CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS CURSO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROPOSTA DE IMPLEMENTAÇÃO DO SISTEMA DE TROCA RÁPIDA DE FERRAMENTAS EM UMA FÁBRICA DE TAMPAS PLÁSTICAS: UM ESTUDO DE CASO Diego Coletti Schuck Lajeado, dezembro de 2014 B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) Diego Coletti Schuck PROPOSTA DE IMPLEMENTAÇÃO DO SISTEMA DE TROCA RÁPIDA DE FERRAMENTAS EM UMA FÁBRICA DE TAMPAS PLÁSTICAS: UM ESTUDO DE CASO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Engenharia de Produção, do Centro Universitário UNIVATES, como parte dos requisitos para obtenção do título de bacharel em Engenharia de Produção. Orientador: Prof. Rogério Antônio Kober Lajeado, dezembro de 2014 B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) Diego Coletti Schuck PROPOSTA DE IMPLEMENTAÇÃO DO SISTEMA DE TROCA RÁPIDA DE FERRAMENTAS EM UMA FÁBRICA DE TAMPAS PLÁSTICAS: UM ESTUDO DE CASO Este trabalho foi julgado adequado para obtenção do título de bacharel em Engenharia de Produção do CETEC e aprovado em sua forma final pelo Orientador e pela Banca Examinadora. Orientador: Prof. Rogério Antônio Kober, UNIVATES Mestre pela UFRGS – Porto Alegre, Brasil. Banca Examinadora: Prof. Adriana Belmonte Bergmann, UNIVATES Mestre pela UFRGS – Porto Alegre, Brasil. Prof. Cláudio Roberto do Rosário, UNIVATES Mestre pela UNISC – Santa Cruz do Sul, Brasil. Coordenador do Curso de Engenharia de Produção Prof. Manfred Costa Lajeado, 09 de dezembro de 2014 B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) AGRADECIMENTOS Aos meus pais, Felipe e Sandra, que me ensinaram os reais valores da vida, sempre me incentivando na busca de meus ideais e me ajudando a enfrentar os obstáculos surgidos nesta trajetória e ao meu irmão e grande amigo, Felipe, pela disposição, pela força e energia transmitida. Ao meu orientador, Prof. Rogério Antônio Kober, por todo auxílio, dedicação, otimismo e constante motivação transmitida. Aos meus colegas e amigos da Tamplastec Tampas Plásticas, pela disposição, cooperação e atenção dedicada neste período, cedendo-me as informações necessárias e contribuindo para a realização deste estudo de caso. A todos os meus amigos e professores, que com amizade, companheirismo e presteza, estiveram junto comigo em mais esta importante conquista de minha vida. Meu muito obrigado a todos vocês! B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) “A qualidade nunca é um acidente, é sempre o resultado da intenção elevada, esforço sincero, direção inteligente e execução hábil. Ela representa a sábia escolha de muitas alternativas”. (William A. Foster) B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) RESUMO A inovação tem papel importante nos sistemas produtivos modernos. Inovações em processos são utilizadas para melhorar e otimizar o processo de fabricação de produtos, e geralmente por serem menos tangíveis que inovações no produto final, acabam por passarem desapercebidas. A Troca Rápida de Ferramentas (TRF) é uma metodologia inovadora diretamente ligada à melhoria no processo produtivo. Envolve a separação e conversão de operações de setup internas em externas, visando à redução do tempo total e padronização do setup. Possibilita melhor resposta às flutuações de demanda, redução nos lead times e eliminação dos desperdícios no chão de fábrica. Este estudo tem o propósito de aplicar a metodologia TRF em uma empresa, do ramo de injeção de tampas plásticas, a qual lida com constantes trocas de matrizes em seu processo produtivo. O objetivo é apresentar uma proposta de melhoria para redução dos tempos de setup e padronização das operações. Durante o estudo é realizado um mapeamento das operações que compõe o setup através de conversas com os operadores, cronometragem dos tempos e filmagens. Diante da análise da situação atual do setup, busca-se através da aplicação da TRF por reduzir a sua duração e criar um procedimento formal com o sequenciamento das atividades. Palavras-chave: Troca Rápida de Ferramentas. Setup. Desperdícios. Sistema Toyota de Produção. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) ABSTRACT Innovation plays an important role on modern production systems. Process innovations are focused on production process improvements and optimizations. By being less tangible than product innovation, this kind of innovation usually do not receive its required importance. Single Minute Exchange of Die (SMED) is an innovative methodology that focuses on production processes improvements. It involves the separation and conversion of internal setup operations into external ones. SMED implementation makes possible for organizations to respond to demand fluctuations, reduce their lead times and eliminate wastes on the production floor. The purpose of this study is to implement the SMED methodology in a plastic caps injection molding facility, which deals with constant tool changeovers in its production process. It focuses on presenting an improvement proposal for setup time reduction and padronization. During the study, a mapping of all setup operations is conducted through dialogue with the operators, measurement of times and filming of the process. After analyzing the current situation of the setup by applying the SMED methodology, the study focuses on reducing setup times and creating a procedure with sequencing of all activities. Keywords: Single Minute Exchange of Die. Setup. Wastes. Toyota Production System. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) LISTA DE FIGURAS Figura 1 – A produção contribui para a estratégia empresarial atingir cinco “objetivos de desempenho” ............................................................................................................................ 22 Figura 2 – Processo de redução de perdas: aumentando a densidade do trabalho humano ..... 30 Figura 3 – Diagrama de Ishikawa das causas das perdas por superprodução .......................... 31 Figura 4 – Tempo setup ............................................................................................................ 35 Figura 5 – O tamanho do lote econômico ................................................................................ 40 Figura 6 – SMED ...................................................................................................................... 42 Figura 7 – Fluxograma para aplicação das oito técnicas TRF .................................................. 44 Figura 8 – Fluxograma do Processo da Empresa ..................................................................... 57 Figura 9 – Formulação de uma Tampa Produzida .................................................................... 58 Figura 10 – Layout da empresa ................................................................................................ 59 Figura 11 – Esquema de uma máquina injetora ....................................................................... 60 Figura 12 – Esquema de um molde de três placas .................................................................... 61 Figura 13 – Mesa de armazenamento das matrizes .................................................................. 64 Figura 14 – Lubrificação das cavidades da matriz ................................................................... 65 Figura 15 – Olhal fixo na matriz .............................................................................................. 65 Figura 16 – Presilhas que prendem a matriz na máquina injetora ............................................ 66 Figura 17 – Aquecimento do bico de injeção ........................................................................... 67 Figura 18 – Melhorias – itens 02, 03 e 04 ................................................................................ 78 Figura 19 – Melhorias – item 08 .............................................................................................. 79 Figura 20 – Rede PERT/CPM .................................................................................................. 82 B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Tempos das trocas de matrizes cronometradas ..................................................... 68 B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Diferenças entre os Sistemas Ford e Toyota ......................................................... 27 Quadro 2 – Visão tradicional versus Just in Time .................................................................... 34 Quadro 3 – Plano de Ação - 5W2H .......................................................................................... 75 Quadro 4 – Atividades dependentes no novo setup .................................................................. 80 B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Efeito do tempo de setup no tempo de fabricação unitário .................................... 38 Tabela 2 – Efeito do tempo reduzido de setup no custo do produto ........................................ 39 Tabela 3 – Quantidade de troca de matrizes em 2014 .............................................................. 62 Tabela 4 – Tempo médio por atividade do setup...................................................................... 69 Tabela 5 – Classificação das operações do setup atual ............................................................ 70 Tabela 6 – Ganho no tempo total de setup ............................................................................... 83 Tabela 7 – Percentual de redução dos tempos por atividade .................................................... 83 Tabela 8 – Ganho financeiro com a redução dos setups........................................................... 84 B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) LISTA DE ABREVIATURAS ERP – Enterprise Resource Planning EVA – Etil, Vinil e Acetato GM - General Motors JIT – Just in Time LEP - Lote Econômico de Produção MTO – Make-to-order PCP - Planejamento e Controle da Produção PDCA - Plan-Do-Check-Act SMED - Single Minute Exchange of Die STP - Sistema Toyota de Produção TOC - Theory of Constraints TPE - Tempo de Preparação Externo TPI - Tempo de Preparação Interno TQC - Controle de Qualidade Total TRF - Troca Rápida de Ferramentas B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 15 1.1 Temas e objetivos .............................................................................................................. 16 1.2 Justificativa ....................................................................................................................... 17 1.3 Delimitação do estudo ...................................................................................................... 19 1.4 Estrutura do trabalho ...................................................................................................... 19 2 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................................... 21 2.1 Sistemas de produção modernos ..................................................................................... 21 2.2 Vantagens competitivas .................................................................................................... 22 2.2.1 Qualidade ....................................................................................................................... 23 2.2.2 Rapidez na entrega ........................................................................................................ 24 2.2.3 Custo ............................................................................................................................... 