CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES 

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU 

MESTRADO EM ENSINO 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

EXPERIÊNCIAS VISUAIS DE SUJEITOS SURDOS: ENCONTROS 

COM A FOTOGRAFIA 

 

 

Aline Rodrigues 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Lajeado, junho de 2015



Aline Rodrigues 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

EXPERIÊNCIAS VISUAIS DE SUJEITOS SURDOS: ENCONTROS 

COM A FOTOGRAFIA 

 

 

Dissertação apresentada ao Programa de 

Pós-Graduação, Mestrado em Ensino do 

Centro Universitário Univates, como parte da 

exigência para a obtenção do grau de 

Mestre em Ensino na linha de pesquisa 

Ciência, Sociedade e Ensino. 

 

Orientadora: Profa. Dra. Angélica Vier 

Munhoz 

 

Coorientadora: Profa. Dra. Morgana 

Domênica Hattge 

 

 

Lajeado, junho de 2015



 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
Ficha catalográfica elaborada por Maristela Hilgemann Mendel – CRB-10/1459 

 
R696d    Rodrigues, Aline 

 
     Experiências visuais de sujeitos surdos: encontros com a 
fotografia / Aline Rodrigues. Lajeado, 2015.                                                                      
     93 f. 

     Dissertação (Mestrado em Ensino) – Centro Universitário       
     Univates, Programa de Pós-graduação Stricto Sensu, 2015. 
     Orientação: Dra. Angélica Vier Munhoz 
     Coorientação: Dra. Morgana Domênica Hattge 

 

     1. Educação – Surdez – Filosofia. 2. Sujeito surdo – 
Experiências visuais. Fotografia I.Título 

 
 

CDU:376.353:1 



Aline Rodrigues 

 

 

 

 

EXPERIÊNCIAS VISUAIS DE SUJEITOS SURDOS: ENCONTROS 

COM A FOTOGRAFIA 

 

 

 

A Banca Examinadora abaixo aprova a Dissertação apresentada ao Programa de 

Pós-Graduação em Ensino, como parte da exigência para obtenção do grau de 

Mestre em Ensino, na linha de pesquisa Ciência, Sociedade e Ensino. 

 

 

______________________________________________________________ 

Profa. Dra. Angélica Vier Munhoz – Orientadora 

 

______________________________________________________________ 

Profa. Dra. Morgana Domênica Hattge – Coorientadora 

 

______________________________________________________________ 

Profa. Dra. Betina Silva Guedes – UNISINOS 

 

______________________________________________________________ 

Prof. Dr. Cristiano Bedin da Costa – Centro Universitário UNIVATES 

 

______________________________________________________________ 

Profa. Dra. Suzana Schwertner – Centro Universitário UNIVATES/PPGEnsino 

 

 

 

Lajeado, 15 de junho de 2015



AGRADECIMENTOS 

Inicialmente, agradeço à professora Angélica Vier Munhoz, que, sem medir 

esforços e horários, respondia meus e-mails e minhas dúvidas e corrigia minhas 

escritas sempre com palavras de estímulo, incentivando-me a caminhar. Agradeço 

também à professora Morgana Domênica Hattge, minha coorientadora, que, em 

meio a todas as exigências que uma coordenação do curso de Pedagogia demanda, 

sempre leu com carinho meus escritos, fazendo as devidas correções e 

observações. 

Da mesma forma, agradeço aos mestres com quem convivi durante este 

curso de Mestrado, por movimentarem meu pensamento e ajudarem-me a fazer 

escolhas. Um agradecimento especial ao professor Cristiano Bedin da Costa, que, 

nos encontros em aulas e em grupos de estudos, me apresentou o apaixonante 

Barthes. Falando em mestres, não posso me esquecer de agradecer ao professor 

Luciano Bedin da Costa, que sempre me encanta pela escrita poética e pelo charme 

intelectual que carrega consigo.  

Agradeço também, com carinho, aos funcionários da Secretaria do Pós da 

UNIVATES, que sempre estiveram dispostos a ajudar a sanar as minhas dúvidas. 

Obrigada à CAPES por financiar esta pesquisa por meio da bolsa PROSUP/TAXA. 

Agradeço aos meus parceiros mestrandos que comigo dividiram angústias, 

alegrias e apresentações em eventos, os de longe e os aqui de perto, em especial à 

Cris, com quem sempre dei boas risadas, e à Cláudia, com quem estabeleci uma 

especial parceria. Obrigada também à Ana e à Fran, com quem experimentei um



lugar novo, um país diferente, trilhos pelos quais jamais pensei que passaria, lugares 

encantados que, juntas, exploramos. Pois é, meninas, como ouvimos um dia, “La 

conparsa final” chegou. 

Por falar em colegas e amigas, agradeço à Adri e à Goia, com quem também 

dividi minhas angústias e dificuldades e de quem sempre recebi palavras de apoio. 

Obrigada aos colegas do grupo de pesquisa Currículo, Espaço, Movimento 

(CEM/CNPq/Univates) e do projeto de extensão Formação Pedagógica e 

Pensamento Nômade, dos quais participei neste período de Mestrado. Agradeço aos 

bolsistas, pesquisadores e, em especial, às professoras Fabi e Cláudia, com quem 

compartilhei escritas e comemorei quando estas foram publicadas. 

Agradeço à família. À minha irmã e a meus pais, pelos puxões de orelhas; ao 

meu noivo, agradeço pela confiança que sempre depositou em mim e pela paciência 

que sempre teve, a cada vez que eu sentava no sofá para tomar chimarrão com o 

computador no colo, escrevendo ou estudando para a dissertação, muitas vezes 

com o pensamento longe das conversas que permeavam nosso espaço.  

Também um agradecimento especial aos caminhantes que comigo trilharam 

pelas estradas nebulosas desta dissertação. Enfim, obrigada a todos que, de uma 

maneira ou de outra, contribuíram para que esta dissertação pudesse ser concluída. 

 

 



RESUMO 

Um clique. Uma luz. Um registro. Um afecto. A fotografia a partir das experiências 
visuais. O que registrar surge do inesperado. Uma caminhada por instantes. Diante 
do sol, da chuva, do dia, da noite: uma vida. Caminhadas carto(foto)grafadas, 
buscando dar passagem ao que captura, na leveza dos acontecimentos, sob 
tentativas de desviar o tempo. Experiência que se faz e desfaz, entre meu 
corpo, sujeitos surdos, uma máquina fotográfica e movimentos. Nessa medida, o 
propósito desta pesquisa foi articular uma relação entre o caminhar como prática 
permeada por afectos e um olhar para as singularidades de sujeitos surdos, em 
meio a teorizações de filósofos da diferença, entre eles, Gilles Deleuze e Roland 
Barthes. Nesse trajeto, alguns rastros foram traçados, percebendo-se que um sujeito 
surdo pode ser pensado pela sua imprevisibilidade. O que o toca, toca-o de maneira 
singular, na potência da sua diferença, como um gesto criador de Caminhando, obra 
de Lygia Clark (1964). Às vezes, um sujeito inacabado, em movimento de constante 
recusa à fixação. Em muitas outras, apenas um sujeito capturado por linhas 
estratificadas. Ao finalizar a pesquisa, percebe-se que a entrega do sujeito é sempre 
algo difícil, de modo que, ao rastrear definições e representações, fixa-se mais na 
objetividade e brevidade. 
 
Palavras-chave: Sujeito surdo. Experiência visual. Fotografia.  
 



ABSTRACT 

A click. A light. A record. Affectio. Photography regarded from visual experiences. 
The unexpected determines what must be recorded. Walking for a while. Before the 
sun, the rain, the day, the night: a life. Carto(photo)graphed walking, trying to give 
way to what captures in the lightness of the events, in attempts to deviate time. 
Experience that does and undoes between my body, deaf subjects, a camera and 
movements. The purpose of this research is to articulate a relationship between 
walking as a practice permeated with affectios and a look at the singularities of deaf 
subjects amidst theorizations by philosophers of difference, such as Gilles Deleuze 
and Roland Barthes. Along this way, some trails have been traced, and deaf subjects 
can be thought from their unpredictability. That which touches them, does it in a 
singular way, in the potency of their difference, as a creating gesture in Walking, by 
Lygia Clark (1964). Sometimes, an unfinished subject in a movement of constant 
refusal to fixation. In many other times, just a subject captured by stratified lines. By 
concluding the research, it is possible to perceive that subject surrender is always 
something difficult; by tracking definitions and representations, it is more fixed on 
objectivity and brevity.  
 
Keywords: Deaf subject. Visual experience. Photography. 
 
 



LISTA DE IMAGENS 

Imagem 1 - A palavra sujeito em LIBRAS ................................................................. 14 

Imagem 2 - Caminhando ........................................................................................... 44 

Imagem 3 - O instante ............................................................................................... 48 

Imagem 4 - A fisgada ................................................................................................. 49 

Imagem 5 - Fotografia produzida pela caminhante A ................................................ 53 

Imagem 6 - Fotografia produzida pela caminhante A ................................................ 54 

Imagem 7 - Fotografia produzida pela caminhante A ................................................ 54 

Imagem 8 - Fotografia produzida pela caminhante B ................................................ 56 

Imagem 9 - Fotografia produzida pela caminhante B ................................................ 56 

Imagem 10 - Fotografia produzida pela caminhante B .............................................. 57 

Imagem 11 - Fotografia produzida pela caminhante C .............................................. 59 

Imagem 12 - Fotografia produzida pela caminhante C .............................................. 60 

Imagem 13 - Fotografia produzida pela caminhante C .............................................. 61 

Imagem 14 - Fotografia produzida pela caminhante C .............................................. 62 

Imagem 15 - Fotografia produzida pela caminhante C .............................................. 63 

Imagem 16 - Fotografias produzidas pela pesquisadora ........................................... 64 

Imagem 17 - Fotografias produzidas pela caminhante C .......................................... 64 

Imagem 18 - Fotografias produzidas pela caminhante C .......................................... 65 

Imagem 19 - Fotografia produzida pela caminhante C .............................................. 66 

Imagem 20 - Emaranhado ......................................................................................... 66 

Imagem 21 - A dança diante dos olhos ..................................................................... 79 

Imagem 22 - O banco ................................................................................................ 81 

Imagem 23 - Linhas de vida ...................................................................................... 82 



SUMÁRIO 

1 APROXIMAÇÕES COM A TEMÁTICA, EXPERIÊNCIAS E CAMINHOS 
PERCORRIDOS: BREVES AFECÇÕES .................................................................. 10 
 
2 TRILHOS JÁ DELINEADOS HISTORICAMENTE: AS REPRESENTAÇÕES DA 
SURDEZ.................................................................................................................... 14 

2.1 Passos históricos, sociais e culturais da surdez ........................................... 14 

2.2 Percalços da caminhada ................................................................................... 27 
 
3 DOS SUJEITOS SURDOS ..................................................................................... 32 

3.1 Sujeitos surdos atravessados pela experiência visual .................................. 32 
 
4 TRAJETOS ERRANTES... ..................................................................................... 41 

4.1 Atravessamentos metodológicos .................................................................... 43 
 
5 INTENSIDADES ..................................................................................................... 52 
 
6 ALGUMAS COSTURAS POSSÍVEIS .................................................................... 68 
 
7 DOS DESENCONTROS, DAS ENCRUZILHADAS ............................................... 73 
 
8 DEVANEIOS FINAIS .............................................................................................. 79 
 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 83 
 
APÊNDICE ................................................................................................................ 91 

APÊNDICE A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ............................. 92 



10 

1 APROXIMAÇÕES COM A TEMÁTICA, EXPERIÊNCIAS E 

CAMINHOS PERCORRIDOS: BREVES AFECÇÕES 

Escrever. Ah, a escrita. Lugares. Onde poderia sentar? Onde me concentrava 

mais? O que me tirava a concentração? Escrever no balanço, no banho? Em quais 

horários? As ideias fluíam à noite, à tarde? Existia um lugar correto? Assim se deu a 

escrita, em meio a desanimadas e levantadas de cabeça – levantar a cabeça, no 

sentido apontado por Barthes (2012), como um movimento que produz fluxos de 

ideias, excitações, associações entre acontecimentos experienciados ou enquanto 

cortes do texto e retornos a ele com ideias nutridas. Interrogava a escrita, buscando 

conexões no "texto que escrevemos em nossa cabeça quando a levantamos" 

(BARTHES, 2012, p. 27). Estes movimentos pulsavam, dispersavam, disseminavam 

meu pensamento, que levava a "outras ideias, outras imagens, outras significações" 

(Ibidem, p. 28). 

Sentar e/para escrever. O quê? Sobre o quê? Infância, escola, alunos? Não, 

estes temas já fizeram parte das trajetórias do curso Normal e da graduação de 

Pedagogia. Outros desejos, outros ares. Em busca de ampliação de conhecimentos 

e permissão de novas experiências. Muitas possibilidades, uma escolha: surdos. 

