UNIVERSIDADE   DO   VALE   DO   TAQUARI  
CURSO   DE   ENGENHARIA   CIVIL  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

PRODUÇÃO   E   ANÁLISE   DA   CINZA   DA   FOLHA   DE   BAMBU   COMO  
UM   POTENCIAL   MATERIAL   POZOLÂNICO   PARA   FINS  

GEOTÉCNICOS   
 
 
 
 
 
 

Isabelli   Menegat  
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 
 
 

Lajeado,   julho   de   2020.  

 



 

 

Isabelli   Menegat  

 

 

 

 

 

 

PRODUÇÃO   E   ANÁLISE   DA   CINZA   DA   FOLHA   DE   BAMBU   COMO  
UM   POTENCIAL   MATERIAL   POZOLÂNICO   PARA   FINS  

GEOTÉCNICOS   
 
 

 

Monografia  apresentada  na  disciplina  de  Trabalho       
de  Conclusão  de  Curso  II,  do  curso  de  Engenharia          
Civil,  da  Universidade  do  Vale  do  Taquari  -         
Univates,  como  parte  da  exigência  para  a  obtenção         
do   título   de   Engenheira   Civil.  

 

Orientadora:   Profª.   Ma.   Helena   Batista   Leon  

 

 

 

 

 

 

 

 

Lajeado,   julho   de   2020.  

1  



 

 

Isabelli   Menegat  

  

 
 
 

 
 
 
 

PRODUÇÃO   E   ANÁLISE   DA   CINZA   DA   FOLHA   DE   BAMBU   COMO  
UM   POTENCIAL   MATERIAL   POZOLÂNICO   PARA   FINS  

GEOTÉCNICOS  
 

A  Banca  examinadora  abaixo  aprova  a  Monografia  apresentada  na  disciplina  de  Trabalho  de              

Conclusão  II,  do  curso  de  Engenharia  Civil,  da  Universidade  do  Vale  do  Taquari  –  Univates,                

como   parte   da   exigência   para   a   obtenção   do   grau   de   Bacharel   em   Engenharia   Civil:  

  

Profa.   Ma.   Helena   Batista   Leon   –   orientadora  
Universidade   do   Vale   do   Taquari   –   Univates  

Profa.   Ma.   Mariana   da   Silva   Carretta  
Universidade   Federal   do   Rio   Grande   do   Sul   -  
UFRGS   

Prof.   Me.   Deividi   Maurente   Gomes   da   Silva  
Universidade   Federal   do   Rio   Grande   do   Sul   -  
UFRGS  

  

  

  

Lajeado,   15   de   julho   de   2020.  

2  



 

 

 

 

 

 

 

 

AGRADECIMENTOS  

  

 

 Agradeço,  primeiramente,  aos  meus  pais,  Tania  e  Alcir (in  memorian) ,  por  todo  apoio              

e  confiança  depositados  em  mim,  por  acreditarem  e  incentivarem  todos  os  dias  a  batalhar               

pelos  meus  sonhos,  por  me  ensinarem  a  nunca  desistir.  Pai,  cheguei  ao  final  desta  etapa,                

queria   muito   que   você   estivesse   aqui.   Dedico   essa   conquista   à   você   e   a   mãe.   Amo   vocês!  

 Aos  meus  irmãos,  Iasmyn  e  Pedro  Henrique,  pelo  carinho  e  pelos  conselhos,  por              

compreenderem  a  minha  ausência  todas  essas  noites  e  por  vibrarem  comigo  a  cada              

descoberta.   Vocês   são   meu   porto   seguro.  

 Ao  meu  melhor  amigo,  meu  parceiro  de  vida,  Marcelo,  por  todo  carinho  e              

compreensão  tidos  a  mim  durante  todos  esses  anos  de  Engenharia  Civil,  por  participar  e  por                

vivenciar  cada  experiência,  e  chegar  comigo  até  o  final  desta  etapa.  Também  agradeço  à               

família   Cozer   por   terem   me   acolhido   e   por   serem   minha   segunda   família.  

