UNIVERSIDADE VALE DO TAQUARI - UNIVATES 

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU 

MESTRADO EM ENSINO 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO 

NO PROCESSO DE ENSINO DO CURSO DE LICENCIATURA EM 

LETRAS DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAPÁ (UEAP) 
 

 

 

Alex Nery Morais 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Lajeado, agosto de 2020  



Alex Nery Morais 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO 

NO PROCESSO DE ENSINO DO CURSO DE LICENCIATURA EM 

LETRAS DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAPÁ (UEAP) 
 

 

 

 

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação Stricto Sensu Mestrado 

Acadêmico em Ensino da Universidade Vale 

do Taquari, como exigência parcial para 

obtenção do grau de Mestre em Ensino, na 

linha de pesquisa Recursos, Tecnologias e 

Ferramentas no Ensino. 

 

 

Orientador: Prof. Dr. Rogério José Schuck 

 

 

 

 

 

Lajeado, agosto de 2020 



Alex Nery Morais 

 

 

 

 

 

 

TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO 

NO PROCESSO DE ENSINO DO CURSO DE LICENCIATURA EM 

LETRAS DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAPÁ (UEAP) 
 

 

 

A Banca examinadora abaixo _____________ a Dissertação apresentada ao Programa de 

Pós-Graduação em Ensino, da Universidade do Vale do Taquari - Univates, como parte da 

exigência para a obtenção do grau de Mestre em Ensino, na linha de Recursos, Tecnologias 

e Ferramentas no Ensino. 

 

 

 

Prof. Dr. Rogério José Schuck – orientador 

Universidade do Vale do Taquari - Univates 

 

 

 

Profa. Dra. Silvana Neumann Martins 

Universidade do Vale do Taquari – Univates 

 

 

 

Prof. Dr. Derli Juliano Neuenfeldt 

Universidade do Vale do Taquari – Univates 

 

 

 

Prof. Dr. Cezar Luís Seibt 

Universidade Federal do Pará - UFPA 

 

 

 

 

 

 

 

 

Lajeado, agosto de 2020 



 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

À minha mãe, Angela Nery (in memoriam), 

cujo exemplo de força deixado é luz que 

carrego comigo.



AGRADECIMENTOS 

 

 

Por trás de cada linha escrita nesta dissertação, além do que vem de tempos que eu 

não saberia precisar, existem importantes histórias e pessoas que estiveram comigo nesses 

dois anos de mestrado. Os desencontros, que não foram poucos, ficaram como aprendizados; 

os bons encontros que, felizmente!, foram em número muito maior, guardarei no coração e 

serei eternamente grato. 

Assim, agradeço ao meu orientador, o Prof. Dr. Rogério Schuck, pelos conhecimentos 

comigo partilhados, pelas orientações e pela paciência. 

Aos professores Cezar Seibt, Derli Neuenfeldt e Silvana Martins pela atenção dada 

ao meu projeto de pesquisa para a qualificação, o que foi possível perceber a partir das muitas 

e importantes contribuições gentilmente dadas ao meu trabalho. 

Às professoras do mestrado Morgana Hatgge e Suzana Schwertner pelas aulas 

tocantes e motivadoras, que me fizeram perceber a arte na docência, sensibilizando um pouco 

mais o meu olhar para a educação e para a vida. 

Agradeço aos professores e alunos do Curso de Licenciatura em Letras da UEAP que 

solicitamente se dispuseram a participar de minha pesquisa. 

A todos os meus amigos de curso, em especial ao Ronne Gonçalves, Fabiano Muller, 

Daniele Paes, Carlíria Fumeiro, Colari Teixeira e Lucinei Rezende, cujas companhias 

tornaram a minha jornada no mestrado mais leve. 

Aos amigos Deusuíte Machado, Jady Souza, Juliana Leão, Michele Carvalho e Sara 

Carneiro pela rede de motivação que criamos entre nós desde a graduação. 

Aos amigos que fiz em Lajeado - RS Leonardo Mariani e Sheila Batista, que foram 

grandes parceiros no período em que morei nessa cidade, acolhendo-me como membro da 

família.



 
 

 

Ao meu amigo Carlos Carrera pelos grandes e generosos direcionamentos que me deu 

durante a produção desta pesquisa. 

Ao meu companheiro Daniel Costa por ter aceitado dividir comigo esse momento 

inesquecível da vida, que é o mestrado. 

Aos meus familiares, principalmente aos meus irmãos Arilson Nery e Patrícia Nery e 

ao meu pai Nilson Morais, pelo amparo e pela alegria que trazem à minha vida. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
O exercício de pensar o tempo, de pensar a técnica, de pensar o 

conhecimento enquanto se conhece, de pensar o quê das coisas, 

o para quê, o como, o em favor de quê, de quem, o contra quê, o 

contra quem são exigências fundamentais de uma educação 

democrática à altura dos desafios do nosso tempo (FREIRE, 

2000, p. 46).



 
 

 

RESUMO 

 

 

O intenso uso de tecnologias digitais de informação e comunicação (TDICs), que perpassa e 

impacta todas as atividades humanas, é uma realidade inafastável da contemporaneidade. 

Essa é uma temática, portanto, que merece grande atenção daqueles que se interessam por 

educação. Assim, esta pesquisa constitui um movimento interpretativo de como essas 

tecnologias têm sido integradas aos processos de ensino e dos efeitos dessa integração. Ela 

visa compreender como as TDICs estão sendo incorporadas pelos docentes ao processo de 

ensino do Curso de Letras da Universidade do Estado do Amapá (UEAP), e tem como 

objetivos específicos: verificar e analisar a presença dessas tecnologias no Projeto 

Pedagógico do Curso; compreender as concepções dos professores acerca dessas tecnologias 

e de como o seu uso pode influenciar o processo de ensino; apontar as principais TDICs 

utilizadas, como os professores as têm empregado em suas disciplinas e analisar a percepção 

dos licenciandos desse uso feito pelos docentes. O percurso metodológico adotado baseou-

se nos fundamentos da pesquisa qualitativa, nos pressupostos do estudo de tipo descritivo e 

nos princípios da hermenêutica filosófica, delineando-se como um estudo de caso. Para a 

realização desta investigação, foram feitas entrevistas semiestruturadas com docentes e 

discentes do Curso de Letras da UEAP, além de uma análise documental do PPC do Curso. 

Os dados coletados foram analisados à luz da Análise Textual Discursiva. Do PPC, 

interpretou-se que nele é reconhecida a importância do uso e do estudo das TDICs na 

formação ofertada pelo Curso. Da entrevista com os docentes, compreendeu-se que eles, em 

geral, concebem essas tecnologias como meios do contexto educativo, consideram que elas 

impactam o processo de ensino de maneira fortemente positiva e veem os áudios e vídeos 

prontos como as tecnologias que mais utilizam. Já das entrevistas com os acadêmicos, 

constatou-se que eles percebem o Datashow como principal tecnologia utilizada pelos 

docentes e que possuem uma visão mais crítica com relação aos impactos do uso de TDICs 

sobre o ensino e à capacidade de manuseio desses artefatos demonstrada por seus professores. 

 

Palavras-chave: TDICs. Ensino. Ensino Superior.



 
 

ABSTRACT 
 

 

 
The intense use of digital information and communication technologies (DICTs), which 

permeates and impacts all human activities, it is an ingrained reality of contemporary times. 

This is a theme, therefore, that deserves great attention from those who are interested in 

education. Thus, this research is an interpretative movement of how these technologies have 

been integrated into the teaching processes and the effects obtained in this integration. It 

aims, more specifically, to understand how DICTs, have been incorporated by professors in 

the teaching process of the Linguistic Course at the University of the State of Amapá 

(UEAP), in which the specific objectives are: to verify and analyze the presence of these 

technologies in the Pedagogic Project of the Course; to observe and understand teachers' 

conceptions about these technologies and how their use can influence the teaching process; 

to point out the most DICTs used, how teachers have been using them in their disciplines and 

analyze the perception of the graduation students of this usage by their professors. The 

methodological path adopted is based on the foundations of qualitative research, on the 

assumptions of the descriptive study and on the principles of philosophical hermeneutics, 

outlining them as a case study. To make this investigation, semi-structured interviews were 

carried out with professors and students from UEAP Linguistic Course, in addition to a 

documentary analysis of the Course PPC. The collected data were analyzed using the 

Discursive Textual Analysis. In the PPC analysis, it was interpreted that it is shown in it the 

importance of the usage and study of DICTs. From the professor’s interviews, we understand 

that they, in general, conceive of these technologies as media in the educational context, they 

consider that technologies impact the teaching process in a highly positive and efficient way 

and see videos and audios as the most used techniques for them. By the interview conducted 

with the graduation students, it is shown that they perceived the projector as the main 

technology used by the professors and that they have a more critical view regarding the 

effects of the use of DICTs on teaching and the ability to handle these artifacts demonstrated 

by their professors. 

 

Keywords: DICTs. Teaching. University Education.



 
 

SUMÁRIO 

 

 

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 11 

 

2 REFERENCIAL TEÓRICO .......................................................................................... 15 

2.1 Conceitos de tecnologia ................................................................................................ 15 

2.2 Olhares sobre a tecnologia ........................................................................................... 22 

2.3 As perspectivas de Mário Bunge e Martin Heidegger .............................................. 27 

2.4 TICs, NTICs, TE e TDICs ........................................................................................... 32 

2.5 As TDICs e a Sociedade da Informação ..................................................................... 35 

2.6 A integração das TDICs no ensino .............................................................................. 40 

2.7 Mentalidades, habilidades e competências para o uso de TDICs ............................ 51 

2.8 Usos autorais de TDICs no ensino .............................................................................. 57 

2.9 As TDICs e as diferentes gerações .............................................................................. 64 

2.10 Breve história do Curso de Letras e sua legislação ................................................. 69 

2.11 O Curso de Licenciatura em Letras da UEAP......................................................... 76 

 

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................................................. 80 

3.1 Caracterização da pesquisa ......................................................................................... 80 

3.2 Caminho hermenêutico-filosófico ............................................................................... 82 

3.3 O lócus da pesquisa ...................................................................................................... 87 

3.4 Participantes ................................................................................................................. 89 

3.5 Técnica de coleta de dados ........................................................................................... 90 

3.6 Análise dos dados .......................................................................................................... 92 

 

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ........................................................... 96 

4.1 As TDICs no PCC do Curso de Licenciatura em Letras da UEAP ......................... 96 

4.2 As TDICs na prática de ensino do curso de Licenciatura em Letras da UEAP ... 117 

4.2.1 Concepções sobre TDICs e ensino .......................................................................... 117 

4.2.2 As TDICs mais utilizadas pelos docentes e suas formas de utilização ................ 133 

4.2.3 Formação para o trabalho com TDICs ................................................................. 136 



 
 

4.2.4 A infraestrutura para o uso de TDICs .................................................................. 138 

4.2.5 Autoavaliação da capacidade de manuseio ........................................................... 141 

4.2.6 Conhecimento da presença das TDICs no PPC do Curso de Licenciatura em 

Letras ................................................................................................................................. 143 

4.3 Percepções dos acadêmicos acerca do uso de TDICs por seus professores ........... 145 

4.3.1 Concepções dos alunos sobre TDICs e ensino ....................................................... 145 

4.3.2 A utilização das TDICs nas aulas do Curso de Licenciatura em Letras ............ 150 

 

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 158 

 

REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 169 

 

APÊNDICES ..................................................................................................................... 180 

 



11 
 

1 INTRODUÇÃO 

 

 

As mudanças velozes que ocorrem nos mais variados âmbitos sociais na atualidade 

são impulsionadas, em grande parte, pelas inovações tecnológicas; em especial pelo contínuo 

surgimento, aprimoramento e intenso uso das tecnologias digitais de informação e 

comunicação (TDICs). 

O aumento do uso dessas tecnologias tem propiciado grandes mudanças nas formas 

de comunicação entre as pessoas, acarretando novas dinâmicas nos processos produtivos, nas 

relações de trabalho, no processamento e distribuição de informações, na construção do 

conhecimento, nos processos de ensino e aprendizagem, entre outros âmbitos. 

