações 

estabelecidas entre ambos. Ainda, assumindo uma postura de pesquisadora crítica, 

observarei duas escolas do vale do Taquari a fim de analisar o modo como a literatura 

transita em tais espaços.     

Desta forma, reafirmo os inúmeros benefícios que a literatura produz na vida das 

pessoas e ouso pensar numa literatura que não apenas transite pelo espaço escolar, mas 

que o habite de forma intensa, significativa e prazerosa.

                                                             
1
As expressões “habitante” e “turista” foram utilizadas por Francine Nara de Freitas na sua dissertação de 

mestrado em Ensino (UNIVATES) intitulada “De figuras que invento: movimentos de professores no 

currículo da educação infantil” (2016). 



 

 

 

 

 

 

 

 

2 (RE)CONHECENDO O TERRENO DA LITERATURA 

  

 

Para reconhecermos a literatura na escola, temos que primeiro conhecê-la, tendo 

em vista a sua importância em nossas vidas. Desta forma, a partir da abordagem de 

diversos autores que se dedicam ao estudo da literatura, torna-se fundamental destacar 

alguns conceitos a fim de posteriormente observar de que forma a literatura perpassa os 

espaços escolares de duas instituições abordadas.   

2.1 Entendendo o conceito de literatura e literatura infantil 

Na obra “Literatura Infantil, Teoria, Análise, Didática”, Coelho (2000) elenca 

algumas ideias possíveis a respeito do conceito de Literatura, identificando-a como “um 

fenômeno de linguagem plasmado por uma experiência vital/cultural direta ou 

indiretamente ligada a determinado contexto social e a determinada tradição histórica”. 

A autora acrescenta ainda que “a literatura é a mais importante das artes”, que possui 

como elemento básico “a palavra (o pensamento, as ideias, a imaginação)”, ou seja, o 

que determina e diferencia o ser humano. Por fim, alega que há certa impossibilidade de 

se definir com exatidão tal conceito, uma vez que o mesmo está ligado à experiência 

humana. Já Frantz (2011) estende o conceito de literatura “desde uma simples forma de 

deleite sem maiores consequências, até documento fiel da realidade”. A autora entende 

“a literatura enquanto atividade artística” capaz de “proporcionar prazer lúdico-estético 

ao seu leitor”. E ressalta: “não se pode esquecer que, assim como a criança, a literatura é 

também ludismo, jogo, fantasia, beleza e emoção”. Para Filho (1999), “a literatura é, 

tradicionalmente, uma arte verbal”, recordando “que o seu conceito não é matéria 



 

pacífica entre os estudiosos que a ela se dedicam”, tendo em vista que esta carrega 

consigo ”variações significativas ao longo da história”.  

Torna-se imprescindível ainda que se reflita a respeito da literatura infantil e, 

para tanto, há inúmeros autores que tratam do tema. Conforme a visão de Cunha apud 

Frantz (2011), a literatura infantil se trata da arte literária que pode ser apreciada 

inclusive por crianças. Azevedo apud Oliveira (2005) reforça esta ideia quando relata: 

[...] os livros para crianças não recorrem a uma “linguagem infantil” – algo 

que simplesmente não existe – mas sim a uma linguagem capaz de gerar 

identificação e ser compreendida por crianças e adultos, pobres e ricos, cultos 

e analfabetos, ou seja, uma linguagem popular. (AZEVEDO apud 

OLIVEIRA, 2005, p. 41) 

 Para Coelho (2000), “a literatura infantil é, antes de tudo; literatura; ou melhor, é 

arte: fenômeno de criatividade que representa o mundo, o homem, a vida, através da 

palavra”. Frantz (2011) adota a posição de Marc Soriano (1975), o qual afirma: 

A literatura infantil é uma comunicação histórica (localizada no tempo e no 

espaço) entre um locutor ou um escritor- adulto (emissor) e um destinatário 

criança (receptor), que, por definição, ao longo do período considerado, não 

dispõe senão de modo parcial da experiência do real e das estruturas 
linguísticas, intelectuais, afetivas e outras que caracterizam a idade adulta.  

(SORIANO, 1975, apud COELHO, 2000, p. 31) 

       Frantz (2011) salienta ainda que “a literatura infantil é também ludismo, é fantasia, 

é questionamento, e, dessa forma, consegue ajudar a encontrar respostas para as 

indagações do mundo infantil, enriquecendo no leitor a capacidade de percepção das 

coisas”.  

Para tanto, faz-se necessário adentrar no mundo da literatura infantil buscando 

conhecer um pouco da sua história que tantos ensinamentos, valores e sentimentos nos 

traz a cada vez que nos permitimos viajar para outros mundos através de suas obras. 

 

2.2 História da literatura infantil 

Conforme Zilberman (1982), somente entre o fim do século XVII e o começo do 

século XVIII é que começaram a surgir os primeiros livros dedicados às crianças, pois 

antes desse período a infância não existia, não havia reconhecimento algum dessa faixa 

etária, de modo que crianças e adultos conviviam conjuntamente, porém, nenhum laço 

7 



 

afetivo os unia. A partir da Idade Moderna as famílias passaram a “estimular o afeto 

entre seus membros” (ZILBERMAN, 1982, p. 15). 

A literatura infantil brasileira iniciou com Monteiro Lobato, escritor que se 

utilizou da literatura para denunciar algumas questões sociais. Cademartori (1986) cita 

que:  

Para Lobato, o nacional deixa de ser pitoresco para ganhar tipificação 

humana em Jeca Tatu, personagem polêmica, causadora de inumeráveis 
discussões, na medida em que contrapunha ao ufanismo da paisagem 

exuberante na qual se havia se enxertado o indígena belo e cavalheiresco, a 

subnutrição de um tipo que, de cócoras, não espera nem produz nada em sua 

vida vegetativa. Jeca Tatu passa a personificar a estagnação, o marasmo, a 

precariedade da vida nacional; a aceitação passiva das arbitrariedades do 

poder; o comodismo que prefere tudo perder antes de esforçar- se em uma 

tomada de posição. (CADEMARTORI, 1986, p. 47) 

 

Monteiro Lobato passa a ser um marco na criação da literatura infantil, uma vez 

que busca romper com preceitos morais, religiosos e com as leis do estado. Segundo 

Cademartori (1986), 

O grande desafio das personagens de Lobato é o conhecimento, é através dele 

que se impõem. A moralidade tradicional é dissolvida, o grande valor passa a 

ser a inteligência. A esperteza, habilidade quase maliciosa da inteligência é 

igualmente valorizada. Emília, sua notável personagem, diz em certa altura 
da obra: “Aprendi o grande segredo da vida dos homens: a esperteza. Ser 

esperto é tudo”. É essa, também, a moral de muitas de suas fábulas. 
(CADEMARTORI, 1986, p. 51) 

A obra literária de Monteiro Lobato influenciou positivamente inúmeras 

gerações que conviveram com seus livros na infância. Conforme Cademartori (1986), 

“rompendo com os estereótipos consagrados, questionando a aceitação do lugar vigente, 

sua obra estimula a formação da consciência crítica”. 

