CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE PEDAGOGIA - PARFOR BRINQUEDOTECA: ESPAÇO DE APRENDIZAGEM E DIVERSÃO PARA E COM CRIANÇAS DE 5 A 6 ANOS DE IDADE Ivana Schneider Kremer Lajeado, junho de 2015 Ivana Schneider Kremer BRINQUEDOTECA: ESPAÇO DE APRENDIZAGEM E DIVERSÃO PARA E COM CRIANÇAS DE 5 A 6 ANOS DE IDADE. Monografia apresentada na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso II, do Curso de Pedagogia – PARFOR, do Centro Universitário – UNIVATES, como exigência parcial para a obtenção do título de Licenciatura em Pedagogia. Orientadora: Prof. Elisete Mallmann Lajeado, junho de 2015 Quando brinca a criança nutre sua vida interior, descobre sua vocação e busca um sentido para a sua vida (CUNHA, 2011, p. 11) AGRADECIMENTOS Quero dedicar este Trabalho de Conclusão de Curso, da minha primeira formação de Curso Superior, a todos que me ajudaram apoiando-me, compreendendo-me em minhas dificuldades, angústias, aflições e ausências. Aos meus pais, irmãs, filhos e marido por todo o apoio que me deram durante esta caminhada que se estendeu por quatro anos e meio, pois foram praticamente todos os sábados em que necessitavam se organizar sozinhos, uma vez que eu me ausentava para ir estudar. Aos meus amigos, principalmente aos que deixei um pouco de lado, recusando passeios e visitas, o meu muito obrigado pela compreensão. Às minhas colegas de faculdade, que se tornaram amigas ao longo desta caminhada na graduação. Foram parceiras de caronas e “confidentes” em alguns momentos, pois o convívio já se iniciava nas quintas de noite e se estendia até sábados à tardinha e claro, não se esquecendo das semanas de intensivo no mês de janeiro, que foram cruéis, mas maravilhosos. Algumas dessas amizades permanecerão pelo resto da vida. Também não poderia esquecer o incentivo de minhas colegas de trabalho, as quais me apoiaram e ajudaram muito ao perceberem minha aflição para tornar possível esta pesquisa. À professora Elisete Malmann, que me ajudou muito nesta pesquisa, dando dicas e ajeitando alguns “errinhos”, sugerindo outras ideias. O meu muito obrigado pela paciência e dedicação para ajudar nesta nova etapa que se inicia em minha vida. Um agradecimento especial aos alunos da Turma do Jardim B, participantes da minha pesquisa, pois se dispuseram a realizar as atividades propostas, sendo de extrema importância para a concretização da pesquisa. Também agradeço à direção e Associação de Pais da Escola Municipal de Educação Infantil Criança Esperança que sempre estiveram de portas abertas para que eu pudesse realizar minha pesquisa. E, aos demais professores da graduação, que me auxiliaram na busca de novos conhecimentos e novas aprendizagens. Em especial, à professora e coordenadora de Curso Tânia Miorando, que sempre estava disposta a ajudar, dando apoio e força para continuar a nossa trajetória. Enfim, a todos que me apoiaram durante toda a graduação, o meu muito obrigado. RESUMO O presente trabalho relata a pesquisa desenvolvida em uma brinquedoteca de uma Escola de Educação Infantil do Município de Travesseiro – RS, centrada em investigar as contribuições deste espaço Lúdico nas aprendizagens das crianças da faixa etária de 5 à 6 anos de idade, deste contexto educativo. A pesquisa foi desenvolvida com dezoito crianças, do jardim “B”, no período de março e abril de 2015. Sendo desenvolvidos sete encontros, os quais respeitaram os interesses e as necessidades do grupo de crianças investigadas. A metodologia da pesquisa se fundamentou na abordagem qualitativa, aproximando–se da pesquisa intervenção, na medida em que, pesquisados e pesquisadora interagiram ativamente, participando das situações propostas, as quais foram analisadas através das ferramentas da observação participante, das anotações no diário de campo, dos registros fotográficos, dos vídeos e das conversas informais com as crianças. Os referenciais teóricos se inspiraram nas ideias de Moyles (2002) e Fortuna (2011 e 2004) que tratam da relevância do brincar, assim como nos estudos que salientam a organização dos espaços lúdicos desenvolvidos por Horn (2004) e enquanto brinquedotecas salientados por Cunha (2011, 2000 e 1995). As reflexões desencadeadas através das análises desta investigação as quais sinalizam a relevância do brincar no contexto investigado, assim como, destacam a influência da organização dos espaços da brinquedoteca investigada, serão de grande valia para que outros professores possam fundamentar e repensar suas práticas, apoiando-se numa proposta pedagógica lúdica, difundida através das brinquedotecas. Palavras-chaves: Brinquedoteca, Espaço lúdico, Aprendizagem, Educação Infantil, Metodologia lúdica. LISTA DE FIGURAS Figura1 – Etapas da construção da Brinquedoteca ................................................... 11 Figura 2 – Crianças auxiliando na construção do espaço da brinquedoteca ............ 21 Figura 3 – Registros dos cantos lúdicos internos da Brinquedoteca ......................... 24 Figura 4 – Envolvimento dos meninos no canto do Marceneiro ................................ 27 Figura 5 – Momento do envolvimento das meninas com as fantasias e acessórios . 28 Figura 6 – Crianças diversificando suas escolhas em relação aos brinquedos e brincadeiras ............................................................................................................... 29 Figura 7 – Momento das brincadeiras livres nos espaços da brinquedoteca ............ 30 Figura 8 – Brincadeiras das meninas no canto lúdico da cozinha ............................. 33 Figura 9 – Brincadeiras dos meninos com os carrinhos e as ferramentas de marceneiro ................................................................................................................ 33 Figura 10 – Brincadeiras diversificadas dos meninos e meninas .............................. 34 Figura 11 – Momentos em que as meninas se fantasiaram de princesas ................. 38 Figura 12 – Momento de interação, no canto das fantasias ...................................... 40 Figura 13 – Momento em que as crianças diversificam as brincadeiras nos espaços .................................................................................................................................. 41 Figura 14 – Momentos de envolvimento das crianças .............................................. 43 Figura 15 – Envolvimento das crianças no momento das brincadeiras ..................... 45 Figura 16 – Experiências lúdicas das crianças.......................................................... 49 SUMÁRIO 1 ADORO BRINCAR! ............................................................................................... 14 2 CAMINHOS METODOLÓGICOS ........................................................................... 17 3 OS ACHADOS DA PESQUISA: EBA, VAMOS BRINCAR NA BRINQUEDOTECA! .................................................................................................................................. 21 3.1 Primeiras Impressões: A necessidade da organização e do planejamento . 22 3.2 As crianças e a normatização do gênero ........................................................ 25 3.3 As aprendizagens das crianças impulsionadas pelo brincar ........................ 36 4 CONSIDERAÇÕES EM RELAÇÃO AO QUE ME MOVEU À PESQUISA ............ 43 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 51 APÊNDICES ............................................................................................................. 54 APÊNDICE A – Termo de Consentimento Informado aos pais ........................... 55 APÊNDICE B – Termo de Consentimento Informado para a direção da escola 56 8 PELO BRINCAR DAS CRIANÇAS Ao refletir sobre os propósitos que me impulsionaram a realizar este trabalho de conclusão de Curso, envolto ao brincar, observo que o tema abordado, já vem fazendo parte de meus interesses e estudos há muito tempo. Meu projeto de monografia já começou no início do ano de 2014, período em que iniciamos, a construção da brinquedoteca na Escola de Educação Infantil, na qual atuo. No decorrer da elaboração desta construção, várias foram as reflexões em relação ao brincar, motivo que me ligou profundamente a investigação deste trabalho. Atuo como monitora na Educação Infantil há 10 anos, fato que me coloca em contato diariamente com crianças e consequentemente com o brincar. O que me leva a realizar vários estudos e reflexões, e da mesma forma me motiva a desenvolver junto com as crianças situações que as coloquem em contato com o universo lúdico. Faço muitas leituras e estudos relacionados a esse assunto e ressalto com as crianças constantemente o brincar, incentivando-as a brincarem, sempre que possível. Diariamente, programo situações lúdicas que são desenvolvidas na praça, estimulo-as a diferentes brincadeiras como: pega-pega, esconde-esconde, faz de conta, entre outras brincadeiras. Atualmente, minha atuação enquanto professora, está sendo desenvolvida com uma turma de 18 crianças, da faixa etária entre 5 a 6 anos de idade, do Jardim B, e consequentemente, a investigação deu-se com esta turma, que é muito expressiva e desenvolve suas brincadeiras de modo muito criativo e intenso. 9 Para uma maior compreensão do contexto investigado é preciso destacar que as crianças que participaram deste estudo, são em sua maioria moradoras da região rural, do interior do município, fato que as faz vir à escola de transporte escolar. Os pais são agricultores, tendo como principal atividade a criação de frangos e/ou suínos, e também são produtores de leite. As demais crianças são moradoras do centro do município, e seus pais são trabalhadores das fábricas de calçados, instaladas na cidade. Minha prática pedagógica se fundamenta nos estudos de Moyles (2002), os quais me auxiliam a compreender mais sobre o brincar. A autora destaca que é através do brincar que as crianças mantêm o cérebro e corpo estimulado (p.20). Neste sentido, ainda descreve que o brincar possui uma função essencial no desenvolvimento das crianças, quando afirma que “em todas as idades, o brincar é realizado por puro prazer e diversão e cria uma atitude alegre em relação à vida e à aprendizagem. Isso certamente é uma fundamentação suficientemente justa para valorizar o brincar.” (MOYLES, 2002, p. 21). Conversava constantemente com as crianças sobre a importância do brincar. Questionava-as sobre o que brincam em casa, seja depois da saída da escola ou nos finais de semana. Eles adoravam contar o que fizeram e o que brincavam, com quem ou onde. Percebi que para elas estas reflexões são de extrema importância, uma vez que através de seus relatos, foram ouvidas em seus interesses e necessidades. Fato visível nas expressões de seus rostos, gestos e palavras. Segundo os Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil – volume 1: As crianças precisam ser apoiadas em suas iniciativas espontâneas e incentivadas a: brincar; movimentar-se em espaços amplos e ao ar livre; expressar sentimentos e pensamentos; desenvolver a imaginação, a curiosidade e a capacidade de expressão; ampliar permanentemente conhecimentos a respeito do mundo da natureza e da cultura apoiadas por estratégias