Os saberes, por exemplo, que antes ficavam restritos a determinados indivíduos, 

tempos e lugares, com a ampla difusão das TDICs, ultrapassaram as barreiras físicas e 

temporais, ficando muito mais acessíveis. E essa nova realidade tem trazido para as 

instituições de ensino e professores a necessidade de questionar e refletir acerca das bases 

sobre as quais a cultura escolar está assentada. O que ainda cabe ensinar? Como ensinar? O 

que fazer com a gama de informações que hoje, mais do que nunca, os alunos trazem para a 

escola? Como incorporar as tecnologias que eles estão habituados a utilizar para se informar 

e aprender? Esses são apenas alguns exemplos dos questionamentos que as escolas e 

professores precisam fazer. 

Nesse sentido, Moran (2012) acredita que há um descompasso entre as dinâmicas 

de aprendizagem que os indivíduos têm estabelecido informalmente por meio do uso de 

TDICs e a maneira como a educação formal está estruturada. Em sua visão, as escolas e as



12 
 

universidades têm aproveitado muito pouco do que as TDICs têm ofertado informalmente 

aos indivíduos em termos de possibilidades de aprendizagem, ou seja, essas instituições 

pouco têm buscado incorporar essas tecnologias de modo a potencializar os processos de 

ensino e de aprendizagem. 

Demo (2015) sustenta que as TDICs podem auxiliar no desenvolvimento de uma 

aprendizagem autoral, que se caracteriza pelo aproveitamento das oportunidades ofertadas 

por essas tecnologias para pesquisar e construir conhecimento, oportunidades essas como a 

facilitação da pesquisa trazida pela internet, a interatividade para a construção colaborativa 

de conhecimento proporcionada pelas ferramentas da Web e a divulgação desse 

conhecimento para demais pessoas por meio de publicações on-line, por exemplo. Essa 

aprendizagem autoral, por sua vez, pode se desdobrar em uma docência autoral, na medida 

que o docente, ao saber utilizar essas tecnologias para facilitar a sua aprendizagem e produzir 

conhecimento próprio, é também capaz de orientar os alunos a fazer isso. 

Kenski (2013), por sua vez, defende que as TDICs podem contribuir para o 

desenvolvimento de uma prática de ensino transformadora. Para isso, é necessário, dentre 

outras coisas, que o professor tenha fluência tecnológica e que ele e a instituição de ensino, 

como um todo, estejam abertos a novas perspectivas sobre ensino e aprendizagem, já que a 

forma como as novas gerações vêm estabelecendo relações entre si, com o conhecimento e 

com o mundo é bem diferente das gerações anteriores. 

Além de o conhecimento e o uso dessas tecnologias representarem uma demanda da 

vida contemporânea, uma vez que perpassam todas as atividades humanas (CASTELLS, 

2010), a produtividade e a importância do uso delas no ensino estão atestadas em vários 

documentos oficiais. Um deles é a Base Nacional Comum Curricular, em especial em sua 5ª 

competência geral para a educação básica: “Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais 

de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas 

práticas sociais [...]” (BRASIL, 2018a, p. 9). 

 Outro documento é Resolução n⁰ 2, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais 

para a Formação Inicial e Continuada, em Nível Superior, de Profissionais do Magistério 

para a Educação Básica (BRASIL, 2015), a qual postula o uso competente das tecnologias 

de informação e comunicação para o aprimoramento da prática pedagógica e a ampliação da 

formação cultural de professores e estudantes. 



13 
 

Um outro importante documento é a Resolução nº 2, de 20 de dezembro de 2019, 

que define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para 

a Educação Básica e institui a Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores 

da Educação Básica (BNC-Formação) (BRASIL, 2019). Essa resolução define no inciso IV 

do seu Art. 8º que entre os fundamentos pedagógicos dos cursos destinados à formação inicial 

de professores para a Educação Básica deve estar “o emprego pedagógico das inovações e 

linguagens digitais como recurso para o desenvolvimento [...] de competências sintonizadas 

com as previstas na BNCC e com o mundo contemporâneo” (BRASIL, 2019, p. 5). 

Nesta investigação, partiu-se da ideia de que as TDICs podem ser usadas de modo 

a instaurar dinâmicas de ensino e aprendizagem autorais, como teoriza Demo (2009), mas 

também de forma a apoiar velhas práticas, pois, como alerta Rezende (2000), a introdução 

de novas tecnologias na educação não resulta necessariamente em novas práticas 

pedagógicas, já que, com elas, pode-se apenas dar uma nova aparência ao que é 

essencialmente velho, como é o caso dos livros eletrônicos, tutoriais multimídia e de alguns 

cursos a distância disponíveis na internet que não incorporam nada de novo em termos de 

processo de ensino e aprendizagem. Como afirmam Soffa, Santos e Behrens (2008), nesses 

casos desenvolvem-se dinâmicas em que as tecnologias figuram como ferramentas para 

facilitar a mera repetição do conteúdo, para a sua recepção e assimilação. 

Partiu-se também do fato de que o universo humano está permeado por artefatos 

tecnológicos e, assim, a educação, como força que pode contribuir para a transformação do 

mundo (FREIRE, 2001), precisa estar atenta aos fenômenos subjacentes ao uso desses 

artefatos a fim de evitar o relativismo da mera instrumentalização técnica (HABOWSKI; 

CONTE, 2019). Nessa perspectiva, integrar essas tecnologias às práticas de ensino pressupõe 

que professores e alunos explorem-nas conjuntamente, indo além do foco em sua utilidade, 

que eles avaliem sua pertinência, averiguem criativamente suas possibilidades, discutam 

sobre seus impactos e analisem a forma como se relacionam aos seus contextos políticos e 

sociais (PESCE, 2014). 

O interesse pela temática nasceu da experiência que o pesquisador teve durante seu 

período de estudo no curso foco desta pesquisa, o Curso de Licenciatura em Letras da UEAP. 

Durante a sua graduação, este pesquisador utilizou frequentemente as redes sociais da 

internet para complementar os estudos de língua francesa, seguindo páginas, perfis e 

participando de grupos em que se discutia e eram veiculados conteúdos nessa língua nos mais 



14 
 

variados formatos, como textos escritos, músicas e vídeos. Ele percebeu, dessa forma, que as 

aprendizagens formais da sala de aula poderiam ser potencializadas por meio do uso de 

TDICs. 

Desses usos autônomos, merece destaque a sua participação nos grupos da rede 

social Facebook. O pesquisador acredita que a interação com pessoas dos mais variados 

lugares do mundo que tinham entre si o interesse comum de aprender e exercitar a língua 

francesa lhe proporcionou grandes conhecimentos na área. Essa experiência com os grupos 

resultou em sua monografia de conclusão da graduação, intitulada “Os grupos do Facebook 

como espaços de aprendizagem de língua francesa”, ainda por publicar. 

Ao final da realização desse estudo, ficou para o pesquisador a sensação de que as 

TDICs, que tanto lhe auxiliaram fora da universidade, poderiam impactar positivamente nas 

aprendizagens dos licenciandos se incorporadas com maior frequência às atividades de 

ensino das disciplinas do Curso sob o olhar experiente, direcionador e cuidadoso dos 

professores. Daí veio a inquietação de buscar compreender, primeiramente, como as TDICs 

têm sido integradas no processo de ensino por esses docentes. 

Assim, adotou-se como objetivo geral desta investigação compreender como as 

TDICs estão sendo incorporadas pelos docentes ao processo de ensino do Curso de Letras da 

Universidade do Estado do Amapá (UEAP), e como objetivos específicos: verificar e analisar 

a presença das TDICs no Projeto Pedagógico do Curso; compreender as concepções dos 

professores acerca dessas tecnologias e de como o seu uso pode influenciar o processo de 

ensino; apontar as principais TDICs utilizadas e como os professores as têm utilizado em 

suas disciplinas, e analisar a percepção dos licenciandos com relação ao uso que seus 

professores fazem dessas tecnologias no processo de ensino. 

A partir deste capítulo introdutório, esta dissertação está estruturada da seguinte 

forma: no segundo capítulo, apresenta-se o referencial teórico que subsidiou a execução da 

pesquisa; no terceiro capítulo, expõem-se os procedimentos metodológicos adotados na 

investigação; no quarto capítulo, apresentam-se os dados obtidos e a análise feita deles; no 

quinto e último capítulo, expõem-se as considerações finais às quais se chegou com este 

estudo.



15 
 

2 REFERENCIAL TEÓRICO 

 

 

Neste capítulo, apresenta-se o referencial teórico que subsidiou a elaboração da 

pesquisa e a análise dos dados obtidos em sua execução. Esse referencial se divide em três 

grupos temáticos. No primeiro, discute-se sobre conceitos de tecnologia, apresentam-se 

algumas perspectivas filosóficas a seu respeito, esclarece-se o que são as TDICs por meio da 

explanação dessa nomenclatura em comparação a outras e aborda-se a sua relação com o 

contexto social. 

No segundo grupo, discute-se sobre a integração das TDICs no processo de ensino, 

explanam-se as capacidades e habilidades relativas ao uso dessas tecnologias importantes de 

serem desenvolvidas por professores e alunos, demonstram-se algumas práticas de ensino 

autorais envolvendo essas tecnologias e discute-se sobre como o uso desses artefatos varia 

conforme a faixa etária dos usuários. No terceiro, dá-se a conhecer a história do Curso de 

Letras observando a legislação que foi lhe dando forma com o passar do tempo e apresenta-

se o curso específico sobre o qual se debruça este trabalho. 

 

2.1 Conceitos de tecnologia 

 

Definir tecnologia não é uma tarefa simples. Diferentes são as perspectivas e 

concepções traçadas a seu respeito por variados autores. Quando as analisam, alguns 

entendem-na como relativa sobretudo a objetos físicos; outros, na condição de processos; e 

outros, ainda, percebem-na inextricavelmente ligada a questões econômicas, sociais e 

culturais.



16 
 

Pela sua complexidade, Cupani (2016) afirma que, quando se tenta dizer o que é 

tecnologia, comumente se apontam objetos físicos, como a televisão, o aspirador de pó, a 

ultrassonografia e os computadores, por exemplo. Ao se pensar um pouco mais, segundo ele, 

é possível que se amplie essa percepção a sistemas e formas de organização, como as redes 

telefônicas, a organização da produção nas fábricas, o sistema de controle do trânsito, entre 

outros. 

Diante da pluralidade e da complexidade do conceito de tecnologia, de acordo com o 

autor, é perceptível que, quando se tenta explicar ou teorizar a seu respeito, a questão da 

técnica comumente vem à tona, como algo que possivelmente a teria originado. Diante dessa 

constatação, buscou-se compreender melhor a tecnologia a partir da perspectiva histórica 

traçada por Vargas (1994). Esse autor recorre ao desenrolar da história humana para entender 

o que vem a ser a tecnologia, a sua essência e seus fundamentos filosóficos. Com base em 

suas ideias, é possível compreendê-la como uma fase avançada da técnica, fase essa 

precedida ainda por uma outra importante etapa, a techné grega. 

Oliveira (2008), seguindo as ideias de Vargas (1994), salienta que o transcorrer 

dessas fases ou etapas precisa ser entendido levando-se em consideração os contextos social, 

político, econômico e cultural das sociedades, uma vez que seu desenrolar foi motivado não 

por um único fator, mas por uma série de mudanças nesses âmbitos. Assim, passa-se a 

abordar a seguir a questão da técnica. 

De acordo com esses autores, a técnica corresponde à capacidade geral do homem 

de intervir na natureza, de criar coisas, de produzir objetos. E essa capacidade seria tão antiga 

quanto a humanidade, podendo ser percebida já na fabricação dos primeiros instrumentos 

pelos humanos. Como explica Kenski (2007), no princípio, o homem contava apenas com as 

capacidades naturais de seu corpo. Paulatinamente, entretanto, ele começou a andar ereto, a 

utilizar mais intensamente suas capacidades cerebrais, como armazenar informações, 

raciocinar e mobilizar conhecimentos, e passou também a utilizar as mãos para realizar 

atividades úteis à sua sobrevivência. 