 

2.3.  Abordando a qualidade na literatura infantil 

 

Não basta que o livro de literatura descreva uma bela história ou contemple os 

requisitos mencionados acima, sobretudo, é necessário que ele atenda aos princípios de 

uma obra de qualidade. Nesse sentido, o escritor Bernardo apud Oliveira (2005) elenca 

algumas características pertencentes a este tipo de literatura. Conforme o autor, 

“gostamos de um livro quando ele não acaba”, pois embora toda obra possua uma 

8 



 

“última página”, o que mantém o encantamento pela mesma é o fato de desejarmos 

continuar em contato com o livro, ou mesmo com o autor através da leitura de outras 

obras suas. Bernardo apud Oliveira (2005) salienta: “[...] os melhores livros são aqueles 

que, deixando um forte gosto de ‘quero mais’, parecem-nos incompletos. Na verdade, 

cabe-nos completá-los”. 

 Ainda, segundo o autor, outra característica contemplada nas boas obras ocorre 

quando “relemos um livro que havíamos lido anos atrás”. Para Bernardo apud Oliveira 

(2005), ao relermos um bom livro manifestamos as mesmas emoções que foram 

experimentadas na leitura anterior do mesmo livro, porém, há novas “surpresas e 

descobertas”. Ele mesmo indaga: “como, se o livro era o mesmo?” E acrescenta: 

[...] um bom livro de ficção não se disfarça apenas uma vez, ele se disfarça 

quantas vezes for lido por diferentes pessoas ou até pela mesma pessoa em 

idades diferentes. O processo que o livro promove, de perspectivação da 

realidade, e, portanto, de (re) conhecimento da realidade, acontece a cada 

leitura, forçando-nos a reformatar o mundo e a reorganizar oque pensávamos 

sobre o mundo.  (BERNARDO, apud OLIVEIRA 2005, p. 18) 

O autor descreve ainda sobre a necessidade da ficção para suprir o desejo do 

homem de ser enganado: 

A ficção atende a esta necessidade de maneira honesta: ela se disfarça, mas 

avisa que está se disfarçando. Enquanto algumas pessoas, digamos, alguns 

políticos, mentem descaradamente mas juram que não estão mentindo, os 

poetas, como no conhecido poema de Fernando Pessoa, “fingem tão 

completamente que chegam a fingir  que é dor  a dor que deveras sentem”, 

isto é, poetas e escritores, em geral avisam de antemão que estão mentindo, 

porque o leitor, (...) deseja ardentemente esse tipo de mentira, a que 

chamamos ora de “ficção”, ora de “sedução”. (BERNARDO, 2005, p. 16) 

  Carneiro apud Oliveira (2005) aborda a questão dos livros infantis de autoajuda, 

os quais, segundo dados fornecidos pela revista Veja(2004),estão fazendo sucesso no 

mercado, especialmente nos Estados Unidos. O autor se utiliza da matéria intitulada 

“Para estressados mirins” publicada na revista citada para problematizar acerca do 

assunto, relatando: 

A literatura sempre foi uma arma poderosa dos pais para transmitir valores 

morais e éticos a seus filhos. Todos os clássicos da ficção infantil trazem 

exemplos do que é bom e do que é mau, do certo e do errado, e terminam 

com a mensagem de que é possível superar medos, traumas e diferenças. De 

uns tempos para cá, outro tipo de livro passou a concorrer com a turma do 

Pinóquio e da Cinderela – o de autoajuda infantil. Isso mesmo: também as 

crianças se tornaram alvo dos manuais que fornecem fórmulas práticas para 

resolver todos os problemas da vida. Enquanto a ficção infantil convencional 

utiliza fantasias e metáforas para transmitir suas lições, os livros de auto 
ajuda vão direto ao ponto. Ensinam a criança a lidar com o divórcio dos pais 

9 



 

e não se sentir culpada pela separação, mostram como superar a morte de 

pessoas queridas, como se sair bem a escola e até como ser gordinho no 

mundo em que Felipe Dylon e Gisele Bündchen são o padrão de beleza.  

(CARNEIRO, apud OLIVEIRA 2005, p. 69) 

O autor ainda escreve sobre as leituras pobres, sem qualidade, alegando que 

sempre tomou a posição de não rejeitar “nenhum tipo de leitura quando se trata de 

leitores iniciantes”, pois acreditava que o tempo seria responsável pela sofisticação dos 

mesmos.  

Hoje, no entanto, não diria que mudei de ideia, mas já não defendo a tese 

com a mesma convicção. Começo, até, a desconfiar de que Schopenhauer 

tinha razão quando afirmava o seguinte: “com relação a nossas leituras, a arte 

de não ler é sumariamente importante (...). Para ler o bom uma condição é 

não ler o ruim: porque a vida é curta e o tempo e a energia escassos”. 

(CARNEIRO, 2005, p. 71, SCHOPENHAUER, Arthur. Sobre livros e 

leitura. Porto Alegre: Paraula, 1994, pp. 33 e 35). 

 

2.4 Relevância e função da literatura infantil 

           Frantz (2011) ressalta a importância de o aluno manter contato com os diversos 

“tipos de texto” existentes, no entanto, acredita que o texto literário mereça destaque 

pelo fato de apresentar maiores afinidades com o “leitor infantil”, sendo capaz de 

envolvê-lo completamente, “apelando para as suas emoções, a sua fantasia, o seu 

intelecto” e por demonstrar o mundo de forma lúdica, questão fundamental, uma vez 

que o sujeito envolvido neste processo é a criança. A autora reitera ainda a importância 

do texto literário ao considerar que este, ao contrário do texto informativo, apresenta 

uma linguagem conotativa, plurissignificativa, “carregada de sentidos”, diferenciando- 

se do uso que cotidianamente faz-se dela. Devido ao seu caráter “ambíguo, simbólico”, 

a literatura oferece ao leitor a possibilidade de intervir, a partir da leitura que desejar 

fazer. A respeito disso, Frantz (2011) acrescenta: 

Paradoxalmente, por apresentar um mundo esquemático e pouco 

determinado, a obra literária acaba por fornecer ao leitor um universo muito 

mais carregado de informações, porque o leva a participar ativamente da 

construção dessas, com isso, forçando- o a reexaminar a sua própria visão da 

realidade concreta (AGUIAR, 1988:15 apud FRANTZ, 2011, p. 34). 

Frantz (2011) destaca que costumeiramente “tem-se cometido sérios equívocos” 

em relação aos livros de literatura infantil, pois se costuma “reduzi-los a simples 

condição de livros didáticos”, delegando a eles a função da leitura como responsável 

pela escrita correta, “pela internalização das estruturas da língua” e por transmitir aos 

10 



 

leitores lições “morais” das mais diversas. A respeito disso, Pedro Bandeira apud 

Oliveira (2005) destaca: 

[...] Os livros didáticos ensinam, os paradidáticos reforçam detalhes do 
conhecimento, principalmente aspectos ligados à formação da consciência e 

da cidadania e a Literatura... 

Bom, Literatura é outra coisa. É farra, é diversão, é sonho, é pausa para 

alimentar a alma, para fortalecer as emoções, para pensar com o coração, para 

raciocinar com o fígado, para entender com o pâncreas! 

Livros didáticos e paradidáticos são insubstituíveis, por que nos trazem 

respostas sem as quais é impossível compreender o mundo. 

A Literatura não responde nada. 

Literatura pergunta. 

Pergunta? E onde encontrar a resposta? 

Sei lá. Procure dentro de você. 
 

