UNIVERSIDADE DO VALE DO TAQUARI CURSO DE ENGENHARIA DE CONTROLE E AUTOMAÇÃO PROJETO E IMPLEMENTAÇÃO DE SISTEMA PARA GERENCIAMENTO DE UTILIZAÇÃO DE COMPRESSORES DE AR Diego Alexandre Witt Lajeado/RS, novembro de 2022 Diego Alexandre Witt PROJETO E IMPLEMENTAÇÃO DE SISTEMA PARA GERENCIAMENTO DE UTILIZAÇÃO DE COMPRESSORES DE AR Monografia apresentada na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso II, do Curso de Engenharia de Controle e Automação, da Universidade do Vale do Taquari - Univates, como parte da exigência para a obtenção do título de Bacharel em Engenharia de Controle e Automação. Orientador: Prof. Me. Henrique Worm Lajeado/RS, novembro de 2022 RESUMO O presente Trabalho de Conclusão de Curso objetivou o projeto e implementação de um sistema de gerenciamento de utilização de compressores de ar em uma indústria de beneficiamento de couros bovinos, localizada na cidade de Muçum – RS, visando reduzir as falhas de abastecimento de ar comprimido para a planta, os erros causados pela operação manual dos equipamentos e os custos de geração e a manutenção desta unidade através da otimização do processo. O controle é realizado por um CLP, com base na leitura de variáveis de pressão, corrente e vazão. Para a interface com o usuário, o sistema possui uma IHM, permitindo visualização e comando local, além da implementação do serviço de WebServer disponível no CLP, utilizado na implementação de telas de supervisão remota, possibilitando a análise dos dados e dos resultados em interface web, além de armazenar todas as variáveis em banco de dados na nuvem. Contempla também interligação com aplicativo web e mobile elaborado utilizando MQTT, Node-RED e EMONCMS. Com base nos resultados obtidos, conclui-se que o sistema desenvolvido atendeu aos requisitos e atingiu os objetivos propostos. Palavras-Chave: Compressor. Ar comprimido. Controlador Lógico Programável. MQTT. ABSTRACT The present study aimed to design and implement a management system that utilizes air compressors in a beneficiation industry of bovine leather situated in the city of Muçum – RS, aiming to reduce supply failure of compressed air to the plant, equipment manual operation errors and the costs of generation and maintenance of this unity through optimization of the process. The control is done by a CLP, based on the reading of pressure, flow, and current variables. For the user interface, the system has an IHM, allowing the local visualization and command, as well as the implementation of the WebServer available in the CLP, utilized in the implementation of screens of remote supervision, allowing the analysis of data and results in a web interface, as well as storage of all variables in the cloud database. It also contemplates the intercommunication of the web and mobile applications made utilizing MQTT, Node- RED, and EMONCMS. Based on the obtained results, we can conclude that the developed system attended to the requisites and has achieved the proposed objectives Keywords: Compressors. Compressed air. Logic Programable Controller. MQTT. LISTA DE ILUSTRAÇÕES LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Ar sendo insuflado em um recipiente com válvula de retenção ................ 19 Figura 2 - Etapas de compressão no elemento compressor ..................................... 21 Figura 3 - Diagrama de fluxo do compressor de parafuso isento de óleo ................. 22 Figura 4 - Diagrama de fluxo do compressor de parafuso com injeção de óleo ........ 23 Figura 5 - Recipiente com ar comprimido .................................................................. 24 Figura 6 - Conceitos de pressão ............................................................................... 25 Figura 7 - Manômetro baseado em tubo de Bourdon ................................................ 26 Figura 8 - Tipos de tubo de Bourdon mais usuais na indústria .................................. 27 Figura 9 - Transdutor de pressão .............................................................................. 27 Figura 10 - Transdutor de pressão diferencial ........................................................... 28 Figura 11 - Turbina e roda d’água ............................................................................. 32 Figura 12 - Diagrama de blocos de um medidor de energia elétrica ......................... 34 Figura 13 - Transformador de corrente comum ......................................................... 35 Figura 14 - Construção de um transformador de corrente ........................................ 36 Figura 15 - Atuação do CLP no controle de processos ............................................. 37 Figura 16 - Estrutura interna de um CLP ................................................................... 38 Figura 17 - Elementos básicos da comunicação ....................................................... 40 Figura 18 - Camadas da arquitetura TCP/IP ............................................................. 41 Figura 19 - Endereços no TCP/IP ............................................................................. 42 Figura 20 - Arquitetura de publicação/assinatura do MQTT ...................................... 43 Figura 21 - Utilização do protocolo MQTT ................................................................. 44 Figura 22 - Utilização do broker ................................................................................ 46 Figura 23 - Possibilidades de conexão do Mosquitto ................................................ 46 Figura 24 - Exemplo de fluxo no Node-RED ............................................................. 47 Figura 25 - Tela inicial do Emoncms.org .................................................................. 49 Figura 26 - Tela de login Emoncms ........................................................................... 50 Figura 27 - Compressor Worthington Rollair 125 ...................................................... 52 Figura 28 - Compressor Atlas Copco GA 807 ........................................................... 53 Figura 29 - Compressor Chicago Pneumatic CPVS 125 ........................................... 53 Figura 30 - Protótipo do sistema ............................................................................... 55 Figura 31 - CLP Nexto Xpress XP340 ....................................................................... 56 Figura 32 - Interior do painel elétrico ......................................................................... 57 Figura 33 - Visão frontal do painel ............................................................................. 58 Figura 34 - Transmissor de pressão NP 620 ............................................................. 60 Figura 35 - Instalação mecânica do transmissor de pressão .................................... 60 Figura 36 - Medidor de vazão tipo roda d’água ......................................................... 61 Figura 37 - Sensor de vazão instalado ...................................................................... 62 Figura 38 - Transformador de corrente ..................................................................... 63 Figura 39 - Transformador de corrente - Rollair ........................................................ 64 Figura 40 - Transformador de corrente – Atlas Copco .............................................. 64 Figura 41 - Transformador de corrente - Chicago ..................................................... 65 Figura 42 - Giroflex instalado .................................................................................... 66 Figura 43 - Placa de alerta de segurança.................................................................. 67 Figura 44 - Variáveis da POU “MQTT” ...................................................................... 71 Figura 45 - Fluxograma contendo o comportamento de partida dos compressores .. 72 Figura 46 - Fluxograma contendo o comportamento de parada dos compressores . 73 Figura 47 - Tela “Main” .............................................................................................. 76 Figura 48 - Tela “Principal” ........................................................................................ 77 Figura 49 - Tela “Modo Manual” ................................................................................ 78 Figura 50 - Tela “MANUTENÇÃO” ............................................................................ 79 Figura 51 - Tela “GRÁFICOS” ................................................................................... 80 Figura 52 - Tela “CONFIGURAÇÃO” ........................................................................ 81 Figura 53 - Tela “Principal” da IHM ........................................................................... 82 Figura 54 - Tela “Modo Manual” da IHM.................................................................... 82 Figura 55 - Tela “MANUTENÇÃO” da IHM ................................................................ 83 Figura 56 - Tela “GRÁFICOS” da IHM ...................................................................... 83 Figura 57 - Tela “CONFIGURAÇÃO” da IHM ............................................................ 84 Figura 58 - Tela de login na IHM ............................................................................... 85 Figura 59 - Diagrama com componentes e devidas conexões .................................. 86 Figura 60 - Tráfico de mensagens entre o CLP e o Mosquitto .................................. 87 Figura 61 - Programação no Node-RED ................................................................... 88 Figura 62 - Entradas no Emoncms ............................................................................ 89 Figura 63 - Feeds criados no Emoncms .................................................................... 89 Figura 64 - Painel principal do Emoncms .................................................................. 90 Figura 65 - Painel de histórico de consumo .............................................................. 90 Figura 66 - Tela Rollair .............................................................................................. 92 Figura 67 - Tela AtlasCopco ...................................................................................... 92 Figura 68 - Tela Chicago ........................................................................................... 93 Figura 69 - Tela Pressão ........................................................................................... 93 Figura 70 – Tela Vazão ............................................................................................. 94 Figura 71 - Medição no compressor Rollair ............................................................... 99 Figura 72 - Medição no compressor Atlas Copco .................................................... 100 Figura 73 - Medição no compressor Chicago .......................................................... 100 Figura 74 - Procedimento de Login ......................................................................... 102 Figura 75 - Tela PRINCIPAL ativa em WebServer .................................................. 103 Figura 76 - Tela PRINCIPAL ativa na IHM .............................................................. 104 Figura 77 - Tela MODO MANUAL ativa em WebServer .......................................... 105 Figura 78 - Tela MODO MANUAL ativa na IHM ...................................................... 105 Figura 79 - Tela MANUTENÇÃO ativa em WebServer ........................................... 106 Figura 80 - Tela MANUTENÇÃO ativa na IHM ........................................................ 107 Figura 81 - Tela GRÁFICOS ativa em WebServer .................................................. 108 Figura 82 - Tela GRÁFICOS ativa na IHM .............................................................. 