CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE ENGENHARIA CIVIL A INFLUÊNCIA DOS FATORES DE ESQUINA E PAVIMENTAÇÃO NA AVALIAÇÃO DE LOTES URBANOS NA CIDADE DE LAJEADO-RS Douglas Guilherme Scherer Lajeado, julho de 2016 Douglas Guilherme Scherer A INFLUÊNCIA DOS FATORES DE ESQUINA E PAVIMENTAÇÃO NA AVALIAÇÃO DE LOTES URBANOS NA CIDADE DE LAJEADO-RS Trabalho de Conclusão de Curso, do Curso de Engenharia Civil, do Centro Universitário Univates, como parte da exigência para obtenção do título de Bacharel em Engenharia Civil. Orientador: Me. João Batista Gravina Lajeado, julho de 2016 Douglas Guilherme Scherer A INFLUÊNCIA DOS FATORES DE ESQUINA E PAVIMENTAÇÃO NA AVALIAÇÃO DE LOTES URBANOS NA CIDADE DE LAJEADO-RS A Banca examinadora abaixo aprova o Trabalho apresentado na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso - Etapa II, na linha de formação específica em Engenharia Civil, do Centro Universitário UNIVATES, como parte da exigência para a obtenção do grau de Bacharel em Engenharia Civil. Prof. Me. João Batista Gravina - orientador Centro Universitário UNIVATES Prof. Me. Ivandro Carlos Rosa Centro Universitário UNIVATES Prof. Me. Antonio Pregeli Neto Centro Universitário UNIVATES Lajeado, julho de 2016 AGRADECIMENTOS Registro meu agradecimento a toda minha família, pela educação a mim dada e pelo apoio incondicional aos estudos. Aos meus amigos Guilherme e Glauber, por sempre estarem ao meu lado nos momentos importantes da minha vida e por não medirem esforços para que o sonho da formação universitária se concretizasse. Gratidão também ao Orientador Prof. Me. João Batista Gravina, pela dedicação na orientação deste trabalho, pelo incentivo e ensinamentos transmitidos. Por fim, a todos os meus amigos, colegas e professores que contribuíram para a realização deste trabalho, meu muito obrigado! RESUMO Para a avaliação de um imóvel é necessário fazer um levantamento do valor de mercado utilizando a comparação de bens com características semelhantes, bem como, seguir as NBR’s atuantes, gerando, assim, um grau de confiança aceitável. O principal objetivo do presente trabalho é identificar se existe valorização dos fatores esquina e pavimentação em três diferentes bairros da zona urbana da cidade de Lajeado-RS. A metodologia contempla uma pesquisa de valores de terrenos transacionados no mercado imobiliário a partir de 2015 com área menor que 500m² e o tratamento desses dados pelo método de inferência estatística. Os resultados desta pesquisa servirão para verificar se os lotes de esquina possuem uma valorização maior em relação aos lotes de meio de quadra e também se os lotes com frente para vias pavimentadas possuem uma valorização às não pavimentadas. Palavras-chave: Avaliação de imóveis. Valorização. Terrenos. Fatores. Esquina. Pavimentação. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Reta 1 (média da população) e Reta 2 (média da amostra)................................. 37 Figura 2 - Gráfico dos resíduos padronizados versus preços ajustados.............................. 44 Figura 3 - Gráfico dos resíduos padronizados (ei*) versus os valores ajustados correspondentes (Yi)............................................................................................................. 46 Figura 4 - Mapa Político de Lajeado/RS............................................................................. 61 Figura 5 - Gráfico da sobrevalorização da pavimentação................................................... 77 Figura 6 - Gráfico do Valor Estimado X Valor Observado da Regressão Linear Múltipla Bairro Carneiros................................................................................................................... 84 Figura 7 - Gráfico do Valor Estimado X Erros da Regressão Linear Múltipla Bairro Carneiros.............................................................................................................................. 84 Figura 8 - Gráfico do Valor Estimado X Valor Observado da Regressão Linear Múltipla Bairro São Bento.................................................................................................................. 88 Figura 9 - Gráfico do Valor Estimado X Erros da Regressão Linear Múltipla Bairro São Bento.................................................................................................................................... 88 Figura 10 - Gráfico do Valor Estimado X Valor Observado da Regressão Linear Múltipla Bairro Universitário............................................................................................... 92 Figura 11 - Gráfico do Valor Estimado X Erros da Regressão Linear Múltipla Bairro Universitário......................................................................................................................... 92 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Fator Esquina IBAPE.......................................................................................... 26 Tabela 2 - Fator Esquina de Valvano.................................................................................... 29 Tabela 3 - Fatores de ponderação especiais......................................................................... 31 Tabela 4 - Critério de acessibilidade do Eng. Agr. O T. Mendes Sobrinho......................... 32 Tabela 5 - Exemplos regressão linear................................................................................... 38 Tabela 6 - Correlações básicas............................................................................................. 39 Tabela 7 - Tabela de Análise de Variâncias (ANOVA)......................................................... 40 Tabela 8 - Tabela ANOVA e a equação para encontrar Fc da Regressão Linear Múltipla... 49 Tabela 9 - Planilha modelo de dados preenchida................................................................. 55 Tabela 10 - Planilha modelo de dados para preenchimento................................................. 56 Tabela 11 - Elementos utilizados do Bairro Carneiros......................................................... 62 Tabela 12 - Elementos utilizados do Bairro São Bento........................................................ 67 Tabela 13 - Elementos utilizados do Bairro Universitário................................................... 71 Tabela 14 - Planilha com Dados, Valor Estimado, Erro e Erro Padronizado para Regressão Linear Múltipla no Bairro Carneiros................................................................. 83 Tabela 15 - Resultados do Tratamento para Regressão Linear Múltipla Bairro Carneiros.............................................................................................................................. 83 Tabela 16 - Planilha com Dados, Valor Estimado, Erro e Erro Padronizado da Regressão Linear Simples para Variável Esquina Bairro Carneiros...................................................... 85 Tabela 17 - Resultados do Tratamento para Regressão Linear Simples Esquina Bairro Carneiros.............................................................................................................................. 85 Tabela 18 - Planilha com Dados, Valor Estimado, Erro e Erro Padronizado da Regressão Linear Simples para Variável Pavimentação Bairro Carneiros............................................ 86 Tabela 19 - Resultados do Tratamento para Regressão Linear Simples Pavimentação Bairro Carneiros................................................................................................................... 86 Tabela 20 - Planilha com Dados, Valor Estimado, Erro e Erro Padronizado para Regressão Linear Múltipla no Bairro São Bento................................................................. 87 Tabela 21 - Resultados do Tratamento para Regressão Linear Múltipla Bairro São Bento.................................................................................................................................... 87 Tabela 22 - Planilha com Dados, Valor Estimado, Erro e Erro Padronizado da Regressão Linear Simples para Variável Esquina Bairro São Bento..................................................... 89 Tabela 23 - Resultados do Tratamento para Regressão Linear Simples Esquina Bairro São Bento............................................................................................................................. 89 Tabela 24 - Planilha com Dados, Valor Estimado, Erro e Erro Padronizado da Regressão Linear Simples para Variável Pavimentação Bairro São Bento........................................... 90 Tabela 25 - Resultados do Tratamento para Regressão Linear Simples Pavimentação Bairro São Bento.................................................................................................................. 90 Tabela 26 - Planilha com Dados, Valor Estimado, Erro e Erro Padronizado para Regressão Linear Múltipla no Bairro Universitário............................................................. 91 Tabela 27 - Resultados do Tratamento para Regressão Linear Múltipla Bairro Universitário......................................................................................................................... 91 Tabela 28 - Planilha com Dados, Valor Estimado, Erro e Erro Padronizado da Regressão Linear Simples para Variável Esquina Bairro Universitário................................................ 93 Tabela 29 - Resultados do Tratamento para Regressão Linear Simples Esquina Bairro Universitário........................................................................................................................ 93 Tabela 30 - Planilha com Dados, Valor Estimado, Erro e Erro Padronizado da Regressão Linear Simples para Variável Pavimentação Bairro Universitário....................................... 94 Tabela 31 - Resultados do Tratamento para Regressão Linear Simples Pavimentação Bairro Universitário............................................................................................................. 94 LISTA DE ABREVIATURAS ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas ANOVA - Análise de Variância CONFEA - Conselho Federal de Engenharia e Agronomia CREA - Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia IBAPE/SP - Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de São Paulo IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INMETRO - Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia MMQ - Método dos Mínimos Quadrados NB - Norma Brasileira NBR - Norma Brasileira RS - Rio Grande do Sul SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................................................... 12 1.1 Objetivo geral............................................................................................................... 13 1.2 Objetivo específico....................................................................................................... 13 1.3 Justificativa.................................................................................................................. 14 1.4 Problema....................................................................................................................... 14 1.5 Hipótese......................................................................................................................... 14 1.6 Delimitação de pesquisa............................................................................................... 15 1.7 Estrutura da monografia............................................................................................. 15 2 REVISÃO DE LITERATURA....................................................................................... 17 2.1 Histórico de avaliação de imóveis............................................................................... 18 2.2 Engenheiro de avaliações............................................................................................. 19 2.3 Terreno.......................................................................................................................... 