Convivendo com alguns sujeitos surdos no Centro Universitário Univates há quatro 

anos, perguntas e dúvidas sobre eles foram surgindo.  

A multiplicidade dos sujeitos surdos com quem entrava em contato na 

instituição instigava-me a pensar suas relações com o mundo. Entendo essa 

multiplicidade não como um sinônimo de organismo, mas de potência, força que 



11 

permeia a vida. Nos encontros anteriores a esta pesquisa, discordava da imagem 

que alguns colegas estudantes demonstravam ter em relação aos surdos e do olhar 

que alguns professores lançavam sobre eles. Certos professores, por vezes, 

pareciam referir-se aos surdos como sujeitos sem singularidades, sob a ótica da 

normalização, enquadrando-os como seres anormais, sem possibilidades, incapazes 

de aprender.  

Ressalto que alguns poucos docentes, nos encontros, proporcionavam aos 

surdos momentos para que estes manifestassem suas singularidades, o que lhes 

proporcionava satisfação por poderem externar suas potencialidades. Pensava nas 

forças a que esses sujeitos eram submetidos e como algumas mudanças que 

ocorriam em suas vidas eram singulares e, ao mesmo tempo, controladas.   

Escolhi escrever sobre sujeitos que nem sempre são olhados, nem sempre 

são ouvidos, melhor dizendo, sujeitos que são percebidos, em grande parte das 

vezes, enquanto uma identidade. Tema escolhido. A escrita, desafiadora. E, então, o 

que fazer neste momento? Comecei a mapear leituras em alguns bancos de dados a 

respeito da temática. Busquei Lume e Scielo, entre outros. 

Ao pesquisar sobre surdos em referenciais acadêmicos, encontrei estudos 

voltados para a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e intérpretes. Uma intenção – 

pista – desejo: sair do já dito. Inicialmente, pensei em estudar a escrita do surdo. 

Escolha feita, orientações marcadas, leituras sugeridas e questionamentos surgindo: 

desejo possibilidades para enquadrar e normalizar os sujeitos ou potencializar as 

singularidades? A segunda opção. Algumas poucas leituras se fechando, e muitas se 

abrindo. O que escolher neste momento? Mais e mais possibilidades abriam-se; a 

cada encontro, aproximava-me mais dos filósofos da diferença, entre eles, Deleuze, 

Guattari e Barthes. Outras tessituras que cruzam a vida, o quanto cada signo ressoa 

em nós – sujeitos, rizomas, ligações, tramas, e não cópias ou moldes. Um clique: 

sujeito surdo + experiências visuais. Novas buscas nos sites “científicos”. Poucas 

pesquisas sobre esta temática foram localizadas1, o que me levou a questionar e me 

                                                 
1
 Da busca realizada, as pesquisas encontradas sobre a temática foram: A experiência visual e a arte 

produzindo subjetividades surdas (BATAGLIN, 2012); Letramento visual com professores surdos 
(LEBEDEFF, 2010); Experiência visual como elemento facilitador na educação em ciências para 
alunos surdos (PINTO et al., 2011) e Educação física e surdez: a experiência visual nas práticas 
corporais escolares (ZIBENBERG, 2008). 



12 

desafiar a pensar sujeitos que experienciam a vida visualmente. O intuito não era 

buscar respostas, mas o desejo de saber mais a respeito. 

O interesse em refletir sobre questões relacionadas à vida tem 

incessantemente me acompanhado, levando-me, neste momento, a aproximar-me 

de estudos acerca dos surdos. O encontro com sujeitos surdos ampliou meus 

conhecimentos, e aprendi uma forma de comunicação por meio da LIBRAS. 

Os contatos mantidos com os surdos transformaram-se em encontros 

potentes, já que sempre procurei sair do lugar e das ideias historicamente 

construídas, criando outros movimentos. Inserida nesse contexto e aberta ao fluxo 

do pensamento, e não ao seu congelamento, aproximei-me das teorias de Gilles 

Deleuze e Roland Barthes sobre conceitos que se cruzam com a vida, relacionando-

os às experiências vivenciadas junto a um grupo de surdos. 

Parecia que algumas pistas estavam sendo traçadas. Leituras continuavam 

sendo feitas, e cada conceito que surgia parecia cruzar com a escrita que estava 

fazendo. Resultado: excesso de conceitos. Banca de qualificação. Eleição, escolhas, 

diminuição dos conceitos a serem explorados e aprofundados na dissertação. 

Caminhos abrindo-se, sugestões de leituras de colegas, professores, amigas e da 

banca de qualificação, ligações, aproximações e inquietudes.  

Como um sujeito surdo é afectado por outras vias que não a representação? 

Essa questão logo me intrigou, e passei a entendê-la como problema de pesquisa, 

que se desdobrou no objetivo: compreender os modos pelos quais alguns sujeitos 

surdos se singularizam e como potencializam sua vida. De forma mais específica, 

outro objetivo foi criado: carto(foto)grafar os afectos produzidos pelos sujeitos surdos 

em encontros com a fotografia. 

Palavras como brechas e escapes aguçavam os sentidos. Diferentemente de 

uma sociedade que nos obriga a viver de acordo com determinadas regras, pensei 

em linhas de fuga2 que possibilitam abrir caminhos às singularidades de cada 

sujeito, não os aprisionando, mas abrindo espaços para suas singularidades, para 

                                                 
2
 Deleuze e Guattari (1996) referem-se às linhas de fuga como um rompimento de raízes, pensando 

em novas conexões. Nas palavras do filósofo, “quanto às linhas de fuga, estas não consistem nunca 
em fugir do mundo, mas antes em fazê-lo fugir...” (DELEUZE GUATTARI, 1996, p. 72). 



13 

mostrar suas afecções. Sobre afectos, Deleuze (2006) afirma que se trata de algo 

pluralista, uma vez que cada sujeito é afectado de forma diferente, percebendo a 

vida de maneira singular. Nesse sentido, 

Cada sujeito exprime o mundo de um certo ponto de vista. Mas o ponto de 
vista é a própria diferença, a diferença interna e absoluta. Cada sujeito 
exprime, pois, um mundo absolutamente diferente e, sem dúvida, o mundo 
expresso não existe fora do sujeito que o exprime (DELEUZE, 2006, p. 40). 
 

Esta dissertação compõe-se de um primeiro capítulo, que aborda as 

representações do sujeito surdo, trazendo alguns trilhos delineados historicamente. 

No segundo capítulo, busca-se pensar os sujeitos surdos e seus atravessamentos 

visuais. No terceiro capítulo, o objetivo é tecer uma aproximação de sujeitos surdos 

com a carto(foto)grafia enquanto método escolhido, operando com a fotografia como 

experiência do olhar, experiência visual. No capítulo quarto, são tramadas algumas 

intensidades em torno da pesquisa, seus encontros e seus fluxos. Já no capítulo que 

o sucede, algumas costuras são realizadas, mostrando as experiências dos 

encontros com os sujeitos surdos - caminhantes. Ao final, apresenta-se um capítulo 

sobre os desencontros, os descaminhos e as encruzilhadas encontradas no decorrer 

da produção da dissertação. 

 



14 

2 TRILHOS JÁ DELINEADOS HISTORICAMENTE: AS 

REPRESENTAÇÕES DA SURDEZ 

Imagem 1 – A palavra sujeito em LIBRAS 

 
 

Fonte: Montagem realizada pela autora a partir de arquivo pessoal. 

Neste capítulo, busco um resgate histórico, social e cultural do que marcou a 

surdez, entre discursos médicos, sociais e educacionais. Algumas representações 

culturais tecem a história dos surdos e são aqui mapeadas, problematizando-se os 

discursos que produzem as identidades dos surdos. A intenção não é somente 

apresentar estes discursos, mas mostrar os tensionamentos que eles vão 

produzindo.  

 

2.1 Passos históricos, sociais e culturais da surdez 

Percebemos que, até o século XVI, o surdo era classificado e identificado 

como marginalizado e anormal, geralmente sendo preso e escondido em casa pela 

família, que se envergonhava de mostrar para a sociedade que havia uma pessoa 

surda em seu meio. Nesse período, o surdo era denominado e visto apenas como 



15 

deficiente auditivo. Os surdos eram considerados pelas famílias como um castigo de 

Deus e, para a sociedade, eram improdutivos, por isso, inúteis. Thoma (2006, p.11) 

afirma que “[...] os filhos defeituosos de tais famílias eram retirados da visão pública 

pela vergonha que causavam, pois eram considerados resultados das depravações 

ou pecados cometidos por seus pais”. 

Nas sociedades antigas, os surdos eram castigados devido à sua condição de 

não-ouvintes e não-falantes. Essa condição colocava-os no lugar de não-normais ou 

não-perfeitos. Sobre esta prática, Lunardi (2004, p. 23) diz que “tanto loucos, 

doentes mentais, criminosos e populações marginais quanto qualquer outro 

‘anormal’ deveriam ser isolados [...]”. 

No século XVI, ou no período moderno, na Espanha, surgem os primeiros 

educadores de surdos. O monge Pedro Ponce de Leão (1520-1548) inicia a 

educação dos surdos com uso da língua de sinais e do alfabeto manual, além de 

fundar uma escola de professores surdos. Nas palavras de Thoma (2006, p. 11), “[...] 

D. Pedro Ponce de Leão, na Espanha, inicia um trabalho voltado a desenvolver a 

fala (oral) nos então denominados surdos-mudos”. Ainda de acordo com Thoma 

(2006), com estas iniciativas do monge, os trabalhos foram ganhando força, tanto 

que o século XVIII ficou marcado como o período mais fértil da educação de surdos, 

devido ao aumento do número de escolas e do ensino da língua de sinais. 

Estas práticas sobre a língua foram se disseminando também na Inglaterra, 

Portugal e França, tendo como destaque, em 1750, o abade francês Michel de 

L’Epée, que criou os Sinais Metódicos. O método criado por ele foi uma combinação 

da língua de sinais com gramática sinalizada francesa, além de definir a mímica 

como linguagem materna e concluir que os gestos são os meios de comunicação 

dos surdos. Este educador transformou sua casa em escola pública e acreditava que 

todos os surdos deveriam ter acesso à educação. Pode-se perceber aqui um 

discurso de salvação religiosa, com um caráter de caridade. Segundo Lopes (2007, 

p. 45), 

O método de L’Epée consistia em ensinar sinais que correspondiam a 
objetos específicos e mostrar desenhos quando queria que os surdos 
compreendessem algumas ações, depois procurando associar o sinal com a 
palavra escrita em francês. Quando não havia um sinal para expressões 
abstratas, L’Epée buscava diretamente na visibilidade da escrita uma 
explicação. Diferentemente da compreensão da língua de sinais 



16 

estabelecida e utilizada pelos surdos quando estão próximos de outros 
surdos, os métodos do abade encerravam a operacionalização da 
aprendizagem. 
 

De acordo com Thoma (2006), L'Epée iniciou o trabalho de instrução formal 

com duas surdas, a partir da língua de sinais falada nas ruas de Paris. Sua instrução 

foi baseada na datilologia/alfabeto manual e sinais criados, obtendo grande êxito, de 

modo que, a partir dessa época, a metodologia por ele desenvolvida se tornou 

conhecida e respeitada, assumida pelo então Instituto de Surdos e Mudos (atual 

Instituto Nacional de Jovens Surdos), em Paris, como o caminho correto para a 

educação dos seus alunos. Thoma (2006, p. 11) mostra-nos que 

[...] L’Epée, na França, inicia a instrução formal de duas crianças surdas, 
com grande êxito. Em 1760, transforma sua casa na primeira escola pública 
para surdos (Instituto de Surdos e Mudos, em Paris), utilizando uma 
abordagem denominada “gestualista”. 
 

No mesmo século, a Alemanha e os Estados Unidos realizavam seus 

estudos, e, em 1754, o alemão Samuel Heinick trabalhou a filosofia oralista. Em 

1815, Thomas Hopkins Gallaudet e Laurent Clerc adaptam os estudos da língua de 

sinais francesa para o inglês, sendo então fundada a primeira universidade para 

surdos nos Estados Unidos em 1864. Neste período, houve uma elevação no grau 

de escolarização dos surdos, que podiam aprender com facilidade as disciplinas 

ministradas em língua de sinais.  

Porém, o oralismo passa a ter força, e surgem oposições à língua de sinais. 

