UNIVERSIDADE DO VALE DO TAQUARI - UNIVATES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO DE CIÊNCIAS EXATAS O QUE '( )f x NOS DIZ SOBRE ( )f x : UMA ABORDAGEM COM USO DE TECNOLOGIA COMPUTACIONAL Gisele Scremin Lajeado, janeiro de 2019 Gisele Scremin O QUE '( )f x NOS DIZ SOBRE ( )f x : UMA ABORDAGEM COM USO DE TECNOLOGIA COMPUTACIONAL Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu Mestrado Profissional em Ensino de Ciências Exatas, da Universidade do Vale do Taquari - Univates, como exigência parcial para obtenção do grau de Mestre em Ensino de Ciências Exatas. Orientadora: Prof. Drª Maria Madalena Dullius Lajeado, janeiro de 2019 Dedico esta dissertação aos meus grandes exemplos e apoiadores de toda minha caminhada, meu filho Jonatam Palacios, esposo Jorge Luis Palacios Felix, meu pai Darci Luis Scremin e minha mãe Elvenia Angelina J. Scremin, pois tudo que conquistei até hoje foi porque vocês estavam ao meu lado me apoiando, incentivando, oferecendo forças para seguir em frente e não desistir nos momentos de angústia e dúvida. Gisele Scremin Janeiro/2019 AGRADECIMENTOS Ao longo da caminhada de pesquisa, pude contar com o apoio de algumas pessoas que sempre estiveram ao meu lado e que são simplesmente especiais, além de ter a oportunidade de conhecer outras, que foram muito significativas, ambas me apoiaram e me incentivaram para eu chegar a alcançar mais um grande objetivo na vida: concluir o mestrado. Agradeço de coração a todos que contribuíram para que o sonho se concretizasse, participando de alguma forma e em alguma etapa dessa importante conquista. Não terei como mencionar todos, porém não posso deixar de citar alguns. Deus esteve sempre comigo, dando-me força, ânimo e, sobretudo, crença para não desistir, para persistir na luta por este sonho, que passou a ser, também, um objetivo de vida. A Ele, minha eterna gratidão. Agradeço de modo especial ao meu filho Jonatam e ao meu esposo Jorge, que, embora muitas vezes privados de minha dedicação, estiveram ao meu lado sempre, acalmando o meu coração nos momentos difíceis e que, com carinho e palavras singelas, iluminaram meus dias. Obrigada pela parceria, pelo amor incondicional e pela vibração a cada etapa vencida na busca dessa vitória. Vocês me inspiram a viver e a conquistar novas metas. Aos meus pais Darci e Elvenia, que com orgulho torceram pela minha conquista, sempre me poupando de situações que pudessem trazer preocupação, evitando, assim, que eu me desviasse do foco principal, obrigada. A educação por vocês proporcionada, suas orações e seus conselhos me fazem acreditar que é possível ir além. A todos os familiares que auxiliaram de alguma forma para que esse sonho se concretizasse, em especial, irmão, avós, tios, tias, primos, primas, cunhada e sobrinhos, a minha gratidão. Agradeço a todos os professores do curso, especialmente, a minha orientadora, professora Maria Madalena Dullius. Obrigado, mestre, por exigir de mim muito mais do que eu imaginava ser capaz de fazer. Manifesto aqui minha gratidão eterna por compartilhar a sua sabedoria, o seu tempo e a sua experiência. A esta instituição tão imponente, bem como a todas as pessoas que a tornam assim tão especial, agradeço pelo ambiente propício à evolução e ao crescimento pessoal, educacional e profissional. Destaco que ao longo de todo meu percurso eu tive o privilégio de trabalhar de perto com os melhores professores, educadores e orientadores, sem os quais não seria possível estar aqui hoje com o coração repleto de orgulho. Agradeço também, de modo especial, à escola de Ensino Fundamental Padre Traezel, a qual abriu suas portas para que eu pudesse realizar minhas atividades complementares e práticas pedagógicas, em uma parceria que deu certo e que nos enriqueceu. Assim, à direção, à coordenação pedagógica, às professoras, aos alunos, aos funcionários, enfim, a todos o meu sincero agradecimento. RESUMO A derivada é um dos conceitos fundamentais na aprendizagem da matemática universitária, sendo suporte na construção de outros conceitos mais avançados. Resultados da literatura nacional e internacional têm apontado que alunos têm apresentado dificuldades no aprendizado desse conceito que, em sua maioria, estão relacionadas à falta de compreensão conceitual. Neste sentido, a presente pesquisa, de cunho qualitativo, vinculada ao Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências Exatas da Universidade do Vale do Taquari – UNIVATES, alicerçada em estudos sobre a importância do uso de tecnologias computacionais em situações de ensino e aprendizagem de Matemática e de Cálculo, teve por objetivo desenvolver uma intervenção pedagógica para o ensino de derivadas através de atividades desenvolvidas com apoio do software Desmos, a fim de verificar as possíveis potencialidades do uso dessa ferramenta para as diferentes abordagens da Derivada. Durante o estudo, foram coletados dados por meio do registro das respostas das atividades realizadas pelos alunos (em papel), questionário de avaliação da proposta, áudios, fotos e diário de campo da pesquisadora. A intervenção foi desenvolvida em forma de Oficina Pedagógica junto a um grupo de alunos do curso de Licenciatura em Matemática de uma Instituição de Ensino da rede particular do Estado do Rio Grande do Sul. A análise de episódios indica que o uso de um ambiente informatizado pode contribuir para que os alunos se tornem mais ativos frente ao processo de ensino e de aprendizagem, sintam-se instigados a pensar, experimentar e testar aquilo que muitas vezes lhe é transmitido como um conhecimento pronto e acabado, também, sintam-se motivados a participarem e trocarem ideias, fazendo com que ocorra a socialização do conhecimento em construção. Como potencialidades do uso do software Desmos destacaram-se a visualização e a experimentação proporcionados através da manipulação dos gráficos, construção de tabelas, marcação e seleção de pontos, que foram mediados pelas atividades propostas e possibilitaram a compreensão da derivada de modo mais enriquecedor, principalmente em seus aspectos geométrico e gráfico. Palavras-chave: Derivada. Ensino. Desmos. ABSTRACT The derivative is one of the fundamental concepts in the learning of university mathematics, being supported in the construction of other more advanced concepts. Results from the national and international literature have pointed out that students have presented difficulties in learning this concept, which, for the most part, are related to a lack of conceptual understanding. In this sense, the present qualitative research, linked to the Postgraduate Program in Teaching of Exact Sciences of the University of Vale do Taquari - UNIVATES, based on studies on the importance of the use of computational technologies in situations of teaching and learning of Mathematics and Calculus, wasaimed to develop a pedagogical intervention for the teaching of derivatives through activities developed with the support of the software Desmos, in order to verify the potential of the use of this tool for the different approaches of the Derivative. During the study, data were collected by recording the responses of the activities carried out by the students (in paper), the proposal evaluation questionnaire, audios, photos and field diary of the researcher. The intervention was developed in the form of a Pedagogical Workshop with a group of students of the Licenciatura degree in Mathematics of a Teaching Institution of the private network of the State of Rio Grande do Sul. The analysis of episodes indicates that the use of a computerized environment can help students become more active in the processes of teaching and learning, feel encouraged to think, experiment and test what is often passed on to them as a ready and finished knowledge, also, feel motivated to participate and exchange ideas, causing the socialization of knowledge under construction to occur. The visualization and experimentation provided through the manipulation of the graphs, the construction of tables, the marking and selection of points, which were mediated by the proposed activities, enabled the understanding of the derivative in a more enriching way, in its geometric and graphic aspects. Keywords: Derivative. Teaching. Desmos. LISTA DE ILUSTRAÇÕES LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Mapa representações da Derivada............................................................21 Figura 2 – Reta tangente a uma circunferência..........................................................27 Figura 3 – Reta tangente à curva no ponto A.............................................................27 Figura 4 – Comportamento de uma função................................................................32 Figura 5 – Retas tangentes a curva de f ..................................................................33 Figura 6 – Gráfico da função e sua derivada primeira................................................35 Figura 7 – Produção de matéria seca de feijão..........................................................41 Figura 8 – Esboço do galpão......................................................................................41 Figura 9 – Resposta apresentada para diferenciação entre retas do aluno E15........80 Figura 10 – Resposta à atividade A1 apresentada pelo aluno E2...............................81 Figura 11 – Respostas à atividade A1 dos alunos E6 e E13......................................82 Figura 12 – Resposta à Atividade A1 apresentada pelo aluno E1..............................82 Figura 13 – Resposta à Atividade A2 apresentada pelos alunos E3, E4, E5............85 Figura 14 – Resposta à Atividade A2 dos alunos E6, E7, E8....................................86 Figura 15 – Resposta do aluno E1 à atividade A3.....................................................88 Figura 16 – Resposta à Atividade A4 do aluno E2.....................................................91 Figura 17 – Resposta ao Item d do aluno E3 .............................................................97 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Ângulo formado entre a reta e o eixo x ............................................22 Gráfico 2 – Ângulo Agudo..........................................................................................23 Gráfico 3 – Ângulo Obtuso........................................................................................23 Gráfico 4 – Ângulo Reto.............................................................................................23 Gráfico 5 – Reta paralela ao eixo x .........................................................................23 Gráfico 6 – Coeficiente angular da reta através de dois pontos.................................24 Gráfico 7 – Limite de uma função...............................................................................25 Gráfico 8 – Reta tangente a uma curva......................................................................28 Gráfico 9 – Reta tangente e reta secante à curva.......................................................29 Gráfico 10 – Aproximação de Q a P............................................................................29 Gráfico 11 – Aproximação de Q em P pela esquerda.................................................30 Gráfico 12 – Número de Artigos/Ano..........................................................................58 Gráfico 13 – Retas e Curva da função correspondente à Atividade A1......................79 Gráfico 14 – Trajetória da bola....................................................................................84 Gráfico 15 – Gráfico utilizado na Atividade A3.............................................................87 Gráfico 16 – Gráfico utilizado na Atividade A4............................................................90 