108 Figura 83 - Tela CONFIGURAÇÕES ativa em WebServer ..................................... 109 Figura 84 - Tela CONFIGURAÇÕES ativa na IHM ................................................. 110 Figura 85 - Retomada do sistema após falha de compressor ................................. 111 Figura 86 - Ativação de compressor extra ............................................................... 113 Figura 87 - Horímetros dos compressores .............................................................. 114 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Dados sendo recebidos pelo Emoncms .................................................. 96 Gráfico 2 - Compressor Rollair na madrugada .......................................................... 96 Gráfico 3 - Dois compressores durante o dia e compressor errado na noite............. 97 Gráfico 4 - Compressor Rollair em trabalho constante .............................................. 97 Gráfico 5 - Compressores acionados em horários errados ....................................... 98 Gráfico 6 - Diferença de eficiência entre compressores .......................................... 102 Gráfico 7 - Gráfico do acionamento manual dos compressores .............................. 115 Gráfico 8 - Gráfico do controle automático dos compressores ................................ 116 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Classificação de princípios de medição de vazão ................................... 30 Quadro 2 - Correntes primárias e relações nominais habituais ................................. 36 Quadro 3 - Cabeçalho de mensagens MQTT ............................................................ 44 Quadro 4 - Declaração de variáveis da POU “MQTT Start” ...................................... 70 Quadro 5 - Fatores de multiplicação encontrados para os equipamentos ................ 99 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Resultados do comparativo de geração ................................................. 116 Tabela 2 - Resultado financeiro por período. .......................................................... 117 Tabela 3 - Custos dos materiais utilizados no projeto ............................................. 117 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS API Application Programming Interface ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica bar Unidade de pressão e equivale a exatamente 100 000 Pascais (105 Pa) CLP Controlador Lógico Programável CNI Conselho Nacional da Indústria IBM International Business Machines FTP File Transfer Protocol HTTP Hypertext Transfer Protocol Hz Hertz - Unidade de medida de frequência IoT Internet of Things IP Internet Protocol ICMP Internet Control Message Protocol IHM Interface Homem Máquina Ith Corrente Térmica ao Ar Livre JSON Javascript Object Notation kVA Kilovoltampere kV Quilovolt KWh Quilowatt-hora LAN Local Area Network M2M Machine to Machine mA Miliampere MAN Metropolitan Area Network MQTT Message Queuing Telemetry Transport MPa Mega Pascal m/s Metros por segundo NPT Nominal Pipe Thread PDA Personal digital assistants, em português assistente pessoal digital QoS Quality of Service ou Qualidade de Serviço RTD Resistance Temperature Detector S.I. Sistema Internacional SMTP Simple Mail Transfer Protocol em português Protocolo de Transferência de Correio Simples SCADA Supervisory Control and Data Acquisition TC Transformadores de Corrente TCP/IP Transport Control Protocol / Internet Protocol UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro VA Volt-Ampere WAN Wide Area Network XML Extensible Markup Language SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 14 1.1 Tema ................................................................................................................... 15 1.2 Delimitação do tema.......................................................................................... 16 1.3 Objetivo .............................................................................................................. 16 1.4 Objetivos específicos ........................................................................................ 16 1.5 Justificativa ........................................................................................................ 17 1.6 Estrutura ............................................................................................................ 17 2 REVISÃO TEÓRICA .............................................................................................. 18 2.1 Ar comprimido ................................................................................................... 18 2.2 Compressores de parafuso .............................................................................. 20 2.2.1 Compressores de parafuso isentos de óleo ................................................ 21 2.2.2 Compressores de parafuso com injeção de líquidos .................................. 22 2.2.3 Sistema de controle de compressores ......................................................... 23 2.3 Pressão .............................................................................................................. 24 2.3.1 Medição de pressão ....................................................................................... 26 2.4 Vazão .................................................................................................................. 28 2.4.1 Medições de vazão ......................................................................................... 30 2.4.1.1 Turbinas e rodas-d ’água ............................................................................ 31 2.5 Consumo energético ......................................................................................... 32 2.5.1 Medição de energia elétrica ........................................................................... 33 2.5.1.1 Transformadores de corrente .................................................................... 34 2.6 Controlador lógico programável ...................................................................... 37 2.7 Internet das Coisas (IoT) ................................................................................... 39 2.8 Protocolo TCP/IP ............................................................................................... 40 2.9 Protocolo MQTT ................................................................................................ 42 2.9.1 Broker .............................................................................................................. 45 2.9.2 MQTT com Mosquitto ..................................................................................... 46 2.10 Node-RED ......................................................................................................... 47 2.11 Emoncms ......................................................................................................... 48 3 DESENVOLVIMENTO ........................................................................................... 51 3.1 Situação anterior à implementação ................................................................. 52 3.2 Implementação realizada .................................................................................. 54 3.3 Controlador lógico programável ...................................................................... 55 3.4 Montagem do painel elétrico ............................................................................ 56 3.5 Instalação dos sensores ................................................................................... 59 3.5.1 Transmissor de pressão ................................................................................ 59 3.5.2 Sensor de vazão ............................................................................................. 61 3.5.3 Medição de corrente elétrica ......................................................................... 62 3.6 Adequações de segurança ............................................................................... 65 3.6.1 Instalação do giroflex ..................................................................................... 65 3.6.2 Instalação das placas de orientação ............................................................ 66 3.7 Programação do CLP ........................................................................................ 67 3.7.1 Alarmes ........................................................................................................... 68 3.7.2 Leitura ............................................................................................................. 68 3.7.3 MQTT ............................................................................................................... 69 3.7.4 MQTT Start ...................................................................................................... 70 3.7.5 MQTT Publisher .............................................................................................. 70 3.7.6 Controle ........................................................................................................... 71 3.7.7 Modo Manual .................................................................................................. 73 3.7.8 Manutenção .................................................................................................... 74 3.7.9 Conversão ....................................................................................................... 74 3.7.10 Relógio .......................................................................................................... 74 3.8 Telas de WebServer .......................................................................................... 75 3.8.1 Tela MAIN ........................................................................................................ 76 3.8.2 Tela PRINCIPAL .............................................................................................. 77 3.8.3 Tela MODO MANUAL ...................................................................................... 78 3.8.4 Tela MANUTENÇÃO ....................................................................................... 79 3.8.5 Tela GRÁFICOS .............................................................................................. 79 3.8.6 Tela CONFIGURAÇÃO .................................................................................... 80 3.9 Implementação da IHM ...................................................................................... 81 3.10 Implementação do Emoncms ......................................................................... 85 3.10.1 Aplicação do Mosquitto ............................................................................... 86 3.10.2 Aplicação NodeRED ..................................................................................... 87 3.10.3 Aplicação do Emoncms ............................................................................... 88 3.10.4 Dashboards do Emoncms ........................................................................... 90 3.10.5 Aplicativo Emoncms .................................................................................... 91 4 RESULTADOS ....................................................................................................... 95 4.1 Testes do sistema ............................................................................................. 95 4.1.1 Testes do Emoncms com a leitura das variáveis reais ............................... 95 4.1.2 Erros na utilização dos equipamentos apontados nos testes. .................. 96 4.1.3 Calibração da medição de potência elétrica ................................................ 98 4.1.4 Calibração dos sensores de pressão e vazão ........................................... 