0 UNIVERSIDADE DO VALE DO TAQUARI – UNIVATES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO (PPGAD) INCUBADORAS GAÚCHAS DE EMPRESAS DE BASE TECNOLÓGICA (IEBT) COM ATUAÇÃO NA ÁREA DO AGRONEGÓCIO: ANÁLISE COMPARATIVA E DISSEMINAÇÃO DE PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS Renato Santiago Quintal LAJEADO 2020 1 Renato Santiago Quintal INCUBADORAS GAÚCHAS DE EMPRESAS DE BASE TECNOLÓGICA (IEBT) COM ATUAÇÃO NA ÁREA DO AGRONEGÓCIO: ANÁLISE COMPARATIVA E DISSEMINAÇÃO DE PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento da Universidade do Vale do Taquari como parte da exigência para a obtenção do grau de Doutor em Ambiente e Desenvolvimento, área de concentração Espaço, Ambiente e Sociedade. Orientadora: Profa. Dra. Simone Stülp LAJEADO 2020 2 LOMBADA 3 FOLHA DE CATALOGAÇÃO 4 FOLHA DE APROVAÇÃO 5 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho aos meus amados pais, Daniel de Caires Quintal (in memorian) e Elizabeth Emília Santiago Quintal (in memorian), e aos meus queridos irmãos, Márcia, Marcos Henrique, Luiz Daniel, Marieta e respectivas famílias. 6 AGRADECIMENTOS Ao Criador, pela saúde, serenidade e motivação. À Universidade do Vale do Taquari (Univates), corporificada pelos seus docentes, discentes e servidores, pela chance de desfrutar do saudável ambiente acadêmico ao longo dos últimos quatro anos. Ao corpo docente do Programa de Pós-graduação em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD), agradeço os valorosos ensinamentos e a oportunidade de usufruir do rico ambiente de produção de conhecimento. Não poderia de deixar de render saudações especiais à atual coordenadora do Programa, Professora Doutora Neli Teresinha Galarce Machado. À Professora Doutora Simone Stülp, por ter aceitado me orientar, pelo compartilhamento de valiosos conhecimentos, pela consideração, pela paciência e pelo tratamento cordial e gentil a mim dispensado ao longo de todo o processo de elaboração desta pesquisa. Aos Professores Doutora Neli Teresinha Galarce Machado, Doutor Samuel Martim de Conto e Doutor Daniel Ricardo Arsand, pela gentileza de aceitarem participar da banca de avaliação da tese e pelas valiosas contribuições ao conteúdo do presente estudo. Ao Professor Doutor Renato de Oliveira, pelos ensinamentos transmitidos na fase inicial deste estudo, bem como pela forma gentil e cordial como sempre me tratou. À Presidência da Reginp; Direção Executiva de Parques Científicos e Tecnológicos; Direção de Inovação e Empreendedorismo; Direção de Centro de Empreendimentos; Coordenação de Startups, Empreendedorismo e Incubação de Empresas; às Gestorias de Incubadoras; aos Conselhos, Corpo de Pesquisa e Corpo Funcional dos ecossistemas de inovação visitados (Inovates, Itunisc, Hestia, Raiar, CEI, CBIOT, Ulbratech, Ieitec, Unitec, Itec, Criatec, Agittec, Innovatio, Pelotas Parque), registro o meu mais sincero agradecimento pelas essenciais contribuições ao trabalho. Aos sócios-fundadores das empresas estudadas (Naiaja Sulzbach Saúde Animal, Plantare Sustentável, Ressonare Engenharia de Automação, Conífera Engenharia de Meio Ambiente; Owntec Soluções em Engenharia, Tekann Mobile Solutions, Elysios Agricultura Inteligente, Mais Abelhas Apicultura, XL7 Data Science, E-Aware Technologies, Agrega 7 Pesquisa e Desenvolvimento em Biotecnologia, BioIn Biotecnologia, Befer Agroindustrial & Comercial, Creare Sistemas, Air Projetos de Maquinas e Confiabilidade, Duo Engenharia Criativa, Raks Tecnologia Agrícola, Arpac Indústria de Aeronaves, Empresa Caxiense de Comércio e Soluções em Biotecnologia, Exec Serviços de Informação e Tecnologia, Agex Tec Assessoria e Previsões Agrícolas, Doled Automação e Iluminação, Agridados Tecnologia em Agronegócios, Auster Imagens e Monitoramentos Aéreos, Diferencial AGR Curso de Aprendizagem, Zeit Portabilidade em Análises Químicas, Agrobotics Engineering, Green Next Soluções Inteligentes para o Produtor Moderno, SProject, Partamon e Vantum Plataforma Online de Processamento de Dados) e aos demais colaboradores, pela generosidade em doar parcela expressiva dos seus tempos disponíveis para compartilhar conhecimento, experiência e percepções, conteúdo imprescindível para tornar possível este singelo estudo. Às valorosas equipes que silenciosamente labutam nas Secretarias dos Programas de Pós-Graduação, em especial do PPGAD, nas secretarias dos cursos técnicos e de graduação, nas bibliotecas e nos setores de Conservação, Limpeza e Serviços Gerais desta Universidade, manifesto o meu profundo agradecimento. Aos amigos discentes com os quais tive a satisfação de conviver no período de 2016 a 2020, agradeço o ambiente camarada, saudável e fraternal nos profícuos quatro anos de atividades. À Administração Naval, por contribuir para que este projeto fosse viabilizado, registro o meu agradecimento. Formulo um agradecimento particular aos amigos do Centro de Ensino de Ciências Sociais da Escola Naval, em especial a Cláudio Gomes Aldêa, Marcello José Gomes Loureiro, Wellington Dantas de Amorim e Ana Carolina Aguilera Negrete, pela inestimável ajuda nas ocasiões em que precisei viajar para o Rio Grande do Sul, a fim de cumprir as atividades do curso na adorável e acolhedora cidade de Lajeado, separada do Rio de Janeiro por quase 1.700 km, praticamente a mesma distância de Amsterdã a Roma, o que evidencia as dimensões continentais do Brasil. Aos familiares e amigos que me apoiaram na etapa final da redação, apresento a minha gratidão, em especial a Andreia Rangel, Senhora Angelita dos Santos e Raquel dos Santos, Gláucia Santos e Iracema Reis. A todos que contribuíram direta ou indiretamente para a realização desta empreitada, agradeço imensamente. 8 EPÍGRAFE “Para os bons dias, gratidão. Para os dias difíceis, fé. Para os dias de saudade, tempo. Para todos os dias, coragem.” Francisco Cândido Xavier (1910- 2002) 9 RESUMO A presente tese assumiu como tema a análise de Incubadoras de Empresas de Base Tecnológica com área de atuação no agronegócio. O objetivo geral da pesquisa é analisar comparativamente as Incubadoras de Empresas de Base Tecnológica, bem como suas empresas pré-incubadas, incubadas, graduadas ou associadas, situadas no estado do Rio Grande do Sul, vinculadas à Rede Gaúcha de Ambientes de Inovação, com área de atuação no agronegócio. O levantamento de dados foi, majoritariamente, realizado por entrevistas face a face. Foi empregado o método de entrevista semiestruturada, utilizando-se questões abertas dispostas em um roteiro. Foram realizadas 16 entrevistas com gestores e consultores dos ecossistemas de inovação e 31 entrevistas com os empreendedores das empresas participantes da pesquisa. Adicionalmente, foi utilizado o método de coleta de dados baseado em observações diretas. Foram analisados aspectos relacionados à subjetividade do empreendedor, à atividade empresarial e à gestão de incubadoras. Acerca dos principais achados envolvendo incubadoras e empresas, convém elencar os seguintes: disponibilização de suporte material e intelectual aos empreendedores; promoção de cursos e treinamentos periódicos; inserção de mestres e doutores nas empresas, por intermédio de ações universitárias e programas governamentais específicos; identificação de ideias promissoras desde os cursos de graduação e incentivo à participação de alunos nos processos de incubação; tecnologias desenvolvidas plenamente inseridas no contexto da Agricultura 4.0; demanda por ferramentas gerenciais que vão além da administração tradicional; e oportunidades de melhoria nas áreas de gestão da propriedade intelectual e planejamento fiscal e tributário. Ao final do trabalho, foi proposta uma cartilha de práticas sustentáveis para gestão de incubadoras e empresas de base tecnológica com atuação no agronegócio, contemplando os principais achados da pesquisa. Palavras-chaves: Planejamento em Ciência e Tecnologia. Incubadoras de Empresas de Base Tecnológica. Tecnologias ambientais. 10 ABSTRACT The present thesis took as its theme the analysis of Technological Based Business Incubators with an area of expertise in agribusiness. The general objective of the research is to comparatively analyze the Technology-Based Business Incubators, as well as their pre- incubated, incubated, graduated or associated companies, located in the state of Rio Grande do Sul, linked to the Rio Grande do Sul’s Network of Innovation Environments, with an area of expertise in agribusiness. The data collection was mostly carried out through face-to-face interviews. The semi-structured interview method was used, using open questions arranged in a script. Sixteen interviews were conducted with managers and consultants of the innovation ecosystems and thirty-one interviews with the entrepreneurs of the companies participating in the research. Additionally, the data collection method based on direct observations was used. Aspects related to the subjectivity of the entrepreneur, business activity and incubator management were analyzed. Regarding the main findings involving incubators and companies, it is worth mentioning the following: provision of material and intellectual support to entrepreneurs; promotion of periodic courses and training; insertion of masters and doctors in companies, through university actions and specific government programs; identification of promising ideas from undergraduate courses and encouraging the participation of students in the incubation processes; developed technologies fully inserted in the context of Agriculture 4.0; demand for management tools that go beyond traditional management; and opportunities for improvement in the areas of intellectual property management and fiscal and tax planning. At the end of the work, a booklet of sustainable practices was proposed for the management of incubators and technology-based companies operating in agribusiness, covering the main findings of the research. Keywords: Science and Technology Planning. Technology-based Business Incubators. Environmental technologies. 11 LISTA DE ILUSTRAÇÕES LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Repertório de conhecimentos úteis em ecossistemas de inovação ........................ 43 Quadro 2 – IEBT associadas à Reginp e suas principais características .................................. 62 Quadro 3 – IEBT associadas à Reginp e empresas com área de atuação no agronegócio ....... 68 Quadro 4 – IEBT e agtech participantes do estudo .................................................................. 70 Quadro 5 – Panorama das entrevistas realizadas ao longo das visitas técnicas ....................... 82 Quadro 6 – Elementos de construção da Inovates/Univates e das agtech participantes da pesquisa .................................................................................................................................... 87 Quadro 7 – Elementos de construção da Itunisc/Unisc e das agtech participantes da pesquisa .................................................................................................................................................. 88 Quadro 8 - Elementos de construção da Hestia/UFRGS e da agtech participante da pesquisa 89 Quadro 9 – Elementos de construção da Raiar/PUCRS e das agtech participantes da pesquisa .................................................................................................................................................. 90 Quadro 10 – Elementos de construção do CEI/UFRGS e da agtech participante da pesquisa 91 Quadro 11 – Elementos de construção do CBIOT/UFRGS e das agtech participantes da pesquisa .................................................................................................................................... 92 Quadro 12 – Elementos de construção da Iteslu/Ulbra e da agtech participante da pesquisa .. 93 Quadro 13 – Elementos de construção do Ieitec e das agtech participantes da pesquisa ......... 