20 2.4 Métodos de avaliação................................................................................................... 21 2.4.1 Método comparativo direto...................................................................................... 22 2.5 Coleta de dados de mercado........................................................................................ 22 2.6 Vistoria.......................................................................................................................... 23 2.7 Tratamento de dados.................................................................................................... 24 2.8 Tratamento por fatores................................................................................................ 25 2.8.1 Fator esquina........................................................................................................... 25 2.8.2 Fator de Pavimentação............................................................................................. 29 2.9 Tratamento por inferência estatística......................................................................... 32 2.10 Variáveis...................................................................................................................... 33 2.11 Modelos estatísticos.................................................................................................... 34 2.12 Método dos mínimos quadrados............................................................................... 35 2.13 Modelo de regressão linear simples.......................................................................... 36 2.13.1 Linearização............................................................................................................. 37 2.13.2 Coeficiente de correlação........................................................................................ 38 2.13.3 Coeficiente de determinação.................................................................................. 39 2.13.4 Teste de Significância do modelo........................................................................... 39 2.13.5 Desvio-padrão do modelo....................................................................................... 40 2.13.6 Teste de significância do parâmetro b1................................................................. 41 2.13.7 Intervalo de confiança............................................................................................. 41 2.13.8 Grau de precisão...................................................................................................... 41 2.13.9 Campo de arbítrio................................................................................................... 42 2.14 Hipótese....................................................................................................................... 42 2.15 Análise dos resíduos................................................................................................... 43 2.15.1 Homocedasticidade e heterocedasticidsade.......................................................... 43 2.15.2 Normalidade dos resíduos...................................................................................... 43 2.15.3 Autocorrelação........................................................................................................ 44 2.15.4 Outliers..................................................................................................................... 45 2.16 Modelo de regressão linear múltipla........................................................................ 46 2.16.1 Estimação dos parâmetros...................................................................................... 48 2.16.2 Coeficiente de correlação........................................................................................ 48 2.16.3 Colinearidade........................................................................................................... 48 2.16.4 Multicolinearidade.................................................................................................. 49 2.16.5 Teste de significância global do modelo................................................................. 49 2.16.6 Desvio-padrão do modelo....................................................................................... 50 2.16.7 Teste de significância individual de um parâmetro.............................................. 50 2.16.8 Intervalo de confiança............................................................................................. 50 2.16.9 Grau de precisão...................................................................................................... 51 2.16.10 Coeficiente de determinação múltipla................................................................. 51 2.16.11 Campo de arbítrio................................................................................................. 51 2.17 Distribuição lognormal.............................................................................................. 52 3 METODOLOGIA........................................................................................................... 53 3.1 Classificação do estudo................................................................................................ 53 3.2 Planejamento da pesquisa........................................................................................... 54 3.3 Planilha de preenchimento.......................................................................................... 54 3.4 Coleta de dados............................................................................................................. 56 3.5 Tratamento de dados.................................................................................................... 57 3.5.1 Tratamento por inferência estatística...................................................................... 57 3.5.1.1 Análise dos dados.................................................................................................... 58 3.5.1.2 Desenvolvimento de modelo inicial....................................................................... 58 3.5.1.3 Análise dos resultados............................................................................................ 58 3.5.1.4 Estimação................................................................................................................ 59 4 ESTUDO DE CASO........................................................................................................ 60 4.1 Lajeado-RS................................................................................................................... 60 4.2 Bairro Carneiros........................................................................................................... 61 4.2.1 Elementos pesquisados Bairro Carneiros............................................................... 4.2.2 Análise dos resultados Bairro Carneiros................................................................. 4.2.3 Simulado para pavimentação no Bairro Carneiros............................................... 4.3 Bairro São Bento.......................................................................................................... 4.3.1 Elementos pesquisados Bairro São Bento............................................................... 4.3.2 Análise dos resultados Bairro São Bento................................................................. 4.3.3 Simulado para pavimentação no Bairro São Bento............................................... 4.4 Bairro Universitário..................................................................................................... 4.4.1 Elementos pesquisados Bairro Universitário.......................................................... 4.4.2 Análise dos resultados Bairro Universitário........................................................... 4.4.3 Simulado para pavimentação no Bairro Universitário.......................................... 62 63 64 65 66 67 69 70 70 72 74 5 CONCLUSÃO................................................................................................................. 76 REFERÊNCIAS................................................................................................................. 79 ANEXOS............................................................................................................................. 82 ANEXO A – Tratamento dos Dados Bairro Carneiros.................................................. 83 ANEXO B – Tratamento dos Dados Bairro Carneiros.................................................. 85 ANEXO C – Tratamento dos Dados Bairro Carneiros.................................................. 86 ANEXO D – Tratamento dos Dados Bairro São Bento.................................................. 87 ANEXO E – Tratamento dos Dados Bairro São Bento................................................... 89 ANEXO F – Tratamento dos Dados Bairro São Bento................................................... 90 ANEXO G – Tratamento dos Dados Bairro Universitário............................................. 91 ANEXO H – Tratamento dos Dados Bairro Universitário............................................. 93 ANEXO I – Tratamento dos Dados Bairro Universitário.............................................. 94 12 1 INTRODUÇÃO A Engenharia de Avaliações no Brasil está evoluindo graças profissionais de engenharia que não medem esforços no estudo e na pesquisa das diversas técnicas de avaliação de imóveis. Estão sempre procurando a melhor forma de avaliar esse produto único, que se diferencia por diversas características e até mesmo por fatores subjetivos (MATTA, 2007). Além de determinar o valor de um bem, a Engenharia de Avaliações busca respostas para questões como: Quais são as preferências do mercado? Quais são as variáveis que influenciam de maneira significativa na formação do preço? Qual o valor de reprodução de um bem avaliando? Qual o comportamento do mercado? Entre outras informações que permitem aos investidores decidir qual é o melhor investimento do mercado imobiliário (FERMO apud THOFEHRN, 2010). Conforme a NBR 14653-1 (2001), avaliação de bens é uma análise técnica, realizada por profissional habilitado para identificar o valor do imóvel, de seus custos, frutos e diretos, bem como determinar indicadores de viabilidade de sua utilização econômica, conforme sua finalidade, situação e data. O mercado imobiliário é um dos setores mais complexos da economia mundial. Encontram-se inúmeras dificuldades na análise dos bens, vinculadas principalmente a algumas características especiais dos imóveis, que são heterogêneos, ou seja, compostos por um conjunto diversificado de atributos, o que dificulta ou impede a comparação direta das unidades. É nesse setor que atua a Engenharia de Avaliações, com o objetivo básico de obter valores para os imóveis, ou seja, buscar representações e interpretações numéricas para os fenômenos do mercado imobiliário (GONZÁLEZ, 2003). 13 Segundo Abunahman (2000), avaliação é uma aferição de fatores econômicos definidos em relação a propriedades descritas com data determinada, tendo como suporte a análise de dados relevantes. Esta pesquisa consiste em abordar as metodologias avaliativas, normatizadas, de terrenos urbanos, pelo método comparativo direto de dados de mercado, detalhando o método por tratamento científico. Assim, serão utilizadas ferramentas da inferência estatística, encontrando modelos matemáticos que expliquem as variáveis estudadas no mercado imobiliário atual da cidade de Lajeado-RS. Lembrando que, após determinar cada modelo matemático em estudo, serão realizadas as devidas análises para compreender os resultados obtidos, comparando com a literatura consagrada no tema. Portanto, este trabalho visa a fornecer uma contribuição para a área de Engenharia de Avaliações, mais precisamente na avaliação de lotes urbanos em três diferentes bairros da cidade de Lajeado - RS, procurando definir se existe diferença de valorização entre terrenos de esquina e terrenos de meio de quadra, e também se os lotes com frente para ruas pavimentadas possuem um valor maior que os lotes sem essa característica. 