101 4.1.5 Testes de funcionamento das telas de WebServer e da IHM ................... 102 4.2 Benefícios da implementação do sistema .................................................... 110 4.2.1 Prevenção de falhas no abastecimento de ar comprimido ...................... 110 4.2.2 Prevenção de falhas no nível de pressão de ar comprimido ................... 112 4.2.3 Eliminação do erro da operação manual/Otimização da mão de obra .... 113 4.2.4 Utilização do compressor mais eficiente ................................................... 113 4.2.5 Maior eficiência na geração de ar comprimido .......................................... 114 4.3 Custo de implementação e payback .............................................................. 117 5 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 119 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 121 ANEXOS ................................................................................................................. 126 ANEXO A - Layout do painel elétrico ................................................................... 127 14 1 INTRODUÇÃO Na indústria, com o passar dos anos e com a concorrência cada vez mais estreitando a margem de lucro, tornou-se cada vez mais imprescindível se fazer mais com menos, ou seja, tirar o máximo em cada processo a fim de reduzir desperdícios e buscar melhor desempenho. Neste cenário, as máquinas e equipamentos são parte essencial na produção das indústrias e delas sempre se espera retirar o máximo de potencial. Nesse contexto, quando se fala na geração de ar comprimido, encontra-se muitas vezes equipamentos que são responsáveis por uma fatia de consumo de energia muito considerável, sendo em muitas empresas os equipamentos que mais consomem eletricidade ou um dos maiores consumidores. Metalplan (2010) ressalta que, devido a transformação de energia, a energia pneumática pode custar de sete a dez vezes mais que a eletricidade. Tal aspecto leva as empresas a procurar alternativas para poder diminuir esse custo de geração de ar comprimido, tendo em vista que qualquer parcela de diminuição de custo já representa um valor considerável. Alguns fabricantes de compressores divulgam que o custo de produção em empresas que utilizam ar comprimido como uma das principais utilidades, ou seja, que tenham grande quantidade de equipamentos que possuem alta demanda de ar comprimido, como cabines de pintura por exemplo, pode chegar a 25% do total do custo de energia. Tendo em vista isso, a contínua busca pela redução desses valores é sempre desejável (RISCHTER, 2013). A diminuição de custo de produção de ar comprimido pode passar por várias abordagens, como a aquisição de equipamentos mais eficientes, controle de vazamentos indesejáveis dentro das plantas, substituição de equipamentos que utilizam ar comprimido por outros equipamentos que não o utilizam (airless) e também, no caso de empresas que possuem mais de um equipamento de geração de ar comprimido, o gerenciamento da utilização desses compressores. 15 A utilização de tecnologia e de sistemas de controle mais eficientes, como os que utilizam CLP’s são os mais buscados na indústria, devido a sua confiabilidade, desempenho e robustez. A busca da implementação desse tipo de tecnologia, juntamente com a possibilidade de acesso à informação e controle remoto dos sistemas é sempre bem-vista dentro do ambiente industrial. Com sistemas de ar comprimido, a possibilidade de automatização com a utilização desse tipo de implementação também se torna uma das opções mais viáveis. Este trabalho teve como objetivo o projeto e desenvolvimento de um sistema automatizado para gerenciamento da utilização de compressores de ar, o qual foi implementado em uma indústria de beneficiamento de couros bovinos (curtume) localizada no município de Muçum, no Rio Grande do Sul. Essa indústria conta com três compressores do tipo parafuso duplo e o controle destes compressores era realizado de forma manual, acarretando em perdas e altos custos de geração de ar comprimido, devido a utilização dos equipamentos fora de sua melhor faixa de rendimento. O controle é realizado por um CLP Altus Nexto XP340, com base na leitura de variáveis de pressão, corrente e vazão. Para a interface com o usuário, o sistema possui uma IHM, permitindo visualização e comando local, além da implementação do serviço de WebServer disponível no CLP, utilizado na implementação de telas de supervisão remota, possibilitando a análise dos dados e dos resultados em interface web, além de armazenar todas as variáveis em banco de dados na nuvem. Por fim, o sistema conta também com interface web e mobile elaborada utilizando recursos do protocolo MQTT e das plataformas Node-RED e EMONCMS. Com base nos resultados obtidos, conclui-se que o sistema desenvolvido resultou em redução das falhas de abastecimento de ar comprimido para a planta, bem como dos erros causados pela operação manual dos equipamentos, resultando na diminuição do custo de geração desta utilidade, otimizando inclusive a manutenção do sistema, atendendo aos requisitos e os objetivos propostos. 1.1 Tema Este trabalho tem como tema o estudo e implementação de um sistema de gerenciamento da utilização de compressores de geração de ar em uma empresa de 16 beneficiamento de couros bovinos (curtume) localizada no município de Muçum, no Rio Grande do Sul. 1.2 Delimitação do tema Este projeto delimita-se a implementação de um sistema de gerenciamento da utilização dos compressores já existentes, ou seja, a partir de leitura de pressão e vazão do circuito, o sistema irá decidir de forma autônoma qual ou quais compressores utilizar, tendo em vista o entendimento das melhores faixas de utilização de cada equipamento. Também delimita-se a seleção dos dispositivos e equipamentos necessários para a implementação, assim como a programação da lógica de comando em CLP, demais periféricos para acesso remoto às informações de desempenho dos equipamentos e eficiência energética envolvida. O trabalho não contempla nenhuma modificação nos compressores a não ser aquelas que dizem respeito a utilização de uma entrada no seu sistema de controle para que haja a possibilidade de acionamento remoto por meio de um contato fechado. 1.3 Objetivo O objetivo geral deste trabalho foi a implementação de um sistema automatizado para gerenciamento da utilização dos compressores de uma empresa. Tendo em vista que existe mais de um equipamento de geração de ar comprimido nesta empresa e que se entende que a faixa de utilização de cada compressor é diretamente ligada ao seu desempenho satisfatório ou não, foi feita uma análise dessas faixas, objetivando a correta utilização de cada compressor e, consequentemente, proporcionando redução do custo de geração de ar comprimido. 1.4 Objetivos específicos Como objetivos específicos deste trabalho, pode-se citar: ● Estudo da geração e utilização do ar comprimido; ● Estudo do funcionamento de compressores de parafuso duplo; 17 ● Estudo de tecnologias a serem utilizadas para implementação de um sistema automático de controle da utilização de compressores; ● Análise das melhores faixas de rendimento dos compressores; ● Estudo da viabilidade de implementação de um sistema de gerenciamento automatizado da utilização dos compressores; ● Implementação de sistema passível de visualização e controle remoto dos compressores; ● Redução dos custos de geração de ar comprimido. 1.5 Justificativa A empresa foco desta implementação, considerando o estreitamento das margens de lucro, busca sempre que se invista em projetos que visem à diminuição dos custos operacionais e é nesse sentido que se justifica o trabalho em questão, pois o mesmo busca a otimização em umas das utilidades mais necessárias nas indústrias. O alto custo de geração de ar comprimido é um dos fatores impactantes nos custos gerais das empresas, então a busca contínua de métodos e melhorias que possibilitem a diminuição desses custos é de suma importância. Dentro desse contexto, a implementação de um sistema de gerenciamento de compressores se mostra uma solução de bom desempenho e baixo custo de implementação, se comparado com a aquisição de equipamentos novos e mais eficientes, que não teriam uma boa relação de payback. 1.6 Estrutura O presente trabalho está dividido em capítulos. No Capítulo 1 foi apresentado a Introdução; no Capítulo 2 é apresentada a Revisão Teórica com o embasamento necessário para balizar o desenvolvimento do sistema proposto. O Capítulo 3 apresenta a proposta e o desenvolvimento do estudo. O Capítulo 4 apresenta os Resultados obtidos a partir do desenvolvimento do sistema proposto. Por fim, o Capítulo 5 apresenta as considerações finais. 18 2 REVISÃO TEÓRICA Para correta elaboração deste projeto foi necessário o entendimento de alguns conceitos teóricos. Neste capítulo serão abordados temas pertinentes, visando embasar o estudo e o desenvolvimento do sistema proposto. 2.1 Ar comprimido A compreensão dos conceitos relativos ao ar comprimido passa primeiramente pelo entendimento de sua composição. O principal ingrediente do ar comprimido é de fato o ar atmosférico. O ar atmosférico é composto por vários gases, sendo que 78% é nitrogênio, 21% é oxigênio e o outro 1% corresponde a uma mistura de outros gases. A composição do ar comprimido se dá por diferentes moléculas de ar, sendo que cada uma conta com uma certa quantidade de energia cinética (ATLASCOPCO, 2010). Segundo Fialho (2003), quando o ar é exposto a qualquer ambiente, ele expande-se ocupando totalmente o mesmo. Dessa forma, chega-se à conclusão de que com a utilização de aparatos mecânicos é possível realizar o inverso, ou seja, comprimi-lo. Com a utilização de um recipiente adequado e hermeticamente fechado, equipado com dispositivo que evite a saída desse ar, como uma válvula de retenção, pode-se insuflá-lo dentro desse recipiente até o nível desejado, obviamente atendendo os requisitos de segurança, ou seja, a resistência do recipiente. A Figura 1 apresenta o ar sendo insuflado em um recipiente com válvula de retenção. 19 Figura 1 - Ar sendo insuflado em um recipiente com válvula de retenção Fonte: Fialho (2003). A empresa Atlascopco (2010) descreve o comportamento do ar comprimido em relação à conservação de energia e também sobre a energia cinética adquirida durante a compressão, relacionando com a temperatura do fluido: O ato de comprimir o ar faz com que as moléculas adquiram muita energia cinética, provocando o aumento da temperatura, que nesse contexto é chamado de “calor de compressão”. Comprimindo o ar, obrigamos o mesmo a ficar em um recipiente menor do que aquele onde ele estava e temos como efeito a aproximação das moléculas, que ficam espremidas umas contra as outras. Para realizar essa compressão é necessária uma quantidade de energia, porém essa energia é liberada (com perdas) assim que utilizamos esse ar comprimido, ou seja, podemos armazenar energia para utilizar em outro momento (ATLASCOPCO, 2010, texto digital). Eletrobras/Procel (CNI, 2009) comenta também que o ar comprimido é uma forma de transporte de energia com muita utilidade e possível de muitas aplicações, sendo que em muitas vezes até pode ser mais útil que a eletricidade, vapor e outros. Suas utilidades na indústria são inúmeras, podendo-se citar motores pneumáticos, máquinas operatrizes, ferramentas manuais, sistemas de comando, de controle e de regulagem, além de instrumentação e automação. O ar comprimido não oferece risco de incêndio ou explosão (como a energia elétrica), podendo ser utilizado com mais segurança em áreas controladas. Também não necessita de qualquer tipo de isolamento térmico, como os utilizados nos sistemas de refrigeração e de vapor. O ar comprimido é um bom meio para armazenar e transmitir energia, pois o mesmo é flexível e versátil. Em comparação a outros meios, como vapor ou baterias, o ar comprimido apresenta vantagens em termos de economia e até segurança. Porém, em comparação com a energia elétrica, o mesmo seria uma alternativa não viável (ATLASCOPCO, 2010). Fialho (2003) salienta que, além disso, há a questão construtiva dos equipamentos pneumáticos em relação aos elétricos ou hidráulicos. Por sua 20 simplicidade de construção, por exemplo, em se falando de um cilindro pneumático, pode-se fazer algo alimentado por eletricidade que substitua, porém a complexidade desse equipamento com certeza será maior, inviabilizando a sua utilização. A Eletrobras/Procel (CNI, 2009) aponta algumas desvantagens da utilização do ar comprimido, dentre os quais a principal é o custo superior, se comparado à energia elétrica para se produzir um determinado trabalho útil. Ainda assim, em determinadas situações, como nos casos em que a energia elétrica não é recomendada em virtude da segurança, ou em atividades em que as demais tecnologias não estejam tão difundidas, a utilização do ar comprimido é altamente recomendada. Nesse sentido, a operação eficiente e econômica dos compressores, que são o coração desses sistemas, é item importantíssimo. 