pedagógicas apropriadas; diversificar atividades, escolhas e companheiros de interação em creches, pré-escolas e centros de Educação Infantil (BRASIL, 2008, p.19) Percebi que estas orientações dos parâmetros também guiam minha postura enquanto mãe, pois como mãe de uma menina de 4 anos e um menino de 10 anos, adoro vê-los brincar e os incentivo a desenvolver suas fantasias e imaginação. Com muita criatividade, em alguns segundos constroem barracas, fazem ônibus com as 10 cadeiras, transformando o ambiente em múltiplos cenários. Sempre que possível saio com eles, para que conheçam outros espaços, como a pracinha ou a casa dos avós que fica no interior. Lá eles correm, se sujam, usam suas botas e constroem brinquedos, transformam pedaços de madeira em aviões, cavalos, utilizando toda a criatividade e fantasia na elaboração de novas brincadeiras. Relembro, a partir destes momentos, muito de minha infância e das brincadeiras que realizava. Estas vivências passaram a ser muito significativas em meu desenvolvimento enquanto criança-aluna-professora. Brincava muito ao ar livre, pois cresci no campo, na roça e isso era maravilhoso. Fazíamos piqueniques, bolo de terra, tomávamos banho de arroio, enfim, nos relacionávamos com as coisas do mundo, tocando, experimentando e descobrindo as múltiplas possibilidades que os materiais existentes nestes espaços ofereciam. Este fato me remete à investigação desenvolvida por Mallmann (2015), a qual se refere a relevância do uso da diversidade de materiais no contexto escolar. Mesmo sua pesquisa sendo desenvolvida com um grupo de bebês, observa-se que a valorização destes materiais - que a autora nomeia como Materiais Potencializadores - auxiliam as crianças em suas experiências sensoriais e sensíveis, no cotidiano escolar. Através de sua investigação Mallmann (2015, p. 135) afirma que: [...] observei que esse contato dos bebês com os Materiais Potencializadores desencadeou experiências sensoriais que foram sendo ressignificadas e transformadas pela potência sensível que eles carregam consigo, impulsionando-os a criarem e recriarem o contexto do berçário. Fui me dando conta, de que na minha infância, estas experiências eram desenvolvidas nos momentos em que eu ficava junto com meus pais, os quais trabalhavam na roça. Guardo lembranças muito boas desta época, pois era a oportunidade que eu tinha de brincar livremente, enquanto eles faziam suas atividades rotineiras. Para tanto, trago também as ideias de Fortuna (2004), que contribuem nesta reflexão: Em princípio, todos os adultos, de algum modo e em algum momento de suas vidas, brincaram. Muitos, porém, parecem “esquecidos” disto, mantendo divorciadas suas lembranças de brincadeiras infantis da realidade que protagonizam diariamente. Muito poderia ser dito sobre esta “amnésia”, mas aqui basta que saibamos que para ser educador a reconciliação com estas e outras lembranças relativas à infância é necessária como condição e expressão de nossa capacidade de compreender os alunos e assim intervir pedagogicamente (FORTUNA 2004, p. 7). 11 Neste sentido, incentivo muito o brincar, tenho um grande interesse por este tema. Ao longo de minha formação no curso de graduação em Pedagogia, na UNIVATES, sempre que o tema sobre o brincar era abordado, me vinha em mente a importância de uma metodologia lúdica voltada para as crianças da Educação Infantil. Tenho uma paixão por minha escolha profissional, adoro trabalhar com crianças, então quando escuto algo relacionado à faixa etária, dos 0 aos 5 anos, me remeto a situações lúdicas que possam ampliar seus conhecimentos e interesses, fazendo com que me sinta confiante e motivada diante de minha escolha profissional. A escolha em direcionar minha pesquisa de Monografia, aos espaços Lúdicos, mais especificamente a Brinquedoteca, foi impulsionada a partir da construção da brinquedoteca, que ainda não estava totalmente concluída, faltando a organização do espaço interno. Mesmo assim, este espaço nos foi liberado e juntamente com as crianças, a partir dos interesses e sugestões delas fui organizando a brinquedoteca em cantos lúdicos. Através dos estudos realizados ao longo do curso de graduação, fui me dando conta o quanto que esses espaços são importantes para o desenvolvimento das crianças, especialmente no que diz respeito às aprendizagens. A construção e toda a organização do lugar, contou com o apoio e ideias dos professores, crianças e famílias. As imagens abaixo mostram a evolução deste espaço da Brinquedoteca. Figura1 – Etapas da construção da Brinquedoteca Fonte: elaborada pela autora Ao pensar este espaço para e com as crianças, passei a promover a diversificação dos ambientes para que os mesmos possam desenvolver suas brincadeiras e imaginação. Para tanto, além da sala de aula, da praça, passei a oferecer o espaço da brinquedoteca, o que representou mais possibilidades para a 12 diversão e aprendizagens. Moyles (2002, p. 24) descreve que “o brincar deve ser visto como um processo [...] a qualidade do brincar de uma criança depende igualmente de inúmeras variáveis, entre as quais o valor que a criança e outros atribuem a ele”. Observando o interesse e o valor que as crianças passaram a dar ao brincar foi preciso apresentar a eles a proposta que fundamentava a construção da brinquedoteca. Conversava com eles diariamente, destacando que poderiam brincar muito naquele espaço e que poderiam usufruir cada canto lúdico, poderiam ainda criar muitas brincadeiras, uma vez que o objetivo deste espaço é ampliar as possibilidades do brincar. Neste sentido, ao observar toda a empolgação, ansiedade e alegria das crianças diante da construção deste espaço, minhas certezas em relação a escolha de aprofundar o tema sobre a relevância dos espaços lúdicos, na construção das aprendizagens das crianças, foi reforçado, impulsionando-me a prosseguir com minhas ideias inicialmente lançadas em relação ao assunto. Ao longo desta minha investigação, observei atentamente os modos como as crianças se relacionaram com este espaço, na medida em que era, um ambiente totalmente novo e acima de tudo, passou a ser uma “grande novidade”, que motivava as crianças a cada dia. Segundo Santos (2000, p. 13) “A brinquedoteca é o espaço criado com o objetivo de proporcionar estímulos para que a criança possa brincar livremente.”. Neste caso, pensar no espaço da brinquedoteca e nas crianças, foi pensar nas possibilidades de proporcionar momentos significativos e importantes para as mesmas. Deixar elas livres, para desenvolverem sua criatividade e imaginação. Deixá-las brincar, interagir com os colegas, enfim, fazer com que criem suas brincadeiras e assim serem capazes de construir a sua própria história. Neste sentido, o tema desta investigação Brinquedoteca: espaço de aprendizagem e diversão para e com crianças de 5 a 6 anos de idade, teve como foco compreender as contribuições do espaço da Brinquedoteca para e com um grupo de crianças de 5 a 6 anos de uma escola de Educação Infantil pública do 13 município de Travesseiro/ RS. Conforme o levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- IBGE (2014): O Município de Travesseiro foi criado em 20 de Março de 1992 e instalado em 01 de janeiro de 1993. Seu município mãe é Arroio do Meio. A população total do município era de 2.379 habitantes, de acordo com a Contagem da População do IBGE em 2007. Em relação a Capital a distância de Travesseiro é de 114,41Km. O município faz limite com Nova Bréscia, Coqueiro Baixo, Pouso Novo, Marques de Souza e Arroio do Meio. A economia do município está baseada na agropecuária. A maior parte da população reside na área rural. O município possui alguns pontos turísticos como a Lagoa do Herval, Morro Pilão (Morro dos Pretto), Cascatas de Três Saltos Alto, Camping do Írio, Arroio Travesseiro cortando a cidade, e inúmeras cachoeiras espalhadas pelo interior e centro. (IBGE, 2014) Para produzir este Trabalho de Conclusão de Curso, inspirei-me na abordagem qualitativa aproximando-me da pesquisa intervenção, na qual minha participação se deu de forma ativa, atuando como pesquisadora e ainda como professora titular da turma, apoiando-me nas ferramentas da observação participante, nas anotações do diário de campo, nos registros fotográficos, de vídeos e nas conversas informais com as crianças à medida que exploravam e interagiam com os espaços lúdicos. O referido trabalho foi organizado em quatro capítulos. Sendo que no primeiro capítulo Adoro brincar, apresento os fundamentos sobre o brincar nos espaços escolares da educação infantil, no segundo capítulo Caminhos metodológicos, trago o contexto investigado, no qual destaco as escolhas que foram construindo esta pesquisa, enfatizando a abordagem e as ferramentas utilizadas na pesquisa, no terceiro capítulo Os achados da pesquisa: eba, vamos brincar na brinquedoteca, pontuo as análises que foram delimitando as questões norteadoras, ressaltando a organização/planejamento, questões em relação ao gênero/ aprendizagens pelo brincar. Já no quarto e último capítulo Considerações em relação ao que me moveu para a pesquisa, apresento as constatações sinalizadas na investigação, no intuito de representar possibilidades de ampliar as práticas de muitos educadores da educação infantil. 14 1 ADORO BRINCAR! A infância deveria ser uma das fases mais bonitas da vida de qualquer ser humano, uma vez que é o começo da trajetória humana. Para tanto, é preciso aproveitá-la, brincar, construir amizades, sair e se divertir. É conviver em família e com os outros, para desta forma construirmos nossa história. Cada criança tem a sua infância, cada uma constrói e é influenciada a construir a sua, de acordo com as suas vivências, experiências, enfim, no contexto em que está inserida. Neste sentido, ela vai constituindo-se e também passa a construir o mundo a sua volta. Adoro trabalhar com crianças, conversar com elas, ouvir elas relatarem fatos que vivenciaram, algo que aprenderam ou que lhes chamou a atenção, desta forma, a minha escolha profissional e a escolha do meu Trabalho de Conclusão de Curso, me levou a fazer algo que envolva crianças. A criança é um ser criativo, neste sentido, necessitamos estar preparadas para proporcionar atividades atrativas e prazerosas, de forma lúdica, que respeitem seus interesses e necessidades. Este fato contribuirá de forma decisiva no desenvolvimento das mesmas, desta forma auxiliando na aquisição de novas aprendizagens. As crianças, ao longo da investigação, demonstravam muita ansiedade para se comunicarem e se expressarem em relação aos seus interesses. Com frequência faziam perguntas e participavam ativamente das brincadeiras que eram propostas. Enxerguei esta capacidade das crianças, para tanto, as ideias de Filippini (1999) em 15 relação as mesmas me auxiliaram a esclarecer esta necessidade, ao trazer a observação em relação às crianças de Reggio Emilia1: Nossa imagem de criança evoluiu a partir de nossa experiência coletiva e de um entendimento continuamente reexaminado da filosofia educacional e da teoria psicológica. Para nós, cada criança é única e é protagonista de seu próprio crescimento. Também notamos que as crianças desejam adquirir