24 2.2.4 Flexibilidade ................................................................................................................... 25 2.2.5 Confiabilidade na entrega ............................................................................................. 26 2.2.6 Inovação .......................................................................................................................... 26 2.3 Sistema Toyota de produção ............................................................................................ 26 2.3.1 STP x Ford ..................................................................................................................... 27 2.3.2 Manufatura enxuta ........................................................................................................ 28 2.3.3 As formas de desperdício .............................................................................................. 30 2.3.3.1 Superprodução ............................................................................................................ 30 2.3.3.2 Espera .......................................................................................................................... 31 2.3.3.3 Transporte ................................................................................................................... 32 2.3.3.4 Processamento ............................................................................................................. 32 2.3.3.5 Estoque disponível ...................................................................................................... 32 2.3.3.6 Movimento ................................................................................................................... 33 2.3.3.7 Produtos defeituosos ................................................................................................... 33 2.3.3.8 A oitava perda: subutilização da capacidade humana ............................................ 33 2.3.4 Just in Time .................................................................................................................... 33 2.4 Setup ................................................................................................................................... 35 2.4.1 Passos básicos em uma operação de setup ................................................................... 36 2.4.2 Estratégias tradicionais para melhorar o setup .......................................................... 36 2.4.2.1 Estratégias que envolvem habilidades ...................................................................... 37 2.4.2.2 Estratégias que envolvem grandes lotes ................................................................... 38 2.4.2.3 Estratégias que envolvem lote econômico ................................................................ 39 B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 2.4.3 Troca Rápida de Ferramentas (TRF) .......................................................................... 40 2.4.3.1 Composição das atividades de setup ......................................................................... 41 2.4.3.2 Estágios conceituais .................................................................................................... 41 2.4.3.3 As oito técnicas para aplicação da TRF ................................................................... 43 2.4.4 Vantagens da redução do setup .................................................................................... 46 2.4.5 Outras ferramentas para melhorar o setup ................................................................. 46 2.4.5.1 Kaizen .......................................................................................................................... 47 2.4.5.2 Padronização ............................................................................................................... 47 2.4.5.3 5S .................................................................................................................................. 48 3 METODOLOGIA ................................................................................................................ 49 3.1 Tipo de pesquisa ............................................................................................................... 49 3.1.1 Quanto aos fins .............................................................................................................. 50 3.1.2 Quanto aos meios ........................................................................................................... 51 3.2 Local de estudo ................................................................................................................. 51 3.3 Coleta de dados ................................................................................................................. 52 3.3.1 Materiais e sujeitos da pesquisa ................................................................................... 52 3.4 Análise dos dados .............................................................................................................. 53 3.5 Apresentação dos dados ................................................................................................... 53 3.6 Limitações dos métodos ................................................................................................... 54 4 ESTUDO DE CASO ............................................................................................................ 55 4.1 A empresa .......................................................................................................................... 55 4.2 Descrição do processo ....................................................................................................... 56 4.2.1 Análise crítica dos pedidos ............................................................................................ 56 4.2.2 O processo produtivo .................................................................................................... 57 4.2.2.1 Injetoras ....................................................................................................................... 59 4.2.2.2 Matrizes ....................................................................................................................... 61 4.2.3 Descrição dos procedimentos atuais de setups ............................................................ 62 4.2.3.1 Estágio Inicial: análise da atual situação do setup ................................................... 63 4.2.3.1.1 Descrição do setup atual .......................................................................................... 63 4.2.3.1.2 Tempos de setups atuais .......................................................................................... 68 4.2.3.2 Estágio 1: análise da operação ................................................................................... 70 4.2.3.3 Estágio 2 e 3: conversão, racionalização e eliminação das operações .................... 72 4.2.3.4 Propostas implementadas .......................................................................................... 78 4.2.3.5 Novo setup com um operador auxiliar ...................................................................... 79 4.2.3.6 Rede PERT/CPM do novo setup................................................................................ 81 4.3 Resultados e discussão ...................................................................................................... 83 4.3.1 Avaliação financeira das melhorias ............................................................................. 84 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 85 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 87 GLOSSÁRIO .......................................................................................................................... 91 APÊNDICES ........................................................................................................................... 92 APÊNDICE A – Modelo de Ordem de Produção ................................................................ 93 APÊNDICE B – Tempos antes das melhorias ..................................................................... 94 APÊNDICE C – Tempos após as melhorias ......................................................................... 95 B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) ANEXOS ................................................................................................................................. 96 ANEXO A – Tabela de Controle dos Pedidos ...................................................................... 97 ANEXO B – Foto da talha ..................................................................................................... 98 B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 15 1 INTRODUÇÃO O ambiente em que as empresas de manufatura estão inseridas tem sido crescentemente turbulento: a concorrência apresenta-se mais eficiente, os mercados demandam por um amplo mix de produtos com ciclos de vida cada vez mais reduzidos e os fornecedores nem sempre alcançam níveis desejáveis de qualidade nos produtos e serviços oferecidos, por estarem eles também, inseridos neste mercado turbulento. Este cenário direciona as organizações a uma condição limitada de previsibilidade e estabilidade e, portanto, demanda uma capacidade crescente de reagir positivamente às mudanças ambientais, ou, em outras palavras, de desenvolver flexibilidade (CORRÊA, 1993). As organizações flexíveis são aquelas que adequam-se às demandas latentes do mercado, obtendo um diferencial competitivo frente à seus concorrentes, proporcionando um nível de satisfação mais elevado por parte dos seus clientes. Ferraz et al. (1997) define a competitividade como a capacidade de uma empresa formular e implementar estratégias concorrenciais que lhe permitam ampliar ou conservar, de forma duradoura, uma posição sustentável no mercado. Os sinais do mercado e a eficiência produtiva, “interpretados” (em função de percepções e das decisões de gestão) pela capacidade acumulada das empresas, refletem, por sua vez, as estratégias competitivas vigentes. Essa habilidade compete às empresas que são capazes de converter as recentes informações e mudanças (oscilações) do mercado em benefícios para os seus processos internos, com maior agilidade que os concorrentes. Busca-se de alguma forma traduzir a competitividade por intermédio da relação insumo-produto praticada pela empresa, isto é, na capacidade da empresa de transformar B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 16 insumos em produtos com o máximo de rendimento. Podemos citar a versão da competitividade por eficiência, que é associada à capacidade de uma indústria em produzir bens com maior eficácia que os concorrentes no que se refere a preços, qualidade, tecnologia, salários, e produtividade, estando relacionada às condições gerais ou específicas em que se realiza a produção da empresa quando comparada com a concorrência (FERRAZ et al., 1997). Neste contexto, o maior objetivo dos sistemas de produção tem sido aumentar a eficiência da produção, pela eliminação consistente e completa de desperdícios (OHNO, 1997). Segundo Womack et al. (1998) uma solução para sanar o desperdício é o pensamento enxuto. O termo enxuto é utilizado no sentindo de produzir mais com menos, ou seja, utilizar menos recursos, menos tempo, menos movimentação, menos defeitos e ao mesmo tempo agregar valor aos produtos. A melhoria da performance da produção consiste no aperfeiçoamento contínuo das operações, que resulta em um incremento de competitividade e produtividade. É necessário que a cultura vigente na empresa, no que tange a adoção de melhorias nos sistemas de produção, esteja alinhada com as expectativas crescentes dos consumidores para que a função produção mantenha-se sempre próxima as metas da organização. Harmon (1993) ressalta que a redução no tempo, custos e complexidade do setup de máquinas é a mais fácil, barata e rápida das melhorias que as fábricas podem realizar. Hay (1992) afirma que a eliminação deste desperdício resulta em um processo de fabricação dinâmico, tornando-se uma ferramenta estratégica para a organização. Conforme Moura (1996), o setup compreende todas as tarefas necessárias a partir do instante em que se tenha finalizado a última peça do lote anterior até o momento em que, dentro do coeficiente normal de produtividade, se tenha produzido a primeira peça do lote posterior. De acordo com Shingo (2000), um recurso utilizado para contribuir na redução destes tempos de setup é o conceito de Troca Rápida de Ferramentas (TRF), o qual consiste em analisar e reduzir significativamente a indisponibilidade dos equipamentos nos processos produtivos. 