2.2 Compressores de parafuso Nos casos em que a utilização do ar comprimido é uma alternativa viável, surge a necessidade do equipamento que faça a compressão desse e é nesse contexto que será abordado o compressor de ar do tipo parafuso. O histórico dos compressores provém da década de 1930, a partir da necessidade de um equipamento que possuísse alta vazão, um fluxo estável e tivesse a possibilidade de se trabalhar em vários níveis de pressão. Nos compressores de parafuso, como o próprio nome já diz, os principais componentes são o par de rotores em forma de parafuso, sendo um deles macho e o outro fêmea. Tais peças giram em direções opostas e fazem com que o volume do ar vá diminuindo ao ponto de gerar ar comprimido (ATLASCOPCO, 2010). Santos (2009) explica que os compressores de parafuso são dotados de uma carcaça onde giram dois rotores helicoidais em sentidos opostos. Um dos rotores possui lóbulos convexos e o outro uma depressão côncava e são denominados, respectivamente, rotor macho e rotor fêmea. A sincronização dos rotores ocorre por meio de engrenagens (mesmo que existam equipamentos que façam essa sincronização por contato direto). O processo de compressão ocorre quando o ar à pressão atmosférica ocupa o espaço entre os rotores e, conforme estes giram, o volume compreendido entre os 21 mesmos é isolado da admissão. Esse ar começa a decrescer de volume, dando início à compressão, que prossegue até uma posição tal que a descarga é acionada e o ar é descarregado continuamente, livre de pulsações na tubulação de descarga. A Figura 2 ilustra as etapas de compressão no elemento compressor. Figura 2 - Etapas de compressão no elemento compressor Fonte: Atlascopco (2015). Na sua forma construtiva tradicional, os compressores de parafuso não possuem válvulas ou qualquer outro dispositivo que cause desequilíbrio, ou seja, podem operar em altas velocidades, aliando grandes vazões de ar comprimido com pequenas dimensões (ATLASCOPCO, 2010). Existem alguns tipos de compressores de parafuso. As seções a seguir apresentam dois exemplos. 2.2.1 Compressores de parafuso isentos de óleo Compressores de parafuso isentos de óleo são compressores que possuem perfis de parafusos assimétricos, que resultam em uma eficiência energética 22 aprimorada, por terem pouco vazamento interno. Engrenagens externas de sincronização garantem que em momento algum os dois rotores se toquem, possibilitando dessa forma que o equipamento trabalhe sem qualquer tipo de lubrificação dentro da câmara de compressão (ATLASCOPCO, 2015). A Figura 3 ilustra o diagrama de fluxo do compressor de parafuso isento de óleo. Figura 3 - Diagrama de fluxo do compressor de parafuso isento de óleo Fonte: Atlascopco (2015). 2.2.2 Compressores de parafuso com injeção de líquidos Os compressores de parafuso com injeção de líquido, ao contrário dos compressores que trabalham isentos de líquidos na câmara de compressão, trabalham com algum fluido, que tem por finalidade lubrificar os rotores e rolamentos, assim como realizar sua refrigeração e a do próprio ar. O fluido mais utilizado é o óleo, embora não seja incomum a utilização de outros líquidos (ATLASCOPCO, 2010). A Figura 4 ilustra o diagrama de fluxo do compressor de parafuso com injeção de óleo. 23 Figura 4 - Diagrama de fluxo do compressor de parafuso com injeção de óleo Fonte: Atlascopco (2015). Por possuir lubrificação, esse tipo de compressor pode ser construído de forma a atingir maiores pressões que os compressores a seco (ATLASCOPCO, 2010). 2.2.3 Sistema de controle de compressores Em contextos normais dentro das indústrias, geralmente as demandas de ar comprimido são bastante variáveis. Tendo esse aspecto em vista, as empresas necessitam da utilização de sistemas de controle dos compressores, que façam com que a oferta de ar comprimido acompanhe essa demanda variável com um mínimo de perturbação na pressão de descarga (SILVA FILHO, 2011). Segundo Eficiência Energética (CNI, 2009), os controles centralizados de compressores são sistemas eletrônicos que gerenciam o funcionamento de vários compressores e devem permitir seu comando, a transmissão e recebimento de dados, através do controlador central. Esses sistemas de controle centralizado devem ser capazes de gerenciar o funcionamento dos compressores, além de permitir a utilização uniforme dos mesmos, garantindo uma utilização e desgastes parecidos entre todos os compressores, reduzindo os custos de manutenção. Em sistemas de controle de compressores mais antigos do tipo cascata, é altamente recomendado que os pressostatos mecânicos sejam substituídos por sensores de pressão eletrônicos, permitindo operar com menores faixas de ajuste. A utilização de Controladores Lógicos Programáveis auxilia, pois possibilita a 24 codificação personalizada e inteligente da utilização dos compressores, de forma que reduza o consumo energético. Outra hipótese altamente recomendada é a utilização de equipamentos de velocidade variável, pois os mesmos se ajustam às demandas variáveis (VENTIRINI; CARVALHO; YAMASHITA, 2007). A seção a seguir trata sobre a pressão que, conforme mencionado, é uma variável utilizada no controle do compressor. 2.3 Pressão Bega (2006) define a pressão como a ação de uma força contra uma força contrária, sendo que a pressão tem a natureza de um empuxo distribuído uniformemente sobre uma superfície plana no interior de um recipiente hermeticamente fechado. Define ainda a pressão como a força exercida por uma força de 1 N, distribuída uniformemente sobre uma superfície plana de 1 m² de área, perpendicular à direção da força. Pressão é expressa em Pascal, onde (Pa = N/m²). A Figura 5 ilustra um recipiente com ar comprimido. Figura 5 - Recipiente com ar comprimido Fonte: Fialho (2003). Já, segundo Fialho (2003), pode-se definir a pressão como sendo a força exercida em função da compressão do ar em um recipiente, por unidade de área interna deste. Sua unidade no S.I. é dada em N/m² ou Pa (pascal), embora seja comum ainda a utilização de unidades como atm, bar, kgf/mm², Psi, etc. 25 Conforme a Equação 1, pressão é definida como força por unidade de área: 𝑃𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜 (𝑃) = 𝐹𝑜𝑟ç𝑎 (𝐹) Á𝑟𝑒𝑎 (𝐴) (1) Fonte: Bega (2006). Conforme define Bega (2006), comumente, existem duas referências para a medição de pressão: pressão absoluta e pressão atmosférica. A pressão absoluta é a pressão que deve ser medida a partir do zero absoluto, ou seja, tendo como referência o vácuo perfeito. Já a pressão atmosférica é a pressão exercida pela coluna gasosa da qual é constituída a atmosfera. Ao nível do mar, com condições de intensidade da gravidade dentro da normalidade, ou seja, aceleração de 9,80665 m/s² e a 0 °C de temperatura, esta pressão equivale a 1 atm, ou 760 mm de coluna de mercúrio. A dificuldade da utilização da atmosfera como referência se dá ao fato de que essa pressão varia em relação a altitude e também é relativa às condições ambientais do local (BEGA, 2006). Existe ainda o conceito de pressão diferencial que Aguirre (2013) define como a diferença entre duas pressões quaisquer. Já se for referenciada, a pressão absoluta em relação à pressão atmosférica local é denominada pressão manométrica, do inglês gauge pressure. Na Figura 6 são ilustrados esses conceitos. Figura 6 - Conceitos de pressão Fonte: Aguirre (2013). 26 2.3.1 Medição de pressão No mercado, existem diversos dispositivos capazes de medir pressão. Dentre os mais conhecidos estão os manômetros, que são dispositivos capazes de indicar a pressão diferencial. Dentre os manômetros mais conhecidos estão os baseados em tubos Bourdon. Bega (2006) explica que os tubos Bourdon habitualmente são construídos a partir de um tubo com seção oval, disposto na forma de arco de circunferência, onde uma das extremidades é conectada diretamente ao processo em que se quer medir pressão e a outra extremidade é tamponada e conectada ao dispositivo de indicação/transmissão ou controle do instrumento. A pressão faz com que haja movimento na extremidade fechada do tubo de Bourdon e esse movimento é transferido através de engrenagens a um ponteiro ou outro mecanismo que irá indicar ou transmitir a medida de pressão. A Figura 7 apresenta um manômetro baseado em tubo de Bourdon. Figura 7 - Manômetro baseado em tubo de Bourdon Fonte: Tecno Ferramentas (2022). Na indústria, a utilização dos manômetros é amplamente difundida e ainda existe uma vasta gama de fluidos nos quais a utilização dos manômetros é adequada, em diversas máquinas e equipamentos. Existem ainda manômetros que servem para calibrar outros manômetros, sendo que estes têm o nome de manômetros de teste (INSTRUTEMP, 2022). 27 A Figura 8 apresenta os principais tipos de tubo de Bourdon mais usuais na indústria. Figura 8 - Tipos de tubo de Bourdon mais usuais na indústria Fonte: Fialho (2010). A importância da utilização de medidores de pressão se dá devido ao fato de os mesmos ajudarem na monitoração de variáveis de processo, auxiliando para que se tenha um produto de qualidade. Outro aspecto bastante importante é o fato de que a pressão em excesso é altamente perigosa e nesse sentido de segurança os manômetros são muito úteis, pois possibilitam a leitura instantânea de pressão, podendo assim evitar acidentes. Outro instrumento amplamente utilizado, especialmente na indústria, é o transdutor de pressão absoluta. Esse instrumento é um dispositivo eletrônico que transforma uma variável física (pressão) em um sinal elétrico (corrente ou tensão), adquirido pelos vários equipamentos de controle, medição e indicação (FIALHO, 2010). Esse instrumento possui apenas uma tomada de pressão. A Figura 9 ilustra um transdutor de pressão. Figura 9 - Transdutor de pressão Fonte: Gefran (2022). 28 Assim como o transdutor de pressão, também existe o transdutor de pressão diferencial, que difere basicamente por possuir duas tomadas de pressão, fazendo a leitura da diferença das pressões entre as duas tomadas (AGUIRRE, 2013). A Figura 10 ilustra um transdutor de pressão diferencial. Figura 10 - Transdutor de pressão diferencial Fonte: Aguirre (2013). Tanto o transdutor de pressão, como o transdutor de pressão diferencial funcionam através de um elemento sensível, que pode utilizar tecnologia filme espesso em aço, extensiométrica ou piezorresistivo de silício. Quando o transdutor é submetido a uma carga de pressão, o diafragma sofre uma deflexão, gerando variações nas resistências implantadas, de acordo com o efeito piezoresistivo. Esse elemento absorve o sinal e a parte eletrônica (placa eletrônica) o converte em um padrão elétrico através da utilização de uma ponte de Wheatstone (FIALHO, 2010). 