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Critérios para seleção dos artigos.............................................................55 Quadro 2 – Trabalhos analisados sobre o ensino de derivadas..................................55 Quadro 3 –Teorias utilizadas nos artigos analisados..................................................59 Quadro 4 – Distribuição dos artigos em categorias e subcategorias...........................60 Quadro 5 – Situação dos alunos por semestre............................................................72 Quadro 6 – Atividades da Intervenção Pedagógica e Objetivos.................................72 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Representação numérica do limite em um ponto......................................26 Tabela 2 – Resultados encontrados para o problema.................................................38 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO........................................................................................................12 2 ABORDAGEM TEÓRICA.......................................................................................18 2.1 O estudo da derivada...........................................................................................19 2.1.1 Análise gráfica da função através da função derivada......................................31 2.1.1.1 Análise gráfica da função através do gráfico da função derivada..................34 2.1.1.1.1 Aplicações da derivada...............................................................................36 2.2 As dificuldades e problemas enfrentados no ensino de derivadas.......................42 2.3 O uso das Tecnologias Computacionais para o ensino e aprendizagem de Matemática.................................................................................................................46 2.3 .1O uso das Tecnologias Computacionais para o ensino e aprendizagem de Cálculo................................................................................................................. 48 2.4 Mapeamento dos trabalhos sobre derivadas........................................................55 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................................68 3.1 Caracterização da pesquisa.................................................................................68 3.2 Sujeitos e contexto da pesquisa...........................................................................70 3.3 A proposta de Intervenção...................................................................................72 3.4 Instrumentos da coleta de dados........................................................................73 4 INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA E ANÁLISE .....................................................76 4.1 Descrevendo as Atividades..................................................................................77 4.2 Analisando o questionário....................................................................................93 4.3 Analisando a Intervenção Pedagógica.................................................................97 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................101 REFERÊNCIAS........................................................................................................106 APÊNDICES.............................................................................................................114 ANEXOS..................................................................................................................125 12 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho, vinculado ao Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências Exatas da Universidade do Vale do Taquari – UNIVATES, e alicerçado em estudos sobre a importância do uso de tecnologias computacionais em situações de ensino e aprendizagem de Cálculo Diferencial, visa propor e investigar uma abordagem alternativa para o conteúdo de derivadas, utilizando o software Desmos como ferramenta de apoio para o desenvolvimento das atividades propostas, em forma de Oficina Pedagógica direcionada a alunos de Licenciatura em Matemática, que cursam ou já cursaram a disciplina de Cálculo Diferencial e Integral I. A motivação de trabalhar com esse tema é decorrente de inquietações surgidas no decorrer de minha formação acadêmica, principalmente na graduação, como a quantidade expressiva do uso de técnicas para o ensino dos conceitos elencados na disciplina de Cálculo Diferencial e Integral, o que me levou a questionar a aplicabilidade destes conteúdos. E também questionamentos surgidos ao acompanhar o trabalho de meu esposo como professor de disciplinas relacionadas à área de Matemática em cursos de graduação de uma Universidade Federal do RS, principalmente, da disciplina de Cálculo Diferencial e Integral, considerando o baixo desempenho e aproveitamento dos alunos e a dificuldade destes em compreender o conteúdo - conceito de derivada - considerado base da disciplina citada e de outras. 13 Estas inquietações me levaram a estudar e analisar o conceito de derivada de modo mais minucioso, pois quando questionada sobre o conceito e suas definições, percebi que não tinha domínio ou conhecimento suficiente sobre sua base conceitual, percebendo deste modo, a necessidade de ampliar meus conhecimentos e buscar modos de facilitar seu ensino e proporcionar melhoras em seu aproveitamento nos cursos de Cálculo Diferencial e Integral. Diante deste cenário, no ano de 2016 retomei a conclusão de minha especialização em TIC’s aplicadas à Educação, pela Universidade Federal de Santa Maria, na modalidade Ead, e em 2017 iniciei o mestrado mencionado. Programas que oportunizaram a reflexão e a busca por metodologias e recursos que pudessem contribuir para a aprendizagem do conceito de Derivada. Definido o tema de trabalho, tanto para a especialização quanto para o mestrado, e acreditando que o uso de tecnologias pode favorecer um ambiente mais dinâmico, motivador e capaz de promover melhor a compreensão de conceitos matemáticos, optamos pela busca e seleção de um software, como recurso facilitador na aprendizagem do conceito derivada como inclinação da reta tangente a um ponto, taxa de variação instantânea e a análise do comportamento de funções através do gráfico da função derivada. Após leituras de aprofundamento teórico acerca de tecnologias computacionais para o ensino de Cálculo Diferencial e Integral, notou-se que alguns softwares já vêm sendo explorados há muito tempo. Percebeu-se, então, a oportunidade associada à necessidade de testar algo novo, que explorasse gráficos e que fosse de fácil acesso e manuseio, pois muitos softwares requerem um aprofundamento maior referente a seus comandos e programação, o que muitas vezes pode prejudicar o andamento das atividades e da aula, além de pouco favorecer o seu uso devido à falta de tempo dos professores para realizar um aprofundamento sobre a tecnologia a ser utilizada. Nesse sentido, como resultado da pesquisa inicial sobre os softwares, encontrou-se o software Desmos, ainda pouco conhecido e explorado, mas que mostrou potencial para uso em atividades de exploração de funções e gráficos, em um trabalho de dissertação de Olmo (2016) da Universidade Internacional de La Rioja, na Faculdade de Educação, de Madrid, em 2016. Em busca por mais informações 14 sobre o Desmos e por meio da interação com suas ferramentas, foi possível perceber que seus comandos são acessíveis, de fácil compreensão e manuseio. Ainda, verificou-se que ele tem ótima saída de gráficos, permite explorar o gráfico de derivadas e demais funções, possibilita a construção de tabela de valores e marcação de pontos, sendo que mais detalhes do software podem ser encontrados no Anexo A. Ademais, o recurso, além de ser gratuito, pode ser acessado em qualquer dispositivo que esteja on-line, ou utilizado como aplicativo em modo off-line, apresentando a vantagem de não requer a sua instalação ou condicionar à necessidade de cadastro. Os fatores citados foram decisivos na seleção do software para o desenvolvimento do projeto de intervenção. Segundo Marin (2009), o uso de recursos computacionais, como softwares, nas aulas de Cálculo pode contribuir para a abordagem conceitual, além de expandir possibilidades de trabalho com diferentes abordagens e representações algébricas e geométricas, de modo rápido e articulado. O autor também afirma que a tecnologia possibilita a organização de situações pedagógicas com maior potencial de aprendizagem. Desse modo, observando que as tecnologias são atrativas e estão presentes em nosso dia a dia, oferecendo a possibilidade de exploração de várias formas de representações como a algébrica, tabular, gráfica e simbólica para o conceito de derivada, essa pesquisa vem propor uma intervenção com uso do software Desmos, baseada na seguinte questão de pesquisa: “Como o uso do software gráfico Desmos e as atividades poderão influenciar nas diferentes abordagens do conceito da Derivada? ” O objetivo principal desta pesquisa é investigar as potencialidades do uso do software gráfico Desmos para o ensino e a aprendizagem de Derivadas, tendo como público alvo alunos de um Curso de Licenciatura em Matemática de uma Instituição de Ensino Privada do Estado do Rio Grande do Sul, sendo a intervenção aplicada em formato de Oficina Pedagógica durante a Semana acadêmica do Curso. Como objetivos específicos, a pesquisa pretende: 15 Desenvolver uma proposta de intervenção para o ensino e a aprendizagem de Derivadas com auxílio do software Desmos; Promover a integração dos aspectos gráficos, algébricos e geométricos do conceito da Derivada; Verificar as potencialidades do software Desmos para exploração do conceito de Derivada. A utilização da Oficina Pedagógica no ensino de derivadas pode promover os objetivos almejados no que tange à compreensão do conceito da derivada e suas interpretações, pois, segundo Vieira e Volquind (2002), trata-se de uma metodologia fundamentada na realização de tarefas coletivas, por meio da promoção de investigação, ação e reflexão, de modo a integrar conhecimentos teóricos à sua aplicação. Além disso, de acordo com Castellano e Coco (2006), as oficinas pedagógicas propõem que professores e alunos trabalhem juntos, sem que haja uma dicotomia hierárquica de papéis, haja vista que o conhecimento não é repassado do professor para o aluno, mas é construído pelo aluno no decorrer do processo de ensino e aprendizagem, o que ressalta sua importância no contexto de aplicação. No desenvolvimento desta pesquisa, considerou-se o uso de recursos computacionais como ferramentas educacionais, as quais precisam ser vistas como apoio, como meios, que permitem realizar atividades de aprendizagem de forma diferente das empregadas anteriormente (POZO, 2004), possibilitando a criação de situações de aprendizagem ricas, complexas e diversificadas, proporcionando a melhora na qualidade de ensino e de aprendizagem. Para tanto, como já referendado, realizou-se uma intervenção pedagógica com alunos matriculados no curso de Licenciatura em Matemática de uma Universidade Particular do Estado do RS. A intervenção foi desenvolvida durante duas noites, com duração de quatro horas/aula por noite. Na ocasião da intervenção, os alunos receberam guias contendo atividades, acessavam o software Desmos, analisavam os gráficos já elaborados no software pela autora e realizavam as atividades propostas. Em seguida, ocorria a discussão sobre as atividades desenvolvidas, buscando, deste modo, a integração e socialização dos conceitos e teoremas estudados. 