Oliveira (2003 b) apud Oliveira (2005) problematiza acerca da suposta função da 

literatura infantil, ao enfatizar que: 

Não é função da literatura infantil nem de literatura nenhuma ensinar nada a 

ninguém, marcando a ferro e fogo, ditando normas de conduta, ou seja lá o 

que for, mas educar, no sentido etimológico da palavra, conduzindo para fora 

do sujeito o que nele já existe, contribuindo para, através do belo, ampliar sua 

percepção de mundo e isso vale pra todas as artes. (OLIVEIRA, 2003 b, apud 

OLIVEIRA, 2005, p. 58) 

Já Frantz (2011) destaca que embora a função da literatura seja a de fornecer ao 

leitor condições para que ele obtenha uma visão mais clara de mundo a partir de novas 

maneiras de interpretar a realidade, ela não visa substituir valores antigos em detrimento 

de novos.  A autora alega que: 

Liberta de compromissos que não sejam para consigo mesma, sem nenhuma 

vinculação ética ou pedagógica, sua única meta é atingir a criança, ampliando 

seu universo, estimulando sua imaginação, proporcionando- lhe um melhor 

conhecimento de mundo e de si própria. (WORNICOV, 1986, p. 7, apud 

FRANTZ, 2011). 

 

          Carneiro apud Oliveira (2005), referindo-se ainda à função da literatura, cita a 

“ingenuidade necessária”, “citada por Machado de Assis, que revive quando abrimos 

um romance e lembra que sem ela não há possibilidade de leitura”: 

 

 

É natural que essa mesma ingenuidade vá se perdendo com o tempo, como o 

preço que pagamos pelo crescimento, mas é fundamental também que ela 

renasça sob outras formas na vida adulta.  Para isso serve a literatura, para 

nos fazer lembrar que um dia acreditamos na fantasia. É esta a sua única e 

11 



 

primordial função, e qualquer outra é não apenas desnecessária como 

extremamente perigosa.  (CARNEIRO, apud OLIVEIRA 2005, p. 74) 

 

2.5.  Problematizando a literatura infantil e o leitor 

Segundo Abramovich (1995), a criança passa a ser introduzida no mundo da 

leitura através do contato com textos orais, de modo que a experiência de ouvir 

histórias, realizada inicialmente por familiares, passa a ser um fator decisivo para que 

ela se torne um futuro leitor. A autora afirma que através das histórias a criança deixa 

vir à tona uma série de emoções, podendo, por exemplo, “gargalhar com as situações 

vividas pelas personagens”, obter repostas para as mais diversas curiosidades, aprender 

a solucionar conflitos e, inclusive, viajar por lugares nunca vistos através do mundo da 

imaginação. Nesse sentido, Abramovich (1995) afirma: “Contar histórias é uma arte... e 

tão linda!!! É ela que equilibra o que é ouvido com o que é sentido, e por isso não é 

remotamente declamação ou teatro... Ela é o uso simples e harmônico da voz”. 

Além destas questões presentes “na literatura destinada às crianças”, Coelho 

(2000) reforça, a partir dos estudos da psicanálise, a importância do elemento 

maravilhoso como constituinte da literatura infantil, que, conforme a autora ressalta, 

“pode se apresentar sob diferentes aspectos: metafórico, satírico, científico, popular ou 

folclórico e fabular”. 

Segundo Coelho (2000), o “maravilhoso metafórico (ou simbólico)” é 

constituído de narrativas cujo enredo agrada por si mesmo, “pela história que 

transmite”, cujo significado, no entanto, só passa a ser entendido pelo leitor, a partir do 

momento em que ele adquirir “o nível metafórico de linguagem”. Há também, as 

“narrativas que, com humor, utilizam elementos literários do passado ou situações 

familiares, facilmente reconhecíveis, para denunciá-las como erradas, superadas... e 

transformá-las em algo ridículo” (COELHO, 2000), definidas como maravilhoso 

satírico. O maravilhoso científico é composto por narrativas que ocorrem distantes do 

“nosso espaço/tempo”, ocasionando atos inexplicáveis pela razão. De acordo com 

Coelho (2000), “o maravilhoso popular ou folclórico, composto por contos, lendas e 

mitos possui narrativas que exploram nossa herança folclórica europeia e nossas origens 

indígenas ou africanas”. Por fim, a autora elenca o “maravilhoso fabular”, que retrata 

12 



 

“situações vividas por personagens animais, que podem ter sentido simbólico, satírico 

ou puramente lúdico”. Conforme afirma Coelho (2000): 

Nessa fase se inicia, para a criança, a luta pela defesa de sua vontade e de seu 
desejo de independência em relação ao poder dos pais ou à rivalidade com os 

irmãos ou amigos. É quando inconscientemente, a criança tenta construir sua 

própria imagem ou identidade e se depara com os muitos estímulos ou 

interdições aos seus impulsos, etc.; etc. 

É, pois, nesse período de amadurecimento interior que a literatura infantil e, 

principalmente, os contos de fada podem ser decisivos para a formação da 

criança em relação a si mesma e ao mundo à sua volta. O maniqueísmo que 
divide as personagens em boas e más, belas ou feias, poderosas ou fracas, etc. 

facilita à criança a compreensão de certos valores básicos da conduta humana 

ou do convívio social. Tal dicotomia, se transmitida através de uma 

linguagem simbólica, e durante a infância, a nosso ver, não será prejudicial à 

formação de sua consciência ética (...) (COELHO, 2000, p. 54) 

Coelho (2000) afirma, ainda, que as crianças tendem a perceber que, embora 

criadas, as histórias se assemelham muito com suas histórias de vida e que evidenciam a 

precisão de “suportar a dor ou correr riscos para se conquistar a própria identidade”. 

Segundo a autora, a literatura passa a ter uma função muito importante, auxiliando a 

criança “a encontrar significado na vida”.  

Frantz (2011) ressalta que embora os responsáveis pela aproximação entre 

criança e literatura tenham motivos unicamente pedagógicos, o que determinará a sua 

permanência vem a ser o “prazer –lúdico –estético” que ela oferece ao leitor.  

 

2.6 Analisando a literatura na escola 

Azevedo apud Oliveira (2005) destaca a necessidade de se levantar questões 

acerca de como a escola vem trabalhando com os livros de literatura infantil, uma vez 

que ela vem sendo um dos únicos locais de mediação “da leitura e da formação de 

leitores”. Ele salienta que os livros costumam ser “utilizados como simulacros de livros 

didáticos”. E argumenta: “é preciso ser claro: didatizar, utilizar textos literários com fins 

meramente utilitários (ensinar a língua, ilustrar temas científicos, etc.) significa reduzir 

e descaracterizar a literatura, que assim perde sua essência e deixa de fazer sentido”.  

Zilberman (1982) alega que há uma questão que une a literatura à escola: o fato 

de ambas possuírem um aspecto formativo, deste modo, age sobre o indivíduo 

ativamente, impedindo que este seja passivo a seus resultados. A autora alega que ao 

13 



 

selecionar textos de literatura o professor tende a se guiar por padrões cultos, no 

entanto, torna-se fundamental que ele observe “a qualidade estética”. E justifica: 

Porque a literatura infantil atinge o estatuto de arte literária e se distancia de 
sua origem comprometida coma pedagogia, quando apresenta textos de valor 

artístico a seus pequenos leitores; e não é porque estes ainda não alcançaram 

o status de adultos que merecem uma produção literária menor. 