1.1 Objetivo geral Identificar se existe e, em caso afirmativo, qual é a diferença de valorização de terrenos de esquina em comparação aos terrenos de meio de quadra e dos lotes com frente para vias pavimentadas em relação às não pavimentadas, a partir de valores transacionados de imóveis em três diferentes bairros da cidade de Lajeado-RS. 1.2 Objetivos específicos a) Verificar se, juntos, os fatores ou as variáveis esquina e pavimentação influenciam na avaliação dos terrenos em diferentes bairros da cidade em estudo, determinando, em caso afirmativo, essa valorização; b) Verificar se o fator ou a variável esquina tem influência na avaliação dos terrenos em diferentes bairros da cidade de Lajeado-RS, determinando, em caso afirmativo, essa valorização; 14 c) Verificar se o fator ou a variável pavimentação tem influência na avaliação dos terrenos em diferentes bairros da cidade de Lajeado-RS, determinando, em caso afirmativo, essa valorização e verificando se é economicamente vantajoso o investimento na pavimentação. 1.3 Justificativa Na intenção de obter um mercado imobiliário atualizado e homogêneo uma das referencias da engenharia de avaliações é a busca de fatores influenciantes que possam auxiliar na determinação da avaliação de valores de imóveis. A literatura especializada na avaliação de terrenos urbanos expõe vários fatores influenciantes, dentre eles encontra-se a valorização de terrenos de esquina em relação aos de meio de quadra e a pavimentação do logradouro. O presente trabalho se justifica pelo fato de verificar se estes fatores se aplicam em bairros da cidade de Lajeado-RS. 1.4 Problema O presente estudo tem como proposta verificar se, no mercado imobiliário atual da cidade de Lajeado-RS, existe relação entre o valor do metro quadrado dos terrenos pesquisados em comparação à característica Esquina ou Meio de Quadra e também à característica de testada para via Pavimentada ou Não Pavimentada. Ao término desta análise comparativa serão respondidas as questões que definem o estudo: Se existe e, em caso afirmativo, qual é a valorização dos terrenos de esquina para os terrenos de frente única (meio de quadra)? Se existe e, em caso afirmativo, qual é a valorização dos terrenos com testada para logradouro pavimentado em comparação aos terrenos para logradouro não pavimentado? 1.5 Hipótese As hipóteses de resultado deste trabalho para a variável esquina são: 15 H0= Não existe valorização dos terrenos devido à localização de esquina em relação aos de meio de quadra. H1= Existe valorização dos terrenos devido à localização de esquina em relação aos de meio de quadra. E as hipóteses para a variável pavimentação são: H0= Não existe valorização dos terrenos localizados de frente para vias pavimentadas. H1= Existe valorização dos terrenos localizados de frente para vias pavimentadas. 1.6 Delimitação de pesquisa A pesquisa consistiu no recolhimento de elementos (imóveis) transacionados de até 500m², de 1° de janeiro de 2015 até 30 de abril de 2016. Posteriormente foi feita a comparação de dados, segundo as delimitações das Normas de avaliações de imóveis, utilizando os fatores esquina e pavimentação e verificando se eles influenciam no valor do imóvel. A delimitação de uma metragem máxima de terrenos (500m²) proporciona uma homogeneidade dos elementos da pesquisa. Restringindo lotes de áreas discrepantes, obtém- se uma base de dados com maior semelhança. Devido à grande agitação do mercado imobiliário, contando ainda com a crise econômica do país e as mudanças constantes no valor da moeda brasileira (Real), os valores dos imóveis podem sofrer modificação conforme a sua época de avaliação. A NBR 14653-1 (2001) determina que as datas de referência sejam aproximadas para aumentar a confiabilidade dos dados de mercado. Assim, foram coletados apenas valores de venda de imóveis a partir do ano de 2015, restringindo o estudo a um período menor e, consequentemente, diminuindo a possibilidade de grandes mudanças do mercado. 1.7 Estrutura da monografia O presente trabalho de Conclusão de Curso possui cinco capítulos em sua estrutura. O capítulo I contém a introdução ao tema deste trabalho indicando o método de avaliação 16 proposto, o objetivo que se quer alcançar com o estudo, as justificativas para a realização, além das hipóteses de resultado e das limitações da presente avaliação. Posteriormente, o capítulo II apresenta a revisão bibliográfica, descrevendo a evolução da avaliação de imóveis e caracterizando o método comparativo de dados de mercado. Caracteriza detalhadamente a técnica de tratamento de dados por tratamento científico, através da inferência estatística, com suas técnicas utilizadas para avaliação e os conceitos da regressão linear simples e múltipla. O referencial contempla ainda a explanação, com definições de vários autores, sobre a valorização usual para terrenos de esquina comparados a terrenos de meio de quadra e a valorização usual para terrenos pavimentados em relação a terrenos não pavimentados. A metodologia do trabalho é descrita no capítulo III, em que é apresentada a forma de desenvolvimento do estudo e da aplicação dos dados coletados pelo tratamento científico, indicando os cálculos e as etapas utilizadas para alcançar o objetivo do trabalho. O quarto capítulo apresenta o estudo de caso com aplicação da metodologia, mostrando os dados utilizados para o estudo e os resultados obtidos. Contempla também a interpretação das respostas deste estudo. O quinto capítulo descreve as considerações finais deste trabalho de conclusão de curso, com comentários sobre o estudo do caso proposto ao longo de toda descrição. E, ao final do trabalho, citam-se as referências bibliográficas utilizadas. 17 2 REVISÃO DE LITERATURA A avaliação de imóveis é o ato de realizar um estudo financeiro para gerar um preço de um imóvel. Para isso é necessário fazer um levantamento do valor de mercado, utilizar como comparação os bens com características semelhantes e, seguindo as NBR’s atuantes, gerar um grau de confiança aceitável. Segundo NBR 5676 (ABNT, 1989), interpreta-se como avaliação de um bem a técnica de análise para determinação do valor de um imóvel ou de seus rendimentos, gravames, frutos e direitos, ou de um investimento imobiliário com uma destinação, em data e lugar especificados. Gonzáles apud Lima (2012) afirma que a avaliação de imóveis consiste na determinação do seu preço de mercado, compreendido como o valor mais confiável aquele que ocorreria numa transação normal, considerando as características e o mercado imobiliário no momento da avaliação. É primordial que o trabalho de avaliação seja o mais exato possível, deixando ambos integrantes da negociação satisfeitos, como adverte a Norma de Avaliação de Imóveis Urbanos IBAPE/SP (2011, p. 04): O comprador atua de acordo com a realidade e expectativa do mercado atual, e não em relação a um mercado hipotético ou imaginário cuja existência não se pode demonstrar ou antecipar. O comprador é, portanto, um agente “do mercado”, que não pagará um preço maior do que o indicado pelo mercado. O vendedor está motivado, mas não compelido a vender o bem nas condições de mercado, pelo melhor preço que lhe possam oferecer, após um marketing adequado. A avaliação de imóveis urbanos, como casas, terrenos, lojas, restaurantes, prédios comerciais, edifícios residenciais e apartamentos, está direcionada ao estudo de mercado de bens situados em áreas urbanas, avaliados conforme sua localização, infraestrutura, tipo de 18 imóvel e público alvo (LIMA, 2012). 2.1 Histórico de avaliação de imóveis No Brasil, a avaliação imobiliária tem os seus primeiros artigos publicados entre os anos de 1918 e 1929, no Boletim do Instituto de Engenharia da Revista Politécnica e da Revista de Engenharia Mackenzie (FIKER, 1985). A partir desse período iniciou-se uma série de estudos na área de Engenharia de Avaliações no país, através de profissionais do ramo que se empenhavam em pesquisas de divulgação de técnicas de avaliação. Segundo o autor citado acima, essas técnicas assimilaram como base as metodologias criadas nos Estados Unidos, possuidores dos mais avançados métodos na época. Mais tarde, já nos anos da década de 1950, entidades públicas e institutos do ramo de Engenharia de Avaliações criam as primeiras normas, fixando as diretrizes para avaliação de imóveis. Seguindo a linha do tempo, em 1957 é datado o primeiro anteprojeto de normas da ABNT. O assunto, porém, passa a ter grande destaque nos anos de 1960, devido ao grande surto de desapropriações no período, e nos anos de 1970, com inúmeros estudos realizados por comissões de profissionais dedicados à perícia e avaliações judiciais (NBR 14653-1, 2001). Segundo a mais recente norma de avaliação de bens, a NBR 14653 de 2001, em 1977 surgiu a primeira norma brasileira para avaliação de imóveis urbanos, a NBR 5676 (NB-502) da ABNT, firmando níveis de precisão para as avaliações. A partir dela também teve início a elaboração de normas novas, com as seguintes tipologias: imóveis rurais; glebas urbanizáveis; unidades padronizadas; máquinas; equipamentos e complexos industriais. Lion (2009, p.18) cita que: Nas publicações após a década de 1960, verificou-se que a maioria dos trabalhos publicados se baseia na utilização de fatores de homogeneização determinístico e fórmulas empíricas, que pouca segurança traduzia aos avaliadores. Visando a determinação de parâmetros e procedimentos, incluindo através de fórmulas que não fossem desenvolvidas unicamente pelo conhecimento empírico, foi emitida a NB 502/77 – Avaliações de Imóveis Urbanos (ABNT, 1977). No ano de 1989 a avaliação imobiliária urbana evoluiu ainda mais, com a revisão da norma brasileira e, posteriormente, o registro no INMETRO como NBR 5676, passando de níveis de precisão a níveis de rigor. Ao mesmo tempo, surgiram normas específicas com maiores detalhes e levando em conta as características de cada região, produzidas por 19 institutos que tomaram como base a NBR 5676 (NBR 14653-1, 2001). Conforme Galvão Neto apud Lion (2009), a padronização e fundamentação das avaliações continuaram na década de 1990, atingindo a última etapa com a publicação da Norma de Avaliação de Imóveis Urbanos (IBAPE/SP, 2005) acompanhada da NBR 14653 (ABNT, 2004a). Ambas respeitavam e complementavam as regras anteriores, levando em conta peculiaridades do mercado da Região Metropolitana de São Paulo, dando um passo a frente na definição de procedimentos, fórmulas e padrões para as avaliações de imóveis. Portanto, após as últimas revisões, estão em vigor as seguintes Normas de Avaliações: NBR 14.653-1 – Procedimentos Gerais (ABNT, 2004); NBR 14.653-2 – Imóveis Urbanos (ABNT, 2004a); NBR 14.653-3 – Imóveis Rurais (ABNT, 2004b); NBR 14.653-4 – Empreendimentos (ABNT, 2004c). 