16 Dando continuidade, ao final da Oficina aplicou-se um questionário aos alunos, cujo foco foi a aprendizagem do conteúdo com auxílio do software Desmos, e também para que avaliassem aspectos do uso do software relacionadas a possíveis contribuições de seu uso para a aprendizagem do conceito, segundo a opinião dos mesmos. Em relação à metodologia utilizada para realização desse estudo, aportou-se a de cunho qualitativo, de caráter exploratório. Os instrumentos para coleta de dados constaram de um questionário impresso, áudios e as atividades impressas realizadas pelos alunos, além do diário de campo da pesquisadora. Concretizadas as considerações iniciais, destaca-se que esta dissertação está vinculada à linha de pesquisa de Tecnologias, metodologias e recursos didáticos para o ensino de Ciências e de Matemática. Sua composição compreende cinco capítulos, de modo que o capítulo da introdução, ora apresentado, aborda o problema de pesquisa - que estimulou a realização deste trabalho - e o contexto em que ele se insere, assim como os objetivos da pesquisa. O segundo capítulo apresenta a Abordagem Teórica, com uma revisão de literatura dividida em quatro seções. Na primeira seção apresenta-se o estudo da derivada, trazendo-se, na segunda, uma reflexão sobre os principais problemas e dificuldades enfrentados no processo de ensino e aprendizagem do conceito de derivada, a fim de elencar as principais causas e os fatores relacionados à dificuldade de compreensão do conceito. Na terceira seção segue o estudo referente ao uso de recursos computacionais para o ensino e aprendizagem em Matemática e em Cálculo, uma vez que esse estudo foi norteador para o desenvolvimento do presente trabalho. Já na quarta seção segue uma pesquisa teórico–bibliográfica, realizada com intuito de se conhecer o que está sendo produzido e investigado em relação ao tema “Derivada”, com base em um levantamento de artigos completos publicados no Portal de Periódicos da CAPES, no período de 2011 a 2016, elencando-se as principais teorias, recursos e metodologias utilizadas nessas pesquisas. O terceiro capítulo - Procedimentos Metodológicos - apresenta as características da pesquisa, o universo e a amostra pesquisados. No quarto capítulo - Descrição e Análise da Intervenção Pedagógica -, ocorre o relato dos dois encontros realizados junto aos alunos do curso de licenciatura em Matemática e efetua-se a 17 apresentação dos resultados que emergiram da pesquisa. No quinto e último capítulo, tecem-se as Considerações Finais do estudo, destacando-se as conclusões e implicações da Intervenção Pedagógica desenvolvida. 18 2 ABORDAGEM TEÓRICA No presente capítulo apresentam-se os pressupostos teóricos que norteiam esta dissertação, o que é realizado em quatro seções assim definidas: o estudo da derivada; problemas e dificuldades enfrentados no ensino e aprendizagem de derivadas; o uso de recursos computacionais no ensino e aprendizagem de Matemática e em Cálculo Diferencial e Integral; e mapeamento das pesquisas realizadas sobre derivadas nos últimos 6 anos. Inicialmente cabe discorrer sobre o conceito de derivada, considerado um dos conceitos fundamentais do Cálculo, motivo pelo qual seu estudo está presente no currículo de diversos cursos de graduação, inserido em disciplinas relacionadas ao Cálculo, devido a sua aplicabilidade em diversas situações do cotidiano relacionadas ao movimento e à taxa de variação, por exemplo. A derivada é um conceito que pode ser explorado por meio de diferentes representações ou focos, como: inclinação da reta tangente a uma curva em um ponto dado; derivada como taxa de variação instantânea; e também, abordagem ao estudo do comportamento de funções através da derivada e problemas de maximização e minimização. 19 Na sequência, o uso de tecnologias para o ensino e a aprendizagem de Matemática será abordado levando-se em consideração o contexto da Educação Matemática e a disciplina de Cálculo Diferencial e Integral, à qual pertence o conteúdo de derivadas. Para concluir o referencial teórico, apresenta-se um mapeamento de estudos realizados sobre as derivadas, efetuado no portal de periódicos da Capes, por meio da análise de artigos completos publicados nos últimos seis anos, no qual busca-se levantar as teorias e metodologias utilizadas até o momento. 2.1 O estudo da derivada A taxa de variação instantânea, a inclinação da reta tangente, a derivada como limite e a função derivada são as diversas interpretações do conceito de derivada. No entanto, o que atualmente vem sendo questionado pelos pesquisadores é se os universitários e também futuros professores têm conseguido compreender e aplicar esse conceito em suas diversas interpretações (PINO-FAN, GODINO e FONT, 2015). O que se tem diagnosticado tanto a nível nacional quanto internacional é a falta de compreensão e conexão entre estas interpretações e suas aplicações. No que se refere especificamente à derivada, alguns trabalhos mais recentes desenvolvidos destacam que: há um ensino que prioriza, em geral, processos de construção e avaliação formal, em que os alunos derivam, integram e calculam limites, sem serem capazes de dar um sentido mais amplo às noções envolvidas, pois priorizam somente o aspecto algébrico do conceito (JUNQUEIRA; MANRIQUE, 2015; VRANCKEN; ENGLER, 2014). Os alunos também apresentam dificuldade em relacionar os aspectos analíticos aos gráficos da função e suas derivadas (PINTO; VIANNA, 2012; SÁNCHEZ– MATAMOROS et al., 2013), demonstrando que o processo de ensino tem priorizado mais o estudo algébrico do que o estudo gráfico do conceito de derivada. Frente a esse cenário, a presente subseção foi elaborada com o objetivo de apresentar o estudo do conceito de derivada em seus aspectos geométrico e gráfico, 20 bem como alguns exemplos de aplicação em diferentes áreas, embasados na literatura de Anton (2000), Euclides (2009), Flemming (2006), Iezzi (2000), Stewart (2016), Sviercoski (1999), contribuindo, deste modo, para o aprofundamento teórico acerca do tema abordado neste trabalho. Optou-se, primeiramente, por apresentar o conceito geometricamente, no qual a derivada no ponto 𝑥 = 𝑎 de 𝑦 = 𝑓(𝑥) representa a inclinação da reta tangente ao gráfico desta função no ponto (𝑎, 𝑓(𝑎)), definida como o limite da inclinação da reta secante. A função que a cada ponto 𝑥 associa a derivada neste ponto de 𝑦 = 𝑓(𝑥) é chamada de função derivada de 𝑓(𝑥). Em relação à representação gráfica do conceito de derivada, apresenta-se a análise do comportamento de uma função por meio do gráfico da função derivada, em que são determinados os intervalos de crescimento e decrescimento da função, bem como os pontos críticos dela, avaliando sua concavidade. Para findar a subseção, são selecionados alguns exemplos de aplicação referentes ao conceito de derivada que demonstram a importância e a relevância do estudo desse tema em diferentes cursos de graduação, de modo a ampliar o conhecimento e possibilitar a interação entre conceito e aplicabilidade. Derivada como inclinação da reta tangente a um ponto Kendal (2001) realizou uma pesquisa por meio da qual destacou as representações gráfica, numérica e simbólica do conceito de Derivada, conforme se pode observar na Figura 1, mostrando que o desenvolvimento da noção desse conceito está intimamente ligado às habilidades de articulação entre suas representações. 21 Figura 1 – Mapa representações da Derivada Fonte: Kendal (2001, p. 47) Em sua tese, a autora, através do uso de uma CAS1 nas aulas de Cálculo para o Ensino Médio, descobriu que o uso de múltiplas representações do conceito de Derivada é muito importante para o entendimento desse conceito, sendo que as partes gráfica e simbólica são muito úteis e importantes para vincular e enfatizar o conceito. Diante dessa importância e relevância comprovada das representações do conceito, passa-se a abordar na sequência deste trabalho alguns dos conceitos que estão presentes na definição formal de derivada, como a equação de uma reta, cálculo do coeficiente angular da reta, limite de uma função para se chegar à exploração gráfica do conceito de Derivada. Inclinação ou Coeficiente Angular de uma Reta Um dos problemas do Cálculo Diferencial surgiu da necessidade de encontrar a inclinação ou coeficiente angular de uma reta y mx b tangente a curva de uma função em um determinado ponto 0x . Para compreender esse processo, retomam-se 1 Sistemas de Álgebra Computacional 22 alguns conceitos básicos relacionados à reta, partindo da seguinte questão: o que é inclinação de uma reta? Dada uma reta 𝑟, por exemplo, pode-se determinar pelo menos uma equação do tipo 0Ax By C , em que A, B e C são números reais, 0A ou 0B , denominada equação geral da reta, a qual é satisfeita por todos os pontos ( , )P x y pertencentes 𝑎𝑟(IEZZI, 2000). Se 0B , essa mesma reta pode ser representada da seguinte forma (IEZZI, 2000, p. 52): 0 ( ) ( ) y Ax By C By Ax C A C y x B B mx b A equação y mx b é denominada equação reduzida da reta, na qual a constante b chama-se coeficiente linear e representa a ordenada do ponto em que a reta encontra o eixo Oy. A constante m é chamada “coeficiente angular” ou “inclinação da reta”, obtido por meio do cálculo da tangente trigonométrica do ângulo que a reta determina com o sentido positivo do eixo 𝑂𝑋, como pode ser observado no Gráfico 1. tan( )m com 0º 180º Gráfico 1 – Ângulo formado entre a reta e o eixo 𝑋. Fonte: Elaborado pela autora 23 Na trigonometria, define-se tangente de um ângulo (tan( )) como sendo o quociente entre o cateto oposto a e o cateto adjacente a . 𝑡𝑎𝑛𝑔𝑒𝑛𝑡𝑒 = 𝑐𝑎𝑡𝑒𝑡𝑜 𝑜𝑝𝑜𝑠𝑡𝑜 𝑐𝑎𝑡𝑒𝑡𝑜 𝑎𝑑𝑗𝑎𝑐𝑒𝑛𝑡𝑒 Com tan( )m , tem-se: 1º Caso 2º Caso Gráfico 2 – Ângulo Agudo Gráfico 3 – Ângulo Obtuso Se 0 ° < < 90° então m > 0 Se 90° < < 180° então m < 0 (Função crescente) (Função decrescente). 3º Caso 4º Caso Gráfico 4 – Ângulo Reto Gráfico 5 – Reta paralela ao eixo x Se = 90º então tan não é definida Se 0º tan 0 0m m = ∄ (não é função). (Função Constante) É possível calcular a inclinação de uma reta quando dela se conhece: dois pontos distintos; a equação geral; e a direção (por exemplo, sabe-se que a reta é paralela a uma reta dada). 24 Para calcular a inclinação da reta conhecendo-se dois pontos distintos é necessário estabelecer algumas relações. Logo, sendo f uma função linear de equação ( )y f x , cujo gráfico é uma reta no plano x .Considere dois pontos 1 1 1( , y )P x e 2 2 2( , )P x y , sobre a reta e denote por x a diferença entre as coordenadas x desses pontos ( 2 1x x x ), e por y a diferença entre as coordenadas y desses pontos ( 2 1y y y ). Sabendo que a tangente trigonométrica da inclinação da reta é igual ao coeficiente angular m tem-se: 2 1 2 1 tan( ) y yy f m x x x x . Observe-se através do Gráfico 6 que, por semelhança de triângulos, qualquer valor que seja o x , encontra-se por correspondência da função linear f valores para y , tais que a relação y m x não se altera. Gráfico 6 – Coeficiente angular da reta através de dois pontos Fonte: Elaborado pela autora A variação y x permite encontrar a inclinação de uma reta, mas também é utilizada para se encontrar a velocidade escalar média, que é o resultado da razão entre o espaço total percorrido e o tempo total gasto para realização do percurso por 25 um corpo ou objeto, e pode ser expresso pela relação VEM = ∆S ∆t , onde ∆𝑆 representa o espaço total percorrido e ∆𝑡 o tempo gasto no percurso. Vale recordar que uma grandeza escalar é aquela que seu valor numérico, junto a unidade de medida, é o suficiente para expressar uma grandeza física. Por exemplo: quando falamos que um carro viajou durante 4h e percorreu um trajeto de 350 km, podemos estimar que sua velocidade escalar média foi de 87,5 km/h. Limite de uma Função No âmbito da aprendizagem, o conceito de limite também pode ser explorado em três representações: 1- Gráfica Em observação ao Gráfico 7, considerando uma função ( )f x , definida num intervalo I , temos que o limite de ( )f x , quando x tende a a , é o número b , se para todo 0 , existir, em correspondência, um número 0 , de modo que x a e ( )a x a b f x b . Assim, lim ( )x a f x b (STEWART, 2016). Gráfico 7 – Limite de uma função Fonte: Elaborado pela autora 2- Simbólica 26 Seja f uma função definida em algum intervalo aberto que contenha o número a exceto possivelmente no próprio a , então diz-se que o limite de ( )f x quando x tende a a é L , e escrevemos (STEWART, 2016) lim 𝑥→𝑎 𝑓(𝑥) = 𝐿 se para todo número 0 houver um número 0 tal que se 0 x a então ( )f x L . 