94 Quadro 14 – Elementos de construção da Unitec/Unisinos e das agtech participantes da pesquisa .................................................................................................................................... 95 Quadro 15 – Elementos de construção da Itec/UCS e da agtech participante da pesquisa ...... 96 Quadro 16 – Elementos de construção da Criatec/Unijui e das agtech participantes da pesquisa .................................................................................................................................................. 97 Quadro 17 – Primeira parte dos elementos de construção da Agittec/UFSM e das agtech participantes da pesquisa .......................................................................................................... 98 Quadro 18 – Segunda parte dos elementos de construção da Agittec/UFSM e das agtech participantes da pesquisa .......................................................................................................... 99 Quadro 19 – Elementos de construção da Innovatio/FURG e das agtech participantes da pesquisa .................................................................................................................................. 100 Quadro 20 – Elementos de construção do Pelotas Parque Tecnológico e das agtech participantes da pesquisa ........................................................................................................ 101 file:///C:/Users/Renato/Documents/Revisao_Projeto_Qualificacao/Transcrição/Entrega_de_Pedido_-_6433_6438_6445/Entrevistas/Minuta_TESE_RenatoSantiagoQuintal_16JUN2020.docx%23_Toc43223123 file:///C:/Users/Renato/Documents/Revisao_Projeto_Qualificacao/Transcrição/Entrega_de_Pedido_-_6433_6438_6445/Entrevistas/Minuta_TESE_RenatoSantiagoQuintal_16JUN2020.docx%23_Toc43223123 file:///C:/Users/Renato/Documents/Revisao_Projeto_Qualificacao/Transcrição/Entrega_de_Pedido_-_6433_6438_6445/Entrevistas/Minuta_TESE_RenatoSantiagoQuintal_16JUN2020.docx%23_Toc43223124 12 LISTA DE FIGURAS Figura 1- Diferenças entre sistemas e ecossistemas de inovação ............................................. 33 Figura 2- Domínios do Ecossistema Empreendedor ................................................................ 35 Figura 3 - Parques Científicos e Tecnológicos no RS – 2017 .................................................. 38 Figura 4 - Incubadoras Tecnológicas no RS – 2017 ................................................................. 39 Figura 5 - Distribuição das agtech pelo território brasileiro ..................................................... 52 Figura 6 - Sequência das visitas técnicas realizadas pelo pesquisador..................................... 73 Figura 7 - Incubadora Tecnológica da Universidade do Vale do Taquari (Inovates) e agtech participantes da pesquisa .......................................................................................................... 73 Figura 8 - Incubadora Tecnológica da Universidade de Santa Cruz do Sul (Itunisc) e agtech participantes da pesquisa .......................................................................................................... 74 Figura 9 - Incubadora Tecnológica Hestia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Hestia/UFRGS) e agtech participante da pesquisa .................................................................. 75 Figura 10 - Incubadora Multissetorial de Empresas de Base Tecnológica da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Raiar/PUCRS) e agtech participantes da pesquisa .................................................................................................................................... 76 Figura 11 - Centro de Empreendimento em Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CEI/UFRGS) e agtech participante da pesquisa ............................................. 76 Figura 12 - Incubadora Empresarial do Centro de Biotecnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IE-CBIO/UFRGS) e agtech participantes da pesquisa ............................. 77 Figura 13 - Incubadora Tecnológica Empresarial da Universidade Luterana do Brasil (Iteslu/Ulbra) e agtech .............................................................................................................. 77 Figura 14 - Incubadora do Instituto Empresarial de Incubação e Inovação Tecnológica (Ieitec) e agtech ..................................................................................................................................... 78 Figura 15 - Incubadora Tecnológica da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unitec/Unisinos) e agtech participantes da pesquisa .............................................................. 78 Figura 16 - Incubadora Tecnológica de Caxias do Sul (Itec/UCS) e agtech participante da pesquisa .................................................................................................................................... 79 Figura 17 - Incubadora de Empresas de Inovação Tecnológica da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Criatec/Unijuí) e agtech participantes da pesquisa .................................................................................................................................................. 79 Figura 18 - Agência de Inovação e Transferência de Tecnologia da Universidade Federal de Santa Maria (Agittec/UFSM), incubadora e agtech participantes da pesquisa ........................ 80 Figura 19 - Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Universidade Federal do Rio Grande (Innovatio/Furg) e agtech participantes da pesquisa .................................................... 80 Figura 20 - Incubadoras de Empresas do Pelotas Parque Tecnológico e agtech participantes da pesquisa ................................................................................................................................ 81 Figura 21 - Origens da oportunidade de criação das agtech ................................................... 104 Figura 22 - Relacionamento da agtech com o meio acadêmico ............................................. 107 Figura 23 - Parcerias de agtech com grandes empresas ......................................................... 108 Figura 24 - Constituição das agtech ....................................................................................... 116 Figura 25 - Ano de fundação das agtech................................................................................. 118 Figura 26 - Áreas de atuação das agtech ................................................................................ 119 Figura 27 - Corpo funcional das agtech.................................................................................. 122 Figura 28 - Participação das mulheres nas equipes ................................................................ 123 Figura 29 - Níveis de expertise administrativa, técnica e de programação ............................ 124 Figura 30 - Composição do conjunto de clientes ................................................................... 129 Figura 31 - Proteção de propriedade intelectual das agtech ................................................... 133 file:///E:/PPGAD_Final/18JUN2020/Minuta_TESE_RenatoSantiagoQuintal_19JUN2020.docx%23_Toc43507249 file:///E:/PPGAD_Final/18JUN2020/Minuta_TESE_RenatoSantiagoQuintal_19JUN2020.docx%23_Toc43507250 file:///E:/PPGAD_Final/18JUN2020/Minuta_TESE_RenatoSantiagoQuintal_19JUN2020.docx%23_Toc43507250 file:///E:/PPGAD_Final/18JUN2020/Minuta_TESE_RenatoSantiagoQuintal_19JUN2020.docx%23_Toc43507251 file:///E:/PPGAD_Final/18JUN2020/Minuta_TESE_RenatoSantiagoQuintal_19JUN2020.docx%23_Toc43507251 file:///E:/PPGAD_Final/18JUN2020/Minuta_TESE_RenatoSantiagoQuintal_19JUN2020.docx%23_Toc43507254 file:///E:/PPGAD_Final/18JUN2020/Minuta_TESE_RenatoSantiagoQuintal_19JUN2020.docx%23_Toc43507254 file:///E:/PPGAD_Final/18JUN2020/Minuta_TESE_RenatoSantiagoQuintal_19JUN2020.docx%23_Toc43507256 file:///E:/PPGAD_Final/18JUN2020/Minuta_TESE_RenatoSantiagoQuintal_19JUN2020.docx%23_Toc43507256 file:///E:/PPGAD_Final/18JUN2020/Minuta_TESE_RenatoSantiagoQuintal_19JUN2020.docx%23_Toc43507260 file:///E:/PPGAD_Final/18JUN2020/Minuta_TESE_RenatoSantiagoQuintal_19JUN2020.docx%23_Toc43507260 file:///E:/PPGAD_Final/18JUN2020/Minuta_TESE_RenatoSantiagoQuintal_19JUN2020.docx%23_Toc43507260 file:///E:/PPGAD_Final/18JUN2020/Minuta_TESE_RenatoSantiagoQuintal_19JUN2020.docx%23_Toc43507265 file:///E:/PPGAD_Final/18JUN2020/Minuta_TESE_RenatoSantiagoQuintal_19JUN2020.docx%23_Toc43507268 file:///E:/PPGAD_Final/18JUN2020/Minuta_TESE_RenatoSantiagoQuintal_19JUN2020.docx%23_Toc43507270 file:///E:/PPGAD_Final/18JUN2020/Minuta_TESE_RenatoSantiagoQuintal_19JUN2020.docx%23_Toc43507272 file:///E:/PPGAD_Final/18JUN2020/Minuta_TESE_RenatoSantiagoQuintal_19JUN2020.docx%23_Toc43507274 13 Figura 32 - Origens dos investimentos das agtech ................................................................. 135 Figura 33 - Grau de dificuldade para captação de investimentos ........................................... 136 Figura 34 - Local de instalação da agtech .............................................................................. 144 Figura 35 - Complementariedade de perfis e experiência como empreendedor .................... 144 Figura 36 - Frente da cartilha “Sugestões de práticas sustentáveis para incubadoras e agtech” ................................................................................................................................................ 146 Figura 37 - Verso da cartilha “Sugestões de práticas sustentáveis para incubadoras e agtech” ................................................................................................................................................ 147 14 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Possíveis contribuições das agtech ao agronegócio ............................................ 113 Gráfico 2 – Classificação das agtech estudadas em categorias .............................................. 115 Gráfico 3 – Classificação das agtech estudadas por natureza jurídica ................................... 115 Gráfico 4 – Classificação das agtech conforme o porte ......................................................... 116 Gráfico 5 – Distribuição de agtech estudadas entre optantes e não optantes pelo Simples Nacional .................................................................................................................................. 117 Gráfico 6 – Distribuição das agtech estudadas pelo ano de início das atividades. ................. 118 Gráfico 7 – Distribuição dos principais projetos das agtech estudadas. ................................. 119 Gráfico 8 – Distribuição de agtech pelo quantitativo de sócios ............................................. 121 Gráfico 9 – Composição societária das agtech estudadas por gênero. ................................... 122 Gráfico 10 – Distribuição dos sócios de acordo com a titulação acadêmica .......................... 123 Gráfico 11 – Distribuição dos sócios por área de formação ................................................... 125 Gráfico 12 – Distribuição dos grupos de interesse das agtech estudadas ............................... 128 Gráfico 13 – Fontes de recurso dos empreendedores ............................................................. 