2.2 Engenheiro de avaliações Conforme a NBR 14653-1 (2001), o Engenheiro de Avaliações é o profissional que possui nível superior, habilitação legal, registro no Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA) e capacitação técnico-científica para realizar avaliações. Esse profissional, para exercer a atividade de avaliação, deve obedecer ao disposto nos Códigos de Ética Profissional do CONFEA e do IBAPE/SP, como também seguir rigorosamente os procedimentos descritos nos itens 6.1 a 6.7 da mesma norma citada no parágrafo, que delimitam que o Engenheiro Avaliador deve: a) Permanecer atualizado em relação ao Estado da Arte, e realizar apenas os serviços para os quais seja habilitado e capacitado; b) Manter em confidência todas as informações e resultados adquiridos no estudo; c) Em nenhum momento reproduzir um trabalho sem identificá-lo com a referida citação; d) Renunciar e informar o contratante em caso de conflito de interesses; 20 e) Auxiliar com independência o contratante; f) Evitar a participação em competições que aviltem honorários profissionais; g) Não medir esforços para melhorar o conhecimento e compreensão dos aspectos técnicos e assuntos relativos ao exercício profissional, trabalhando sempre com lealdade e justiça. Para realizar uma avaliação, o engenheiro deve seguir as atividades básicas determinadas na norma NBR 14653-1 (2001), quais sejam: a) Requerer a documentação relativa ao imóvel, para realização da tarefa; b) Estudar os documentos e decidir sobre a possibilidade ou não da realização da avaliação; c) Realizar a vistoria ao bem avaliado, tomando conhecimento de todos os aspectos relevantes à formação do valor; d) Coletar dados de mercado com características comparáveis ao bem avaliado; e) Escolher a metodologia de avaliação apropriada para o caso; f) Tratar os dados conforme a metodologia escolhida; g) Concluir um valor de mercado ao bem, de acordo com a melhor metodologia a ser empregada no caso em estudo. 2.3 Terreno Na Engenharia de Avaliações, o terreno é definido como um espaço de terra que pode gerar renda pela sua correta utilização. A construção residencial é a principal forma de aproveitamento de terrenos urbanos, sendo também muito requisitada para fins comerciais e industriais. Conforme Canteiro (1980), é considerada Gleba urbanizável uma enorme dimensão de terreno que esteja apta a obras de infraestrutura urbana, com características, como localização, aspectos físicos, destinação legal, e um mercado imobiliário que tenha interesse em investir no local. O mesmo autor definiu lote como pedaço de terreno que pode ser utilizado imediatamente com finalidade urbana, possuindo frente para vias particulares ou públicas. Ele ainda definiu como lote industrial o lote localizado em zona com destino industrial, legal e/ou econômica, tendo, portanto a caracterização compatível à finalidade. Lion (2009 p. 20) afirma que: “Perante o ponto de vista jurídico, a definição para um bem imóvel, do artigo 79 do Código Civil, Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002, é: O solo e tudo quanto nele se incorporar natural ou artificialmente”. 21 O assunto deste trabalho delimita-se a imóveis urbanos, mais precisamente a terrenos urbanos. Segundo Fiker (1985), terrenos urbanos são avaliados conforme o valor resultante de seu potencial de construção. Conforme D’Amato (2007), vários são os aspectos que contribuem para a caracterização e diferenciação de um terreno e do mercado que representa. Lembra ainda que cabe ao avaliador diferenciar aspectos que caracterizam um terreno em particular e influenciam em seu valor, lembrando que nenhum imóvel é totalmente igual a outro. Outro ponto importante ressaltado pela autora é o dinamismo do mercado imobiliário, já que representa uma realidade temporal e seus principais agentes são seres humanos, mesmo que ditados por imposições socioculturais e procedimentos legais. 2.4 Métodos de avaliação A decisão pelo método mais aplicável depende principalmente da natureza do bem, da finalidade da avaliação e da disponibilidade de dados de mercado (DANTAS, 2005). Segundo Hipólito apud Lima (2012), os métodos recomendados são baseados em ferramentas analíticas matemáticas e em pesquisas, escutas, verificações do mercado. A análise de mercado consiste normalmente na comparação de dados obtidos para bens semelhantes, com as mesmas características. Existem dois métodos de avaliação previstos na NBR 14653 em relação aos terrenos urbanos. O primeiro é o método comparativo direto, que obtém o valor do terreno por comparação com os valores de outros terrenos similares da região. Mediante a transposição dos parâmetros dessa amostra, devidamente homogeneizados para o terreno avaliando ou pela inferência estatística, cria-se um modelo matemático a partir de variáveis. O outro é o método involutivo ou método residual, ou ainda chamado de método do máximo aproveitamento eficiente, que determina o valor do terreno com a dedução dos valores de uma edificação hipotética suscetível de ser construída nele com aproveitamento suficiente (THOFEHRN, 2008). Segundo a norma, o método mais recomendável para avaliações de terrenos urbanos é o comparativo, porém cabe ao profissional de avaliação analisar os métodos e verificar qual se adapta melhor com o caso em estudo e com a disponibilidade de dados relevantes à pesquisa. 22 2.4.1 Método comparativo direto Conforme descrito acima, o método comparativo direto é o método em que o valor do imóvel é obtido por tratamento técnico, pela comparação de dados de mercado relativos a outros de características similares. Esse método é extremamente benéfico na avaliação de terrenos, em que os elementos podem ser tratados diretamente, tornando-os comparáveis (FIKER, 2008). Segundo González (1997), para permitir a obtenção de resultados com confiabilidade para o valor de um imóvel pelo método comparativo direto de mercado, é necessário que existam dados de transações com imóveis semelhantes. Após ter a amostra de mercado, dois métodos podem ser adotados: a homogeneização de valores, que utiliza pesos arbitrários, baseados na decisão subjetiva do avaliador; e a inferência estatística que possibilita a obtenção de parâmetros de qualificação do trabalho pelo procedimento científico. Nór (2007) destaca que os seguintes fatores influenciam no valor do lote: Fator Forma; Profundidade Equivalente e Frente Projetada; Fator de profundidade; Fator Frente ou de Testada; Fator de Transposição; Fator Frente Múltiplas; Fator Área; Topografia e Consistência dos Terrenos. Fiker (2008) indica ainda os principais atributos que influenciam no valor de um terreno como sendo: Condições de pagamento (à vista ou a prazo); Elasticidade de valor de oferta (fator de fonte); Profundidade equivalente (fator de profundidade); Frente (fator de frente); Frentes múltiplas (fator de esquina); Localização (fator de transposição); Data da oferta ou da transação (fator de atualização). 2.5 Coleta de dados de mercado De acordo com a NBR 14653-1 (2001, p. 03), dado de mercado é o “conjunto de informações coletadas no mercado relacionadas a um determinado bem”. Cada uma dessas informações é nomeada de elemento, como, por exemplo, área, testada, preço. Por fim, a norma também comenta que coleta de dados é a procura no mercado por elementos que sejam compatíveis ao bem avaliado, conforme documentação e vistoria. Outra questão importante para a coleta de dados, segundo a Norma, é evitar a extrapolação dos dados coletados. Para que não ocorra, é necessário que o conjunto de dados 23 coletados esteja dentro de um intervalo de informações comparado ao imóvel avaliando. As características dos imóveis devem ser parecidas, com datas de referência aproximada e a mais aleatória possível, aumentando assim a confiabilidade desses dados de mercado. Segundo Dantas (2005), a etapa de trabalho de campo deve ser considerada uma das fases mais importantes do processo avaliatório. Consiste na investigação realizada pelo engenheiro de avaliações, adquirindo informações e dados do mercado imobiliário, que servirão de base para a futura avaliação. O mesmo autor ainda afirma que, após serem determinadas as informações ideais e as fontes a serem utilizadas para a pesquisa, deve-se avaliar a forma como a questão será proposta, levando em conta que as respostas podem apresentar um grau maior de precisão que outras. Por exemplo, numa informação sobre o preço de transação de um imóvel, possivelmente o vendedor não revele o verdadeiro preço de transação para o interessado na compra de outro, tentando convencer o comprador de que está fazendo um bom negócio, majorando o preço real da venda. 2.6 Vistoria A vistoria é considerada uma atividade fundamental no processo avaliatório, através da qual são observadas características do terreno e da região em que está inserido. São analisados aspectos que influenciam no valor do bem e que permitem definir o melhor uso para o lote avaliando (NÓR, 2007). Dantas (2005, p. 16) define a vistoria de imóvel da seguinte maneira: Para se avaliar é preciso conhecer. Para se conhecer é necessário vistoriar. A vistoria é, portanto, um exame cuidadoso de tudo aquilo que possa interferir no valor de um bem, tanto interna como externamente. No caso de vistorias de terrenos, o laudo avaliatório deve apresentar todas as características que possam influir no aproveitamento e no valor do lote. Nór (2007, p. 299) cita os seguintes itens: - Endereço completo com a respectiva codificação municipal; - Situação (esquina, meio de quadra, duas ou mais frentes, posição em relação à orientação Norte-Sul); - Formato e dimensões do lote; - Cobertura vegetal, nascentes, cursos d’água; - Consistência do solo, suscetibilidade a alagamentos; - Topografia, perfil e nível em relação ao logradouro e aos vizinhos. 24 O autor ainda aconselha subdividir a vistoria em três tópicos. Além da vistoria do imóvel, detalhada acima, é importante a vistoria da microrregião, caracterizando o entorno do imóvel, e a vistoria da região, detalhando, por exemplo, a distância do imóvel até escolas, hospitais, aeroportos e favelas. 2.7 Tratamento de dados Após ter em mãos todos os elementos de base da avaliação, o avaliador se defronta com amostra de imóveis formada por características heterogêneas, necessitando que os dados coletados sejam tratados (DANTAS, 2005). Nór (2007, p. 307) diz que, “Os terrenos pesquisados terão ainda entre si (e com o imóvel que estaremos avaliando) diferentes formatos, localizações, dimensões, etc., que impossibilitam uma comparação direta entre seus preços unitários”. Existem dois tipos de tratamento dos dados pelo método comparativo direto: o tratamento por fatores e o tratamento científico. Dantas (2005, p. 17) determina assim o tratamento por fatores: No tratamento por fatores, as discrepâncias entre os dados de mercado e o bem avaliando devem ser reduzidas através da aplicação de fatores de homogeneização fundamentados e, posteriormente, feita a análise estatística dos resultados homogeneizados. Estes fatores devem ser inferidos no mercado seguindo os mesmos procedimentos utilizados no tratamento científico para o ajustamento de modelos de regressão genéricos, por entidades técnicas regionais reconhecidas, e revisados em período máximo de dois anos, com a especificação da região para a qual são aplicáveis, segundo a NBR-14653-2. Estes modelos devem refletir, em termos relativos, o comportamento do mercado com determinada abrangência espacial e temporal. Alternativamente, podem ser adotados fatores de homogeneização medidos através de estudos de mercado específicos realizados por terceiros, desde que o estudo que lhes deu origem seja anexado ao Laudo de Avaliação. A respeito do tratamento científico, Dantas (2005, p. 17) declara que: No tratamento científico devem ser utilizadas ferramentas da inferência estatística, na busca de modelos explicativos do mercado imobiliário. [...] Tendo em vista que no tratamento científico a estimativa do valor é realizada utilizando-se modelos elaborados especificamente para a avaliação do bem avaliando pela substituição de suas características na equação resultante, pode-se imprimir maior nível de precisão e fundamentação ao trabalho. A utilização generalizada dos fatores de homogeneização pode acarretar numa sensível perda do nível de precisão das avaliações, devido a questões de heterogeneidade espacial e multicolinearidade, principalmente. 