3- Numérica Pode-se analisar o limite pela representação numérica, por exemplo: Para calcular o lim 𝑥→2 𝑓(𝑥) = 𝑥2 − 𝑥 + 2, podem-se construir tabelas de valores como as apresentadas na Tabela 1, realizando as aproximações em torno de 2, pela sua direita e esquerda. Tabela 1 – Representação numérica do limite em um ponto Fonte: Elaborado pela autora Logo, pela aproximação dos valores em torno de 2 pode-se determinar que o limite da função quando x tende a 2 é igual a 4. Reta tangente a uma curva Retomado o conceito de inclinação de uma reta, prossegue-se com o conceito de reta tangente a uma curva, que foi um dos problemas que gerou muitos estudos no desenvolvimento do Cálculo Diferencial. 27 Para iniciar, destaca-se a reta tangente a uma circunferência. Vale retomar o conceito de tangente, palavra que provém do latim tangente e significa “que toca”. Euclides (2009, p. 151), no Livro III, define a reta tangente a um círculo como “uma reta que, tocando o círculo e sendo prolongada, não o corta”. Ainda no corolário 18, do Livro III, o autor (2009, p. 168) demonstra que “caso alguma reta seja tangente a um círculo, e, a partir do centro até a junção, seja ligada alguma reta, a que foi ligada será perpendicular à tangente”, conforme demonstrado na Figura 2. Figura 2 – Reta tangente a uma circunferência Fonte: Elaborado pela autora Para curvas mais complexas esta definição é inadequada. Na Figura 3, por exemplo, a reta r foi prolongada a partir do ponto A e interceptou a curva em outros dois pontos. Pode-se afirmar que a reta r é tangente à curva no ponto A, mas não nos outros dois pontos B e C (ANTON, 2000). Figura 3 – Reta tangente à curva no ponto A Fonte: Elaborado pela autora. 28 Para se obter uma definição de reta tangente que se aplique a demais curvas que não sejam círculos, é preciso ver a reta tangente de outra maneira (ANTON, 2000). Tome-se f como uma função cujo gráfico ( )y f x encontra-se representado abaixo (Gráfico 8). Manifesta-se interesse em encontrar a equação da reta tangente t à curva no ponto P do plano xy . Gráfico 8 – Reta tangente a uma curva Fonte: Elaborado pela autora. Pode-se encontrar a equação da reta tangente t assim que se sabe a sua inclinação m . Mas para calcular m é preciso de pelo menos dois pontos distintos. Para tanto tome-se agora o ponto 0 0( , ( ))P x f x como um ponto fixo e trace-se outra reta que passa por P e por outro ponto pertencente à curva, obtendo, desse modo, uma reta s secante à curva da função. Do intercepto entre a curva e a reta s obtém-se o ponto denominado 1 1( , ( ))Q x f x sendo este um ponto móvel (variável) próximo de 0 0( , ( ))P x f x , como pode ser observado no gráfico 9. 29 Gráfico 9 – Reta tangente e reta secante à curva Fonte: Elaborado pela autora Para a obtenção da inclinação da reta tangente t no ponto 0 0( , ( ))P x f x em relação à curva da função, é preciso aproximar o máximo possível o ponto 1 1( , ( ))Q x f x do ponto 0 0( , ( ))P x f x e calcular a inclinação. Para se calcular a inclinação da reta secante s temos : 1 0 1 0 ( ) ( ) PQ f x f x m x x . Sabendo que P (2,0) e que o ponto Q inicial é (4,2), tem-se 2 0 1 4 2 PQm . Realizando a aproximação de Q em P, obtém-se um novo ponto Q (3.5,0.75) como pode ser observado no gráfico 10, e calcula-se a nova inclinação, 0.75 0 0.5 3.5 2 PQm . Gráfico 10 – Aproximação de Q a P Fonte: Elaborado pela autora Quanto mais próximo de P está chegando Q, mais aproximado o valor da inclinação a ser obtida para a reta tangente t à curva da função. Sendo assim, 30 aproxima-se o máximo possível os dois pontos, obtendo Q (2.01, -0.01), logo tem-se que 2.01 0 0.99 0.01 2 PQm . É possível afirmar que o valor aproximado da inclinação da reta tangente t é igual a -1. Para confirmar o valor encontrado faz-se o mesmo procedimento de aproximação de Q em P, mas agora pela esquerda de P, admitindo Q inicial como sendo (1, 2), conforme pode ser visto no gráfico 11. Gráfico 11 – Aproximação de Q em P pela esquerda. Fonte: elaborado pela autora Logo obtém-se a inclinação 2 0 2 1 2 PQm . Continuando a sequência de aproximações obtém-se o ponto mais próximo de P, sendo Q (1.99, 0.01), logo a inclinação de 1.99 0 1.01 0.01 2 PQm . Então faz-se Q aproximar-se de P ao longo da curva da função ao obrigar 1x tender a 0x . Se PQm tender a um número m , então define-se a tangente t como a reta que passa por P e tem inclinação m . (Isto implica dizer que a reta tangente é a posição-limite da reta secante PQ quando Q tende a P . (STEWART, 2016, p. 122). Obtém-se, assim, a inclinação m da reta tangente t como sendo aproximadamente -1 para o ponto de tangência (2,0)P em relação à curva da função ( )y f x . 31 Deste modo, define-se a reta tangente à curva ( )y f x em um ponto 𝑃(𝑥0, 𝑓(𝑥0)) como sendo a reta que passando por P tem inclinação 𝑚 = lim 𝑥1→𝑥0 𝑓(𝑥1)−𝑓(𝑥0) 𝑥1−𝑥0 Desde que o limite exista (ANTON, 2000, p. 178). Mas, há outra expressão para a inclinação da reta tangente que é, às vezes, mais fácil de ser usada para cálculos. Se 1 0h x x , então 1 0x x h e, assim, a inclinação da reta secante PQ é 0 0( ) ( ) PQ f x h f x m h Definição (1) Logo, a inclinação m da reta tangente à curva ( )y f x em um ponto 0 0( , ( )P x f x é a reta passando por P com inclinação 0 0 0 ( ) ( ) lim h f x h f x m h Definição (2) O valor de m é chamado de “ derivada da função ( )y f x no ponto 0x ” e é denotado pelo símbolo 0( )f x , é claro que m é o coeficiente angular ou inclinação da reta tangente t , portanto tem-se: 0 0 0 0 ( ) ( ) ( ) lim h f x h f x f x h Definição de Derivada (3) 2.1.1 Análise gráfica da função através da função derivada Os termos crescente, decrescente e constante são usados para descrever o comportamento da função em determinado intervalo, à medida que se percorre o seu gráfico da esquerda para a direita. Observando o gráfico da função que está na Figura 4, pode-se descrever o seu comportamento como crescente no intervalo ] ,0[ , decrescente no intervalo ]0,2[ , novamente crescente no intervalo ]2,3[ e constante no intervalo ]3, [ . 32 Figura 4 – Comportamento de uma função Fonte: Elaborado pela autora Porém, o comportamento de uma função também pode ser conhecido por meio da função derivada e seu gráfico, pois a derivada de uma função em um ponto pode ser interpretada como a inclinação (valor do coeficiente angular) da reta tangente ao seu gráfico nesse ponto, então é razoável esperar que informações sobre '( )f x forneçam informações sobre ( )f x . Essa interpretação geométrica da derivada pode ser usada como recurso auxiliar no esboço de gráficos. Por exemplo: • pode-se usar a derivada para determinar os pontos onde a reta tangente é horizontal: nesses pontos o valor da derivada é zero e estes são considerados pontos críticos da função, possíveis ponto de máximo ou de mínimo; • pode-se usar a derivada para encontrar os intervalos nos quais a inclinação da reta tangente é positiva ou negativa, e consequentemente a função é crescente e decrescente. Para ver como a derivada de f pode dizer onde a função é crescente ou decrescente, observe-se a Figura 5. Entre A e B e entre C e D, as retas tangentes têm inclinação positiva e, portanto, '( ) 0f x . Entre B e C, as retas têm inclinação negativa e, portanto, '( ) 0f x . Assim, parece que f cresce quando '( )f x é positiva e decresce quando '( )f x é negativa. 33 Figura 5 – Retas tangentes a curva de f Fonte: Elaborado pela autora Os extremos relativos de uma função, se houverem, ocorrem em pontos críticos, ou seja, aqueles nos quais '( ) 0f x , ou seja, onde a inclinação da reta tangente é nula, ou ainda quando f é não-diferenciável (STEWART, 2016). No caso da Figura 5, estes pontos seriam B e C, pois neles a inclinação da reta tangente é nula. Mas é importante destacar que nem todo ponto crítico dá origem a um extremo relativo, pois há aqueles em que isto não ocorre. Como às vezes é preciso distinguir os pontos críticos, nos quais '( ) 0f x , daqueles onde f é não-diferenciável, chamam-se os pontos onde '( ) 0f x de pontos estacionários de f . Para determinar se um ponto crítico de f é um extremo relativo, é preciso analisar a derivada primeira de f , em cada lado dos pontos críticos (STEWART, 2016): a) Se o sinal da derivada for positivo à esquerda do ponto crítico e negativo à direita dele, o ponto é um máximo relativo. b) Se o sinal da derivada for negativo à esquerda do ponto crítico e positivo à direita dele, o ponto é um mínimo relativo. c) Se o sinal da derivada for o mesmo em ambos os lados do ponto crítico, o ponto não é máximo nem mínimo relativo. 34 Ao analisarem-se os pontos B e C da Figura 5, pode-se afirmar que B é um ponto de máximo, pois a sua esquerda 'f é positiva e a direita 'f é negativo. Já C é um ponto de mínimo, pois a sua esquerda 'f é negativo e a direita 'f é positivo. Ou seja, por meio do comportamento da derivada ao redor dos pontos críticos pode-se determinar o comportamento de f . 2.1.1.1 Análise gráfica da função através do gráfico da função derivada Outro modo de se conhecer e determinar o comportamento de uma função é a por meio da análise do gráfico da derivada de primeira ordem. Para isso, é preciso iniciar realizando algumas comparações entre o gráfico da função e o gráfico de sua derivada primeira, de modo a estabelecer relações possíveis entre eles. Em um gráfico da derivada primeira, obtém-se um eixo m , pois quando visualizam-se vários pontos no gráfico da derivada, a coordenada y de um ponto será denotada como a inclinação da função original, logo, as coordenadas do gráfico da derivada primeira têm como coordenadas ( , )x m . Observe-se a Figura 6 com o gráfico da função f em vermelho e o gráfico de sua derivada primeira 'f em azul. Analisando o gráfico f da esquerda para a direita, pode-se determinar o comportamento de f como sendo decrescente nos intervalos ] , 1[ e ]0,1[ e crescente nos intervalos ] 1,0[ e ]1, [ , tendo como extremos relativos ( 1, 1) e (1, 1) , pontos de mínimo, e (0,0) ponto de máximo. 