Ainda sobre os primórdios da técnica, Bazzo, Linsingen e Pereira (2003) explicam 

que a intensa interação entre os hominídeos, família taxonômica da qual o gênero homo faz 

parte, propiciou sua mudança de habitat, levando-os a abandonarem a vida arborícola, própria 

de seus antepassados primatas, e a passarem a praticar caça cooperativa. A complexa 

organização social que se engendrou a partir dessa nova situação de caçadores-coletores 



17 
 

estimulou o desenvolvimento de uma técnica fundamental para o surgimento de outras 

técnicas: a linguagem. 

Para Vargas (2009), o desenvolvimento da linguagem foi um fator decisivo para o 

caráter evolutivo da técnica, ou seja, para que as produções humanas pudessem ser 

continuamente aperfeiçoadas. De acordo com ele, o fato de poder mobilizar símbolos dentro 

de um sistema é fundamental para que o homem possa construir sentidos, elaborar ideias e, 

ainda, comunicar-se; e isso permite, por sua vez, que haja aprendizagem e que, dessa forma, 

os processos de fabricação e uso de objetos sejam aperfeiçoados de geração em geração. 

Bazzo, Linsingen e Pereira (2003) sustentam que os hominídeos e seus descendentes 

foram desenvolvendo formas de vida sobre as quais a seleção natural passou a afetar de 

formas diferentes, pois as técnicas criadas em cada situação acabaram influindo na evolução 

natural. Dessa forma, os autores defendem que, a partir do desenvolvimento de diferentes 

técnicas, passou a ocorrer também um outro tipo de evolução, de natureza cultural, que 

consistiria na difusão e diversificação de instrumentos e atos técnicos para a adaptação do 

homem aos diferentes meios. 

Como lembram esses autores, a técnica tem permitido que o ser humano transforme 

os ambientes em que vive, o que demonstra que sua vida não está determinada e limitada 

pelas condições ambientais, como a de outros animais. Para eles, parece ser próprio da 

espécie humana a sua contínua capacidade de adaptação a diferentes condições ambientais, 

e isso é possível justamente por sua capacidade de desenvolvimento de técnicas. 

É nesse sentido que Cupani (2016) faz uma distinção entre capacidade de fazer e a 

de agir. Enquanto a capacidade de agir equivale a seguir a própria vida, de modo puramente 

instintivo, que é o caso dos demais animais; a capacidade de fazer é própria dos humanos, e 

ela resulta na criação de artefatos, entendidos como objetos ou processos artificiais. O autor 

lembra que as palavras “artefato” e “artificial” indicam que algo foi produzido segundo uma 

“arte”, um saber fazer, que pressupõe regras de procedimento, em outras palavras, pressupõe 

técnicas. 

Percebe-se, pelo exposto, que homem, técnica e linguagem são noções 

extremamente interligadas, pois, assim como Cupani (2016) aponta a técnica como elemento 

distintivo do homem em relação aos demais animais, Vargas (2009, p. 171) afirma que a 

tríade homem-linguagem-técnica “é a essência do fenômeno humano. Isto é, só é humano 



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aquele ser que tem a capacidade de se comunicar pela linguagem e a habilidade de fabricar 

utensílios pela técnica”. 

Ainda de acordo com Vargas (2009), quando as primeiras civilizações se formaram, 

a técnica revestiu-se de um caráter mágico. Nesse período, povos como os do Egito e da 

Mesopotâmia, por exemplo, passaram a ser regidos por mitos e contos sobre feitos de deuses 

e heróis, e as técnicas a serem vistas como saberes que estes transmitiam aos homens. Essas 

sociedades míticas teriam desaparecido com o advento de outras tradições filosóficas e 

religiosas, como o Taoísmo, na China; o hinduísmo e o budismo, na Índia; a religião do 

Zoroastro, na Pérsia; os profetas, na Palestina; e a episteme theoretike, na Grécia. 

O autor conta que o surgimento dessas correntes de pensamento ocorreu por volta 

de 800 a 300 anos a.C., quando as revelações religiosas, as sabedorias e também as técnicas 

perderam seu caráter mítico, passando a ser sistematizadas por homens historicamente 

existentes, tais como Lao-tse, Confúcio, Buda, Zaratustra e os profetas judaicos, por 

exemplo. 

Esse foi o contexto de surgimento da techné grega, apontada por Vargas (2009) 

como etapa fundamental pela qual passou a técnica até a chegada à tecnologia. Vale ressaltar 

que, conforme Chassot (1994), nenhum povo da Antiguidade influenciou tão decisivamente 

a civilização ocidental como os gregos. 

Vargas (2009) explica que surgiram na Grécia clássica duas novas formas de saber, 

a teoria, também chamada de episteme, e a techné. A primeira, segundo ele, como sinaliza a 

origem da palavra (theoren em grego é ver), baseava-se na descoberta de que é possível ver 

com os olhos do espírito, para além das aparências das coisas, ou seja, de forma lógica, 

portanto estável e perene. A segunda, podendo ser vista como a técnica então despida de seu 

caráter místico. 

Oliveira (2008) comenta que, enquanto incialmente a técnica esteve fortemente 

baseada na mitologia, com sua transmissão assumindo um caráter de segredo revelado por 

deuses, a techné grega passou a representar um estágio de desenvolvimento maior no que diz 

respeito à busca do homem pela solução de problemas práticos, à sua luta pelo melhoramento 

e aperfeiçoamento de sua sobrevivência, por meio da cura de doenças, por exemplo. 

Conforme Vargas (2009), a palavra grega techné diz respeito a uma determinada 

conduta numa atividade específica, subordinada a uma série de conhecimentos repassados 

através da educação. Percebe-se, pelo que ele expõe, que à techné subjazem saberes de caráter 



19 
 

prático, elaborados e sistematizados, advindos predominantemente não da contemplação 

humana, mas da manipulação e da experimentação, conhecimentos esses que passaram a ser 

difundidos e aperfeiçoados de geração em geração. 

Os tratados gregos da techné mais conhecidos, conforme Vargas (2009), são os da 

medicina, a qual, deixando de ser revelada pelo deus Esculápio, passou a ser ensinada até 

mesmo por escrito, como no caso da coleção de livros de Hipócrates, o Corpus Hipocrático. 

Conforme esse autor, embora nessa época houvesse na Grécia especulações 

filosóficas sobre as doenças e a construção de obras, os tratados da techné não envolviam 

teorias, não objetivavam compreender logicamente as doenças e a construção de obras, mas 

concentravam-se no saber fazer, em como curar os doentes e construir obras, por exemplo. 

Isso permite entender a techné como um saber possível de ser aprendido sem que se apelasse 

ao divino e ao saber teórico. 

Avançando pela história, Vargas (2009) lembra que, com a queda de Roma e a 

chegada do Cristianismo, sufocou-se na Europa o desejo de conhecer a natureza. Como 

exemplo disso, Chassot (1994) comenta que Santo Ambrósio, arcebispo que se tornou um 

dos mais influentes membros do clero no século IV, ensinava que as discussões sobre a 

natureza e a posição da Terra não ajudavam a esperar a vida futura. 

Com o Renascimento, entretanto, de acordo com Vargas (2009), reavivou-se na 

Europa o interesse pelo conhecimento da natureza e de seus segredos. Começou-se a perceber 

que o que era ensinado pelos mestres, essencialmente com base em habilidades manuais, 

poderia ser perscrutado através de estudos e do conhecimento de teorias. 

Segundo Oliveira (2008), esse é o momento em que, dentre outras coisas, recorreu-

se à tradução dos tratados gregos e romanos da techné.  Esse estudo, aliado à prosperidade 

do comércio, permitiu à burguesia das cidades medievais atingir seu poder político. Foi 

somente nas cidades, no final da Idade Média, que as atividades de tecelagem, construções e 

outras iniciadas nos mosteiros alcançaram um aperfeiçoamento magnífico. Essa constatação 

mostra, para a autora, que a techné teve papel fundamental na transição dos tempos medievais 

para a era moderna. 

Foi nesse contexto, sustenta ela, que surgiu o que se convencionou denominar de 

tecnologia, propiciada pelo declínio do feudalismo, pelo impulso do comércio, da 

urbanização e pela progressiva substituição da lei divina pela razão. Assim:  

 



20 
 

Enquanto o saber medieval estava imbuído de cristianismo, o novo saber e as novas 

técnicas que se constroem a partir do colapso da sociedade feudal estão articulados 

às necessidades e problemas que se colocam no processo de estruturação de uma 

nova sociedade (OLIVEIRA, 2008, p. 6). 

 

Segundo ela, desenvolveu-se uma nova maneira de produzir e de utilizar o 

conhecimento, que pode ser vista como uma combinação do empirismo dos artesãos com as 

novas formas de racionalidade descritas por filósofos como Bacon e Descartes. Essa 

interação entre o racional e o empírico criou uma nova lógica tanto de entendimento da 

natureza quanto de sua capacidade de transformação pelo homem. A partir da Idade Moderna, 

ciência e técnica se tornaram inseparáveis. 

É nesse sentido que Vargas (1994, p. 179) conceitua tecnologia como “a solução de 

problemas técnicos por meio de teorias, métodos e processos científicos”. Conceituação 

convergente a essa é a feita por Blanco e Silva (1993), para quem ela é um estudo profundo 

e sistemático de como encontrar os meios de atingir um objetivo final, a partir de princípios 

verdadeiros e de experiências seguras. Esses autores consideram-na como a aplicação de 

conhecimentos científicos na resolução de problemas, em outras palavras, como sinônimo de 

ciência aplicada. 

Kenski (2007) concorda que a entrada do conhecimento científico na técnica pode 

ser vista como sinalizadora do surgimento da tecnologia. A esse respeito, ela adverte que a 

técnica não se transformou em tecnologia e, a partir de então, deixou de existir. Observando 

esses termos na contemporaneidade, afirma que a tecnologia estaria para a pesquisa e o 

planejamento necessários à produção de qualquer equipamento, como uma caneta ou um 

computador; já a técnica seria mais concebida como as maneiras, jeitos ou habilidades 

necessárias para lidar com cada tipo de equipamento. 

Dessa forma, pode-se inferir que técnica e tecnologia, a despeito de suas 

especificidades, relacionam-se basicamente às intervenções, alterações, transformações que 

o homem provoca no meio, assim como dizem respeito aos artefatos materiais que ele 

constrói para/nesse processo. A grande proximidade entre técnica e tecnologia pode ser 

atestada também pelo fato de alguns autores e dicionários tomarem-nas como sinônimas. 

Veja-se, por exemplo, uma classificação de tecnologias proposta por Tajra (2011) e a 

definição apontada pelo dicionário Houaiss (2019). 



21 
 

Para a autora, as tecnologias se dividem em tecnologias físicas, organizadoras e 

simbólicas. As físicas correspondem às inovações de instrumentos físicos, tais como caneta, 

livro, telefone, aparelho celular, entre outros. As organizadoras dizem respeito às formas de 

relacionamento com o mundo, como os modos de organização dos diversos sistemas 

produtivos e os variados métodos de ensino, por exemplo, que são tecnologias de organização 

das relações de aprendizagem. Já as tecnologias simbólicas estão relacionadas à comunicação 

entre as pessoas, desde a iniciação dos idiomas escritos e falados à forma como elas se 

comunicam, ou seja, dizem respeito à construção e mobilização de símbolos para a 

comunicação. 

Levando em consideração o que se vinha discutindo neste capítulo, percebe-se que 

na classificação estabelecida por Tajra (2011) técnica e tecnologia se confundem, em especial 

quando se observam as tecnologias simbólicas. O mesmo acontece com a definição do 

dicionário Houaiss (2019), segundo o qual tecnologia significa tanto teoria geral e/ou estudo 

sistemático sobre técnicas, processos, métodos, meios e instrumentos, quanto técnica ou 

conjunto de técnicas de um domínio particular. 

Diante do exposto, é importante explicitar que a discussão do conceito de 

tecnologia, considerando a técnica e a techné grega, feita neste capítulo teve o intuito de 

chamar a atenção para o fato de que, enquanto atividade humana de intervenção no meio e 

produção de artefatos, a tecnologia há muito está enredada à vida em seus mais variados 

aspectos. 