(ZILBERMAN, 1982, p. 23) 

Diante destas questões e após ter realizado inúmeros estudos e pesquisas, Frantz 

(2011) afirma convictamente que: “ler faz a diferença”; e mais: “o texto literário é fator 

imprescindível no processo de formação do leitor. É a porta de entrada para o mundo da 

leitura”. Desta forma, torna-se fundamental que o professor não apenas dedique tempo e 

“espaço para a vivência da literatura em suas aulas”, mas se dedique, sobretudo, a 

construir uma história de amor pela leitura a fim de incentivar seus alunos através de 

seu exemplo. Além, disso, é necessário que o professor mantenha um cuidado especial a 

fim de não acabar com o prazer proposto pela leitura, evitando realizar tarefas 

inoportunas, de caráter repetitivo, que não estejam vinculadas de forma alguma com a 

leitura realizada ou com a literatura. Filho (1998) traz uma consideração importante 

acerca do sujeito leitor que costuma habitar a escola: 

O sujeito leitor não está na sala de aula, exclusivamente; ao contrário, ele está 

lá também e não perde esta condição visceral, indispensável na vida social 

moderna, por estar na fábrica, no escritório, nos trens, em família ou... na 

aula de matemática. Mais que isto, ele deve ler para entender o que é possível 

entender do que os outros dizem e para interpretar, com seu próprio acervo de 

vida e repertório de conhecimento, a escrita do texto. Mais: precisa ler o que 

não está escrito e ler mais longe ainda, o que pode vir a ser escrito, deduzido 
dos atos de fala (...).  (FILHO, 1998, p. 11) 

Diante dessas questões, pretendi investigar o espaço da literatura na escola por 

meio de questionamentos, imagens, registros e observações, os quais serão descritos no 

decorrer do trabalho, a fim de constatar se ela se comporta como habitante ou turista 

(também representada pela figura do estrangeiro), buscando compreender o sentido de 

tais metáforas no contexto da literatura no ambiente escolar.  

 

 

 

 

 

14 



 

 

 

 

 

 

 

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 

 
 

 

 

Para perceber como a literatura transita no espaço escolar – como habitante ou 

turista- observei espaços escolares das redes municipal e estadual de ensino no Vale do 

Taquari/RS. Destaquei a forma de atuação da literatura através da análise de posturas ou 

procedimentos tomados por alguns profissionais da escola, bem como em atitudes de 

alunos que contribuem para que a literatura seja de tal modo. 

Portanto, a presente pesquisa possui um referencial bibliográfico, tratando-se de 

uma pesquisa de cunho qualitativo e o procedimento técnico utilizado foi o de estudo de 

campo, uma vez que fui a algumas escolas observar espaços em que a literatura atua, o 

que me possibilitou elencar alguns dados acerca de sua forma de atuação e de que forma 

o corpo docente, discente e até mesmo outros profissionais das redes de ensino 

analisadas agem para que a literatura assuma tal forma, ou seja, que atitudes os mesmos 

tomam ou deixam de tomar para que a literatura “invada” os espaços escolares. Ainda, 

utilizarei o método da cartografia para análise dos resultados obtidos, que é “útil para 

descrever processos mais do que estados de coisa, nos indica um procedimento de 

análise a partir do qual a realidade a ser estudada aparece em sua composição de 

linhas”(Deleuze e Guattari, 1995; Guattari e Rolnik, 1986; Fonseca e Kirst, 2003 apud 

Passos e Eirado, 2009). Ainda, de acordo com Passos e Eirado (2009), 

O cartógrafo acompanha essa emergência do si e do mundo na experiência. 

Para realizar sua tarefa não pode estar localizado na posição do observador 

distante, nem pode localizar seu objeto como coisa idêntica a si mesma. O 

cartógrafo lança-se na experiência, não estando imune a ela. Acompanha os 

processos de emergência, cuidando do que advém. É pela dissolvência dos 

pontos de vista que ele guia sua ação. (PASSOS e EIRADO, 2009, p. 129) 



 

Desta forma, cabe ao cartógrafo “habitar a experiência sem estar amarrado a 

nenhum ponto de vista, e por isso, sua tarefa principal é dissolver o ponto de vista do 

observador, sem, no entanto, anular a observação”.  (Passos e Eirado, 2009, p. 123) 

Além das observações nos espaços escolares descritos anteriormente, e 

apontamentos teóricos a partir dos mesmos, elaborei um diário de bordo a fim de 

constatar alguns dados com maior veemência, uma vez que estes podem não aparecer 

nas observações, tendo em vista que elas ocorreram em um curto período de tempo.  

Desta forma, o diário de bordo possibilita analisar se há momentos na rotina 

escolar dedicados à leitura literária, se ela é obrigatória ou livre, entre outros aspectos 

que surgiram ao longo das observações. Assim, acredito na validade do “documento”, o 

qual foi um recurso destinado a facilitar as minhas observações, permitindo também o 

registro de minhas impressões e sensações ao longo das observações nos espaços 

escolares. No entanto, o mesmo só faz sentido se for aliado à teoria e agir a fim de 

propor discursos e movimentos que venham a favorecer mudanças nos espaços em que 

a atuação da literatura for precária ou pouco existente. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

16 



 

 

 

 

 

 

4. PERFIL DA LITERATURA NOS ESPAÇOS ESCOLARES - UM 

PASSAPORTE PARA A INVESTIGAÇÃO 

 

4.1.Relato das observações relacionadas à Literatura no Espaço Escolar realizadas 

em duas escolas do Vale do Taquari 

Ao pisar pela primeira vez no território desconhecido da escola B, dirigi-me à 

secretaria para realizar as devidas apresentações. Enquanto aguardava, um tanto 

impaciente, pois a diretora estava atendendo alguns pais, achei-me no direito de iniciar a 

observação no espaço em que havia transitado. Sem fazer muito esforço para procurar, 

logo encontrei bem à minha frente exposto um cartaz anunciando um concurso de 

poesia –da AES SUL -, o qual dizia: “A poesia nunca perde a vontade de criar”. – 

Verdade, pena que são poucos os que queiram se aventurar por este caminho! – Ousei 

pensar. 

Enquanto ainda esperava, aqueles “poucos minutos” pareciam se converter em 

intermináveis horas. Até que enfim, chegou minha vez! A diretora recebeu-me muito 

bem e logo me apresentou a uma de suas funcionárias, a qual me encaminhou até a sala 

dos professores. Ali, no íntimo de meu ser, realizei a primeira constatação... o ambiente, 

embora semelhante a uma cozinha (por sinal, bem aconchegante), assim como a 

secretaria, não revelava nenhum sinal de que ali a literatura pudesse habitar. Uma 

parada para registros em que pude constar e depois, constatar: apenas cartazes de 

recados gerais que se dedicavam única e exclusivamente a “vigiar e punir o 

comportamento” de funcionários e alunos!  

Naquele momento, veio-me à memória alguns professores, ilustres autores e 

filósofos, como Baumann, Foucault... mas o poder agora cede espaço à literatura pois é 



 

sobre ela que pretendo me debruçar! Visualizei então, em meio aquele ambiente cheio 

de interdições, uma “Janela sobre as proibições”: 

Na parede de um botequim de Madri, um cartaz avisa: Proibido cantar. Na 
parede do aeroporto do Rio de Janeiro, um aviso informa: É proibido brincar 

com os carrinhos porta-bagagem. Ou seja: ainda existe gente que canta, 

ainda existe gente que brinca. (GALEANO, 1994, p. 76) 

E, acima de tudo, ainda existe gente que pensa e ousa realizar coisas inusitadas, 

por ora proibidas, no espaço escolar daquela instituição. 