35 Figura 6 – Gráfico da função e sua derivada primeira Fonte: Elaborado pela autora Em relação ao gráfico de 'f podem-se determinar os intervalos onde a derivada primeira é positiva, ou seja, '( ) 0f x como sendo aqueles onde o gráfico de 'f está acima do eixo x . E os intervalos onde a derivada primeira é negativa, ou seja, '( ) 0f x como sendo aqueles onde o gráfico de 'f está abaixo do eixo x . Comparando os intervalos onde f é crescente e decrescente com intervalos onde o gráfico de 'f é positivo ou negativo, percebe-se que f é crescente onde 'f é positivo, e f é decrescente onde 'f é negativo. Logo, através do gráfico de 'f é possível identificar os intervalos de crescimento e decrescimento de f . Agora observem-se as coordenadas dos pontos de intercepto do gráfico de 'f com o eixo x ,onde se tem ( 1,0) , (0,0) e (1,0) . Estes pontos estão relacionados aos extremos relativos da função, o valor da coordenada x representa os possíveis pontos críticos da função, sendo que a coordenada y está relacionada ao valor da inclinação da reta tangente neste ponto, ou seja, derivada igual a zero. Comparando os extremos relativos de f com os pontos de intercepto de 'f como eixo x podem-se estabelecer algumas relações a fim de identificar se os extremos relativos são pontos de máximo, mínimo ou nenhum dos dois. Primeiramente, analisa-se o comportamento de 'f ao redor do ponto (-1, 0), a fim de identificar se 'f é positivo ou negativo. Deste modo pode-se afirmar que '( ) 0f x antes de (-1,0) e '( ) 0f x depois. Sabendo que, se '( ) 0f x a função é decrescente, e que, se '( ) 0f x a função é crescente, é possível afirmar que o ponto 36 com coordenada 1x é um ponto de mínimo da função, devido ao comportamento de f passar de decrescente para crescente. O segundo ponto a ser analisado é (0,0), para isto analisa-se novamente o comportamento de 'f ao seu redor, onde se tem que antes de (0,0) '( ) 0f x e depois '( ) 0f x . Sendo assim, f era crescente e passou a ser decrescente ao redor de (0,0) dando origem a um ponto de máximo em 0x . Já para o ponto (1,0), tem-se '( ) 0f x antes de (1,0) e '( ) 0f x depois. Desse modo, pode-se afirmar que a função passou de decrescente para crescente resultando em um ponto de mínimo em 1x . Por meio da análise do gráfico da derivada primeira de f foi possível compreender o comportamento de f , bem como identificar os possíveis pontos críticos, o que pode auxiliar no esboço e compreensão do gráfico da função. No Cálculo, muitas das aplicações requerem a compreensão gráfica, a fim de poder solucionar problemas e realizar comparações. Desse modo, fica evidente a importância e a relevância do estudo gráfico da derivada, de modo a contribuir para a aprendizagem do conceito de maneira mais significativa e concisa. 2.1.1.1.1 Aplicações da derivada Comumente, nas salas de aula, os alunos questionam sobre onde serão aplicados os conteúdos abordados e isso ocorre tanto no ensino básico, quanto no superior. Assim, mostrar a aplicabilidade faz com que os conteúdos se tornem mais significativos e interessantes, de modo a estimular os alunos e a desenvolver a contextualização daquilo que se ensina e se aprende. Com o ensino de derivada não pode ser diferente, há necessidade de se trabalhar com problemas de aplicação relacionados a diferentes áreas do conhecimento. Por isso, nesta parte da pesquisa serão apresentados alguns problemas de aplicação do conceito de derivada em diferentes contextos. Nesse sentido, talvez a mais difundida aplicação das derivadas no ensino superior seja a de otimização de problemas, em que as derivadas são utilizadas para se obter a 37 maximização ou a minimização de um determinado fenômeno, possibilitando resolver situações problemas de nosso cotidiano, como também, a taxa de variação instantânea. Optou-se por selecionar, para apresentar na sequência, alguns problemas contemplando diferentes áreas de conhecimento, abordados em diferentes livros didáticos de Cálculo, entre eles: Anton (2000), Flemming (2006), Stewart (2016), Sviercoski (1999). Problema 1- Economia (adaptado de ANTON, 2000) De acordo com uma aplicação apresentada por Anton (2000), uma forma líquida de Penicilina fabricada por uma firma farmacêutica é vendida a granel a um preço de $200 por unidade. Se o custo de produção (em dólares) para x unidades for ( ) 500.000 80 0,003 ²C x x x e se a capacidade de produção da firma for de no máximo 30.000 unidades em um tempo específico, quantas unidades de penicilina devem ser fabricadas e vendidas naquele tempo para maximizar o lucro? Informações: Quando se trata de economia, existem três funções importantes a se considerar que são: ( )C x = custo total da produção de x unidades de um produto, durante certo período de tempo. ( )R x = rendimento total da venda de x unidades de um produto, durante certo período de tempo. ( )P x = lucro total obtido na venda de x unidades de um produto, durante certo período de tempo. Elas são chamadas, respectivamente, função-custo, função-rendimento, função-lucro. Se todas as unidades produzidas forem vendidas, elas estarão relacionadas por ( ) ( ) ( ) [ ] [ dim ] [ ] P x R x C x lucro ren ento custo 38 Solução: Como o rendimento total na venda de x unidades é ( ) 200R x x , o lucro ( )P x sobre x unidades será ( ) ( ) ( ) 200 (500.000 80 0,003 ²)P x R x C x x x x Como a capacidade de produção é de no máximo 30.000 unidades, x deve estar no intervalo [ 0, 30.000]. Logo, é preciso derivar a função lucro em relação a x para determinar os valores para x nos quais podem ocorrer o lucro máximo 200 (80 0,006 ) 120 0,006 dP x x dx Equacionando 0 dP dx obtém-se 120 0,006 0x ou 20.000x Como este ponto crítico está no intervalo [0, 30.000], o lucro máximo deve ocorrer em um dos pontos 0x , 20.000x ou 30.000x . Substituindo-se estes valores em ( )P x , obtém-se a Tabela 2, a qual nos mostra que o lucro máximo 700.000P ocorre quando 20.000x unidades forem fabricadas e vendidas no tempo especificado. Tabela 2 – Resultados encontrados para o problema x 0 20.000 30.000 ( )P x 500.000 700.000 400.000 Fonte: Anton (2000, p. 347) Problema 2 – Ciências Agrárias (SVIERCOSKI, 2014, p. 144- 145) Considerando a produção de matéria seca de feijão ( )( / )f x g vaso em função da dose de fósforo ( )x ppm , em que 0 230x , dada, em [2], por ( ) 6.575 0.0788 0.000174 ²f x x x Encontre a dose de fósforo que dá a produção máxima. 39 Solução: Primeiro precisa-se encontrar o ponto crítico da função, isto significa, derivar a função e encontrar o ponto em que a inclinação da reta tangente é nula, ou seja, '( ) 0f x , o possível ponto de produção máxima ou mínima. '( ) 0.0788 0.000348 0 226.44f x x x Agora derivamos novamente a função, para determinar a derivada de segunda ordem, por meio da qual verificamos se o valor encontrado representa um máximo ou um mínimo local. Como ''( ) 0.000348f x , então ''(226.44) 0.000348f , ou seja, 226.44x ppm é um ponto de máximo local, isto é, a produção máxima será de (226.44) 15.497( / )f g vaso como pode ser observado na Figura 7. Figura 7 – Produção de matéria seca de feijão Fonte: Sviercoski, 2014, p.145 Problema 3 – Ciências Médicas e Biológicas (FLEMMING, 2006, p. 180-181) Uma cidade X é atingida por uma moléstia epidêmica. Os setores de saúde calculam que o número de pessoas atingidas pela moléstia depois de um tempo t (medido em dias a partir do primeiro dia de epidemia) é, aproximadamente, dado por ³ ( ) 64 3 t f t t (a) Qual a razão da expansão da epidemia no tempo 4t ? (b) Qual a razão da expansão da epidemia no tempo 8t ? (c) Quantas pessoas serão atingidas pela epidemia no 5º dia? 40 Solução: A taxa com que a epidemia se propaga é dada pela razão de variação da função ( )f t em relação a t . Portanto, para um tempo t qualquer, essa taxa é dada por: '( ) 64 ²f t t (a) No tempo 4t , temos: '(4) 64 16 48f . Logo, no tempo 4t , a moléstia está se alastrando à razão de 48 pessoas por dia. (b) No tempo 8t , temos: '(8) 64 64 0f Portanto, no tempo 8t a epidemia está totalmente controlada. (c) Como o tempo foi contado em dias a partir do 1º dia de epidemia, o 5º dia corresponde à variação de t de 4 para 5. Logo, o número de pessoas atingidas pela moléstia durante o 5º dia será dado por: 5³ 4³ (5) (4) (64 5 ) (64 4 ) 3 3 125 64 320 256 3 3 43 f f No item (a), viu-se que no tempo 4t (início do 5º dia), a epidemia se alastrava a uma taxa de 48 pessoas por dia. No item (c), calculou-se que durante o 5º dia 43 pessoas serão atingidas. Essa diferença ocorreu porque a taxa de propagação da moléstia se modificou no decorrer do dia. Problema 4 – Geometria (FLEMMING, 2006, p. 220-221) Um galpão deve ser construído tendo uma área retangular de 12.100 m². A prefeitura exige que exista espaço livre de 25 m na frente e 12 m em cada lado. Encontre as dimensões do lote que tenha área mínima na qual possa ser construído este galpão. Solução: A Figura 8 ajuda a definir a função que vamos minimizar. 41 Figura 8 – Esboço do galpão Fonte: Flemming, 2009, p. 220 Sabemos que 12.100 ²A m x y A função que definirá à área do lote é ( 12 12)( 25 20) ( 24)( 45) S x y x y Isolando y em 12.100 x y , obtém-se, que 12.100 y x . Substituindo na função anterior, vem 12.100 ( ) ( 24)( 45)S x x x Esta é a função que se quer minimizar. Temos: 45 ² 290.400 '( ) ² x S x x Resolvendo a equação 45 ² 290.400 0 ² x x , obtém-se que 44 30 3 x é um ponto crítico. ( x é uma medida e, portanto, considere-se só o valor positivo.) Tem-se que 580.800 ''( ) ³ S x x e, portanto, 44 30 ''( ) 3 S . Logo, 44 30 3 x é um ponto de mínimo. Fazendo 44 30 80,33m 3 x , obtém-se que 12.100 12.100 150,62 44 30 / 3 y m x e então, a área mínima é obtida quando as dimensões do lote forem aproximadamente (80,33 24) (150,62 45)m m . 42 Problema 5 – Física (STEWART, 2016, p. 247) O telescópio espacial Hubble foi colocado em órbita em 24 de abril de 1990 pelo ônibus espacial Discovery. Um modelo para a velocidade do ônibus durante essa missão, do lançamento em 0t até a ejeção do foguete auxiliar em 126t s , é dado por ( ) 0,0003968 ³ 0,02752 ² 7,196 0,9397v t t t t (Em metros/segundo). Usando este modelo, estime os valores máximo é mínimo absolutos da aceleração do ônibus entre o lançamento e a ejeção do foguete auxiliar. Solução: São pedidos os valores extremos não da função velocidade dada, mas da função de aceleração. Assim, precisa-se primeiro derivar para encontrar a aceleração: ( ) '( ) (0,0003968 ³ 0,02752 ² 0,9397) 0,0011904 ² 0,05504 7,196 d a t v t t t dt t t Aplicando-se, agora, o método do Intervalo Fechado à função continua a no intervalo 0 126t . Sua derivada é '( ) 0,0023808 0,05504a t t O único número crítico ocorre quando '( ) 0a t : 1 0,05504 23,12 0,0023808 t Calculando ( )a t no número crítico e nas extremidades, tem-se: (0) 7,196a 1( ) 6,56a t (126) 19,16a Assim, a aceleração máxima é cerca de 19,16 m/s², e a aceleração mínima é cerca de 6,56 m/s². 2.2 Dificuldades e problemas enfrentados no ensino de derivadas O conceito de derivada é considerado um dos conceitos fundamentais do Cálculo, devido a sua importância para compreensão de outros conceitos, como a 43 integral e as equações diferenciais, além de possuir diversas aplicações em diferentes áreas do conhecimento. “Com efeito, a derivada, na sua relação com as diversas áreas do conhecimento, é, sobretudo, taxa de variação instantânea (REZENDE, 2003, p. 350). De acordo com a literatura, derivada é um conceito que possui diversas interpretações, entre elas: derivada como processo de limite, inclinação da reta tangente a uma curva em um determinado ponto, taxa de variação instantânea, derivada como função, além das aplicações e da relação com o comportamento de funções. Apesar de suas aplicações e interpretações, o conceito de derivada tem sido um dos tópicos em que os alunos apresentam maior dificuldade de compressão, resultantes de diversas causas. Destarte, investigá-las é um dos objetivos fundamentais dos pesquisadores em Educação Matemática, de modo a dar ciência de suas causas e apontar caminhos para sanar as dificuldades (CATAPANI, 2001; BARBOSA, 2004). Para tanto selecionamos algumas pesquisas que têm apontado tais dificuldades e suas causas, levando em consideração aquelas que tratassem especificamente da derivada, principalmente as relacionadas a compreensão do conceito e suas relações gráficas e geométricas. Neste caso, optamos em elencar as pesquisas mais citadas no contexto em estudo. Como parte integrante da maioria dos cursos introdutórios de Cálculo, o conceito de derivada de uma função é usualmente abordado após a retomada do conteúdo de funções e a introdução do conceito de limites. Normalmente, a introdução do conceito de derivada é realizada utilizando-se a ideia de reta tangente à curva de uma função e, na sequência, o cálculo de derivadas pela definição de limite e as regras de derivação, sendo os dois últimos pontos os que mais ocupam a atenção dos professores e dos alunos. Para concluir, estudam–se as aplicações das derivadas, o que envolve problemas de otimização, estudo do comportamento das funções e esboço de gráficos, conteúdos muitas vezes pouco explorados (GODOY, 2004; LEHMANN, 2011). 