134 file:///C:/Users/Róger/Desktop/Renato_04062020.docx%23_Toc42240306 15 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS Agittec Agência de Inovação e Transferência de Tecnologia Anprotec Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores APL Arranjo Produtivo Local APP Área de Preservação Permanente CBIOT Centro de Biotecnologia CEI Centro de Empreendimentos em Informática Ciemsul Centro de Incubação de Empresas da Região Sul CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CRC/RS Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul Criatec Incubadora de Empresas de Inovação Tecnológica da Unijuí CT&I Ciência, Tecnologia e Inovação DNA Ácido desoxirribonucleico EAD Ensino a Distância EDIR/RS Escritório de Exame e Difusão Regional ENCTI Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação ESA Escola Superior de Advocacia Esalq Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" ESPM Escola Superior de Propaganda e Marketing EUA Estados Unidos da América Fapergs Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul Farsul Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul Feevale Universidade Feevale Fiesp Federação das Indústrias do Estado de São Paulo Finep Financiadora de Estudos e Projetos FMP Faculdade de Direito da Fundação Escola Superior do Ministério Público FUPF Fundação Universidade de Passo Fundo Furg Fundação Universidade Federal do Rio Grande GPS Sistema de Posicionamento Global ICT Instituto de Ciência e Tecnologia IEBT Incubadora de Empresas de Base Tecnológica Ieitec Instituto Empresarial de Incubação e Inovação Tecnológica IFSul Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-Riograndense Imed Faculdade Meridional Innovatio Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da FURG Inovates Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Univates INPI Instituto Nacional da Propriedade Industrial Itel Incubadora Tecnológica Liberato 16 Iteslu Incubadora Tecnológica Empresarial da Universidade Luterana do Brasil ITSM Incubadora Tecnológica de Santa Maria Itunisc Incubadora Tecnológica da Unisc LED Diodo Emissor de Luz MCTIC Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações MEI Microempreendedor Individual MPE Micro e Pequena Empresa OAB/RS Ordem dos Advogados do Brasil – Secção do Rio Grande do Sul OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ONU Organização das Nações Unidas P&D Pesquisa e Desenvolvimento PACTI Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação Pappe Programa de Apoio à Pesquisa em Empresas PCT Política Científica e Tecnológica PCTI Política Científica, Tecnológica e de Inovação PIB Produto Interno Bruto Pintec Pesquisa de Inovação PITCE Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior PPGAD Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento PPGBiotec Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia PPGSAS Programa de Pós-Graduação em Sistemas Ambientais Sustentáveis PPGCC Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis PPGD Programa de Pós-Graduação em Direito Pró-Inovação Programa de Incentivo à Inovação nas Empresas Brasileiras PUCRS Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul PWC PricewaterhouseCoopers Reginp Rede Gaúcha de Ambientes de Inovação RHAE Recursos Humanos em Áreas Estratégicas Sebrae Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas Senac Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial SNCTI Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação SPPT Sistema Paulista de Parques Tecnológicos TCC Trabalho de Conclusão de Curso TIC Tecnologia da Informação e Comunicação UCPel Universidade Católica de Pelotas UCS Universidade de Caxias do Sul UFPel Universidade Federal de Pelotas UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFSC Universidade Federal de Santa Catarina UFSM Universidade Federal de Santa Maria Ulbra Universidade Luterana do Brasil Unifra Universidade Franciscana Unijuí Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul 17 Unilasalle Universidade La Salle UniRitter Centro Universitário Ritter dos Reis Unisc Universidade de Santa Cruz do Sul Unisinos Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unitec Unidade de Inovação e Tecnologia da Unisinos Univates Universidade do Vale do Taquari URI Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões Urinova Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da URI Santo Ângelo USP Universidade de São Paulo 18 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 20 2 REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................................. 27 2.1 Políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação (PCTI) ...................................................... 27 2.2 Sistemas e ecossistemas de Inovação ............................................................................... 31 2.3 Incubação de Empresas .................................................................................................... 36 2.4 O gerente da incubadora .................................................................................................. 40 2.5 O empreendedor ............................................................................................................... 42 2.6 Repertório de conhecimentos úteis em ecossistemas de Inovação ............................... 43 2.7 Apontamentos sobre o agronegócio ................................................................................. 45 2.8 As agtech ............................................................................................................................ 50 2.9 A Agricultura 4.0 ............................................................................................................... 52 2.10 Futuro da agricultura ..................................................................................................... 54 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ...................................................................... 62 4 COLETA DE DADOS ......................................................................................................... 72 5 ANÁLISE DOS RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................... 86 5.1 Elementos de construção das incubadoras e agtech participantes da pesquisa ........ 102 5.2 Principais aspectos relacionados à subjetividade do empreendedor ......................... 102 5.2.1 Benefícios do processo de incubação .......................................................................... 103 5.2.2 Motivo da escolha da incubadora .............................................................................. 104 5.2.3 Expectativas para o processo de incubação .............................................................. 106 5.2.4 Relacionamento da agtech com a incubadora e com as demais agtech .................. 107 5.2.5 Relacionamento da agtech com atores externos ....................................................... 108 5.2.6 Principais demandantes por inovação ....................................................................... 110 5.2.7 Perspectivas pós-incubação ........................................................................................ 110 5.2.8 Possíveis contribuições ao agronegócio ...................................................................... 114 5.3 Principais aspectos relacionados à atividade empresarial .......................................... 114 5.3.1 Informações gerais das agtech .................................................................................... 120 5.3.2 Mudanças no segmento de atuação ao longo da trajetória da agtech .................... 121 5.3.3 Quadro societário ........................................................................................................ 128 5.3.4 Grupos de Interesse ..................................................................................................... 130 19 5.3.5 Formulação do Planejamento Estratégico e do Plano de Negócios......................... 131 5.3.6 Ações de Marketing e Publicidade ............................................................................. 132 5.3.7 Proteção da Propriedade Intelectual ......................................................................... 133 5.3.8 Planejamento Fiscal e Tributário em CT&I ............................................................. 134 5.3.9 Fontes de recursos utilizadas ...................................................................................... 135 5.3.10 Ações para captação de recursos .............................................................................. 136 5.4 Principais aspectos relacionados à gestão de incubadora ........................................... 137 5.4.1 Colaboradores .............................................................................................................. 137 5.4.2 Infraestrutura disponibilizada ................................................................................... 138 5.4.3 Marketing e Publicidade ............................................................................................. 138 5.4.4 Proteção da Propriedade Intelectual ......................................................................... 139 5.4.5 Informação Tecnológica .............................................................................................. 140 5.4.6 Parcerias ....................................................................................................................... 141 5.4.7 Interação e troca de informações ............................................................................... 142 5.4.8 Inserção no Agronegócio ............................................................................................. 125 5.5 Cartilha de sugestões de práticas sustentáveis para incubadoras e agtech ............... 145 CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 149 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 154 APÊNDICES ......................................................................................................................... 164 APÊNDICE A – Roteiro de entrevista nº 01 ....................................................................... 164 APÊNDICE B – Roteiro de entrevista nº 02 ...................................................................... 165 APÊNDICE C – Roteiro de entrevista nº 03 ...................................................................... 166 20 1 INTRODUÇÃO Ao longo dos trinta últimos anos, o ambiente econômico mundial vivencia um momento de considerável dinâmica tecnológica e de significativo incremento da concorrência. O progresso técnico e a concorrência internacional fazem supor que, sem o suficiente aporte de recursos financeiros para ciência, tecnologia e inovação, uma nação improvavelmente atingirá o desenvolvimento efetivo (REZENDE, 2010). Para Conceição (2000), o conceito de inovação encontra-se relacionado à noção de tecnologia, a qual pode ser resumida como o conhecimento técnico atrelado à produção de bens e serviços. Trata-se de um conceito que remonta à definição clássica formulada por Joseph Schumpeter em sua obra Teoria do Desenvolvimento Econômico, de 1934. Uma definição moderna de inovação, sob inspiração schumpeteriana, foi atribuída a Niosi et al. (1993, p.209), os quais a vislumbraram como “(...) novos e melhores produtos e processos, novas formas organizacionais, a aplicação da tecnologia existente em novos campos, a descoberta de novos recursos e a abertura de novos mercados”. Os sistemas de inovação são descritos por sua aptidão de interação, por meio da articulação dos seus componentes, para a produção de conhecimento, sua difusão e emprego, de modo competitivo e lucrativo. A denominação de sistema regional ou local de inovação é empregada quando se empreende a análise e a contextualização de uma região pertencente a um sistema nacional de inovação, não podendo desconsiderar a ingerência do sistema nacional de inovação sobre o sistema regional (TERRA, 2007). Em Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), existe uma gama de definições que descrevem a reunião de empreendimentos de base tecnológica. A delimitação de polo tecnológico é usada no sentido de delinear uma área onde exista uma reunião maior de atividades tecnológicas do que em outras localidades. No estado de São Paulo, as cidades de Campinas, São José dos Campos e São Carlos são exemplos típicos de polos tecnológicos. Outra conceituação desenvolvida está relacionada aos Arranjos Produtivos Locais (APL), que são objeto de interesse da Secretaria de Desenvolvimento, do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), com o propósito de