conhecimentos, têm muita capacidade para a curiosidade e para maravilhar-se e anseiam por criar relacionamentos com os outros e comunicar-se. As crianças são tão abertas ao intercâmbio e à reciprocidade! Desde cedo na vida negociam com o mundo social e físico – com tudo o que a cultura lhes dá (FILIPPINI apud EDWARDS; GANDINI; FORMAN, 1999, p. 124). As observações em relação às crianças, feitas pelos autores citados acima, também foram evidenciadas na turma investigada, sendo que demonstravam muito interesse e pré-disposição para descobrir novos aprendizados e desvendar o desconhecido. Na medida em que as crianças tomavam suas próprias decisões, resolviam seus conflitos, enfrentavam seus obstáculos, buscavam alternativas, experimentavam várias maneiras para alcançar seus ideais. Adoravam correr, pular, imaginar, fantasiar, criar suas próprias brincadeiras, se envolver intensamente no seu brincar. Estas observações me possibilitaram acreditar no potencial das crianças enquanto sujeitos históricos e de direito, conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica: A criança, centro do planejamento curricular, é sujeito histórico e de direitos que se desenvolve nas interações, relações e práticas cotidianas a ela disponibilizadas e por ela estabelecidas com adultos e crianças de diferentes idades nos grupos e contextos culturais nos quais se insere. Nessas condições ela faz amizades, brinca com água ou terra, faz de conta, deseja, aprende, observa, conversa, experimenta, questiona, constrói sentidos sobre o mundo e suas identidades pessoal e coletiva, produzindo cultura (DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA, 2013, p. 86). A partir desta ideia, em que a criança passa a ser protagonista de suas ações, é importante destacar a necessidade que possuem de serem livres para criar e produzir suas brincadeiras, de acordo com os seus interesses e necessidades. O grupo investigado era composto por 8 meninos e 10 meninas, os quais muito criativos, espertos, atentos e observadores, sempre ativos em suas brincadeiras. Seja brincando sozinho ou em pequenos grupos, um exemplo disso 1 Abordagem pedagógica voltada a Educação Infantil desenvolvida na cidade de Reggio Emilia, localizada ao norte da Itália, reconhecida como a melhor do mundo em 1991, idealizada por Loris Malaguzzi. 16 eram as brincadeiras e imitações que faziam da professora, da mãe, do pai e até do próprio colega. Para reforçar a ideia de que cada criança tem um modo próprio de produzir sua cultura trago os estudos de Sarmento (2004): [...] as crianças são atores sociais, pois são capazes de realizar interações e de dar sentido às suas ações, como todos os seres humanos, em suas diversidades. Além disso, são portadores de novidades [...] que é inerente a sua pertença à geração que dá continuidade e faz renascer o mundo (SARMENTO, 2004, p.10 apud BARBOSA, 2014, p. 658). Ao considerar o que o autor traz, saliento a importância do brincar na vida das crianças, fato que as auxilia a desenvolverem a criatividade, a imaginação e, desta forma, ao elaborarem e se comunicarem com o mundo ao qual pertencem, nos demonstram suas capacidades em construir suas histórias enquanto produtores de cultura. Quando tratamos sobre o brincar, é importante destacar que uma brincadeira acontece quando alguém a faz acontecer, ou melhor, quando existe a vontade de brincar. Cada indivíduo cria a sua brincadeira, interagindo, estabelecendo uma relação com o mundo real e o mundo imaginário. Winnicott (1975, p. 79) descreve que “é no brincar, e talvez apenas no brincar, que a criança ou o adulto fruem sua liberdade de criação.”. As crianças são protagonistas das suas brincadeiras, produzem cultura, atuando nas relações sociais conforme as suas necessidades e interesses. Em relação a isso, Barbosa (2014) afirma que as crianças: São capazes de interagir com as pessoas e os mundos naturais e simbólicos que as rodeiam e, assim, estabelecem interações e formulam modos de viver. Essa capacidade de agir, participar ativamente, falar, criar, significar e aprender é uma resposta das crianças aos contextos em que vivem. O ato de responder deixa marcas, transforma, cria novos modos geracionais de ser e estar no mundo, isto é, cria cultura(s) (BARBOSA, 2014, p. 662). Neste sentido, podemos destacar que cada criança é única, e deve ser livre para criar e recriar o seu mundo. Este fato me leva, enquanto professora e pesquisadora, a fundamentar minha prática envolta da construção de um ambiente lúdico, no qual as crianças puderam se desenvolver integralmente de forma lúdica e prazerosa. 17 2 CAMINHOS METODOLÓGICOS A metodologia utilizada neste Trabalho de Conclusão de Curso foi inspirada na abordagem qualitativa, tendo como destaque a observação participante, interagindo e participando do brincar das crianças. As informações coletadas foram descritas e relacionados ao referencial em estudo. Sendo que a pesquisa não contém dados estatísticos e números expressos. Segundo Minayo (2003): A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis (MINAYO, 2003, p. 21-22). A pesquisa de campo foi realizada na brinquedoteca junto à escola de rede municipal de ensino, situada no município de Travesseiro/RS. A escolha se deu pelo fato de conhecer o trabalho desenvolvido na escola e por atuar como professora no educandário. Outro fator, que também passou a ser determinante para a escolha, diz respeito ao fato de ser a única escola do município, que possui uma brinquedoteca. O público alvo da pesquisa eram crianças de 5 a 6 anos de idade, matriculadas no Jardim B. A escolha se deu em virtude destas crianças serem meus alunos no período da realização da pesquisa e por demonstrarem muito interesse por novas aprendizagens e pelo brincar. Edwards (2005, p. 06) afirma que “elas querem expressar suas necessidades, fazer perguntas, participar de jogos e falar sobre suas ideias”, nos sinaliza a vontade que possuem em participar da construção do mundo e não somente reproduzi-lo tal qual lhes é apresentado. 18 A proposta da investigação foi desenvolvida nos meses de março e abril do ano de 2015, através da observação participante, que exigiu minha escuta sensível enquanto professora-pesquisadora. A partir de um olhar sensível e atento, aos modos como as crianças se relacionavam no espaço da brinquedoteca, no intuito de capturar e compreender suas ações, a fim de ver como a brinquedoteca contribuía no desenvolvimento das mesmas e como a organização deste espaço interferia nas suas escolhas e ações. Em relação a esta escuta Jablon, Dombro e Dichtelmiller (2009) ressaltam que: A observação como um olhar para aprender. Observar proporciona as informações de que necessita para construir, [.....] Aprendemos sobre as crianças ao observá – las de forma cuidadosa, ao escutá–las e ao estudar o seu trabalho. Assistir e escutar as crianças com atenção ajuda-nos a entender o que elas estão sentindo, aprendendo e pensando (JABLON; DOMBRO; DICHTELMILLER, 2009, p. 13). Esta compreensão se dará através da observação atenta que capta os interesses e necessidades das crianças. Observando, aprendemos sobre as crianças, o que nos ajuda também a entender suas reações e atitudes. E neste sentido, a pesquisa intervenção, através da observação participante, possibilitou minha aproximação do contexto investigado. Ainda em relação a esta postura de escuta do professor-pesquisador Rinaldi, (2012, p. 211-212) descreve que: O extraordinário na mente humana é não apenas a capacidade de passar de uma linguagem para a outra, de uma “inteligência” para outra, mas também a habilidade de escuta recíproca, que é o que torna possível o diálogo e a comunicação. As crianças são os ouvintes mais extraordinários de todos; elas codificam e decodificam, interpretando dados com incrível criatividade: as crianças “ouvem” a vida em todas as suas facetas, ouvem os outros com boa vontade, percebendo rapidamente como o ato de escuta é essencial para a comunicação. As crianças são biologicamente predispostas a se comunicar e a estabelecer relacionamentos: é por isso que devemos sempre lhes dar oportunidades plenas de representar suas imagens mentais e conseguir representá-las para os outros (RINALDI, 2012, p. 211-212). Para estabelecer este diálogo entre os investigados e a investigadora, foram realizados sete encontros que tiveram um tempo estimado de 1hora e meia. Totalizando três horas semanais. Os referidos encontros foram desenvolvidos nos meses de março e abril do ano de 2015, no primeiro horário do turno da tarde, após as crianças acordarem e terem realizado o primeiro lanche. A escolha por este 19 horário diz respeito à disposição das crianças, uma vez que, neste horário estavam mais descansadas para brincarem. Todas as observações foram registradas no diário de campo em que foram registradas as percepções, as falas e as ações das crianças. Com o foco direcionado aos modos como as crianças se relacionavam no espaço da Brinquedoteca destaquei suas necessidades e interesses. Minayo me auxilia a compreender a relevância deste recurso que é o diário de campo na medida em que o considera: [...] um instrumento ao qual recorremos em qualquer momento da rotina do trabalho que estamos realizando. Ele na verdade é um “amigo silencioso” que não pode ser subestimado quanto à sua importância. Nele diariamente podemos colocar nossas percepções, angústias, questionamentos e informações que não são obtidas através da utilização de outras técnicas. O diário de campo é pessoal e intransferível. [...] Quanto mais rico for em anotações esse diário, maior será o auxílio que oferecerá à descrição e à análise do objeto estudado (MINAYO, 2003, p. 63 – 64). Juntamente com este diário, realizei ainda registros através de fotos e vídeos, que foram ferramentas importantes na medida em que me auxiliaram a enxergar e compreender as crianças ao longo da pesquisa. Apoiada ainda em Minayo (2003, p. 63) utilizei-me destes recursos que a autora destaca como sendo “recursos de registros aos quais podemos recorrer.” Estes são considerados importantes também, pois com eles é possível obter informações mais detalhadas que talvez não sejam capturadas e percebidas através do diário de campo. Neste sentido, as fotos e os vídeos são ferramentas ricas, pois mostram detalhes que trazem muitas informações, que escapam, muitas vezes, ao olhar do pesquisador. Para Jablon, Dombro e Dichtelmiller (2009, p. 41) “uma observação é como uma fotografia – ela capta um momento no tempo.”