Nesse sentido, é importante esclarecer também que é essa complexidade, que se 

anuncia já a partir da dificuldade de sua conceituação, que se espera não perder de vista neste 

trabalho, ainda que seu foco seja um tipo de específico de tecnologia, as TDICs, pois se 

deseja descrever não só a forma como os sujeitos usam esses artefatos, mas também como 

eles os percebem. 

 

 

 

 



22 
 

2.2 Olhares sobre a tecnologia 

 

Apresenta-se, nesta seção, um breve panorama das discussões filosóficas 

contemporâneas sobre tecnologia, levando em consideração as sistematizações feitas por 

Andrew Feenberg e Carl Mitcham. 

Antes de avançar na reflexão, é importante lembrar que, no capítulo anterior, 

desenvolveu-se a argumentação de que a tecnologia pode ser vista como uma certa 

continuidade da técnica e, nesse sentido, como algo ligado à vida humana desde os tempos 

mais remotos. Para muitos autores, como se viu, o divisor de águas seria o uso dos 

conhecimentos da ciência moderna. Assim, se a tecnologia passou a existir como tal a partir 

do momento em que o fazer humano passou a estar marcado por estabelecer relação com a 

ciência moderna, olhar para o contexto em que esses dois âmbitos passaram a se relacionar 

ajuda a compreender a visão mais tradicional que se tem de tecnologia. 

Como explica Miranda (2002), a discussão sobre o que a tecnologia é fatalmente 

leva a um posicionamento valorativo a seu respeito. Nesse sentido, Bazzo, Linsingen e 

Pereira (2003) afirmam que, na concepção mais tradicional de tecnologia, ela não só 

corresponde à aplicação dos conhecimentos científicos, ou seja, à ciência aplicada, como 

também é vista como neutra. 

Observando o contexto de surgimento dos conhecimentos de que, nessa perspectiva, 

dependeria a tecnologia, Araújo (2006) sustenta que a ciência moderna surgiu no século XVI 

dentro do processo da modernidade de ruptura com o mundo feudal e eclesiástico; ela 

originou-se do Renascimento e embasou-se filosoficamente pelo Iluminismo. No princípio, 

segundo Alves (2000), caracterizou-se fortemente pela busca de um saber objetivo, baseado 

na formulação de modelos e leis que explicassem os fenômenos da natureza, no uso de 

hipóteses e de experimentação, no rigor do pensamento por meio da utilização do raciocínio 

lógico. 

Percebe-se, portanto, que o contexto de surgimento da ciência moderna foi marcado 

pela crença em sua neutralidade, pela ideia de que ela representava a forma de encontrar a 

verdade, lógica, universal e independente de juízos de valor. Assim, se tradicionalmente a 

tecnologia foi vista como tal a partir do momento em que passou a fazer uso dos 



23 
 

conhecimentos científicos, e como correspondente à aplicação desses conhecimentos, é 

natural que ela também tenha sido vista como neutra. 

Feenberg (2010) afirma que a crença na neutralidade da ciência e da tecnologia 

esteve na base da constituição das sociedades modernas. Esse autor lembra que essas 

sociedades emergiram da libertação do poder de questionar as formas de pensamento até 

então existentes. Dessa forma, o Iluminismo do séc. XVIII exigiu que todos os costumes e 

instituições se justificassem racionalmente para a humanidade. Diante dessa exigência, a 

ciência e a tecnologia se tornaram a base para as novas compreensões, reformando a cultura 

gradualmente para ser o que hoje se entende como racional. Como consequência, elas se 

tornaram onipresentes na vida humana e, junto com elas, os modos técnico-científicos de 

pensar. 

Para o autor, essa cultura passou a ser tão abrangente, que questões mais profundas 

passaram a ser feitas acerca do seu valor e viabilidade como um todo. Cabendo, portanto, 

questionamentos quanto à sua dignidade, ética e completude, por exemplo. Assim, admitindo 

que as sociedades contemporâneas têm base tecnológica, o autor entende que esses 

questionamentos constituem a filosofia da tecnologia, um movimento de reflexão “para além 

da utilidade, no sentido estrito da pergunta quanto ao tipo de mundo e ao modo de vida que 

emerge em uma sociedade moderna” (FEENBERG, 2010, p. 39). 

O autor sustenta que no século XIX passou a ser comum ver a modernidade como 

um processo interminável rumo à satisfação das necessidades humanas através do avanço 

tecnológico. No século XX, entretanto, diante das guerras mundiais, campos de concentração 

e catástrofes ambientais, passou a ficar cada vez mais difícil ignorar a falta de sentido da 

modernidade. Nesse sentido, a filosofia da tecnologia surgiu como uma crítica à 

modernidade. 

De acordo com Feenberg (2010), os debates da filosofia da tecnologia 

contemporânea se dão em torno das questões da neutralidade e da autonomia da tecnologia, 

ou seja, se, e em caso positivo de que forma, ela e a sociedade exercem influência uma sobre 

a outra. Ele argumenta que essas questões deram origem a quatro formas de conceber essa 

relação. 

Na primeira concepção apresentada pelo autor, a tecnologia é vista como neutra e 

humanamente controlável. Ele a chama de visão instrumentalista. Essa é, segundo ele, a visão 



24 
 

padrão da modernidade. Nela se vê a tecnologia simplesmente como uma ferramenta ou um 

instrumento produzido pela espécie humana para a satisfação de suas necessidades. Verasztos 

et al. (2009) chamam também essa visão de utilitarista e a avaliam como problemática, pois 

com ela tende-se a focar somente na utilidade dos artefatos, desinteressando-se por questões 

relacionadas ao seu processo de desenvolvimento. 

Na segunda concepção, conforme Feenberg (2010), considera-se a tecnologia como 

neutra e autônoma. É chamada de visão determinista. De acordo com o autor, os deterministas 

acreditam que a tecnologia não é controlável humanamente, mas, ao contrário, controla os 

seres humanos, isto é, molda a sociedade às exigências da eficiência e do progresso. 

Verasztos et al. (2009) comentam que um dos âmbitos em que essa ideia mais teve influência 

foi a ficção científica, podendo ser aludida à alegoria frankensteiniana da perda do controle 

da invenção pelo inventor. Esses autores afirmam, ainda, que nessa perspectiva o progresso 

tecnológico segue um caminho fixo, sendo que, mesmo que fatores políticos, econômicos ou 

sociais possam exercer alguma influência, não se pode alterar o poderoso domínio que a 

tecnologia impõe às transformações sociais. Para eles, essa também é uma concepção 

problemática, pois com ela os sujeitos podem se sentir isentos de suas responsabilidades em 

relação às produções tecnológicas. 

Segundo Feenberg (2010), na terceira visão compreende-se a tecnologia como 

autônoma e carregada de valores, visão essa nomeada de substantivista. Nessa perspectiva, a 

tecnologia é carregada de valor substantivo, ou seja, ela já nasce disposta a funcionar de 

determinada forma, sendo que essa forma já está comprometida com uma visão específica de 

vida. Seu valor, portanto, não é meramente instrumental; ela não pode, assim, ser usada 

segundo os diferentes propósitos dos indivíduos e sociedades. 

Na quarta perspectiva apresentada pelo autor, a tecnologia é vista como carregada 

de valores e, ao mesmo tempo, humanamente controlável. É chamada de teoria crítica. 

Segundo o autor, a teoria crítica reconhece os impactos da tecnologia sobre a sociedade, 

como as suas consequências catastróficas ressaltadas pelo substantivismo, por exemplo, mas 

ainda vê uma possibilidade de maior liberdade na tecnologia. 

Nessa perspectiva, a qual o autor se filia, acredita-se que é possível controlar a 

tecnologia, submetendo-a a processos mais democráticos no momento em que se estabelecem 

seus projetos, durante a fase de seu desenvolvimento. Assim, ela não é entendida como 



25 
 

ferramenta, mas como estrutura de estilos de vida. As escolhas disponíveis para as sociedades 

situam-se em um nível mais alto do que o instrumental; são, dessa forma, uma meta-escolha, 

que determina quais valores devem ser incorporados na estrutura técnica da vida em 

sociedade. 

Da discussão que faz Feenberg (2010) acerca das principais perspectivas teóricas 

contemporâneas da filosofia da tecnologia, merece destaque o fato de ele ter colocado a visão 

de Karl Marx sobre a tecnologia como neutra e determinista. Em suas palavras, “Marx e os 

teóricos da modernização do período de pós-guerra acreditaram que a tecnologia era o servo 

neutro das necessidades humanas básicas” (FEENBERG, 2010, p. 48). 

Júnior et al. (2014), pesquisadores do movimento Ciência, Tecnologia e Sociedade 

(CTS), ao analisarem as contribuições das ideias marxianas para uma discussão crítica das 

implicações sociais da tecnologia, apoiam-se em pelo menos dois pontos para contestar essa 

visão. 

Segundo esses autores, a ideia de materialidade em que Marx se baseia para 

compreender a sociedade compõe-se de muitos elementos, dentre os quais as inovações 

tecnológicas. Dessa forma, na perspectiva marxiana, os movimentos na história não poderiam 

ser explicados unicamente por meio do surgimento de inovações tecnológicas.  Eles também 

se apoiam na ideia de que, embora Marx reconheça que a tecnologia atua sobre a sociedade, 

uma vez que o emprego de invenções tecnológicas gera redução da força de trabalho, ele 

também admite que há um movimento contrário, da sociedade influenciando a tecnologia, na 

medida que o capitalista tende a empregar (o que pressupõe também financiamento para o 

desenvolvimento) inovações tecnológicas cada vez mais rentáveis. 

Nesse trabalho, esses autores abordam também uma interessante perspectiva de 

ciência e tecnologia chamada de salvacionista. Essa “refere-se à crença de que todos os 

problemas sociais podem ser resolvidos pelo desenvolvimento científico e tecnológico” 

(JUNIOR et al., 2014, p. 177); em outras palavras, ao entendimento de que para resolver os 

problemas sociais é suficiente que se invista mais em ciência e tecnologia. 

Assim, eles contestam a visão linear de desenvolvimento por trás dessa perspectiva, 

o modelo em que se acredita que desenvolvimento técnico-científico implica 

necessariamente em mais desenvolvimento tecnológico, econômico e social, pois, a partir 



26 
 

das ideias marxianas, concluem que questões de relações sociais influem decisivamente na 

distribuição dos bens produzidos. Para eles: 

 

Somente uma análise muito ingênua leva a crer que um aumento na produção de 

alimentos implica direta e simplesmente a redução da fome no país [...]. A fome 

em larga escala não resulta da falta de alimentos, mas da má distribuição dos 

alimentos produzidos (JUNIOR et al., 2014, p. 183-184). 

 

Nesse sentido, colaboram com essa discussão as ideias de Rezende (2016) acerca 

do conceito de desenvolvimento social. Conforme essa autora, essa noção, de modo geral, 

adveio de debates ocorridos na América Latina na segunda metade do século XX que giravam 

justamente em torno da necessidade de superação da ideia de desenvolvimento como 

equivalente a crescimento econômico e avanço tecnológico. Ao lado de indicativos dessas 

duas áreas, sociólogos como Celso Furtado (1977) reivindicavam que outros deveriam ser 

levados em consideração para uma melhor compreensão de desenvolvimento, como a 

potencialização do bem-estar social, a melhoria da distribuição de renda, de recursos de 

poder, de condições de moradia, entre outros. 

Voltando às temáticas de que se ocupa a filosofia da tecnologia, Mitcham (1994), 

citado por Lenzi (2019), apresenta uma outra classificação dessas discussões. Segundo ele, 

esses debates estão tradicionalmente polarizados. Há, de um lado, teorizações marcadas por 

um otimismo diante do avanço tecnológico, as quais ele denomina de “filosofia tecnológica”, 

sendo que essas geralmente são feitas por engenheiros ou tecnólogos. E, de outro lado, 

teorizações que tendem a abordar a tecnologia de forma mais crítica e interpretativa, muitas 

vezes consideradas pessimistas, as quais ele chama de “filosofia hermenêutica da 

tecnologia”. São aquelas feitas por teóricos das humanidades e que se caracterizam por 

relacioná-la ao transtécnico, modos de vida humanos que transcendem o fazer tecnológico, 

como a arte, a literatura, a ética, a política e a religião. 