No ano de 1880, em Milão, na Itália, ocorreu o 1º Congresso Mundial dos Surdos, 

que passou a considerar que o uso simultâneo da fala e dos gestos mímicos tinha a 

desvantagem de impedir o desenvolvimento da fala da leitura labial e da precisão 

das ideias. É declarado, então, que o método oral puro deveria ser preferido de 

forma definitiva e oficial. Dos 164 representantes presentes, apenas cinco dos 

Estados Unidos não votaram em favor do oralismo. Assim, a língua de sinais foi 

proibida, o que provocou tensões na educação de surdos. Sobre as tentativas de 

fazer as pessoas surdas falarem, Lopes (2004, p. 41) diz que 

[...] sempre diferentes dos outros e de si mesmas, nessa lógica ouvintista e 
normalizadora, as pessoas surdas deviam, para poder estar incluídas, 
aprender a falar, pois estariam mais próximas de um lugar de normalidade 
tido e inventado como sendo o referente. 
 

Neste momento da história, a cultura surda foi vista como reduzida a déficits 



17 

sensoriais, que deveriam ser corrigidos mediante o treino da fala, sendo ela 

indispensável quando se trata de aceitação social. Assim, a surdez é vista como 

uma patologia e por isso precisa de tratamento médico. Neste contexto, surgem as 

pedagogias corretivas, e na escola os surdos deveriam sentar sobre as mãos para 

que não tivessem nenhuma possibilidade de usar os sinais. 

Apesar de tal mudança, os códigos de sinais não chegaram a ser eliminados, 

mas simplesmente foram conduzidos à marginalização. O atendimento aos surdos 

ficou voltado à filantropia e ao assistencialismo: os indivíduos eram entregues pelas 

famílias às instituições e aos asilos, em regime de internato. 

Existiram tentativas de resgate dos surdos do anonimato durante o século XX, 

contudo, o ouvintismo cada vez mais ganhava força e legitimidade pelos discursos 

científicos, sobretudo pela visão clínica, que, de modo geral, encarava a surdez 

como uma doença. Sobre esta visão, Gesser (2009, p. 67) afirma que “o discurso 

médico tem muito mais força e prestígio do que o discurso da diversidade [...]”. 

Nos Estados Unidos, Gallaudet, influenciado por L’Epée, nunca aceitou a 

imposição do Congresso de Milão e não concordou com a mudança para uma 

metodologia oral; por isso, em 1960, é implantada a filosofia da Comunicação Total 

naquele país. William Stokoe prova que a linguagem gestual, de natureza visual-

espacial, tem estrutura e aspectos próprios, como qualquer língua. A partir destes 

estudos, começou a modificar-se a visão dos surdos pela sociedade e surgiram 

diversas pesquisas sobre a língua de sinais e sua aplicação na educação e na vida 

do surdo. As décadas de 1980 e 1990 marcaram o desenvolvimento da filosofia 

bilíngue, que, a partir de então, se popularizou pelo mundo. De acordo com Klein 

(2004, p. 90), falar de bilinguismo é um “reconhecimento do direito das crianças que 

usam uma língua diferente da língua majoritária de receber a educação na sua 

língua”. 

No Brasil, percebemos a convivência, mesmo que conflituosa, das três 

principais abordagens pedagógicas: Oralismo3, Comunicação Total4 e Bilinguismo5. A 

                                                 
3
 Contrário à língua de sinais, o oralismo acreditava que a língua oral era a única forma possível de 

comunicação. 
 
4
 A Comunicação Total foi desenvolvida em meados de 1960, após o fracasso do oralismo puro para 

muitos sujeitos surdos, que não tiveram o sucesso esperado na leitura de lábios e emissão de 



18 

educação surda iniciou no Brasil durante o Segundo Império, quando Dom Pedro II 

trouxe o professor surdo francês Eduard Huet para ser diretor do Instituto Nacional 

de Surdos-Mudos (atual Instituto Nacional de Educação dos Surdos – INES), 

fundado em 1857 no Rio de Janeiro. Segundo Thoma (2006, p. 12), 

A educação dos surdos no Brasil foi fortemente influenciada por um 
professor surdo francês que veio ao país em 1857 a convite de D. Pedro II. 
Eduard Huet cria, nesse mesmo ano, o Instituto Nacional dos Surdos-Mudos 
(INSM) e começa suas atividades em uma sala do Colégio Wassiman 
(centro da cidade do Rio de Janeiro), atendendo duas crianças surdas. O 
atendimento desse Instituto priorizou a educação oralista durante um longo 
período por acreditar que era inútil tentar ensinar os surdos a escrever, já 
que o analfabetismo era condição da maioria da população brasileira. Por 
isso, a fala era o único modo pelo qual os surdos poderiam integrar-se na 
sociedade e no mercado de trabalho. 
 

Em 1873, ocorre a publicação do mais importante documento da época sobre 

a Língua Brasileira de Sinais, Iconographia dos Signaes dos Surdos-Mudos, de 

autoria do aluno surdo Flausino José da Gama, ex-aluno do Instituto Nacional de 

Educação de Surdos-Mudos, com ilustrações de sinais separadas por categorias 

(animais, objetos). Esta linguagem não é mais usada atualmente.  

No ano de 1930, o Dr. Armando Paiva Lacerda, ex-diretor do INES, exige que 

os alunos não usem a língua de sinais, podendo apenas utilizar o alfabeto manual e 

um bloco de papel com lápis no bolso para escrever as palavras que quisessem 

comunicar. Esse movimento perdurou até 1947, quando os surdos já não 

conseguiam mais se adaptar a essa imposição do Oralismo e continuaram a usar a 

língua de sinais e o alfabeto manual. No entanto, alguns professores e inspetores 

burlam as ordens na comunicação com os alunos surdos. Em 1957, é totalmente 

proibida a utilização da língua de sinais no INES. 

O termo deficiência auditiva começa a surgir em 1950, com o crescente poder 

                                                                                                                                                         
palavras. A Comunicação Total consistia no uso simultâneo de palavras e sinais, ou seja, no uso 
simultâneo de uma língua oral e de uma língua sinalizada. Disponível em: 
<http://www.pead.faced.ufrgs.br/sites/publico/eixo7/libras/unidade3/comunicacao_total.htm>. Acesso 
em: 06 abr. 2015. 
 
5
 O bilinguismo, como proposta para a educação de surdos, surgiu na década de 80. Esta linha 

teórica defende que o aprendizado da língua sinalizada deve preceder o da língua oral, utilizada na 
comunidade à qual o surdo pertence. Nesta proposta, entende-se a língua sinalizada como materna 
para o sujeito surdo, devido às suas características, por primazia visual, que compensam eficazmente 
a falta de comunicação, situação imposta pela deficiência auditiva. Disponível em: 
<http://www.webartigos.com/artigos/bilinguismo-e-a-educacao-de-surdos/67821/#ixzz3eawrkavI>. 
Acesso em: 06 abr. 2015. 

http://www.pead.faced.ufrgs.br/sites/publico/eixo7/libras/unidade3/comunicacao_total.htm
http://www.webartigos.com/artigos/bilinguismo-e-a-educacao-de-surdos/67821/#ixzz3eawrkavI


19 

do método oralista francês, que cresce em todo o Brasil, sob a responsabilidade da 

professora Alpia Couto, que, dentro do Centro Nacional de Educação Especial, 

realiza projetos em torno desta nomenclatura. O desconhecimento e a falta de 

convivência com os surdos provocam prejuízos à cultura da comunidade surda, o 

empobrecimento da língua de sinais e a falta de acesso às informações sociais. As 

questões da Educação Especial tornam-se vinculadas a interesses político-

econômicos.  

Passados alguns anos, chega ao Brasil, em 1975, a Comunicação Total. Dois 

anos depois, é criada, no Rio de Janeiro, a Federação Nacional de Educação e 

Integração dos Deficientes Auditivos, FENEIDA, com diretoria de ouvintes. No 

entanto, tanto o Oralismo quanto a Comunicação Total procuram ajustar os surdos à 

ordem padrão vigente: sujeitos ouvintes. 

Mais tarde, por volta de 1980, chega ao Brasil o Bilinguismo. Em seguida, são 

iniciadas pesquisas sistematizadas sobre a língua de sinais no Brasil. Em 1983, é 

criada a Comissão de Luta pelos Direitos dos Surdos, e, três anos depois, o Centro 

SUVAG (PE) (Sistema Universal Verbotonal de Audição Guberina)6 faz sua opção 

metodológica pelo Bilinguismo, tornando-se o primeiro lugar no Brasil em que 

efetivamente esta orientação passou a ser praticada. Em 1987, é criada a 

Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (FENEIS), sob a direção 

de surdos. Pereira e Marostega (2002, texto digital) afirmam: 

O bilingüismo considera que, primeiramente, o Surdo deve adquirir a (LS) e, 
como segunda língua, a língua do país a que pertence. A abordagem 
bilíngüe coloca em evidência a (LS), porque esta é a forma espontânea de 
comunicação no mundo das pessoas Surdas. 
 

A LIBRAS é reconhecida oficialmente pelo Governo do Estado de Minas 

Gerais em 1991 (lei nº 10.397 de 10/1/91). Esse momento também foi de extrema 

importância para o fortalecimento e visibilidade dos surdos. Assim, os surdos 

mostraram para a sociedade o rompimento com a cristalização da deficiência. Em 

                                                 
6
 Trata-se de um método oral multissensorial, pois visa à habilitação do indivíduo para a fala e à 

constante reabilitação da audição deficiente. Este método, criado por Peter Guberina, na Iugoslávia, 
pode ser e é aplicado em indivíduos surdos de todas as idades, desde a estimulação precoce (0 ano) 
até a estimulação para a manutenção da linguagem em pessoas adultas que ensurdeceram e em 
pessoas com dupla ou múltiplas deficiências. O objetivo básico do método é treinar o cérebro para 
utilizar até mesmo uma mensagem acústica distorcida para a percepção da fala, aproveitando áreas 
mais sensitivas da audição. Disponível: <http://suvagnarede.blogspot.com.br/2009/04/o-que-significa-
suvag.html>. Acesso em: 06 abr. 2015. 



20 

1994, começa a ser exibido na TV Educativa o programa Vejo Vozes (out/94 a 

fev/95), usando a Língua de Sinais Brasileira. Em 1995, é criado por surdos, no Rio 

de Janeiro, o Comitê Pró-Oficialização da Língua de Sinais. Um ano depois, são 

iniciadas, no INES, em convênio com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro 

(UERJ), pesquisas que envolvem a implantação da abordagem educacional com 

Bilinguismo em turmas da pré-escola, sob a coordenação da linguista Eulália 

Fernandes.  

No ano de 1998, a TELERJ (Telecomunicações do Estado do Rio de Janeiro), 

em parceria com a FENEIS, inaugura a Central de Atendimento ao Surdo. Pelo 

número 1402, o surdo, em seu TS (TeleSync – método de gravação de som), pode 

comunicar-se com o ouvinte em telefone convencional. A educação de surdos vai se 

expandindo, e, em março de 1999, começam a ser instaladas, em todo o Brasil, 

telessalas com o Telecurso 2000 legendado. Por volta do ano 2000, o 

ClosedCaption, ou legenda oculta, passa a ser utilizado e, após três anos de 

funcionamento no Jornal Nacional, é disponibilizado aos surdos também nos 

programas Fantástico, Bom Dia Brasil, Jornal Hoje, Jornal da Globo e Programa do 

Jô. Também neste ano, a TELERJ lança telefone celular para surdos com a opção 

de SMS (serviço de mensagens curtas, em inglês: Short Message Service), um 

serviço disponível em telefones celulares. Em 2002, é promulgada a lei 10.436, 

reconhecendo a LIBRAS como língua oficial das comunidades surdas do Brasil. 

Com este reconhecimento, começou-se a pensar em formação para os professores. 

Sobre isso, Quadros e Campello (2010, p. 36) afirmam: 

[...] considerando a determinação do Decreto 5626 quanto à inclusão da 
disciplina de LIBRAS nas instituições e ensino de nível superior, nos cursos 
de formação de professores e nos cursos de fonoaudiologia em um prazo 
de dez anos, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) passou a 
incluir a LIBRAS nos currículos dos cursos de graduação na modalidade à 
distância em 2006, estendendo essa ação aos cursos presenciais. 
 

Os educadores com formação para atuar com surdos não podem ser 

confundidos com intérpretes, pois são profissionais com atuações e formações 

específicas e distintas. Em relação à formação dos professores, Pires e Nobre 

(2004, p. 168) dizem que 

Há necessidade de legislação que resguarde a verdadeira dimensão que o 
intérprete possui frente à participação da pessoa surda no meio educacional 
e fora dele. Uma legislação que garanta serviços de interpretação gratuitos, 



21 

bem como oportunidades de os intérpretes obterem formação em nível 
superior, similares aos cursos para a formação de intérpretes em outros 
idiomas. A partir do novo espaço conquistado pelos surdos, torna-se 
essencial a perspectiva de o intérprete integrar o cenário cotidiano da 
pessoa surda, através de bases legais constituídas por vontade política e da 
criação e manutenção de cursos para formação de intérpretes.  
 