Logo fui questionada pela professora que me acompanhava acerca dos espaços 

que pretenderia observar e, então, escolhi a biblioteca. Após subir algumas escadas, bem 

ao final do corredor, lá estava ela. Fria, inóspita, imóvel, à espera dos primeiros passos 

que fossem habitá-la naquela tarde, ou até mesmo, naquele dia. Mas como entrar, se a 

porta... a porta não estava fechada, estava trancada! Literalmente: a sete chaves. Na 

biblioteca denominada “Simões Lopes Neto”, pude observar muitos materiais: livros 

empilhados em classes e alguns contidos em caixas no chão à espera de um local 

adequado. Enquanto “soavam” inúmeros pedidos de “fique à vontade!”, passei a realizar 

alguns registros, enquanto “minha sombra” realizava a leitura de um jornal. 

Educadamente, a interrompi para alguns questionamentos. 

A professora que havia me acompanhado relatou-me que, normalmente, o local 

fica aberto para que as crianças possam retirar livros e que ali trabalham ela, no turno da 

tarde, e uma funcionária (serviços gerais), com formação no Ensino Médio, a qual 

assumiu esta função nos turnos manhã e tarde por apresentar problemas de saúde nas 

tarefas desempenhadas anteriormente. Salientou ainda que naquele dia estava faltando 

uma professora, motivo pelo qual a biblioteca estava fechada.  

Tendo encerrado minhas observações iniciais, a professora falou-me com muito 

agrado da sala de leitura, a qual fez questão de que eu conhecesse. Sorridente, aceitei 

seu convite. Por um instante, ousei pensar: “Nem tudo está perdido, mas...” chegando à 

sala ao lado, adivinha quem eu encontrei? Ninguém, pois a porta novamente estava 

fechada! E a professora, demonstrando um “contentamento descontente” (CAMÕES, 

2005, p. 11) pôs-se a falar do Projeto “Leitura nas férias”, realizado anualmente, com 

alunos do 1º ao 5º ano (cerca de 150 crianças). Assim, cada criança leva uma sacola de 

TNT com três livros de literatura infantil, cuja estampa é pintada por crianças 

participantes do Projeto.  

18 



 

Figura 1: Sacolas do Projeto “Leitura nas Férias”

 

Fonte: Elaborado pela autora 

Há um detalhe interessante de se observar na elaboração das sacolas de leitura: 

as crianças que auxiliaram na confecção das mesmas foram as retiradas da aula por mau 

comportamento. E agora, me pergunto: esta estratégia seria a mais viável? 

Aquele aluno que está “incomodando”, com certeza chama sua atenção para 

algo: pode ser que a forma de ensino não lhe agrade, que a professora não interaja com a 

turma ou acredite que seus alunos devam ser sempre obedientes, que não ousem pensar, 

criticar, que não venham se permitir ao riso em momento algum, ou simplesmente estas 

crianças estão passando por desafios que lhes impeçam de concentrar-se no momento da 

aula. Podem ser muitos os motivos que levem aquele aluno presente de corpo, porém 

distante, à fuga para outros mundos, mas torna-se necessário investigar, buscar 

aproximações, promover encontros de uma forma amigável, a fim de que a literatura 

seja um caminho de encontro do sujeito consigo mesmo, com o outro e não soe como 

castigo, punição ou algo semelhante. Ouso pensar com Galeano esse mundo “das 

contradições” (GALEANO, 2000, p. 123) 

Cada promessa é uma ameaça; cada pedra, um encontro. Dos medos nasce as 

coragens; e das dúvidas, as certezas. Os sonhos anunciam outra realidade possível e 

os delírios, outra razão. Somos, enfim, o que fazemos para transformar o que somos. 

A identidade não é uma peça de museu, quietinha na vitrine, mas a sempre 

assombrosa síntese das contradições nossas de cada dia. (GALEANO, 2000, p. 123) 

Além de ler/contar as histórias, as crianças deveriam escolher um dos livros para 

reproduzir junto a seus familiares um material de sucata relacionado à história. Ali, 

numa prateleira no canto da sala, estavam expostos fantoches de meia, animais 

confeccionados a partir de garrafa pet, caixa de leite, rolo de papel higiênico. Pude 

observar também algumas fotos do projeto expostas no mural, em que as crianças 

posavam com as sacolas de leitura. 

19 



 

Figura 2: Objetos de sucata relacionados ao Projeto “Leitura nas Férias”.

 

Fonte: elaborado pela autora 

O território da escola A já era um pouco familiar por ter realizado ali uma 

prática pedagógica nos anos iniciais. No entanto, estava sendo-me imposto um desafio: 

despir-me daquilo que já conhecia, dos conceitos pré-concebidos para assumir uma 

nova postura de observadora.  

Após os primeiros contatos com a coordenação, fui acompanhada pela 

supervisora até a biblioteca “Dom Quixote”, a qual me deixou totalmente à vontade e, 

nesses termos, retornou aos seus afazeres. Inicialmente, estranhei ter perdido de vista a 

figura do acompanhante, mas logo fui retomando meus pensamentos, fazendo brotar em 

mim a figura do observador crítico que parecia estar adormecida. 

Fiquei perplexa diante de tanto material: uma infinidade de livros coloridos, 

alegres, diversas mesas com cadeiras e alguns mochinhos, convidando para uma entrega 

total à leitura, sem tempo para acabar! 

  O ambiente, além de limpo, muito bem iluminado e arejado, possuía tirinhas de 

histórias em quadrinhos coladas pelos armários e alguns móbiles com personagens do 

nosso folclore pendurados no teto. Num cantinho da biblioteca estavam expostos em 

torno de 20 belos cartazes produzidos por uma turma de alunos, os quais faziam 

propaganda de diversas obras de literatura infantil e juvenil. 

20 



 

 Figura 3: Tirinhas coladas nos armários 

 

Fonte: Elaborado pela autora. 

 

Figura 4: Obras dos alunos expostas na biblioteca 

 

Fonte: Elaborado pela autora. 

  Mais adiante, surpreendi-me com a escrita na parede: “Pode ser seu!”. Os dois 

alunos da escola que mais vendessem os números de rifa da biblioteca ganhariam um 

dos 11 livros (novos e lacrados) que estavam expostos em algumas mesas. Atrás da 

porta havia um “cartaz” com normas da biblioteca, de modo que me chamou atenção a 

questão relativa à multa dos livros. Esta seria cobrada no caso de atraso da entrega dos 

mesmos, porém, o valor seria investido na compra de livros novos.   

E o mais importante: aquele local estava sendo habitado por uma turma de 13 

alunos do 3º ano que não somente ocupavam as cadeiras com seus corpos, mas se 

entregavam de “corpo e alma” à leitura de diversas obras literárias que eram 

disponibilizadas sobre as mesas. A professora também estava lendo.  

21 



 

Apesar de haver um pequeno cartaz no qual estava escrito: “Este é um local de 

trabalho. Por favor, faça silêncio”, as crianças dialogavam harmonicamente, apenas 

necessitando de algumas chamadas de atenção quando “se excediam”. As leituras eram 

embaladas pelo som harmônico do folhear das páginas dos livros; e os diálogos, em sua 

maioria, estavam vinculados às obras, a outras leituras realizadas pelas crianças, as 

quais estabeleciam relações com o seu cotidiano. Mas isso não é tudo! 

Ninguém está condenado a ler e segurar para si o grito da emoção, da beleza ou 

mesmo da tristeza e da angústia que sobrevoa em sua mente. Há momentos de partilha, 

pois as crianças têm a oportunidade de contar para os colegas aquilo que leram. E para 

não perderem o encantamento, o hábito da leitura, as crianças retiram um livro por 

semana, sendo que poderão trocar por outro quando lerem antes do prazo de devolução.  