 

 

 

 



27 
 

2.3 As perspectivas de Mário Bunge e Martin Heidegger 

 

Como forma de dar continuidade às discussões filosóficas sobre a tecnologia e sobre 

as reflexões éticas que ela suscita, apresentam-se, a seguir, as linhas teóricas anteriormente 

citadas, tomando como base teorizações de Mário Bunge e Martin Heidegger. 

Para Lenzi (2019), o filósofo argentino Mário Bunge pode ser considerado um 

representante da filosofia tecnológica, uma vez que ele separa e enfatiza o contexto 

epistemológico da tecnologia de seu âmbito ético e político em suas análises. Seus 

postulados, que dão ampla ênfase a conceitos, são importantes por esclarecerem os elementos 

peculiares do conhecimento tecnológico, ressaltando seus objetivos e métodos, contribuindo 

para levantar a discussão sobre o que é a tecnologia e os problemas filosóficos que se criam 

no seu entorno. Como forma de ilustrar essa perspectiva, passa-se, a seguir, a apresentar as 

discussões acerca do conceito de técnica e tecnologia feitas por Bunge, de acordo com Cupani 

(2016). 

Segundo Cupani (2016), Bunge considera que a técnica equivale ao controle ou à 

transformação da natureza pelo homem, utilizando-se de conhecimentos pré-científicos. Já a 

tecnologia corresponde à técnica de base científica, surgida a partir do século XVIII junto 

com a Revolução Industrial. O que caracteriza tanto a técnica quanto a tecnologia, na visão 

de Bunge, é a produção de algo artificial, que pode ser não somente um objeto, mas a 

modificação do estado de um sistema natural, como o desvio do curso de um rio, ou a criação 

de um sistema, como a escrita. Em todos os casos, a ação técnica opera utilizando recursos 

naturais, transformando-os ou sintetizando-os. Outro elemento que as caracteriza é a previsão 

de uma planificação, a suposição de um objetivo preciso, ainda que mínimo, para o artefato. 

Na produção técnica ou tecnológica, os elementos naturais são vistos como recursos, 

ou seja, em função de sua serventia, e não apreciados pelas suas qualidades inerentes, o que 

vai resultar na atribuição de valores. Algo vale “x” porque com ele se pode fazer “y”. Essa 

produção obedece a regras, instruções, sem as quais nenhum artefato funcionaria ou seria 

utilizável por outros. Essas regras são necessárias, principalmente, porque o objeto final deve 

ser eficiente, desempenhando a sua função da forma mais econômica possível. 



28 
 

O autor acredita que a técnica acompanhou e possibilitou o desenvolvimento da 

humanidade ao longo da maior parte da história e que o surgimento da tecnologia, por sua 

vez, foi condição para uma aceleração do progresso humano, pois, para ele, a inércia da vida 

social, dentro da qual está a técnica tradicional, dificulta o surgimento de inovações. 

A tecnologia aparece, para Bunge, na medida em que se indaga a fundamentação 

teórica das regras técnicas ou se busca aplicar conhecimentos científicos à solução de 

problemas práticos. Ele a define como “[..] conhecimento relativo ao desenho de artefatos e 

à planificação da sua realização, operação, ajustamento, manutenção e monitoramento, à luz 

de conhecimento científico” (BUNGE, 1985 apud CUPANI, 2004, p. 496). 

De acordo com Lenzi (2019), Bunge é herdeiro da tradição iluminista, para a qual a 

racionalidade constitui o traço característico fundamental do homem. Nessa perspectiva, por 

meio da racionalidade, o ser humano pode compreender o mundo e a si mesmo de forma 

objetiva e modificar o meio segundo a sua necessidade. A ciência e a tecnologia figuram, 

desse modo, como as formas de conhecimento racional por excelência e, portanto, como os 

melhores meios para auxiliar o homem em suas escolhas. 

Nesse sentido, de acordo com Cupani (2016), Bunge acredita que todos os 

problemas práticos humanos podem ser formulados tecnologicamente ou ter uma solução 

adequada que se fundamente na ciência e na tecnologia. É por isso, defende o autor, que se 

costuma ver a perspectiva bungeana como otimista, pois Bunge chega a vislumbrar a 

implementação de uma engenharia social, que consistiria em colocar todos os recursos 

científicos possíveis para a resolução de problemas sociais, como a fome, a superpopulação 

e a criminalidade. 

Martin Heidegger (2007), por sua vez, visando compreender o que seria a essência 

da técnica, analisa-a em sua chegada à modernidade (o que se pode transpor à ideia de 

tecnologia), entendendo-a para além da mera conjunção do produzir humano com os 

conhecimentos científicos. Nessa busca, ele recorre à forma como os gregos viam o fazer na 

techné grega. 

De acordo com Heidegger (2007), os gregos viam o ato de produzir baseado em uma 

lógica de causa e efeito; na qual, entretanto, operaria não somente uma causa, mas quatro, 

sendo elas denominadas de causa materialis, causa formalis, causa finalis e causa efficiens. 

A causa materialis corresponde à matéria a partir da qual determinado artefato foi feito, 



29 
 

como, no caso de um copo de vidro, aos elementos a partir dos quais se compõe o vidro. 

Pode-se entender que o copo lhes deve a sua constituição, foi constituído graças a eles. A 

causa formalis diz respeito à forma, à figura na qual se instala a matéria. A causa finalis 

corresponde à utilidade para a qual o artefato foi feito, como beber água, no caso do exemplo. 

E a causa efficiens diz respeito ao artefato acabado, como no exemplo, ao copo em si 

enquanto objeto. 

Dessa forma, ao relacionar a concepção da techné grega à ideia de técnica, não seria 

possível entender esta apenas em termos de meio para se alcançar determinado fim, como 

costumeiramente se faz, pois assim somente uma de suas causalidades estaria sendo levada 

em conta, a finalis. 

Ainda segundo Heiddeger (2007), o produzir na perspectiva grega, com suas quatro 

causalidadades, pode ser condensado na palavra “ocasionar”, considerada como trazer à 

presença aquilo que ainda não se apresenta, um levar à frente; e isso não somente no caso 

daquilo que é produzido artificialmente, mas também daquilo que a partir de si mesmo 

emerge, como uma planta ao brotar. Esse produzir corresponde a fazer existir aquilo que 

antes não existia, isto é, a um “desocultamento”. A técnica, dessa forma, equivale a um tirar 

do abrigo aquilo que estava abrigado, escondido; portanto, é um “desabrigar”. 

Esse “desabrigar”, com a chegada da ciência moderna, revestiu-se de um novo 

elemento, um desafiar, o qual estabelece para a natureza a exigência do fornecimento de 

energia suscetível de ser extraída e armazenada enquanto tal. Opera por trás desse produzir, 

de acordo com o autor, a lógica do explorar, transformar, armazenar e distribuir. O que é 

produzido, nesse novo contexto, essencializa-se ao estabelecer-se em uma posição de 

subsistência, passando, então, a ser constantemente requerido para ficar depositado e à 

disposição para o consumo. 

Assim, na lógica da técnica moderna, tanto os artefatos, ao se essencializarem, 

passam a ser requeridos, quanto o próprio homem passa a ser requerido para a sua produção. 

Como forma de condensar essa nova dinâmica do produzir, Heidegger (2007) utiliza a 

palavra “armação”. E nesse produzir enquanto armação, esse autor chama a atenção para, 

dentre outras coisas, a necessidade de o homem questionar a técnica, reconhecer sua essência, 

reconhecer seu papel dentro desse produzir e, ainda, perceber possibilidades produtivas mais 

originais. 



30 
 

Apesar de afirmar que a técnica moderna representa uma “armação” para dentro da 

qual, a sua revelia, o homem é jogado, pode-se dizer que Heidegger também vê possibilidade 

de resistência. Isso pode ser percebido observando a sua conferência intitulada “Serenidade” 

(HEIDEGGER, 2001), um discurso comemorativo proferido por ele no ano de 1955 numa 

cerimônia em homenagem ao compositor alemão Conradin Kreutzer. 

Nessa conferência, pode-se alegar que Heidegger (2001) ratifica a força nociva da 

técnica moderna quando afirma que nos equipamentos e nas construções técnicas há poderes 

enformados, os quais há muito tempo “solicitam, prendem, arrastam e afligem o homem” 

(HEIDEGGER, 2001, p. 20), superando a sua vontade e capacidade de decisão. Por outro 

lado, declara também que faz parte do mundo técnico uma rapidez de veiculação de 

conteúdos que faz suas realizações “serem o mais rapidamente possível conhecidas e 

admiradas publicamente” (HEIDEGGER, 2001, p. 20) 

É importante evidenciar que, embora seja possível entender a velocidade na difusão 

de conteúdos como ponto positivo da técnica moderna apontado por Heidegger, ele logo trata 

de fazer uma advertência a esse respeito: “Contudo, uma coisa é termos ouvido ou lido algo, 

isto é, termos tomado conhecimento disso, outra é conhecermos, isto é, reflectirmos 

(bedenken) sobre o que ouvimos e lemos” (HEIDEGGER, 2001, p. 21). Essa contraposição 

do ato de tomar conhecimento de algo, ouvir falar ou ler sobre ele ao ato de conhecer esse 

algo tem relação com sua concepção de que existem duas formas de pensar, uma que calcula 

e outra que medita, ambas consideradas legítimas e necessárias. 

Em conformidade com o que ele propõe, pode-se dizer que o pensamento que 

calcula seria o que está por trás do fazer tecnológico, diz respeito à concepção de um plano, 

ao vislumbre de determinados resultados, ao levantamento contínuo de hipóteses novas, 

sempre com perspectivas maiores e mais econômicas, não envolvendo reflexão no/sobre o 

processo. O pensamento que medita, contrariamente, seria aquele que se demora, reflete 

no/sobre o que se faz, em que o indivíduo questiona a relação disso com o seu eu, com suas 

necessidades, levando em conta a realidade de que faz parte. 

Assim, Heidegger (2001) defende que no mundo moderno, por ser essencialmente 

técnico e, dessa forma, engendrar um ritmo de vida cada vez mais veloz, sem tempo para que 

se medite sobre as coisas, a humanidade tem se empobrecido de pensamento, pois “toma-se 



31 
 

conhecimento de tudo pelo caminho mais rápido e mais econômico e, no mesmo instante e 

com mesma rapidez, tudo se esquece” (HEIDEGGER, 2001, p. 11) . 

Ele defende que os equipamentos, aparelhos e máquinas do mundo técnico são hoje 

imprescindíveis, variando em maior ou menor grau de pessoa para pessoa e que, dessa forma, 

seria inútil querer demonizar o mundo técnico. Adverte, entretanto, que o apego a esses 

objetos é que torna o homem escravo. Propondo, então, uma saída diante dessa tendência à 

escravização, ele alega que: 

 

Podemos utilizar os objetos técnicos e, no entanto, ao utilizá-los normalmente, 

permanecer ao mesmo tempo livres deles, de tal modo que os possamos a qualquer 

momento largar. Podemos utilizar os objetos técnicos tal como eles têm de ser 

utilizados. Mas podemos, simultaneamente, deixar esses objetos repousar em si 

mesmos como algo que não interessa àquilo que temos de mais íntimo e de mais 

próprio. Podemos dizer “sim” à utilização inevitável dos objetos técnicos e 

podemos ao mesmo tempo dizer “não”, impedindo que nos absorvam e, desse 

modo, verguem, confundam e, por fim, esgotem nossa natureza (HEIDEGGER, 

2001, p. 23). 