 À  minha  professora,  orientadora  e  amiga,  Helena  Leon,  por  ter  acreditado  em  mim  e               

por  ter  crescido  comigo  todos  os  dias,  por  sua  paciência,  por  compreender  minhas              

dificuldades  e  me  ajudar  a  enfrentá-las.  Você  é  meu  exemplo,  teus  ensinamentos  e  tua               

dedicação  me  transformaram  como  pessoa  e  como  futura  profissional.  Obrigada  por  aceitar             

esse   desafio,   saiba   que   este   trabalho   é   mérito   seu,   também.   Vamos   em   frente!  

3  



 

 

Também,  agradeço  ao  professor  João  Rodrigo  Guerreiro  Mattos  pelo  incentivo  e  apoio             

na  iniciativa  desta  pesquisa,  desenvolvida  ainda  na  disciplina  de  Mecânica  dos  Solos  II.  Teus               

ensinamentos   me   motivaram   a   seguir   estudando   a   área   geotécnica.  

 Ao  pessoal  do  LATEC,  Vianei,  Amanda  e  Henrique,  pela  ajuda  e  companheirismo  no              

desenvolvimento  dos  ensaios,  vocês  são  uma  parte  muito  importante  dessa  história.  Também,             

aos   meus   colegas   do   GEPEG,   que   não   mediram   esforços   em   ajudar   na   produção   da   cinza.  

  Engenheiro  Civil,  Diego  Troian,  meu  chefe  e  amigo,  e  a  toda  família  Troian,  que  me                 

acolheram  desde  o  início  dessa  história,  acompanharam  cada  etapa  do  meu  aprendizado,             

compreenderam  minhas  faltas,  estiveram  comigo  em  todos  os  momentos  importantes,           

agradeço   por   cada   ensinamento   e   cada   palavra   de   incentivo.  

Enfim,  agradeço  a  todos  que  me  enviaram  energias  positivas  para  que  eu  continuasse              

nesta   jornada   em   busca   do   sonho   de   ser   Engenheira   Civil,   muito   obrigada!  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

4  



 

 

 

 

RESUMO  

 

 

A  estabilização  é  um  método  capaz  de  satisfazer  requisitos  de  resistência  e  durabilidade  de               
um  solo,  sendo  assim,  a  busca  por  novos  produtos  que  beneficiem  essas  propriedades  é               
constantemente  estudada  na  área  geotécnica.  Atento  a  isso,  este  trabalho  buscou  estudar  a              
cinza  da  folha  de  bambu  (CFB)  como  um  potencial  material  pozolânico,  analisando  o  seu               
comportamento,  em  conjunto  com  a  cal  de  carbureto  (CC),  subproduto  obtido  da  produção  do               
gás  acetileno,  na  estabilização  de  um  solo  arenoso.  Para  determinação  da  temperatura  de              
queima,  caracterização  química  e  controle  de  qualidade  da  cinza  produzida,  foram  realizados             
os  ensaios  de  termogravimetria  (TGA),  fluorescência  de  raios  X  (FRX), difração  de  raios-X              
(DRX), área  superficial  específica  ( BET),  classificação  pozolânica  e  método  Chapelle           
modificado.  A  CFB  foi  utilizada  em  diferentes  dosagens,  em  combinação  com  a  CC,  a  fim  de                 
analisar  sua  influência  nas  propriedades  mecânicas  de  uma  areia  fina  uniforme.  As  dosagens              
foram  definidas  através  de  um  projeto  de  experimentos  fatorial ,  com  2  fatores  e  1  ponto          2k        
central  (2²  +  1  PC),  realizados  em  duplicatas,  sendo  os  fatores  controláveis  o  teor  da  CFB                 
(10  e  30%)  e  o  peso  específico  aparente  seco  -  (14,5  e  16,5  kN/m³),  e  os  fatores  constantes           dγ          
a  CC  (5%)  e  o  teor  de  umidade  (14%).  No  total,  foram  moldadas  10  amostras,  mantidas  em                  
cura  por  28  dias.  Então,  verificou-se  a  influência  dos  fatores  controláveis  através  dos  ensaios               
de  resistência  à  compressão  simples  ( qu )  e  módulo  cisalhante  inicial  ( )  das  amostras,           G0    
assim  como  sua  relação  com  o  parâmetro  porosidade/teor  volumétrico  de  agente  cimentante             