1.1 Temas e objetivos Este trabalho de conclusão aborda como tema principal o sistema de Troca Rápida de B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 17 Ferramentas e suas consequências em um processo de fabricação de tampas plásticas para embalagens metálicas (aerossóis). A empresa em análise atua no ramo de injeção de termoplásticos, fornecendo tampas de diversos diâmetros e alturas para os segmentos: cosmético e químico. O objetivo principal deste trabalho é consolidar procedimentos padrões de setups, para as máquinas injetoras de plástico, focados na redução dos tempos de trocas das matrizes. Como objetivos secundários têm-se: - Descrever o processo produtivo da empresa em questão; - Mencionar como são programadas e executadas as trocas de matrizes atualmente; - Mapear e efetuar um estudo dos tempos, descrevendo as etapas do setup realizado nas máquinas injetoras; - Propor, a partir da análise realizada, melhorias nos setups das máquinas. - Comparar os dois modelos, elencando os ganhos/resultados obtidos. 1.2 Justificativa O desafio de aumentar a competitividade, flexibilizar a produção (volumes e tamanhos de lotes), diferenciar-se no mercado interno perante a concorrência e aperfeiçoar o processo produtivo, exige a quebra do sistema tradicional vigente na empresa (quebra de paradigma). Segundo Slack et al. (2002), todos os fatores fundamentais da competitividade estão devidamente inseridos no campo de atuação da função da manufatura, tendo a competitividade influenciado diretamente sobre os indicadores de performance (aspectos de desempenho): - Fabricação de produtos sem erros; - Entregas rápidas aos clientes; - Manutenção invariável dos prazos prometidos de entrega; B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 18 - Habilidade de introduzir novos produtos em prazos adequados; - Oferecer uma faixa de produtos larga o suficiente para satisfazer as exigências do cliente; - Habilidade de modificar quantidades ou datas de entrega, conforme a demanda do cliente; - Habilidade da empresa em oferecer produtos a preços que, ou superam a concorrência, ou possibilitam maior margem de lucro, ou ambos. Stalk (1993) considera que uma organização flexível detém de uma importante fonte de vantagem competitiva, já que a mesma torna-se mais veloz no seu sistema de entregas e no desenvolvimento de novos produtos. A flexibilidade representa então um caminho para alcançar fins como: confiabilidade, custo e velocidade. A confiabilidade aprimora-se através da flexibilidade, pois esta auxilia a lidar com as interrupções inesperadas no fornecimento. Já os custos são minimizados com a melhor e total utilização dos equipamentos e recursos disponíveis. A velocidade aumenta com a redução do tempo de ciclo através da eliminação de atividades não agregadoras de valor durante a preparação de máquinas. De acordo com Oliveira (2008), para que a fábrica produza com flexibilidade e atenda às demandas do mercado, a indisponibilidade dos equipamentos e perdas de produtividade devem ser minimizadas ao máximo. Fatores estes, considerados vitais para manterem as empresas competitivas no segmento de atuação. A empresa em análise almeja, através de seus processos, suprir a demanda e necessidades de seus clientes com produtos de alta qualidade, preços justos e cumprimento dos prazos de entrega. Para atingir a satisfação do cliente e surpreendê-lo em certas situações, é de suma importância a implementação de ferramentas que auxiliem na melhoria do processo produtivo. Devido ao mix no portfólio de produtos ofertados pela empresa (diâmetros variados de tampas), os processos demandam trocas de matrizes, gerando dificuldades ao setor de Planejamento e Controle de Produção (PCP). A padronização e o incremento da velocidade nestas operações de changeover podem proporcionar a fabricação de lotes menores, aumento na produtividade, redução de perdas e obtenção de capacidade adicional de produção. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 19 1.3 Delimitação do estudo O estudo será realizado na Tamplastec Tampas Plásticas, localizada na Avenida dos Quinze, 1160, no município de Lajeado-RS. A empresa atua no ramo de injeção de artefatos de plástico, tendo como principal item de seu portfólio, tampas para o segmento de embalagens metálicas em aerossol. O tema abordado no trabalho em questão refere-se à área produtiva da indústria, tendo como foco a troca rápida de ferramentas, procurando reduzir o tempo de setup das máquinas e padronizar as operações de troca de matrizes. A execução deste estudo compreendeu o período do primeiro e segundo semestre do ano de 2014, e foi efetuada em uma máquina injetora. Caso venha a se obter sucesso na implementação deste estudo, a melhoria será replicada para as demais máquinas injetoras e matrizes que a empresa utiliza em seu processo industrial. 1.4 Estrutura do trabalho Este trabalho está dividido em cinco capítulos. O primeiro capítulo apresenta uma introdução ao contexto dos sistemas produtivos atuais, procurando demonstrar a importância do desenvolvimento de capacidades competitivas e da redução completa dos desperdícios no chão de fábrica, que propiciam melhor resposta às mudanças do mercado e tornam o processo mais eficiente. Este capítulo também abrange os temas e objetivos abordados no trabalho, bem como justificativas e delimitações do estudo. O segundo capítulo contempla uma revisão de literatura. É a parte onde constam todas as teorias e conhecimentos que serviram como embasamento para a construção deste trabalho. Apresenta uma breve descrição sobre os sistemas de produção modernos, relacionando e conceituando as vantagens competitivas e sua importância na estratégia empresarial. Descreve o Sistema Toyota de Produção, produção enxuta e Just in Time, com ênfase na eliminação dos sete desperdícios, que são detalhados individualmente ao longo do capítulo. Também é definido o conceito de setup, apresentando estratégias e técnicas para reduzir seu tempo através de trocas rápidas de ferramentas. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 20 No terceiro capítulo são descritos os métodos utilizados na elaboração deste trabalho. Aborda o tipo de pesquisa quanto aos meios e fins, a delimitação do local, o método para levantamento de dados, a forma do tratamento dos dados e as limitações dos métodos. O quarto capítulo apresenta um breve descritivo da empresa, contemplando seus processos internos e principais equipamentos utilizados na produção de uma tampa plástica. Descreve também o estudo de caso, que detalha o processo de troca de matrizes e o analisa de acordo com os conceitos e técnicas propostos pela metodologia TRF. Apresenta propostas de melhorias e os resultados de algumas implementações. No quinto capítulo são apresentadas considerações e conclusões referentes ao estudo e propostas para futuros trabalhos. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 21 2 REVISÃO DE LITERATURA Neste capítulo será apresentada uma revisão bibliográfica abordando os conteúdos que servem de alicerce para o entendimento e aplicação da metodologia de Troca Rápida de Ferramentas. 2.1 Sistemas de produção modernos Os sistemas de produção modernos compreendem uma ampla gama de modelos, conceitos e métodos de gestão. Abordagens como a do Sistema Toyota de Produção (STP), do Lean Manufacturing, do Controle de Qualidade Total (TQC), da Teoria das Restrições (TOC) e dos sistemas integrados de gestão, buscam de maneira contínua e sistemática pela implantação de sistemas produtivos cada vez mais flexíveis e focados nas necessidades do mercado (ANTUNES, 2008). Diferente do modelo fordista, surgido no início do século XX, caracterizado pela produtividade em larga escala com baixa flexibilidade e diversificação, os sistemas modernos tendem a buscar simultaneamente por vantagens competitivas que propiciam maior flexibilidade, velocidade de entrega, confiabilidade, menor custo, qualidade elevada e constante inovação. O entendimento destes critérios competitivos e suas implicações é fator decisivo no processo de melhoria dos sistemas de produção, de modo que exercem grande contribuição para o aumento da competitividade da empresa. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 22 2.2 Vantagens competitivas O sucesso competitivo da empresa de uma forma global é resultado direto de suas funções de operação industrial gerarem um desempenho mais elevado do que qualquer dos seus concorrentes (SLACK et al., 2002). Slack et al. (2002, p. 20) afirma que a vantagem em operação industrial significa “fazer melhor”. Para o autor, esta expressão significa cinco pontos básicos: Significa fazer certo - não cometer erros, fazer produtos que realmente são o que devem ser produtos sem erros e sempre de acordo com as especificações de projeto. Através desse conceito a operação industrial dá uma “vantagem de qualidade” à empresa; Significa fazer rápido - fazer com que o intervalo de tempo entre o início do processo de operação industrial e a entrega do produto ao cliente seja menor do que a concorrência. A operação industrial proporciona uma “vantagem velocidade” à empresa; Significa fazer pontualmente - manter a promessa de prazos de entrega, ou alternativamente, aceitar as datas de entrega solicitadas pelo cliente e cumpri-las pontualmente. Fazer pontualmente também aborda as entregas internas, ou seja, para clientes internos. Com isso a operação industrial dá à empresa a “vantagem da confiabilidade”; Significa mudar o que está sendo feito - ser capaz de variar e adaptar a operação, seja porque as necessidades dos clientes são alteradas, seja devido a mudanças no processo de produção causadas, talvez, por mudança no suprimento dos recursos. Significa estar apto a mudar quando e o quanto seja necessário e com rapidez suficiente. Com isso a função da operação industrial dá à empresa a “vantagem da flexibilidade”; Significa fazer barato - fabricar produtos a custos mais baixos do que os concorrentes conseguem administrar. A longo prazo, a única forma de conseguir isto é através da obtenção de recursos mais baratos e/ou transformando-os mais eficientemente do que os concorrentes. Figura 1 – A produção contribui para a estratégia empresarial atingir cinco “objetivos de desempenho” Fonte: Slack et al. (1999). B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 23 A Figura 1 ilustra o inter-relacionamento entre os cinco objetivos de desempenho propostos por Slack, ou seja, mesmo que todos eles sejam importantes e diferenciem-se em grau de importância, devem ser levados em consideração para que seja atingido um equilíbrio e sinergia em sua implementação. Nos itens 2.2.1 a 2.2.5 os cinco critérios de desempenho são tratados conceitualmente. 