 

A essa postura de dizer “sim” e “não” ao mesmo tempo aos objetos técnicos, ele 

chama de “serenidade para com as coisas”. Para ele, com essa atitude deixa-se de ver os 

objetos apenas do ponto de vista da técnica, verifica-se que a fabricação e a utilização de 

máquinas exigem do homem que ele busque sentido em sua relação com as coisas. A 

transformação da lavoura e da agriculta em indústria alimentar motorizada, como ele 

exemplifica, não representa uma simples mudança na forma de fazer as coisas, mas uma 

transformação profunda na relação do homem com a natureza e com o mundo, sentido esse 

que, se não buscado, permanecerá obscuro ao homem. 

Por meio da atitude de dizer “sim” e “não” ao mundo técnico, Heidegger acredita 

que é possível ao homem manter uma convivência positiva e calma com esse mundo. Ele 

afirma: “Se, no entanto, dissermos [...] ‘sim’ e ‘não’ aos objetos técnicos, não se tornará a 

nossa relação com o mundo técnico ambígua e incerta? Muito pelo contrário, a nossa relação 

com o mundo técnico torna-se maravilhosamente simples e tranquila (HEIDEGGER, 2001, 

p. 24). Para isso, é necessário que o ser humano desvende o mistério que se instaura por trás 

das transformações técnicas, em outras palavras, problematize-as, reflita sobre seus 

condicionamentos e desdobramentos. É necessário que ele crie uma relação em que os 

objetos dependam dele, e não o contrário; ou seja, que coloque as coisas no lugar de coisas, 



32 
 

“que não são algo de absoluto, mas que dependem elas próprias de algo superior” 

(HEIDEGGER, 2001, p. 24). 

 

2.4 TICs, NTICs, TE e TDICs 

 

Na literatura concernente ao âmbito da tecnologia na educação, é comum encontrar 

a utilização das nomenclaturas “tecnologias da informação e comunicação” (TICs), “novas 

tecnologias da informação e comunicação” (NTICs), “tecnologias educacionais” (TE) e 

também “tecnologias digitais de informação e comunicação (TDICs)”. Diante dessa 

variabilidade de terminologias para se referir a, aparentemente, uma mesma coisa, a presente 

seção tratará de cada uma delas, com o intuito de ampliar a discussão sobre a relação entre 

os instrumentos tecnológicos da informação e comunicação e a educação na atualidade e, ao 

mesmo tempo, de justificar a adoção da nomenclatura TDIC na pesquisa. 

Segundo Coll e Monereo (2010), as TICs são aquelas capazes de representar e 

transmitir informações, tornando-se, dessa forma, instrumentos para refletir, aprender, 

conhecer, representar e difundir para outras pessoas e gerações os conhecimentos adquiridos. 

Segundo eles, para representar e transmitir uma determinada informação essas tecnologias 

possuem um mesmo princípio: a utilização de sistemas de signos, como linguagem oral, 

linguagem escrita, imagens estáticas, imagens em movimento, símbolos matemáticos, entre 

outros. 

A terminologia NTICs, conforme Kenski (2007), faz referência ao avanço das 

tecnologias digitais de comunicação e informação e da microeletrônica no tempo. É uma 

expressão variável e que carece de contextualização, confundindo-se, em muitos casos, com 

o conceito de inovação. Com a rapidez do desenvolvimento tecnológico atual, a autora 

acredita que fica difícil estabelecer o limite de tempo que se deve considerar para designar 

os conhecimentos, instrumentos e procedimentos que vão aparecendo como “novos”. 

Como explica Ponte (2000), durante muitos anos falou-se apenas no computador. 

Depois, com a proeminência que os periféricos começaram a ter, como impressoras, plotters, 

scanners etc., começou-se a falar em novas tecnologias de informação (NTI). Com a 



33 
 

associação entre informática em telecomunicações, generalizou-se o termo tecnologias de 

informação e comunicação (TIC). 

Percebe-se, portanto, que TICs e NTICs dizem respeito, em geral, a tecnologias 

físicas (TAJRA, 2011), instrumentos por meio dos quais é possível informar e comunicar. O 

diferencial entre ambas estaria na referência temporal de novidade, no status de inovação que 

a segunda nomenclatura sinaliza. 

A terminologia tecnologias educacionais (TE), por sua vez, diz respeito aos recursos 

tecnológicos aplicados no âmbito educacional, corresponde ao uso de diversas ferramentas 

de comunicação e informação e materiais dentro de um processo de ensino e aprendizagem, 

com objetivos específicos (BRITO e PURIFICAÇÃO, 2008; TAJRA, 2011). 

Como as autoras supracitadas consideram o computador como uma TE, percebe-se 

que, tomando suas teorizações como parâmetro, a diferença entre TE e TICs diria respeito 

apenas à perspectiva com que se olha para esses artefatos. As autoras, no caso, consideram o 

computador uma TE porque enfocam as suas possibilidades educacionais. Todavia, neste 

trabalho entende-se que TICs e TEs não são a mesma coisa. 

Sabe-se que existem artefatos que, assim como as TICs, se prestam a difundir 

informação e estabelecer comunicação, mas que foram desenvolvidos exatamente para serem 

utilizados em contextos educativos, com o objetivo de auxiliar no processo de ensino e 

aprendizagem. Esses seriam as TEs. Já as TICs são produzidas para informar e comunicar de 

forma mais ampla, nos mais variados contextos e com os mais diversos propósitos.  

Apoia o estabelecimento dessa diferenciação a constatação de que o Fundo Nacional 

de Desenvolvimento, autarquia vinculada ao Ministério da Educação, publica editais para a 

contratação de tecnologias educacionais e, como consta em seu último Edital (BRASIL, 

2018b), as TEs são produtos digitais, ferramentas ou aparatos inovadores desenvolvidos para 

apoiar o processo de ensino e aprendizagem, integrados a uma proposta pedagógica 

teoricamente fundamentada e que se prestam a trabalhar conteúdos educacionais específicos, 

facilitando as atividades dos sujeitos envolvidos. 

A nomenclatura TDICs, como o próprio nome já aponta, por sua vez, representa a 

entrada do aspecto digital nas tecnologias eletrônicas de comunicação e informação, mais 

precisamente da linguagem digital. De acordo com Kenski (2007), essa é uma linguagem 



34 
 

simples, baseada em códigos binários, por meio da qual é possível informar, comunicar, 

interagir e aprender. 

Segundo Ribeiro (2019), tecnologia digital diz respeito a um conjunto de 

tecnologias que permite, sobretudo, que qualquer linguagem ou dado seja transformado em 

números, isto é, em zeros e uns (0 e 1). Uma imagem, um som, um texto, ou a convergência 

de todos eles, que aparecem em sua forma final na tela de um dispositivo digital, na forma 

de imagem fixa ou em movimento, som ou texto verbal, por exemplo, são traduções em 

números que podem ser lidas por dispositivos variados, chamados, genericamente, de 

computadores. Desse modo, há uma estrutura que dá suporte a essa linguagem no interior 

dos aparelhos constituída de programações que não se veem. 

Kenski (2007) comenta que a tecnologia digital, na condição de linguagem, 

ultrapassa tanto a forma circular e repetida das narrativas orais quanto o encaminhamento 

contínuo e sequencial da escrita, apresentando-se como um fenômeno descontínuo, aberto e 

veloz. Com ela, deixa-se de lado a estrutura linear e hierárquica na articulação dos 

conhecimentos e se abre para o estabelecimento de novas relações entre conteúdos, ideias, 

espaços, tempos e pessoas. 

Diante do exposto, pode-se considerar as tecnologias digitais de informação e 

comunicação como um subgrupo das tecnologias de informação e comunicação, sendo que 

deste também fazem parte as tecnologias da informação e comunicação não digitais, como o 

livro e o jornal impressos, por exemplo. 

Em se tratando de tecnologia e ensino, vale mencionar que a Base Nacional Comum 

Curricular – BNCC (BRASIL, 2018a), referência para a formulação dos currículos de todas 

as escolas do país, dá grande foco às tecnologias digitais de informação e comunicação. Ao 

observar esse documento, foram encontradas 20 ocorrências dessa nomenclatura, 41 da 

expressão mais genérica “tecnologia digital”, 3 da expressão “tecnologias de informação e 

comunicação”, 2 da nomenclatura “novas tecnologias de informação e comunicação”, 2 da 

expressão “novas tecnologias digitais de informação e comunicação” e nenhuma ocorrência 

da expressão “tecnologia educacional”. 

Um exemplo do uso da nomenclatura “tecnologia digital de informação e 

comunicação” pode ser visto na 5ª competência geral para a educação básica estabelecida 

pelo documento: 



35 
 

 

Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de 

forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo 

as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir 

conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida 

pessoal e coletiva (BRASIL, 2018, p. 9). 

 

A BNCC pode ser considerada como um construto em que se condensam as visões 

dos profissionais envolvidos com a educação e da sociedade civil como um todo, no que diz 

respeito às suas concepções e anseios para a educação do país. Assim, diante da grande 

atenção dada às TDICs no documento, deve-se admitir que, na atualidade, a reflexão sobre o 

subgrupo das TDICs no processo de ensino e aprendizagem é crucial. 

 

2.5 As TDICs e a Sociedade da Informação 

 

Nesta seção pretende-se discutir sobre o contexto histórico, econômico e cultural 

em que as tecnologias digitais de informação e comunicação passaram a influenciar de 

maneira mais decisiva o cotidiano das pessoas. Para isso, aborda-se a compreensão desse 

período histórico enquanto constituição de uma sociedade da informação, verifica-se de que 

forma a evolução das TICs serviu como base à formação de um novo paradigma social e 

discorre-se sobre o surgimento de uma nova cultura baseada na interatividade proporcionada 

pelas mais recentes TDICs. 

Como afirmam Coll e Monereo (2010), já faz algumas décadas que se presencia o 

advento de uma nova forma de organização econômica, social, política e cultural identificada, 

por muitos autores, entre outras formas, como sociedade da informação. Esse novo contexto 

social, segundo os autores, tem como base, principalmente, o grande desenvolvimento das 

TICs, ocorrido durante a segunda metade do século passado. Para eles, o processo de 

liberalização crescente pelo qual passou a economia nesse período propiciou o 

reposicionamento de empresas, a diminuição das taxas de importação, a abertura dos 

investimentos internacionais, a privatização de empresas estatais; em outras palavras, 

permitiu que o mundo pudesse ser visto como um grande mercado. Os autores afirmam que 

as TICs, na condição de causa e efeito, têm sido determinantes nessa transfiguração. 



36 
 

Tremacoldi (2011) explica que, em meio a tentativa de compreensão dessa nova 

realidade por parte da teoria sociológica, há um certo consenso de que o capitalismo entrou 

numa fase diferente daquela em que o capital industrial era o principal motor do sistema. Ele 

afirma que essa ideia surgiu entre as décadas de 1960 e 1970, defendida pelos autores Daniel 

Bell e Alain Touraine, os quais proclamavam o nascimento de uma sociedade pós-industrial.  

Essa nova sociedade, conforme Tremacoldi (2001), teria como principais 

características a perda do papel dominante da indústria na economia, a queda do número de 

trabalhadores manuais e o aumento da taxa de profissionais com conhecimento técnico, 

mudança sinalizadora de que o conhecimento passaria a assumir um lugar central nas 

decisões políticas e econômicas, e de que as tecnologias empregadas seriam cada vez menos 

de produção e envolveriam cada vez mais informação. 

Ainda de acordo com o autor, anos mais tarde, em virtude da preponderância das 

tecnologias de informação e comunicação, Daniel Bell reformulou sua teoria e passou a 

chamar essa nova sociedade de sociedade da informação. Burch (2005) afirma que Bell 

passou a advogar que o eixo principal dessa sociedade seria o conhecimento teórico e a 

advertir que os serviços baseados no conhecimento seriam convertidos na estrutura central 

da nova economia de uma sociedade sustentada na informação. 

Segundo Nehmy e Paim (2008), Bell chegou a essas conclusões com base na análise 

de estatísticas sobre a estrutura de empregos nos Estados Unidos nas décadas de 1950 e 1970, 

quando percebeu a superação do crescimento do setor de serviços em relação ao emprego 

industrial. Ele chamou atenção para o aumento da quantidade de postos de trabalho 

relacionados ao conhecimento, da classe profissional e técnica, de ocupações ligadas à 

pesquisa e ao governo, de engenheiros e cientistas. Assim, de acordo com Ferreira (2003), 

Bell foi capaz de prever o alvoroço que o desenvolvimento das tecnologias de computação e 

comunicação iriam trazer e escreveu sobre elas antes de sua grande expansão. 