25 2.8 Tratamento por fatores De acordo com Nór (2007), a norma determina que no método comparativo deva ser adotado um denominador comum, ou seja, um terreno ideal (chamado paradigma), a partir do qual todos os atributos dos terrenos observados no mercado serão homogeneizados. Após todos os dados terem sido homogeneizados pelo paradigma, consegue-se obter o valor médio de mercado, expresso por metro quadrado de área de terreno. Com esse valor unitário, relativo ao paradigma, tem-se a base para calcular o valor de qualquer terreno da região geoeconômica englobada pela pesquisa de mercado. Portanto, conforme González (1997), os valores dos imóveis tornam-se homogêneos através da seguinte equação: V Hi = V Ui × F1 i× F2 i× …× F ki Nesta relação, os Fj são os fatores de correção do valor a um terreno “padrão de mercado”. Esse processo é realizado para todos os imóveis da amostra, obtendo-se uma média homogeneizada. O próximo passo é a remoção de outliers (valores extremos) e tratamento com média aritmética e desvio-padrão, para, posteriormente à remoção, no caso de ocorrência desses dados, recalcular nova média geral (GONZÁLEZ, 1997). Depois de aplicados os fatores que se mostrem pertinentes à pesquisa na região em estudo, sua homogeneização deverá ser analisada quanto à validade dos fatores adotados e à existência de dados discrepantes (NÓR, 2007). Dispondo da média dos valores unitários, parte-se para o último passo que é realizar o processo inverso, obtendo o valor do imóvel. Avalia-se pela seguinte fórmula: Sobre o Fator Esquina e o Fator Pavimentação existem na bibliografia várias interpretações. 2.8.1 Fator esquina Segundo Nór (2007), tirando casos particulares, como os lotes destinados ao uso residencial horizontal, define-se que os terrenos de esquina valem mais que os lotes de única 26 frente (meio de quadra). É necessário homogeneizar esses lotes para uma única frente, considerada a frente principal, computando-se o coeficiente de esquina ou outras frentes (Ce) de acordo com o mercado ou indicado na Norma regional. Para frente principal do lote deve ser utilizada a testada para via pública de maior valor, ou a testada maior no caso de ruas de igual valor ou, então, a testada que corresponda ao maior valor como lote de uma frente, dando preferência à última condição citada. A norma do IBAPE/SP (2005), conforme mostra a tabela 1, utiliza os fatores conforme a zona de predominância. Tabela 1 - Fator Esquina IBAPE/SP Zona Fator de Ajuste Expoente do Fator Frente 1ª Zona - Residencial Horizontal Popular Não se aplica 2ª Zona - Residencial Horizontal Médio 0,20 3ª Zona - Residencial Horizontal Alto 0,15 4ª Zona - Incorporação Padrão Popular Não se aplica 5ª Zona - Incorporação Padrão Médio Não se aplica 6ª Zona - Incorporação padrão Alto Não se aplica 7ª Zona - Comercial Padrão Popular 0,20 8ª Zona - Comercial Padrão Médio 0,25 9ª Zona - Comercial Padrão Alto 0,15 10ª Zona – Industrial Não se aplica 11ª Zona – Armazéns Não se aplica Fonte: IBAPE/SP (2005). Segundo Thofehrn (2008), apesar de ser um índice discutível, que varia de autor para autor pelo seu valor, os lotes de esquina ou com frentes múltiplas são mais valorizados, modificando seu valor conforme a sua zona, sendo um fator considerado em todas as avaliações. Essa valorização ocorre devido ao princípio de que os terrenos de esquina podem ser subdivididos em dois ou mais lotes, possuindo cada um sua frente. Apesar de existirem diversos métodos e tabelas de cálculo de coeficientes de valorização de terrenos em função do número de esquinas, é apropriado limitar esse índice em 10 % devido a problemas com duplo recuo, poluição sonora, etc. Abunahman (2008) corrobora essa ideia, ao afirmar que os lotes de esquina são, na verdade, uma faca de dois gumes, pois, embora seja generalizada uma valorização para esse tipo terreno, nas zonas eminentemente residenciais, é bastante discutível devido a problemas 27 como duplo recuo e poluição sonora. O autor citado acima detalha a tabela simplista do Banco Hipotecário Nacional Argentino: • + 25% a 30% para zonas comerciais centrais; • + 20% a 25% para zonas comerciais em geral; • + 15% a 20% para zonas residenciais de alto valor; • + 10% para zonas residenciais comuns. Conforme Vegni-neri (1977), deve-se acrescer no preço a seguinte valorização para lotes de esquina: • 1,25 em zona comercial (ZC), com a área máxima equivalente ao quadrado do fundo-padrão; • 1,10 em zona residencial (ZR), com a área máxima equivalente à do fundo- padrão. O autor reitera ainda que o município de São Paulo estabelece 1,50 para zona central, 1,25 em centros semicomerciais além da zona central, ou lotes ocupados por estabelecimentos comerciais - ambos os índices aplicáveis em lotes de até 900m². Delimita também em 1,10 para lotes em zona residencial ou ocupados por edificações residenciais, somente sendo aplicável à área máxima de 300 m². Soler (2000) define os seguintes parâmetros práticos, variáveis conforme o padrão de desenvolvimento da zona onde está situado o terreno, para serem adotados pelo avaliador: Valorização em zona residencial ou de comércio incipiente: • Reduzida – 1,01 a 1,03 – média 1,02; • Média – 1,03 a 1,07 – média de 1,05; • Elevada – 1,07 a 1,10 – média de 1,09. 28 Valorização em zona comercial e/ou incorporação imobiliária: • Reduzida – 1,10 a 1,13 – média 1,12; • Média – 1,13 a 1,17 – média de 1,15; • Elevada – 1,17 a 1,20 – média de 1,19. O Engenheiro Miguel Valvano desenvolveu uma tabela dividindo em 4 zonas a cidade de Buenos Aires, de acordo com o índice de utilização (n) do lote, para determinar a valorização do fator esquina. Para determinar n parte-se da relação entre área do lote e a soma das frentes: Rm = (A/f1); Re = (A/ fn); e N = (Rm/Re) Rm = relação para o lote de meio de quarteirão Re = relação para o lote de esquina O autor organizou a tabela da seguinte forma: • Tabela 1 - zonas centrais da cidade ou capitais; • Tabela 2 - zona residencial média (área de edifícios) e zona de valor comercial; • Tabela 3 – zona familiar ou residencial com edificações geralmente de dois pavimentos; • Tabela 4 - zonas de baixa valorização ou bairros em formação. Como a valorização nesses locais é insignificante ou inexistente, somente poderá ser utilizada caso o avaliador note possibilidades comerciais na esquina ou um motivo de interesse no local. 29 Tabela 2 – Fatores de Esquina de Valvano N TABELA I Ce (%) TABELA II Ce (%) TABELA III Ce (%) TABELA IV Ce (%) 1,00 0,15 0,10 0,05 0,00 1,25 0,17 0,11 0,06 0,01 1,50 0,19 0,12 0,07 0,02 1,75 0,20 0,13 0,07 0,02 2,00 0,22 0,14 0,08 0,03 2,25 0,24 0,15 0,09 0,04 2,50 0,26 0,16 0,10 0,05 2,75 0,27 0,17 0,10 0,05 3,00 0,29 0,18 0,11 0,06 3,25 0,31 0,19 0,12 0,07 3,50 0,33 0,20 0,13 0,08 3,75 0,34 0,21 0,13 0,08 4,00 0,36 0,22 0,14 0,09 4,25 0,38 0,23 0,15 0,10 4,50 0,40 0,24 0,16 0,11 4,75 0,41 0,25 0,16 0,12 5,00 0,43 0,26 0,17 0,13 5,25 0,45 0,27 0,18 0,14 5,50 0,47 0,28 0,19 0,14 5,75 0,48 0,29 0,19 0,14 6,00 0,50 0,30 0,20 0,15 Fonte: Moreira (2001). 2.8.2 Fator de pavimentação Conforme Liporoni (2007), a pavimentação é uma variável dicotômica (ou dummies, ou ainda binárias) que representa a importância da pavimentação de vias na composição do valor unitário de terreno. Segundo Moreira (2001), em casos de pavimentação de logradouros, quando se 30 compara uma venda anterior de um lote em rua pavimentada com outro em rua não pavimentada, é lógico que a operação exige um coeficiente de correção. O autor salienta ainda que quando se executa obra pública em um logradouro os imóveis não se valorizam exclusivamente na medida do custo físico da obra, mas num montante bem superior. O mesmo autor afirma que a valorização é subjetiva, já que num bairro luxuoso, a execução de obras públicas pode trazer uma valorização muito maior que o investimento, porém em bairro modesto, os moradores ficam apreensivos com a execução de serviços públicos, pois ficam temerosos com um aumento de suas despesas e consideram que podem continuar sem a implantação do serviço. O valor de um terreno urbano, conforme Thofehrn (2010) é resultado da sua localização e das suas características físicas. A localização origina os fatores extrínsecos de valorização e esta pode ser: • Natural – provocada pelo aumento populacional; • Artificial – decorrente de obras de urbanização e de saneamento; • Legal – resultante de mudanças no plano diretor. Para a valorização artificial, que é resultante de obras de urbanização e saneamento, pode-se basear o valor com a utilização da tabela do engenheiro João Ruy Canteiro (THOFEHRN, 2010). Conforme Canteiro (1981), na avaliação de terrenos em cidades com população menor que 100.000 habitantes deve ser considerado a necessidade dos valores unitários estabelecidos para toda região sofrerem alterações para mais ou para menos, conforme os melhoramentos existentes no local do imóvel. Portanto o valor unitário sofrerá acréscimo ou decréscimo em relação aos melhoramentos que faltam, calculados conforme os dados constantes na tabela abaixo: 31 Tabela 3 – Fatores de ponderação especiais Melhoramentos % c Redes de água 15% 0,15 Redes de esgoto 10% 0,10 Luz pública 5% 0,05 Luz domiciliar 15% 0,15 Guias de sarjetas 10% 0,10 Pavimentação 30% 0,30 Telefone 5% 0,05 Canalização de gás Arborização 1% 1% 0,01 0,01 Fonte: Canteiro (1981). Thofehrn (2010) comenta ainda que os fatores incidem sobre o preço unitário, porém o fator não é cumulativo, ou seja, recaí somente caso a melhoria ainda não tenha sido executada. Podemos observar pela tabela de Canteiro que o preço unitário do lote-padrão é 1,30 vezes maior que o lote sem pavimentação, representando um acréscimo significativo no valor final do imóvel. Conforme D’amato (2007, p. 105), “Denominamos infraestrutura todo sistema (conjunto de obras ou serviços) implantado em uma região que permite ou facilita o uso e a ocupação do local e de cada imóvel que o compõe seja ele um lote urbano, rural ou industrial”. A autora cita como os mais importantes: pavimentação; redes de distribuição de energia elétrica pública e domiciliar; captação de águas pluviais; captação de águas servidas (esgoto); e distribuição de água potável. Segundo a autora, é obvio que, quanto mais infraestrutura existir, maior será o interesse na aquisição do imóvel. No entanto, os custos de implantação de itens como a pavimentação são elevados e somente podem participar do preço final do terreno caso este preço seja compatível com o poder aquisitivo do mercado imobiliário local. Martins (2007) cita os critérios utilizados pelo Eng. Agr. O T. Mendes Sobrinho na publicação “Avaliação dos Prédios Rústicos para Desapropriação por Utilidade Pública”, apresentados na tabela 4. 32 Tabela 4 – Critério de acessibilidade do Eng. Agr. O T. Mendes Sobrinho Situação Tipo de estrada Escala de valor Ótimo Asfaltada 100% Muito Boa Não asfaltada 95% Boa Não pavimentada 90% Desfavorável Estradas e Servidão de Passagem 80% Má Fechos nas servidões 75% Péssima Fechos e interceptadas por córregos s/ pontes 70% Fonte: Mendes Sobrinho apud Martins (2007). Observa-se que o Eng. Agr. O T. Mendes Sobrinho, em seu Critério de acessibilidade, utiliza uma desvalorização para o tipo de estrada onde se localiza o terreno. Destaca-se a utilização de 100% para lotes asfaltados, 95% para não asfaltados de primeira classe e 90% para lotes não pavimentados. 2.9 Tratamento por inferência estatística A técnica da avaliação por inferência estatística consiste em estudar o comportamento de uma variável, chamada de variável dependente, em relação a outras variáveis responsáveis pela formação do valor do bem, nomeada de variáveis independentes. É resultado dessa análise, uma equação algébrica que fornece o preço pesquisado com determinado grau de confiança (THOFEHRN, 2010). Conforme Dantas (2005), o objetivo da inferência estatística é estimar as características da população a partir do conhecimento das características de uma amostra dela extraída. Descreve ainda que inferir estatisticamente significa tirar conclusões com base em medidas estatísticas. No ramo da Engenharia de Avaliações se procura explicar o comportamento do mercado em análise, com base em alguns dados levantados nele. A inferência estatística é fundamental nesse processo, já que com dados de apenas parte do mercado pode-se concluir sobre o comportamento dele, com determinado grau de confiança. Segundo Thofehrn apud Fiker (2010, p.79), “[...] a inferência estatística exige muita experiência em avaliação de imóveis porque a ausência de variáveis importantes ou a inclusão de variáveis inadequadas pode conduzir a erros gravíssimos”. De acordo com Salgado apud Ribeiro (2011), regressão é a técnica mais utilizada para 33 estudar o comportamento de uma variável dependente em relação a outras variáveis que têm importância na variabilidade observada nos valores dos bens. O autor complementa, afirmando que a regressão linear pode ser definida como a regressão que visa à transformação de uma curva qualquer em uma reta, utilizando artifícios científicos. Já na estatística, conforme Spiegel apud Ribeiro (2011, p. 32), regressão “é estimar uma variável em função de outra”. Dantas (2005) afirma que o modelo clássico de regressão originou-se nos trabalhos de astronomia realizados por Gauss no período de 1809 a 1821. Nos dias de hoje a análise de regressão é um dos ramos da teoria estatística mais utilizados na pesquisa científica. A principal ideia da análise de regressão é verificar a dependência estatística de uma variável, considerada a variável dependente, em relação a uma ou mais variáveis, essas consideradas variáveis explicativas, definindo o valor médio da variável dependente com base nos valores conhecidos das outras variáveis (GUJARATI apud MATTA, 2007). 