Em estudo realizado com professores, Rechico e Marostega (2002, texto 

digital) identificaram que “a inquietação em torno da prática que o educador especial 

exercia envolvendo alunos surdos incluídos vai ao encontro de um conhecimento 

que se torna básico e necessário em relação à formação que cada profissional 

recebe”. Por outro lado, sobre estudos que estão sendo realizados abarcando a 

temática dos surdos, Lopes (2007, p. 29-30) afirma que, 

[...] no Brasil, muitos foram e ainda são os pesquisadores surdos e ouvintes 
que se agregaram e se agregam na busca de produção acadêmica, 
formação profissional, inserção na escola de surdos e na comunidade 
surda. Entre os grupos que podem ser citados, temos: Grupo de Estudos 
Surdos (GES), formado na Universidade de Campinas/SP; Grupo de 
Estudos sobre Linguagem e Surdez (GELES), na Universidade Federal do 
Rio de Janeiro; Núcleo de Pesquisa em Políticas de Educação de Surdos 
(NUPPES), na Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Grupo de 
Estudos Surdos (GES), na Universidade Luterana do Brasil; Grupo de 
Estudos Surdos (GES), na Universidade Federal de Santa Catarina; Grupo 
de Pesquisa em Educação de Surdos (GIPES), formado por pesquisadores 
de sete universidades localizadas no Estado do Rio Grande do Sul.  
 

Destes grupos citados, a autora enfatiza o NUPPES – Núcleo de Pesquisa em 

Políticas de Educação para Surdos –, que desenvolve “projetos de pesquisa de onde 

saíram muitas publicações na forma de dissertações, teses, livros e artigos 

publicados em periódicos nacionais e estrangeiros, que hoje circulam amplamente” 

(LOPES, 2007, p. 31). Tal Núcleo é pertencente ao Programa de Pós-Graduação em 

Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e  

Contribuiu muito para alguns avanços sociais, educacionais e políticos no 
que concerne à causa surda, no Brasil. Tendo como aliada a Linha de 
Pesquisas Estudos Culturais em Educação daquele mesmo programa de 
pós-graduação, o NUPPES, durante muitos anos, funcionou como um 
centro tanto produtor e irradiador de conhecimentos e formador de 
especialistas no campo dos Estudos Surdos quanto catalisador de ações 
políticas em prol dos direitos dos surdos (Ibidem, p. 31). 
 

Guedes (2009) acrescenta que este Núcleo teve como foco a necessidade de 

repensar os currículos das escolas de surdos, defendendo que estes currículos 

deveriam contemplar e possibilitar estudos em torno da história surda, e não 

referentes à história da surdez. O NUPPES foi extinto, e alguns pesquisadores que 

faziam parte dele criaram, em 1999, o GIPES (Grupo Interinstitucional de Pesquisa 



22 

em Educação de Surdos), onde estudos e pesquisas em torno de surdos são 

realizados. 

Ainda em se tratando de formação de profissionais, no ano de 2006, foi criado 

o exame de Certificação Tradutor Intérprete de Libras – ProLIBRAS7, instrutor de 

LIBRAS, e o curso de Letras-LIBRAS Bacharelado e Licenciatura EaD. Também em 

2006, surge o curso superior de Letras-LIBRAS Licenciatura, na modalidade em 

EAD - UFSC, e, após dois anos, o curso superior de Letras-LIBRAS Bacharelado, na 

modalidade em EAD – UFSC. Em 2010, foi promulgada a lei 12.319, que 

regulamenta o exercício da profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de 

Sinais - LIBRAS. Sobre esta questão, Pires e Nobre (2004, p. 162) afirmam que a 

presença de um intérprete é 

[...] uma das necessidades reais no meio escolar e extra-escolar do surdo, é 
fruto da reivindicação das pessoas surdas e não mais da deliberação dos 
ouvintes, como ocorria comumente no passado. Agindo como mediador na 
comunicação com as pessoas ouvintes e auxiliando o surdo na aquisição de 
informações sobre o universo ouvinte, o intérprete é um elemento 
fundamental nessa interação. 
 

Apesar de a presença do intérprete para a interação dos surdos ser uma 

necessidade, merecem destaque alguns pontos importantes sobre sua função. Pires 

e Nobre (2004) dizem que existe um grande desafio quanto à velocidade de 

transmitir as informações para o surdo, uma vez que o ouvinte fala muito rápido e, 

por vezes, o intérprete tem dificuldades na tradução. Outro aspecto refere-se à 

validade das informações, pois o intérprete ouve a informação dada por um ouvinte, 

processa e repassa, ou seja, faz uma tradução entre esse processo de ouvir e 

repassar, já que “a interpretação não pode ser idêntica ao texto original, porque os 

sistemas linguísticos são diferentes” (PIRES; NOBRE, 2004, p. 165). 

Ao pensar a tradução, torna-se importante destacar a ideia de Corazza (2013, 

p. 190) quando diz que “a tradução didática compartilha línguas heterogêneas e 

simultâneas, modificando e desfazendo identidades sedentárias dos elementos 

                                                 
7
 De acordo com Quadros e Campello (2010, p. 34 e 35), “O ProLIBRAS é um programa promovido 

pelo Mistério da Educação e desenvolvido por instituições de Educação Superior (IES) com o objetivo 
de oferecer certificado de proficiência em tradução e interpretação de LIBRAS, por meio de uma 
prova visual e nacional (vídeo sinalizado). [...] Os certificados obtidos por meio da prova visual de 
ProLIBRAS poderão ser aceitos e admitidos pelas Instituições de Ensino Superior, assim como nas 
esferas estaduais e municipais, como documentos que aprovam o domínio, habilidades, 
competências e fluência no uso e no ensino de LIBRAS ou na tradução e interpretação dessa língua”. 



23 

originais”. Em seus apontamentos, a tradução é a conexão entre pensamento e vida, 

por meio da qual distintas linhas de criação se atravessam e se entrelaçam em 

“sensações que transitam entre uma língua de chegada e outra de saída” 

(DALAROSA, 2012, p. 1). A tradução transita pelo plano intensivo da diferença, 

pelas vias das afecções e das sensações. Neste limiar entre uma língua e outra, há 

possibilidades de trocas “da língua para a qual o texto é traduzido” (CAMPOS, 1972, 

p. 110). 

À interpretação também cabe a possibilidade do inusitado, da falha, criando 

outros e múltiplos modos de se viver e pensar a linguagem. Trata-se de uma criação, 

enquanto desvio do modelo conhecido, numa tentativa de visibilizar a diferença.  

Uma pedagogia da tradução, portanto, faz conexões com obras inacabadas 
e falhadas em meio à vida: em meio a produções e velocidades que 
expandem, contemplam, sugam, contraem, condensam, dispersam e 
invertem posições textuais em novas afecções (DALAROSA, 2012, p. 4). 
 

Uma tradução, desse modo, pode ser pensada como tentativa de escapar às 

formatações dos sentidos, fugir do controle, da ordem, da domesticação e da 

estratificação da vida, criar meios e condições para traduzir e resistir à mesmice e à 

igualdade. “Uma pedagogia da tradução, ao ocupar-se das sensações, portanto, 

sugere a imanência da vida, o seu infinito conjunto de todas as imagens, para além 

do orgânico e da pessoalidade” (Ibidem, p.9). Dessa maneira, não há fidelidade ao 

original, mas uma ruptura platônica, com possibilidades de criação. 

Os elementos de uma tradução atravessam, portanto, o plano do 
impossível, o plano de imanência da arte, ao comporem uma obra de 
sensação como obra que faz passar aquilo que nos escapa, que está fora 
da representação, mas que fica, em nós, como feixe de forças (Ibidem, p.8). 
 

Na tradução, há um dinamismo vital, com corpos vivos, imersos em sentidos e 

sensações. Na tentativa de resistir aos signos reducionistas, aos clichês e aos 

moldes, a tradução coloca-se enquanto força de afectos que invade, contamina e 

violenta formas de representação. Durante o encontro da tradução, marcas e signos 

podem ser inventados e reinventados por várias vezes, deformando o já conhecido. 

A este respeito, Dalarosa (2012, p. 10) afirma que 

[...] uma pedagogia da tradução ocupa-se do olhar, da escuta e da invenção 
de corpos sensíveis; ocupa-se das forças que acompanham as formas de 
expressão criadas no mundo e as cria de novo no mesmo, potências 
invisíveis de isolamento, de deformação e de dissipação que acompanham 
os problemas. 



24 

Uma tradução enquanto algo inacabado, interrompendo clichês, realizando 

experimentações fronteiriças entre as conexões com o fora das formas estruturadas, 

provoca o desordenamento destas formas. Trata-se de um encontro da ordem do 

“impossível, para a qual não há receituário, mas a necessidade de inventar-lhe um 

possível a cada novo processo de tradução” (DALAROSA, 2012, p. 10). Neste 

movimento, perpassam afectos, “logo, os procedimentos tradutórios não 

compreendem ou referem-se a sistemas prontos de interpretação; mas desenvolvem 

experiências, que têm relação com modos de desterritorialização do existente” 

(CORAZZA, 2013, p. 192). 

O tradutor, nestes movimentos, atravessa-se “por uma poética do traduzir” 

(CORAZZA, 2015, p. 321). Ele coloca seu próprio corpo imerso neste encontro, 

dando à tradução uma permissão de subjetivação; por isso, Campos (2004) afirma 

que as traduções podem ser mais ou menos inventivas, variando de acordo com a 

sensibilidade e a capacidade de criação de cada sujeito. Esta forma de pensar a 

tradução, além de ser uma “forma privilegiada de leitura” (CAMPOS, 1972, p. 115), 

também baila, segundo Campos (1978), entre corpos por tramas criativas. Destaca-

se que a tradução é compreendida aqui enquanto construção, processo de criação e 

experimentação. 

Tomando como ponto de partida os estudos do surdo, percebe-se que tais 

sujeitos interagem com o mundo, principalmente a partir de uma experiência visual, 

e que grande parte de suas construções mentais são mediadas pela sua língua 

materna: a língua de sinais. Contudo, ao compartilharem uma língua comum – a 

língua de sinais –, os surdos se reconhecem e são reconhecidos como membros de 

uma comunidade singular que ao mesmo tempo se torna uma categoria identitária. 

Voltando ao percurso histórico, é no século XX, conforme já apresentado, que 

tem início a preocupação em “tirar o surdo do esconderijo”, já que até então os 

sujeitos ficavam escondidos em suas casas. Surgem, então, algumas normas 

voltadas para esses sujeitos, vistos como diferentes dos demais, como, por 

exemplo, o reconhecimento de LIBRAS como sua primeira língua. Se, por um lado, 

medidas como essa possibilitaram a inserção dos surdos em espaços antes não 

ocupados por eles, por outro, contribuíram para o aprisionamento do surdo em uma 

identidade. 



25 

Percebe-se que algumas identidades foram historicamente atribuídas aos 

surdos, das quais advinham dispositivos que capturavam socialmente as vidas dos 

sujeitos, ou seja, a partir das nomenclaturas “recebidas” (e realmente “recebidas”, 

uma vez que elas foram criadas por ouvintes), as regras do jogo iam sofrendo 

modificações. Desse modo, o surdo, enquanto categoria identitária, foi sendo 

constituído ao longo da história. Thoma (2006, p. 67) afirma que 

[...] a alteridade surda é narrada e mostrada através de lentes “ouvintes” 
que capturam olhares dos que ouvem sobre os sujeitos surdos, sobre sua 
existência, sobre a necessária correção/normalização de seus corpos 
mutilados. Essas lentes, entretanto, nos interpelam de variadas formas, 
segundo nossas posições de sujeito e flutuam quanto às representações e 
discursos que apresentam. 
 

Alguns surdos, participantes de organizações, movimentos e discussões 

sobre seus direitos, lutaram para que essas nomenclaturas fossem modificadas, já 

que o fato de ser surdo não significa a impossibilidade de comunicação, mas o uso 

de uma língua própria e oficial. Ströbel (2007) elaborou um quadro, ilustrando um 

comparativo entre como a sociedade representa as pessoas surdas e como estas se 

descrevem. 

Quadro 1 - Comparativo entre representação social e povo surdo 

Representação social Representação de povo surdo 

Deficiente. Ser surdo. 

A surdez é deficiência na audição e 

na fala. 

Ser surdo é uma experiência visual. 

A educação dos surdos deve ter um caráter 

clínico-terapêutico e de reabilitação. 

A educação dos surdos deve ter respeito pela 

diferença linguística cultural. 

Surdos são categorizados em graus de audição: 

leves, moderados, severos e profundos. 