Um pouco antes de retornar para a sala de aula a professora reforçou à sua turma 

que cada aluno deveria retirar livros, porém, naquele dia não poderia ser gibi, pois na 

semana seguinte fariam uma apresentação/ trabalho sobre os mesmos. 

Dado o sinal, de forma tranquila e organizada, a turma despediu-se 

momentaneamente da biblioteca, enquanto que outra turma passou a habitar o mesmo 

local. Desta vez, uma turma de 15 alunos do 3º ano. Um pouco mais agitados, mas da 

mesma forma, alguns folheavam os livros procurando achar um de seu interesse para 

realizar uma leitura, ao passo que outros simplesmente liam um, dois..., todos os livros 

pareciam lhes interessar.  

Enquanto isso, a bibliotecária realizava seu trabalho com boa disposição e 

empenho: organização de livros, registro dos que iam sendo retirados pelas crianças, 

combinações com a professora, entre outras tarefas. 

Aproveitei um momento “mais tranquilo” para realizar alguns questionamentos à 

bibliotecária que, prontamente, relatou-me acerca de algumas questões importantes. 

 

 

 

 

Formação: Magistério e Ensino Superior Incompleto (cursando Biologia).  

Horários em que a biblioteca fica aberta: Todos os dias, exceto às quartas- 

feiras, pois a carga horária da bibliotecária é de 33 h. 

Com que frequência os alunos “visitam” o local? Quase que diariamente.  

Quais turmas retiram livros?  Todos (pré ao 9º ano). 

Há limite de livros retirados? Pode retirar um livro por semana, porém, 

assim que ler, poderá devolver e trocar outro.     

            Diário de Bordo do dia 18/08/16 

 

22 



 

  Tendo encerrado o expediente na escola, despedi-me, agradecendo pela 

hospitalidade e retirei- me do local com a cabeça a borbulhar pensando em minhas 

escritas. 

No dia 08 de setembro retornei ao espaço da escola A, a fim de realizar novas 

observações. Estando em reunião, a orientadora não pode atender-me, no entanto, 

avisou-me por meio de uma professora que realizasse minhas observações à vontade.  

Nos corredores constatei que além dos cartazes já existentes na observação anterior, 

havia novos cartazes, alguns relacionados a datas comemorativas e outros contemplando 

o envolvimento das crianças de modo especial nas questões relacionadas à literatura. 

Figura 4: Algumas produções das crianças. 

 

Fonte: Elaborado pela autora. 

  No espaço da biblioteca os mochinhos estavam organizados de forma diferente 

da observação anterior, havia uma nova disposição de livros expostos numa mesa 

grande e o local estava sendo habitado por uma turma de alunos (6º ano) que juntamente 

com sua professora, estavam envoltos no processo de leitura. Apesar de haver um pouco 

mais de resistência por parte dos alunos, todos estavam lendo, sendo que a grande 

maioria havia optado por gibis, no entanto, na hora da retirada dos livros surgiram obras 

de Ana Maria Machado, Marcos Rey, entre outras. 

  Despedi-me satisfeita pelas novas constatações que pude realizar naquela tarde, 

e ansiosa para continuar minhas escritas, pretendia anunciar aos quatro cantos a 

literatura que habita naquela instituição.  

  Ao retornar à escola B na tarde de 12 de setembro, deparei-me com as portas da 

biblioteca abertas, no entanto, a sala de leitura estava trancada, sendo aberta apenas para 

23 



 

que eu fotografasse o local. Voltando à biblioteca, havia uma única hóspede naquele 

local: a funcionária; e desta forma, foi até o final daquela tarde. Para falar a verdade, 

mais três crianças frequentaram o local, mas não à procura de obras literárias. Frustrou-

se? Pois é, eu também! Isso mesmo! Elas vieram até a biblioteca a pedido da 

funcionária para responderem algumas questões que abordarei em seguida. 

  Já estava com “uma pulga atrás da orelha”, e, com a chegada das três crianças, 

fui invadida por mais uma. Quer saber por quê? Pois bem, na outra vez que estive na 

escola a professora que me atendeu relatou-me que no turno da tarde ela permanecia na 

biblioteca juntamente com a funcionária que estava ali, no entanto, “casualmente” 

naquele dia ela não estava. 

  Ao ser questionada sobre a ausência da colega, J. relatou-me que ela estava 

“dando aula” em outra escola. Em relação às crianças, solicitei que gostaria de 

conversar com três ou quatro, podendo ser meninos e meninas, participantes do Projeto 

Leitura nas Férias. A pergunta que não quer calar é: por que será que vieram apenas três 

meninas? Nem precisa se dar ao trabalho de responder, eu já suponho: “aos olhos da 

escola” observada, é necessário esconder a aparente ignorância masculina ou a falta de 

envolvimento dos mesmos, afinal o sexo feminino carrega o estereótipo de ser o mais 

inteligente, mais estudioso, entre outros atributos. 

  Ao receber as meninas, apresentei-me, realizando os questionamentos propostos: 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 Você gostou de participar do Projeto “Leitura nas férias”? 

 Que tipo de atividades você fez? 

 Gostaria de participar novamente? 

 Tem Hora do Conto / Contação de Histórias na sua sala ou 

na escola? 

 Você gosta desses momentos? Por quê? 

 É importante ler e ouvir histórias? Por quê? 

Diário de bordo do dia 12/09/16  

 

24 



 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Aluna M F    7 anos         1º ano I 

Gostou do Projeto. 

Realizou um fantoche (enguia) e bichos de palitos com o auxílio da 

mãe. 

Gostaria de participar novamente do Projeto. 

Relatou que atualmente não possui Hora do Conto.   

           Diário de bordo do dia 12/09/16. 

 

 

 

 

Aluna M     8 anos      3º ano I 

Gostou de tudo. 

Além da leitura construiu uma máscara e desenho da história. 

Sim, acredita que a leitura é importante.   

“E quando não tem letras a gente imagina.” (aluna M referindo-se 

aos livros de imagens). 

          Diário de bordo do dia 12/ 09/16. 

 

 

 

tem letras a gente imagina”. (referindo- se aos livros de imagens). 

Diário de bordo do dia 12/09Z 

 

Aluna K     11 anos      5º ano. 

Gostou muito de participar do Projeto, o qual frequenta desde o 1º 

ano, descrevendo como “bem legal”. 

Realizou resumo do livro, destacando autor e personagem principal. 

Apesar de não ter momentos de hora do conto na escola, a aluna 

acredita que esses momentos são bem importantes. 

Salientou: “Porque a gente aprende. Aprende a contar histórias pra 

quem não sabe ler”. 

Diário de bordo do dia 12/09/16. 

 

 

25 



 

A partir dos questionamentos realizados às meninas, pude perceber uma série de 

questões que me inquietam, me atingem, e, na minha condição de educadora, é, no 

mínimo, inadmissível que me cale diante de tais fatos.  

Primeiramente, foi possível constatar que as alunas entrevistadas manifestaram 

interesse pelas atividades relacionadas ao “Projeto Leitura nas Férias”. Lamentável é 

que a literatura na instituição gire apenas em torno disso. Ficou evidente nelas o 

interesse em aprender, em permitir-se o contato com novas experiências literárias e, ao 

mesmo tempo, transpareceram tristeza, frustação ao relatarem que não há momentos de 

hora do conto na escola. Não bastasse isso, diante da negativa das crianças em relação à 

hora do conto, a funcionária interrompeu afirmando: “mas eles recebem as sacolas com 

livros pra levar pra casa”, como se isso substituísse o encantamento, o prazer em ouvir 

histórias. 