2.4 Vazão Segundo Aguirre (2013), a vazão é a terceira grandeza mais medida nos processos industriais. A medição de vazão pode ter as mais diversas aplicações, indo de casos simples, como a medição de vazão de água em estações de tratamento e residências, passando por medições mais complexas, como a medição de gases industriais e combustíveis. Para Bega (2006), a vazão é a quantidade de fluido que passa pela seção reta de um duto, por unidade de tempo, sendo que esse fluido pode ser líquido, gás ou vapor. A maioria dos instrumentos de vazão é prevista para a medição de fluidos 29 homogêneos, numa única fase, porém existem instrumentos para medir vazão de fluidos em fases múltiplas, sob forma de suspensões coloidais, de pastas ou de geleias. Para o entendimento dos sistemas para medição de vazão, é de suma importância observar que o perfil de velocidades dentro da tubulação é um aspecto que pode influenciar muito no resultado. O perfil de velocidade é consequência do regime de escoamento, que o matemático irlandês Osborne Reynolds (1842–1912) conseguiu quantificar em termos de um número, que atualmente é conhecido como o número de Reynolds, conforme a Equação 2 (AGUIRRE, 2013): 𝑅𝑒𝐷 = ρVD μ = 𝑉𝐷 𝑣 (2) Onde: V é a velocidade do fluxo, D é uma dimensão linear característica (comprimento percorrido do fluido diâmetro hidráulico etc.), ρ é a densidade do fluido (kg / m³), μ é a viscosidade dinâmica (Pa.s), ν é a viscosidade cinemática ( m 2 / s); ν = μ / ρ. A vazão pode ser medida em volume (vazão volúmica) ou em massa (vazão mássica). A vazão mássica é dada em kg/h (unidades de massa por tempo). A vazão volúmica é medida em m³/h (unidades de volume por tempo). Em se falando de vazão volúmica, especialmente nos casos de fluidos compressíveis, ainda é necessário especificar se o volume é referido às condições de temperatura e pressão de operação, ou se é convertido às condições de referência (BEGA, 2006). 30 2.4.1 Medições de vazão Aguirre (2013) salienta que a correta escolha de um determinado instrumento para medição de vazão depende de vários fatores, dentre os quais se destacam os citados a seguir: a) Exatidão desejada para a medição; b) Tipo de fluido: líquido ou gás, limpo ou sujo, número de fases; c) Condutividade elétrica, transparência etc.; d) Condições termodinâmicas: por exemplo, níveis de pressão e temperatura nos quais o medidor deve atuar; e) Espaço físico disponível; f) Custo. O Quadro 1 apresenta a classificação de princípios de medição de vazão. Quadro 1 - Classificação de princípios de medição de vazão Fonte: Bega (2006). Os princípios de medição da tabela são compatíveis com: ● T - para líquidos, gases e vapor; ● G - para medição de gases, exclusivamente; ● L - para medição de líquidos, exclusivamente; 31 ● LC - para medição de líquidos condutores de eletricidade, exclusivamente; ● A - indica que não é usado para vapores, salvo exceção; ● E - líquidos com sólidos em suspensão 2.4.1.1 Turbinas e rodas-d ’água Aguirre (2013) relata que a ideia de usar uma turbina em alinhamento com o fluxo com a finalidade de medir a vazão é antiga. No ano de 1790, o engenheiro alemão Reinhard Woltmann inventou um molinete hidráulico que servia para realizar a medição de vazão. Nos medidores de turbina, as pás giram a uma velocidade angular que depende da velocidade de escoamento, possibilitando assim a medição de vazão. A detecção da velocidade da turbina é realizada através de detecção magnética ou óptica, gerando assim um sinal de tensão na saída a cada passagem de cada pá da turbina. Uma das vantagens das turbinas na medição de vazão é que geralmente estão sujeitas a todo o perfil de velocidades de escoamento, porém possuem muita perda de carga (não indicada para grandes aplicações). Segundo Delmée (2003), existem turbinas para tubulações entre 1/4 a 30 polegadas, sendo que suas faixas de medição estão entre 0,2 l/h e 10.000 m3 /h. Os medidores de turbina possuem uma boa exatidão, chegando a 0,25% do valor instantâneo e sua escala de medição varia numa proporção típica de 20:1. Os medidores de rodas-d‘água utilizam um pequeno rotor, que gira à velocidade do fluido no local onde está instalado. O modo de detecção da velocidade da roda-d’água se assemelha ao utilizado nas turbinas. Uma das maneiras mais comuns de fazer a detecção é fixar pequenos ímãs na extremidade das pás e colocar uma chave de efeito Hall como capturador. A Figura 11 ilustra um medidor de turbina (a) e um medidor de roda d’água (b). 32 Figura 11 - Turbina e roda d’água Fonte: Aguirre (2013). 2.5 Consumo energético Não é de hoje que a energia elétrica representa um dos principais custos para estabelecimentos comerciais e indústrias de diversos ramos. É de conhecimento de todos, que para uma empresa se manter competitiva, os custos com energia elétrica precisam ser controlados com intuito de redução de consumo (WAY2, 2019). Segundo Martins (2008), os aspectos econômicos envolvidos na atividade de racionalização do uso de energia elétrica levam também em conta a valorização da imagem e da visão estratégica da empresa. Atualmente, o mercado está cada vez mais orientado a dar preferência aos produtos de empresas comprometidas com ações de proteção ao meio ambiente. O monitoramento do consumo de energia elétrica é almejado por empresas de diversos segmentos, pois as mesmas buscam promover ações de eficiência, quantificar custos de produção e promover operações sustentáveis, a fim de garantir a competitividade no mercado (WAY2, 2019). Conforme SMI (2022), dentre as utilidades do monitoramento do consumo de energia elétrica, destacam-se: a) Informações sobre o consumo de energia do local, por área e tempo, identificando picos de consumo elétrico; 33 b) Controle e previsão desse consumo e dados sobre os níveis de eficiência energética, ou seja, uso consciente; c) Dispersão da energia, causadora de desperdícios, entre outros fatores. Em 2009, a CNI/ELETROBRÁS divulgou o resultado de um diagnóstico detalhado das principais oportunidades e prioridades para o desenvolvimento do mercado de eficiência energética industrial, envolvendo diversos setores da indústria. A análise das soluções técnicas escolhidas para os projetos analisados aponta predominância de projetos para economia de eletricidade, sendo que 19% das ações envolvem troca de motores, 20% envolvem melhorias em sistemas de iluminação e 8% envolvem melhorias em sistemas de ar comprimido (COMPRESSORES, 2009). 2.5.1 Medição de energia elétrica A Resolução Normativa ANEEL 414 de 2010 define como medição o processo realizado por equipamento que possibilite a quantificação e o registro de grandezas elétricas associadas à geração ou consumo de energia elétrica, assim como à potência ativa ou reativa (ANEEL, 2010). A medição de energia pode ser feita de duas maneiras: direta ou indiretamente. Na primeira, o medidor é conectado diretamente ao circuito e é recomendada para instalações que se utilizam de baixas correntes e tensões. Já a medição indireta é normalmente realizada por meio de transformadores de corrente e/ou de potencial com relações de transformação conhecidas (LINHARES, 2015). A Figura 12 ilustra o diagrama de blocos de um medidor de energia elétrica. 34 Figura 12 - Diagrama de blocos de um medidor de energia elétrica Fonte: Silveira (2018). Para o entendimento do processo de medição de energia elétrica, é importante conhecer alguns conceitos, conforme define Martins (2008): a) Energia ativa: É a energia capaz de produzir trabalho. A unidade de medida usada é o Quilowatt-hora (kWh); b) Energia reativa: É a energia solicitada por alguns equipamentos elétricos, necessária à manutenção dos fluxos magnéticos e campos eletrostáticos e que não produz trabalho. A unidade de medida usada é o quilovar hora (kVArh); c) Energia aparente: É a energia resultante da média quadrática, das energias ativa e reativa. É aquela que a concessionária realmente fornece ao consumidor (kVA); d) Potência: É a quantidade de energia solicitada na unidade de tempo. A unidade usada é o quilowatt (kW). 2.5.1.1 Transformadores de corrente Para a medição indireta de corrente elétrica, a prática mais usual é a utilização de transformadores de corrente, também conhecidos como TC’s. Esse tipo de equipamento abre a possibilidade de medição de altas correntes sem que seja necessária a ligação direta dos instrumentos de medição no circuito. Por essa característica, são amplamente utilizados em medidores de energia elétrica e também em circuitos de proteção (SILVEIRA, 2022). A Figura 13 ilustra um transformador de corrente comum. 35 Figura 13 - Transformador de corrente comum Fonte: Silveira (2018) Para os autores Vieira e Varela (2022), os transformadores de corrente são instrumentos que permitem a outros equipamentos, como os que realizam medição ou proteção, funcionarem de forma satisfatória sem que os mesmos tenham que ter capacidade para as correntes nominais dos circuitos de potência em que estão conectados. Basicamente, esses instrumentos possuem um enrolamento primário e outro enrolamento secundário, sendo que geralmente o primário tem poucas espiras e o secundário, o qual possibilita a corrente desejada, irá possuir mais espiras. Devido a essa transformação de corrente que acontece nos TC’s, os instrumentos de medição e proteção podem ter circuitos mais compactos, utilizando bobinas de corrente feitas com baixa quantidade de cobre. Os autores ainda afirmam que os transformadores de corrente funcionam através do fenômeno de conversão eletromagnética, transformando correntes elevadas que circulam no primário em baixas correntes elétricas em seu secundário, atendendo a uma relação lógica de transformação. A corrente alternada que circula no primário induz forças eletromotrizes Ep e Es, respectivamente, nos enrolamentos primário e secundário. A Figura 14 ilustra a construção de um transformador de corrente. 36 Figura 14 - Construção de um transformador de corrente Fonte: Silveira (2018). Existem diversas relações de transformação para TC’s, sendo que geralmente o padrão de corrente do secundário é 5 ampères, que é a corrente nominal de leitura da maioria dos instrumentos de medição e proteção. O Quadro 2 mostra as correntes primárias e relações nominais habituais. Quadro 2 - Correntes primárias e relações nominais habituais Fonte Vieira e Varela (2022). Assim como qualquer transformador, um transformador de corrente obedece a equação de transformação similar ao que ocorre no transformador de tensão de enrolamento duplo, sendo essa relação de voltas descrita na Equação 3: 𝑇. 𝑅. = 𝑛 = 𝑁𝑝 𝑁𝑠 = 𝐼𝑆 𝐼𝑃 (3) Fonte: Silveira (2018). 37 Onde: T.R. = n = Relação de transformação; NP = Número de espiras no primário; NS = Número de espiras no secundário; IS = Corrente no secundário; IP = Corrente no primário. 2.6 Controlador lógico programável Os Controladores Lógico Programáveis consistem em sistemas microprocessados que executam funções de controle através de programas concebidos pelo usuário. As funções executadas pelos CLP’s geralmente estão associadas a sequências de operações discretas ou contínuas, que compõem a produção industrial. Com isso, pode-se concluir que o CLP é um dispositivo projetado para comandar e monitorar equipamentos e processos industriais (PRUDENTE, 2011). A Figura 15 ilustra a atuação do CLP no controle de processos. Figura 15 - Atuação do CLP no controle de processos Fonte: Roggia e Fuentes (2016). 