estimular a competitividade e a sustentabilidade de micro e 21 pequenas empresas, não estando a inovação tecnológica no cerne principal dessa abordagem. Judice e Baeta (2002) apontam que APL são concentrações geográficas de empresas inter-relacionadas, pertencentes ao mesmo setor ou à mesma cadeia produtiva, cuja proximidade física e interesses contribuem para que coexistam em regime de colaboração e/ou competição, fomentando vantagens competitivas dinâmicas em mercados globais. Por último, faz-se necessário elencar o entendimento acerca de incubadoras de base tecnológica: são organizações que almejam especificamente acolher e fomentar micro e pequenas empresas, a fim de tornar viável seu avanço inicial e temporário, além de igualmente tornar viável a sua criação (STEINER; CASSIM; ROBAZZI, 2008). Nesse contexto, essas empresas almejam alcançar mercados a partir do desenvolvimento de produtos ou processos aptos a distingui-las dos seus competidores, bem como franquear novas oportunidades ou segmentos de mercado. Para Iacono, Almeida e Nagano (2011), as empresas de base tecnológica, especialmente quando incorporadas a incubadoras de empresas, passam a compartilhar de um ambiente propício ao desenvolvimento de tecnologias e outros benefícios, tais como: facilitação de acesso a universidades e centros de pesquisa, assistência gerencial, redução de custos operacionais e acesso a financiamentos subvencionados. Nessa seara, parques tecnológicos estão associados a ambientes de inovação. São ferramentas utilizadas em nações desenvolvidas e em desenvolvimento com o objetivo de conferirem maior dinamismo às suas economias regionais e nacionais, por meio da agregação de teor de conhecimento. Adicionalmente, são estruturas que têm o propósito de transformar conhecimento em riqueza. Sendo assim, esses países tornam-se mais competitivos na esfera internacional, geram empregos qualificados, recolhem impostos e promovem o bem-estar social. É característico que parques tecnológicos estejam localizados nas cercanias de universidades e centros de pesquisa, polos produtores de conhecimento e formadores de recursos humanos qualificados. Trata-se de uma aproximação que gera sinergia e oportunidade. No estado de São Paulo, o Sistema Paulista de Parques Tecnológicos (SPPT) foi idealizado com o objetivo de compilar uma política que fomentasse o surgimento e o estabelecimento de conexões entre os parques tecnológicos no estado. Fez-se necessária a associação entre o poder público – e as suas diferentes esferas –, a academia e o setor privado, especialmente representado pelos segmentos empresarial e imobiliário (STEINER; CASSIM; 22 ROBAZZI, 2008). No território rio-grandense-do-sul, atua a Rede Gaúcha de Ambientes de Inovação (Reginp). Trata-se de uma associação civil sem fins lucrativos criada em 11 de novembro de 2005 por gerentes de incubadoras em conjunto com entidades de apoio, concebida como pessoa jurídica de direito privado, dotada de autonomia administrativa, financeira, jurídica e com ampla gestão de seus recursos e bens. Nesse sentido, firmou-se como uma das mais relevantes redes estaduais do País, congregando 14 parques tecnológicos e 26 incubadoras de empresas (REGINP, 2011). Este estudo considera que os ambientes de inovação gaúchos podem oferecer relevantes contribuições ao setor do agronegócio em âmbito regional e nacional, especialmente no contexto da Agricultura 4.0, que representou uma significativa mudança no paradigma produtivo agrícola, a partir do uso intensivo de tecnologias digitais integradas. Para Chagas (2019), o agronegócio brasileiro representa aproximadamente 23% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional e se apresenta cada vez mais propenso a adotar a tecnologia para se aprimorar e se conservar competitivo no exterior. Esse arranjo tem logrado êxito, uma vez que o volume das exportações desse setor aumentou mais de 244% entre o período de 2000 a 2017. Chagas (2019) aponta que, no Rio Grande do Sul, onde o agronegócio é um setor robusto no desempenho da economia, equivalendo a aproximadamente 67% do total de exportações do estado, esse crescimento permanece igualmente substancial. O emprego de tecnologias da informação está modificando a agropecuária. O processo decisorial do produtor rural, consagradamente fundamentado na experiência, intuição e tradição, passou a ser embasado em informações exatas e em tempo real. Recentemente, sistemas de rastreamento via satélite, drones, sensores terrestres e outros dispositivos foram incorporados ao ambiente rural para reunir dados atinentes aos fatores que intervêm na produtividade, como incidência de pragas, propriedades do solo e alteração climática. Sistemas que possibilitam o monitoramento e operação remotamente, favorecendo o manejo da lavoura, são embarcados em tratores e máquinas agrícolas. Softwares viabilizam a análise de dados. Por consequência, a interconexão dessas soluções tecnológicas fomenta novos estímulos ao agronegócio (ZAPAROLLI, 2020). Essa conjuntura favorece o desenvolvimento de empresas inovadoras de base 23 tecnológica orientadas ao meio rural, também conhecidas como agtech. Esses empreendimentos representam um dos alicerces do ecossistema de inovação do agronegócio nacional, igualmente composto por centros de pesquisa, universidades, grandes conglomerados agropecuários, fabricantes de insumos e equipamentos para o campo e investidores. Nesse contexto, o Brasil tem se revelado um lócus propício para aparecimento, validação e estabelecimento de novas tecnologias desenvolvidas por esse tipo de startup. Tal fato está intrinsecamente associado à importância da agropecuária brasileira e ao robusto ambiente de inovação nesse setor. Nos últimos cinco anos, esse conjunto de agtech tem exibido sólidas evidências de crescimento, especialmente por ser um ambiente de risco ativo no Brasil, bem como pelo desejo dos principais atores do agronegócio pela integração tecnológica (VASCONCELOS, 2020). A presente tese assume como tema a análise de Incubadoras de Empresas de Base Tecnológica (IEBT) e agtech instaladas. O objetivo geral da pesquisa é analisar comparativamente as Incubadoras de Empresas de Base Tecnológica (IEBT), bem como suas agtech pré-incubadas, incubadas, graduadas ou associadas, situadas no estado do Rio Grande do Sul, vinculadas à Rede Gaúcha de Ambientes de Inovação (Reginp). Os objetivos específicos são: 1) analisar as incubadoras e as agtech instaladas sob a ótica de práticas sustentáveis nos aspectos científico-tecnológico, gerencial e mercadológico; 2) elaborar a análise comparativa das incubadoras e agtech instaladas; e 3) propor uma Cartilha de práticas sustentáveis afetas às Incubadoras de Empresas de Base Tecnológica (IEBT) e agtech instaladas a partir das informações levantadas ao longo da pesquisa. Espera-se, ao final da pesquisa, responder às seguintes questões colocadas: 1) “Como estão estruturadas as incubadoras e as agtech instaladas sob a ótica de práticas sustentáveis nos aspectos científico-tecnológico, gerencial e mercadológico?”; 2) “Em que medida as incubadoras e as agtech se assemelham e se distinguem em relação aos aspectos citados anteriormente?”; e 3) “Como a gestão de incubadoras pode interferir nos resultados das mesmas, em termos de perfil e capacidade de sobrevivência das agtech instaladas?”. No que concerne à convergência da tese com linha de pesquisa do PPGAD, convém 24 apontar que o estudo em questão perpassa por questões afetas ao desenvolvimento, ao planejamento do espaço e às tecnologias ambientais, caracterizando a sua aderência às ciências ambientais e ao PPGAD, em especial à área de concentração “Espaço, Ambiente e Sociedade”, bem como à linha de pesquisa “Espaço e Problemas Socioambientais”. Conforme informações disponíveis na página institucional do PPGAD, a área de concentração do programa, entre outros aspectos, avalia modelos de desenvolvimento, planejamento do espaço, bem como análise e tecnologias ambientais. A linha de pesquisa aludida, entre os vários enfoques, estuda as implicações entre desenvolvimento, organizações produtivas e sociais e políticas públicas. Por oportuno, faz-se necessário mencionar que a pesquisa em questão encontra-se igualmente aderente às pesquisas conduzidas pela Professora Dra. Simone Stülp nas searas do desenvolvimento regional e das políticas de gestão em ciência, tecnologia e inovação. Vislumbra-se que a análise comparativa de Incubadoras de Empresas de Base Tecnológica (IEBT) resultará na propositura de uma cartilha de práticas sustentáveis, considerando-se que os atributos sociocultural, ambiental e econômico são as dimensões bases da sustentabilidade. A justificativa para se empreender a presente pesquisa é a atualidade e relevância do tema, além do destaque que o agronegócio e as agtech – acrônimo de “tecnologia agrícola” em inglês – sul-rio-grandenses ostentam em âmbito regional e nacional. Para Marconi e Lakatos (2002), a justificativa, entre outros aspectos, pode expressar igualmente a curiosidade do investigador e a possibilidade de revisitar, sob um novo olhar, uma experiência anterior do próprio pesquisador ou de outra pessoa ou instituição. Esses dois aspectos acima elencados sensibilizaram o pesquisador e despertaram o seu interesse; primeiramente, quando se deslocou aproximadamente 1.700 km – praticamente a mesma distância de Amsterdã a Roma – da sua cidade natal (Rio de Janeiro-RJ) para realizar o curso em uma nova cidade (Lajeado- RS), situada em outra região do País, com características naturais, sociais, culturais e econômicas bastante distintas. Dadas as circunstâncias, a curiosidade e o interesse fomentaram esta pesquisa. Adicionalmente, representou para o autor a possibilidade de reexaminar, com um novo enfoque, tema – Análise de Instituições de Ciência e Tecnologia – com o qual manteve contato acadêmica e profissionalmente durante o Mestrado e no decurso da sua trajetória profissional, respectivamente. É oportuno salientar que empresas novas ou em fase de constituição, conforme 25 revelado por Brigidi (2009), padecem com a escassez de recursos e com a pouca idade. Nesse contexto, os recursos oriundos do conhecimento produzido no âmbito das Incubadoras de Empresas de Base Tecnológica representarão toda a diferença na sobrevivência e no desempenho das empresas instaladas. Conforme aponta Matias-Pereira (2013), a implementação conveniente das políticas públicas de fomento à inovação nas empresas no Brasil necessita produzir e incorporar novos conhecimentos que possibilitem o estudo de abordagens reformuladas acerca da gestão dessas políticas, perseguindo o incremento da competitividade das empresas. Portanto, pode ser caracterizada como uma área estratégica para o processo de desenvolvimento econômico, uma vez que, além de concorrer para a diminuição do déficit no balanço de pagamentos, favorece um sucessivo aperfeiçoamento na qualidade dos bens fabricados no Brasil. O enfoque dado ao agronegócio na presente pesquisa encontra-se aderente à relevância que o setor tem para o País e para a região do Vale do Taquari, onde se encontra localizado o PPGAD/Univates. Nesse contexto, convém destacar que a Univates vem oferecendo à comunidade lajeadense os Cursos Técnicos em Agronegócio 1 e em Alimentos 2 . Oferece, também, o curso de graduação em Engenharia Sanitária e Ambiental e os Programas de Pós-Graduação em Sistemas Ambientais Sustentáveis (PPGSAS) 3 e em Biotecnologia (PPGBiotec) 4 . O PPGSAS contempla, na sua estrutura curricular, diversas disciplinas voltadas para o setor do agronegócio, especialmente “Legislação para Empreendimentos Industriais e Agrícolas” e “Sistemas Produtivos Avançados no Agronegócio”. Por sua vez, o PPGBiotec oportuniza as disciplinas "Bioecologia de Agroecossistemas e Controle Biológico", "Empreendedorismo em Biotecnologia" e "Bioeconomia". Adicionalmente, as transformações vivenciadas pelo setor do agronegócio em função da crescente utilização da tecnologia motivaram a escolha das unidades de análise do presente 1 Curso Técnico em Agronegócio da Univates. Disponível em: <https://www.univates.br/tecnicos/agronegocio>. Acesso em: 27 fev. 2019. 