As identidades surdas são múltiplas e 

multifacetadas. 

A língua de sinais é prejudicial aos surdos. A língua de sinais é a manifestação da diferença 

linguística relativa aos povos surdos. 

Fonte: Ströbel (2007). 

Com relação às informações apresentadas, é importante ressaltar que as 

bases das representações históricas são constituídas em torno do discurso médico 

(clínico e terapêutico) e do discurso antropológico-cultural. O discurso médico foi 

criado por ouvintes especialistas da saúde, que visualizavam os surdos como 

sujeitos “da falta”. Este discurso procurava sempre diversas formas de enquadrar ou 

aproximar os surdos dos sujeitos ouvintes, desconsiderando qualquer tipo de 

potência. Por sua vez, o discurso cultural sobre a surdez passa por uma questão de 



26 

identificação, percebendo que a deficiência auditiva também é uma possibilidade de 

vida; passa por um olhar do sujeito enquanto potência, força de vida.  

Nessa perspectiva, o surdo identifica-se como parte de um grupo com 

características linguísticas e culturais específicas. A partir do quadro acima, percebe-

se também uma diferença nas nomenclaturas utilizadas por ambos os grupos, 

reflexo de uma luta por direitos na qual alguns surdos estão engajados a fim de 

serem vistos como sujeitos surdos, e não com surdez ou com deficiência auditiva. 

Esse grupo relaciona-se com uma cultura surda8, que utiliza uma comunicação 

visual como principal meio de relacionar-se com a vida, acessando o mundo pela 

experiência do olhar e habitando, assim, diferentes espaços mediante a exploração 

dessa linguagem. A este respeito, Lopes e Veiga-Neto (2010, p. 126) dizem que 

Vivemos em uma cultura ocularcentrista, mas não é disso que falamos 
quando trazemos o olhar como um marcador surdo. O olhar, para o surdo, 
muito mais do que um sentido, é uma possibilidade de ser outra coisa e de 
ocupar outra posição na rede social. O olhar, entendido como um marcador 
surdo, é o que lhe permite contemplar um modo de vida de diferentes 
formas, o cuidado de uns sobre os outros, o interesse por coisas 
particulares, o interpretar e ser de outra forma depois da experiência surda. 
Enfim, o olhar como uma marca é o que permite a construção de uma 
alteridade surda. 
 

Ressalto que não será utilizada nesta pesquisa a visão dualista e comparativa 

apresentada pela autora do quadro acima, que marca, de um lado, a visão do surdo 

por uma leitura de ouvintes e, de outro, a partir de uma leitura de surdos. Assim, 

segue-se uma discussão em torno de alguns desafios e conquistas que 

movimentaram a história dos surdos e construções que marcam alguns fatores que 

hoje ainda ressoam em suas vidas. 

 

 

                                                 
8
 De acordo com Perlin (2004), “a cultura também assume centralidade na constituição da 

subjetividade e da identidade da pessoa como ator social. Essas marcas internas da diferença 
moldam as identidades surdas. As identidades surdas são constituídas dentro das representações 
possíveis da cultura surda, elas moldam-se de acordo com a maior ou menor receptividade cultural 
assumida pelo sujeito. E, dentro dessa receptividade cultural, também surge aquela luta política ou 
consciência oposicional pela qual o indivíduo representa a si mesmo, se defende da 
homogeneização, dos aspectos que o tornam corpo menos habitável, da sensação de invalidez, de 
inclusão entre os deficientes, de menos valia social. A cultura surda é o lugar para o sujeito surdo 
construir sua subjetividade de forma a assegurar sua sobrevivência e a ter seu status quo diante das 
múltiplas culturas, múltiplas identidades” (PERLIN, 2004, p. 77-78). 



27 

2.2 Percalços da caminhada 

Várias representações foram criadas sobre os surdos por ouvintes. Palavras 

como mudo, deficiente, anormal e doente, entre outras, fizeram parte dessa 

construção. Nesses discursos, a falta da audição produz impactos na sociedade 

ouvinte, que passa a identificar esses sujeitos com diferentes nomenclaturas 

negativas, já que a fala e a audição parecem ser necessárias para a vida “normal” e 

em sociedade. 

A busca por novas denominações reflete a intenção de rompimento com as 
premissas de menos-valia que até então embasavam a visão sobre a 
deficiência.  Termos genéricos como “inválidos”, “incapazes”, “aleijados” e 
“defeituosos” foram amplamente utilizados e difundidos até meados do 
século XX, indicando a percepção dessas pessoas como um fardo social, 
inútil e sem valor (LANNA JÚNIOR, 2010, p. 14-15). 
 

Quem afirma que não estar enquadrado nos parâmetros da normalidade é 

sinônimo de não ter potência? Neste mundo contemporâneo, parece que o discurso 

sobre a diferença é afirmado a cada dia, implicado em tentativas de explicação e 

representação, por meio de políticas sobre as identidades culturais. Proponho, nesta 

dissertação, pensar em outras narrativas para além das tradicionalmente descritas 

pelo pensamento da representação, as quais geralmente partem de olhares 

ouvintes. 

Mergulhada nesta produção histórica, política e cultural, traz-se, mesmo que 

rapidamente, a problematização da língua. LIBRAS, Língua Brasileira de Sinais. 

Mãos. Gestos. Expressão facial. Comunicação. Troca. Uma língua? Duas línguas? 

Português? Língua enquanto dispositivo9. Dispositivo que produz sujeitos que 

oralizam e escutam palavras. Surdos que criam outros dispositivos, que os capturam 

ou não. LIBRAS é a língua que se utiliza das mãos para comunicar, “a partir de um 

olhar maior, de uma língua maior, de uma cultura maior [...] a ‘diferença’ passa a ser 

mais uma fabricação maior [...]” (SOUZA; GALLO, 2010, p. 112). LIBRAS surge 

como o principal elemento que dá visibilidade à cultura e comunidade surda, como 

uma língua não sem valor, mas uma língua que está à margem, no entorno. Uma 

língua enquanto diferença linguístico-cultural em uma sociedade que é identitária 

                                                 
9
 O conceito de dispositivo advém das ideias de Foucault (2013). Um dispositivo compreende a 

relação entre elementos discursivos e não-discursivos, ou seja, esta relação se dá por meio de jogos 
de poder com "mudanças de posição, modificações de funções" (FOUCAULT, 2013, p. 364). O 
dispositivo é operado enquanto "estratégias de relações de força sustentando tipos de saber e sendo 
sustentadas por eles" (FOUCAULT, 2013, p. 367). 



28 

quando tratamos de linguagem, cultura, corpo.  

Mesmo sendo reconhecida e fazendo parte ou não do corpo, alguns surdos 

negam a comunicação por meio da LIBRAS porque foram constituídos dentro de 

outra lógica, a partir de outros atravessamentos. Encontram-se, então, outra barreira 

e outro dispositivo que se compõem: uma língua universal, como se houvesse uma 

única cultura surda, um único sujeito surdo e uma única LIBRAS. Assim, não 

podemos definir os surdos como pertencentes a uma comunidade homogênea, pois 

nem todos vivem a cultura e nem todos utilizam os sinais, neste caso, os deficientes 

auditivos. Deficientes auditivos enquanto sujeitos que optam por não se comunicar 

utilizando LIBRAS, desejando uma comunicação oralizada, a partir da leitura labial 

ou por meio de mímicas, além de abdicarem de situações de acessibilidade que são 

oferecidas a eles. Os deficientes auditivos muitas vezes recusam qualquer situação 

relacionada à surdez, como, por exemplo, participar de movimentos envolvendo 

surdos. Esta tentativa de aproximação do ouvinte pode ser pensada como uma 

aproximação de um modelo uno. Para Souza e Gallo (2010, p.111), o uno é uma 

tática de controle, e esta tentativa de relacioná-la a “um modo maior acaba por 

reduzir a língua a um sistema a ser dominado e a cultura a um conjunto folclórico de 

corpos físicos [...]”. 

Os autores acima utilizam o termo folclórico para fazer relação com algo 

rotineiro, com os mesmos usos, com formatos predefinidos e com enquadramentos 

estabelecidos, como é o caso, por exemplo, da LIBRAS. Além do uso da língua, 

também se pode pensar nos discursos inclusivos, sociais e políticos. Comumente, os 

discursos inclusivos em torno da surdez são vistos como práticas benéficas e 

salvacionistas, advindos das políticas educacionais e do mercado. Para Thoma 

(2006, p. 17), 

Nos discursos pedagógicos, os enunciados falam sobre adaptações 
curriculares, oferta de serviços e profissionais para o atendimento de alunos 
com deficiência em situação de inclusão, sobre a arquitetura das salas de 
aula, sobre mudanças nos planejamentos, didáticas, avaliações e dinâmicas 
das aulas [...]. 
 

Nas instituições de ensino, a inclusão está contemplada na lei maior da 

Educação – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), sob a máxima 

de uma educação gratuita para todos, a fim de que todos tenham direito a uma 

educação de qualidade. Juntamente com este discurso inclusivo educativo, emerge 



29 

um discurso político direcionado a esta “parcela” da população. Trago também esta 

relação em virtude de estar cursando um Mestrado em Ensino; nesse sentido, uma 

discussão sobre a inserção dos sujeitos surdos no sistema educacional se faz 

pertinente. 

No Capítulo V da LDB, é realizado todo um detalhamento de como deve ser 

visto o que a lei denomina de Educação Especial, tratando de como devem ser os 

serviços especializados aos educandos com necessidades especiais (nomenclatura 

utilizada na lei), bem como das adequações curriculares, físicas e técnicas que 

devem ser pensadas, em nível educacional, para os ditos incluídos. Sobre a 

Educação Especial, Lunardi (2004, p. 23-24) diz que 

[...] a pedagogia corretora virá acompanhada de medidas, controles de 
provas, observações de corpos e almas. É nessa estreita relação entre 
Educação Especial e a pedagogia terapêutica que o binômio 
medicina/psicologia passa a servir de “modelo biomédico” para a descrição 
e classificação do déficit das pessoas consideradas deficientes. Nesse 
campo do saber, a ação educativa está centrada no estudo da etiologia do 
paciente, permitindo estabelecer categorias classificatórias de acordo com 
cada etiologia com a intenção de localizá-lo nos distintos contextos 
educativos. 
 

Também por existirem escolas de surdos, continua-se mostrando que há 

dualidade, pois existem escolas especiais para eles. Ou então, se os surdos 

frequentam escolas regulares, mesmo assim são identificados como alunos 

incluídos, encarados pela escola diferentemente dos alunos “normais”. No entanto, 

ressalto que a manutenção das escolas especiais para surdos é uma reivindicação 

da própria cultura surda; por isso, pergunta-se: o que se atravessa nesta situação? 

Talvez a desistência de viver junto, a necessidade de afirmação de uma identidade 

surda ou a aceitação de uma suposta inferioridade. Também podemos pensar que o 

fato de desejarem um espaço habitado apenas por surdos possa reverberar para 

eles como um lugar onde se encontram os “iguais”. 

Ainda sobre a Educação Inclusiva, a Declaração de Salamanca10 ajuda-nos a 

pensar sobre algumas questões que foram se delineando em termos de princípios, 

práticas e políticas na área das necessidades educativas especiais, tais como: a 

                                                 
10

 De 7 a 10 de junho de 1994, no município de Salamanca, situado na Espanha, reuniram-se mais de 
300 participantes, sendo eles representantes de governos e organizações internacionais, com o 
objetivo de promover a Educação para Todos, visando a modificações que deveriam ser feitas na 
Educação para uma educação inclusiva. A ideia era pensar as escolas como instituições que aceitam 
as diferenças. 



30 

educação é direito de todos, independentemente das diferenças individuais; a escola 

é um espaço comum para todas as crianças; e toda a criança que possui dificuldade 

de aprendizagem pode ser considerada com necessidades educativas especiais. 

No entanto, percebe-se o quanto estas demandas normativas educativas 

foram impostas nas instituições, e delas surgem alguns impasses, ocorrendo 

práticas que demonstram que o que está assegurado na lei não se efetiva na escola 

ou nas universidades, como, por exemplo, a garantia da presença de intérpretes 

para os surdos, o que dificulta a comunicação e também a aprendizagem destes 

sujeitos. A presença de intérpretes tem sua relevância em se tratando da relação 

comunicativa que se estabelece entre os sujeitos que habitam o mesmo espaço, 

uma vez que é desta comunicação que partem todas as trocas entre os colegas, 

bem como as trocas de saberes.  