38 Na visão de Zancan (2011), um Controlador Lógico Programável é um dispositivo microprocessado, constituído por um microprocessador ou um microcontrolador, um programa monitor, uma memória de programa, uma memória de dados, uma ou mais interfaces de entrada, uma ou mais interfaces de saída e circuitos auxiliares. A Figura 16 mostra a estrutura interna de um CLP. Figura 16 - Estrutura interna de um CLP Fonte: Roggia e Fuentes (2016). Georgini (2007) relata do que se trata um Controlador Lógico Programável e um pouco da história do mesmo: O Controlador Lógico Programável, ou simplesmente PLC (Programmable Logic Controller), pode ser definido como um dispositivo de estado sólido, um computador industrial, capaz de armazenar instruções para implementação de funções de controle (sequência lógica, temporização e contagem, por exemplo), além de realizar operações lógicas e aritméticas, manipulação de dados e comunicação em rede, sendo utilizado no controle de Sistemas Automatizados (GEORGINI, 2007, p. 48). Roggia e Fuentes (2016) ressaltam algumas vantagens dos CLP’s em relação aos painéis com relés: a) Utilização de menos espaço; b) Menor consumo de energia; c) Maior confiabilidade e flexibilidade; d) Fácil programação/reprogramação; e) Reutilização para outros processos; f) Maior rapidez na elaboração dos projetos; 39 g) Capacidade de comunicação com outros dispositivos. O CLP pode possuir entradas digitais e analógicas, sendo que as digitais possuem apenas dois estados possíveis, sendo ligado ou desligado. Já as entradas analógicas podem admitir qualquer valor entre 0 e 100% da intensidade do sinal. As saídas do CLP, da mesma forma, podem ser digitais e analógicas, sendo que as digitais podem ser a relé, quando maior a carga e a transistor, quando maior a frequência, sempre admitindo os estados 0 ou 1. Já as saídas analógicas variam sua intensidade, ou seja, também podem ter valores de 0 a 100% (ROGGIA; FUENTES, 2016). 2.7 Internet das Coisas (IoT) A Internet das Coisas (IoT) se trata de um paradigma que está rapidamente ganhando espaço no cenário das tecnologias de comunicações. A ideia básica deste conceito é a presença dominante em torno de nós de uma variedade de coisas ou objetos - como tags, sensores, atuadores, telefones celulares e outros dispositivos, dos quais, através de esquemas de endereçamento únicos, são capazes de interagir uns com os outros dispositivos e cooperar com seus vizinhos para alcançar objetivos comuns (ATZORI; IERA; MORABITO, 2010). Segundo Sacomano (2018), o desenvolvimento da tecnologia de redes wireless possibilitou que dispositivos móveis, como PDA, celulares, tablets e outros pudessem ser interligados à internet, ampliando o campo de atuação e a importância da internet na vida das pessoas. Entretanto, a rede que foi inicialmente criada para conectar humanos a partir de diferentes aplicações, passou também a integrar coisas. O termo Internet das Coisas vem do inglês Internet of Things, que por sua vez adotou o termo abreviado ‘IoT’ e consiste em conectar dispositivos de uso normal, como máquinas, veículos, eletrodomésticos ou qualquer outro equipamento à internet, possibilitando assim algum tipo de interação, seja com computadores, smartphones, tablets, entre outros. O conceito de Internet das Coisas foi inicialmente utilizado pelo empresário britânico Kevin Ashton em 1999. Kevin Ashton descreveu um sistema no qual o mundo material se comunicaria com computadores por meio da troca de dados com sensores omnipresentes. A Figura 17 apresenta os elementos básicos da comunicação de um sistema IoT. 40 Figura 17 - Elementos básicos da comunicação Fonte: Sacomano (2018). Praticamente uma década depois de Kevin Ashton formular sua ideia, na virada de 2008 para 2009, o número de dispositivos conectados à rede excedeu o número de habitantes do nosso planeta. Para muitos, esse foi o momento em que nasceu a Internet das Coisas. A Internet das Coisas consiste em um mundo onde bilhões de objetos podem se comunicar e compartilhar informações, tudo interconectado através de redes IP públicas ou privadas. O objetivo dessas interconexões é coletar, analisar e usar os dados para fornecer riqueza de dados para análise, planejamento, gerenciamento e tomada de decisões (IMDA, 2017). 2.8 Protocolo TCP/IP Em um contexto em que existem diversos tipos de usuários e diversos tipos de aplicações, também devem existir tecnologias de redes adequadas a cada tipo de perfil. Agora, quando é necessária a interconexão entre várias topologias diferentes, se torna necessário um protocolo comum que, independentemente da tecnologia de rede utilizada, permita a comunicação de forma transparente. O protocolo TCP/IP (Transport Control Protocol / Internet Protocol) vem suprir esta necessidade dando total transparência aos usuários finais das várias tecnologias de rede empregadas pelas LANs, MANs e WANs, mascarando todos os detalhes da tecnologia de hardware utilizada para esse fim (BRANDINO,1998). 41 Segundo Glêdson e Lobato (2013), o protocolo TCP/IP permite a interconexão de diferentes tipos de computadores, independente de fabricante, equipados com os mais diferentes hardwares, executando múltiplos sistemas operacionais e usando diferentes tecnologias de acesso. Em uma inter-rede que utiliza o protocolo TCP/IP, duas ou mais redes físicas devem ser interconectadas por um roteador, cuja função é encaminhar pacotes de uma rede para outra. Os roteadores são responsáveis por rotear corretamente os pacotes e, para isso, precisam conhecer a topologia da inter-rede e não apenas as redes físicas às quais estão diretamente conectados. Para garantir esse processo, os roteadores precisam manter informações de roteamento de todas as redes que fazem parte da inter-rede (GLÊDSON; LOBATO, 2013). A arquitetura TCP/IP é organizada em quatro camadas: Aplicação, Transporte, Rede e Interface de Rede (Rede Física). A Figura 18 demonstra as camadas do protocolo TCP/IP. Figura 18 - Camadas da arquitetura TCP/IP Fonte: Glêdson e Lobato (2013). Brandino (1998) salienta que quando dois dispositivos pretendem se comunicar utilizando o protocolo TCP/IP, cada um deles precisa ter um endereço IP diferente, devido ao fato de que é através do IP que é possível identificar um determinado usuário na rede. Adotando a possibilidade de que as redes não são formadas por apenas dois dispositivos, o endereço IP foi criado como um conjunto de 32 bits para ser utilizado por todas as aplicações que utilizem o protocolo TCP/IP. Seu valor pode variar de 0.0.0.0 à 255.255.255.255 (até a versão 4 do protocolo). 42 Quanto ao endereçamento, três níveis de endereços diferentes são usados em uma Internet que utiliza os protocolos TCP/IP: endereço físico (link), endereço lógico (IP) e endereço de porta. A Figura 19 ilustra os endereços no TCP/IP. Figura 19 - Endereços no TCP/IP Fonte: Forouzan e Fegan (2010). Forouzan e Fegan (2010) descrevem os endereços do protocolo TCP/IP: O endereço físico (endereço de link), é composto por um nó, que é definido por sua rede, local ou remota. Ele também é incluído no frame usado pela camada de enlace de dados. Os endereços lógicos têm sua utilidade para serviços de comunicação universais que dependem das redes físicas subjacentes, porém não são adequados a ambientes de interconexão em rede, em que diferentes redes podem ter diferentes formatos de endereço. O endereço de porta serve para que diferentes processos ocorram simultaneamente, através de uma rotulagem desses processos e atribuição de endereços aos mesmos. No TCP/IP, um endereço de porta tem 16 bits de tamanho. 2.9 Protocolo MQTT O protocolo MQTT (Message Queuing Telemetry Transport) foi criado nos anos 90 pela IBM, que viu a necessidade de conceber um protocolo simples e leve que conseguisse comunicar várias máquinas entre si, tendo em vista que a comunicação 43 ocorreria utilizando microcontroladores para a obtenção de dados e que deveria ter uma taxa de transmissão leve para a comunicação entre as máquinas e os sensores (MQTT, 2019). O MQTT é um protocolo de mensagens para a Internet das Coisas (IoT). Foi concebido como um meio que pudesse trafegar mensagens de publicação/assinatura de dispositivos. Por ser extremamente leve, é ideal para conectar dispositivos remotos com um pequeno espaço de código e largura de banda de rede mínima. O protocolo MQTT é utilizado amplamente pela indústria, tais como a de matérias-primas, automotiva, manufatura, petróleo e gás (MQTT, 2022). A Figura 20 mostra a arquitetura de publicação/assinatura do MQTT. Figura 20 - Arquitetura de publicação/assinatura do MQTT Fonte: MQTT (2019). A estrutura básica do protocolo MQTT define dois tipos de entidades que atuam na rede, conforme Yuan (2021) descreve: O protocolo MQTT define dois tipos de entidades na rede: um intermediário de mensagens e vários clientes. O broker é um servidor que recebe todas as mensagens dos clientes e, em seguida, roteia essas mensagens para os clientes de destino relevantes. Um cliente é qualquer coisa que possa interagir com o broker para enviar e receber mensagens. Um cliente pode ser um sensor de IoT em campo ou um aplicativo em um data center que processa dados de IoT (YUAN, 2021, texto digital). Segundo o Grupo de teleinformática e automação - UFRJ (MQTT, 2019), por outro lado, o MQTT é um protocolo de comunicação máquina para máquina (M2M - Machine to Machine) que transita dados em cima do protocolo TCP/IP e é altamente voltado à Internet das Coisas (IoT). O protocolo MQTT utiliza comunicação entre cliente e servidor, em que o servidor pode realizar “postagens” e “captação” (Publish- 44 Subscribe) de informação e o cliente administra os dados recebidos e enviados. O Quadro 3 apresenta o cabeçalho de mensagens MQTT. Quadro 3 - Cabeçalho de mensagens MQTT Fonte: Martin e Zem (2015). Segundo Yuan(2021), as mensagens transmitidas por MQTT são organizadas por tópicos, sendo que o desenvolvedor do aplicativo tem a flexibilidade de especificar que determinados clientes podem interagir apenas com determinadas mensagens. Um exemplo seria um conjunto de sensores que publicarão suas leituras no tópico “sensor_data” e se inscreverão no tópico “config_change”. Enquanto isso, os aplicativos de processamento de dados se inscreverão no tópico “sensor_data”. Já o administrador do sistema pode ajustar a configuração dos sensores e publicar essas alterações no tópico “config_change”. A Figura 21 ilustra a utilização do protocolo MQTT. Figura 21 - Utilização do protocolo MQTT Fonte: Metaltex (2022). 45 MQTT (2019) salienta que o protocolo MQTT é uma forma de comunicação ideal para aplicações onde minimizar a largura de banda é algo importante. O protocolo MQTT permite um desacoplamento entre os elementos comunicantes, nas dimensões espacial (publisher e subscriber não precisam se conhecer), temporal (não é necessário que publisher e subscriber estejam em execução simultaneamente) e de sincronização (durante publicações e recebimentos de mensagens, as operações em ambos os elementos não sofrem interrupção). Esses aspectos citados permitem a operação desse protocolo em redes com dificuldades na questão de largura de banda. Um dos principais componentes do protocolo MQTT é o broker, responsável por receber e direcionar as mensagens publicadas. Quando houver uma nova publicação em algum tópico, o broker direciona a mesma para os clientes inscritos neste tópico. O tópico seguinte descreve as características do broker. 2.9.1 Broker O protocolo MQTT funciona em um modelo de publicação/inscrição e utiliza um programa servidor denominado de broker cuja função é permitir a criação de listas do tipo árvore de diretórios para a organização e distribuição das mensagens. O broker centraliza as mensagens recebidas e as envia somente para os inscritos nas respectivas listas. Os clientes MQTT podem desempenhar dois papéis distintos: Publisher (produtor) que são os clientes que publicam as mensagens em uma ou mais listas; e Subscriber (consumidor) que se inscreve em uma ou mais listas e aguarda a publicação de mensagens. Esses são papéis distintos, porém podem ser desempenhados pelo mesmo dispositivo (PEREIRA, 2018). Segundo o Grupo de Teleinformática e Automação - UFRJ (MQTT, 2019), o broker é o servidor intermediário da informação, ou seja, é ele que recebe os dados enviados pelos dispositivos e é nele onde esses dados são tratados e passados adiante, havendo a possibilidade de existir mais de um broker em um sistema, os quais irão compartilhar os dados recebidos entre si, baseado nos clientes que possuem e nos dados requisitados por eles. Já os Clientes podem realizar Postagem "publish" e Recebimento "subscriber", sendo que esse cliente pode atuar nas postagens, nos recebimentos ou em ambos ao mesmo tempo. Porém, independente de qual caso ele escolha, sempre será 46 necessária a presença de um broker para realizar a intermediação dos dados entre todos os clientes (ENGPROCESS, 2018). A Figura 22 ilustra a utilização do broker. Figura 22 - Utilização do broker Fonte: Cap Sistema (2020). 