2.10 Variáveis Conforme Dantas (2005), na Engenharia de Avaliações, o valor praticado no mercado é considerado como variável dependente e, como variáveis independentes, são consideradas as respectivas características físicas (áreas, frente, etc.), locacionais (bairro, logradouro, etc.) e econômicas (oferta ou transação, período) do imóvel. O autor ainda afirma que, para definir a variável dependente, é fundamental uma investigação no mercado para saber se ele está trabalhando com base no preço total ou na medida unitária. As variáveis independentes são as principais características que influenciam na formação de preço de um imóvel, formando assim várias hipóteses de trabalho. Porém, essas variáveis consideradas importantes de início podem se mostrar insignificantes após uma investigação mais profunda do mercado, além de que outras variáveis podem mostrar importância. Thofehrn (2010) aponta que as variáveis independentes são as características decorrentes de atributos, podendo ser de natureza quantitativa, qualitativa ou, ainda, dicotômica. As variáveis quantitativas são medidas em escala numérica, já as variáveis qualitativas são ordenadas de acordo com os atributos inerentes ao bem. As variáveis 34 dicotômicas, também chamadas de dummy, se caracterizam pela existência ou não de determinado atributo e são expressas sob a forma de número ou então na expressão “sim” ou “não”. 2.11 Modelos estatísticos Conforme González (2003, p. 62), “a relação existente entre duas variáveis X e Y pode ser indicada como uma função entre elas, do tipo Y =f (X). Conhecendo a função f, podemos calcular o valor de Y para qualquer valor de X dentro do intervalo de validade desta função”. O autor descreve ainda que, caso a equação adapte-se exatamente às observações para todos os valores no intervalo de interesse (mesmo alinhamento), trata-se de um modelo determinístico ou matemático, em que não há erros de predição, sendo os valores calculados pela equação iguais aos reais. Todavia, os dados reais podem estar sujeitos a muitas influências simultâneas ou compreender parcelas aleatórias, exigindo um modelo muito complexo ou que considere parcelas de erro, não havendo um ajustamento perfeito. Portanto, após os dados coletados, o modelo é alcançado através do processo de análise de regressão e o valor de mercado inferido (estimado) a partir desse modelo. Thofehrn (2010, p. 81) destaca: Geralmente se inicia a análise de regressão pelo traçado do diagrama de dispersão que é um gráfico em que a variável independente (X) é disposta no eixo das abscissas e a variável (Y), no eixo das ordenadas. A linha que mais se ajusta a todos os pontos é chamada curva de regressão e os modelos de regressão ideais são aqueles que apresentam tendência à linearidade. Assim, se num modelo de regressão simples representarmos em um sistema de coordenadas cartesiano todos os pontos “variável independente x preço observado” e a curva de regressão resultante for uma reta, estaremos diante de um modelo de regressão linear simples. Ou então, caso num modelo de regressão múltipla, composto de duas variáveis independentes, representarmos em um sistema de coordenadas formado por três eixos ortogonais (um para a variável dependente e os outros dois para cada variável independente) todos os pontos “variáveis independentes x preço observado” e a superfície de regressão for um plano, estaremos diante de um modelo de regressão linear múltipla. De posse de um conjunto de dados que seja considerado uma boa amostra do mercado em estudo, prossegue-se com a identificação dos modelos teóricos de relacionamento entre as variáveis, seguindo para a estimação dos coeficientes da equação. Os modelos podem conter uma ou várias variáveis explicativas, que são consideradas relevantes na formação do valor, devendo ser empregados modelos de regressão simples ou múltipla, respectivamente. Na sequência, o modelo é submetido a vários testes estatísticos e, caso aprovado, pode ser 35 utilizado para a inferência dos valores de mercado dos imóveis (GONZÁLEZ, 2003). Conforme González (2003), a regressão pode ser desenvolvida por vários métodos de cálculo dos coeficientes das equações. O processo mais conhecido e empregado é o Método dos Mínimos Quadrados (MMQ), mas também podem ser calculados pela Máxima Verossimilhança, por Algoritmos Genéticos, Redes Neurais associadas com Regras Difusas, entre outros. Os modelos estatísticos aceitam a existência de uma parcela de erro. O modelo oferece uma estimativa do valor médio para uma dada situação de interesse, e esta estimativa é entendida como o valor mais provável da variável-resposta. O erro do modelo (resíduo ou desvio) é a diferença entre a observação da realidade (obtida por amostragem) e o valor calculado pelo modelo (inferência ou predição). Neste caso, não existe uma equação única para representar os dados e deve-se buscar a melhor equação, segundo algum critério de escolha. Normalmente adota-se a soma dos quadrados dos resíduos como indicador da precisão do modelo. Este critério é conhecido como Método dos Mínimos Quadrados (MMQ) (GONZÁLES, 2003, p. 64). Segundo Dantas (2005), os métodos para estimação dos parâmetros da regressão mais usualmente aplicados são o Método dos Mínimos Quadrados e o Método da Máxima Verossimilhança. Pelo primeiro método, nenhuma suposição para distribuição do termo aleatório é exigida para estimação pontual dos parâmetros, embora a construção de intervalos de confiança e os testes de hipótese se tornem bastante complicados quando a distribuição é muito diferente da normal; enquanto que pelo segundo método é necessário o conhecimento de uma distribuição para o erro (DANTAS, 2005, p. 127). 2.12 Método dos mínimos quadrados Thofehrn (2010) diz que o Método dos Mínimos Quadrados toma como base duas características importantes. A primeira é que a soma dos desvios em relação à reta de regressão é nula e a segunda, que a soma dos quadrados dos desvios é mínima, sendo assim, nenhuma outra reta proporciona soma dos quadrados de desvios menor que a reta de regressão. Conforme Dantas (2005), pelo Método dos Mínimos Quadrados, a estimação dos parâmetros consiste em achar constantes para a equação de estimativa do valor médio de mercado, de tal maneira que o somatório dos quadrados das distâncias, medidas na vertical, entre cada ponto observado e ajustado pela curva de regressão deva ser mínimo. 36 O autor comenta ainda que o método, apesar de apresentar muitas propriedades desejáveis e facilidade de aplicação, tem como desvantagem o fato de seus estimadores serem mais sensíveis à presença de pontos aberrantes ou outliers. 2.13 Modelo de regressão linear simples “A regressão linear simples visa estabelecer a equação matemática de uma reta que defina o relacionamento entre duas variáveis. Essa reta é chamada reta de regressão e representa a média estimada para os preços pesquisados” (THOFEHRN, 2010, p. 86). González (2003) afirma que, no caso de uma análise do mercado indicar que uma única variável explica bem as flutuações da variável em estudo, pode-se empregar uma regressão simples. Geometricamente, podemos imaginar um plano em que os pontos estão distribuídos de certa forma e se procura uma equação que explique as variações de Y (valor do imóvel) que ocorrem em função das variações de X (área, capacidade de construção, distância em relação a um ponto importante, etc.) com um nível aceitável de erro. Conforme Dantas (2005, p. 95), “o modelo de regressão linear simples, para explicar a variabilidade de todos os m preços praticados no mercado (Yi), através das variações provocadas por uma única variável (Xi)”, é representado pela função linear: ii e+Xβ+β=Y 110 Onde: Yi,...,Ym = chama-se variável dependente, variável explicada ou variável resposta; Xi= é chamada de variável independente, variável explicativa ou ainda covariável; β0 , β1 = São denominadas de parâmetros da população; e i = São os erros aleatórios do modelo. O autor afirma ainda que não é viável o levantamento de todos os dados de mercado de uma população, já que, na prática, se utiliza um subconjunto de n elementos dessa população, conhecido como amostra. Através desta, adotando-se a inferência estatística, estimam-se os parâmetros populacionais. 37 Num gráfico formado por pares de pontos observados no mercado (Xi;Yi), dispostos em eixo cartesiano, onde Yi corresponde aos preços praticados e Xi a uma característica que varia em cada um destes dados, a parte explicada do modelo de regressão linear é representada pela reta que passa mais próxima de todos os pontos, também conhecida como reta de regressão (DANTAS, 2005, p. 97). Figura 1 - Reta 1 (média da população) e Reta 2 (média da amostra) Fonte: Dantas (2005). É importante lembrar que pela reta 1 tem-se uma estimativa do correto comportamento do mercado, que somente seria gerada levando-se em conta toda a população. Na prática, esse comportamento é mostrado na reta 2 da figura 1 (DANTAS, 2005). Conforme Thofehrn (2010), o coeficiente angular ( β1 ) pode ser positivo, quando a relação entre as variáveis for direta, ou negativo, quando a relação for inversa, ou ainda, nulo, quando as variáveis não estão relacionadas. 2.13.1 Linearização O processo de regressão linear simples se aplica para ajustar retas aos pontos observados no mercado. Desta forma, a reta somente terá significação para explicar o fenômeno se a tendência dos pontos for linear. Em geral, na prática, nem sempre se observa este tipo de tendência. Contudo, alguns modelos não lineares podem ser linearizados pela simples transformação das escalas de medição das variáveis (DANTAS, 2005, p. 101). Conforme Salgado apud Ribeiro (2011), é possível linearizar uma série de curvas usando transformações, como, por exemplo, a curva potencial: y= b . xa 38 A transformação para o modelo linear se consegue através: ln y= ln b+a . ln x O autor ainda representa na tabela 5 outros exemplos de transformações: Tabela 5 - Exemplos de regressão linear X Y y= A+Bx X 1/y 1/ y= A+Bx X ln y ln y= A+Bx 1/X Y y= A+B /x 1/X 1/y 1/ y= A+B/ x 1/X ln y ln y= A+B /x ln x Y y= A+B ln x ln x 1/y 1/ y= A+B ln x ln x ln y ln y= A+B ln x Fonte: Salgado apud Ribeiro (2011). Para Dantas (2005), na utilização de uma transformação, deve-se levar em conta que não se trata de um mero exercício de matemática, pois é de suma importância saber o que representa a mudança de escala proposta, caso ela esteja coerente para explicar o mercado. É um erro considerar como um simples processo de tentativas, no sentido de buscar melhores resultados estatísticos, sendo muito relevante que o modelo resultante expresse com fidelidade o fenômeno que se quer explicar. É importante verificar se está coerente com as crenças a priori que o avaliador detém sobre o mercado. Com as suas teorias sobre ele. 2.13.2 Coeficiente de correlação O coeficiente de correlação determina o grau de relacionamento entre duas variáveis. Falando-se de regressão linear simples, o coeficiente de correlação (r) exibe o grau de relacionamento entre a variável independente (Xi) e a variável dependente (Yi), isto é, a dispersão dos pontos em torno da reta de regressão. Os valores ficam no intervalo de -1 a +1, sendo que, quanto mais próximo de |1|, maior será a dependência linear entre as duas variáveis (THOFEHRN, 2010). 