. Ainda, conforme os autores citados acima: A observação é uma parte integral do ensino cotidiano. Você pode observar em qualquer lugar e a qualquer momento: enquanto faz parte da ação, enquanto está de fora ou depois dela. Escrever notas sobre o que vê e ouve, tirar fotografias e coletar amostras de trabalho proporcionam uma documentação significativa que ajuda a lembrar suas observações e a pensar sobre elas quando planeja (JABLON; DOMBRO; DICHTELMILLER, 2009, p. 106). Para utilizar estas informações coletadas na referida pesquisa foi necessário respeitar algumas questões éticas que a pesquisa exige, para tanto, no intuito de 20 informar e solicitar a autorização das crianças para participarem da pesquisa, foi encaminhado aos responsáveis o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (ANEXO A), deixando-os a par dos acontecimentos da pesquisa, assim como, solicitando a autorização tanto aos responsáveis pelas crianças como à direção da escola, que através do Termo (ANEXO B) possibilitou a realização deste estudo. O Referido Trabalho de Conclusão teve por objetivo geral verificar quais as contribuições de uma brinquedoteca na aprendizagem das crianças investigadas na pesquisa. Desta forma, ao término da coleta de todas as informações foi realizado um registro escrito, tendo como suporte teórico autores, como: Moyles (2002), Fortuna (2011; 2004), Friedmann (2012; 2004; 2005), Winnicott (1975), Santos (1997; 2000), Cunha (2011; 2000; 1995), Horn (2004) entre outros. Desta forma, fui construindo os fundamentos da pesquisa, apoiada em referências que me auxiliassem a compreender os achados da investigação. Em relação a esta etapa das análises Minayo (2003) ressalta que esta fase auxilia a: [...] estabelecer uma compreensão dos dados coletados, confirmar ou não os pressupostos da pesquisa e/ou responder às questões formuladas, e ampliar o conhecimento sobre o assunto pesquisado, articulando – o ao contexto cultural da qual faz parte (MINAYO, 2003, p. 69). Assim sendo, foi preciso estabelecer uma conexão com as informações obtidas, articulando-as com o suporte teórico que abordaram o tema desta pesquisa que passou a se nortear nas seguintes questões: como o espaço da brinquedoteca pode contribuir no desenvolvimento das aprendizagens das crianças de 5 a 6 anos? E como a organização da brinquedoteca pode interferir nas escolhas e nas ações das crianças? Questões que foram analisadas e compreendidas através da observação participante, das imagens, das fotografias, enfim, das ferramentas da pesquisa já citadas anteriormente. 21 3 OS ACHADOS DA PESQUISA: EBA, VAMOS BRINCAR NA BRINQUEDOTECA! A brinquedoteca, que está localizada junto à Escola, foi construída pela Associação de Pais e Amigos da Escola de Educação Infantil, juntamente com as professoras. É um espaço amplo e arejado, pensado para e com as crianças, mais uma alternativa para poderem brincar, usufruir e assim desenvolverem suas potencialidades. Em virtude de alguns atrasos internos na construção deste espaço, tive que organizá-lo juntamente com as crianças investigadas, planejando com elas a elaboração e organização da Brinquedoteca. Neste sentido, pintamos mobílias, organizamos os cantos lúdicos com brinquedos e materiais trazidos e doados pelas famílias e comunidade em geral, como mostram as imagens abaixo. Figura 2 – Crianças auxiliando na construção do espaço da brinquedoteca Fonte: elaborada pela autora. Neste primeiro envolvimento das crianças com a proposta que a pesquisa desenvolveu, foi possível perceber que vários seriam os achados em relação aos modos como este espaço poderia interferir em suas aprendizagens, assim como, a 22 organização do mesmo poderia interferir em suas escolhas e ações. Neste sentido, destaco a seguir as análises que emergiram ao longo dos encontros: 3.1 Primeiras Impressões: A necessidade da organização e do planejamento No primeiro dia, o planejamento se centrou na pintura de algumas mobílias que foram feitas para serem usadas nos cantos lúdicos da brinquedoteca. Este primeiro contato das crianças demonstrou que sentiam-se muito animadas e dispostas em participar desta construção. Percebi que foi um momento maravilhoso para eles, contudo, não foi possível todos pintarem ao mesmo tempo, então algumas crianças precisaram aguardar sua vez e isto acabou gerando certa ansiedade no grupo. Tive que dividi-los em grupos menores, o que foi muito ruim para eles, pois achavam que não iria sobrar nada para eles pintarem. Este momento exigiu muita tranquilidade de minha parte, enquanto professora-pesquisadora. Contudo, a situação foi contornada e observei que a pintura proposta, não se restringiu somente a mobília, mas ao observar as crianças, fui percebendo o quanto eles tinham a necessidade de ampliar esta ação, a qual se estendeu pelo chão, pelas paredes e por seus corpos. Foi muito significativo e emocionante para as crianças poderem ajudar na organização deste espaço, sentindo-se livres e autorizados a construírem do seu jeito aquele lugar que passaria a fazer parte do cotidiano escolar delas. As expressões das crianças e as suas falas demonstraram-me o quanto aquele dia foi significativo para elas. Na medida em que os pais chegavam na escola para buscá- los, a primeira coisa que as crianças diziam era que haviam pintado na brinquedoteca, conforme registro abaixo: Oh, Mãe! Olha só o que nós fizemos. Todos nós pintamos. Eu, a Maria e o Vicente pintamos o palco e o Pedro e a Josefa pintaram a cozinha. Viu como ficou bonito? Amanhã vamos fazer mais coisas aqui. Eu gostei muito de fazer essas coisas, pena que já está na hora de ir para casa (DIÁRIO DE CAMPO DA AUTORA). Foram momentos significativos e ricos, os quais foram contagiando as crianças, a escola e também os familiares. Este fato mobilizou todos e a cada dia que passava vinham mais materiais e brinquedos, e, da mesma forma, mais ideias de como construir este espaço. As crianças adoraram estar e participar de tudo aquilo. A empolgação deles era nítida e emocionante. Estas reações foram me 23 inspirando cada vez mais na investigação que estava iniciando, pois é muito bom ver as crianças assim alegres e eufóricas, assim como também, ver o envolvimento das famílias, que vinham constantemente pedir o que podiam trazer e como poderiam ajudar mais na organização do ambiente. Oi, Profe, eu queria ver uma coisa contigo. O Lucas está todo dia falando da brinquedoteca e diz que pode se trazer qualquer coisa para colocar na brinquedoteca, mas não sei o que poderia ajudar. Tem muitas coisas que não usamos mais em casa, como copinhos, canecas, potes, isso serve? Ou o que poderia ajudar? Por ele iria trazer tudo que ele vê. Mas não é assim, né profe? (DIÁRIO DE CAMPO DA AUTORA). Envolvida neste contexto fui me inspirando e motivando-me a compreender a relevância da ludicidade, não só na vida das crianças, mas também daquela comunidade. Fato que me exigiu muita organização e planejamento para que eu pudesse ir compreendendo as questões que me moveram a este trabalho. Neste primeiro contato das crianças, observei que minha postura enquanto professora-pesquisadora necessitava ser de uma mediadora. Na medida em que as crianças foram me sinalizando a necessidade de um espaço organizado para realizarem as situações propostas, observei que o planejamento e o preparo deste são de fundamental importância, pois as crianças não somente pintavam o espaço sugerido, mas também acabavam pintando seus corpos, suas roupas e materiais que estavam a sua volta. Para tanto, uma das primeiras análises me sinalizou a necessidade de ter à mão o material necessário para que situações como estas possam se desenvolver de forma tranquila, sem a preocupação de ter que restringir constantemente as crianças em suas criações. Barbosa e Horn me auxiliam a compreender a importância desta organização quando afirmam que: Organizar o cotidiano das crianças da Educação Infantil pressupõe pensar que o estabelecimento de uma sequência básica de atividades diárias é, antes de mais nada, o resultado da leitura que fazemos do nosso grupo de crianças, a partir, principalmente, de suas necessidades. É importante que o educador observe o que as crianças brincam, como estas brincadeiras se desenvolvem, o que mais gostam de fazer, em que espaços preferem ficar, o que lhes chama mais atenção, em que momentos do dia estão mais tranquilos ou mais agitados. Este conhecimento é fundamental para que a estruturação espaço-temporal tenha significado. Ao lado disto, também é importante considerar o contexto sociocultural no qual se insere e a proposta pedagógica da instituição, que deverão lhe dar suporte (BARBOSA; HORN, 2001, p. 67). E foi neste intuito, que fui pensando a proposta não somente para eles, mas com eles. O que possibilitou compreendermos o quanto, nesse primeiro dia, as 24 crianças se entregaram e demonstraram seu interesse, empolgação e entusiasmo. Desta forma, este primeiro momento no espaço da Brinquedoteca proporcionou muitas surpresas e experiências marcantes, tanto para as crianças como para mim enquanto professora-pesquisadora. Ao compreender a importância de minha postura, também compreendi a relevância da organização dos espaços que ofereço as crianças. Neste sentido, os espaços da brinquedoteca foram pensados e estruturados de modo a respeitarem as particularidades de cada um. Ao falar sobre a brinquedoteca, é preciso ressaltar que é um lugar prazeroso, planejado de maneira a contemplar as pessoas que o frequentam. Organizado de um modo que materiais diversos possam ser explorados e tendo como objetivo o desenvolvimento de atividades lúdicas e a valorização do brincar. De modo geral, a brinquedoteca está dividida em cantos lúdicos, nos quais existem o canto da fantasia, canto do marceneiro, canto dos jogos, da leitura, a cozinha e também organizamos uma casinha com TNT, conforme as imagens que seguem: Figura 3 – Registros dos cantos lúdicos internos da Brinquedoteca Fonte: elaborada pela autora. 25 Foi possível observar ao longo da investigação que os cantos lúdicos da Brinquedoteca contemplaram os interesses e as preferências das crianças, as quais foram reconstruindo-os. Em relação a este fato Horn (2004, p. 16) destaca que “o espaço não é algo dado, natural, mas sim construído. Pode-se dizer que o espaço é uma construção social que tem estreita relação com as atividades desempenhadas por pessoas nas instituições.”. Quando as crianças não se restringiram a pintar somente o que lhes foi solicitado, sinalizaram esta capacidade de ir transformando e construindo o espaço. Ainda adiante a autora destaca que: [...] quanto mais esse espaço for desafiador e promover atividades conjuntas, quanto mais permitir que as crianças se descentrem da figura do adulto, mais fortemente se constituirá como parte integrante da ação pedagógica (HORN, 2004, p. 20). Pensando neste espaço enquanto estimulador, a brinquedoteca foi organizada de modo a oferecer e possibilitar uma multiplicidade de situações e brincadeiras para as crianças, assim como, aos que a frequentarem. Desta forma, fui pensando junto com as crianças as possibilidades que este espaço oferece em relação ao desenvolvimento das mesmas, que me sinalizaram sua disposição em participar do processo de construção da brinquedoteca. 3.2 As crianças e a normatização do gênero A cada instante, as crianças solicitavam os momentos na brinquedoteca, o que pode ser registrado numa das falas de uma das crianças que pedia constantemente: “Profe, vamos ir na brinquedoteca hoje?”, este fato me exigiu também, apresentar a proposta da pesquisa para as crianças, explicando que não seriam todos os dias que iríamos para aquele espaço tão requisitado. Programava com eles o dia que íamos à brinquedoteca, falava que podiam brincar livremente, aproveitar todos os cantos lúdicos, que a brinquedoteca era deles e que eu, professora/pesquisadora, iria tirar fotos, mas que podiam me solicitar qualquer coisa que estaria à disposição e que participaria das brincadeiras também. 