A respeito de professores ouvintes que são intérpretes, o GIPES está 

realizando a pesquisa intitulada “Os Intérpretes de Língua Brasileira de Sinais 

(LIBRAS) no Rio Grande do Sul (RS)”, a partir da proposta de 

Pensar e problematizar a relação professor ouvinte e intérprete de Língua 
Brasileira de Sinais (LIBRAS), especificamente em como essa constitui o 
processo pedagógico e o olhar do professor sobre o desempenho e 
resposta do aluno surdo às atividades propostas em aula (EBLING, 2013, 
fonte digital). 
 

A falta de intérpretes acaba interferindo na inclusão dos surdos e dificultando-

a. Sobre isso, Lopes (2004, p. 43) aponta que 

A escola parece, ao trabalhar com surdos e registrar seus trabalhos, saber 
como resolver o impasse do que fazer com os que não ouvem. Eles 
continuarão não ouvindo, porém, devido a fortes terapias de treinamento 
oral, poderão dissimular a “deficiência”, fazendo uma boa leitura labial e 
respondendo com uma fala o mais próximo possível da fala do ouvinte. 
 

Cabe citar também a Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, que trata do 

apoio às pessoas portadoras de deficiência (nomenclatura utilizada na Lei) e de sua 

integração social, contemplando a saúde. Quanto à saúde, discursos médicos são 

muito recorrentes, sempre buscando alternativas na Ciência para transformar o 

surdo em ouvinte, com os implantes cocleares, os aparelhos auditivos e outros 

meios que a Medicina vem estudando a fim de que os surdos possam escutar e, 

desse modo, ser sujeitos normais, que seguem um modelo estabelecido e inventado 

socialmente. Thoma (2006, p. 16) diz que “os discursos clínico-patológicos são 



31 

constituídos de enunciados que buscam saber o que o aluno tem, qual o seu 

diagnóstico, o que lhe falta para ser como os ditos normais”. Podemos ampliar esta 

citação para todos os sujeitos surdos, não apenas alunos, como Thoma (2006) 

aborda, pois esta necessidade de encontrar um diagnóstico dado pela Medicina 

também ocorre nas outras instituições sociais, e não somente nas escolas. 

Para finalizar este capítulo, destaco a tentativa de expor alguns fatores 

históricos e peculiares que permeiam marcas em torno dos surdos. No entanto, grifo 

que este não é o foco de minha pesquisa e apenas serve como maneira de situar 

cultural e socialmente minha escrita. Nos capítulos que seguem, busco aproximar-

me de sujeitos surdos, tentando pensar na possibilidade de eles escaparem destas 

representações apresentadas. 

 

 



32 

3 DOS SUJEITOS SURDOS 

3.1 Sujeitos surdos atravessados pela experiência visual 

Penso sujeitos surdos e seus atravessamentos com a vida por meio de 

experiências visuais. Busco, na aproximação com filósofos da diferença - entre eles, 

Deleuze, Guattari e Barthes -, um aporte para problematizar este tema. Penso 

sujeitos surdos que, no encontro com sua potência, são capazes de substituir os 

discursos de negação pelos das sensações. Discursos que não estão dados, mas 

são criados, na ordem do vivido, do vivenciado, do experimentado e do sensível. Ao 

pensar nos sujeitos surdos, tentei tecer linhas de um novelo emaranhado que está 

sempre em busca de escapar dos discursos que querem amarrá-lo à representação. 

Penso em sujeitos surdos como novelos que rolam, ora abrem, ora atam, encontram 

alguns nós em seu existir. Corpos em sua potência. O corpo está atrelado às nossas 

ações, mostra-nos que a vida pulsa e acontece, criando-se a cada encontro. 

Zourabichvili (2004, p. 61) diz que  

[...] é na experiência que aprendemos a superioridade intensiva dos afectos 
– isto é: do encontro com o heterogêneo ou com o fora pelo qual toda a 
afectividade se vê abalada e redistribuída – sobre as afeições comuns. 
 

É nos encontros intensivos, aqueles que lançam tudo para fora do previsível, 

e nos afectos que provocam o corpo e o pensamento a pensar além do sensório-

motor e da consciência, que nos agenciamos à vida. Sousa e Silva (2012, p. 350) 

afirmam que o encontro “acontece em uma relação permeada pelos afectos, ao 

passo que nos afectamos e somos afectados por outros corpos. Assim, somos 

corpos potencializados por uma tecnologia dos afectos”. Também Fogazzi (2013, p. 

64) refere-se ao encontro, afirmando: “encontro que é acontecimento, que possibilita 



33 

a de-formação e a trans-formação, como também a in-venção, e a trans-versão”. 

Falando de encontros com pessoas, com a vida, com o mundo, lembro ser 

inegável que, como sujeitos, estamos inseridos em um mundo visual e auditivo, pois 

vivemos em uma sociedade imagética e sonora. E o sujeito que vive neste mundo 

auditivo e não ouve? 

Durante a pesquisa, pensei em mapear encontros de sujeitos surdos 

agenciados à vida. Não sujeitos que buscam identificar-se com um modelo ou cópia, 

mas que querem efetuar a sua potência. Vidas mapeadas pelo singular, pelo 

heterogêneo, não por homogeneidade, categorias ou igualdade. Sujeitos que se 

movimentam, mãos que não param, sujeitos que experimentam a vida na sua 

singularidade. Sujeitos surdos que andam pelas ruas, pairando sobre olhares que 

procuram enquadrá-los, mas querem escapar às categorizações. Sujeitos que são 

forças, que não buscam uma forma para viver, que criam, que torcem, que se 

distorcem em gestos, ruídos, acenos, expressões faciais; que não negam, mas 

afirmam suas singularidades.  

Assim, os sujeitos surdos não se alienam do mundo, mas desejam 

desvincular-se da repetição do mesmo. Eles buscam energia nas miudezas, nos 

acontecimentos, riscos que eles traçam no ar, ou seja, os movimentos que os surdos 

fazem ao utilizarem a língua de sinais. Tais sujeitos possuem características e 

singularidades específicas que, ao saltarem aos olhos do outro, passam a ser 

designadas como fora dos padrões. De que maneira abordá-los? Tocá-los? Chamá-

los? Entrar pela via visual, falar olhando para um sujeito surdo, parando, usando as 

mãos e a expressão facial. Um sujeito talvez queira que você o pare, pois deseja 

outra velocidade, um estar presente com intensidade. Conversa? O que comunico? 

Há receitas? Parar e viver o instante. Andar conforme o ritmo da vida, o bailar do 

vento, o correr do rio. Ir além dos binarismos que distinguem indivíduos, tentando 

pensar sujeitos surdos múltiplos, que se inventam e se reinventam durante todo o 

tempo. 

Para compreender o modo como passamos a instituir o sujeito como modelo, 

torna-se necessário recorrer a Platão e à ideia de representação. O método da 

divisão de Platão consiste em distinguir o puro e o impuro, o inteligível e o sensível, 



34 

o autêntico e o inautêntico, o verdadeiro e o falso. Em tal distinção manifesta, Platão 

estabelece, em um primeiro momento, a dualidade modelo e cópia. Em uma 

segunda distinção, Platão cria dois tipos de imagens: a boa cópia e a má cópia. Com 

Machado (2013, p. 45), podemos compreender que 

[...] a principal distinção, a “verdadeira” distinção, estabelecida por Platão é 
entre dois tipos de imagens, dois tipos de cópia: a boa cópia, a cópia bem 
fundada, o “ícone”, que é uma imagem dotada de semelhança, e a má 
cópia, a cópia que implica uma perversão, o “simulacro-fantasma”, que é 
uma imagem sem semelhança. 
 

Sendo assim, o simulacro é a má imagem, na medida em que não possui 

semelhança. É construído sobre uma diferença com relação ao modelo, ou seja, não 

se constitui como modelo do mesmo. A inscrição dessas dualidades, a busca do 

mesmo, da identidade, funda o pensamento da representação, de modo que 

[...] é sempre em relação a uma identidade concebida, a uma analogia 
julgada, a uma oposição imaginada, a uma similitude percebida que a 
diferença se torna objeto de representação (DELEUZE, 2006b, p. 228-229). 
 

Deleuze (2006), em uma tentativa de subverter o platonismo, concentra forças 

na ideia de cópias sem semelhança, em “noções de original e derivado, de modelo e 

cópia, e a relação de semelhança estabelecida entre esses termos na medida em 

que tal tipo de pensamento reduz necessariamente a diferença à identidade” 

(MACHADO, 2013, p. 49). Para Deleuze (2006), o simulacro tem a potência da 

diferença, que 

[...] significa afirmar os direitos dos simulacros reconhecendo neles uma 
potência positiva, dionisíaca, capaz de destruir as categorias de original e 
de cópia. Há em Platão uma relação de força entre modelo e simulacro, no 
sentido de que a idéia é pensada como uma potência capaz de excluir, 
barrar, rejeitar as cópias sem fundamento (Ibidem, p. 48).  
 

Assim, para Platão, “a diferença é considerada em si mesma impensável e 

subordinada às potências do mesmo e do semelhante” (MACHADO, 2013, p. 50). 

Porém, “o que está no âmago da argumentação de Deleuze é, como sempre, a 

relação da identidade e da diferença” (Ibidem, p. 51). 

O conceito de identidade, por sua vez, é constituído a partir da ideia de 

diferença relativa, que tem o outro como parâmetro e/ou padrão de vida. Sobre esta 

diferença, Deleuze afirma que  

 



35 

[...] a diferença não é o diverso. O diverso é dado. Mas a diferença é aquilo 
pelo qual o dado é dado. É aquilo pelo qual o dado é dado e como diverso. 
A diferença não é o fenômeno, mas o número mais próximo do fenômeno 
(DELEUZE, 2006b, p.313). 
 

Durante a pesquisa, a noção de simulacro torna-se importante, no sentido de 

pensá-lo, na tentativa de fuga às noções de semelhança e identidade. Schöpke 

ajuda-nos a pensar: 

Segundo Deleuze, quando Platão condenava os simulacros, ele estava 
primeiramente condenando todo o qualquer estado de diferença livre, de 
distribuição nômade – tudo aquilo que recusava, por sua existência, a noção 
de um modelo prévio. O simulacro contesta tanto a existência do original 
quanto da cópia. Ele é a instância que compreende, em si, uma diferença 
(SCHOPKE, 2012, p. 23 - 24). 
 

Nesse sentido, busquei pensar as forças de sujeitos surdos pelo olhar da 

diferença enquanto potencialização de suas singularidades e particularidades, 

desconfigurando-os do mesmo, da identidade. Sujeitos surdos pensados não sob o 

prisma da diversidade, mas pelo viés da multiplicidade, pois “toda diversidade e toda 

mudança remetem a uma diferença que é sua razão suficiente” (DELEUZE, 2006b, 

p. 313). Trata-se de pensar um sujeito surdo atravessado por intensidades. 

Intensidades na diferença como razão do sensível, diferença em si mesma, sem 

preocupação com semelhanças ou igualdades. Uma intensidade diferencial que 

“designa catástrofes: sejam rupturas de continuidade na série das semelhanças, 

sejam falhas intransponíveis entre estruturas análogas” (Ibidem, p. 65). 

A diferença em si não tem relação, nem comparação com o outro; é um 

exercício de abandonar a identidade para tornar-se um devir-outro. Ao acreditar na 

potente força da diferença em si e em tentativas de escapar ao idêntico, busco tomar 

os sujeitos surdos de modo sensível, uma vez que  

[...] a razão do sensível, a condição daquilo que aparece não é o espaço e o 
tempo, mas o Desigual em si, a disparação tal como é compreendida e 
determinada na diferença de intensidade, na intensidade como diferença 
(Ibidem, p. 314).  
 

Contudo, algumas vezes, foi preciso balançar a indagação de Clark (2013, p. 

354): “sinto-me sem categoria, onde é meu lugar no mundo?”. No esforço de tentar 

pensar a diferença fora de suas amarras, duvidando das verdades, fortaleço-me 

novamente com Deleuze (2006b, p. 315) quando diz que “[...] a diferença só é razão 

suficiente de mudança na medida em que essa mudança tende a negá-la”. Negar. 



36 

Duvidar. Questionar. Movimentar. Sacudir. Misturar. Afirmar “[...] a diferença que não 

se deixa igualizar ou anular (...)” (Ibidem, p. 321). A diferença em si simplesmente 

difere. Assim, um sujeito surdo devém, não é.  

Só de fora o gênero é determinável pela diferença específica, e a identidade 
dele, em relação às espécies, contrasta com a impossibilidade em que se 
encontra o ser de formar [...] (DELEUZE, 2006b, p. 64). 
 

Tornar visíveis as singularidades de um sujeito surdo, experienciando, 

experimentando instantes. Não “o” (artigo definido) sujeito como identidade, sujeito 

da representação, moldado pela e na diferença relativa, mas “um” (artigo indefinido) 

sujeito que pode borrar, afirmando sua diferença. Frente a isso, parece que somos 

desafiados a pensar um sujeito outro, uma diferença não minimizada. Uma diferença 

enquanto produção de singularidades.  