Outra questão que literalmente chocou-me está relacionada à pobreza presente 

no vocabulário daquelas crianças, ficando evidente na fala da menina de 11 anos que, ao 

justificar-se diante do gosto que possui por ler e ouvir histórias, apenas exclamou: “É 

bem legal”!  

Por outro lado, animou-me o fato da mesma aluna manifestar um sentimento de 

solidariedade, um interesse pelo bem coletivo, ao afirmar: “porque a gente aprende. 

Aprende a contar histórias pra quem não sabe ler”. Além disso, encantei-me com a fala 

da menina de 8 anos, a qual relatou: “e quando não tem letras a gente imagina”. Essa 

frase, além de linda, é poética, carregada de sentidos.  Através dela, a aluna manifesta o 

seu interesse por livros de imagens, identificando a função dos mesmos, que é 

justamente, a de desenvolver a imaginação, o senso crítico, a apreciação pelas imagens, 

possibilitar a leitura de mundo, e, por meio dela, me ponho a refletir juntamente com 

Gutfreind (2016): 

O que me cativava é que você me dava acesso a outro mundo. Os valores que 

dominavam a minha infância não existiam nele. Esse mundo me encantava. 

Eu podia escapar ao entrar nele, sem obrigações nem pertencimento. Com 

você, eu estava em outro lugar; um lugar estrangeiro, estrangeiro a mim 

mesmo. (GUTFREIND, 2016, p. 60) 

E despedi-me, com um pingo de esperança de que aquele inocente discurso 

certamente sinalizava o começo de um longo processo de mudanças que estariam por 

vir. 

26 



 

 

 

 

 

 

 

 

5. DESVENDANDO AS DUAS FACES DA LITERATURA 

 

 

 

Após ter observado como a literatura se relaciona nos diferentes espaços de duas 

escolas do Vale do Taquari/ RS pude constatar que o trabalho desenvolvido na escola A 

demonstra muito bem que ali a literatura habita verdadeiramente. Ela não surge apenas 

quando há necessidade, mas se constitui numa prática constante, atuando em todo o 

ambiente da escola. Lá os alunos são contagiados pela magia da literatura, curtem esses 

momentos com intensidade, permitindo que a fruição os invada. Nesse caso, pode-se 

dizer que a literatura assume um caráter de “habitante”, pois convida à entrega, instiga e 

acrescenta à vida dos estudantes, sem, no entanto, “destruir” a sua identidade. Caio 

Fernando Abreu (1988) traz uma passagem que nos remete a pensar como este convite 

pode ser encantador. 

“Moncher, apanhe suas maracas, suas malhas de balé, seus pratos chineses – 

apanhe todos os pedaços que você perdeu nessas andanças e venha para meu 

tapete mágico. Te quieres volar conmigo hasta los sitios encantados? 

Somethingelse.” (ABREU, 1988, p. 50) 

  

O fato de haver momentos semanais em que os alunos se dedicam à leitura na 

biblioteca, acompanhados pela professora, é algo de extrema importância, pois, 

especialmente nos anos iniciais, a criança necessita de um estímulo para adentrar com 

intensidade no mundo da literatura, e é preciso que a figura do adulto, neste caso, o 

professor, perpetue como um bom exemplo de leitor. Ouso pensar este processo através 

de uma das histórias descritas em “O livro dos Abraços”: 

Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou- o para que 

descobrisse o mar.  

Viajaram para o Sul. 
Ele, o mar estava do outro lado das dunas altas, esperando. 



 

Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois 

de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a 

imensidão do mar, 

E tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. 

E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: 

- Me ajuda a olhar! (GALEANO, 2000, p. 15)  

  Acredito, ainda, que além de merecer um olhar especial, “[...] a literatura 

comove, instiga a reflexão, reanima ideias e desejos, colocando o leitor em posição de 

fazer interagir o que lê com o que vive.” (YUNES, 1998, apud FILHO, 1998, 

contracapa).  

  E por falar em vivência, constatei que na escola A, a literatura flui, invadindo 

todos os cantos, fazendo parte da vida de cada criança, perpassando pelos diálogos entre 

professores, alunos, bibliotecária, ou quem estiver ali. Não é preciso provar para 

ninguém o que acontece naquele local, ou seja: não necessita alguém explicar como a 

literatura invade os espaços do ambiente escolar, pois ela está presente diariamente, de 

modo natural. Torna-se visível, muito claro e praticamente impossível descrever com 

palavras a riqueza, a importância de cada instante vivido com tamanha intensidade.  

  Mas isso não é tudo... da mesma forma que ler, se apropriar com intensidade das 

obras literárias são importantes, os momentos em que  as crianças têm a oportunidade 

de compartilhar com os colegas aquilo que leram é fundamental. Afinal,  

Quando é verdadeira, quando nasce da necessidade de dizer, a voz humana 

não encontra quem a detenha. Se lhe negam a boca, ela fala pelas mãos, ou 

pelos olhos, ou pelos poros, ou por onde for. Porque todos, todos, temos algo 

a dizer aos outros, alguma coisa, alguma palavra que merece ser celebrada ou 

perdoada. (GALEANO, 2000, p. 23) 

A mesma literatura que nos encanta, nos comove, faz brilhar nossos olhos, se 

instaura em nossas mentes e encontra morada em nossos corações, após nos permitir um 

deleite profundo, necessita ser anunciada, a fim de que outros sujeitos possam 

experimentar tais sensações. E o hábito das crianças de retirarem semanalmente um 

livro para lerem no aconchego de seus familiares comprova isso. Assim, “[...] vamos 

lendo e contando para que outros descubram os mundos que dormem nas palavras.” 

(FILHO, 1998, Contracapa). 

E por falar em “mundos que dormem nas palavras” (FILHO, 1998, Contracapa), 

eis que me deparo com um local em que a literatura está adormecida! Ao transitar pela 

escola B pude encontrar um território em que, assumindo a condição de estrangeiro, a 

28 



 

literatura habita esporadicamente
2
, quando dá tempo, com o intuito de aproveitá-la para 

algum projeto, por exemplo. Bizello (2005) relata: 

 

[...] primeiro procura apartamento, depois trabalho, depois escola, depois, se 

sobrar tempo, amor. Depois, se preciso for, e sempre é, motivos para rir ou 

chorar – ou qualquer coisa mais drástica, como viciar-se definitivamente em 

heroína, fazer auto-stopaté o Katmandu, traficar armas para o Marrocos ou – 
sempre existe old fashion– morrer de amores por alguém que tenha nojo de 

sua pele latina. (ABREU, 1988, p. 51 apud BIZELLO, 2005) 
 

Lá não há habitantes, apenas turistas... E temo dizer que: “[...] passaram-se os 

anos. Eu já não temo nem creio... Assim me salvarei do purgatório, que está cheio de 

horríveis turistas da classe média; e no final das contas, se fará justiça” (GALEANO, 

2000, p. 86). “Turistas da classe média” foi exatamente o tipo de público com o qual me 

deparei na escola B. Aquele tipo de leitor morno, com pouco sentimento, não crítico... 