2.9.2 MQTT com Mosquitto Segundo Eclipse Mosquitto (2022), o Mosquitto é um agente de mensagens de software livre que implementa o protocolo MQTT, sendo que o Mosquitto é leve e adequado para uso em todos os dispositivos, desde computadores de placa única de baixa potência, até servidores completos. A Figura 23 ilustra a capacidade de interfaceamento do Mosquitto com os mais diversos dispositivos. Figura 23 - Possibilidades de conexão do Mosquitto Fonte: Everything Smart Home (2022). 47 O Mosquitto não seria nada mais do que um dos componentes do protocolo MQTT. O Mosquitto é um broker, ou seja, um intermediário entre máquinas e os protocolos e ele é utilizado no MQTT para fazer com que os dispositivos possam conversar entre si e agir de maneira automatizada (ENGPROCESS, 2018). O Mosquitto se destaca por possuir código aberto, está disponível para download para qualquer pessoa e é bastante simples de ser utilizado em diversas aplicações, especialmente naquelas que envolvem Internet das Coisas (MOSQUITTO, 2022). 2.10 Node-RED Node-RED é uma ferramenta de programação para conectar dispositivos de hardware, aplicativos e serviços online de maneiras novas. Ele possui um editor baseado em navegador que auxilia e proporciona de maneira fácil a conexão baseada em fluxos com programação visual, usando a ampla variedade de nós que podem ser implantados em seu tempo de execução com um único clique (Node-Red). A Figura 24 ilustra um exemplo de fluxo no Node-RED, utilizando vários nós. Figura 24 - Exemplo de fluxo no Node-RED Fonte: Node-Red (2022). Seu editor de fluxo baseado em navegador pode ser usado para criar funções Javascript e elementos de aplicativos podem ser salvos ou compartilhados para 48 reutilização. Os fluxos criados são armazenados usando JSON e o tempo de execução é construído em Node.js (NODE-RED, 2022). Gonçalves (2012) esclarece o termo JSON: JSON (Javascript Object Notation) é um modelo para armazenamento e transmissão de informações no formato texto. Apesar de muito simples, tem sido bastante utilizado por aplicações Web devido a sua capacidade de estruturar informações de uma forma bem mais compacta do que a conseguida pelo modelo XML, tornando mais rápido o parsing dessas informações. Isto explica o fato de o JSON ter sido adotado por empresas como Google e Yahoo, cujas aplicações precisam transmitir grandes volumes de dados (GONÇALVES, 2012, texto digital). Já o Node.js pode ser definido como um ambiente de execução Javascript assíncrono orientado a eventos, sendo projetado para desenvolvimento de aplicações escaláveis em rede, não dependendo de um browser para a execução, como comumente acontece (NODE-RED, 2022). Segundo Node-Red, as funções Javascript podem ser criadas usando um editor de rich text. Além disso, a ferramenta possui uma biblioteca integrada que permite ao usuário salvar suas funções, modelos ou fluxos já desenvolvidos e utilizar conforme a necessidade de seus projetos. Originalmente, o Node-Red foi desenvolvido pela IBM, porém em 2016 ele passou a fazer parte do projeto “JS Foundation” e tornou seu código aberto. 2.11 Emoncms Emoncms é um aplicativo da web de código aberto para processamento, registro e visualização de energia, temperatura e outros dados ambientais (Emoncms, 2022). A Figura 25 mostra a tela inicial do Emoncms.org. https://en.wikipedia.org/wiki/IBM 49 Figura 25 - Tela inicial do Emoncms.org Fonte: Emoncms (2022). O Emoncms é uma plataforma voltada a Internet das Coisas (IoT), que possibilita o armazenamento em banco de dados na nuvem de diversas variáveis, como temperatura, energia, pressão e também volume ou vazão. Sua interface possibilita gerar gráficos e dashboards que permitem visualizar a grandeza medida em tempo real ou fazer consultas ao longo do tempo através do seu histórico. O Emoncms pode ser utilizado tanto de maneira local, através de download e instalação em um servidor local ou também enviar os dados para um servidor remoto (serviço na nuvem) não sendo necessário montar um servidor local. Tanto para instalação local, como na nuvem, a primeira etapa é a criação de uma conta para acesso à plataforma. A grande diferença entre utilizar o serviço local ou na nuvem é o fato de o acesso a nuvem poder ser realizado de qualquer local ou equipamento, inclusive o Emoncms também disponibiliza um app (aplicativo) que pode ser instalado em qualquer dispositivo móvel (FRANCISCO, 2019). A Figura 26 ilustra a tela de login do Emoncms. 50 Figura 26 - Tela de login Emoncms Fonte: Emoncms (2022). A utilização desse tipo de ferramenta permite o acesso às informações desejadas em qualquer lugar do mundo através da Internet, facilitando assim o gerenciamento dos dados e validando a tomada de decisões independente de se estar ou não no lugar onde estão sendo feitas as medidas das grandezas. 51 3 DESENVOLVIMENTO Este trabalho propõe o desenvolvimento de um sistema para gerenciamento automatizado da utilização de compressores de ar em uma empresa situada na cidade de Muçum/RS. Tal empresa atua no ramo de beneficiamento de couros bovinos (curtume). A atividade de beneficiamento de couros depende de vários equipamentos consumidores de ar comprimido, dentre os quais pode-se citar: ● Carimbadores de couro; ● Túneis de secagem; ● Dosadores de água; ● Reativadores de couro (umidificadoras); ● Amaciadoras; ● Mesas de secagem a vácuo; ● Lixadeiras de couro; ● Prensas de estamparia; ● Cortinas de tinta; ● Cabines de pintura. Ainda pode-se listar uma infinidade de válvulas e atuadores pneumáticos distribuídos pela planta e que também são consumidores de ar comprimido. Além disso, por se tratar de uma planta grande e bastante antiga, os vazamentos de ar acabam contribuindo no consumo de ar comprimido. Tendo em vista a quantidade de equipamentos e ainda considerando que existem grandes consumidores, como as cabines de pintura que utilizam o ar 52 comprimido em suas várias pistolas de pintura, pode-se supor que o consumo energético dos compressores é considerável. 3.1 Situação anterior à implementação A empresa possui três compressores de parafuso que são responsáveis pela geração de ar comprimido utilizado na planta, conforme descrito a seguir. O primeiro compressor é da marca Worthington, modelo Rollair 125, com ano de fabricação 1988 e potência de 110 kW. Segundo o fabricante, a vazão máxima é 18 m³/min e sua pressão de trabalho é 6 kgf/cm². A Figura 27 ilustra o compressor da marca Worthington. Figura 27 - Compressor Worthington Rollair 125 Fonte: Do autor (2022). O segundo compressor é da marca Atlas Copco, modelo GA 807, com ano de fabricação 1985 e potência de 90 kW. Segundo o fabricante, a pressão máxima de trabalho do equipamento é 7 bar e sua vazão máxima é de 815 m³/h. A Figura 28 ilustra o compressor da marca Atlas Copco. 53 Figura 28 - Compressor Atlas Copco GA 807 Fonte: Do autor (2022). Por fim, o terceiro compressor é da marca Chicago Pneumatic, modelo CPVS 125, com ano de fabricação 2010 e potência de 90 kW. Segundo o fabricante, a pressão máxima de trabalho do equipamento é 7,4 bar e sua vazão máxima é de 993 m³/h. A Figura 29 ilustra o compressor da marca Chicago Pneumatic. Figura 29 - Compressor Chicago Pneumatic CPVS 125 Fonte: Do autor (2022). 54 Antes da implementação deste trabalho, os horários de utilização desses compressores variavam conforme os níveis de produção. Porém, o controle de acionamento e desligamento dos compressores, bem como a seleção do compressor a ser utilizado era feita sempre de maneira manual e nunca levando em consideração a vazão real de ar comprimido, até porque não havia equipamento para fazer essa medição. Esse processo, sem muito controle, acabava gerando perdas, pois entende-se que por muitas vezes o compressor errado estava sendo utilizado se for considerada a demanda de ar comprimido da planta. Outro ponto é a utilização de compressor adicional de forma desnecessária, tendo em vista que durante períodos do dia a pressão de ar acaba tendo um afundamento, sendo necessário ligar mais uma máquina. Contudo, pelo fato de o controle ser manual, deve-se lembrar de desligar essa máquina para não haver perdas quando o consumo for inferior e não havia um sistema automatizado para realizar esse controle. 3.2 Implementação realizada Conforme mencionado anteriormente, este trabalho apresenta o desenvolvimento e implementação de um sistema automatizado para gerenciamento de compressores de ar, o qual leva em consideração a potência real momentânea de cada equipamento, a pressão do ar comprimido e a vazão demandada pela planta para definir qual ou quais equipamentos utilizar, sendo esse procedimento de parada e partida dos compressores feito de forma autônoma. Além disso, no projeto, foram utilizadas ferramentas de controle que possibilitam uma melhor visualização das variáveis envolvidas no processo, contemplando ainda a operação facilitada do sistema. Outro problema que deve ser sanado com a implementação diz respeito aos casos em que acontece falha em algum compressor, onde antes do sistema, havia a falta de abastecimento de ar comprimido para a planta, ocasionando perdas e prejuízos. Nesses casos, o sistema deve detectar essas falhas e acionar imediatamente outro equipamento, fazendo com que não haja maiores problemas ou perdas para a produção dentro dos setores. 55 A Figura 30 ilustra de forma simplificada o sistema implementado. Figura 30 - Protótipo do sistema Fonte: Do autor (2022). As seções a seguir descrevem os principais componentes que foram utilizados no desenvolvimento do sistema proposto. 3.3 Controlador lógico programável Como controlador de todo o sistema foi utilizado um CLP, com o intuito de gerenciar as informações recebidas dos periféricos e fazer a tomada de decisão cabível ao sistema, além de enviar dados para sistemas que possibilitarão a visualização de status dos compressores de forma remota. O CLP da marca Altus, modelo Nexto Xpress XP340, atende os pré-requisitos do projeto e foi o controlador escolhido por essas razões. Suas características estão descritas a seguir: ● Entradas Digitais: 12; ● Entradas Rápidas: 4; ● Saídas Digitais: 12; ● Saídas Rápidas: 4; ● Número máx. de contadores rápidos: 1; 56 ● Número máx. de interrupções externas: 2; ● Número máx. de saídas PTO: 2; ● Número máx. de saídas VFO/PWM: 4; ● Entradas analógicas V/I (EA): 5; ● Entradas analógicas RTD (EA): 2; ● Saídas analógicas V/I (SA): 4; ● Interface Ethernet TCP/IP: 1; ● Interface serial RS-485: 1; ● Interface CAN: 1; ● Porta USB Host: 1; ● Protocolo CANOpen Manager: Sim. A Figura 31 mostra o CLP Nexto Xpress XP340. Figura 31 - CLP Nexto Xpress XP340 Fonte: Altus (2019). 3.4 Montagem do painel elétrico Após a seleção dos materiais a serem utilizados no projeto, a montagem do painel elétrico pôde ser iniciada. Como base para o painel foi utilizada uma caixa metálica específica para a montagem de painéis elétricos com as dimensões de 500mm x 600mm x 200mm, da marca Cemar. Como a empresa tinha em estoque um quadro usado para montagem, com as dimensões adequadas, o mesmo foi utilizado no projeto. 