26 Esta explicação os tranquilizou mais em relação à ansiedade que demonstravam nos dias em que não íamos à brinquedoteca. Este fato me auxiliou a compreender a pré-disposição que possuíam em relação ao brincar, quando demonstravam sua autonomia diante de novas descobertas. Percebe-se que, quando o professor possibilita, em sua rotina diária, espaços para que a criança crie livremente, estará oportunizando a ela o desenvolvimento de sua autonomia, afirmando as suas capacidades e possibilidades, bem como tornando-a autora de suas criações e não mera copiadora (HORN; SILVA; POTHIN, 2007, p. 59). Esta sensação de liberdade em criar, foi perceptível no segundo dia, quando foram convidados a brincarem nos espaços da Brinquedoteca, livremente, sem regras que os restringissem a determinado espaço ou brinquedo. Observei que aquele momento foi mágico para as crianças, pois em questão de segundos todos estavam envolvidos com algum brinquedo e passado uma hora nem perceberam o tempo passar, reivindicando mais tempo, pois havia passado muito rápido. Todos brincaram muito, aproveitaram bem o momento de brincar livremente, tentaram explorar todos os cantos lúdicos. Observei que, mesmo não se detendo a algum espaço em específico, nesse momento inicial de exploração, demonstraram interesse por todos, sendo que em alguns permaneciam por um tempo maior e outros passavam mais rapidamente. Compreendi que no momento de exploração, estavam fazendo o reconhecimento do espaço. Demonstraram estar à vontade para esta exploração, e desta forma foram envolvendo-se nas possibilidades que o espaço oferecia. Esta observação pode ser constatada no registro que segue: Ao abrir a porta da brinquedoteca, correram para os primeiros interesses que foram despertados por seus olhos. Luís e Fábio correram para o canto do marceneiro, onde escolheram os carrinhos, sendo que cada um escolheu seu carro preferido. Organizaram imediatamente uma corrida com movimentos e barulhos de motor (DIÁRIO DE CAMPO DA AUTORA). A imagem que segue também auxilia na compreensão deste envolvimento imediato do grupo de meninos, os quais estavam totalmente entregues ao brincar. 27 Figura 4 – Envolvimento dos meninos no canto do Marceneiro Fonte: elaborada pela autora. Observei que enquanto os meninos se direcionavam a este espaço, um grupo de meninas se direcionava para o canto das fantasias, no qual imediatamente foram escolhendo roupas e acessórios para se fantasiarem e após “arrumadas” se dirigiram aos outros espaços da brinquedoteca. Conforme o relato abaixo, de uma das meninas, foi possível observar que, depois de fantasiada, ela incorporou uma personagem que provavelmente era a de sua mãe. Amália pega um vestido vermelho e o usa, e após ressalta: agora ainda vou usar um sapato bem bonito para a festa, e você? Minha mãe sempre vai em festa e daí ela gosta de usar vestidos assim, com muito brilho. Eu também adoro isso. Pareço uma princesa assim. Eu gosto de vir brincar aqui, tem muita coisa legal! (DIÁRIO DE CAMPO DA AUTORA). A imagem que segue também auxilia a dar visibilidade a este momento em que as meninas estavam envolvidas com o mundo do faz-de-conta. 28 Figura 5 – Momento do envolvimento das meninas com as fantasias e acessórios Fonte: elaborada pela autora. Foi possível constatar ainda, que as meninas, depois de vestidas de acordo com o personagem escolhido, interessaram-se pelo espaço da casinha, no qual permaneceram cozinhando e representando os afazeres que normalmente presenciam em seus contextos familiares. Este fato contribui para as ideias defendidas por Cunha (1995), a qual acredita que através das brincadeiras, as crianças manifestam vários sentimentos e vão aprendendo a viver: É brincando que ela expressa sentimentos e emoções que ela mesma desconhece; é brincando que manifesta as suas potencialidades e, assim, através de experiências as mais variadas, vai aprendendo a viver, libertando – se de seus medos e amadurecendo de dentro para fora, devagarzinho e com a segurança que só as coisas naturais e verdadeiras oferecem (CUNHA, 1995, p. 8). E é neste sentido, que através do brincar, observei que as crianças foram assimilando e descobrindo o mundo ao seu redor. Ao interagir com cada espaço da brinquedoteca, passaram a elaborar suas brincadeiras, sua imaginação e criatividade. Observei que cada brincadeira desencadeava uma expressão e diferentes formas de ser interpretada e desenvolvida por cada criança. Brincar é uma atividade paradoxal: livre, imprevisível e espontânea, mas, ao mesmo tempo, regulamentada. É meio de superação da infância, assim, como modo de constituição dessa etapa. Brincando, o indivíduo age como se estivesse em outro tempo e lugar, embora esteja inteiramente conectado com a realidade (FORTUNA, 2011, p. 09). 29 Brincar é liberdade, emoção, alegria, superação, imaginação, encantamento e prazer. Todas essas características foram notórias enquanto as crianças interagiram com os espaços lúdicos da brinquedoteca, via-se que se envolviam e se motivavam a fazer o que lhes interessava. Observei também, que na medida em que o encontro ia se desenvolvendo, as crianças demonstravam uma autonomia maior em relação a escolha de determinados brinquedos e brincadeiras. As fotos abaixo apresentam alguns momentos desenvolvidos ao longo da investigação em que podemos observar esta diversidade nas escolhas, através das explorações. Figura 6 – Crianças diversificando suas escolhas em relação aos brinquedos e brincadeiras Fonte: elaborada pela autora. O envolvimento das crianças perpassou todos os momentos ao longo da pesquisa, sendo que no terceiro encontro, “protestaram” dizendo que “demorou muito” para chegar. Mas não demorou não, apenas não íamos todos os dias na brinquedoteca, o que gerou certa ansiedade por parte das crianças, na medida em 30 que as idas à brinquedoteca foram se transformando em momentos muito especiais e esperados por elas. Neste dia, a maioria das crianças, logo ao entrarem na brinquedoteca, se dirigiram ao espaço das fantasias, no qual algumas se vestiram com as roupas e acessórios, enquanto que um grupo de meninos correu para os carrinhos de madeiras que estavam no cantinho do marceneiro. As relações que as crianças estabelecerem neste dia, na brinquedoteca, me auxiliaram a compreender que, apesar de se centrarem em determinadas brincadeiras e reproduzirem determinados comportamentos, elas possuíam interesses diversificados o que as levava em alguns momentos experienciarem outras brincadeiras, brinquedos e espaços. Figura 7 – Momento das brincadeiras livres nos espaços da brinquedoteca Fonte: elaborada pela autora. Contudo, foi possível observar um dado que foi recorrente, no qual a maioria dos meninos se voltava às brincadeiras que os remetiam a ações que os pais ou a figura masculina normalmente desempenha no contexto social. Esse fato pode ser observado na colocação de um dos meninos que segue: Olha José o carro que eu tenho, ele é bem potente, turbinado e anda muito, muito, muito rápido. Ele é mais rápido do que o trator do teu pai e também sobe os morros e passa pelo arroio, olha isso!!! (DIÁRIO DE CAMPO DA AUTORA). Este relato demonstra que as crianças se sentiam muito livres para realizar suas brincadeiras, demonstrando e retratando o contexto em que vivem, 31 reproduzindo conhecimentos já adquiridos como os diferentes barulhos que faziam ao friccionar os carrinhos no tapete. Percebeu-se ainda, que a postura de algumas meninas também correspondia ao que vivenciavam em casa, junto com os pais, em especial às mães. Pois relacionavam suas brincadeiras com os afazeres de suas mães, como podemos observar no relato que segue: Amália e Maria em dois encontros se vestiram com as mesmas fantasias (vestidos) enquanto que Josefa se direcionava logo para o canto lúdico da cozinha, onde passou a brincar de mãe e filhos. Ela sempre representa em suas brincadeiras o papel da mamãe, a qual deve servir as crianças, preparando a comida e limpando a casa. Ela faz questão de interpretar este papel todas as vezes que vai a brinquedoteca adora servir, cuidar dos filhos, os quais são representados por outras colegas que com muita criatividade entram na brincadeira. Ouve-se uma voz que diz: “Quem quer creme?”, “A mãe vai dar.” E em seguida observa-se as meninas sentando-se ao redor da mesa (DIÁRIO DE CAMPO DA AUTORA). A fantasia e o mundo da imaginação estavam presentes nas brincadeiras do faz de contas. As crianças imitavam, imaginaram muito, criaram a sua própria maneira de brincar, viraram atores nas suas brincadeiras. No mundo do faz-de-conta, um outro senso da realidade é experimentado, impulsionando a confiança na possibilidade de transformação da realidade, marcada por novo imaginário, novos princípios e novos valores gerados na solidariedade, ousadia e autonomia que as atividades lúdicas podem comportar. Isso é conseqüência da interação social plasmada no brincar, que nos lança em direção ao outro, e nesse enlace – recordemos o étimo da palavra brincar: vinculum, no latim – constitui-nos como sujeitos. Brincando, reconhecemos o outro na sua diferença e na sua singularidade, e as trocas inter-humanas aí partilhadas podem lastrear o combate ao individualismo e ao narcisismo, tão abundantes na nossa época, restituindo- nos o senso de pertencimento igualitário. Não é à toa que justo a brincadeira, em tempos tão hostis, pode contribuir para trazer para a realidade a utopia de um mundo melhor, no qual todos estejam incluídos. [...] Brincar é um meio de aprender a viver e de proclamar a vida. Um direito que deve ser assegurado a todos os cidadãos, ao longo da vida, enquanto restar dentro do homem a criança que ele foi um dia e enquanto a vida nele pulsar. Quem vive brinca (FORTUNA, 2008, p. 15). Neste sentido é preciso reforçar a ideia de que as crianças precisam de liberdade de escolha, é preciso permitir que brinquem livres, construam sua brincadeira, que aproveitem e sintam o prazer e alegria do brincar. Segundo Horn, “[...] muitos professores têm a ideia de que, permitindo o brincar livres, as crianças causarão bagunça, desordem e indisciplina em sala de aula” (HORN, 2007, p. 58). Mas, sabemos que as crianças precisam deste brincar livre, desta espontaneidade, 32 da construção individual, pois assim, nós professores, estaremos ajudando as mesmas a construírem sua autonomia. Ao analisar estas relações que as crianças estabeleceram no espaço da brinquedoteca, foi possível compreender que ainda relacionam os papéis que a sociedade procura normatizar. Na medida em que observa-se uma preferência das meninas por brincadeiras relacionadas aos afazeres domésticos, ligados a criação dos filhos, dos cuidados com limpeza da casa e da organização doméstica. Enquanto que os meninos se voltam a representar ações que os remetem ao trabalho braçal ao da lavoura, em que dominam equipamentos e máquinas potentes e velozes. Este fato nos remete aos estudos de Martin, que destaca: Em ambientes escolares pré-escolares, as meninas tendem a ocupar o “canto do lar”, as mesas para desenho e outras atividades artísticas. Quando estão ao ar livre, elas tendem a brincar às margens do espaço. Os meninos, por sua vez, ocupam a área principal do pátio de recreação, seja brincando de luta/super-heróis ou andando de triciclos e patinetes. Na escolinha, os meninos geralmente se encontram nas áreas de construção, como a de lego (MARTIN, 2011 apud PAECHTER, 2013, p. 13). As crianças remetem muito o seu brincar às coisas que vivenciam em casa, tendo as meninas a sua preferência por brincar com bonecas, de mamãe e filhinha, pois é o que muitas vezes é a ocupação da mãe, enquanto que os meninos se voltam as brincadeiras de super-heróis, carrinhos, lutas, algo associado a atividade que os remetem a figura masculina, ainda reproduzida em nossa sociedade. Os modos como as crianças se relacionaram com as brincadeiras e brinquedos no quarto dia de observação, também remeteram a estas escolhas conforme as imagens que seguem e que retratam as escolhas das meninas no canto da cozinha. 