.  Os  resultados  obtidos  mostraram  que  o  aumento  no  teor  de  CFB  e  acresceram η B )  ( / iv              dγ   
nos  valores  de  resistência  e  rigidez  das  amostras,  sendo  que  o  teor  de  CFB  mostrou  ter  maior                  
influência  nas  variáveis  respostas.  Em  relação  ao  parâmetro ,  quanto  menor  o  seu  valor,         B  η/ iv       
maiores  serão  a  resistência  ( )  e  o  módulo  cisalhante  ( )  alcançado.  Constatou-se,  então,     uq      G0     
que  a  CFB  foi  adequada,  mostrando  ser  um  material  pozolânico  com  notável  reatividade.              
Ainda,  foi  possível  prever  o  comportamento  das  misturas  através  da  utilização  do  índice              

. B  η/ iv  

Palavras-Chave:    Cinza   da   folha   de   bambu.   Material   Pozolânico.   Estabilização   de   Solos.  

5  



 

 

 

 

 

 

SUMÁRIO  

1   INTRODUÇÃO 8  
1.1   Problema   de   pesquisa 10  
1.2   Objetivos 10  
1.2.1   Objetivo   geral 10  
1.2.2   Objetivos   específicos 11  
1.3   Justificativa   da   pesquisa 11  
1.4   Delimitação 11  
1.5   Limitação 12  

2   REVISÃO   BIBLIOGRÁFICA 13  
2.1   Estabilização   de   solos 13  
2.1.1   Estabilização   e   melhoramento   dos   solos 14  
2.2   Métodos   de   estabilização 16  
2.2.1   Estabilização   química 19  
2.2.1.1   Estabilização   com   cimento 21  
2.2.1.2   Estabilização   com   cal 24  
2.3   Materiais   pozolânicos 29  
2.4   Cinza   da   folha   de   bambu   (CFB) 33  

3   MATERIAL   E   MÉTODOS 36  
3.1   Materiais 36  
3.1.1   Areia   de   Osório 36  
3.1.2   Cinza   da   folha   de   bambu 38  
3.1.2.1   Produção   da   cinza   da   folha   de   bambu   (CFB) 38  
3.1.2.2   Beneficiamento   da   cinza   da   folha   de   bambu 41  
3.1.3   Cal   de   carbureto 42  
3.2   Caracterização   dos   materiais 43  
3.2.1   Análise   granulométrica   por   peneiramento   e   sedimentação 44  
3.2.2   Análise   granulométrica   a   laser 46  

6  



 

 

3.2.3   Classificação   do   solo   (AASHTO   e   SUCS) 48  
3.2.4   Índice   de   vazios   mínimo   e   máximo 50  
3.2.5   Massa   específica   dos   grãos 50  
3.2.6   Termogravimetria   (TGA) 51  
3.2.7   Área   superficial   específica   (BET) 52  
3.2.8   Fluorescência   de   raios-X   (FRX) 52  
3.2.9   Difração   de   raios-X   (DRX) 53  
3.2.10   Classificação   pozolânica 55  
3.2.11   Método   Chapelle   modificado 56  
3.3   Programa   experimental 57  
3.3.1   Projeto   Experimental   Fatorial   2k 57  
3.3.2   Moldagem   das   amostras 61  
3.3.3   Parâmetro    η B/ iv 63  
3.3.4   Ensaio   de   pulso   ultrassônico 65  
3.3.5   Ensaio   de   resistência   à   compressão   simples   ( qu ) 66  

4   RESULTADOS   E   DISCUSSÕES 68  
4.1   Resistência   à   Compressão   Simples   ( qu ) 68  
4.2   Módulo   cisalhante   inicial   ( ) G0 71  
4.3   Análise   estatística 74  
4.3.1    Análise   de   Variância   para    qu 74  
4.3.2   Análise   de   Variância   para   G0 76  
4.4   Influência   do   índice   nas   variáveis   respostas  η B/ iv 77  
4.4.1   Influência   do   índice em   relação   a    qu  η B/ iv 78  
4.4.2   Influência   do   índice    em   relação   a    η B/ iv G0 80  