2 Curso Técnico em Alimentos da Univates. Disponível em: <https://www.univates.br/tecnicos/alimentos> Acesso em: 10 jun. 2020. 3 Programa de Pós-Graduação em Sistemas Ambientais Sustentáveis. Disponível em: <https://www.univates.br/ ppgsas/estrutura-curricular>. Acesso em: 27 fev. 2019. 4 Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia. Disponível em: <https://www.univates.br/ppgbiotec/estrutura- curricular-doutorado>. Acesso em: 10 jun. 2020. 26 estudo, quais sejam IEBT associadas à Reginp e suas empresas pré-incubadas, incubadas, graduadas ou associadas com atuação no agronegócio. Para Chagas (2019), o avanço das novas tecnologias vem produzindo reflexos em distintos setores sociais e transformando o modo de se conduzir os negócios. As inovações tecnológicas estão progressivamente ocupando espaço e gerando impactos em diferentes setores econômicos. Para a autora supracitada, o setor do agronegócio, nesse sentido, igualmente vem conhecendo muitas transformações e benesses com as opções tecnológicas que aparecem no meio. Para ela, trata- se de um tipo de negócio que demanda o gerenciamento de um expressivo volume de informações, desde o peso e a necessidade alimentar do rebanho até as condições climáticas e a necessidade de água no solo para que a plantação possa prosperar, por exemplo. Em função dos argumentos apresentados e da existência de significativo acervo bibliográfico e documental acerca da temática em pauta, tanto em âmbito nacional como internacional, bem como da possibilidade do acesso aos espaços a serem pesquisados, assegura-se a viabilidade da presente tese. Espera-se que os achados da pesquisa contribuam para uma melhor compreensão dos condicionantes ambientais (organizacionais e outros) das estruturas de fomento à inovação no Brasil, apontando fatores que permitam otimizar o desempenho dessas estruturas. Esta pesquisa é composta das seguintes seções, a saber: Introdução, Referencial Teórico, Procedimentos Metodológicos, Coleta de Dados, Análise dos Resultados e Discussões, Conclusão e Referências. 27 2 REFERENCIAL TEÓRICO Este capítulo é composto pelas seguintes seções, a saber: Políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação; Sistemas e Ecossistemas de Inovação; Incubação de Empresas; O Gerente da Incubadora; O Empreendedor; Repertório de Conhecimentos Úteis em Ecossistemas de Inovação; Apontamentos sobre o Agronegócio; As agtech; A Agricultura 4.0; e Futuro da Agricultura. 2.1 Políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação (PCTI) A atividade de inovação reúne incerteza, risco e elevado dispêndio de recursos financeiros, porém é capaz de contribuir para que a instituição, o segmento na qual está inserida e a nação como um todo alcancem notáveis benefícios (SENNES, 2009). A pesquisa de Cavalcante (2010), a partir da análise de indicadores agregados, busca estudar a aderência das políticas brasileiras de incentivo ao desenvolvimento científico e tecnológico e à inovação em face dos desafios criados pela evolução do sistema nacional de inovação e pelos paradigmas de desenvolvimento do sistema produtivo brasileiro. Nesse contexto, o cerne da pesquisa de Cavalcante (2010) é aprofundar os níveis de conexão entre os objetivos delineados e as ações de fato empreendidas, bem como avaliar a importância relativa dos distintos instrumentos que vêm sendo utilizados. O aludido pesquisador propõe que a condução de avaliações de PCTI seja estruturada em três componentes principais, a saber: 1) uma perspectiva sobre os mecanismos de transmissão que contemplem as atividades de CT&I e a sua conexão com o desenvolvimento econômico e social; 2) o estabelecimento de um rol de objetivos e diretrizes a partir dessa concepção; 3) a adoção de uma reunião de instrumentos com a finalidade de atingir os objetivos fixados. Velho (2011) argumenta que a evolução da PCTI ao longo do tempo encontra-se sensivelmente concatenada com a evolução do conceito prevalecente de ciência. Outrossim, como esse conceito sofreu modificações desde que o arcabouço institucional para PCTI foi produzido, igualmente foi modificada a lógica implícita à PCTI. Desse modo, existe a 28 possibilidade de se distinguir fases ou paradigmas no transcurso de evolução da PCTI, cada um deles descrito por uma lógica advinda de uma noção singular de ciência que estabelece o foco, as ferramentas e formas de gestão realizadas. Cavalcante (2010) argumenta que evidências acumuladas levaram à construção de padrões denominados modelos de integração estratégica e redes, por intermédio dos quais se busca compreender como se mesclam e interagem múltiplos fatores organizacionais, institucionais e econômicos nos processos de produção, difusão e uso da ciência e da tecnologia, tanto no contexto mais amplo da sociedade e das instituições quanto no das empresas e dos grupos empresariais globalizados. Velho (2011) expõe que o cerne da PCTI reside no bem-estar social. Para tal fim, compete à política pública de CT&I a atribuição de articulação, regulação e facilitação, asseverando a conectividade dos diversificados grupos de interesse. Aprimoram-se instrumentos para assegurar a participação social na delimitação de objetivos e instrumentos de política, bem como na divulgação de resultados. O estabelecimento de políticas deve ser verificado não somente na esfera nacional, mas igualmente nas esferas regionais e locais. Vislumbra-se que um rol de fatores poderia ser manejado para fomentar inovação, bem como para tornar mais dinâmicas as articulações entre necessidades e possibilidades na seara da produção de conhecimento. Portanto, considera-se que os aludidos fatores estabelecem condições para um bom delineamento de políticas públicas e para a viabilização da sua correspondente instrumentação, combinando as seguintes medidas: (1) fundos de financiamento de bolsas de pesquisa e outras modalidades de apoio concedidas por agências de fomento e instituições equivalentes; (2) incentivos fiscais; (3) incentivos financeiros, que contemplam desde a subvenção direta e a concessão de crédito em condições mais propícias até o suporte à constituição de fundos de capital de risco; (4) incentivos de infraestrutura e facilidades logísticas, especialmente nos ambientes de inovação; (5) condições de demanda por intermédio do poder de compra estatal; e (6) regulação da propriedade intelectual (CAVALCANTE, 2010). No contexto brasileiro, é relevante destacar que, no período compreendido entre a metade da década de 1990 até os dias atuais, diversas iniciativas de cunho governamental de PCTI foram empreendidas para fomentar a inovação tecnológica. Em resumo, a bibliografia sobre o tema elenca, entre as principais ações implementadas, as seguintes: a concepção dos 29 Fundos Setoriais, com início em 1999, atrelados ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), com o propósito de patrocinar a inovação e o desenvolvimento da CT&I no País; a inauguração da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE), em 2003, almejando estimular uma política industrial assentada em inovação; a publicação da Lei de Inovação e da Lei do Bem, em 2004 e 2005, respectivamente; a apresentação do Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação (PACTI 2007-2010), em 2007; a extensão para o 2 o Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação (PACTI 2 – 2011-2014); instituição de programas inéditos de fomento à inovação e a remodelação de programas existentes, tais como Programa de Incentivo à Inovação nas Empresas Brasileiras (Proinovação), Programa Juro Zero, Programa de Apoio à Pesquisa em Empresa (Pappe) e Projeto Inovar (VIOTTI, 2008; MARINI; SILVA, 2011; BAGATTOLLI; DAGNINO, 2014; MCTIC/BRASIL, 2016 apud MAZZETTI et al., 2020, p. 107). As políticas públicas de fomento e financiamento que favorecem investimentos de longo prazo e geração de novas tecnologias por intermédio de dispêndios em pesquisa e desenvolvimento são categorias de investimento que se revestem de alto grau de risco, não sendo, usualmente, contempladas pelo sistema financeiro privado (SENNES, 2009). A Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (ENCTI) 2016-2022 é o expediente de diretriz estratégica de médio prazo para a efetivação de políticas públicas em CT&I, além de prestar subsídio à elaboração das demais políticas de interesse. Formulado a partir de uma consulta pública e francamente discutido com os grupos de interesse, esse documento encadeia e aprimora a ENCTI 2012-2015, fortalecendo conteúdos exitosos ainda por avançar, revendo a trajetória e delineando novas intervenções convenientes para o cenário atual e para tendências vindouras. Concebido em capítulos que são adicionados de forma progressiva, o expediente almeja não somente projetar a estratégia de CT&I, seu escopo fundamental, mas evidenciar o estado da arte da política de CT&I empreendida nacionalmente, fundamentar as escolhas feitas e sumarizar multiplicidade de juízos em um veículo consistente para o aproveitamento de todos os interessados. Nesse contexto, o expediente é formado pela reunião de dois blocos de capítulos: o primeiro deles é representado pela descrição de uma conjuntura ampla da política nacional do setor, e o segundo por propostas mais estratégicas, que direcionarão as ações de CT&I nos anos seguintes (BRASIL, 2016). Convém registrar que existe uma lacuna para que os Estados possam operar por 30 intermédio de financiamentos a taxas de juros reduzidas, financiamentos não reembolsáveis ou subvenções. As políticas de competição e regulação têm como propósito a criação e a conservação de um cenário econômico de competição em esferas sensíveis para a inovação, agregando, ainda, políticas de propriedade intelectual. As políticas de apoio às micro, pequenas e médias empresas têm sido capazes de preencher uma atribuição relevante nas pautas econômicas de inovação. Igualmente, registra-se a relevância das políticas públicas na esfera da educação, voltadas à formação de um contingente de mão de obra capacitada, e nas áreas de CT&I, com a finalidade de impulsionar a produção de conhecimento na sociedade. Em última análise, faz-se necessário registrar a importância de que as políticas macroeconômicas, fiscal e monetária se harmonizem com os objetivos estabelecidos pelas políticas públicas e não se transformem em elementos restritivos do emprego e do desenvolvimento das políticas de inovação (SENNES, 2009). Conforme informações disponíveis na página institucional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 5 , a Pesquisa de Inovação (Pintec) é um estudo empreendido trienalmente, contemplando os setores de indústria, serviços, eletricidade e gás. Trata-se de uma investigação que tem o propósito de subsidiar a formulação de indicadores nacionais acerca das atividades de inovação realizadas pelas empresas brasileiras. A relevância da Pintec para o Brasil se manifesta em distintas áreas. Seus achados têm sido largamente empregados pela academia e por associações de classe, empresas e repartições governamentais de distintas esferas e regiões, pautando uma gama de políticas, notadamente na área de CT&I. Segundo Prodanov (2014), para que o Rio Grande do Sul alcance uma distinção na seara de CT&I, faz-se necessário incrementar continuamente os investimentos no setor e dar prosseguimento na ampliação de instrumentos de disseminação das ações de CT&I. Além dos investimentos em P&D, qualificação de recursos humanos e obtenção de materiais e equipamentos, há a necessidade de se investir em formulação e divulgação de estatísticas e indicadores que suportem a avaliação dos investimentos feitos na área. As estatísticas e os indicadores de CT&I são indispensáveis para o êxito do processo de avaliação e monitoramento das consequências da utilização dos recursos oportunizados. É nesse contexto que a Secretaria da Ciência, Inovação e Desenvolvimento Tecnológico (SCIT) e a Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser (FEE) produziram a publicação 5 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa de Inovação (Pintec). Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/multidominio/ciencia-tecnologia-e-inovacao/9141-pesquisa-de- inovacao.html?=&t=o-que-e Acesso em: 19 jan. 2020 31 “Ciência, Tecnologia e Inovação no Rio Grande do Sul: Indicadores selecionados 2014” (RIO GRANDE DO SUL, 2014). Mazzetti et al. (2020) aduzem que, a despeito dos investimentos públicos dos últimos anos, verifica-se que a infraestrutura produtiva nacional permanece em uma posição periférica, com a aglutinação de cientistas nas universidades e regiões mais prósperas, além de restritos investimentos em ações de pesquisa e desenvolvimento (P&D) pelo segmento empresarial, sendo estes, em muitas situações, voltados para a compra de máquinas e equipamentos aplicados na linha de produção. A próxima seção trata dos sistemas e ecossistemas de inovação. 2.2 Sistemas e ecossistemas de inovação O conceito de ambiente de inovação encontra-se relacionado a uma perspectiva distinta no que tange às possibilidades de construção da prática de inovação, com o propósito de combinar elementos tecnológicos, econômicos e sociais de maneira diferenciada e aberta, apartado do paradigma que associa inovação tecnológica somente ao setor produtivo (MACIEL, 2001). O ambiente de inovação relaciona-se à reunião de fatores de natureza política, econômica, social e cultural que estimulam ou dificultam a inovação (MACIEL, 2005). Nesse contexto, os ambientes de inovação consideram elementos provenientes do legado cultural e da criatividade intrínseca de um grupo social, que, tradicionalmente, não são legitimados como partes integrantes da inovação (ANDRADE, 2006). A página institucional do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) 6 apresenta alguns apontamentos acerca do conceito de ambientes de inovação. São vislumbrados como tais aqueles locais apropriados a inovar e a empreender, representando ambientes típicos da nova economia alicerçada no conhecimento, promovendo a articulação entre empresas; distintos escalões governamentais; instituições científicas, tecnológicas e de Inovação; agências de fomento e a sociedade, contemplando duas dimensões, a saber: ecossistemas de inovação e mecanismo de geração de empreendimentos. 6 Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). Ambientes Inovadores. Disponível em: https://www.mctic.gov.br/mctic/opencms/tecnologia/SETEC/paginas/ambientes_inovadores/_inovadores/Ambie ntes_Inovadores.html Acesso em 19 jan. 2020. 32 Nesse contexto, os ecossistemas de inovação são locais que reúnem infraestrutura e arranjos institucionais e culturais, que aproximam empreendedores e capital, revelando-se como espaços que fortalecem a prosperidade da sociedade do conhecimento, abrangendo, entre outros, parques científicos e tecnológicos, polos tecnológicos, distritos de inovação e cidades inteligentes. Outrossim, os mecanismos de geração de empreendimentos são aqueles instrumentos de promoção de empreendimentos inovadores e de suporte ao crescimento de empresas nascentes de base tecnológica, reunindo atividades inovadoras, alicerçadas em diferenciais tecnológicos e almejando a resolução de adversidades ou desafios sociais e ambientais. Tais mecanismos oferecem sustentação para converter ideias em empreendimentos exitosos, comportando, entre outros, incubadoras empresariais, aceleradoras de negócios, locais favoráveis ao trabalho cooperativo e espaços laboratoriais para prototipagem de produtos e processos. A sistematização de definições de sistemas de inovação a seguir apresentada é oriunda de um artigo publicado na página institucional do grupo VIA - Estação Conhecimento 7 , vinculado à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A definição mais antiga de sistema de inovação foi concebida na década de 1980 por Christopher Freeman. Trata-se de uma abordagem produzida como alternativa à teoria que vislumbrava a inovação como um procedimento linear e já não mais respondia a toda multiplicidade de aspectos que circunda o processo inovativo. Dessa forma, a definição de sistema de inovação é resultante da compreensão de que a inovação implica um processo complexo e fruto da relação entre distintos atores, notadamente institucionais. Richard Nelson e Nathan Rosenberg (1993) revelam que os sistemas de inovação são formados por um agregado de instituições cujas articulações estabelecem o comportamento inovador das empresas nacionais. Nesse contexto, Christopher Freeman e Luc Soete (2008) apontam que os sistemas de inovação são constituídos pelas distintas relações entre agentes públicos e privados que operam com CT&I, bem como pelo ensino e pela difusão tecnológica (PARAOL, 2018) Nos sistemas de inovação, as universidades e outras instituições afins assumem um papel de destaque, uma vez que representam o lócus no qual são concebidos e capacitados os cientistas e especialistas que desempenharão funções no segmento empresarial e conduzirão 7 O coletivo VIA - Estação Conhecimento – página institucional <via.ufsc.br> – é formado por um grupo de professores pesquisadores e alunos dos mais distintos cursos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Esse coletivo, cujas instalações físicas se encontram no Sapiens Parque S.A., promove e participa de diversos cursos, palestras, incubadoras, redes de empreendedorismo, bem como visitas a habitats de inovação nacionais e internacionais. Disponível em: https://scinova.com.br/via-une-inovacao-e-empreendedorismo-para-romper- barreiras/ Acesso em: 19 jan. 2020. https://scinova.com.br/via-une-inovacao-e-empreendedorismo-para-romper-barreiras/ https://scinova.com.br/via-une-inovacao-e-empreendedorismo-para-romper-barreiras/ 33 pesquisas nas mais distintas áreas associadas a tecnologias específicas (NELSON, 2006; SOUSA et al., 2017). A Figura 1, resultante de uma adaptação realizada por Paraol (2018) a partir do original de Russo-Spena, Tregua e Bifulco (2017), apresenta as diferenças entre sistemas e ecossistemas de inovação. Figura 1- Diferenças entre sistemas e ecossistemas de inovação Fonte: Adaptado de Russo-Spena, Tregua e Bifulco (2017 apud PARAOL, 2018) Em última análise, Paraol (2018) aponta que os sistemas de inovação são arranjos mais formalizados e traduzem as articulações institucionais entre academia, empresas e governo, de forma direta ou indireta. No que tange aos ecossistemas de inovação, Paraol (2018) indica se tratarem de ambientes dotados de maior flexibilidade, nos quais indivíduos, empresas e organizações se articulam com o propósito de empreender. Analogamente a um ambiente biológico, representa a concepção de um ambiente promissor e em permanente adaptação, no 34 qual distintos atores interatuam a fim de delinear uma conexão que propicie a inovação. Acerca da articulação entre academia, empresas e governo, anteriormente citada, é oportuno revisitar o arquétipo teórico da Hélice Tríplice. Trata-se de modelo teórico proposto por Henry Etzkowitz e Loet Leydesdorff com o propósito de delinear o modelo de inovação fundamentado no relacionamento entre os atores Governo, Universidade e Empresa. Trata-se de um paradigma circular de inovação que considera as diversas relações mútuas em distintos estágios do processo de produção e disseminação do conhecimento (ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 2000; GOMES; PEREIRA, 2015). A Hélice Tríplice tem sido vislumbrada como uma estratégia inovadora, com o intento de preconizar e instrumentalizar a implementação de políticas públicas de desenvolvimento regional, calcadas no desenvolvimento científico e tecnológico, com vistas a fomentar o desenvolvimento autossustentável viabilizado pela interação entre os atores das três hélices (CRUZ et al., 2013). Oliveira et al. (2013) exibem, por intermédio da figura 2, uma adaptação do modelo desenvolvido em 2011 por Daniel Isenberg, professor de Empreendedorismo do Babson College, que retratou os domínios do ecossistema empreendedor. 35 Figura 2- Domínios do Ecossistema Empreendedor Fonte: Isenberg (2011 apud Oliveira et al., 2013, p. 6) O referido modelo é fruto da pesquisa envolvendo distintas tentativas de fomento ao empreendedorismo em diferentes localidades do planeta. Naquelas circunstâncias, os participantes do projeto assimilaram que não existia somente um atributo que propiciava o êxito do empreendedorismo local; na verdade, um ecossistema completo de variáveis era determinante para fomentar o empreendedorismo que se mantivesse no transcurso do tempo, provocando de fato reflexos sociais e econômicos favoráveis à economia. O passo seguinte foi aprimorar os conceitos e os procedimentos metodológicos para assimilar distintas comunidades e países, bem como interagir com os correspondentes grupos de interesse acerca dos componentes primordiais ao aperfeiçoamento de um ecossistema empreendedor vigoroso e bem delineado. Nesse sentido, as seguintes esferas do empreendedorismo foram concebidas, a saber: capital financeiro, políticas públicas, cultura, recursos humanos, mercados, instituições e profissões de suporte (OLIVEIRA et al., 2013). Theodoraki, Messeghem e Rice (2018) revelam que o ecossistema empreendedor tem 36 o potencial de expandir a compreensão do empreendedorismo e representa um fluxo teórico emergente e em desenvolvimento. Em pesquisas anteriores, esse conceito foi abordado a partir da perspectiva da universidade, contudo ainda não foi introduzido no campo do apoio empresarial. Adicionalmente, o crescente quantitativo de incubadoras de empresas universitárias despertou um crescente interesse em pesquisas no campo do apoio empresarial. Nesse sentido, os autores em tela procuraram desenvolver uma compreensão mais consistente dos ecossistemas empresariais sustentáveis baseados em universidades, por intermédio de uma análise aprofundada de um elemento essencial de apoio empresarial: a incubadora de empresas da universidade. Empreenderam uma pesquisa exploratória fundamentada em entrevistas com membros-chave de ecossistemas empresariais baseados em universidades, a partir do arcabouço conceitual da teoria do capital social. Os autores sugerem que todas as três dimensões do capital social são relevantes para o funcionamento efetivo do ecossistema empresarial universitário e contribuem para sua sustentabilidade: a aplicação da dimensão estrutural do capital social aperfeiçoa o acesso aos recursos; a abordagem da dimensão cognitiva solidifica as relações entre os membros do ecossistema; e investimento na dimensão relacional aumenta a complementaridade e a confiança enquanto o ecossistema evolui. Assim, a interação dessas dimensões pode contribuir ainda mais para a sustentabilidade do ecossistema empresarial de base universitária. A seção seguinte aborda a incubação de empresas. 