33 Figura 8 – Brincadeiras das meninas no canto lúdico da cozinha Fonte: elaborada pela autora. Esta recorrência foi visível também nas escolhas dos meninos, os quais demonstravam seus interesses frequentes pelo canto do marceneiro conforme as imagens dos registros a seguir: Figura 9 – Brincadeiras dos meninos com os carrinhos e as ferramentas de marceneiro Fonte: elaborada pela autora. 34 Contudo, é preciso destacar que não podemos rotular estes interesses das crianças, uma vez que foram se diversificando com o passar dos encontros. Gradualmente, apropriaram-se praticamente de todos os espaços, o que demonstrou que elas não possuem um pré-conceito em relação aos brinquedos e brincadeiras. Estas escolhas diversificadas foram registradas conforme as imagens que seguem. Figura 10 – Brincadeiras diversificadas dos meninos e meninas Fonte: elaborada pela autora. Este fato também foi observado no quarto dia, em que inicialmente todos se fantasiaram com as roupas e acessórios, em especial na escolha dos sapatos que iriam calçar, pois antes de entrarem na brinquedoteca, todos tiraram seus calçados e algumas crianças com pressa, permaneceram com os pés descalços, o que demonstrou de certa forma a liberdade que possuíam naquele espaço. A colocação de um dos meninos demonstra este interesse, “José adora brincar pé descalço, todos os dias me pedia se podia tirar os sapatos e ficar com os pés descalços” (DIÁRIO DE CAMPO DA AUTORA). Mesmo observando estas escolhas, que em algumas vezes são diversificadas, não se pode deixar de considerar a divisão de gênero que toma conta de alguns momentos. Fato que pode ser observado nas falas das crianças como por exemplo no registro que segue: 35 Os meninos foram no canto do marceneiro, sendo que tem alguns que praticamente em todos os encontros brincam o tempo inteiro neste canto. Constroem muito, fazem estradas, pontes, garagens, é surpreendente para quem observa ou interage nas suas brincadeiras. Como no momento em que uma das meninas se aproxima da brincadeira: “Margarida, você não pode vir aqui, isso é brincadeira de menino.” (DIÁRIO DE CAMPO DA AUTORA). Este comportamento pode nos sinalizar que estas crianças, através do brincar se expressam e reproduzem o que vivenciam em seus contextos. Josefa, é a menina que é mãe deste o primeiro encontro sempre é a mãe, mas hoje já apareceu um pai (menino), José, o que construiu uma família com vários filhos. Surgindo falas no decorrer da brincadeira, a mãe falando: “Filhas, hoje o pai está em casa, então vamos se comportar. Ele não quer muito barulho, porque quer olhar TV.” (DIÁRIO DE CAMPO DA AUTORA). Estes registros me auxiliaram a compreender também a necessidades das crianças de exteriorizarem, através das brincadeiras, situações que muitas vezes podem não ser compreendidas por elas. Através da brincadeira, a criança aprende a se relacionar com o mundo de maneira ativa, vivencia experiências, pois as brincadeiras podem desencadear aprendizagens. Winnicott aponta : [...] a brincadeira é universal e que é própria da saúde: o brincar facilita o crescimento e, portanto, a saúde; o brincar conduz aos relacionamentos grupais; o brincar pode ser uma forma de comunicação na psicoterapia; finalmente, a psicanálise foi desenvolvida como forma altamente especializada do brincar, a serviço da comunicação consigo mesmo e com os outros (WINNICOTT, 1975, p. 63). Para as crianças o brincar é uma forma de exploração, comunicação, interpretação do mundo na qual está inserida no momento da sua brincadeira. Através do brinquedo a criança tem imaginação, experimenta novas situações e se libera. Desenvolve sua sociabilidade, que é uma forma de comunicação consigo mesma e com os outros, sacia sua curiosidade e seu desejo de conhecer o mundo ao seu redor. Brincar, para as crianças, é algo muito importante, ela leva muito a sério a sua brincadeira, pois a mesma provoca satisfação, prazer e é brincando que torna-se criativa e atenciosa, imita, memoriza, imagina e amadurece, enfim desenvolve importantes capacidades. Horn, Silva e Pothin (2007, p. 60) destacam que “para a criança tudo é brincar, brincar é trabalhar, é “coisa séria”. Esta observação feita pelas autoras, me remete a situação vivenciada em que um dos meninos ao tentar participar da brincadeira das meninas foi incumbido por 36 elas de ser o pai. Nesta vivência, as meninas com muita determinação, atribuíram a função de pai ao menino em virtude deste ser do sexo masculino. Assim como em outra vivência em que uma das meninas é barrada a brincar com os meninos por ser menina, conforme mostra o registro abaixo: Uma menina foi no canto do marceneiro, onde meninos estão brincando e um ressalta que ela não pode vir brincar com eles, pois naquela situação a brincadeira que estavam brincando era brincadeira de meninos (DIÁRIO DE CAMPO DA AUTORA). Isto nos leva a crer que as crianças naquelas situações reproduziram alguns estereótipos muito enraizados ainda em nossa sociedade, no qual meninos são homens fortes que não choram e que fazem coisas que as meninas, que são indefesas e frágeis, não podem fazer. Haslinger (2013, p. 32-33), quando fala dos estereótipos destaca que “são criados para definir o gênero feminino e o gênero masculino fazem parte de um conceito histórico, que é construído culturalmente e tem modificações conforme o tempo”. Pode-se destacar que é através da brincadeira que as crianças representam a realidade que vivenciam, imitando e reproduzindo as experiências que vivenciam no cotidiano. Haslinger (2013) ainda ressalta que: O papel do educador nessa fase é questionar as crianças quanto a ideias preconcebidas e ajudá-las a rever representações estereotipadas que são meramente fruto de preconceito. Além disso, é fundamental que, por meio da brincadeira, do lúdico e do jogo simbólico, meninos e meninas tenham oportunidades ricas, saudáveis e variadas de construir sua própria identidade, inclusive de gênero (HASLINGER, 2013, p. 35). Cada criança tem direito de brincar, independente da maneira e forma como executa esta ação. As crianças têm direito ao desenvolvimento de sua criatividade, imaginação e capacidade de expressão, contudo, é preciso que possamos ampliar o repertório de conhecimentos destas crianças, oportunizando-as a construírem seus percursos que nem sempre são compreendidos e aceitos na visão dos adultos. 3.3 As aprendizagens das crianças impulsionadas pelo brincar Através do brincar a criança constrói sua independência, socializa-se, inventa, interage e relaciona-se com o mundo que a rodeia, desta forma pode-se dizer que brincando a criança vai constituindo-se enquanto ser humano. Moyles (2002, p. 84) 37 descreve que “o brincar leva naturalmente à criatividade, porque em todos os níveis do brincar as crianças precisam usar habilidades e processos que proporcionam oportunidades de ser criativo”. O brincar espontâneo e criativo foi muito estimulado ao longo dos encontros proporcionados na brinquedoteca, durante a referida investigação. As crianças puderam se soltar e desenvolver toda sua criatividade através das suas brincadeiras. Friedmann (2012) quando fala do brincar espontâneo cita que: O brincar espontâneo abre a possibilidade de observar e escutar as crianças nas suas linguagens expressivas mais autênticas. Esse brincar incentiva a criatividade e constitui um dos meios essenciais de estimular o desenvolvimento infantil e as diversas aprendizagens (FRIEDMANN, 2012, p. 46). A importância do brincar na Educação Infantil contribui para o desenvolvimento do pensamento, da solidariedade e da empatia, fatores recorrentes no quinto dia de observação na brinquedoteca. Neste dia, percebi que as crianças iniciaram suas brincadeiras no canto das fantasias, no qual presenciei uma pequena disputa entre eles, em relação às escolhas das roupas. Esta situação foi contornada por eles mesmos, pois procurei não interferir, permitindo que resolvessem a situação sozinhos. Após este momento inicial, observei a interação entre as meninas conforme o registro que segue: Para um grupo de meninas, foi o dia das princesas. Todas eram princesas. Foram brincar no espaço da fantasia e se vestiram. A alegria delas era notável nas falas: “eu sou uma princesa.” “Eu também.” “Então eu sou a rainha.”, “Vamos para o baile dançar.” ficaram um pouco se elogiando e brincando de serem lindas, belas e maravilhosas (DIÁRIO DE CAMPO DA AUTORA). 38 Figura 11 – Momentos em que as meninas se fantasiaram de princesas Fonte: elaborada pela autora. Demonstraram ainda, que através desta brincadeira, adoram se elogiar. Passaram o tempo todo destacando qualidades entre elas, o que demonstrou que possuem muito respeito e carinho com as suas colegas. Expressaram-se educadamente usando as palavras, como “por favor”, “o que você deseja”, “com licença” respeitando-se, tratando todos de igual para igual. Passada mais ou menos uma hora brincando as meninas entraram na brincadeira da mamãe e suas filhinhas, sendo que neste momento surgiu uma “nova” mãe (outra menina), dizendo: “eu sou a mãe.” e atendeu suas filhas oferecendo comida e bebida. “você quer um mate, filha?” “mãe estou com fome?” “Filha vem comer. A comida está pronta.” Após a mãe pega um livro e ressalta que é seu livro de receitas. “Essa é minha agenda de receitas.” (DIÁRIO DE CAMPO DA AUTORA). Brincando reproduzem claramente o que vivenciam no cotidiano, neste sentido é importante que o professor esteja atento ao fato de que em muitos momentos, ele poderá auxiliar a ampliar as ideias que, muitas vezes, as crianças perpetuam. Enquanto isso, os meninos também interagiram entre si, estabelecendo parcerias como demonstra o registro que segue, “Oh, Gabi, vamos fazer estradas para os nossos carros? Você começa de um lado e eu na outra ponta” (DIÁRIO DE CAMPO DA AUTORA). Observei que muitas foram as brincadeiras que tomaram conta das experiências que as crianças vivenciaram na Brinquedoteca e que a maioria delas, 39 desencadeou grandes aprendizagens para as crianças, as quais passaram a libertar sua criatividade e emoções. Situações que, muitas vezes, não conseguiam compreender, passaram a ser compreendidas através do mundo do