44 Entretanto, Rezende (2003, p. 350) observa que: Calcular exaustivamente derivadas de funções através das regras usuais de derivação não leva o aluno a construir efetivamente o significado desta operação. Interpretá-la tão somente como “coeficiente angular da reta tangente” significa ignorar o problema histórico essencial da “medida” instantânea da variabilidade de uma grandeza – esse foi, inclusive, o grande problema perseguido pelos filósofos escolásticos. De acordo com o autor, há necessidade de explorar o conceito de derivada de modo a demonstrar que suas interpretações se complementam, e assim contribuir para a significação do conceito, bem como, demonstrar os diversos contextos a que se relaciona e se aplica, fazendo com que os alunos fortaleçam as redes de significação por meio da contextualização. Além da necessidade de explorar o conceito em suas diversas interpretações, a pesquisa de Godoy (2004), que teve por objetivo investigar o conhecimento de alunos que já haviam passado por um curso de Cálculo, à luz da Teoria dos Registros de Representação de Raymond Duval, demonstrou que os alunos apresentam maior dificuldade nos registros gráficos do conceito de derivada, além de dificuldade de reconhecer no registro de representação simbólico '( )f x o significado da derivada como coeficiente angular. Orton (1983), ao estudar a compreensão dos alunos sobre diferenciação, evidenciou dificuldades na conceptualização geométrica de limite, ou seja, para interpretar a inclinação da reta tangente ao gráfico de uma função em um ponto dado, como um limite das inclinações das retas secantes que passam por esse ponto de tangência. Em seu estudo, o autor evidenciou também dificuldades em utilizar apropriadamente as representações gráficas do conceito, ou seja, incapacidade de avaliar a taxa de variação instantânea de variação a partir do gráfico correspondente. Tais dificuldades foram manifestadas igualmente por um grupo de professores estagiários que participaram da pesquisa conduzida por Almeida e Viseu (2002, p. 216-217), indicando que parecem estar associadas a: — uma capacidade visual demasiado pobre, a qual dificulta a identificação do tipo de uma função dado o seu gráfico; — a incapacidade de interligar múltiplas condições numa mesma questão; — a falta de capacidade de ligar a informação gráfica aos conhecimentos analíticos. 45 Rezende (2003, p.18) aponta também como causa para essas dificuldades a ênfase exagerada dada às técnicas, na maioria dos cursos de Cálculo, em que se exigem muito mais habilidades algébricas do aluno do que a compreensão do próprio significado explorado, ele destaca que O campo semântico das noções básicas do Cálculo tem muito mais a ver com as noções de “infinito”, de “infinitésimos” de “variáveis”, do que com “fatoração de polinômios”, “relações trigonométricas”, “cálculos algébricos”. É bem verdade, que o conhecimento destes últimos auxilia na árdua tarefa de calcular limites (derivadas, integrais etc.), mas é exatamente aí que se coloca nossa primeira questão fundamental: Qual é o curso de Cálculo que se quer? Aquele em que prevalece a técnica? Ou aquele em que se busca a construção de significados? Quando se fala de “falta de base”, de que “base” se está falando? É evidente que o procedimento algébrico do Cálculo é fundamental, mas o que se tem questionado em relação à aprendizagem desses conceitos está na sua aplicação e compreensão conceitual, como no caso da derivada. Alunos derivam funções sem ter conhecimento de sua aplicabilidade e de seus aspectos conceituais, o que acaba propondo um repensar do papel do Cálculo no ensino superior. Os problemas de base conceitual têm chamado a atenção de pesquisadores quando relacionados ao conceito de derivada, como no caso de D’Avoglio (2002). Em sua pesquisa com alunos que já haviam estudado assunto, cujo objetivo consistia em verificar, por meio de um teste de sondagem, qual o nível de conhecimento desses alunos sobre o aspecto conceitual da derivada, identificou que alguns alunos confundem: a) derivada com reta tangente, b) derivada num ponto com a função derivada, c) derivada com regra para se achar derivada, d) reta tangente com coeficiente angular da reta tangente e também, que muitos apresentam dificuldade de expressão (D’AVOGLIO, 2002, p. 27). A partir de sua pesquisa, como resultados, o autor apresentou evidências de que a introdução do conceito de derivada de uma função em um ponto, a partir do conceito de velocidade, contribui bastante para sua aprendizagem. Isso devido ao fato de que se leva em consideração um assunto familiar aos alunos, associado a seus conhecimentos prévios, despertando, assim, o interesse e participação do estudante. 46 Outra causa de dificuldades para a compreensão conceitual da derivada está relacionada ao próprio referencial teórico utilizado em sua abordagem, decorrente do desenvolvimento do pensamento científico. De acordo com Leme (2003, p. 32), “a História revela que a gênese da evolução da noção de derivada constituiu-se na busca por processos para resolução de problemas, caracterizando-se um modo predominantemente operacional”, porém, nos livros didáticos, o conceito de derivada tem sua característica estrutural abordada, apresentando-se, dessa forma, na contramão da evolução histórica, tornando mais difícil a sua compreensão. Em livros didáticos ocorre, também, uma priorização da representação simbólica do conceito, o que acaba não propiciando uma adequada unificação semântica da derivada com seus aspectos gráfico e numérico (LEME, 2003). De acordo com Kendal (2001), as representações gráfica, numérica e simbólica do conceito de derivada são consideradas importantes para o desenvolvimento da noção de derivada e estão relacionadas às habilidades de articulações entre estas. As discussões elencadas apontam no sentido da importância de práticas de ensino/aprendizagem do conceito de derivada que integrem simultaneamente abordagens gráficas e analíticas, de forma a evidenciar significados e relações, oportunizando, dessa forma, a aprendizagem desse conceito tão importante, tanto para o Cálculo, quanto para as demais aplicações. 2.3 O uso das Tecnologias Computacionais para o ensino e aprendizagem de Matemática Nas últimas décadas, o uso de Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) tem crescido de maneira acelerada em toda sociedade, invadindo os espaços no campo familiar, profissional e social, o que acaba desencadeando mudanças nesses ambientes e, de modo especial, também no ambiente educacional. A presença de recursos tecnológicos cada vez mais modernos tem permitido novas formas de realizar ações, reinventando o modo com que o homem se relaciona com o mundo e com seu semelhante, e também potencializando novas formas de perceber e organizar situações de aprendizagem. 47 Diante do cenário atual, no qual os conhecimentos sobre informática e diferentes tecnologias se tornaram indispensáveis, o uso dessas ferramentas em salas de aula pode ser considerado inquestionável, pois conforme já colocava Rezende (2002, p. 01), na virada do século, não se trata mais de nos perguntarmos se devemos ou não introduzir as novas tecnologias da informação e da comunicação no processo educativo. Já na década de 80, educadores preocupados com a questão consideraram inevitável que a informática invadisse a educação e a escola, assim como ela havia atingido toda a sociedade. Atualmente, professores de várias áreas reagem de maneira mais radical, reconhecendo que, se a educação e a escola não abrirem espaço para essas novas linguagens, elas poderão ter seus espaços definitivamente comprometidos. Desse modo, o uso didático das TICs (em especial do computador e das calculadoras gráficas) no ensino vem sendo discutido por diversos educadores e pesquisadores, tornando-se uma forte tendência dentro da Educação Matemática há algumas décadas. O uso do computador para o ensino de Matemática também se destaca em três perspectivas diferentes, de acordo com Canavarro (1993, apud PONTE e RIBEIRO, 2000, p. 3), como elemento de animação, com a capacidade para melhorar o ambiente geral da aula; como elemento facilitador, permitindo realizar determinadas tarefas tradicionalmente realizadas à mão; como elemento de possibilidade, permitindo equacionar a realização de atividades que seriam difíceis de efectuar de outro modo. Tais elementos podem contribuir para o ensino de conceitos considerados abstratos aos olhos dos alunos, pois as tecnologias permitem explorar diferentes contextos, como por exemplo, relacionar aspectos gráficos e algébricos de uma função por meio do uso de um software ou calculadora gráfica. Em relação à motivação e possibilidade, as tecnologias e a matemática, se utilizadas de modo inteligente, oportunizam a busca pelo conhecimento e despertam o interesse do aluno, uma vez que ele seja levado a pensar e construir os conceitos, passando a ser ativo no processo de aprendizagem e contribuindo para sua formação. Além das perspectivas apresentadas, calculadoras gráficas e computadores podem ser utilizados no contexto da Educação Matemática, onde se pode destacar uma função de sua utilização 48 no que diz respeito aos valores e atitudes, a calculadora e o computador são particularmente importantes no desenvolvimento da curiosidade e do gosto por aprender, pois proporcionam a criação de contextos de aprendizagem ricos e estimulantes, onde os alunos sentem incentivada a sua curiosidade Ponte & Canavarro (1997, p. 101). Essa possibilidade de criação de espaços diferenciados para a aprendizagem com uso de tecnologias, conduz à reflexão sobre as ideias de Gravina e Santarosa (1998, p. 1), que trazem uma reflexão acerca do que significa “fazer matemática: experimentar, interpretar, visualizar múltiplas facetas, induzir, conjeturar, abstrair, generalizar e, enfim, demonstrar”. Esse fazer matemática apontado pelas autoras pode ser explorado por meio do uso das tecnologias, mais especificamente, pelo uso de softwares e calculadoras gráficas, que, quando utilizados adequadamente, possibilitam a experimentação em conteúdos matemáticos, além de estimular a percepção visual dos alunos (BORBA e PENTEADO, 2001), auxiliando na construção de conceitos. Outros autores, como Allevato (2005; 2008), Borba e Villareal (2005), Braga e Paula (2010), salientam que as possibilidades experimentais das tecnologias podem ser exploradas de tal modo a levar o aluno à elaboração e validação de conjecturas, contribuindo para o desenvolvimento de suas ideias e criação de novas conjecturas. O trabalho adequado com as tecnologias faz com que os alunos se tornem investigativos e participativos e não apenas receptivos. 