A tentativa, portanto, é pensar as possibilidades de um sujeito surdo 

atravessado na vida por meio das sensações, que dança não ouvindo o ritmo da 

música, mas a partir da vibração que a sonoridade nele produz. Um sujeito surdo 

experimenta uma língua com sentidos particulares, bem como uma escrita e uma 

comunicação singular. Um sujeito surdo experiencia uma vida. 

Mapear linhas tentando ir além da imagem enquanto forma que o espelho nos 

mostra. Os sujeitos são provocados por interferências que o mundo efetua neles, 

que os fazem agir, produzir, manifestar ou não suas forças. Assim, a ideia que se 

apresenta aqui não é a de um corpo surdo sinônimo de motor, nem um suporte que 

nos relaciona com o ambiente, mas sim uma potência que efetua a vida.  

Puro movimento, o corpo é o que não sabemos, seu caráter intangível se dá 
na multiplicidade das verdades que o compõem em instância subjetiva e 
política. O corpo é o lugar de toda travessia na aventura humana (KEIL; 
TIBURI, 2004, p. 9). 
 

Ao destituir-se das convenções sociais, um corpo pode chegar ao vazio, 

movimentar-se por encontros, tal qual o Corpo sem Órgãos, de Antoine Artaud11. Em 

suas palavras, “quando tiverem conseguido um corpo sem órgãos, então o terão 

libertado dos seus automatismos e devolvido sua verdadeira liberdade” (ARTAUD, 

texto digital, p. 42).  

                                                 
11

 Antoine Artaud cria a expressão corpo sem órgãos para pensar o teatro enquanto uma forma de 
expressão espacial, concreta, física, sensível. Expressão que se dirige ao corpo, desnudando-o de 
todas as convenções sociais (ARTAUD, 2006). 



37 

Trindade (2013, texto digital), ao referir-se ao Corpo sem Órgãos de Artaud, 

afirma que “todas as possibilidades são consideradas, tudo que foge à vida 

anestesiada, tudo que desfaz o entorpecimento da rotina, tudo que produza 

intensidade, tudo que gere novos agenciamentos, organizações”. Este corpo deseja 

tomar o que é dele: a potência de existir, que abandona os órgãos e experiencia a 

vida, as variações nos acontecimentos.  

Deleuze e Guattari (1996), ao conceituarem o Corpo sem Órgãos, dão o 

exemplo da tarefa da mão, que é usada para apertar parafusos, mover alavancas e 

escrever relatórios no escritório. Perdendo a finalidade que lhe deram, torna-se um 

corpo sem órgãos. Desse modo, o corpo aprende a  

[...] dedilhar um violão, pintar um quadro, acariciar uma pessoa. A boca que 
era usada para dar ordens, organizar, repreender, dar sentido, passa a 
cantar, beijar, provar. Os pés que levam ao trabalho podem ser usados para 
dançar (TRINDADE, 2013, texto digital).  
 

Em Serres (2004), também encontramos que temos que esquecer o nosso 

corpo para habitá-lo melhor.  Corpos esquecidos, dilacerados, membros separados, 

instáveis, desorganizados, perturbados. O Corpo sem Órgãos também poderia ser 

pensado como o corpo vibrátil de Suely Rolnik. Em sua entrevista, Rolnik (2010, 

texto digital) afirma:  

[...] chamar de vibrátil é mais jogo que chamar de sem órgãos, porque tem o 
“sem órgãos” do Artaud, que pode sugerir uma distância da experiência 
imediata da vibratilidade – você pode não fazer a conexão da experiência 
com a sua vibratilidade. Segundo, porque ele pode ser muito mal 
interpretado, que a questão é de se arrebentar, a questão é ficar sem 
órgãos. 
 

Assim, o Corpo sem Órgãos define-se como um conjunto de práticas que não 

se fixa apenas em uma atividade, mas que move a vida, experimentando diferentes 

possibilidades de envolvimento, buscando situações que tornam o corpo potente. A 

este respeito, Serres (2004, p. 116) afirma que “[...] um corpo deixa jorrar 

maravilhosamente de si uma estrutura própria, um movimento só seu, uma função 

singular [...]”. Avistam-se novas construções e novos horizontes a partir de um estilo 

de vida nômade, que não se fixa em apenas uma possibilidade. Uma vida para se 

viver, não para compreender.  

O CsO não está preocupado com horários, dinheiro, mercadorias, rótulos, 
prazos: sua busca é por outras formas de viver e se expressar, em suma, 
outras formas de sentir a vida. Aumentar o prazer de viver, de sentir, de 



38 

experimentar, produzir, afetar e ser afetado (TRINDADE, 2013, texto digital). 
 

Um corpo sem imagem definida, um vir a ser, atropelando um corpo forma, 

para vazar. Um “corpo nunca é um organismo [...] é um corpo intenso, intensivo” 

(DELEUZE, 2007, p. 51). Criando-se um Corpo sem Órgãos, rompe-se com o 

orgânico do corpo, extrapolando-se seus limites e suas fronteiras, borrando todo tipo 

de diferença relativa, pois um corpo “possui apenas uma realidade intensiva que 

nela não determina mais dados representativos” (Ibidem, p. 52).  

Sensação como vibração que afecta uma vida não-orgânica, pois o organismo 

é o que aprisiona o corpo. Um encontro entre corpo e forças externas me faz 

lembrar, novamente, as palavras de Deleuze (2007, p. 53): 

Uma sensação aparece no encontro de um determinado nível da onda com 
forças exteriores. Um órgão será, portanto, determinado por esse encontro, 
mas um órgão provisório, que só dura o quanto durarem a passagem da 
onda e a ação da força, e que se deslocará para se situar em outro lugar.  
 

Nesse sentido, as pinturas de Bacon também surgem aqui: algo que não se 

programa, não se esboça anteriormente. Sem formas, produzidas em meio a 

abaulamentos, acidentes, por meio de “uma linha que não pára de mudar de 

direção, interrompida, quebrada, desviada, voltada sobre si, enrolada ou até 

prolongada para fora de seus limites naturais [...]” (Ibidem, p. 53). 

Pintar um quadro sem esboço, da ordem do inusitado, do acaso, do momento. 

Dessa maneira, Bacon criava suas obras, com um desejo de não copiar, de não 

representar, de não igualar nada. Um Corpo sem Órgãos a ser criado, inventado, 

como um corpo que se atira ao caos e que nele varia, se deforma. 

Deleuze (2007) afirma que, em Bacon, o Corpo sem Órgãos é criado por meio 

da pintura esfacelada, por pinceladas violentas que efetuam órgãos temporários e 

transitórios. Tal qual a pintura de Bacon, talvez se possa extrair do corpo a presença 

da representação, com o desejo de ir além dela, pintando-se singularidades por 

meio de linhas polivalentes. Um Corpo sem Órgãos passageiro, movente, uma vez 

que  

A onda percorre o corpo; um corpo sem órgãos será determinado num certo 
nível, de acordo com a força encontrada; e esse órgão mudará se a força 
também mudar [...]. Em suma, o corpo sem órgãos não se define pela 
ausência de órgãos, não se define apenas pela existência de um órgão 
indeterminado; ele se define, enfim, pela presença temporária e provisória 



39 

dos órgãos determinados (Ibidem, p.54). 
 

Ainda na tentativa de pensar tal corpo, aproximo-me da potência dos afectos 

de Spinoza quando afirma que “o corpo humano pode ser afectado de muitas 

maneiras, pelas quais sua potência de agir é aumentada ou diminuída” (SPINOZA, 

2009, p. 97). O corpo é da ordem dos afectos e sofre alterações decorrentes dos 

encontros experienciados. Para Barbosa e Lopes (2012), na esteira de Spinoza, 

“afectar e ser afectado são disposições corporais que modificam o próprio corpo, 

que o fazem variar e que podem disparar a efetuação de algum devir” (Ibidem, p. 

179). Em relação aos devires e afectos, Rolnik (2010, texto digital) também nos diz:  

Se você junta ele com a ideia de corpo sem órgãos e de imanência, a gente 
sabe que o corpo vibrátil é aquele ponto de interrogação em nós que está 
sempre levando a uma recriação desse espaço, ele é irredutível ao nosso 
contorno atual, é a presença do mundo no nosso corpo que nos leva a ser 
mundo e a criar mundo. 
 

Palavras como flexibilidade, movimento, mexer, pluralizar modos de ser, 

potencializar vidas, movimentam meu pensamento. Experimentar, viver, diferir. 

Libertar-se como um passarinho, que ora está aqui, ora está lá, movimentando-se, 

deformando-se, transformando-se, desfigurando-se, variando-se, experienciando, 

voando, modificando. Pensar a vida como permissão e criação de novas potências, 

uma vez que “a liberdade se define pelo corpo e este por sua potencialidade” 

(SERRES, 2004, p. 52). 

É a partir dessas ideias que busco pensar sujeitos surdos e suas experiências 

visuais. Sujeitos que experimentam, no equilíbrio, o desequilíbrio; no passo, um 

descompasso; na reta, uma curva; na forma, uma deformidade; na semelhança, um 

escape; no exato, uma interrogação; no caos, a fragilidade de uma vida. Na tentativa 

de escapar ao historicamente construído, Pelbart (2004, p. 47) afirma que  

[...] por um lado temos as potências da vida que precisam desfazer-se de 
suas formas cristalizadas para se experimentarem, por outro temos o poder 
sobre a vida que precisa de um corpo pós-orgânico ou de uma vida pós-
orgânica para anexá-los à axiomática capitalística.  
 

Uma vida pode emergir à medida que consegue escapar às formas fixas, 

criando possibilidades outras, que não as da repetição. Ao experimentarem-se, os 

sujeitos surdos entram em contato com possibilidades que sua realidade produz; por 

isso, são singulares, já que evidenciam sensações que os diferem de outros. Para 

Rolnik (2010, texto digital), o “afeto se incorpora à textura do nosso corpo, dessa 



40 

capacidade vibrátil do corpo, da nossa sensibilidade”. A autora segue afirmando que 

o afecto é como um movimento que “vem dessa experiência sensível-vibrátil do 

mundo como um campo de forças e que faz uma pressão, um movimento do vetor 

de incorporar a cartografia do presente” (ROLNIK, 2010, texto digital). Um corpo 

frágil que “sabe quando a vida está vingando e quando ela está minguando” 

(ROLNIK, 2010, texto digital). 

Um sujeito pode ser assim pensado enquanto potencialidade de vida: visível- 

invisível. Ora mostra a sua potência, ora a esconde. Provocações apenas. Linhas. 

Entrelinhas. Ligação. Um traço num dia, um rabisco no outro. Pinceladas imanentes 

à vida, às possibilidades, aos movimentos. 

Entre as diferentes maneiras de olhar o tempo presente, concordo com as 

ideias de Lopes quando afirma que é preciso uma “liberdade para mudar sua 

condição. Tem também mobilidade para sair das posições, identidades e funções 

que ocupam” (LOPES, 2009, p. 125). Nesse sentido, um sujeito surdo pode 

encontrar-se num emaranhado de linhas de vida, passíveis de constante movimento. 

 



41 

4 TRAJETOS ERRANTES... 

No percurso desta pesquisa pelas paisagens até agora descritas, senti a 

necessidade de dar visibilidade às marcas “duras” instituídas em torno das 

representações da surdez, social e historicamente construídas. Porém, em meio a 

essas linhas endurecidas, passa-se por linhas moleculares e de fuga, engendrando-

se a vida enquanto potência e possibilitando-se, pela cartografia, alguns escapes, 

algumas linhas de criação e de invenção de outros territórios, diferentes dos já 

explorados. Nesta dinâmica das linhas, os filósofos Gilles Deleuze e Félix Guattari 

(1995) novamente ajudam-nos a pensar. Para eles, existem três linhas. 

[...] somos feitos de linhas. Não queremos apenas falar de linhas de escrita; 
estas se conjugam com outras linhas, linhas de vida, linhas de sorte ou de 
infortúnio, linhas que criam a variação da própria linha de escrita, linhas que 
estão entre as linhas escritas (Ibidem, p. 72). 
 

As primeiras, denominadas por Deleuze e Guattari (1995) de linhas duras, 

estão relacionadas ao binarismo, trazendo noções fixas, com fases delimitadas e 

identidades permanentes. Podemos pensar os sujeitos surdos, historicamente 

produzidos, como estas linhas, na medida em que são vistos como capazes ou 

incapazes, normais ou anormais, sem mobilidade para criar ou movimentar-se, 

estando categorizados em um espaço que permite ou isso, ou aquilo. Estas linhas 

também podem ser denominadas de molares, demarcam territórios disciplinares e 

constituem o controle. Quando estas linhas estão fortemente marcadas, existe o 

perigo da cristalização dos saberes, quando se apaga toda diferença, pensando-se 

apenas de forma única, emitindo-se juízo de valor, definindo-se o que é bom, o que 

é ruim, o que é certo e o que é errado, quem está “dentro” e quem está “fora”. 