faz de contas, em que testavam e encenavam de certa forma, papéis incompreensíveis ainda por elas. Kishimoto apresenta que quando brinca, “a criança toma certa distância da vida cotidiana, entra no mundo imaginário. [...] não está preocupada com a aquisição de conhecimento ou desenvolvimento de qualquer habilidade mental ou física” (KISHIMOTO, 1996, p. 24). Contudo, ainda conforme a autora, “brincar leva a criança a tornar-se mais flexível e buscar alternativas de ação” (KISHIMOTO, 1996, p. 26). Foi possível observar, que os momentos em que as crianças brincavam na brinquedoteca, elas demonstraram uma liberdade para criar e recriar suas fantasias. No qual viravam princesas, motoristas, mamães ou filhinhas. E assim, através deste faz de conta, foram se constituindo enquanto seres sociais, capazes de interagir, compartilhando brinquedos e experiências. Demonstraram desta forma, que o brincar também é uma forma de comunicação e expressão, é uma experiência de cultura, importante durante toda a vida humana. [...] o aspecto mais importante do brincar é que ele exige um fazer auto- organizado que desafia as crianças a pensar, propor, discutir, cooperar e deliberar, possibilitando a construção de valores, autonomia moral e capacidade de viver em sociedade. Em suma, reconhece-se o brincar como a ação mais complexa e séria da vida das crianças (BARBOSA, 2011, p. 38). No sexto e sétimo encontro foi possível evidenciar esta autonomia das crianças ao organizarem suas brincadeiras, envolvidas em seus interesses, sem deixar de respeitar também o dos seus parceiros. Nestes dias, encenaram vários shows em que as meninas vestiram-se com saias longas, sapatos com saltos altos e acessórios como coroas, brincos e pulseiras. Após, caracterizadas de cantoras, segundo elas, subiram no palco para realizarem a apresentação dos shows. Cantaram e dançaram demonstrando muita criatividade e disposição, pois naqueles dias, passaram o tempo todo envolvidos nestas brincadeiras. Um fato que chamou a atenção, foi a organização das crianças em relação ao tempo que cada possuía para se apresentar, demonstrando, que através desta brincadeira, elas exercitaram uma virtude muito importante, que é aguardar a sua vez. O relato que segue, demonstra 40 este respeito, pois, após cada criança se apresentar, uma das meninas sugere que cantem juntas, “Agora vamos juntas!!! Vem Amália e Manu, vamos fazer um show no palquinho. Vamos cantar a música da Frozen” (DIÁRIO DE CAMPO DA AUTORA). Este relato confirma a ideia apresentada anteriormente por Barbosa (2011), a qual ressalta a autonomia e organização das crianças na hora do brincar. Este momento pode ser visível no registro abaixo, realizado num dos encontros. Figura 12 – Momento de interação, no canto das fantasias. Fonte: elaborada pela autora. Esses momentos de brincar na brinquedoteca foram maravilhosos. A alegria das crianças ao cantarem, contagiou a todos que estavam naquele espaço. Eu, enquanto professora-pesquisadora, fui confirmando minhas ideias em relação ao brincar e motivando-me a cada encontro a desenvolver esta ação com as crianças, proporcionando a liberdade que necessitam para desenvolverem-se. Azevedo (2014, p. 46) reforça a ideia de que “A infância é livre. Para a criança, cantar é natural e oferece liberdade de produção.”. Foi possível observar que esta autonomia as impulsionava em determinados momentos, diversificar suas brincadeiras como demonstra o relato que segue: Após a apresentação no palco, as meninas foram para o canto da cozinha, onde brincaram de mãe e suas filhinhas, tendo algumas falas como: “quem quer comida a mãe vai dar.” “Filhinha vem comer.” “Filhinha não vai ganhar chupeta senão parar de chorar. Agora é hora de dormir.” (DIÁRIO DE CAMPO DA AUTORA). Já o grupo de meninos, nestes encontros se centrou no brincar com os carrinhos, eles levavam-os para diferentes espaços da brinquedoteca, não 41 restringindo a brincadeira ao canto do marceneiro, mas levando-os aos outros cantos como pode ser observado no registro que segue: Os meninos constroem estradas com madeirinhas para passarem com os carrinhos. Outros fazem garagem. Quando lhes pedia sobre o que estavam fazendo ressaltavam: “é uma garagem profe, para estacionar os carros.” “Nós estamos fazendo estradas.” E esta brincadeira foi se alastrando nos espaços da brinquedoteca (DIÁRIO DE CAMPO DA AUTORA). Este fato demonstrou que, mesmo que o canto do marceneiro e dos carrinhos era o mais frequentado pelos meninos, assim como, a preferência das meninas pelo canto das fantasias e da cozinha, as crianças não deixaram de explorar os outros espaços da Brinquedoteca. Na medida em que percebeu-se, por exemplo, os outros cantos ofereciam diferentes materiais e brinquedos que também os atraiam, em virtude da forma como eram expostos e oferecidos. Neste sentido, os cantos não determinaram o que deveriam brincar, uma vez que, as crianças extrapolavam seus limites como podemos observar no seguinte registro, assim como na imagem que segue: Figura 13 – Momento em que as crianças diversificam as brincadeiras nos espaços Fonte: elaborada pela autora. O canto da leitura que pouco era usado, também passou a ser explorado pelas crianças. Uma das meninas ao passar correndo por este espaço, parou e agarrou um dos livros, após começou a folhar o mesmo e correu para a cozinha, no qual sentou-se no chão e começou a ler livro que naquele momento passou a ser o livro de receitas (DIÁRIO DE CAMPO DA AUTORA). A oferta de materiais diversificados na brinquedoteca, como os livros, oportunizou as crianças uma ampliação de possibilidades de escolhas, o que consequentemente também ampliou suas aprendizagens. Paiva quando fala dos livros na Educação Infantil destaca: 42 Os livros de educação infantil fazem um novo tipo de companhia às crianças. Eles provocam ações ao entreter, comover, cativar, divertir, surpreender. Autênticos, sensoriais, convidativos, reveem o lugar superficial e corrido do passar de páginas pela viagem da exploração de um suporte sinalizador de deleite e aproximação espontânea (PAIVA, 2010, p. 13). Observei que as crianças demonstraram uma criatividade muito grande em explorar e interagir com o espaço oferecido e que mesmo este espaço sendo organizado em cantos lúdicos, as crianças não delimitavam suas brincadeiras. Contudo, ressalto a importância da oferta de espaços atrativos, com materiais e brinquedos diversificados que estejam ao alcance das crianças, assim como, a necessidade de planejar e organizar os momentos em que as crianças usufruem destes espaços sem restringir seu brincar. 43 4 CONSIDERAÇÕES EM RELAÇÃO AO QUE ME MOVEU À PESQUISA A referida pesquisa foi acontecendo e consequentemente as análises foram emergindo, fato que me possibilitou compreender as contribuições do brincar nas aprendizagens das crianças, assim como, a influência da organização dos espaços da brinquedoteca, nas escolhas das crianças. Compreendi que o espaço da brinquedoteca impulsionou as crianças a desenvolverem sua criatividade e imaginação, sendo que, através do brincar foram construindo-se enquanto seres sociais, passando a compreender, reproduzir e reconstruir o contexto em que vivem. O registro que segue, nos possibilita acompanhar alguns dos momentos em que as crianças se envolveram e se entregaram ao brincar: Figura 14 – Momentos de envolvimento das crianças Fonte: elaborada pela autora. 44 É necessário destacar que a brincadeira impulsionou as crianças a acreditarem em seus interesses, passando desta forma a compreenderem e expressarem suas particularidades. Contudo foi preciso compreender que a brincadeira é uma escolha livre da criança, um propósito, um instinto próprio, um interesse pessoal e que através da brincadeira, ela poderá representar algo que vivenciou ou aprendeu. Neste sentido, foi preciso compreender a necessidade da criança de experimentar e explorar o mundo que está ao seu redor, para tanto, o impulso foi dado através do brincar. Observei que através dos momentos que proporcionei às crianças, no espaço da brinquedoteca, elas aprenderam múltiplos conhecimentos, desenvolvendo-se enquanto seres múltiplos e particulares. As suas escolhas, na maioria das vezes, estavam ligadas ao contexto, as suas experiências e vivências do cotidiano. Em alguns momentos reproduziam e perpetuavam questões em relação ao gênero. Essa significação social dos papéis masculinos e femininos começa a ser construída desde que o bebê está na barriga da mãe. Quando se descobre que será menino ou menina, a família já começa a criar expectativas e a preparar o enxoval desse bebê conforme o seu sexo: rosa para menina e azul para menino. Quando a criança nasce, a família e a sociedade ensinam-lhe diferentes modos de pensar, de agir e de atuar que são influenciados de acordo com o seu sexo. Isso faz com que se reforce a desigualdade existente entre homens e mulheres (HASLINGER, 2013, p. 33). Partindo da ideia deste autor constata-se que o contexto influencia diretamente nas escolhas e na vida das crianças, sendo importante destacar que devemos possibilitar que as crianças se expressem de forma livre através do que eles mais gostam de fazer, que é o brincar, possibilitando desta forma, que se desenvolvam enquanto seres sociais. Vidal (2012) descreve que: Brincando as crianças acabam intensificando suas comunicações, cooperam, socializam, desta forma o brincar coletivo permite a descoberta de si mesmo e do outro, organizando assim suas ações, o que contribui também para a construção do sujeito e do conhecimento. Brincar é viver, é construção do ser humano, seja autônomo e criativo e instiga para o desenvolvimento da subjetividade (VIDAL, 2012, p. 159-160). Observei ainda que o brincar além de ser compreendido pelas crianças como uma atividade muito séria, possibilitou as crianças compreenderem o contexto em que vivem, criando e recriando livremente seus interesses, tornando-se protagonistas. Tudo isso, envolto a muita dedicação e alegria, o que pode ser 45 evidenciado nas brincadeiras que realizavam na brinquedoteca, conforme as imagens que seguem: Figura 15 – Envolvimento das crianças no momento das brincadeiras Fonte: elaborada pela autora. Na brinquedoteca, as crianças puderam brincar com prazer. Sentir-se à vontade, puderam imaginar, fantasiar, inventar e consequentemente aprender de forma prazerosa Horn e Silva me auxiliam a refletir sobre esta forma de aprender. O brincar na escola não pode ser visto como uma estratégia para trabalhar com conteúdos, o brincar não está apenas a serviço dos conteúdos escolares. Defendemos a perspectiva do brincar livre não pedagogizado ou não orientado pelo adulto para alcançar determinados objetivos de aprendizagem, mas sim o brincar com um fim em si mesmo, o prazer e o desejo de brincar, de inventar muitas coisas, fantasiar e interpretar o mundo, de estar livre para “ser” outras pessoas e personagens (HORN; SILVA, 2012, p. 47). A pesquisa Brinquedoteca: espaço de aprendizagem e diversão para e com crianças de 5 a 6 anos de idade, desenvolvida nesse Trabalho de Conclusão de Curso, corresponde às ideias ressaltadas pelas autoras, no qual minha postura, enquanto