2.3.1 O uso de Tecnologias Computacionais para o ensino e aprendizagem de Cálculo O Cálculo Diferencial e Integral, é uma disciplina presente no currículo de muitos cursos superiores, por ser um ramo importante da matemática e seu campo de aplicações se entender em todos as áreas de conhecimento. Apesar de tantas aplicabilidades, as dificuldades no processo de ensino e aprendizagem vem sendo foco de muitas pesquisas, como a de Junior, Bessa, Cezana (2015) por ser alvo de um grande número de reprovações, evasão e repetência. Algumas tendências na 49 Educação Matemática têm sido propostas na tentativa de minimizar os efeitos desta problemática, como a utilização de Recursos Tecnológicos, a Modelagem Matemática e a Resolução de Problemas, e demonstraram resultados positivos em relação a aprendizagem. Um dos caminhos que pode ensejar maior produtividade no processo de ensino e aprendizagem no Cálculo Diferencial e Integral I pode estar na diversificação das formas de abordagem de cada tema a ser apresentado, a partir do que se adapta a cada um destes, da condição intrapessoal e interpessoal de cada docente, do nível de aprofundamento desejado, etc. Assim, algumas opções viáveis podem ser encontradas, além da resolução de problemas que constituem a própria essência da Matemática, por meio da explicitação dos seus conceitos e de suas teorias através da história; e estas podem tornar-se um meio bastante estimulador, tanto para o professor como para o aluno, criando-se uma atmosfera que facilite a compreensão do saber matemático pelo contato com sua gênese e etapas de seu desenvolvimento; além disso, fazer uso da experimentação, das aplicações e do uso da computação (SILVA, 1994, p. 6). Entre as estratégias apontadas por Silva (1994) para melhorar a qualidade de ensino e aprendizagem de Cálculo, o uso de programas computacionais vem sendo implementado desde a década de 1980, como uma das alternativas para superar a falta de sucesso acadêmico nas aulas de matemática, proposta apresentada pelo movimento “Calculus Reform”, que foi um movimento por meio do qual ocorreu a reforma de currículos e implantação de novas metodologias baseadas no construtivismo, como o trabalho com problemas e uso de calculadoras gráficas. Desde então, pesquisas relacionadas ao uso de tecnologias para o ensino e aprendizagem de Cálculo vem sendo realizadas, com intenção de impulsionar mudanças no quadro educacional do ensino superior, relacionadas ao Cálculo. Objetiva-se, também, expandir metodologias e estratégias que têm demonstrado bons resultados frente à compreensão dos conceitos e melhora no aproveitamento dos alunos. Entre as pesquisas realizadas no contexto apresentado, selecionou-se aquelas que apresentam relevância para estudo realizado, sendo citadas em diversos outros trabalhos que refletem o uso de TIC’s no ensino superior. Entre estas, elencamos as que refletem sobre as potencialidades presentes nas tecnologias utilizadas para promover o ensino e a aprendizagem de Cálculo; as que apontam vantagens e contribuições de seu uso; bem como o papel do professor frente às tecnologias. Sobre 50 as contribuições e vantagens do uso de tecnologias no ensino e aprendizagem de Cálculo, algumas pesquisas podem ser apontadas, como Paranhos (2009), Alves e Reis (2010), Alves, Correia e Melo (2013), Marin (2009), entre outras. Paranhos (2009) destaca que o uso de ambientes informatizados para o ensino e a aprendizagem de Cálculo pode promover mudanças na qualidade do aprendizado dos alunos, pois estes se tornam mais participativos e exploradores, acompanham o curso mais de perto e fazem mais perguntas. Isso, além de ajudar na criação de conjecturas e negociação de significados, facilitando a compreensão dos aspectos conceituais também do Cálculo. De acordo com Alves e Reis (2010) e Alves, Correia e Melo (2013), entre as contribuições frente ao uso de recursos tecnológicos nas aulas de Cálculo estão: a possibilidade de visualização de propriedades, que tradicionalmente são manipuladas algebricamente; a abertura para conjecturas a partir de gráficos; e o ambiente dinâmico proporcionado pelo software, que contrasta os modelos geralmente estatísticos apresentados nos livros didáticos. Em relação às vantagens do uso de tecnologias nas aulas de Cálculo, o grupo de professores participantes da pesquisa de Marin (2009) apontou que: os alunos aprendem melhor, pois, por meio do aspecto visual, encontram facilidade em compreender aquele conteúdo que anteriormente parecia algo tão longe da sua capacidade. Os professores envolvidos na pesquisa destacam que se proporciona a experimentação, através da qual pode-se buscar novas descobertas, observar propriedades, investigar, transformar, modificar e testar aquilo que antes somente era repassado ao aluno de maneira automática. Diante da leitura e análise das pesquisas apresentadas até o momento, evidenciou-se a recorrência de alguns aspectos importantes presentes entre as vantagens e contribuições do uso de tecnologias computacionais para o ensino de Cálculo, como é o caso da experimentação, da investigação e da visualização. Em relação à importância dos aspectos de experimentação e investigação, Alves, Correia e Mello (2013) destacam que o uso das tecnologias assegura ao aluno a oportunidade de testar, validar ou refutar conjecturas, tornando-o interativo e não apenas receptivo. 51 Outro aspecto evidenciado entre as pesquisas trata da visualização como parte dos processos de ensino e aprendizagem, Reis e Júnior (2016) salietaram a importância da imagem visual para a compreensão dos conceitos envolvidos na disciplina de Cálculo, e de sua interação com aspecto analítico. Ferramentas tecnológicas, se utilizadas de forma adequada, podem potencializar o uso dos recursos gráficos no ensino de Cálculo, estimulando a observação, a busca de regularidades e padrões e possibilitando, através da comparação com as outras formas de se representar uma função, o entendimento das ligações entre elas. O trabalho desenvolvido com a utilização desses recursos também pode contribuir para que os alunos apurem a percepção e, por consequência, desenvolvam habilidades que facilitem a construção gráfica por meio dos instrumentos tradicionais: lápis, papel e régua (COUY, 2008, p. 47). A visualização gráfica gerada por softwares tem se mostrado uma ferramenta eficiente para o ensino de Cálculo e a exploração de conceitos muitas vezes abstratos para os alunos, pois, segundo Costa e Souza Júnior (2007), possibilitam ao aluno construir conceitos ou ainda ressignificar conceitos já estudados. Esta pode ser vista como um objeto a ser manipulado pelo aluno, a fim de explorá-lo e incorporá-lo como parte de um conceito. O uso de gráficos, além de possibilitar este manuseio, pode proporcionar apoio à resolução de problemas e à atribuição de significado a conceitos. A visualização tem um poderoso papel complementar, onde se pode destacar três aspectos: a visualização como apoio a resultados essencialmente simbólicos; uma maneira possível para resolver conflitos entre soluções simbólicas (corretas) e (incorretas) com intuições; como ajuda a reengajar e recuperar os fundamentos conceituais que podem ser facilmente contornados por soluções formais (ARCAVI, 2003, p. 222-223, tradução nossa). O ensino e aprendizagem, segundo o referido autor, necessitam propiciar formas para que se possa melhor ver os conceitos matemáticos, por meio da exploração da visualização em sua totalidade, que além de contribuir na organização dos dados é um importante fator na condução do desenvolvimento analítico da solução. A visualização, portanto, pode ser considerada como parte integrante do próprio processo analítico da solução. Pesquisas sobre visualização na aprendizagem de matemática, segundo Presmeg (2006), iniciaram-se lentamente, crescendo de uma base psicológica no final da década de 1970 e início dos anos de 1980. Tais estudos estão relacionadas a 52 diversos ramos desta área e são multifacetadas, com raízes na matemática e envolvendo aspectos históricos, filosóficos, psicológicos, pedagógicos e tecnológicos importantes (ZIMMERMANN; CUNNINGHAM, 1991). No entanto, tais pesquisas ainda vêm sendo desenvolvidas, tanto no âmbito da educação básica, quanto no ensino superior, devido a sua importância neste processo. Algumas dessas investigações apontam a visualização na área da matemática como uma componente chave do raciocínio na resolução de problemas e atividades, bem como para fins ilustrativos (ARCAVI, 2003). Além disso, de acordo com Rösken e Rolka (2006), a visualização é considerada uma ferramenta poderosa para explorar problemas matemáticos, dar significado para conceitos matemáticos e estabelecer a relação entre eles. O termo visualização, para Zimmerman e Cunningham (1991), é empregado para descrever os processos de produção ou o uso de representações geométricas ou gráficas de conceitos, princípios ou problemas matemáticos, seja desenhado à mão ou gerado por computador. Ainda, Fainguelernt (1999) considera a visualização como uma habilidade de perceber, transformar, descobrir, gerar, comunicar, documentar e refletir sobre as informações visuais. Partindo dessa definição, Santos (2009) destaca que o contato visual físico é necessário para que ocorra ou se promova o contato mental de um indivíduo. No contexto da educação matemática, fazer uso da visualização, além de promover a intuição e o entendimento, possibilita uma abrangência maior dos assuntos matemáticos, permitindo aos alunos não somente aprenderem matemática, mas se tornarem capazes de fazer sua própria matemática (FLORES, 2012). A visualização e a leitura de informações gráficas em Matemática são aspectos importantes, pois auxiliam a compreensão de conceitos e o desenvolvimento de capacidades de expressão gráfica (BRASIL, 1998). Diante de diversas definições do termo visualização, tanto no âmbito da matemática, quanto da educação matemática, pode-se perceber que estão focadas na percepção e na manipulação de imagens visuais, e que a aprendizagem é resultado da interpretação dada às sensações e estímulos do meio ambiente, às ideias, imagens, expectativas e atitudes (FAINGUELERNT, 1999). 53 Em relação a trabalhos que utilizaram o processo de visualização para a aprendizagem de conceitos de Cálculo, pode-se mencionar Junior (2015), cuja experiência dissertada utilizou o software Geogebra para o ensino de conceitos relacionados à derivada junto a um grupo de professores do ensino superior, desenvolvendo atividades exploratórias de construção e interpretação de gráficos. Os resultados obtidos apontam que a visualização proporcionada pelo software contribuiu para uma ressignificação de diversos conceitos e propriedades de derivadas que são requisitados na construção de gráficos de funções reais, além de destacar, como fundamental nos processos de ensino e aprendizagem de Cálculo I, um equilíbrio entre os processos visuais e os processos algébricos. Conforme destacado por Alves e Reis (2010) e Jover (2013), além dos aspectos mencionados, as tecnologias apresentam também potencialidades em seu uso, como a colaboração e interação que auxiliam na construção do conhecimento de maneira mais dinâmica. Também Marin (2009), em sua pesquisa junto a um grupo de professores universitários sobre o uso de TIC nas aulas de Cálculo, levantou como potencialidade das tecnologias a possibilidade de realização de atividades antes impossíveis de serem feitas somente com papel e lápis, o que acaba proporcionando a organização de situações e atividades pedagógicas com maior potencial para aprendizagem, mas ressalta que para isso é necessário um aumento no tempo de dedicação do professor. Outro aspecto importante ressaltado pelo autor em relação ao uso de tecnologia pelo professor está na necessidade de saída da zona de conforto (PENTEADO, 2000), entendida como aquela em que tudo é feito rotineiramente, na qual não ocorrem mudanças, tudo é controlado e previsível, para a entrada na zona de risco (PENTEADO; SKOVSMOSE, 2008), em que podem ocorrer novos fatos, há flexibilidade, incerteza e imprevisibilidade, que muitas vezes despertam o medo e a insegurança em uma prática docente. Gravina e Santarosa (1998) também ressaltam a importância dos cuidados com a utilização de tecnologias em sala de aula, em especial para que as atividades não sejam limitadas à repetição de exercícios. As autoras destacam que o software não 54 pode dificultar a realização de uma tarefa devido ao não conhecimento ou domínio de suas ferramentas e comandos. Desse modo, é preciso que o professor tenha cuidado e atenção na seleção de um determinado software ou programa que deseja utilizar em suas aulas, pois há necessidade de analisar e optar por aquele que, prioritariamente, seja compatível com os objetivos traçados. Ainda, é importante que o professor também atente para o contexto de sala de aula, considerando o público alvo, o seu domínio de tecnologias, a acessibilidade aos meios e o contexto de aplicação. Ademais, tendo conhecimento da realidade que circunda atualmente e da relação entre a educação e as tecnologias, optou-se, para realização desta proposta, por utilizar o software Desmos, que é semelhante a uma calculadora gráfica, em que é possível construir pontos, gráficos de funções (com ou sem restrições de domínio), cônicas e regiões do plano por meio de equações cartesianas, paramétricas ou polares, além de calcular expressões numéricas, resolver equações de primeiro e segundo graus com uma incógnita, derivadas e integrais de uma função. O software pode ser acessado por meio do computador ou de dispositivos móveis, tem um ambiente dinâmico - que proporciona a interação -, possui uma interface amigável, além de ser gratuito e multi-idiomas. O software Desmos foi selecionado por ser um programa de fácil acesso e manuseio, gratuito, apresentar uma ótima saída gráfica e possibilitar o compartilhamento das atividades e dos gráficos, possibilitando deste modo o desenvolvimento de um trabalho mais dinâmico e com ótimo aproveitamento tanto pelo professor quanto alunos. 