2.3 Incubação de Empresas Os Parques Tecnológicos e as Incubadoras de Empresas são instrumentos essenciais para uma política constituída de desenvolvimento e inovação no Brasil. As incubadoras têm se revelado como hábeis instrumentos para fomentar o empreendedorismo e criar empresas com novas tecnologias e produtos inovadores (BRASIL, 2015). Oliveira et al. (2014) apontam que Parques Tecnológicos, Incubadoras e Aceleradoras se revelaram como entidades relevantes do ecossistema de empreendedorismo, aptas a reduzir as probabilidades de uma startup ser descontinuada. São ambientes que disponibilizam às empresas nascentes um tempo valioso fundamental ao estímulo do empreendimento sem que haja os custos de um local próprio e, com frequência, concedem fomentos atrelados ao processo, de cunho educacional, financeiro e de conexões. Cabe à startup desfrutar ao 37 máximo desse espaço a fim de tonificar o seu faturamento, desde que não se esqueça de fortalecer a sua estrutura ao longo desse intervalo de tempo, a fim de que esteja apta a seguir sozinha quanto se lançar ao mercado sem esse suporte. Diamantopoulou, Androutsopoulou e Charalabidis (2018) argumentam que a incubação de empresas visa fomentar o empreendedorismo e nutrir ideias para transformá-las em empreendimentos viáveis e estimular o crescimento da economia. Os autores mapearam a amostra de incubadoras com as categorias de seus serviços com o propósito de investigar como elas se diferenciam de outros tipos de incubadoras e concluíram que nas incubadoras universitárias há somente uma redução da prestação de serviços administrativos quando realizada a comparação com as incubadoras típicas. Trata-se de uma questão que pode ser parcialmente mitigada pela atuação de um gerente responsável pelo planejamento, liderança e organização das operações diárias da incubadora, de modo a garantir que as incubadas recebam os serviços de melhor qualidade que permitirão seu bom funcionamento até o crescimento e desenvolvimento de negócios. Os resultados da pesquisa de Diamantopoulou, Androutsopoulou e Charalabidis (2018) revelam que as diferenciações entre os tipos de incubadoras estão mais no modelo operacional do que no portfólio de serviços. Em particular, os autores concluíram que, geralmente, cada incubadora projeta seus negócios e operações de acordo com seus objetivos estratégicos e em alinhamento ao ecossistema de inovação a que pertence. A figura 3 exibe os parques científicos e tecnológicos do estado do Rio Grande do Sul (RS). 38 Figura 3 - Parques Científicos e Tecnológicos no RS – 2017 Fonte: Atlas Socioeconômico do Rio Grande do Sul 8 (2017) As incubadoras de empresas representam o alicerce estrutural para a concepção de negócios tecnológicos e são vislumbradas pelo governo de distintos países como mecanismo político de inovação e desenvolvimento econômico. Por esse motivo, os paradigmas de incubação representam um modo de fornecer suporte para startups perdurarem e acelerarem seu desenvolvimento, e esses arquétipos contemplam a instalação de incubadoras, parques científicos e tecnológicos, centros de inovação, especialmente (PAUWELS et al., 2016). A figura 4 retrata as incubadoras tecnológicas do estado do Rio Grande do Sul (RS). 8 Atlas Socioeconômico do Rio Grande do Sul. Parques Científicos e Tecnológicos no RS – 2017. Disponível em: <https://atlassocioeconomico.rs.gov.br/polos-parques-e-incubadoras>. Acesso em: 19 jan. 2020. 39 Figura 4 - Incubadoras Tecnológicas no RS – 2017 Fonte: Atlas Socioeconômico do Rio Grande do Sul 9 (2017) Para Craveiro (1998), a formação de incubadoras e parques tecnológicos associados a universidades sempre ocorre ao redor de locais de excelência presentes na instituição. Esses espaços mobilizam o que existe de mais inovador e, por conseguinte, são os que conduzem à criação de empresas e/ou produtos com alta tecnologia. Nesse contexto, majoritariamente, as incubadoras, polos e parques tecnológicos brasileiros são unidisciplinares, isto é, orbitam em torno de uma única temática. O autor em comento aponta que mecânica de precisão, eletrônica e informática são as temáticas mais comuns no Brasil, sendo que software é a seara mais difundida, em razão da aparente predisposição de se organizar uma empresa nesse 9 Atlas Socioeconômico do Rio Grande do Sul. Incubadoras Tecnológicas no RS – 2017. Disponível em: <https://atlassocioeconomico.rs.gov.br/polos-parques-e-incubadoras>. Acesso em 19 jan. 2020. 40 segmento, necessitando-se, essencialmente, de um computador e um cérebro. Asinelli (1998) aponta que 70% das incubadoras têm conexões formais com universidades nacionais, evidenciando a forma como diversas instituições acadêmicas estão empregando modernas ferramentas de interação com o segmento empresarial e com a coletividade. A próxima seção versa sobre o gerente da incubadora. 2.4 O gerente da incubadora Para Salomão (1998), o gerente de uma incubadora de empresas atua, verdadeiramente, em uma dupla função. Está incumbido da efetividade da gestão de uma empresa de fato, a incubadora, cuja estrutura é composta de um orçamento a ser observado; um time a ser coordenado; produtos a serem concebidos, aprimorados, difundidos e implementados; e em um porvir a ser delineado, com políticas, estratégias e metas a serem reformuladas com regularidade. Salomão (1998) afirma que o gerenciamento desse conjunto de atividades em searas tão diversas, como marketing, finanças, recursos humanos, planejamento estratégico e outras não definidas, representa muito mais do que a gestão de um departamento de uma empresa de porte médio. Nesse contexto, o gerente de uma incubadora, além de cumprir todas essas atividades, tem sua atenção igualmente voltada para seus clientes, quais sejam, as empresas incubadas. Portanto, o desenvolvimento, o fortalecimento e a resolução de uma grande gama de entraves do cliente são transmitidos, rotineiramente, ao gerente da incubadora, o qual termina por dar solução a muitas das demandas das empresas incubadas. Salomão (1998) aponta que pesquisa realizada pela Anprotec em 1998 revelou que o número médio de empresas por incubadora era de 12 – apresentando cinco empresas no patamar mínimo e 96 empresas no máximo –, dimensionando, desta forma, a carga de trabalho que necessitava ser gerenciada numa incubadora. A mesma pesquisa apontou que há uma média de três profissionais em tempo integral e dois em tempo parcial comprometidos essencialmente com a gestão de uma incubadora no Brasil, incluindo o gerente. Existem, igualmente, mais cinco funcionários em tempo integral e cinco em tempo parcial, os quais auxiliam as atividades técnicas e de serviços gerais. Contabilizam-se, dessa forma, em média, 41 por incubadora, oito profissionais dedicados integralmente e sete em tempo parcial. Para Salomão (1998), trata-se de números significativamente baixos, uma vez que parcela expressiva das incubadoras presta serviço especializado de marketing, gestão empresarial, qualidade, contabilidade e design, demandando, cada um deles, um técnico especializado. Apesar do pequeno quantitativo de pessoas a ser gerido nas equipes das incubadoras, o gerente dispõe de um número restrito de profissionais para delegação de tarefas, o que confere um atributo específico no universo dos gerentes; isto é, mais do que gerenciador de atividades, ele é o executor direto de uma significativa parcela delas. Salomão (1998) aponta que a referida pesquisa empreendida pela Anprotec revelou algumas informações acerca dos dirigentes e assessores que integram as equipes administrativas das incubadoras, incluindo os gerentes. Em termos de faixa etária, 5,6% encontram-se entre 18 e 25 anos; 36% entre 26 e 35 anos; 24,7% entre 36 e 45 anos; e 33,7% com 46 anos ou mais. São informações que evidenciam que as equipes, geralmente, são formadas por profissionais jovens. No que se refere ao sexo, 67,4% dos profissionais são do sexo masculino e 32,6% do feminino. No que tange à escolaridade, 97,8% são detentores de diploma universitário, entre os quais 35,6% são mestres ou doutores. Em termos de formação acadêmica, 40,4% são administradores ou contabilistas; 23,6% são engenheiros, 6,8% são da área de química; 4,5% das ciências jurídicas; 4,5% da área de tecnologia da informação; e os demais provêm de outras formações acadêmicas. Em pesquisa realizada sobre a contribuição das incubadoras tecnológicas para internacionalização das empresas incubadas, Engelman (2010) revela que, no que concerne ao seu corpo funcional, 82,5% das incubadoras têm membros no time com terceiro grau completo ou incompleto, 27,5% têm membros no time com especialização, 17,5% têm membros no time com mestrado e 7,5% têm membros no time com doutorado. Ainda, 2 incubadoras têm na equipe apenas pessoas com primeiro ou segundo grau. No que tange ao perfil dos gerentes das incubadoras, Engelman (2010) revela que 5% têm doutorado, 15% têm mestrado, 60% têm pós-graduação latu sensu, 20% têm terceiro grau completo. Acerca da área de formação, a autora em tela aponta que 55% são egressos da área das ciências exatas, 37,5% são egressos da área das ciências sociais aplicadas, 5% egressos da área da saúde e 2,5% egressos da área da educação. Adicionalmente, 22,5% têm entre 20 e 30 anos, 15% têm entre 31 e 40 anos, 25% têm entre 41 e 50 anos e 35% têm mais de 51 anos. 42 Por fim, quanto ao gênero, 19 gerentes são do gênero feminino e 21 gerentes são do gênero masculino. A seção vindoura trata do empreendedor. 2.5 O empreendedor O brasileiro é vislumbrado como um indivíduo dotado de iniciativa; contudo, uma iniciativa impulsionada pela imprescindibilidade de achar um modo de gerar renda em circunstâncias em que não existe opção. O temor de fracassar, nessa situação, parece fortalecer o perfil de empreendedor por necessidade em oposição ao que se espera de investidores e empreendedores de startups, os quais escolhem assumir elevados riscos em retribuição da possibilidade de auferir ganhos financeiros expressivos. Esse tipo é conhecido como empreendedor de oportunidade. Identifica-se no sistema educacional brasileiro uma carência de artefatos teóricos de empreendedorismo que evidenciem a sua relevância social e despertem o interesse dos indivíduos ainda enquanto alunos. A defasagem na educação no que tange ao aperfeiçoamento dessa concepção pode ser entendida simultaneamente como um reforço aos atributos culturais e/ou como o resultado das escolhas e do comportamento do brasileiro no que se refere à prática empreendedora. Os empreendedores brasileiros são dotados de habilidades primárias para desenvolvimento empreendedor nacional, como inciativa e anseio de libertar-se da condição de empregado. Contudo, faz-se necessário aprimorar essas habilidades básicas no sentido de fomentar mais vigorosamente o empreendedorismo de elevado crescimento, a fim de gerar retorno econômico e financeiro em larga escala para o Brasil (OLIVEIRA et al., 2013). Existe uma diferença entre o empreendedor técnico, o empreendedor estrutural e o empreendedor de mercado. O primeiro tipo tem o interesse primordial na tecnologia. Trata-se de um tipo de empreendedor que enxerga o desenvolvimento do produto e a produção como aquilo de mais importante. O segundo tipo de empreendedor opera em indústrias maduras, promove a reestruturação da empresa ou da indústria, podendo estabelecer novos arranjos e engendrar novas ideias. Por fim, existe o terceiro tipo, que encontra uma necessidade de mercado e desenvolve uma solução para atender àquela demanda (ANDERSSON, 2000). Geralmente, as agtech brasileiras reúnem empreendedores qualificados, concepções disruptivas e potencial impacto econômico, sendo significativamente promissoras para aqueles investidores que almejam retornos robustos. Contudo, o quantitativo de aportes e os 43 valores destes são menores do que aqueles de outras categorias de startups, especialmente mobilidade e soluções financeiras. Enquanto o segmento agropecuário responde por aproximadamente 21,1% do PIB, somente uma singela parcela dos investimentos em startups no Brasil é destinada às agtech, sem levar em consideração o segmento alimentar (DIAS; JARDIM;SAKUDA, 2019). A próxima seção apresenta um repertório de conhecimentos úteis em ecossistemas de inovação. 