É interessante perceber que, como lembram Nehmy e Paim (2008), apesar de a 

questão dos empregos ser a tese que anunciava a sociedade pós-industrial, é a noção de 

conhecimento que ocupou lugar de destaque em suas teorizações. Dessa forma, o autor 

passou a advogar que a sociedade pós-industrial seria uma sociedade do conhecimento 

porque as fontes de inovação passariam a decorrer, cada vez mais, do desenvolvimento com 

base em pesquisa. 



37 
 

Manuel Castells é um outro importante autor que aborda esse contexto de mutação 

social amparado pelas tecnologias até os dias mais contemporâneos. No lugar de “sociedade 

da informação”, no entanto, ele utiliza a expressão “sociedade informacional” (CASTELLS, 

2010). Esse autor considera o contexto de mudanças sociais em paralelo ao surgimento dos 

artefatos tecnológicos como uma verdadeira revolução tecnológica. 

Para Castells (2010), essas mudanças correspondem a um evento histórico da 

mesma importância da Revolução Industrial do século XVIII, representando uma 

descontinuidade nas bases materiais da economia, da sociedade e da cultura. O autor lembra 

que a história das revoluções tecnológicas mostra que todas elas se caracterizaram por sua 

penetração em todos os domínios da vida humana. O cerne da transformação que ainda estaria 

curso referir-se-ia, para ele, às tecnologias da informação, processamento e comunicação. 

De acordo com esse autor, houve um conjunto de grandes avanços tecnológicos nas 

duas últimas décadas do século XX, no que diz respeito a materiais, fontes de energia, 

aplicações na medicina, técnicas de produção, tecnologias de transporte, entre outras. Além 

disso, esse processo de transformação tecnológica tem crescido exponencialmente por sua 

capacidade de criação de interface entre diferentes campos tecnológicos mediante o uso de 

linguagem digital comum, por meio da qual a informação é gerada, armazenada, processada 

e transmitida. 

Castells (2010) afirma que, a partir da década de 1970, as tecnologias da informação 

difundiram-se amplamente, acelerando seu desenvolvimento sinérgico e, assim, convergindo 

em um novo paradigma econômico e tecnológico: o paradigma da tecnologia da informação, 

o qual tem como características: 

1. A informação como matéria prima. Sendo assim, trata-se de tecnologias para 

agir e atuar sobre a informação, não apenas informações para agir sobre as tecnologias, como 

ocorreu nas revoluções tecnológicas anteriores. 

2. A penetrabilidade dos efeitos das novas tecnologias. Como a informação 

perpassa todas as atividades humanas, todos os processos de nossa existência individual e 

coletiva acabam sendo diretamente moldados, embora não determinados, pelos novos meios 

tecnológicos. 



38 
 

3. O estabelecimento de uma lógica de redes em qualquer sistema e conjunto de 

relações, por meio do uso das novas tecnologias de informação. A estrutura da rede parece 

capaz de adaptar-se à crescente complexidade de interação e às suas imprevisíveis expansões 

advindas do poder criativo das interações. 

4. A flexibilidade na base do paradigma. O que diferencia a configuração do 

novo paradigma tecnológico é justamente a sua capacidade de reconfiguração. 

5. A progressiva convergência de tecnologias distintas para um sistema 

fortemente integrado, no qual tecnologias antigas ficam impossíveis de se verem em 

separado. 

Vale lembrar que a perspectiva da “sociedade da informação” diz respeito a apenas 

uma das formas de entender essa nova sociedade. Há também uma teoria chamada de pós-

fordista, uma visão surgida entre as correntes de esquerda do espectro ideológico que se 

caracteriza por uma crítica à perspectiva pós-industrial por vê-la como uma fase da ideologia 

burguesa e por esta dar atenção às mudanças econômicas em paralelo à tecnologia. Há ainda 

uma perspectiva chamada de pós-moderna que, por sua vez, tem foco maior nas questões 

culturais, amparada em uma ideia de superação da modernidade (KUMAR, 1997). 

No mundo contemporâneo, como defende Sancho (2006), torna-se difícil negar a 

influência das tecnologias da informação e comunicação. Nesse contexto, duas tecnologias 

destacam-se bastante: o computador e a internet. Brito e Purificação (2011) afirmam que o 

surgimento do computador remonta à década de 1940, ao contexto da Segunda Guerra 

Mundial, sendo que o microcomputador, a forma como se o conhece atualmente, chegou ao 

mercado na década de 1980. A popularidade desses aparelhos veio com a criação de 

programas dedicados à edição de textos, à criação de planilhas, à comunicação, passando, 

assim, a serem adotados por empresas e profissionais como instrumento de trabalho. Já a 

internet foi a grande inovação da década de 1990, que promoveu grandes mudanças, 

interferindo na estrutura dos diferentes sistemas e transformando as relações e as 

comunicações globais. 

Coll e Monereo (2010) veem o advento da internet não apenas como mais uma nova 

tecnologia, mas como a manifestação do novo paradigma tecnológico e das transformações 

socioeconômicas e socioculturais. Nessa mesma linha de raciocínio, Castells (2003) afirma 

que ela é um meio de comunicação que permitiu, pela primeira vez, a comunicação de muitos 



39 
 

com muitos em escala global. Para ele, ela é uma tecnologia particularmente maleável, 

passível de ser profundamente alterada pelas práticas sociais e propícia a uma série de 

resultados sociais potenciais a serem descobertos pela experiência, não ditáveis 

aprioristicamente. 

Com o advento do computador e da internet, Lévy (2010) chama a atenção para o 

fenômeno da virtualização da comunicação por meio do procedimento técnico da 

digitalização. Esse autor defende que, por meio dessa capacidade de virtualização, criou-se 

uma nova dimensão social chamada de ciberespaço; como ele diz, “eu defino o ciberespaço 

como o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial de computadores e das 

memórias dos computadores” (LÉVY, 2010, p. 94). O estabelecimento desse espaço, por sua 

vez, deu vazão ao surgimento de uma nova forma de cultura, a cibercultura, uma sinergia 

entre a vida social e os dispositivos eletrônicos e suas redes telemáticas (LEMOS, 2010). 

O ciberespaço não é uma infraestrutura técnica particular de telecomunicações, mas 

uma certa maneira de usar as infraestruturas existentes, por mais imperfeitas e sem sentido 

que possam parecer. Ele corresponde a um percurso particular de relação entre as pessoas, 

cuja autoestrada é eletrônica, composta de um conjunto de softwares, de cabos de cobre ou 

de fibras óticas, de ligação por satélite, entre outras (LÉVY, 2010). 

De acordo com Lemos (2010), o ciberespaço constitui o mais recente 

desenvolvimento da evolução da linguagem. Com ele, os signos da cultura, textos, música, 

imagens, mundos virtuais, simulações, softwares, moedas atingem o último estágio de 

digitalização, tornando-se, dessa forma, ubiquitários na rede, ou seja, passam a estar em 

algum lugar e em toda a parte ao mesmo tempo. 

Para esclarecer o que seria o ciberespaço, o autor faz uma analogia a história dos 

Correios. Segundo ele, as técnicas materiais e organizacionais dos correios já existiam na 

China desde a mais remota Antiguidade. Até o século XVIII, entretanto, os sistemas de 

correio organizavam-se em torno de um governo central de onde saiam ordens e aonde 

chegavam notícias dos variados pontos do reino. A partir de então, todavia, passou a vigorar 

um serviço postal com lógica de ponto a ponto, em que os mais diferentes indivíduos 

passaram a corresponder-se entre si, e não mais somente do centro para a periferia e vice-

versa. Dessa forma, estabeleceu-se um sistema social de comunicação que oportunizou o 

florescimento das correspondências econômicas, administrativas, a literatura epistolar, a 



40 
 

república europeia dos espíritos, o estabelecimento uma rede de sábios e filósofos, as cartas 

de amor etc. 

Assim, da mesma maneira que a correspondência entre pessoas fez surgir o 

verdadeiro uso do correio, o ciberespaço, para o autor, equivale ao verdadeiro uso da rede 

telefônica e do computador pessoal. Ele pode ser entendido, conforme Lévy (2010), como 

prática de comunicação interativa, recíproca, comunitária e intercomunitária, como um 

horizonte do mundo virtual vivo, heterogêneo e intotalizável, do qual todos podem participar 

e com o qual todos podem contribuir. 

Segundo Lemos (2010), hodiernamente as novas tecnologias parecem caminhar 

para uma forma de onipresença, imiscuindo-se de maneira radical e quase imperceptível ao 

nosso ambiente cultural através de seu movimento de tornar-se cada vez mais micro e ainda 

de seu devir estético. Esse movimento ocasiona até mesmo a aproximação da tecnologia 

contemporânea do prazer estético e do compartilhamento social. 

Ainda de acordo com o autor, hoje essa cibercultura faz parte do cotidiano e pode-

se dizer que ela é uma realidade na maioria dos países. Além disso, há quem sugira que nem 

faça mais sentido falar em ciberespaço ou em internet, pois “estarmos caminhando para a 

ubiquidade total das redes, ou seja, para o seu retraimento em um fundo de coisas e mineração 

de dados” (LEMOS, 2010, p. 10). 

 Para o autor, tudo isso ocasiona também uma crise de modelos culturais, já que a 

cultura de massa industrial foi abalada pela cultura pós-massiva dos novos produtos e 

serviços da cultura digital contemporânea, pós-massiva no sentindo de que usuário antes 

unicamente consumidor das mídias tradicionais, por meio do uso das novas tecnologias e do 

ciberespaço, pode passar agora a ser também produtor e distribuidor de produtos culturais. 

 

2.6 A integração das TDICs no ensino 

 

Nos últimos anos, vivenciam-se significativas alterações nas diferentes esferas 

sociais impulsionadas pelas inovações tecnológicas digitais, que tão velozmente se 

apresentam e se inserem na sociedade (KENSKI, 2013). Essas inovações têm produzido uma 



41 
 

sorte de redefinições nos processos de produção e trabalho, no processamento das 

informações e na administração dos conhecimentos (MARFIN; PESCE, 2019). 

Esse processo de entrada das inovações tecnológicas no mercado como um todo, 

Agustinho e Garcia (2018) chamam de difusão tecnológica; em outras palavras, essa 

expressão refere-se à chegada de produtos, serviços, processos, métodos ou sistemas que não 

havia antes ou que se diferenciam do padrão em vigor. Bozeman (2000), por sua vez, 

conceitua difusão tecnológica como o movimento de transmissão de artefatos tecnológicos 

ou conhecimentos técnicos de uma organização para outra. 

Para a esfera escolar, afirma Moran (2013), a dinâmica da incorporação das TDICs 

tem trazido inúmeras possibilidades, ao mesmo tempo em que tem desestabilizado as 

instituições com relação, por exemplo, ao que manter, ao que alterar e ao que adotar. Essa 

instabilidade trazida pelo digital, apontada pelo autor, não diz respeito somente a um 

acompanhamento do avanço dos diferentes aparatos tecnológicos, o que, como adverte Silva 

(2010), muitas vezes a funciona meramente como marketing; mas diz respeito, 

principalmente, como afirma Kenski (2013), ao reconhecimento de que as TDICs 

provocaram uma verdadeira revolução na própria compreensão tradicional de construção do 

conhecimento. 

Nesse sentido, Kenski (2013) sustenta que o processo de construção do 

conhecimento, tradicionalmente concebido como linear, estruturado e previsível, na era 

digital tem ganhado cada vez mais um o caráter de multiplicidade e atualização, uma vez que 

múltiplas informações podem ser acessadas simultaneamente, sem ordem cronológica, 

sequência e hierarquia. 