39 O valor é dado pela equação: Na tabela 6, a seguir, as correlações básicas, conforme Pereira apud Dantas (2005): Tabela 6 - Correlações básicas Coeficiente Correlação |r|=0 Nula 0<|r|≤0,30 Fraca 0,30<|r|≤0,70 Média 0,70<|r|≤0,90 Forte 0,90<|r|≤0,99 Fortíssima |r|≤1 Perfeita Fonte: Pereira apud Dantas (2005). 2.13.3 Coeficiente de determinação Segundo Dantas (2005), o resultado do coeficiente de determinação se obtém através do quadrado do coeficiente de correlação, e indica o poder de explicação do modelo, em função de variáveis independentes consideradas. R= r 2 Caso R = 1, todos os pontos observados se situam na reta de regressão, o que mostra que o ajuste entre as variáveis é perfeito. Já quando R = 0, as variações da variável dependente são exclusivamente aleatórias (THOFEHRN, 2010). 2.13.4 Teste de significância do modelo Conforme Thofehrn (2010, p. 93), “o teste de significância do modelo é outra maneira de testar se a variável independente é ou não importante na formação dos preços”. A verificação é realizada pela análise de variâncias, sendo que a situação ideal acontece quando a variância explicada é grande e a não explicada, pequena. Portanto, para testar a significância do modelo, investiga-se o quociente (Fc) das duas variâncias. 40 Para essa fórmula utiliza-se a Tabela de Análise de Variâncias (ANOVA), conforme tabela 7. Tabela 7 - Tabela de Análise de Variâncias (ANOVA) Variação Soma dos Quadrados Graus de Lib. Variância Explicada (mod) 1 Não explic. (erro) n-2 Total n-1 Fonte: Thofehrn (2010). Ainda conforme o autor supracitado, o teste de significância do modelo é realizado comparando o Fc calculado com o F(a;1;n-2) que se encontra na distribuição tabelada por Fischer, em que determinam o ponto crítico para os níveis α= 5% e α= 1%. Com o objetivo de o modelo ser considerado apto, devemos ter: Fcalculado>Fcrítico Caso o resultado seja diferente, o modelo em análise não é significante ao nível considerado. Para enquadramento do modelo na NBR 14653-2, os níveis de significâncias exigidos são 1% para o grau III, 5% para o grau II e 10% para o grau I (THOFEHRN, 2010). 2.13.5 Desvio-padrão do modelo Segundo Thofehrn (2010, p.99), “o desvio-padrão de uma equação de regressão simples com n dados Yi, ajustados por uma equação de média Yc, é dado pela equação”: O mesmo autor diz ainda que, nos dois modelos em análise, deve ser escolhido o 41 modelo de menor variância, já que este fornecerá estimativas mais precisas. 2.13.6 Teste de significância do parâmetro b1 O objetivo do teste de significância b1 é verificar se a variável independente X é ou não importante na composição do modelo a certo nível considerado. É realizada uma comparação com o auxílio da distribuição t de Student (para regressão simples: n-2) que fornece o valor crítico em relação ao nível de significância (α) exigido e o número de graus de liberdade do modelo (THOFEHRN, 2010). Após encontrar na tabela o t(1-α/2;n-2), para o nível α e n-2 graus de liberdade, calcula-se o t pela equação: onde Thofehrn (2010) explica que, caso tc> t(1-α/2;n-2) , a variável X é considerada importante para explicar o modelo. Para enquadramento do modelo na NBR 14653-2, os níveis de significância exigidos são 10% para o grau III, 20% para o grau II e 30% para o grau I. 2.13.7 Intervalo de confiança Conforme Dantas (2005), o intervalo de confiança a um nível de (1 - α) em torno de um ponto (X0; Y0) sobre uma reta de regressão linear simples é calculado pela expressão: Thofehrn (2010, p. 103) afirma que “as estimativas mais precisas sempre ocorrem para avaliações próximas da média aritmética dos dados amostrais”. 2.13.8 Grau de precisão O item 9.1 da NBR 14653-2 diz que: “quanto ao grau de precisão, este depende exclusivamente das características do mercado e da amostra coletada”. 42 Para descobrir o grau de precisão, a norma considera a amplitude do intervalo de confiança de 80% (I0,80) em torno do valor central da estimativa, conforme equação abaixo (THOFEHRN, 2010): Sendo que os critérios adotados são: - Para G.P ≤ 0,30 (30%) → grau III; - Para G.P ≤ 0,50 (50%) → grau II; - Para G.P > 0,50 (50%) → grau I. 2.13.9 Campo de arbítrio Conforme item A.5 do Anexo A da NBR 14653-2 (2004), o campo de arbítrio para modelos de regressão linear corresponde à semiamplitude de 15% em torno da estimativa pontual adotada. Caso o valor adotado não se enquadre nesses limites, o avaliador deverá justificar sua escolha. 2.14 Hipótese Nos testes de hipóteses, segundo Levin (1987), existem dois resultados contraditórios em consideração. O objetivo é definir, com base nas informações da amostra, qual das duas hipóteses está correta. No teste de hipóteses estatísticas, o problema será formulado de modo que uma das alegações seja inicialmente favorecida. Tal alegação não será rejeitada em favor da alegação alternativa, a menos que a evidência da amostra contradiga e forneça forte apoio à afirmação alternativa. Conforme Devore (2006), a hipótese nula será rejeitada em favor da hipótese alternativa somente se a evidência da amostra sugerir que H0 seja falsa. Se a amostra não contradiz fortemente H0, continua-se a acreditar na verdade da hipótese nula. As duas conclusões possíveis de uma análise do teste de hipóteses são, então, rejeitar H0 ou não rejeitar H0. 43 No caso deste estudo, as hipóteses de H0 e H1, por exemplo, foram mostradas no item 1.5 deste trabalho. 2.15 Análise dos resíduos Segundo Thofehrn (2010, p. 106), “a análise dos resíduos é uma das melhores maneiras para estimar a quantidade de um modelo de regressão. Pode-se dizer que um modelo é bom quando produz erros pequenos, positivos e negativos, dispostos de forma aleatória e com média nula”. Portanto, para a análise dos resíduos são utilizadas as hipóteses H0 e H1, onde o modelo deve ou não se enquadrar nos parâmetros estabelecidos. 2.15.1 Homocedasticidade e heterocedasticidade A análise da homocedasticidade e da heterocedasticidade pode ser analisada pela disposição dos erros em um gráfico, conforme Thofehrn (2010). A verificação é realizada por meio do gráfico dos resíduos (e) x valores ajustados pelo modelo (Yc), conforme a interpretação dos seguintes itens: a) Caso os pontos estiverem distribuídos aleatoriamente em torno de uma reta horizontal tomada como referência, diz-se que os erros têm variância constante e que o modelo é homocedástico; b) Caso os pontos apresentarem uma distribuição ordenada, indicando alguma tendência definida em torno da reta de referência, diz-se que há ausência de variância constante e que o modelo é heterocedástico. Nesse caso, a equação de regressão pode ser inadequada. 2.15.2 Normalidade dos resíduos Além de homocedasticidade, é necessário que os erros estejam distribuídos dentro de um intervalo de confiança denominado por “distribuição normal” ou “distribuição de Gauss”. Este teste é realizado com o auxílio do gráfico resíduos padronizados (e*) x valores ajustados (Yc) (THOFEHRN, 2010). 44 O autor completa, considerando que os resíduos padronizados são determinados a partir da divisão de cada resíduo (e) pelo desvio padrão do modelo (Se): Já Y é definido pela equação: Um gráfico que demonstre distribuição percentual próxima dos dados do gráfico dos resíduos padronizados versus preços ajustados (figura 2) indica normalidade dos resíduos (THOFEHRN, 2010). Figura 2 - Gráfico dos resíduos padronizados versus preços ajustados Fonte: Thofehrn (2010). 2.15.3 Autocorrelação Thofehrn (2010, p.111) explica a autocorrelação da seguinte maneira: A autocorrelação é uma perturbação aleatória dos erros manifestada pela interdependência dos resíduos entre si. É comum ocorrer essa anomalia quando são cometidos erros no modelo ou pela não inclusão de variáveis importantes na formação dos preços. A eficiência dessa análise só pode ser examinada se o número de dados amostrais for superior a 15. A existência ou não de autocorrelação é verificada com o auxílio da estatística de Durbin-Watson, também conhecida como 45 razão de Von Neumann. d= ∑ (ei− e i− 1) 2 ∑ e i 2 d = Razão de Von Neumann; ei = Iésimo desvio da regressão ajustada para Yc; ei-1 = Desvio anterior ao ei. Segundo Thofehrn (2010), após ter conhecido o d, compara-se com os valores críticos dl e du da tabela apropriada de Durbin-Watson, em relação ao número de variáveis independente (X) e do número de dados da amostra. Caso du< d < (4 – du), os resíduos não têm autocorrelação ao nível de significância desejado, considerando o modelo apto; caso dl> d > (4 – dl), pode ter autocorrelação dos resíduos no modelo. 2.15.4 Outliers Na definição de Thofehrn (2010, p. 113), “outliers são pontos atípicos dos resíduos. Esses desvios devem ser analisados com cuidado porque podem ter origem em erros de medida ou por alguma mudança no comportamento da amostra”. Conforme Dantas (2005), considera-se outlier um dado que contém grande resíduo em comparação aos demais dados da amostra. Estes pontos são facilmente detectados através da análise do gráfico dos resíduos padronizados (ei*) versus os valores ajustados correspondentes (Yi), como mostra a figura 3: 46 Figura 3 - Gráfico dos resíduos padronizados (ei*) versus os valores ajustados correspondentes (Yi) Fonte: Dantas (2005). Não existindo erro na leitura, no registro ou no cálculo, recomenda-se fazer outro ajustamento com a exclusão do(s) ponto(s) discrepante(s), conquistando-se informações sobre a influência desse(s) ponto(s) pelo novo coeficiente de determinação (THOFEHRN, 2010). 2.16 Modelo de regressão linear múltipla Dantas (2005, p. 125) define que: O modelo de regressão linear múltipla deve ser adotado quando mais de uma variável independente é necessária para explicar a variabilidade dos preços praticados no mercado. Em engenharia de avaliações geralmente trabalha-se com modelos de regressão múltipla, tendo em vista a multiplicidade de fatores que interferem nos preços de um bem. [...] Quando o modelo é composto por duas variáveis independentes, os pontos estão dispostos no espaço formado por três eixos cartesianos, um para variável dependente e um para cada variável independente. Conforme Speigel apud Ribeiro (2011), “o Modelo de Regressão Múltipla é semelhante à regressão Linear Simples, porém ao invés de uma variável independente, ter-se- á duas ou mais”. Em regressão linear múltipla, além das considerações descritas para regressão linear simples, não pode existir nenhuma relação linear exata entre quaisquer variáveis independentes (RIBEIRO, 2011). Conforme Thofehrn (2010), a equação que representa o modelo genérico de uma regressão múltipla representativa de uma amostra de dados de mercado com k variáveis 47 independentes é: Y= b0+b1 . X1+b2. X2+b3 . X3+…+bk .X k+e Y = Variável dependente (preço unitário em avaliação de imóveis); X1...Xk= Variáveis independentes (características dos imóveis e da região); b0 = Intercepto (constante da equação); b1...bk = Coeficientes parciais da regressão (preços hedônicos implícitos); e = Erro total da regressão (desvio da estimativa). Segundo Gujarati apud Matta (2007, p. 13): [...] o parâmetro b0 é conhecido como a interseção do plano ou coeficiente linear. Os outros parâmetros são conhecidos como coeficientes parciais de regressão, porque (no caso de duas variáveis independentes) b1 mede a variação esperada em Y por unidade de variação em X1, quando X2 for constante, e b2 mede a variação esperada em Y por unidade de variação em X2, quando X1 for constante. Já o termo (e) é o erro estocástico ou perturbação estocástica, que representa o desvio de um Ui individual em torno do seu valor esperado, assim e = Yi – E (Y/Xi) (GUJARATI apud MATTA, 2007). Thofehrn (2010) descreve que, para um modelo de regressão múltipla ser considerado apto, deve atender a inúmeros pressupostos básicos (do mesmo modo como a regressão simples), com o objetivo de fornecer avaliações não-tendenciosas, eficientes e consistentes. Thofehrn (2010, p. 115) destaca: a) As variáveis independentes são números reais e não podem ser aleatórias. b) O número de dados da amostra deve ser superior ao número de variáveis independentes. A NBR14653-2, no Anexo A, estabelece, entre outros, que o número de dados (n) em relação ao número de variáveis independentes (k) deve respeitar a relação n≥ 3 (k + 1). c) Não deve existir colinearidade perfeita entre quaisquer variáveis independentes. d) Todas as variáveis importantes devem estar incluídas no modelo e nenhuma variável irrelevante deve ser considerada. e) Os erros são variáveis aleatórias com média nula e variância constante. f) Os erros são variáveis aleatórias com distribuição normal. g) Não devem existir observações atípicas (outliers). 