2.2.1 Qualidade Para Maximiano (2002), a qualidade é um conjunto de características que quando agregado a um valor, satisfazem as necessidades do cliente, por mais ou menos atrativas que elas sejam. De acordo com Slack et al. (2002, p. 33): A qualidade, mais do que qualquer outro objetivo de desempenho, tem uma vantagem que lhe dá grande poder motivacional – ninguém discorda dela. Qualidade é “fazer certo”, é “fazer o que deveríamos estar fazendo”, é “não cometer erros”, é ser “livre de erros”. Slack et al. (1999), afirma que para ocorrer o melhoramento da produção na área da qualidade deve-se levar em conta: - O número de defeitos por unidade produzida; - A quantidade de refugo; - O tempo médio entre as falhas nas operações; - E a quantidade de consumidores satisfeitos. Para Juran (1998), qualidade significa a ausência de defeitos – a ausência de erros que geram retrabalho ou insatisfação dos clientes. Neste caso, o significado de qualidade é direcionado para custos, e portanto, alta qualidade geralmente resulta em menos custos para a empresa. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 24 2.2.2 Rapidez na entrega Caon et al. (2004) define que a velocidade de entrega está diretamente ligada à necessidade do cliente adquirir determinado produto, então, existe a importância da organização conhecer o mercado no qual está inserido. Fornecedores com alta capacidade de demanda de seus produtos podem ter na velocidade da entrega um fator competitivo. Segundo Slack (1993), a rapidez na entrega vem se tornando um critério decisivo na conquista de novos clientes e mercado. Quanto mais um pedido ou um lote demora em qualquer operação, mais despesas ele atrai. A velocidade na entrega beneficia não só aos clientes, mas inclusive a organização e as empresas fornecedoras, pois os clientes ficam satisfeitos com o cumprimento dos prazos estabelecidos, os fornecedores se beneficiam com o aumento do fluxo de materiais e as organizações conseguem diminuição de custos. 2.2.3 Custo Slack (1993) relata que os custos são reduzidos pela velocidade das operações. A qualidade mais alta funciona como um redutor de custos. Menos erros dentro das operações refletem na redução direta dos refugos, dos retrabalhos e dos desperdícios. A redução dos custos nem sempre é repassada aos preços, aumentando assim a margem de lucro. Slack et al. (2002), afirma que a produção industrial de baixo custo é uma meta legítima e desejável para as organizações, mesmo quando o sucesso competitivo não é prioritariamente uma questão de vencer a concorrência nos preços. Segundo Day (2001, p. 44): As organizações forçadas pelo cliente acreditam, erroneamente, que vale a pena perseguir todos os clientes e que estes devem receber tudo o que quiserem. Em pouco tempo os clientes aprendem a explorar isto, ameaçando mudar de fornecedor caso a última oferta de um concorrente não seja igualada. Com isso, os custos sobem e cresce a pressão sobre os preços. O custo é afetado por outros objetivos de desempenho, portanto, para melhorar o desempenho dos custos é importante aprimorar os demais objetivos operacionais (SLACK et al., 2002). B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 25 2.2.4 Flexibilidade De acordo com Ballard & Howell (1997) apud Santos et al. (2004), na tradicional forma de gestão da produção, a falta de cuidados em sincronizar as metas com os recursos disponíveis e as incertezas e variações no fluxo de trabalho são frequentemente resolvidas com a adequação de folgas de tempo e de recursos na produção. O conceito de flexibilidade busca exatamente o contrário para não danificar e aumentar os custos no sistema produtivo. A flexibilidade pode então ser definida como a capacidade dos equipamentos, materiais, componentes, elementos e processos produtivos em atender as exigências ou circunstâncias de produção e utilização mutáveis, sem que para isso ocorram variações significativas na quantidade de recursos necessários à sua produção e utilização. Slack (1993) salienta que a flexibilidade é como um “amortecedor da operação”, pois protege e permite que a produção não pare seu trabalho. A flexibilidade é uma estratégia de vantagem competitiva que auxilia as empresas a lidarem de uma melhor forma com as falhas de fornecedores internos e externos, com a expedição de pedidos prioritários, com as quebras de equipamentos, com os ajustes na demanda por produtos e com a adaptação de produtos a requisitos específicos dos clientes. Slack (1993) apresenta algumas razões pelas quais os processos devem ser flexíveis: - Lidar eficazmente com uma larga faixa de partes, componentes ou produtos existentes; - Adaptar produtos a requisitos específicos dos consumidores; - Ajustar níveis de saída para estar apto a corresponder às variações de demanda; - Expedir pedidos prioritários ao longo da fábrica; - Lidar com eventuais quebras de equipamentos; - Proporcionar ajustes na capacidade quando a demanda for muito diferente do previsto; - Absorver com rapidez possíveis falhas dos fornecedores (internos e externos); - Adaptar-se a situações distintas, visto que pode não haver uma ideia clara de como B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 26 serão as demandas futuras. 2.2.5 Confiabilidade na entrega Slack et al. (2002), menciona que honrar e cumprir as promessas de entrega, é considerado um ato de confiabilidade. É a outra metade do desempenho de entregas, junto com a rapidez nas entregas. Sem confiabilidade, os melhoramentos na velocidade, flexibilidade, qualidade e produtividade nunca alcançarão o seu inteiro potencial. À medida que os produtos são fornecidos nos prazos combinados, torna-se de grande valor a escolha de fornecedores que correspondam às expectativas. Caon et al. (2004), abordam que a fidelidade com que o fornecedor entrega seus compromissos, não só em termos de prazo, mas também em termos de quantidades, é um aspecto de competitividade que tende a ser crescentemente valorizado, pois, evita a necessidade de se manter altos índices de estoques de segurança, situação que as empresas tentam evitar. 2.2.6 Inovação Slack (2002) define a inovação como sendo o sexto objetivo de desempenho. Para o autor, nos mercados mais disputados, as inovações constantes proporcionam uma rota particularmente efetiva para a vantagem competitiva. Uma organização que administra com sucesso o desenvolvimento de novos produtos entre os que oferecem, cria a oportunidade de ultrapassar seus concorrentes. Ao fazer duas inovações de produto enquanto os concorrentes fazem uma, tem-se o dobro de oportunidades de ultrapassá-los. Segundo Terra (2007), a cultura de inovação em toda a cadeia de valores é um dos fatores fundamentais para preservação da competitividade e sobrevivência das organizações. 2.3 Sistema Toyota de produção O Sistema Toyota de Produção é uma abordagem única da empresa japonesa Toyota no que se refere à produção, sendo a base para a filosofia da “produção enxuta” que domina as tendências industriais nos últimos anos. Foi desenvolvido após a Segunda Guerra Mundial, B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 27 em um período em que a Toyota, ao contrário da Ford e GM, passava por dificuldades empresariais. Seus concorrentes focavam na produção em massa, economia de escala e grandes equipamentos para produzir a maior quantidade com o menor custo possível. Com a influência do mercado reduzido resultante do pós-guerra, a Toyota precisou produzir vários e diferentes modelos de veículos na mesma linha de montagem. Isto somente foi possível com desenvolvimento de flexibilidade em suas operações (LIKER, 2005). O mesmo autor salienta que a busca por flexibilidade nos processos auxiliou a Toyota a fazer uma descoberta: ao reduzir o lead time e concentrar-se em manter as linhas de produção flexíveis, ao mesmo tempo obtêm-se qualidade mais elevada, melhor resposta dos clientes, aumento de produtividade e otimização do espaço e dos equipamentos. O objetivo da Toyota naquela época, que era a eliminação do desperdício de tempo e material em cada etapa do processo produtivo, foi determinado para lidar com condições que ainda impactam as empresas no cenário atual: a necessidade de processo rápidos e flexíveis que proporcionem aos clientes o que eles desejam, quando desejam, com o máximo de qualidade e a um custo interessante. 2.3.1 STP x Ford Para Shingo (1996), existem três características básicas que diferenciam o Sistema Toyota de Produção do sistema adotado por Ford: tamanhos reduzidos de lote, produção flexível com variedade de produtos e fluxo de peças unitárias, desde o processamento até a montagem final. O Quadro 1 apresenta um comparativo entre estas diferenças. Quadro 1 – Diferenças entre os Sistemas Ford e Toyota CARACTERÍSTICAS FORD TOYOTA BENEFÍCIO 1. Fluxo de peças unitárias Somente na montagem Interligação do processo e montagem Ciclos curtos, inventário de produtos acabados reduzidos, estoque intermediário pequeno 2. Tamanho do lote Grande Pequeno Redução do estoque intermediário, produção contra pedido 3. Fluxo de Produto Produto único (poucos modelos) Fluxo misto (muitos modelos) Redução do estoque intermediário, ajustes para mudanças, promove equilíbrio da carga Fonte: Shingo (1996). - Operação de fluxo consistente das peças à montagem: no Sistema Toyota todas as B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 28 peças são fabricadas em pequenos lotes, fluindo em fluxo contínuo e unitário diretamente para montagem final (SHINGO, 1996). - Lote grande versus produção em lotes pequenos: Ford optava por produzir grande quantidade de poucos modelos, enquanto Toyota focava na produção de modelos variados em menor quantidade, decisão esta tomada por consequência das condições do mercado e demandas dos clientes. A produção em massa possui suas vantagens e de acordo com os fabricantes americanos geraria economias substanciais com depreciação das máquinas, troca de ferramentas, matrizes, custos mais baixos de produto e divisão do trabalho. No entanto, a estratégia de produção em grandes lotes resultou em estoques elevados de produtos acabados e estoques intermediários. O autor afirma que todas as justificativas que direcionam a optar por produzir em grandes lotes perdem o valor quando os tempos de setup são otimizados através da TRF (SHINGO, 1996). - Adoção da produção com modelos mistos no processo de montagem: na produção com modelos mistos, a geração de estoques intermediários é eliminada, visto que são utilizados pequenos lotes. Esta estratégia favorece o planejamento e a resposta rápida às mudanças e flutuações do mercado (SHINGO, 1996). 2.3.2 Manufatura enxuta Neste mercado de mudanças constantes e muitas vezes drásticas, é inviável uma empresa permanecer competitiva fazendo as coisas da mesma maneira por longos períodos. Percebe-se que a busca por melhorias é um fator essencial para manter a competitividade. A melhoria pode ocorrer através de um processo de melhoramento contínuo (kaizen) ou, por melhorias radicais (reengenharia de processos) (CORRÊA et al., 2009). Rago (2003) define a manufatura enxuta como sendo uma série de processos flexíveis, que proporcionam menor custo e redução de perdas à produção. Este modelo de sistema produtivo, também possibilita às empresas fabricar um maior mix de produtos, além de entregá-los aos clientes com lead times mais curtos. Womack et al. (1998) define três conceitos básicos da produção enxuta: fluxo, valor e perda. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 29 Conceito de Fluxo de Processo e Operações Um sistema produtivo é um conjunto complexo de processos que transformam insumos em produtos acabados através de operações. Um processo pode ser caracterizado pelo fluxo de materiais e informações e as operações pelo fluxo de equipamentos e operadores no tempo e espaço (SHINGO, 1996). De acordo com Monden (1998) dois pilares sustentam o sistema: - Just in Time (JIT) – é produzir o necessário, na quantidade necessária e no tempo necessário; - Autonomação – é a automação com o auxílio da inteligência humana (operador), controle automático de defeitos. Conceito de Valor Valor é o ponto crítico e inicial do pensamento enxuto, ele é criado pelo fabricante, porém só pode ser definido e avaliado pelo consumidor final. Valor é aquilo que os clientes estão dispostos a pagar por determinado produto para suprir determinada necessidade (WOMACK et al., 1998). As organizações que desejam se encaixar na mentalidade enxuta devem identificar estas necessidades e satisfazê-las da melhor e mais completa forma a um preço específico. Conceito de Perdas As perdas, denominadas de muda, pelos japoneses, passaram a ser conceituadas como toda e qualquer atividade que gera custo e não adiciona valor ao produto (ANTUNES, 2008). De acordo com Ohno (1997), ao pensar sobre a eliminação total de desperdícios deve- se analisar os seguintes pontos: 1) O aumento da eficiência somente é útil quando está associado à redução de custos. Para conseguir isso, deve-se produzir apenas o necessário com o mínimo de mão-de-obra; 2) Deve-se observar a eficiência de cada funcionário e de cada linha. Então, observar os operadores como um grupo, e depois a eficiência de todas as linhas. A eficiência deve ser melhorada em cada estágio e, ao mesmo tempo, para a fábrica como um todo. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 30 Antunes (2008) salienta que na concepção do Sistema Toyota de Produção, uma consequência da aplicação sistêmica e sistemática da eliminação de perdas está relacionada ao aumento da densidade do trabalho humano. Ao aumentar a quantidade de tempo em que os funcionários executam tarefas que agregam valor, reduzindo o tempo de trabalho adicional, consequentemente haverá um incremento na qualidade do trabalho e na redução das perdas, conforme apresentado na Figura 2. Figura 2 – Processo de redução de perdas: aumentando a densidade do trabalho humano Fonte: Antunes (2008). 2.3.3 As formas de desperdício Antunes (2008) apresenta um maior detalhamento das perdas, propostas por Ohno e Shingo. Trata-se da noção de desperdícios diretamente relacionadas ao conceito do mecanismo da função produção. Os autores identificaram sete grandes desperdícios que devem ser controlados e eliminados: (i) perdas por superprodução; (ii) perdas por espera; (iii) perdas por transporte; (iv) perdas no processamento em si; (v) perdas nos estoques; (vi) perdas no movimento; (vii) perdas devido à fabricação de produtos defeituosos. 2.3.3.1 Superprodução Shingo (1996) salienta que os desperdícios por superprodução podem ser divididos em dois tipos: perdas quantitativas e perdas antecipadas. A primeira refere-se a produzir mais produtos do que o necessário, visando possíveis defeitos que possam vir a ocorrer. Neste caso, B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 31 se ocorrerem poucos defeitos, as peças excedentes são desperdiçadas. Já a superprodução antecipada ocorre quando a empresa opta por fabricar um produto antes que ele seja necessário, tendo que arcar com os custos financeiros associados a esta operação e não seguindo o conceito do JIT. Lewis (2005) afirma que superprodução é uma perda difícil de ser identificada e a mais prejudicial ao sistema. Além de implicar em estoques desnecessários, este desperdício faz com que o operador esteja envolvido em produzir mais do que a demanda, resultando em recursos não disponíveis para outras necessidades daquele momento, o que gera maiores lead times e diminui a confiabilidade e rapidez na entrega. A busca por flexibilidade no processo se torna um fator chave para eliminar este desperdício. Antunes (2008) associa as perdas por superprodução à um conjunto de causas raízes, e identifica que para reduzir este desperdício deve-se atacar sistematicamente, seguindo um critério de prioridades, todas os fatores que causam a produção excessiva ou antecipada. O Diagrama de Ishikawa da Figura 3 apresenta as principais causas que resultam em perdas por superprodução. Figura 3 – Diagrama de Ishikawa das causas das perdas por superprodução Fonte: Antunes (2008). 2.3.3.2 Espera As perdas por espera ocorrem quando os operadores ou máquinas não estão agregando valor para o produto, estando ociosos devido à paradas no processo ou aguardando pela B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 32 próxima etapa do processo. São longos períodos de ociosidade de pessoas, peças e informação, resultando em um fluxo pobre de materiais e em longos lead times. De acordo Júnior et al. (2002), a falta de balanceamento no processo produtivo implica na paralisação dos postos de trabalho, o que reduz a taxa de ocupação de equipamentos e paralisa a atividade humana. Os autores salientam que o setup de equipamentos é um exemplo de desperdício por espera, e que o estudo e aplicação da TRF tem por finalidade a redução deste tipo de perda. 2.3.3.3 Transporte Slack et al. (2009) define que toda e qualquer movimentação de materiais dentro da fábrica ou no estoque não é vista como fonte de agregação de valor. Portanto, alterações no layout a fim de aproximar as etapas do processo, melhorias nos métodos de transporte e na organização do trabalho, podem resultar em redução de desperdícios. 2.3.3.4 Processamento É o desperdício por processar o produto além do que o cliente deseja, adicionando especificações e etapas ao processo que não agregam valor significativo. Este desperdício é criado, na maioria das situações, no estágio de projeto do produto ou processo, na qual os engenheiros superestimam as especificações do cliente. A escolha por equipamentos e processos ineficientes também aumentam este desperdício (WILSON, 2010). 2.3.3.5 Estoque disponível De acordo com Wilson (2010), todo estoque é considerado perda, ao menos que esteja diretamente relacionado com vendas. Para o autor, não há diferenças, seja estoque de insumos, produtos em processamento ou acabados, desde que não estejam condicionados à vendas, são todos tratados como fontes de desperdício. Para Antunes (2008), estoques acarretam em elevados custos financeiros e na necessidade de maior espaço físico para a empresa. Portanto, deve-se estabelecer uma estratégia global que busque reduzir sistematicamente e continuamente a necessidade de B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 33 estoques. 2.3.3.6 Movimento As atividades de movimentação de operadores ou peças são consideradas desperdícios quando ocorrem desnecessariamente, visto que além de não agregarem nenhum valor ao produto, podem ser descartadas. Slack et al. (2009) salienta que ao simplificar o trabalho pode-se reduzir consideravelmente os desperdícios com movimentação. 2.3.3.7 Produtos defeituosos Perda por fabricação de produtos defeituosos consiste na fabricação de produtos que não atendem às especificações de conformidade exigidas pelo projeto e os requisitos de qualidade que o cliente deseja (ANTUNES, 2008). Produtos defeituosos são vistos como desperdícios, pois seu processo de fabricação utiliza recursos humanos, materiais e logísticos para gerar um item que não está de acordo com um padrão pré-estabelecido. 2.3.3.8 A oitava perda: subutilização da capacidade humana São as perdas de tempo, ideias, habilidades, melhorias e oportunidades de aprendizado por não escutar e valorizar as capacidades dos funcionários. Para Rago et al. (2003), esta subutilização do talento das pessoas é a pior de todas as perdas em um sistema produtivo, pois é a chave para eliminar as demais. 2.3.4 Just in Time O Just in time tem como ponto essencial a eliminação de perdas nos processos produtivos. É uma metodologia de apoio à Produção Enxuta, a qual enxerga a produção como constituída simultaneamente de fluxo, conversão e valor e tem como principais objetivos à estabilização do fluxo de trabalho e a redução das atividades que não agregam valor (KOSKELA, 1997 apud SANTOS, 2004). B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 34 Ohno (1997) define a expressão Just in Time como “no momento oportuno”. O autor refere-se às entregas aos clientes, no tempo certo e nas quantidades solicitadas, sem geração de estoques ou atrasos, que implicam diretamente na produtividade e na lucratividade. Para Leite (2006), o JIT também pode ser visto como uma resposta à morosidade da administração tradicional, que permite os erros passivamente, como parte integrante do processo, ao contrário de buscá-los e solucioná-los de maneira constante. O Quadro 2 demonstra um comparativo entre a visão tradicional e o JIT. Quadro 2 – Visão tradicional versus Just in Time Item Visão Tradicional Just in Time Qualidade Conseguida com muito investimento e custo alto. Decorrência natural do trabalho bem feito na primeira vez. Especialização Altos níveis de especialização nos escalões de comando. Os funcionários são altamente especializados no âmbito operacional. Mão de obra Obedece às ordens superiores. Participa e influencia a produção. Fornecedores Incentivo à disputa - inimigos. Participam do processo, colaboradores. Erros São aceitáveis, resta corrigi-los. Base do processo de melhoria. Estoques Mantém a produção funcionando. Ocultam problemas, devem ser evitados. Setup É inevitável, não tem importância. Deve ser reduzido ao mínimo possível. Lead time Maior tempo, melhor produção. Deve ser reduzido ao mínimo possível. Filas Necessárias para manter a velocidade máxima das máquinas. Não deve haver filas, a produção deve ser a tempo (JIT) sem paradas. Automação Dirige o trabalho para o produto final. Pode valorizar a qualidade quando empregada de maneira adequada. Custos Redução pelo incremento no uso de máquinas; altas taxas de produção. Redução pela velocidade com que o produto passa pela fábrica. Flexibilidade Pelo excesso da capacidade, de equipamentos, de estoques e de despesas administrativas. Pela redução de todos os tempos gastos em todas as etapas internas da organização. Lotes Lote econômico de compra. Quanto menor, melhor. Fluxo Empurrado através da fábrica. Puxado através da fábrica via Kanban. Fonte: Leite (2006). Santos (2004) afirma que o JIT tem entre seus aspectos mais importantes a otimização do tempo de preparação de máquinas e trocas de ferramentas. Isto porque, apesar das operações de setup ser atividades auxiliares ao processo, seu valor não é reconhecido pelo cliente. Todo tempo consumido no processo deve ser visto como um recurso de entrada e sua redução deve ser uma meta para a organização. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 35 2.4 Setup Para Shingo (2000) setup é tudo que antecede a uma operação, seja para sua preparação, regulagem, troca de ferramenta, dispositivos e outros. Tempo setup ou tempo de preparação entende-se como “o tempo transcorrido para que todas as tarefas necessárias desde o momento em que se tenha completado a última peça do lote anterior até o momento em que, dentro do coeficiente normal de produtividade, se tenha feita a primeira peça do lote posterior” (MOURA, 1996). Ainda mais, as tentativas para obter a primeira peça com qualidade do lote seguinte também devem ser consideradas parte do setup. Figura 4 – Tempo setup Fonte: Culley (2001) apud Bacci et al. (2005). A Figura 4 exemplifica o conceito de setup, demonstrando o intervalo de tempo dispendido desde a produção da última peça do produto A até a o momento em que a primeira peça do produto B é produzida dentro dos padrões exigidos de qualidade. Verifica-se que o período utilizado para setup e ajustes pode ser visto como tempo de produção perdida. Santos et al. (1999) apud Muller (2007) ressalta que a operação de setup não agrega valor ao produto, e portanto, seu tempo ideal de execução deve tender a zero. À medida que o tempo é otimizado, passa-se a disponibilizar maior capacidade produtiva para processamento e consequentemente eleva-se a produtividade. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 36 Para Bacci (2005), o tempo total de setup, antes de passar por um processo de melhoria, engloba: “atividades como troca de ferramentas ou de equipamentos, transporte de ferramentas, produção de algumas peças de novo lote, inspeção dessas peças e ajustes da máquina, tantas vezes necessários até que se consiga produzir peças de qualidade aceitável”. O mesmo autor ressalta que o tempo da operação de setup pode levar horas, sendo que as consequências da ineficiência no setup causam aumento do custo de produção, interrupção na programação, geração de ociosidade e, principalmente, deficiência no atendimento de prazos prometidos aos clientes. 2.4.1 Passos básicos em uma operação de setup Santos (2006) salienta que em qualquer operação de setup, indiferente da máquina ou equipamento em análise, existem quatro atividades básicas e padrão a serem executadas por qualquer empresa: 1) Preparação, ajuste e checagem (novos materiais e ferramentas). 2) Remoção da ferramenta antiga e instalação da nova ferramenta na máquina. 3) Medições, ajustes de parâmetros e calibrações (ferramentas e máquinas). 4) Produção das primeiras peças (testes de produção) e ajustes finais da máquina. Importantes ou não, estas atividades ocorrem em qualquer setup e seus tempos podem variar de acordo com o know-how dos operadores e com a disponibilidade das ferramentas utilizadas. 2.4.2 Estratégias tradicionais para melhorar o setup No passado, para lidarem com os problemas ocasionados pela diversificação da produção, algumas organizações optaram por restringir a sua produção a uma quantidade mínima de itens e estimular sua demanda. Esta estratégia teve sucesso limitado, visto que o cliente atual busca por diversidade em opções, cores e atributos em um produto (SHINGO, 2000). B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 37 Ao analisar os sistemas modernos de produção, verifica-se que os lotes de produção diminuíram. Esta mudança não é resultado de um encolhimento na demanda, mas sim, que as preferências e expectativas individuais de cada cliente têm aumentado, obrigando os fornecedores a serem flexíveis para visualizar e oferecer o que seu mercado busca (SANTOS, 2006). Esta demanda por itens variados força e direciona as empresas a adequarem sua produção com lotes menores. O mesmo autor salienta que a necessidade por setups mais frequentes aliada a possibilidade de surgirem peças avariadas no processo de produção, faz com que se produza mais produtos do que o necessário e em muitos casos estocasse-os para pedidos futuros, o que gera custos adicionais com estocagem e manuseio. Shingo (2000) afirma que mesmo que exista a necessidade de um maior número de setups devido à produção diversificada, há uma série de possibilidades que surgem ao analisar a operação de setup propriamente dita: - Elementos comuns em um setup: mesmo que os produtos possuam características diferentes de um lote para o outro, os equipamentos, peças e ferramentas utilizadas no processamento podem ser as mesmas. - Elementos similares de setup: em algumas ocasiões percebe-se um padrão entre os produtos de lotes subsequentes, como por exemplo, mesmas dimensões, saliências, ranhuras e características similares. Estas e outras similaridades facilitam e simplificam a operação de setup. 2.4.2.1 Estratégias que envolvem habilidades Um setup eficiente é resultado do conhecimento prévio sobre o equipamento em questão e da habilidade e experiência do operador em executar as atividades de troca das ferramentas, ajustes, calibragens e testes de produção. Shingo (2000) salienta que as empresas, visando à otimização do setup, ao invés de tornarem a operação menos complexa, investem em aumentar as habilidades dos operadores e erroneamente mantêm a operação idêntica. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 38 2.4.2.2 Estratégias que envolvem grandes lotes Uma das soluções para compensar o tempo perdido em longas operações de setup é o aumento dos lotes de produção. Shingo (2000) evidencia que o impacto do tempo de setup quando se refere a lotes grandes de fabricação não é representativo, pois o tempo da operação é melhor diluído no tempo total de processamento do lote em questão. Por outro lado, para pedidos pequenos e diversificados o efeito do setup é muito maior. Santos (2006) afirma que a estratégia baseada em grandes lotes dita que quanto maior o tamanho do lote, menor será o impacto do tempo de setup no custo unitário de produção. Uma das seções contempladas no cálculo do custo de cada peça depende do tempo de fabricação unitário e do respectivo tempo de setup. Pode-se nomear este tempo de Tm. (1) A Tabela 1 demonstra o efeito de diluir e considerar o tempo de setup no tempo de fabricação unitário de cada peça. diminui consideravelmente ao aumentar o tamanho do lote. Tabela 1 – Efeito do tempo de setup no tempo de fabricação unitário Tamanho do lote Tempo total de setup Tempo de produção unitário Tempo de produção unitário – considerando o setup (Tm) 50 un 240 min 2 min 2 + 240/50 = 6,8 500 un 240 min 2 min 2+ 240/500 = 2,48 5.000 un 240 min 2 min 2 +240/5.000 = 2,048 Fonte: Santos (2006). Sabe-se que Tm é proporcional ao tempo de setup, portanto ao reduzir drasticamente este tempo de setup, o tamanho do lote passa a não ter mais grande representatividade no tempo de produção unitário e desta forma no custo do produto, como demonstrado no Tabela 2. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 39 Tabela 2 – Efeito do tempo reduzido de setup no custo do produto Tamanho do lote Tempo total de setup Tempo de produção unitário Tempo de produção unitário – considerando o setup (Tm) 50 un 10 min 2 min 2 + 10/50 = 2,2 500 un 10 min 2 min 2+ 10/500 = 2,02 5.000 un 10 min 2 min 2 +10/5.000 = 2,002 Fonte: Santos (2006). 2.4.2.3 Estratégias que envolvem lote econômico Optar por fabricar em grandes lotes é uma estratégia aceitável quando a empresa detém de pedidos grandes. No entanto, pode se tornar uma opção indesejável quando representa produção antecipada e formação de estoques. Shingo (2000) salienta consequências negativas desta escolha: aumento de custos de estocagem e lead times maiores, que resultam em redução no capital de giro da empresa. Slack (1997) afirma que os estoques são a acumulação armazenada de recursos materiais em um sistema de transformação, e que sua existência serve para compensar as diferenças entre as taxas de fornecimento e demanda no fluxo dos processos. O conceito de Lote Econômico de Produção (LEP) é formado através da análise da contraposição entre as vantagens e as desvantagens em manter estoque. A Figura 5 demonstra o LEP como sendo a intersecção entre o menor custo de estocagem e o menor efeito do setup nos custos de fabricação. Para Shingo (2000) este é o ponto em que as vantagens e desvantagens dos estoques estão balanceadas. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 40 Figura 5 – O tamanho do lote econômico Fonte: Shingo (2000). O conceito de LEP está completamente correto na teoria, porém baseia-se na abordagem tradicional de gerenciamento da produção, a qual assume que reduções drásticas nos tempos de setup são impossíveis. Shingo (2000) salienta que o lote econômico não é considerado uma abordagem positiva na melhoria da produção, sendo que a partir do desenvolvimento da TRF, seu conceito passou a não ter mais razões em existir, acabando também com o mito de que as melhores estratégias para lidar com o setup eram trabalhar com grandes lotes e aumentar as habilidades dos operadores. 2.4.3 Troca Rápida de Ferramentas (TRF) De acordo com Shingo (2000), a Troca Rápida de Ferramenta (TRF) pode ser definida como a mínima quantidade de tempo necessário para mudar um tipo de atividade para outro tipo de atividade, e tem como objetivo principal encurtar o tempo desta troca o máximo possível. A metodologia de Shigeo Shingo é referência quando se trata de redução dos tempos de setup em um processo produtivo. Seu desenvolvimento ocorreu na década de setenta, e foi batizada por ele como SMED (Single Minute Exchange of Die), que ao traduzir para o português recebe o nome de Troca Rápida de Ferramentas. É reconhecidamente uma ferramenta eficiente para a redução do tempo de setup. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 41 O desenvolvimento do conceito SMED levou 19 anos para ser concluído, sendo descrito por Shingo a partir de estudos realizados em 3 empresas: - em 1950 - na planta Mazda da Toyo Kogyo em Hiroshima; - em 1957 - no estaleiro da Mitsubishi Heavy Industries também em Hiroshima; - em 1969 - na planta principal da Toyota Motor Company (SHINGO, 2000). Através destes estudos, Shingo alcançou resultados muito significativos, possibilitando reduções do tempo de setup de prensas de 1000 toneladas de 4 horas para 3 minutos (SHINGO, 2000). Embora desenvolvida inicialmente para utilização na indústria automotiva, os princípios da metodologia SMED podem ser aplicados em qualquer sistema produtivo. 2.4.3.1 Composição das atividades de setup Shingo (2000) afirma que durante suas observações, percebeu que as operações de setup são, na verdade, de dois tipos diferentes: - Setup Interno (TPI – Tempo de Preparação Interno) – são atividades que somente podem ser executadas quando a máquina está parada, tais como remoção das matrizes do lote anterior, instalação, fixação das matrizes, ferramentas e testes de fabricação do novo lote. - Setup Externo (TPE – Tempo de Preparação Externo) – são atividades de setup que podem ser executadas em paralelo a produção do lote anterior, ou seja, enquanto a máquina ainda está funcionando. A movimentação das matrizes e a preparação de ferramentas que serão utilizadas são alguns exemplos de atividades que independem da máquina estar ou não em funcionamento, portanto podem ser antecipadas. 2.4.3.2 Estágios conceituais A metodologia da TRF proposta por Shingo consiste em quatro estágios conceituais, conforme ilustrados pela Figura 6 e definidos a seguir. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 42 Figura 6 – SMED Fonte: Shingo (2000). - Estágio inicial: consiste no estudo e análise da atual situação do setup, na qual setup interno e externo não se distinguem, e resultam em desperdício de tempo com máquinas paradas. Santos (2006) afirma que “o que é desconhecido não pode ser melhorado”, portanto é necessário conhecer o processo, suas variações e as causas destas variações. Shingo (2000) propõe algumas opções para estudar detalhadamente o chão-de-fábrica e compreender o processo de setup: (i) análise contínua da produção com cronômetro – estudo de tempos e movimentos; (ii) análise do trabalho por amostragem; (iii) filmagem das operações de setup e posterior análise juntamente com os operadores. - Estágio 1: considerado o estágio mais importante da implementação da TRF, nesta etapa ocorre a distinção entre setup interno e externo (SHINGO, 2000). Como demonstrado na Figura 6, inicialmente atividades internas e externas não são diferenciadas, e portanto, executadas pelo operador de forma aleatória. Somente por separar estas tarefas, pode-se reduzir o tempo de setup interno – realizado com a máquina parada - de 30% a 50% (SHINGO, 2000). - Estágio 2: o primeiro estágio proporciona uma redução significativa nos tempos de setup, porém é insuficiente para atingir os objetivos da TRF. Shingo (2000) afirma que o Estágio 2 prima por transformar operações internas e externas, através de dois aspectos B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 43 importantes: (i) reavaliar o setup interno e verificar se nenhum passo foi erroneamente considerado como interno; (ii) buscar por alternativas de tornar parcialmente ou totalmente externas atividades realizadas enquanto a máquina está parada (setup interno). Santos (2006) salienta que grande parte das alternativas que surgem nesta etapa necessitam de investimentos monetários, e portanto, se torna necessário uma análise da viabilidade econômica das implementações, bem como estudo do novo processo e possibilidades de novas operações, tanto externas como internas. O efetivo desenvolvimento deste estágio, em muitos casos, pode resultar em setups próximos a um dígito de minuto (< 10 minutos). - Estágio 3: neste estágio é feita uma análise detalhada de cada ação executada durante o setup, buscando sua racionalização por meio da eliminação de ajustes e aspectos desnecessários. Shingo (2000) observa que Estágios 2 e 3 não precisam necessariamente ser executados sequencialmente, e podem sim, ser simultâneos. Para Pellegrini (2012), no Estágio 3 ainda há espaço para melhorias e otimização das atividades. O autor sugere a metodologia 5S (ver parágrafo 2.4.5.3) para auxiliar na organização das ferramentas, de modo que estejam acessíveis sempre que os operadores as necessitem. 2.4.3.3 As oito técnicas para aplicação da TRF Fogliatto et al. (2003) afirma que os estágios apresentados deixam claro que a TRF é composta por duas ações principais, análise e implementação. Para a aplicação dos estágios conceituais da TRF, Shingo (1996) apresentou 8 técnicas que auxiliam na redução dos tempos de setup. Cada técnica será explicada em seguida e pode ser melhor visualizada e compreendida através do fluxograma da Figura 7. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 44 Figura 7 – Fluxograma para aplicação das oito técnicas TRF Fonte: Shingo (1996). Técnica 1 – separação das operações de setup internas e externas: nesta etapa ocorre a identificação das operações que são executadas enquanto a máquina está parada (setup interno) e quais podem ser executadas com a máquina em funcionamento (setup externo). Shingo (1996) salienta que toda preparação e transporte de matrizes, gabaritos, dispositivos de fixação, ferramentas e materiais podem ser feitos enquanto a máquina ainda está produzindo o lote anterior. Portanto o setup interno deve ficar limitado à remoção da matriz ou ferramenta antiga e fixação da nova; Técnica 2 – converter setup interno em externo: envolve o reexame das operações a fim de verificar todas etapas que podem ser convertidas em operações externas. Santos (2006) demonstra a possibilidade de efetuar pré-aquecimentos (setup externo) nas matrizes antes das mesmas estarem instaladas nas máquinas, resultando em redução do tempo para iniciar a produção das primeiras peças com qualidade. A conversão do setup interno em externo é o princípio mais importante da TRF. Sem ele, tempos de setup inferiores à 10 minutos não poderiam ser atingidos (SHINGO, 1996); Técnica 3 – padronizar a função, não a forma: significa igualar certas medidas das peças e matrizes utilizadas para criar uniformidade na operação de setup. Por exemplo, adicionar uma placa ou bloco à borda de fixação de uma matriz, faz com que suas dimensões se igualem as outras matrizes, proporcionando maior facilidade e padronização em diferentes setups (SHINGO, 1996). A padronização da forma também resulta em redução de tempo de B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 45 setup, porém, neste princípio todas as matrizes deveriam se adequar as dimensões daquela com maior tamanho, o que resultaria em custos desnecessários. A padronização funções busca somente padronizar as partes cujas funções são necessárias para o setup. Neste caso, as matrizes não necessitam se tornarem maiores ou mais elaboradas, e os custos tem apenas um pequeno aumento; Técnica 4 – utilizar grampos funcionais ou eliminar os grampos: busca pela eliminação ou redução do uso de parafusos, pois estes demandam muito tempo para fixação e retirada. Shingo (1996) afirma que parafusos com rosca não são, de alguma maneira, a única opção para fixar objetos. Em muitos casos sua utilização não se faz necessária. Deve-se buscar mecanismos de fixação de um único toque e de fácil encaixe; Técnica 5 – usar dispositivos intermediários: a utilização de dispositivos padronizados para preparar a próxima peça/lote enquanto o lote anterior está sendo processado, é uma opção para reduzir tempos com ajustes; Técnica 6 – adotar operações paralelas: o tempo e a complexidade do setup podem ser reduzidos consideravelmente com a utilização de operações paralelas, que podem ocorrer através da participação de mais um operador na atividade de setup. Shingo (1996) demonstra que em grandes máquinas, como injetoras de plástico ou prensas grandes, um operador sozinho desperdiça muito tempo com movimentação em torno da máquina. Quando dois operadores realizam operações paralelas e simultâneas, o setup pode ser reduzido em 50%, devido à economia de movimentos. Santos (2006) ressalta que é conveniente utilizar um checklist padrão com o mapeamento do processo de setup, o mesmo deve informar aos operadores a ordem das atividades e quais delas podem ser executadas em paralelo; Técnica 7 – eliminar ajustes: ajustes devem ser vistos como desnecessários, e portanto, eliminados sempre que possível . Na maioria dos casos, ajustes e testes-piloto representam 50 a 70% do tempo de setup interno. Os ajustes podem ser eliminados quando empregados padrões para determinar as precisões requeridas, através de réguas graduadas, relógios comparadores, sensores de proximidade magnética ou dispositivos numéricos de controle (SHINGO, 1996). Técnica 8 – mecanização: a opção por mecanizar o processo de setup deve ser considerada somente após a implementação de todas as demais técnicas descritas. Shingo (1996) descreve que as 7 primeiras técnicas podem proporcionar reduções de 2 horas para 3 B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 46 minutos, sendo que a mecanização reduziria este tempo em apenas mais 1 minuto. Investir em mecanização, em um primeiro momento pode trazer economia de tempo, porém, não irá melhorar as ineficiências de um setup que já foi mal planejado. 2.4.4 Vantagens da redução do setup Bacci (2005) apresenta alguns benefícios decorrentes da redução dos tempos de setup através da TRF: - Redução de estoques: há um ganho real com a redução dos custos de manutenção de estoques. - Menores Lotes de Produção: a produção econômica em pequenos lotes proporciona maior capacidade de atender as variabilidades da demanda com a mesma estrutura produtiva. - Redução do lead time: a redução do lead time resulta em menores custos de operação e agrega benefícios ao consumidor, visto que há um incremento de flexibilidade e rapidez para atender os clientes. - Maior flexibilidade da produção: possibilita maior flexibilidade de produção e de mix de produtos a serem produzidos utilizando o mesmo equipamento ou linha de produção. - Menor esforço do operador: ocorrem melhorias ergonômicas, visto que o trabalho passa a ser planejado e padronizado. - Maior qualidade: com a padronização da operação de setup há uma redução dos defeitos e retrabalhos ocasionados pela ineficiência na preparação da operação. - Logística: as melhorias com diminuição de lead time e agilidade de entrega beneficiam toda a cadeia logística. 2.4.5 Outras ferramentas para melhorar o setup De acordo com Pellegrini (2012), as literaturas de engenharia de produção identificaram outras técnicas, que podem ser desenvolvidas simultaneamente à TRF, e B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 47 também auxiliam às empresas na redução dos tempos de setup. Estas ferramentas podem ser utilizadas por todas as organizações que têm como objetivo a melhoria de seus processos, e não somente a redução do setup. 2.4.5.1 Kaizen Kaizen está na base da filosofia de melhoria contínua. A palavra tem origem japonesa, e é formada por dois ideogramas: kai que quer dizer “mudar” e zen que quer dizer “melhor”. Para Ortiz (2010) apud Guimarrães (2013), o kaizen é uma ferramenta poderosa que busca envolver a organização e seus funcionários em melhorias globais. A filosofia kaizen está baseada na eliminação de desperdícios, e tem base em um processo de baixo custo, que utiliza da criatividade dos colaboradores da organização para melhorar práticas dos processos produtivos, com o objetivo voltado para a melhoria contínua. Pellegrini (2012) afirma que geralmente o kaizen é a ferramenta escolhida pelas empresas para auxiliar nos esforços de redução do tempo de setup. 2.4.5.2 Padronização Ao tratar de solução de problemas no chão de fábrica, um dos princípios mais importantes do Lean Manufacturing é a padronização. Conforme afirmava Tahiichi Ohno, considerado o pai do STP, “onde não há padrões, não pode ocorrer kaizen”. Portanto, sem padrões, não existe formas de comparar a situação antes e depois do kaizen, impossibilitando a visualização do que realmente foi melhorado no processo. A padronização é importante para redução dos setups, pois geralmente a partir da aplicação da TRF são definidos e padronizados novos procedimentos para as operações que compõe o setup (PELLEGRINI, 2012). De acordo com o ciclo PDCA (Plan-Do-Check-Act), proposto do Deming, a padronização consiste na etapa final de um processo de melhoria contínua. O ciclo PDCA é uma abordagem científica para resolução de problemas, e mostra que melhorias não podem ser alcançadas somente por implementar aquilo que parece ser a solução para o problema em questão (PELLEGRINI, 2012). B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 48 - Plan – Planejar: identificação da causa raiz do problema; - Do – Fazer/Executar: somente quando as causas raízes são encontradas e analisadas, é possível intervir diretamente no problema e tomar ações corretivas; - Check – Verificar/Checar: a análise das ações corretivas acontece através da verificação das lacunas entre o cenário atual e o cenário esperado; - Act – Agir/Padronizar: após ter comprovado a efetividade das ações corretivas, elas são então implementadas em larga escala e novos procedimentos são padronizados. 