57 O layout do painel elétrico (ANEXO A) contempla três patamares para a afixação de componentes através de trilho do tipo Din. No nível superior foi afixado unicamente o CLP, mantendo-o isolado dos demais componentes. No patamar intermediário foram afixados as fontes, os relés e o disjuntor geral. Por fim, no nível mais baixo foram afixados os conectores para a conexão do cabeamento elétrico necessário. A Figura 32 ilustra o interior do painel montado. Figura 32 - Interior do painel elétrico Fonte: Do autor (2022). No arranjo mostrado na Figura 32, pode-se verificar a existência de três relés da marca Digimec, modelo DAI4420, que fazem a conversão de corrente de 0-5 A 58 para 4-20 mA. Além desses, ainda há sete relés de interface que fazem o isolamento das saídas do CLP. Na parte frontal do painel foram instalados comandos simples, contendo um botão de emergência que desabilita o sistema, além de uma manopla que aciona o Comando “Geral” e outra manopla que aciona o “Controle Automático”. Um sinaleiro/buzzer foi instalado na parte central inferior, logo abaixo do botão de emergência, com a finalidade de emitir um aviso antes da partida de qualquer compressor. A parte frontal superior ficou para a instalação mecânica da IHM. A Figura 33 mostra a parte frontal do painel. Figura 33 - Visão frontal do painel Fonte: Do autor (2022). 59 3.5 Instalação dos sensores Para viabilizar o funcionamento do sistema, foi necessário a instalação dos sensores, responsáveis por fazer a leitura das variáveis inerentes ao projeto, tais como pressão, vazão e corrente elétrica instantânea dos compressores. Nesse sentido, foram instalados três transformadores de corrente, um em cada equipamento, além de um transdutor de pressão no reservatório principal de ar comprimido e um medidor de vazão na linha unificada dos compressores. Os subitens a seguir dissertam sobre os tipos de sensores utilizados e sua maneira de instalação dentro da sala de compressores. 3.5.1 Transmissor de pressão Para medir a pressão, foi utilizado um transmissor de pressão ligado ao reservatório principal de ar comprimido. A utilização de um transmissor que gere um sinal de 4 a 20 mA é desejável, pois gera uma segurança maior ao sinal, devido ao corte do sinal gerar um valor que vai apontar um erro no controlador. Para o projeto, foi optado pelo transmissor NP 620 da fabricante Novus, cujas características estão descritas a seguir: ● Conexão ao processo: rosca externa ¼ NPT; ● Rangeabilidade de medição: 3:1 sem perda de exatidão; ● Temperatura de trabalho: -20 a 70 °C; ● Materiais em contato com o meio: aço inox 316L com anel de vedação em FKM (Viton ©); ● Saída: 4-20 mA a 2 fios; ● Conexão elétrica: DIN 43650 (EN 175301-803); ● Sobre-pressão: 2 vezes a pressão nominal; ● Resposta dinâmica: < 30 ms; ● Alimentação: 11-33 Vcc; ● Faixas de pressão: 1 MPa (10 bar, relativa); ● Exatidão, incluindo histerese, linearidade e repetibilidade: 0,25% do fundo de escala; ● Dimensões ¼ NPT: Ø 27 x 88,7 mm. 60 A Figura 34 ilustra o transmissor de pressão NP 620. Figura 34 - Transmissor de pressão NP 620 Fonte: Novus (2022). Esse transmissor de pressão possui características que atendem as demandas do projeto. Sua ligação se deu a dois fios diretamente à entrada analógica do CLP. A instalação desse transmissor de pressão se deu através de uma tomada já existente no reservatório de ar comprimido. A Figura 35 ilustra a instalação mecânica do transmissor de pressão. Figura 35 - Instalação mecânica do transmissor de pressão Fonte: Do autor (2022). 61 3.5.2 Sensor de vazão Buscando a solução para a medição de vazão neste projeto, chegou-se a um modelo o qual a empresa dispunha de uma unidade em estoque. Trata-se de um medidor de vazão do tipo roda d’água que, embora já usado, atende os requisitos básicos da implementação e faz com que a empresa não necessite realizar desprendimento financeiro na compra de um sensor novo, o qual multiplicaria o valor de investimento deste projeto. As especificações deste medidor seguem a seguir: ● Modelo: Signet 2540 ● Fabricante: George Fischer; ● Princípio de operação: Roda d’água; ● Vazão máxima: 6 m/s (sensor ajustável para diversas dimensões de tubos); ● Pressão de trabalho: Até 17 bar; ● Alimentação elétrica: 5 até 24 VDC ±10%, 1.5 mA max; ● Sinal de saída: pulsos. A Figura 36 ilustra o medidor de tipo roda d’água. Figura 36 - Medidor de vazão tipo roda d’água Fonte: GFPS (2022). Para que seja medida a vazão instantânea de ar comprimido, o medidor de vazão foi instalado diretamente na linha principal dos compressores, linha esta, por onde passa o ar comprimido gerado por todos os compressores. O sensor foi 62 instalado através de conexões apropriadas e diretamente na tubulação principal da rede de compressores. A Figura 37 ilustra o sensor de vazão instalado. Figura 37 - Sensor de vazão instalado Fonte: Do autor (2022). 3.5.3 Medição de corrente elétrica Para medir a corrente elétrica de cada compressor, foram utilizados transformadores de corrente, com o intuito de se obter a potência instantânea de cada equipamento através de um fator de multiplicação. Fazendo-se uma pesquisa e tendo em vista que a faixa de corrente deve atender até 300 Ampères, o transformador de corrente do tipo janela, modelo M.E.S. 60 da JNG atende aos requisitos do projeto. Suas características estão descritas a seguir: ● Corrente Primário: 300 A; ● Corrente Secundário: 5 A; 63 ● Carga Nominal: 10 VA; ● Tipo: Janela; ● Tensão de Isolamento: 3 kV; ● Frequência Nominal: 60 Hz; ● Classe de Exatidão: 1%; ● Limite de Corrente Térmica de Curta Duração (Ith): 100 x In; ● Dimensão (LxAxP): 102 x 118 x 57 mm. A Figura 38 apresenta esse modelo de transformador de corrente. Figura 38 - Transformador de corrente Fonte: Eletrorastro (2022). A instalação dos TCs se deu dentro do painel elétrico de cada compressor. Essa instalação foi feita nos cabos de entrada do painel, com o intuito de realizar a medição do consumo total do compressor, não deixando margem para qualquer erro nessa medição. A ligação dos TCs foi feita a dois fios e ligados através de bornes aos relés de conversão de corrente posicionados dentro do painel e esses então transmitem o sinal de 4-20mA ao CLP. As Figuras 39, 40 e 41 ilustram a instalação dos transformadores de corrente no compressor Rollair, Atlas Copco e Chicago, respectivamente. 64 Figura 39 - Transformador de corrente - Rollair Fonte: Do autor (2022). Figura 40 - Transformador de corrente – Atlas Copco Fonte: Do autor (2022). 65 Figura 41 - Transformador de corrente - Chicago Fonte: Do autor (2022). 3.6 Adequações de segurança As seções a seguir tratam dos componentes utilizados para a segurança aplicados ao projeto implementado. 3.6.1 Instalação do giroflex Neste projeto, as questões voltadas a segurança foram sempre levadas como algo indispensável. Nesse sentido, para alertar e garantir que nenhuma pessoa esteja realizando alguma atividade nos compressores que possa afetar sua segurança, foi implementado um giroflex ao centro da sala de compressores que é acionado antes de qualquer partida de equipamento. Esse giroflex é acionado dez segundos antes da partida de qualquer compressor (juntamente com o alerta luminoso/sonoro do painel). Por ter uma luminosidade intensa e ao mesmo tempo estar orientando essa luz em várias 66 direções, facilita a visualização por qualquer pessoa que estiver dentro da sala de compressores. A Figura 42 ilustra o giroflex já instalado. Figura 42 - Giroflex instalado Fonte: Do autor (2022). 3.6.2 Instalação das placas de orientação Ainda com o intuito de garantir a segurança do usuário do sistema, foram instaladas placas indicativas nas portas de acesso à sala de compressores, visando orientar a qualquer pessoa sobre o comportamento autônomo dos compressores. A Figura 43 ilustra uma das placas afixadas na entrada da sala de compressores. 67 Figura 43 - Placa de alerta de segurança Fonte: Do autor (2022). As placas de alerta foram confeccionadas com uma grande dimensão, de maneira a serem facilmente visualizadas e não passarem despercebidas a qualquer um que acesse a sala. Os dizeres presentes nessas placas deixam bem claro às pessoas os riscos presentes na sala de compressores devido a atuação do sistema. 3.7 Programação do CLP A programação do CLP é sem dúvida uma das tarefas mais desafiadoras na execução e implantação deste projeto. Os CLP’s da série Nexto Xpress da fabricante Altus utilizam o software de programação Master Tool IEC XE, o qual possui licença livre de utilização para projetos com até 320 pontos. Com exceção da implementação da comunicação via MQTT, toda a programação foi feita através da linguagem ladder. O programa desenvolvido foi subdividido em várias unidades de organização de programa (POU), possibilitando 68 dessa forma um melhor entendimento e possibilidade de edição facilitada. O programa dividiu-se nas seguintes POU’s: a) Alarmes; b) Leitura; c) MQTT; d) MQTT Start; e) MQTT Publisher; f) Controle; g) Modo Manual; h) Manutenção; i) Conversão; j) Relógio. As subseções a seguir elucidam melhor cada uma dessas unidades do programa, explicando de uma melhor forma como foi feita a programação e quais suas funcionalidades. 3.7.1 Alarmes Esta parte do programa é responsável pela detecção de falhas nos compressores. Cada um dos compressores reporta através de um contato seco se está ou não em estado de erro e esse sinal é enviado ao CLP através de cabeamento. O CLP recebe os sinais através de suas entradas digitais e o programa faz essa leitura, apontando erro para o equipamento que envia o sinal. O estado de erro desaparece assim que o compressor for reiniciado. Outro erro que o programa reporta se refere as ocasiões em que o sistema demanda que um dos equipamentos seja acionado e o mesmo não retorna com o sinal de potência através da leitura dos transformadores de corrente instalados nos mesmos. 3.7.2 Leitura A parte do programa que trata da leitura é uma das mais importantes de toda a programação, pois foi através da implementação dessa POU que se pôde ter referências para a correta programação de outras partes importantes do conjunto. 69 Neste programa foram implementadas as leituras das variáveis, tais como pressão, vazão e a corrente elétrica momentânea dos equipamentos. A leitura de pressão é realizada diretamente através da entrada analógica 3, configurada para receber o sinal analógico de 4-20mA do sensor de pressão e o valor obtido na entrada é convertido para uma escala de 0 até 10 bar, fazendo com que a leitura seja coerente. A leitura de vazão se dá através da leitura dos pulsos gerados pelo sensor de vazão através de uma entrada rápida e com a implementação de um contador rápido. A calibração do sensor foi realizada de forma empírica, tendo em vista que se conhece a capacidade nominal dos compressores. Tendo esses dados, apenas se aplica um fator de multiplicação para obter vazão em função da quantidade de pulsos. A programação prevê a atualização da medida de vazão a cada um minuto e meio, fazendo a média desse período, tendo em vista que durante o regime de alívio dos compressores, os mesmos não geram vazão, deixando a leitura distorcida se a mesma atualizar em períodos mais curtos. A leitura de corrente elétrica instantânea dos compressores é obtida através dos transformadores de corrente (TC’s), que geram uma corrente de saída de 0-5 A, tendo em vista que a leitura tem um range de 0-300 A. Os relés instalados no painel convertem essa corrente gerada pelos TC’s em corrente de 4-20 mA, que é lida pelas entradas analógicas do CLP. Os valores obtidos nas entradas são convertidos para uma escala de 0 até 300 A, através de um fator de multiplicação. 3.7.3 MQTT Tendo em vista que a comunicação dentro do protocolo MQTT ocorre através de strings, essa é a parte do programa em que os valores de variáveis