48 2.16.1 Estimação dos parâmetros Como na regressão linear simples, existem vários métodos para estimação dos parâmetros. O mais difundido, de fácil aplicação e normalmente utilizado é o Método dos Mínimos Quadrados, tendo como objetivo encontrar as constantes b0...bk para o modelo (THOFEHRN, 2010). Pela teoria dos mínimos, obtém-se a seguinte equação: Segundo Pelli apud MATTA (2007, p. 14), "a reta de regressão que minimiza este somatório é aquela em que as derivadas parciais deste somatório, em relação aos coeficientes b1, são nulas”. 2.16.2 Coeficiente de correlação O coeficiente de correlação representa a força das relações entre as variáveis independentes e a variável dependente, representado pela letra “r” (RADEGAZ, 2011). Mendonça et al. (1998) afirmam que o coeficiente de correlação é um parâmetro que permite concluir se o ajuste de um modelo é melhor que o outro, porém não é determinante no estudo, já que não possibilita conclusões definitivas sobre o modelo em vigor. O dimensionamento segue os mesmos critérios do item 3.13.2 da regressão linear simples. 2.16.3 Colinearidade Thofehrn (2010, p. 121) destaca: Nas regressões lineares múltiplas além do coeficiente de correlação acima, é muito importante verificar, também, o coeficiente de correlação entre as variáveis independentes, que podem apresentar a chamada colinearidade. A colinearidade é a existência de dependência linear entre duas ou mais variáveis independentes do modelo. [...] A colinearidade entre duas variáveis independentes Xi e Xp é encontrada pela expressão: 49 Quando r(ip)>|0,50|, o avaliador deve tomar cuidados pois há indícios de dependência linear entre duas variáveis independentes, gerando restrições à utilização do modelo (THOFERHN, 2010). 2.16.4 Multicolinearidade Conforme Zancan apud Thoferhn (2010), a multicolinearidade acontece quando mais de duas ou todas as variáveis independentes se correlacionam, tornando difícil isolar suas influências separadas. Para se analisar a presença de colinearidade no modelo, pode-se observar o determinante da matriz-modelo, ou seja, sendo próximo de zero é um indicador de alto grau de multicolinearidade no modelo (DANTAS, 2005). 2.16.5 Teste de significância global do modelo Thoferhn (2010, p. 125) explica como realizar o teste de significância global do modelo: A verificação é realizada pela análise de variâncias e a rotina é semelhante ao teste de significância para modelos de regressão linear simples. [...] Lança-se mão da tabela de ANOVA (apresentada no item 3.13.4), onde apenas altera-se o número de graus de liberdade para a variação explicada e para a variação não explicada. A nova tabela ANOVA e a equação para encontrar Fc são as seguintes: Tabela 8 - Tabela ANOVA e a equação para encontrar Fc da Regressão Linear Múltipla Soma dos Quadrados Graus de Lib. Variância Explicada (mod) k Não explic. (erro) n-k-1 Total n-1 Fonte: Thofehrn (2010). 50 2.16.6 Desvio-padrão do modelo Conforme Thofehrn (2010, p. 29), “o desvio-padrão de um modelo de regressão linear múltipla de preço médio unitário Yc, com p parâmetros e n dados de mercado de preços unitários Yi, é dado pela expressão:” 2.16.7 Teste de significância individual de um parâmetro Segundo Thofehrn (2010, p.130), “o objetivo do teste individual de um parâmetro qualquer bj é verificar se a variância correspondente Xj é ou não importante na composição do modelo”. O teste de um parâmetro qualquer bj é realizado da mesma forma como o teste de significância do parâmetro b1 da regressão linear simples (item 3.14.6), porém a expressão aqui usada para determinar t será: 2.16.8 Intervalo de confiança Conforme Thofehrn (2010), o intervalo de confiança, em regressões múltiplas, a um nível de (1- α) em torno de um valor (Y0) definido por uma equação de regressão múltipla, já substituindo S(Y0) pela sua equação, é calculada por: 51 Onde, segundo Thofehrn (2010, p. 133-134): Y0= Valor médio de mercado estimado pela equação de regressão. t1-α/2;(n-k-1) = Ponto crítico encontrado na tabela Distribuição t de Student, para o nível de confiança de (1 - α) e (n-k-1) graus de liberdade. C’(X’X)-1= Matriz correspondente às características das variáveis independentes, com a primeira coluna de 1’s (correspondente à constante do modelo). C= Vetor correspondente às características do avaliando, com 1 na frente (correspondente à constante). 2.16.9 Grau de precisão O grau de precisão deve ser dimensionado conforme o estabelecido no item 3.13.8. 2.16.10 Coeficiente de determinação múltipla Segundo Thofehrn (2010), de modo semelhante ao coeficiente de determinação de regressões lineares simples, o coeficiente de determinação múltipla indica o poder de explicação do modelo. O valor é determinado pela divisão da variação explicada do modelo pela variação total, conforme segue abaixo: O autor escreve ainda que a NBR 14653 recomenda também o cálculo do coeficiente de determinação ajustado que, para k variáveis independentes e n dados de mercado, é representado por: Ressalta também que, caso R e Ŕ não forem parecidos, é indicação de que foi usado um número excessivo de variáveis explicativas, mas que não contribuem de modo significativo no modelo. 2.16.11 Campo de arbítrio O campo de arbítrio para Regressão Linear Múltipla segue a mesma regra que para Regressão Linear Simples (Item 3.14.9). 52 2.17 Distribuição lognormal Segundo Thofehrn (2010, p.138-139), a distribuição lognormal acontece da seguinte maneira: [...] ocorre quando os logaritmos dos preços pesquisados apresentam características mais próximas da distribuição normal do que na escala original. Assim, quando dados de uma amostra apresentarem indícios favoráveis a uma distribuição normal em escala logarítmica, pode-se concluir que a população de onde foi colhida essa amostra possui distribuição lognormal. Nesse caso, as variáveis que tiverem distribuição normal na escala logarítmica devem ser convertidas para logaritmos. [...] Para uma amostra convertida para escala logarítmica, com desvio-padrão S, os preços unitários são convertidos para a escala original pelas expressões a seguir: Pu× 1 = Preço unitário mediano Pu× e1/ 2(S2) = Preço unitário médio Pu× e− (S2 ) = Preço unitário modal 53 3 METODOLOGIA As pesquisas bibliográficas sobre avaliações de imóveis proporcionam embasamento teórico fundamental para a descrição das atividades e aplicação dos procedimentos avaliatórios, e para a obtenção do resultado mais correto possível para o caso em estudo. Já a metodologia, em um projeto de pesquisa, identifica o modelo linear com que serão investigadas e exploradas as informações desejadas (CHEMIN, 2015). Este capítulo refere-se aos métodos usados para chegar ao objetivo do estudo. O estudo foi realizado pelo método comparativo direto de dados do mercado, mais precisamente pelo tratamento científico, em que se utiliza a inferência estatística. Buscou averiguar se, no atual momento do mercado imobiliário da cidade de Lajeado-RS, existe valorização dos terrenos de esquina em relação aos lotes de meio de quadra e também dos terrenos com frente para logradouro pavimentado em relação aos terrenos com frente para logradouros não pavimentados, em três diferentes bairros da zona urbana da cidade em estudo. 3.1 Classificação do estudo Segundo Araújo et. al. (2008), um estudo de caso é uma abordagem metodológica adequada para entender, explorar ou descrever acontecimentos e contextos complexos, nos quais estão envolvidos diversos fatores. Neste estudo de caso foram coletados dados e foi realizada visita técnica aos lotes e à região onde estão situados os elementos que fizeram parte deste trabalho. Nesta etapa também foi realizada a pesquisa das características dos imóveis, entre as quais os custos de suas comercializações, características físicas e infraestrutura da região de entorno. Posteriormente, os dados foram tratados através do método comparativo direto de avaliações de imóveis 54 propostos pela Norma, chegando ao resultado do estudo em questão. Vale ressaltar que neste estudo de caso os nomes dos corretores e das empresas imobiliárias que estes representam foram mantidos em sigilo, porém não acarretando empecilhos para a demonstração do estudo. 3.2 Planejamento da pesquisa A proposta deste trabalho consistiu em verificar se existe uma valorização pela variável esquina e pela variável pavimentação, a partir da pesquisa e tratamento científico de elementos (terrenos) em três diferentes bairros da cidade de Lajeado-RS, de até 500 metros quadrados, transacionados entre o período de 1° de janeiro de 2015 a 30 de abril de 2016, com seu valor de venda e demais características relevantes ao estudo. A comparação restringiu-se às características de cada imóvel, cabendo na vistoria verificar e descrever todos os dados que influenciam no valor final da avaliação. Os dados foram coletados através de corretores de imóveis que, após o contato formal do autor, se dispuseram a buscar os elementos no arquivo de suas transações e cedê-los para o estudo. Os dados pesquisados foram reavaliados, verificando se as características estavam de acordo com as delimitações do trabalho, sendo selecionados para o tratamento somente aqueles que se enquadraram na pesquisa. 3.3 Planilha de preenchimento Para a coleta de dados foi utilizada uma planilha de dados para preenchimento dos corretores de imóveis (Tabela 10). Essa planilha foi apresentada a cada um deles no modelo para preenchimento, juntamente com a planilha exemplo (Tabela 9) na qual os dados já estavam preenchidos. Nesse momento também foi apresentada a proposta e o objetivo do trabalho, sendo deixado claro para quem forneceria as informações, o modo como seria realizado o estudo. 55 Tabela 9 - Planilha modelo de dados preenchida Elemento n° 1 Local Rua Gabriela (entre os números 231 e 253) - Vila Harmonia. Setor: 38 - Quadra: 30 - Índice Fiscal: 168,90 - Zona Municipal: Z. M/01 - 2a Zona Normas Ibape/SP. Melhoramentos Pavimentação, Guias e sarjetas; rede de água encanada, águas pluviais e de esgoto; iluminação pública, energia elétrica domiciliar, telefone e rede de TV a cabo; serviços de coleta de lixo e de correios. Situação Meio de quadra - uma frente Área 450,00 m² Frente 16,00 m Preço 180000 à vista Fonte Imobiliária Denver - Sr. Marcelo - Rua Bárbara, n°10 - Tel.: 51089000. Origem Jornal "O Estado de São Paulo", edição de 22/08/06 - Caderno de Imóveis - Página 17. Data 22/08/2006 Observações Terreno vago - perfil plano - solo seco - em nível com a rua. Fonte: Nór (2007). 56 Tabela 10 - Planilha modelo de dados para preenchimento Elemento n° Local Melhoramentos Situação Área Frente Preço Fonte Origem Data Observações Fonte: Do autor (2015). 3.4 Coleta de dados Foram pesquisados terrenos transacionados entre o período de 1° de janeiro de 2015 a 30 de abril de 2016, em três diferentes bairros da cidade de Lajeado-RS, com metragem máxima de 500 m², que se assemelham quanto ao tipo de ocupação e uso. Dessa forma,