42 

Em meio a estas linhas territorializadas, algumas brechas ou algumas fissuras 

podem ser criadas pelos sujeitos surdos, na tentativa de modificar estes espaços 

que a eles são destinados, a fim de pluralizar as vias já postas, inventando outras 

possibilidades para as já dadas. Tais linhas poderiam ser denominadas, segundo 

Deleuze e Guattari (1995), de flexíveis; elas permitem que o fixo sofra algumas 

pequenas e sutis rachaduras. Estes movimentos são quase imperceptíveis, e as 

mudanças que eles provocam são pequenas, ou seja, trata-se de linhas que 

possibilitam criações, rasgaduras e escapes operados minimamente, e não de 

maneira revolucionária.  

O terceiro tipo de linhas - lembrando que todas elas se movimentam, sendo 

umas dependentes das outras, misturando-se, alternando-se, coexistindo - é o das 

que Deleuze e Guattari (1995) denominam de linhas de fuga, responsáveis por 

causar rupturas bem marcantes, modificando o território anterior.  

Há linhas que não se reduzem ao trajeto de um ponto, e escapam da 
estrutura, linhas de fuga, devires, sem futuro nem passado, sem memória, 
que resistem à máquina binária, devir-mulher que não é nem homem nem 
mulher, devir-animal que não é nem bicho nem homem (Ibidem, p. 36). 
 

Essas linhas de fuga também podem ser pensadas como linhas de criação. 

Deleuze e Guattari (1995) dizem que elas podem ser perigosas, justamente por 

essas mudanças radicais que provocam. Os autores afirmam que as linhas de fuga 

“saltam de uma linha a outra, entre seres totalmente heterogêneos; fissuras, 

rupturas imperceptíveis, que quebram as linhas mesmo que elas retomem noutra 

parte” (Ibidem, p. 36). 

Deleuze (1998) diz que somos cortados, atravessados, bifurcados por linhas 

que coexistem, se alternam, se misturam, compõem ou criam fissuras em um 

território, criam e desmancham geografias. Ele afirma: 

[...] tento explicar que as coisas, as pessoas, são compostas de linhas 
bastante diversas, e que elas não sabem, necessariamente, sobre qual 
linha delas mesmas elas estão, nem onde fazer passar a linha que estão 
traçando: em suma, há toda uma geografia nas pessoas, com linhas duras, 
linhas flexíveis, linhas de fuga etc. (DELEUZE; PARNET, 1998, p.21). 
 

Em meio a tais linhas, poderíamos pensar os sujeitos surdos como paisagens 

em movimento que a cada momento se desfazem para virem a ser outras, também 

em movimento. São potentes os fluxos capazes de borrar a lógica da repetição do 



43 

mesmo, possibilitando diferentes modos de existir aos sujeitos surdos, a partir de 

linhas de vida que se entrelaçam, se misturam e se ramificam. 

Assim, pensar os sujeitos surdos pelos movimentos que estas três linhas nos 

sugerem talvez seja uma força para rachar algumas estruturas molares, permitindo 

problematizar e criar possibilidades inventivas para que os sujeitos surdos sejam 

potencializados em suas singularidades. 

 

4.1 Atravessamentos metodológicos 

Ao observar alguns sujeitos surdos em contatos anteriores à pesquisa, passei 

a interessar-me pelos movimentos emanados por eles, não apenas no contexto de 

sala de aula, mas na captação da vida. A cada observação, as inquietações 

aumentavam e elas me levaram ao caminho desta pesquisa de Mestrado, que se 

configurou na possibilidade de pensar a relação de sujeitos surdos com a vida, por 

meio de experiências visuais captadas mediante registros fotográficos. Dessa forma, 

minha posição como pesquisadora consistiu em pensar alguns movimentos de 

rupturas e provocações aos sujeitos surdos por meio de lentes. 

Cartografando. Fotografando. Caminhando. Uma lembrança de Lygia Clark12 

e sua obra Caminhando. A obra Caminhando foi produzida pela artista Lygia Clark 

em 1963. Tal obra consiste em pegar uma tira de papel e juntar as pontas para 

formar um círculo. Antes, é preciso girar uma delas e colá-la do lado contrário, de 

modo que esse círculo se transforme numa fita de Moebius, da qual não se pode 

dizer onde é o dentro e onde é o fora. Pega-se uma tesoura, faz-se um furo no papel 

e começa-se a cortar no sentido do comprimento, circulando por toda a extensão da 

tira, fazendo uma volta completa. Só não se pode dividi-la em duas. Quando estiver 

próximo do início, decide-se se continua pela direita ou pela esquerda do corte que 

se acabou de fazer. 

                                                 
12

 A artista brasileira Lygia Clark (1920-1988) inovou radicalmente a relação entre o objeto de arte e o 
público. Como cofundadora do movimento neoconcretista, trabalhou com a teoria de que a arte deve 
ser ao mesmo tempo subjetiva e orgânica e que a arte deve ser moldada e manipulada pelo 
espectador. A trajetória de Lygia Clark faz dela uma artista atemporal e sem um lugar muito bem 
definido dentro da História da Arte. Tanto ela quanto sua obra fogem de categorias ou situações que 
podemos facilmente embalar. Disponível em: <http://www.lygiaclark.org.br/defaultpt.asp>. Acesso em: 
28 jan. 2015. 

http://www.lygiaclark.org.br/defaultpt.asp


44 

Busco relacionar a obra Caminhando com a experiência descrita nesta 

dissertação, como obra que se realiza no ato, uma caminhada que tem várias 

direções, na qual há espaços para voltar atrás. As marcas, as escolhas ficam 

registradas através das lentes da câmera. Mesmo no procedimento operado pela 

artista, querendo-se reverter uma escolha, colando-se as tiras ou buscando-se 

outros recortes, a marca permanecerá como uma cicatriz do gesto, não esquecendo 

o que passou. Com a obra Caminhando, Lygia Clark tenta transformar o material 

num gesto, livrando-o das formas estabelecidas, escapando aos moldes e 

modificando, assim, as estruturas, singularizando-as. Clark (1964) diz que sua obra 

é apenas uma potencialidade. O sujeito e a ação formarão uma realidade, em uma 

mistura entre sujeito-objeto, por isso uma fusão, um corpo-a-corpo. As diferentes 

construções surgirão das escolhas em meio a esta fusão. Entrelaçamentos em 

transição, experiência por onde se percorre: direita, esquerda, frente, trás, apenas 

se segue. 

Imagem 2 - Caminhando 

 
Fonte: Lygia Clark. 

No entremeio de tal fusão, encontrei-me com sujeitos surdos, a quem 

chamarei de caminhantes. A escolha dessa denominação dá-se, por um lado, devido 

ao contágio com a obra Caminhando, de Lígia Clark; por outro, porque o contato 

com esses sujeitos surdos foi realizado através de alguns percursos realizados a pé, 



45 

ou seja, caminhando. 

Três foram as caminhantes desta pesquisa. Todas elas mulheres da faixa 

etária de 30 a 39 anos, moradoras de Lajeado e Estrela, no Rio Grande do Sul - 

mulheres adultas com quem tive contato em alguns momentos de minha vida. Com 

a primeira caminhante, tive contato no Centro Universitário UNIVATES, 

acompanhando-a em parte de seu curso de graduação. A segunda caminhante foi 

uma mulher que, durante o ano de 2012, foi minha colega de profissão; trabalhamos 

no mesmo colégio nesse ano, eu com Anos Iniciais e ela com o curso Normal, na 

disciplina de LIBRAS. Por fim, a terceira caminhante foi minha professora no curso 

de LIBRAS que realizei em 2007 na Casa de Cultura da cidade de Lajeado em todas 

as quartas-feiras à tarde. As caminhantes, junto comigo, percorreram trajetos, ora 

escolhidos por elas, ora combinados com o grupo. Dessa forma, alguns percursos 

foram realizados somente com uma caminhante, outros, com as três juntas.    

Foram registradas as sensações experimentadas a cada encontro, utilizando-

se diário de campo, conversas e fotografias como ferramentas. Sobre a escolha do 

diário de campo, parafraseio Bocco (2006) quando comenta que o diário contém 

notas e experiências, não com o propósito de relatar tudo, mas como uma escrita 

que traz a intensidade dos acontecimentos com uma linguagem literária, e não 

técnica ou científica. Utilizei o diário de campo nesta pesquisa não como um relatório 

de cada passo da caminhada que realizei com cada caminhante, mas como um 

instrumento que foi sendo produzido concomitantemente com as intensidades dos 

encontros. 

Algumas escritas aconteciam entre encontros; mais do que frases elaboradas, 

eram registradas palavras que emergiam dos instantes. Posteriormente, em casa, 

quando sentava para escrever, é que as frases eram elaboradas com maiores 

detalhes. No primeiro encontro, após despedir-me da caminhante, sentei em um 

banco próximo ao lugar em que caminhamos e fiz alguns rabiscos, ainda imersa nas 

pulsações que vibravam no ambiente. Já no segundo e terceiro encontros, ao entrar 

no carro, fiz alguns registros que julgava pertinentes, pois temia deixá-los passar 

caso esperasse até chegar a casa. Todos os registros eram feitos em um pequeno 

bloco, do tamanho de meia folha A4, espiralado. As folhas eram utilizadas sem 

seguir uma sequência, frente e verso, em descompasso. 



46 

Destas folhas, algumas singelas cartografias iam se delineando. Para Kastrup 

(2009), a pesquisa cartográfica é uma experiência que aposta no fazer para depois 

saber. A intenção é transformar (agir) para tentar conhecer, mas não com o propósito 

de transformar a realidade ou de explicá-la, pois, como afirma Amador (2009, p. 35), 

“é preciso escapar às tentações explicativas dos movimentos do mundo remetendo 

a pontos estáticos de sua mutação (...)”. 

Na cartografia, os critérios de verdade ou juízos de valor ficam suspensos, 

pois se busca retratar a vida onde ela está: nas pessoas, nas vibrações e nos 

encontros produzidos. A investigação cartográfica é um  

Processo a ser acompanhado e construído conjuntamente. Isso exige estar 
disponível e disposto para deixar-se afetar, porque a única forma de 
transformar a realidade é nos transformando ao mesmo tempo, nossos 
preconceitos, nossos medos, nossa rigidez em formas identitárias fechadas 
(BOCCO, 2006, p. 52). 
 

Afectos que permitem tatear, dar visibilidade e experienciar a vida por meio do 

olhar. Kastrup (2009) menciona o termo rastreio, caracterizando-o como um 

acompanhamento dos encontros oportunizados. Segundo a autora, “trata-se aí de 

uma atitude de concentração pelo problema e no problema” (KASTRUP, 2009, p. 

40). Para complementar, Rolnik (2007) traz importantes considerações acerca do 

cartógrafo, como alguém que acredita que “o que há em cima, embaixo e por todos 

os lados são intensidades buscando expressão. E o que quer é mergulhar na 

geografia dos afetos e, ao mesmo tempo, inventar pontes para fazer sua travessia 

(...)” (ROLNIK, 2007, p. 66). 

A partir dos princípios da cartografia, escolho a carto(foto)grafia como  

ferramenta metodológica de pesquisa, por possibilitar uma abertura aos encontros, 

por tratar-se de uma proposta que permite que sensações sejam fruídas; 

experiências, trocadas; e vidas, potencializadas e registradas. Proponho mapear os 

encontros das caminhantes com a fotografia, acompanhando os processos e 

estando sensível aos acontecimentos que capturam o olhar. 

Embora os sujeitos surdos experimentem a vida por vários sentidos, é pela 

visão que tal relação com o mundo se dá com mais afinco. Na pesquisa, a ideia não 

era fotografar os sujeitos, mas olhar através das experiências visuais que eles 

captassem pela fotografia. A escolha de operar com câmeras fotográficas 



47 

possibilitou que registros fossem realizados a partir do olhar dos sujeitos 

participantes. 

A carto(foto)grafia surge da composição entre as palavras cartografia e 

fotografia, e foi nesse exercício que me lancei: realizar uma pesquisa 

carto(foto)grafando os encontros pelos quais as caminhantes vão sendo afectadas 

durante o caminhar. A partir de percursos imprevistos, impensados, sem 

demarcação de pontos de chegada, criaram-se as possibilidades de caminhar à 

deriva, trocando-se, experimentando-se os encontros. 

Carto(foto)grafia, fusão criada entre duas palavras, misturas e meios.