professora-pesquisadora, permitiu-me aprofundar-me no universo infantil. Desta forma, participar de momentos lúdicos, juntamente com as crianças, foi decisivo para compreender a importância destas vivências no cotidiano escolar, enquanto proposta pedagógica. Destaco, portanto as brinquedotecas nos contextos escolares, como sendo um espaço que deve ser visto enquanto recurso que amplia as possibilidades de aprendizagens das crianças, em especial da Educação Infantil, foco de minha investigação. Por representar um espaço em que as crianças ao brincarem 46 descobrem e aprendem. Neste sentido, a valorização do brincar nos espaços escolares, deve ser um dos fundamentos que rege a proposta pedagógica, por promover possibilidades para que as crianças possam se desenvolver de forma integral, uma vez que, a cada dia que passa observa-se que as mesmas são privadas de brincar, tendo este direito impedido devido a falta de espaços seguros que possam proporcionar esta ação, que em tempos passados era oferecido nas praças, nas ruas, enfim, em espaços públicos. Ao investigar o espaço da brinquedoteca foi possível reforçar a sua importância no desenvolvimento das crianças, na medida em que neste espaço interagiam, brincavam e consequentemente aprendiam através das múltiplas opções oferecidas, tanto na diversidade de cantos, como nos materiais, brinquedos, brincadeiras e propostas. Ressalto, que ao observar o encantamento das crianças neste espaço, no primeiro dia, em que ainda não haviam brinquedos, e os espaços organizados, foi possível perceber que isto não foi um empecilho para que desenvolvessem o brincar. Cunha (2011, p. 13) reforça esta ideia ao afirmar que: “a brinquedoteca pode existir também sem brinquedos, desde que outros estímulos às atividades lúdicas sejam proporcionadas”. Este espaço ao favorecer o brincar deve ser um ambiente lúdico, em que as crianças se sintam livres para se expressarem e compreenderem o seu dia-a-dia. Cada comunidade constrói a sua brinquedoteca e a organiza da sua forma, de acordo com sua cultura, mediando as aprendizagens e adequando-a ao público- alvo que a explorará. Segundo (Santos, 1997, p. 72). “Cada brinquedoteca é reflexo da comunidade que lhe dá origem”. Com base nas palavras da autora e pensando numa proposta que ofereça um espaço atraente, divertido, aconchegante, com uma variedade de brinquedos para as crianças, deve ser pensado, segundo Cunha (2011, p. 13), como “um espaço criado para favorecer a brincadeira”. Através desta pesquisa, pude perceber o quanto a ludicidade é importante na aprendizagem das crianças, na medida em que aprendem a partir dos seus interesses brincando e interagindo com os outros e com o conhecimento de forma livre. Precisamos estimular sempre mais a criatividade e valorizar toda a espontaneidade das crianças, enfim fazer com que aproveitem a infância deles e que brinquem ao máximo. Santos (2000, p. 14) fala que: “Além de resgatar o direito 47 à infância, a brinquedoteca tenta salvar a criatividade e a espontaneidade da criança tão ameaçadas pela tecnologia educacional de massa”. Neste sentido, seus espaços devem ser bem estruturados e planejados, com características que ofereçam estímulos as aprendizagens. Contudo, é importante atentar ao que ressalta Cunha (1995): É importante ressaltar que a brinquedoteca não é apenas um lugar que tem muitos brinquedos, mas uma instituição baseada numa proposta educacional, um lugar onde todo o know-how é voltado para a criação de uma atmosfera muito especial, onde o mágico, o lúdico, a criatividade e o afeto têm prioridade (CUNHA, 1995, p. 8). Esta foi a atmosfera que permeou ao longo da investigação, a qual contagiou as crianças, que demonstram diariamente seu interesse em brincarem no espaço da brinquedoteca, portanto esta passou a ser mais uma opção para a escola, na medida em que ofereceu possibilidades de criação, fantasia, imaginação, enfim de saberes. É importante destacar que a postura das crianças neste espaço da brinquedoteca, em que se comportavam de modo distinto ao da sala de aula, na medida em que, as interações entre eles eram mais ricas e mais ponderadas, o que evitava os conflitos que na maioria das vezes ocorriam em sala de aula. Este fato também ressalta a relevância deste espaço. Santos (2000) reforça esta importância ao afirmar que: A brinquedoteca tem uma mensagem a dar para a escola porque pode ajudar as crianças a formarem um bom conceito de mundo, um mundo onde a afetividade é acolhida, a criatividade estimulada e os direitos da criança respeitados. Um espaço assim não é comum: sem cobranças nem exigências de produtos. Este espaço tão pleno, tão cheio de oportunidades pode ser a terra fértil apropriada para a germinação de um novo homem capaz de construir uma nova humanidade (SANTOS, 2000, p. 22). Cada brinquedoteca deve ter sua função definida, voltada à valorização das ações lúdicas e do brincar livre. Um espaço inspirado nas ações lúdicas é aquele que tem como destaque o brincar, pois na educação infantil a criança aprende muito e leva para a vida futura e, acima de tudo, o que vivencia no cotidiano reflete nas próximas etapas da vida. Desta forma, ressalto que a brinquedoteca, em que desenvolvi esta pesquisa deu visibilidade à importância das ações lúdicas enquanto ações que estimulam a criatividade e consequentemente as aprendizagens. 48 Possibilitar que as crianças ficassem livres neste ambiente gerou reflexões importantes, na medida em que, através do mesmo, as crianças se sentiram desafiadas e motivadas a se entregarem às descobertas e às brincadeiras. Experimentando, interagiram com todos os cantos lúdicos da brinquedoteca, demonstrando suas preferências e muitas vezes reproduzindo o contexto que viviam, com muita disposição, empolgação e inspiração. Segundo Cunha (2011, p.15), “na brinquedoteca a construção do conhecimento é uma deliciosa aventura, onde a busca pelo saber é espontânea e prazerosa”. Este fato foi possível constatar ao ver o sorriso que carregavam em seus rostos, a cada dia que chegávamos na brinquedoteca. As brincadeiras e os brinquedos foram estímulo para as aprendizagens, além disso, também fontes de interação lúdica, uma vez que, na brinquedoteca as crianças tinham muito a aprender. Sendo sempre estimuladas enquanto seus potenciais de criança, sinalizavam-me constantemente a necessidade do planejamento, organização e tempo necessário para que realizassem suas fantasias e desejos. Desta forma, destaco a necessidade de um ambiente bem estruturado, elaborado, significativo, que permita a exploração, interação, experimentação das crianças, fato que demonstra que os modos como compreendemos e apresentamos estes espaços, interferem nas relações que as crianças estabelecem com o mesmo, assim como, com as ações que desenvolverão. Portanto destaco a importância destes espaços enquanto espaços convidativos à exploração, interações e múltiplas descobertas. Neste sentido as vivências proporcionadas ao longo da investigação reforçaram estas experiências retratadas nas imagens abaixo. 49 Figura 16 – Experiências lúdicas das crianças Fonte: elaborada pela autora. A brinquedoteca, que teve o intuito de oferecer uma variedade de brinquedos ao alcance das crianças, proporcionou atividades lúdicas. Desta forma, posso dizer que este espaço constitui-se de um ambiente sistematizado, onde a criança teve a oportunidade de acesso a uma grande variedade de brinquedos e um local preparado especialmente para o brincar. A mesma tornou-se também um apoio para os professores no desenvolvimento de sua prática pedagógica. Constitui-se como um espaço de socialização, seja entre as crianças próprias, como nos momentos de compartilhar o brinquedo, contribuindo assim para o desenvolvimento e aprendizagem das crianças. 50 Finalizo este meu trabalho com as reflexões de Horn e Silva (2012): [...] quando o brincar alcançar um maior espaço nas atividades desenvolvidas em sala de aula ou as atividades apoiarem-se no brincar livremente, não será necessária a preocupação exaustiva do professor no desenvolvimento da parte intelectiva das crianças. O brincar será pano de fundo desta rotina e isto também será suficiente e satisfatório para o desenvolvimento de qualquer atividade. No entanto, acreditamos que não basta “dar” às crianças o direito de brincar. Para ser uma atividade significativa, é preciso despertar e manter seu desejo pelo brincar. Não basta apenas ampliar o tempo no pátio ou aumentar os estoques de brinquedos na sala, pois isso implicará, principalmente, numa nova postura do professor diante da brincadeira e diante do espaço em que ela acontece. (HORN; SILVA, p. 49-50 apud MUNHOZ; SILVA; BERSCH, ISSE, 2012). É muito importante, portanto, destacar que através dos achados desta investigação será possível ampliar as ideias em relação ao brincar, fato que auxiliará a promover situações lúdicas nos espaços escolares, em especial na Educação Infantil, foco desta pesquisa. Desenvolvendo desta forma, a ideia em relação ao brincar e os espaços que promovem estas ações - as brinquedotecas, enquanto possibilidades que estimulam a criatividade, a inteligência, desenvolvendo consequentemente múltiplas habilidades e desta forma, a criança vai experimentando o mundo que a cerca. 51 REFERÊNCIAS AZEVEDO, Silvana. Quem tem boca entra na roda. In: Revista Pátio Educação Infantil, Ano XII, nº 38, Jan/Mar 2014, p.44-47. 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As fotografias e as filmagens que serão geradas terão o propósito único de pesquisa, respeitando-se as normas éticas quanto ao seu uso e ao sigilo nominal. Esse trabalho pode contribuir no campo educacional, por isso, autorizo a divulgação das imagens fotográficas, filmagens, observações para fins exclusivos de publicação e divulgação científica e para atividades formativas de educadores. Lajeado/RS, _____ de _____________________________ de 2015. Assinatura dos pais: ______________________________________. Aluna Estagiária:____________________________________________ 56 APÊNDICE B – Termo de Consentimento Informado para a direção da escola TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO Eu, ________________________________, diretor (a) desta instituição de ensino autorizo a aluna estagiária Ivana Schneider Kremer através do Trabalho de Conclusão de Curso, do Curso de Pedagogia - PARFOR do Centro Universitário UNIVATES – Lajeado/RS a realizar suas práticas junto a Turma do Jardim B. Fui esclarecido(a) de que a pesquisa poderá se utilizar de observações, gravações em DVD, imagens fotográficas e filmagens de situações do cotidiano escolar. As fotografias e as filmagens que serão geradas terão o propósito único de pesquisa, respeitando-se as normas éticas quanto ao seu uso e ao sigilo nominal. Esse trabalho pode contribuir no campo educacional, por isso, autorizo a divulgação das imagens fotográficas, filmagens, observações para fins exclusivos de publicação e divulgação científica e para atividades formativas de educadores. Lajeado/RS, _____ de _____________________________ de 2015. Assinatura da direção: ______________________________________. Aluna Estagiária: __________________________________________