5   CONSIDERAÇÕES   FINAIS 82  
5.1   Conclusões 82  

REFERÊNCIAS 84  
 

 

7  



 

 

1   INTRODUÇÃO  

 

 

Para  Drumond  e  Wiedman  (2017),  o  bambu  é  uma  gramínea  com  grande  distribuição              

geográfica.  É  uma  planta  de  rápido  crescimento,  que  se  adapta  aos  mais  diversos  tipo  de                

climas  e  solos.  O  Brasil  possui  a  maior  diversidade  de  bambus  do  mundo,  pois  dispõe  de                 

clima  favorável  e  grandes  áreas  degradadas  inaptas  para  outros  cultivos,  mas  que  são              

adequadas  para  o  plantio  de  bambu  à  valor  comercial.  A  maior  ocorrência  da  planta  são  em                 

áreas  quentes  e  chuvosas,  como  nas  regiões  tropicais  e  subtropicais  da  América  do  Sul,  África                

e   Ásia,   sendo   umas   das   maiores   florestas   nativas   encontradas   na   Amazônia.  

Devido  seu  rápido  crescimento,  o  bambu  tem  potencial  de  substituição  da  madeira  em              

quase  todos  os  usos.  Moreira  (2012),  em  sua  pesquisa,  explica  que  uma  dessas  atribuições  é                

na  geração  de  energia,  pois  o  bambu  tem  alto  poder  calorífico  e  seu  rendimento  por  hectare  é                  

bastante  competitivo.  Segundo  o  autor,  um  exemplo  é  a  substituição  do  eucalipto  pelo  bambu               

na  geração  de  carvão  vegetal.  Uma  das  vantagens  do  uso  dessa  planta  em  relação  ao  eucalipto                 

é  a  idade  ideal  de  corte  ser  aos  quatro  anos,  sendo  que,  nesta  mesma  idade,  o  eucalipto  é  ainda                    

inadequado   (idade   de   corte   adequado   para   o   eucalipto   é   aos   sete   anos).  

Já  para  Guarnetti  (2013),  a  utilização  do  bambu  como  fonte  de  biomassa  para              

cogeração  de  energia  (térmica  e  elétrica)  é  avaliada  positivamente  devido  ela  ser  uma  planta               

perene,  ou  seja,  não  necessita  de  replantio,  e  isso  reflete  positivamente  nos  aspectos              

econômicos.  Por  não  necessitar  de  replantio,  o  solo  não  sofre  processos  erosivos  prejudiciais,              

favorável  aos  aspectos  ambientais.  Vale  ressaltar  que  o  aproveitamento  energético  da            

biomassa  do  bambu  já  é  realidade  no  Brasil.  Na  Bahia,  o  Grupo  Penha,  unidade  industrial                

8  



 

 

Santo  Amaro,  explora  cerca  de  3  mil  hectares  de  biomassa  de  bambu,  voltado  para  fins                

energéticos,   no   processo   de   reciclagem   de   papel.  

No  entanto,  o  uso  de  bambu  gera  um  desperdício:  as  suas  folhas.  Elas  são  queimadas                

em  aterros  sanitários,  gerando  a  cinza  da  folha  de  bambu  (CFB),  que  não  possui  um  objetivo                 

adequado,  tornando-se  uma  fonte  de  poluição  (SCURLOCK;  DAYTON;  HAMES,  2000).  Por            

isso  o  uso  da  CFB  como  material  aditivo  para  melhoria  do  solo  ainda  é  uma  novidade,  sendo                  

o   assunto   muito   pouco   pesquisado,   como   pode   ser   observado   na   escassa   literatura   disponível.  

No  entanto,  pesquisas  foram  realizadas  para  transformar  esse  resíduo  em  uma            

alternativa  sustentável  para  a  construção  civil,  principalmente  em  aplicações  de  cimento  e             

concreto. Villar-Cociña  et  al.  2010,  Frías  et  al.  2012,  Villar-Cociña  et  al.  2016,  Moraes  et  al.                 