2.4.5.3 5S Pellegrini (2012) afirma que outra ferramenta que é útil na redução dos tempos de setup é o 5S. A filosofia 5S consiste em uma abordagem operacional que visa proporcionar um ambiente de trabalho mais limpo, organizado, seguro e produtivo. O nome 5S tem origem de cinco palavras japonesa: - Seri: senso de utilização - selecionar; - Seiton: senso de ordenação – colocar em ordem; - Seiso: senso de limpeza - limpar; - Seiketsu: senso de higiene, saúde e bem estar - padronizar; - Shitsuki: senso de autodisciplina – sustentar e manter. Ao tornar o ambiente de trabalho mais limpo e organizado, possibilita-se uma melhor manutenção dos equipamentos, melhor identificação de falhas, maior segurança nas operações, diminuição de ferramentas desnecessárias e aumento na satisfação dos operadores. Todos estes fatores contribuem com a redução de desperdícios, e consequente redução do tempo de setup. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 49 3 METODOLOGIA Neste capítulo, são descritos os métodos pelos quais este trabalho foi desenvolvido, bem como o tipo de pesquisa que foi utilizada, tendo como base os conhecimentos teóricos e a real situação da empresa estudada. Barros et al. (2000), afirmam que o método corresponde ao agrupamento de dados para desenvolvê-lo ordenadamente na obtenção do conhecimento. 3.1 Tipo de pesquisa Para Ander-Egg (1978, p. 28) apud Marconi (2010): A pesquisa é um procedimento reflexivo sistemático, controlado e crítico, que permite descobrir novos fatos ou dados, relações ou leis, em qualquer campo do conhecimento. A pesquisa, portanto, é um procedimento formal, com método de pensamento reflexivo, que requer um tratamento científico e se constitui no caminho para conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais. Com referência à maneira de abordagem do problema, esta pesquisa é denominada qualitativa. Este tipo de pesquisa busca o que é comum, contudo aceita também a individualidade e os significados múltiplos, em vez de transformá-los apenas em uma média estatística. Além disso, tenta descobrir os significados de modos e situações que não possuem rigidez no que se refere à direção da investigação dentro de hipóteses, definições operacionais e suposições a princípio do pesquisador (MARCONI et al., 2010). De acordo com Godoy (1995), algumas características básicas identificam os estudos denominados “qualitativos”. Nesta perspectiva, um fenômeno é melhor compreendido no contexto em que ocorre e do qual faz parte, devendo ser analisado em uma perspectiva B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 50 integrada. Para tanto, o pesquisador vai a campo analisar o fenômeno em questão a partir da perspectiva das pessoas nele envolvidas, considerando os pontos de vista relevantes. Uma variedade de dados são coletados e analisados para possibilitar o entendimento do fenômeno em estudo. Em uma segunda etapa, pode-se caracterizar a pesquisa como quantitativa. Conforme Gil (2006), a pesquisa quantitativa se preocupa em mensurar (quantidade, frequência e intensidade) e analisar as relações causais entre as variáveis, através da uma amostra representativa do ambiente pesquisado. As pesquisas dividem-se em dois critérios básicos: quanto aos fins e quanto aos meios. 3.1.1 Quanto aos fins Quanto aos fins, a pesquisa em análise é considerada exploratória. Roesch (1999, p. 131) afirma que “[...] se o propósito do projeto é explorar um tema que foi pouco estudado, utilizam-se pesquisas exploratórias”. Fala também que a pesquisa exploratória busca levantar questões e hipóteses para futuros estudos, por meio de dados qualitativos. Este tipo de pesquisa tem como objetivo o estudo de determinado fenômeno através de levantamento de dados bibliográficos, entrevistas com indivíduos que vivenciaram na prática o problema em questão e análise de exemplos que facilitem a compreensão (GIL, 2006). Gil (2009) afirma que em muitos casos, a pesquisa exploratória é somente a primeira etapa de uma investigação mais ampla. Ao escolher um tema bastante genérico, faz-se necessário seu esclarecimento e delimitação através de revisão de literatura, discussão com especialistas e outros procedimentos. O resultado final deste processo é o problema mais esclarecido, possibilitando investigações mediante procedimentos mais sistematizados. Este estudo também compreende a pesquisa bibliográfica que conforme Vergara (2010), é desenvolvida com base em material publicado em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas e demais materiais acessíveis ao público em geral. Fornece instrumental analítico para qualquer outro tipo de pesquisa, mas também pode esgotar-se em si mesmo. Portando, em uma primeira etapa, esta pesquisa referenciou-se de levantamentos bibliográficos para proporcionar um melhor entendimento dos assuntos abordados. B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 51 3.1.2 Quanto aos meios Quanto aos meios, a pesquisa é definida como um estudo de caso. Vergara (2010) conceitua estudo de caso como sendo aquele que é restrito a uma única ou então, a poucas unidades, tais como organizações, órgãos governamentais, unidades familiares, nações e produtos. É caracterizado também por possuir caráter de profundidade e de detalhamento, e pode ou não, ser realizado no campo. Segundo Godoy (1995), o estudo de caso vem se tornando uma das estratégias preferidas dos pesquisadores quando busca-se responder às questões “como” e “por quê” certos fenômenos ocorrem, quando há limitada possibilidade de controle sobre os eventos estudados e quando o foco de interesse é sobre fenômenos atuais, que só podem ser analisados dentro de algum contexto da vida real. O estudo de caso auxilia o pesquisador a identificar e obter provas a respeito de objetivos sobre os quais os indivíduos não têm consciência, mas que orientam seu comportamento. Desempenha papel importante nos processos observacionais, e obriga o investigador a um contato mais direto com a realidade (MARCONI et al., 2010). Gil (2009) afirma que o estudo de caso indica princípios e regras que devem ser observados durante todo o processo de investigação. Mesmo sem apresentar a rigidez dos experimentos e levantamentos, os estudos de caso englobam as seguintes etapas: - Formulação e delimitação do problema; - Seleção da amostra; - Determinação dos procedimentos para coleta e análise de dados; - Modelo para interpretação dos dados apurados. 3.2 Local de estudo O estudo foi realizado na empresa Plastic Plásticos LTDA (Tamplastec), situada em Lajeado-RS, em máquina injetora de artefatos plásticos. O pesquisador, funcionário da empresa na qual foi executado o trabalho, atua no setor de produção, desenvolvendo atividade B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 52 de PCP. Desta forma, o autor tem disponíveis os dados e a diretoria da empresa como aliada para propor a implementação de melhorias nos processos. Ao longo da execução do estudo, o pesquisador coordenou as atividades de levantamento de dados, cronoanálise dos tempos de setup da máquina em questão e implementação das técnicas propostas na revisão de literatura. 3.3 Coleta de dados De acordo com Marconi et al. (2010), a coleta de dados é a “etapa da pesquisa em que se inicia a aplicação dos instrumentos elaborados e das técnicas selecionadas, a fim de se efetuar a coleta dos dados previstos”. A coleta de dados é uma etapa cansativa, que geralmente leva mais tempo do que se planeja. É fundamental ao pesquisador ter paciência, perseverança e esforço pessoal, além de atenção ao registrar os dados e bom preparo anterior. O efetivo controle na aplicação dos instrumentos de pesquisa é um importante fator para prevenir erros e defeitos resultantes de entrevistadores inexperientes ou de informações tendenciosas (MARCONI et al., 2010). Para Yin (2005), as evidências resultantes de um estudo de caso pode vir de seis fontes distintas: documentos, registros em arquivo, entrevistas, observação direta, observação participante e artefatos físicos. Cabe ao pesquisador saber utilizar estas seis fontes, que exigem conhecimento de habilidades e procedimentos metodológicos diferentes. Neste estudo, a coleta de dados foi realizada através de observações diretas, documentos, registros em arquivo, entrevistas e conversas informais com os operadores responsáveis pelas trocas de matrizes. Também foram utilizadas filmagens, cronoanálises, análise de documentos e checklists para contribuir no processo de coleta de dados. 3.3.1 Materiais e sujeitos da pesquisa A coleta de dados foi realizada pelo autor, que utilizou como materiais de auxílio os seguintes itens: B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 53 - Cronômetro; - Câmera filmadora; - Planilhas e checklists. Os sujeitos envolvidos na pesquisa foram: o autor e os funcionários do chão de fábrica que executam a operação de setup. 3.4 Análise dos dados Yin (2005) afirma que a análise de dados consiste em examinar, categorizar, classificar em tabelas, testar ou, do contrário, recombinar as evidências quantitativas e qualitativas para tratar as proposições iniciais do estudo em questão. Nos estudos de caso, a análise e entendimento dos dados é um processo que geralmente acontece simultaneamente à sua coleta. Cada nova informação, palpite ou hipótese emergente direciona a nova etapa do processo de coleta de dados, que conduz ao sucessivo refinamento ou reformulação das questões da pesquisa (MERRIAM, 1998 apud GIL, 2009). Neste estudo, na análise dos dados, procurou-se sempre que possível que a mesma fosse simultânea à aplicação do método. No entanto, ao fim da pesquisa, todos os resultados foram sintetizados, gerando as melhorias efetuadas, propostas de melhorias e possibilidade de replicação para as demais máquinas e matrizes que a empresa possui. 3.5 Apresentação dos dados Para Gil (2009), a maneira tradicional de analisar e apresentar os dados de um estudo de caso consiste na identificação de alguns tópicos-chave e na consequente elaboração de um texto discursivo. Portanto, é necessário que o pesquisador detenha de habilidades analíticas e discursivas. Este estágio possibilita a utilização de instrumentos analíticos para organizar, sumarizar e relacionar os dados. Figuras, mapas, matrizes, diagramas e redes são instrumentos que contribuem para análise, interpretação e apresentação dos mesmos em um estudo de caso, B D U – B ib lio te ca D ig ita l d a U N IV AT E S (h tt p: //w w w .u ni va te s.b r/ bd u) 54 sobretudo quando o pesquisador tem como objetivo transcender o nível exploratório de investigação (GIL, 2009). Para apresentar os dados e realizar a análise final deste estudo, o autor fez uso dos instrumentos recém descritos. 3.6 Limitações dos métodos De acordo com Vergara (2010), todo método tem possibilidades e limitações. Portanto, é conveniente antecipar-se às críticas que o leitor poderá fazer ao trabalho, explicitando as limitações que o método em questão possui, mas que ainda assim o fazem o mais adequado para o estudo. O método escolhido para este estudo possuí as seguintes limitações: - Curto período de tempo disponível para pesquisa, coleta, análise dos dados e implementação das melhorias. Como as ações propostas não podem ser totalmente implementadas, uma das limitações é a de que não se terá a noção exata da eficácia de implementação destas ações, ou seja, somente poderão ser medidas com precisão aquelas etapas que já foram implementadas. O período aproximado disponível ao pesquisar foi de 5 meses. Gil (2009) informa que o tempo despendido em estudos de casos tende a ser maior do que o despendido em outras modalidades de pesquisa; - Possibilidade de falta de informações e dados arquivados sobre o assunto trabalhado; - Confiabilidade dos dados coletados. Os sujeitos da pesquisa possuem habilidades diferentes e executam as tarefas de modo diferente, não garantindo em algumas situações, a validade e fidedignidade dos dados coletados; - Falsa sensação de certeza do pesquisador em frente aos dados coletados e