O advento da linguagem digital, por meio da qual as informações viajam nas 

infovias, é visto por Castells (2010) como algo que tem promovido transformações na 

comunicação humana tão profundas quanto a invenção do alfabeto promoveu há mais 2 mil 

anos. O que há de inédito nessa nova configuração de linguagem, para ele, é a sua 

constituição hipertextual, a partir da qual se torna possível integrar as modalidades escrita, 

oral e audiovisual. 

Kenski (2003) afirma que o aspecto digital engendra, obrigatoriamente, não apenas 

o uso de novos equipamentos para a produção e a apreensão do conhecimento, mas também 

novos comportamentos de aprendizagem, novas racionalidades, novos estímulos perceptivos. 



42 
 

E diante do rápido alastramento e multiplicação das TDICs em novos produtos e em novas 

áreas, a autora considera que não se pode mais ignorar presença e importância dessas 

tecnologias. Seguindo essa linha de raciocínio, Behrens (2013) defende que as instituições 

de ensino não têm como ficar indiferentes a essas mudanças. 

Nesse sentido, Moran (2012) afirma que a educação formal passa por um momento 

de transição. Para ele, ela nem está mais no modelo industrial, por mais que se mantenham 

muitas de suas estruturas organizacionais e mentais; nem está no modelo da sociedade do 

conhecimento, embora incorpore em parte alguns dos seus valores e expectativas. 

A sociedade do conhecimento, na visão desse autor, corresponde à compreensão de 

que “a educação é um processo que ocorre no seio da sociedade, [...] que afeta todas as 

pessoas, o tempo todo, em qualquer situação e de todas as formas possíveis” (MORAN, 

2012). Segundo ele, portanto, toda a sociedade educa ao fazer circular ideias, valores e 

conhecimentos, sendo que essa circulação ganhou novos contornos com as novas formas de 

acesso e distribuição das informações proporcionadas pelas TDICs. 

Moran (2012) afirma também que, enquanto a sociedade tem mudado, 

experimentado desafios mais complexos, a educação formal tem continuado, de maneira 

geral, organizada de modo previsível, repetitivo, burocrático e, por conseguinte, pouco 

interessante. Há, portanto, um crescente descompasso entre os modelos tradicionais de ensino 

e as novas possibilidades que a sociedade já desenvolve informalmente utilizando as 

tecnologias digitais. 

Ainda assim, ele acredita que essas tecnologias adentrarão cada vez mais na 

educação formal, passando a desempenhar muitas das tarefas que os professores sempre 

desenvolveram. A atividade de transmitir conteúdos, por exemplo, dependerá cada vez 

menos dos professores, porque cada vez mais se dispõe de um vasto arsenal de materiais 

digitais sobre qualquer assunto. 

Percebe-se, portanto, que a prática de ensino como transmissão de conteúdos deixa 

ainda mais de fazer sentido nesses tempos de grande acesso à informação e de estruturação 

das sociedades em torno do conhecimento, como ratifica Roldão (2007). Em um passado 

mais distante, acredita essa autora, essa visão assumia um significado socialmente pertinente, 

pois o saber disponível era muito menor, pouco acessível, e o seu domínio ficava limitado a 



43 
 

um número restrito de indivíduos. Esse contexto, lembra ela, compreende de modo geral o 

desenvolvimento da escolaridade até o final da primeira metade do século XX. 

É importante destacar que, ao conceber a educação como um processo que ocorre 

em todos os espaços, Moran (2012) não deseja menosprezar o papel da escola formal, 

reconhecida por ele como um dos espaços definidos por meio de diretrizes políticas onde as 

sociedades explicitam seus valores básicos fundamentais em cada momento histórico. 

Percebe-se, ao invés disso, que suas ideias se orientam no sentido de discutir algumas 

alterações na organização e no funcionamento dessa instituição, necessárias à sua 

ressignificação e, portanto, à sua valorização na atualidade. Aranha (2006) deixa claro esse 

raciocínio ao afirmar que os contratempos pelos quais passa a instituição escolar na 

contemporaneidade não apontam que ela deva ser renegada, mas sim indicam a necessidade 

de que sejam repensadas as suas funções e redefinidos os valores que a têm sustentado. 

Acerca das alterações na relação entre os indivíduos e o saber em virtude da 

intensificação do uso de tecnologias, que certamente afetam os processos de ensino da 

educação formal na contemporaneidade, Lévy (2010) defende que elas precisam ser vistas 

dentro do contexto da cibercultura. Assim, ele aponta três desdobramentos desta que ajudam 

a explicar melhor essas alterações. 

O primeiro deles é o fato de que, nesse contexto, aceleraram-se o surgimento, a 

circulação e, portanto, a renovação dos saberes e dos savoir-faire, ou seja, intensificou-se a 

obsolescência dos conhecimentos. O segundo, diz respeito à ocorrência de uma alteração na 

natureza do trabalho em virtude de seu âmbito de troca de conhecimentos ter passado a ser 

cada vez mais crescente, de ele envolver cada vez mais processos de aprendizagem, troca de 

saberes e produção de conhecimentos. O terceiro concerne à emergência de tecnologias 

intelectuais capazes de modificar numerosas funções cognitivas humanas, tais como a 

memória, por meio dos bancos de dados; a imaginação, a partir das simulações, e a percepção, 

por meio das realidades virtuais. 

Para Lévy (2010), as tecnologias intelectuais favorecem novas formas de acesso à 

informação por meio da navegação por hiperdocumentos, busca de informações através de 

mecanismos de pesquisa e exploração conceitual através de mapas dinâmicos, por exemplo. 

Elas favorecem, ainda, novos estilos de raciocínio e de conhecimento, tais como a simulação, 

que, para ele, representa uma verdadeira industrialização da experiência do pensamento, pois 



44 
 

não é oriunda nem da dedução lógica nem da indução a partir da experiência. Para esse autor, 

as memórias dinâmicas, substanciadas em documentos digitais ou programas disponíveis na 

rede, aumentam o potencial de inteligência coletiva dos grupos sociais por poderem ser 

facilmente compartilhadas. 

A inteligência coletiva, teorizada por Lévy (2010), diz respeito ao conjunto de 

conhecimentos que vão se produzindo no/a partir do ciberespaço. Por meio das interações 

entre os indivíduos nesse lugar, eles vão aprendendo uns com os outros, intercambiando e 

valorizando os mais diversos saberes, independentemente de serem oficialmente válidos. Em 

suas palavras, essa é “uma inteligência distribuída por toda parte, incessantemente 

valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva das 

competências” (LÉVY, 2010, p. 28). 

Nessa lógica, defende o autor, o saber-fluxo, a forte transação de conhecimentos 

como parte do trabalho e as novas tecnologias da inteligência mudam profundamente o 

cenário da educação. O autor propõe que, no lugar de uma representação em escalas, em 

níveis, organizada pela noção de pré-requisitos, deva-se vislumbrar espaços de 

conhecimentos emergentes, abertos, contínuos, não lineares, que podem ser organizados de 

acordo com os objetivos ou contextos e nos quais cada indivíduo ocupe uma posição singular 

e evolutiva. 

Assim, o essencial, de acordo com ele, encontra-se em um novo estilo de pedagogia, 

que favoreça as aprendizagens personalizadas e, ao mesmo tempo, a aprendizagem coletiva 

em rede. Nesse contexto, o autor sustenta que é importante que o professor se torne um 

estimulador da inteligência coletiva de seus grupos de alunos, em vez de um fornecedor de 

conhecimentos. 

Percebe-se, dessa forma, que Lévy complementa as ideias de Moran (2012) e 

Roldão (2007), de que a função primordial do professor não pode mais ser a de difusão de 

informações, postulando que sua competência deve se deslocar no sentido de incentivar a 

aprendizagem e o pensamento dos alunos, focar-se no acompanhamento e na gestão de suas 

aprendizagens, no estímulo à troca de saberes entre eles, na mediação relacional e simbólica, 

e na condução singularizada de seus percursos de aprendizagem. Esse tipo de condução, 

Bacich e Trevisani (2015) chamam de personalização do ensino, que ocorre por meio do 

desenvolvimento de atividades que partam daquilo que o aluno já sabe e tenham como meta 



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o que ele ainda precisa aprender, levando em consideração suas necessidades, dificuldades e 

evolução. 

Essas ideias vão ao encontro do que defende Masetto (2013) sobre a docência na 

contemporaneidade, sobretudo no ensino superior. Para ele, faz-se necessário que o professor 

estimule os alunos a novas práticas, tais como a pesquisa de novas informações, o exercício 

da criticidade diante da grande quantidade de informações disponíveis, a comparação e a 

análise dos dados, de forma que os alunos possam compor seu pensamento próprio e 

estabelecer colaboração científica entre si. Ele considera fundamental também incentivar os 

alunos ao domínio das tecnologias digitais como possibilidade de encontro de novos 

caminhos, como recursos a serviço da pesquisa e da estruturação e comunicação do 

pensamento. 

É interessante observar que essas atividades elencadas por Masetto (2013) para o 

trabalho pedagógico relacionam-se ao que Cescon (2019) entende como produção de 

conhecimento na contemporaneidade. De acordo com ele, mesmo que hoje exista o que se 

chama de Inteligência Artificial, que se caracteriza pela capacidade de simulação de 

atividades do cérebro humano, os processos desempenhados por ela não podem ser 

considerados como construção de conhecimento, uma vez que: 

 

Esse conhecimento miserável de sinais não é, na verdade, conhecimento nenhum. 

Conhecimento significa reflexão, e não um mero reflexo, e reflexão não significa 

apenas que alguém funcione, mas também que esse alguém possa refletir sobre tal 

função e questionar o seu sentido (CESCON, 2019, p. 49). 

 

Esse autor defende que o verdadeiro conhecimento não nasce do nada, mas resulta 

da mobilização de conhecimentos anteriores, que são reelaborados e recompostos pelo 

sujeito. Dessa forma, para gerar conhecimento novo, é preciso organizar atividades como 

pesquisar, elaborar, redigir textos, argumentar, contra-argumentar, com o objetivo de chegar 

a um saber autônomo. 

Moran (2012) afirma que o ato de conhecer envolve dois processos, um não 

estruturado, chamado de divergente, e outro organizado, chamando de convergente. O 

primeiro concerne ao movimento de exploração das possibilidades, de procura, de busca do 



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novo; o segundo, diz respeito à etapa de sistematização, organização, estruturação e seleção 

daquilo que foi encontrado. 

Nesse sentindo, o autor defende que o uso de TDICs pode tanto servir ao processo 

divergente, sendo usadas, por exemplo, como ponto de partida para a abordagem de um 

assunto, com o intuito de fornecer informações, provocar diferentes reações nos alunos, 

desestabilizar seus conhecimentos; quanto para o processo convergente, para confirmar uma 

teoria, ilustrar uma ideia, auxiliar os alunos a sintetizarem a temática anteriormente 

trabalhada. 

Esse autor sustenta que, como educar é um processo dialético, o professor deve criar 

situações para que haja uma alternância equilibrada entre esses dois processos, que ele ajude, 

dessa forma, o aluno a construir uma lógica para as informações encontradas e também a 

questionar essa lógica estruturada, para construir novas compreensões. 

Pode-se dizer que essas importantes ações previstas para docentes e alunos são 

atividades que podem ser aprimoradas com o uso de TDICs, tendo-se em vista a afirmação 

de Lévy (2010) de que a apropriação dessas tecnologias pelos indivíduos é passível de 

construção de novos significados. Eles podem reinterpretar suas possibilidades e deslocar o 

seu fim técnico pré-determinado por meio da criatividade, ressignificando as suas funções e 

permitindo que os eles próprios encaminhem as suas dinâmicas de acordo com as suas 

determinações. 

Moran (2012) distingue três formas de uso dessas tecnologias no ensino. Elas podem 

ser usadas para fazer melhor aquilo que já era feito, para promover mudanças parciais e para 

implementar mudanças inovadoras. 

O professor faz melhor o que já fazia com o uso de tecnologias quando, por exemplo, 

utiliza-as para organizar os textos do conteúdo da disciplina, para expor o conteúdo, ilustrar 

as aulas, criar planilhas de avaliação e quando usa a internet como base de dados para 

pesquisa. Ele cria novos espaços ao trabalhar com vídeos tirando os alunos da posição de 

meros espect