2.6 Repertório de conhecimentos úteis em ecossistemas de inovação O quadro 1 apresenta repertório de conhecimentos úteis em ecossistemas de inovação, formulados a partir de consulta à literatura especializada. Quadro 1 – Repertório de conhecimentos úteis em ecossistemas de inovação Conhecimento Definição Design Thinking Trata-se de abordagem prática de desenvolvimento que emprega um conjunto de ferramentas em busca da resolução de problemas complexos de modo coletivo e colaborativo, situando os indivíduos interessados no centro do processo. É delineado e alicerçado em uma concepção de convergência e divergência, igualmente conhecida como Duplo Diamante, na qual se inicia o processo pela concepção de distintas opções de escolha. A diversidade é o âmago do conceito e contempla empatia e experimentação para, a partir de um problema, atingir a solução (VIANA, 2012 apud ECHEVESTE; KULPA; SONEGO, 2020). Lean Startup Abordagem de desenvolvimento alicerçada em ciclos de aprendizagem e aperfeiçoamento a partir de uma alternativa de solução ou oferta que se acomoda de acordo com os resultados do feedback do mercado. Baseado em método científico, a partir de hipóteses e experimentos, são verificadas as premissas da equipe, estruturadas no modelo de negócio. No Lean Startup, as empresas buscam um modelo de negócio que se ajuste à percepção de valor dos grupos de interesses, pivotando o modelo a partir do aprendizado resultante de cada ciclo de melhoria (RIES, 2019). Front End Inovation Refere-se às etapas iniciais do processo de desenvolvimento de produto, desde a ideia até a gestão do portfólio, e ampara-se na abordagem funil para selecionar oportunidades e conceitos que serão posteriormente examinados (BREM, 2009 apud ECHEVESTE; KULPA; SONEGO, 2020). Stage Gate System Essa abordagem obedece à lógica dos pontos de decisão ao longo do processo de desenvolvimento de produto e tem interface com o usuário, a 44 fim de validar o desenvolvimento entre as fases do processo (ECHEVESTE; KULPA; SONEGO, 2020). Inovação Aberta A inovação aberta consiste no emprego de fluxos de entrada e saída de conhecimento para a aceleração da inovação interna e ampliar os mercados a partir da utilização da inovação, respectivamente. A inovação aberta é um modelo que pressupõe que as empresas podem e devem empregar ideias externas assim como ideias internas, percursos internos e externos para o mercado, como olham para o progresso de suas tecnologias. A inovação aberta combina ideias internas e externas em um contexto de arquiteturas e sistemas, delineados por modelos de negócios que determinam mecanismos internos para se levar o valor gerado ao mercado externo. A inovação aberta reconhece igualmente que as ideias internas podem alcançar o mercado por canais externos, fora dos negócios atuais da empresa, o que conduz à geração de valor adicional (BENEDETTI; TORKOMIAN, 2009). Incentivos Fiscais Em 5 de dezembro de 2019, o MCTIC lançou o Guia Prático da Lei do Bem, que tem o propósito de aperfeiçoar os procedimentos de aplicação de um dos principais mecanismos de incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento no País. A obra apresenta detalhes e comentários explicativos sobre a Lei do Bem, bem como orientações claras para o preenchimento dos formulários necessários para que as empresas interessadas se beneficiem do incentivo (ANPEI, 2019). Instrumentos de Apoio Financeiro O Guia Prático de Apoio à Inovação apresenta, de forma didática, os principais Instrumentos de Apoio Financeiro (Financiamentos e Subvenção Econômica, Incentivos Fiscais, Capital de Risco, Bolsas) e os procedimentos necessários para solicitá-los (ANPEI, 2016). Instrumentos de Apoio Tecnológico e Industrial Ministério da Ciência e Tecnologia (Fundos Setoriais, Portal Inovação, Sistema Brasileiro de Tecnologia, Sistema Brasileiro de Resposta Técnicas, Programa Nacional de Incubadoras), Financiadora de Estudos e Projetos (Cooperação entre ICTs e Empresas, Apoio à Pesquisa e Inovação em Arranjos Produtivos Locais, Projeto Inovar), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Fundo Tecnológico), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SebraeTec, Programa Agentes Locais de Inovação, Programa Sebrae de Incubadoras de Empresas, Fundo de Aval, Programa Alavancagem Tecnológica), Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Programa Senai de Inovação Tecnológica), Instituto Euvaldo Lodi (Informação e Consultoria para Negócios), Propriedade Intelectual na Indústria, Capacitação em Gestão e Estratégias de Inovação para Empresas de Pequeno Porte), Instituto Nacional de Propriedade Industrial (ANPEI, 2016). 45 Mecanismos de proteção da propriedade intelectual Encontra-se disponível um extenso rol de cursos (presenciais e online) à disposição de empreendedores e do corpo funcional de ecossistemas de inovação. As informações adicionais encontram-se na página da Academia da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) 10 na internet. Fonte: O autor, a partir de consulta à literatura especializada (2020) As informações contidas no quadro 1 acima podem servir como material de pronto uso para empreendedores e gestores de ecossistemas de inovação. A seção seguinte reúne apontamentos sobre o agronegócio. 2.7 Apontamentos sobre o agronegócio A Organização para Alimentação e Agricultura, agência da Organização das Nações Unidas (ONU) incumbida de pensar nas questões afetas à erradicação da fome e ao combate à pobreza, publicou um relatório em 2009 sugerindo que até 2050 a produção agrícola terá que aumentar 70% para atender à demanda projetada. Como a maioria das terras adequadas para agricultura já se encontra cultivada, esse crescimento deve vir de rendimentos mais altos (THE FUTURE ..., 2016). A produtividade agrícola lenta, incompatível com crescimento populacional, é a razão por que, ao longo dos anos, a maioria dos países menos desenvolvidos mudou sua condição de exportadores agrícolas líquidos para importadores agrícolas. Trata-se de algo especialmente evidente na África Subsaariana. Os países menos desenvolvidos continuam a experimentar ganhos limitados em produtividade e competitividade. Aspectos como frágil infraestrutura, carência de tecnologias produtivas, falta de acesso a insumos e instituições fracas combinam-se para impedir o crescimento da produtividade. Nesse contexto, os níveis de produtividade estão significativamente abaixo do que poderia ser alcançado usando as melhores práticas e tecnologia disponível (FAO, 2018). Em geral, os benefícios do comércio agrícola para os países em desenvolvimento dependem de sua posição comercial – exportador líquido ou importador líquido – e de seus 10 Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI). Sítio Institucional. Disponível em: https://welc.wipo.int/acc/index.jsf?page=courseCatalog.xhtml&lang=pt Acesso em 19 jan. 2020. https://welc.wipo.int/acc/index.jsf?page=courseCatalog.xhtml&lang=pt 46 próprios esforços políticos. Com a deterioração de condições para a produção agrícola em função de mudanças climáticas, importações de alimentos de países situados em baixa latitude – geralmente em desenvolvimento – terão que vir de países de alta latitude, comumente desenvolvidos. Embora o comércio possa aliviar as pressões nos mercados domésticos advindas das mudanças climáticas, em longo prazo esse cenário pode resultar em dependência de importação de alimentos para países afetados negativamente. Também pode elevar o risco de exposição a mercados sujeitos a maior volatilidade de preços devido a eventos extremos que poderiam afetar grandes atores no mercado internacional (FAO, 2015 apud FAO, 2018). As pressões climáticas sobre a agricultura – que nos países em desenvolvimento emprega grande parte da população – devem ser acompanhadas de esforços para viabilizar o crescimento sustentável na agricultura e em outros setores da economia. Na agricultura, há a demanda pelo crescimento sustentável da produtividade agrícola, inclusive por intermédio do aperfeiçoamento de tecnologias e práticas, especialmente por pequenos agricultores familiares nos países mais pobres, que serão desproporcionalmente afetados pelas mudanças climáticas (FAO, 2018). O Sul da Ásia e a África Subsaariana, particularmente a África Ocidental, estão entre as regiões mais vulneráveis às mudanças climáticas. Nessas regiões, economias nacionais dependem da agricultura, setor que impacta significativamente o PIB e o emprego. Nesse contexto, pequenos agricultores familiares têm pouco acesso a tecnologias e a insumos inovadores, o que limita a capacidade de adaptação a uma mudança climática (KNOX et al., 2012 apud FAO, 2018). De fato, efeitos desiguais das mudanças climáticas, combinados com diferentes capacidades de adaptação, podem dar origem a uma crescente divisão entre países desenvolvidos e em desenvolvimento (ISLAM et al., 2016 apud FAO, 2018). O progresso significativo em adaptação e mitigação pode ser alcançado por meio de medidas que não distorçam o comércio. Estas medidas incluem maior investimento em inovação tecnológica e na sua subsequente adoção, bem como incentivar o emprego de práticas inteligentes na agricultura, de modo a promover a produtividade, a adaptação às mudanças climáticas e o aumento do sequestro de carbono (FAO, 2018). A tecnologia transformará a vida dos agricultores, tanto nos países ricos como nas nações em desenvolvimento, especialmente pelo formidável crescimento da produtividade na indústria, evidenciada pela aplicação da tecnologia sob a forma de máquinas agrícolas, 47 fertilizantes, agroquímicos, culturas e rebanhos cientificamente melhorados. A parcela de moradores da cidade na população total do mundo atingiu 50% em 2007 e continua subindo incansavelmente, mas a proporção cada vez menor de pessoas que vivem no campo ainda é capaz de alimentar a maioria urbana (THE FUTURE ..., 2016). A plataforma de inteligência geopolítica norte-americana Stratfor aponta que os grupos de pressão do setor agrícola europeu têm sido historicamente bastante ativos na Europa, muitas vezes capazes de influenciar políticas nos níveis nacional e supranacional. No entanto, o impacto desses grupos de pressão tem diminuído majoritariamente devido ao declínio das populações rurais, bem como à contribuição cada vez menor do setor agrícola para a economia da União Europeia. A Stratfor revela que, em 2018, a agricultura representava cerca de 1,4 % do Produto Interno Bruto da União Europeia, o que correspondia à metade do que era duas décadas atrás. Em países como Bulgária, Romênia e Grécia, a agricultura ainda é responsável por grande parte da atividade econômica, mas a tendência generalizada em todo o continente europeu revela um declínio da contribuição deste setor para a economia. Nessas circunstâncias, os níveis de emprego na agricultura igualmente declinaram, passando de 8% no início da década de 1990 para 4% em 2018 (EUROPE'S ..., 2018). A Stratfor anuncia que, ao negociar acordos de livre comércio com outros países, a União Europeia tem sido tradicionalmente relutante em permitir que produtos agrícolas estrangeiros ingressem em seu mercado interno. Porém, nos últimos anos, demonstrou maior disposição de incluir a agricultura nos acordos de livre comércio. Alguns limites, contudo, têm sido observados: as negociações com o Mercosul, por exemplo, foram adiadas por divergências sobre produtos como carne bovina, etanol e açúcar. Em um momento em que a agricultura europeia está sob pressão de produtores mais competitivos, como os Estados Unidos, Brasil e Austrália, a União Europeia tem se comprometido em proteger as denominações geográficas associadas às suas exportações de produtos regionais, como forma de agregar sofisticação e prestígio internacional. Nesse cenário internacional marcado pela decrescente influência dos grupos de pressão do setor agrícola na Europa, nos próximos anos, a quantidade de dinheiro dedicada ao setor diminuirá, bem como o número de subsídios. A despeito dos protestos desses grupos, a União Europeia tem se mostrado cada vez mais disposta a abrir seus mercados aos produtos agrícolas estrangeiros, conforme preveem acordos de livre comércio. Como resultado, os agricultores europeus encontram-se pressionados a aumentarem sua competitividade, especialmente pela redução de custos, pelo aumento da eficiência do trabalho e pela introdução de mais tecnologia no campo 48 (EUROPE'S ..., 2018). Segundo informações da Stratfor, o setor agrícola brasileiro se tornou uma potência no cenário mundial nos últimos 40 anos. A crescente importância da agricultura brasileira é baseada em dois fatores principais: disponibilidade de terras e interesse do exterior, especialmente da China, que se tornou o principal parceiro comercial do paí