2. 4 Mapeamento dos trabalhos sobre derivadas Realizou-se a revisão teórico-bibliográfica, com o intuito de conhecer o que está sendo produzido em relação ao tema derivadas, com base em um levantamento¹ de artigos completos publicados no Portal de Periódico da CAPES, utilizando critérios para a seleção dos trabalhos conforme apresentado no Quadro 1. 55 Quadro 1 - Critérios para seleção dos artigos Período de Publicação 2011 a 2016 Tipos Recursos Tipo de Recurso Artigos Completos Tópicos Educação Matemática; Educação; Matemática; Cálculo; Engenharia Palavras-chave Teaching And Derivatives; Learning And Derivative; Enseñanza And Derivada; Aprendizaje And Derivada; Tecnología And Derivada; Ensino And Derivada; Aprendizagem And Derivada, Tecnologias And Derivadas Fonte: Elaborado pela autora A partir dos dados apontados, foram encontrados 424 trabalhos. Porém, após a leitura dos títulos e resumos, observou-se que, dos trabalhos encontrados, somente 21 contemplaram as características procuradas, as quais foram: o ensino e a aprendizagem de derivadas, o uso de recursos e metodologias diferenciadas para o ensino de derivadas. O Quadro 2 a seguir sintetiza os artigos encontrados, oferecendo um panorama em relação ao título, autor, ano de publicação e periódico. Para serem mencionados posteriormente, os artigos foram designados por Ai, com i = 1,2,3...21. Quadro 2 - Trabalhos analisados sobre o ensino de derivadas Item Título (autores e ano) Periódico 1 An APOS analysis of natural science students’ understanding of derivatives. (MAHARAJ, 2013) South African Journal of Education A 2 Análisis según el Modelo Cognitivo APOS* del Aprendizaje Construido del Concepto de la Derivada. (URQUIETA; CARRILLO; ANDRADE, 2014) Bolema A 3 Evaluación de una estrategia didáctica para la apropiación del concepto “derivada de una función”. (TELLES; ROMERO, 2016) Revista Iberoamericana para la Investigación y el Desarrollo Educativo - RIDE 56 A 4 Los Mapas Conceptuales: una Técnica para el Análisis de la Noción de Derivada en un Libro de Texto. (GORDILLO; PINZÓN; MARTÍNEZ, 2016) Formación Universitaria A 5 Una Propuesta para el Análisis de las Prácticas Matemáticas de Futuros Profesores sobre Derivadas. (PINO-FAN; GODINO; FONT, 2015) Bolema A 6 Análise do desempenho dos alunos em formação continuada sobre a interpretação gráfica das derivadas de uma função. ( BISOGNIN; BISOGNIN, 2011) Educação Matemática em Pesquisa A 7 Una Introducción a la Derivada desde la Variación y el Cambio: resultados de una investigación con estudiantes de primer año de la universidad. (VRANCKEN; ENGLER, 2014) Bolema A 8 Assessing conceptual understanding in mathematics: Using Derivative Function to Solve Connected Problems. (ORHUN, 2013) Turkish Online Journal of Distance Education-TOJDE A 9 Atividades Investigativas de Aplicações das Derivadas Utilizando o GeoGebra. (GONÇALVES; REIS, 2013) Bolema A 10 Analysis of errors in derivatives of trigonometric functions. (SIYEPU, 2015) International Journal of STEM Education A 11 Derivative, maxima and minima in a graphical context. (RIVERA-FIGUEROA; PONCE-CAMPUZANO, 2012) International Journal of Mathematical A 12 Using Short Video Lectures to Enhance Mathematics Learning – Experiences on Differential and Integral Calculus Course for Engineering Students. (KINNARI- KORPELA, 2015) Informatics in Education A 13 The Mathematical Work with the Derivative of a Function: Teachers’ Practices with the Bolema 57 Idea of “Generic”. (PANERO; ARZARELLO; SABENA, 2016) A 14 Introducing Derivative via the Calculus Triangle. (WEBER, TALLMAN, BYERLEY, THOMPSON, 2012) Mathematics Teacher A 15 Discrete or continuous? – A model for a technology-supported discrete approach to calculus. (WEIGAND, 2015) ZDM: Mathematics Education A 16 Algunos Indicadores del Desarrollo del Esquema de Derivada de una Función. (MATAMOROS; GARCÍA; LINARES, 2013) Bolema A 17 Faceta Epistémica Del Conocimiento Didáctico-Matemático Sobre La Derivada. (PINO-FAN; GODINO; MOLL, 2011) Educação Matemática em Pesquisa A 18 Graphical construction of a local perspective on differentiation and integration. (HONG; THOMAS, 2015) Mathematics Education Research Journal A 19 Is the derivative a function? If so, how do we teach it? (PARK, 2015) Educ Stud Math A 20 Professional development through lesson study: teaching the derivative using GeoGebra. (VERHOEF; COENDERS; PIETERS; SMAALEN; TALL, 2014) Professional Development in Education A 21 Students’ evolving meaning about tangent line with the mediation of a Dynamic Geometry environment and na Instructional Example Space. (BIZA, 2011) Technology, Knowledge and Learning Fonte: Elaborado pela autora Por meio dos dados levantados, pode-se destacar os países em que estão sendo realizadas pesquisas relacionadas ao ensino de derivadas e suas aplicações, demonstrando a importância do tema, seja a nível nacional ou internacional. Dentre os países com publicações encontradas na pesquisa estão: África do Sul (3), Chile 58 (1), México (3), Colômbia (1), Brasil (2), Argentina (1), Turquia (1), Finlândia (1), Grécia (1), Itália (1), Alemanha (1), Espanha (2), Coreia (1), Estados Unidos (1) e Holanda (1). O número de artigos selecionados por ano de publicação pode ser visto no Gráfico 12, que abarca o período dos últimos 5 anos, demonstrando que o número de pesquisas cresceu até 2015, mas em 2016 ocorreu uma diminuição nas pesquisas, mesmo este sendo um tema de grande relevância no mundo acadêmico. Gráfico 12 - Número de Artigos/Ano Fonte: Elaborado pela autora Dando continuidade ao estudo, concentraram-se esforços em explorar os textos dos artigos, procurando entender seus objetivos e destacar os referenciais teóricos e os procedimentos utilizados no decorrer dos trabalhos. Isso com o intuito de agrupá-los em categorias que pudessem contribuir na apresentação de um retrato mais preciso a seu respeito, bem como identificar os estudos que mais se aproximam dos interesses estabelecidos para o estudo cujo relato é o objeto do presente relatório, ou seja, aqueles que discutem o ensino de derivadas com uso de tecnologias. Para melhor compreender os estudos que atualmente estão sendo desenvolvidos em relação à aprendizagem de derivadas, buscou-se elencar as principais teorias que foram utilizadas de base para a realização de cada trabalho (QUADRO 3). 0 1 2 3 4 5 6 7 2011 2012 2013 2014 2015 2016 P ro d u çã o /A n o Período Produção de Artigos 59 Quadro 3 - Teorias utilizadas nos artigos analisados Artigos (ITEM) Principais Teorias A1, A2, A10, A16 Teoria APOS (DUBINSKY e MCDONALD ,2001) A3 Processo de assimilação e acomodação (PIAGET, 1977) A4 Mapas Conceituais (NOVAK, CAÑAS, 1988) A5, A17 Enfoque ontosemiótico (EOS) do conhecimento e da instrução matemática (GODINO; BATANERO; FONT, 2007) A6 Imagem de conceito e definição de conceito (TALL e VINNER,1981) A7 Linguagem e Pensamento variacional (CANTORAL et al., 2003) A8 Conhecimentos conceituais (TURKER, 1981; VINNER,1989; TALL, 1991) A9 Investigações matemáticas (PONTE, BROCARDO e OLIVEIRA, 2006) Importância da visualização e do uso de software (COUY, 2008) A13 Processo de genética, através do modelo do MWS (KUZNIAK e RICHARD, 2014) e as ferramentas semióticas descritas pelo pacote semiótico (ARZARELLO, 2006). A14 Cálculos de THOMPSON (1994, 2008) A15 Abordagem discreta (HANS-GEORG WEIGAND, 2016) A18 Pensamento matemático avançado (FAMT) (STEWART e THOMAS 2007; THOMAS e STEWART 2011): três mundos da matemática (TWM; TALL 2004a, 2004b, 2008, 2013) e a Teoria APOS (DUBINSKY e MCDONALD 2001) 60 A19 Abordagem cognitiva (SFARD, 2008). A20 Modelo Interligado de Crescimento Profissional (IMPG) (CLARKE e HOLLINGSWORTH'S, 2002) A21 Zona de desenvolvimento proximal (ZDP) (VYGOTSKY, 1978) Fonte: Elaborado pela autora Entre os trabalhos selecionados, o trabalho A11 constou da análise de livros didáticos e o A12, do desenvolvimento e aplicação de vídeos curtos como auxílio para as aulas de Cálculo, de modo que não apresentaram uma teoria base para o desenvolvimento de seus estudos. Em análise aos artigos, o exercício de tradução e leitura possibilitou a identificação de dois tipos de pesquisas - as teóricas e as empíricas - e algumas características comuns que permitiram o agrupamento dos artigos em categorias e subcategorias. Nesse quesito, ressalta-se que os critérios para identificação e seleção adotados neste trabalho podem ser diferenciados, uma vez que os critérios aqui estabelecidos levaram em consideração o objetivo da pesquisa e podem ser efetuados de outra maneira. No Quadro 4 estão descritas as categorias e subcategorias elaboradas pela autora. Quadro 4 - Distribuição dos artigos em categorias e subcategorias CATEGORIA SUBCATEGORIA/DESCRIÇÃO NÚMERO DE ARTIGOS B – Trabalhos de Natureza Empírica 𝐵1 – Trabalhos que analisam e abordam a prática docente 3 𝐵2 – Trabalhos que utilizam teorias cognitivistas para análise das concepções apresentadas pelos alunos no processo de aprendizagem 9 61 𝐵3 – Trabalhos que utilizam tecnologias como recurso educacional 5 C – Trabalhos de Natureza Teórica Trabalhos que apresentam abordagens diferenciadas para o ensino de Derivadas 4 Total _______ 21 Fonte: Elaborado pela autora No agrupamento efetuado, a primeira categoria - categoria B - é constituída por trabalhos que apresentaram algum tipo de investigação empírica, ou seja, trabalhos que apresentam alguma experiência de ensino realizada com alunos e /ou professores. Essa categoria está subdividida em três subcategorias. Cabe destacar que a pesquisa empírica provém de uma prática, de um experimento ou observação para a coleta de dados, e serve para ancorar e comprovar, no plano da experiência, o que foi apresentado conceitualmente ou, em outros casos, a observação e experimentação empíricas fornecem dados para sistematizar uma teoria. Os trabalhos desta categoria estão agrupados nas subcategorias ; e . Inicialmente, na subcategoria designada , foram reunidos os trabalhos cujo objetivo foi o de analisar e considerar as práticas docentes relacionadas ao ensino de derivadas, podendo-se citar os trabalhos A4, A13 e A19. Em A4, a estratégia de ensino utilizada foi a construção de mapas conceituais por professores, referente aos seguintes conteúdos: limites, o conceito de derivada desde a noção de reta tangente e da velocidade instantânea. Por meio desse trabalho realizou-se um comparativo com mapas conceituais baseados em livro texto, neste caso o livro de Stewart (2008), com a finalidade de ide