Por outro lado, deparei-me com um pouco de esperança diante de algumas 

crianças, como aquelas com quem conversei, as quais demonstraram um fascínio pela 

literatura. No entanto, a escola carece de recursos financeiros, de estímulos. Está 

sobrevivendo, apesar do descaso e do abandono das instituições governamentais. Lá, 

ainda ressoam algumas vozes esperando serem ouvidas, como se dissessem: “(...) – 

Diga para... diga para alguém que eu estou aqui.” (GALEANO, 2000, p. 70) 

Diante do fato, questiono-me: onde está o prazer pela leitura? A culpa de não 

haver um encontro fiel com a literatura será de quem? Cabe-nos acharmos culpados?  

O fato me remete à “Crônica da cidade de Nova Iorque” (GALEANO, 2000, p. 

82), cuja história conta que “A mulher foi-se embora depois de doze anos de casamento. 

Não é culpa dela, diz. Entrou e tchau, diz. Ela nunca gozou, diz. Diz que a culpa é da 

próstata”. 

Deste modo, não há como culparmos os alunos que não leem. Se não encontram 

prazer na leitura, ora, não terão motivo para fazê-lo! Torna-se muito mais conveniente 

solucionar o problema, motivando nossas crianças, demonstrando com palavras e 

atitudes que o contato com as obras literárias é algo maravilhoso. Por vezes desafiador, 

no começo, um pouco árduo, sim, mas, extremamente valioso, prazeroso e significativo! 

                                                             
2
 Expressão utilizada pela professora do Curso de Pedagogia do Centro Universitário UNIVATES, 

Mariane Inês Ohlweiler. 

29 



 

Diante disso, acredito fielmente que a literatura deva fazer parte de nossas vidas desde a 

gestação e se estender até o fim de nossa existência. 

Pois bem, este discurso é belo e verídico, mas entramos agora numa questão 

extremamente preocupante, desafiadora, e que por vezes tem nos tirado algumas noites 

de sono. O que fazer diante de uma parcela esmagadora de professores que andam 

desmotivados, fatigados por um sistema que lhes exige cada vez mais e lhes retorna 

com médias e até péssimas condições de trabalho?  

Sabemos que temos sido vítimas de um sistema de governo que não se empenha 

com as questões físicas e sociais, tampouco com as questões culturais que atingem 

nossas crianças e jovens, especialmente no âmbito da literatura. O descaso do governo 

com este artefato é algo preocupante e que se alastra pelo país inteiro trazendo inúmeras 

consequências a toda a população. Lamentavelmente, pertencemos a “Um sistema (...)” 

em que “O outro é um competidor, um inimigo, um obstáculo a ser vencido (...). O 

sistema, que não dá de comer, tampouco dá de amar: condena muitos à fome de pão e 

muitos mais à fome de abraços”. (GALEANO, 2000, p. 81) E mais, eu diria: a fome da 

literatura, do hábito, do prazer pelas obras literárias.  

Pode-se dizer que a literatura é considerada por muitos, especialmente pelos 

governantes, uma inimiga, pois preserva e resgata a cultura, fornece inúmeros subsídios 

à educação dos sujeitos, sem contar no prazer que ela proporciona. Em função dessa 

“inimizade”,  pouco habita nos sistemas de ensino público. No entanto, nossas crianças 

permanecem famintas e sedentas de um ensino que lhes dê o mínimo para que alcancem 

a condição de cidadãos dignos de manterem contato com obras literárias de qualidade.  

Caso contrário, continuaremos a presenciar esse “sistema de desvínculos: para 

que os calados não se façam perguntões, para que os opinados não se transformem em 

opinadores. Para que não se juntem os solitários, nem a alma junte seus pedaços” 

(GALEANO, 2000, p. 121).  Além do mais, este sistema está cada vez mais gerando um 

vasto número de pessoas com uma pobreza vocabular e que “não sabe” apreciar a 

literatura como ela realmente merece, justamente em decorrência da falta do hábito da 

leitura. Se junta a isso o fato de que se os professores, especialmente os de anos iniciais, 

não aderem à literatura em sala de aula, como esperar que as crianças o façam? Galeano 

(2000) ilustra muito bem este fato com o texto “A arte para as crianças”: 

30 



 

- Era uma vez um passarinho que não queria comer a comidinha. O 

passarinho tinha o biquinho fechadinho, fechadinho, e a mamãezinha dizia: 

“Você vai ficar anãozinho, passarinho, se não comer a comidinha”. Mas o 

passarinho não ouvia a mamãezinha e não abria o biquinho...  

E então a menina interrompeu: 

- Que passarinho de merdinha – opinou. 

(GALEANO, 2000, p. 40) 

Torna-se muito claro que as crianças tendem a reproduzir aquilo que ouvem, que 

vivenciam e infelizmente, salvo em raros casos, não estamos cercados de uma cultura 

que valoriza a literatura e que faça bom uso dela. Pude comprovar este fato ao transitar 

pelos espaços da escola B, na qual a literatura ocupa um canto periférico
3
.  

Não cabe a mim julgamentos acerca do trabalho que vem sendo desenvolvido na 

instituição B, até porque destaco que há boa vontade por parte da direção, funcionários e 

professores. No entanto, há uma série de questões já elencadas que acabam por 

desestimular o grupo e, consequentemente, não contribuem para que a literatura habite 

efetivamente naquele local. 

Deste modo, há necessidade urgente de que se busquem estímulos, na medida do 

possível, levando em consideração a atual situação política e econômica do país, para 

que as crianças e jovens não venham a ser prejudicadas e aprendam a lutar contra um 

sistema que lhes priva do direito a uma educação de qualidade. Caso contrário, 

estaremos condenados a uma cultura que se amedronta diante de situações de descaso, 

como a vivenciada pela escola B.  

Queiramos nós que não aconteça como na história: “Certa manhã, ganhamos de 

presente um coelhinho das Índias. Chegou em casa numa gaiola. Ao meio dia, abri a 

porta da gaiola. Voltei para casa ao anoitecer e o encontrei tal e qual o havia deixado: 

gaiola adentro, grudado nas barras, tremendo por causa do susto da liberdade.” 

(GALEANO, 2000, p. 111). 

Essa “liberdade” a literatura nos proporciona, afinal, a temos em mãos a todo 

instante. Basta ousar, criar, experimentar o que de melhor ela nos proporciona... Mesmo 

sabendo que em determinados momentos, especialmente na escola, somos “forjados” a 

manter contato com obras literárias que não nos agradam muito, isto tem a sua 

                                                             
3
 Expressão utilizada pela professora do Curso de Pedagogia do Centro Universitário UNIVATES 

Mariane Inês Ohweiler.   

31 



 

importância. No entanto, possuímos liberdade para adentrarmos no mundo da literatura 

da maneira que nos convir. Lamentável que na escola B não presenciei o encontro fiel 

da literatura com o leitor. Pois bem... “Não sei se foi: eu só sei que merecia ter sido. O 

resto é o resto, e ponto. O tempo apagou todas as pegadas.” (GALEANO, 1994, p. 18) 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

32 



 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS 

 

 

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FILHO, Domício Proença. A Linguagem Literária. 7. ed. São Paulo: Ática, 1999. 

FILHO, Francisco Gregório. Guardados do coração: memorial para contadores de 

histórias. Rio de Janeiro: Amais Livraria e Editora, 1998. 

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FREITAS, Francine Nara de. De figuras que invento: movimentos de professores no 

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Centro Universitário UNIVATES, 2016. 

GALEANO, Eduardo. As Palavras Andantes. Porto Alegre: L&PM, 1994. 

GALEANO, Eduardo. O Livro dos Abraços. 8 ed. Porto Alegre: L&PM, 2000. 



 

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método da cartografia: pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. Porto 

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1982. 

 

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