(2019)  concluíram  que  as  cinzas  das  folhas  de  bambu  apresentam  bom  comportamento             

pozolânico   e   alta   reatividade.  

A  estabilização  química  tem  sido  frequentemente  estudada  para  melhorar  a  resistência,            

a  durabilidade  e  outras  propriedades  de  solos  inicialmente  inapropriados  para  uso  como             

materiais  de  terraplenagem.  Essa  técnica  geralmente  emprega  cimento  Portland,  no  entanto,  o             

desenvolvimento  de  alternativas,  como  a  reutilização  de  resíduos  agroindustriais,  geralmente           

resulta  em  benefícios  ambientais  e  econômicos.  Nesse  contexto,  a  cinza  da  folha  de  bambu               

(CFB),  que  é  um  resíduo  agrícola,  ao  mesmo  tempo  que  a  cal  de  carbureto  (CC),  que  é  um                   

resíduo  industrial,  tem  potencial  para  ser  usada  como  material  estabilizador           

(INGLES;METCALF,   1972).  

As  reações  químicas  pozolânicas  ocorrem  entre  a  sílica  amorfa  presente  na  pozolana  e              

o  hidróxido  de  cálcio  da  cal,  formando  silicatos  hidratados,  melhorando  as  propriedades             

mecânicas  da  matriz  ( MASSAZZA,  1998;  SALDANHA;CONSOLI,  2016 ).  É  importante          

notar  que  os  solos  arenosos  não  reagem  com  a  cal,  assim,  a  coesão  entre  os  grãos  de  areia                   

ocorre  a  partir  do  adesivo  entre  os  grãos  através  do  material  de  cimentação  criado  pelas                

reações  pozolânicas  (INGLES;METCALF,  1972).  É  essencial  que  esses  óxidos  apresentem           

uma  forma  amorfa  para  que  a  reação  ocorra,  portanto,  a  temperatura  atingida  e  o  processo  de                 

resfriamento  na  produção  de  pozolana  são  de  extrema  importância.  Altas  temperaturas  e             

longos  períodos  de  tratamento  térmico,  bem  como  o  método  de  aquecimento/resfriamento,            

9  



 

 

podem  levar  à  cristalização  das  partículas  do  material,  conforme  demonstrado  por            

Villar-Cociña   et   al.   (2016).  

Desta  forma,  esta  pesquisa  tem  o  intuito  de  produzir  e  caracterizar  a  cinza  da  folha  de                 

bambu,  a  fim  de  avaliá-la  como  um  possível  material  pozolânico  com  propriedades             

específicas  para  ser  utilizado  como  um  produto  estabilizador  de  solos. Deste  modo,  são              

testadas  as  aplicações  práticas  da  CFB  e  da  CC,  agindo  em  conjunto  como  ligante,               

melhorando  as  propriedades  mecânicas  de  um  solo  arenoso.  As  propriedades  mecânicas  são             

avaliadas  em  termos  de  resistência  à  compressão  não  confinada  ( qu )  e  do  módulo  de               

cisalhamento  em  pequenas  deformações  ( ).  Todo  o  projeto  de  experimentos  foi  realizado     G0         

em  uma  base  estatística,  e  uma  análise  de  variância  (ANOVA)  demonstra  a  significância  dos               

fatores   controlados.  

Dessa  forma,  foi  necessária  uma  metodologia  de  dosagem  racional,  a  fim  de  levar  em               

consideração  os  efeitos  dos  diversos  fatores  que  governam  o  comportamento  mecânico  das             

misturas  estabilizadoras  do  solo,  como  porosidade,  quantidades  de  CFB  e  CC.  Assim,  este              

estudo  amplia  a  aplicação  do  índice  de  porosidade/  teor  volumétrico  de  agente  cimentante              

,  proposto  por  Consoli  et  al.  (2018),  para  um  novo  material  composto  por  CFB  e  CC. )  (η B/ iv                 

O  índice ,  nesse  caso,  considera  o  conteúdo  volumétrico  do  ligante  como  a  soma  do    η B/ iv              

conteúdo   volumétrico   de   CFB   e   do   conteúdo   volumétrico   da   CC   das   misturas.  

 

1.1   Problema   de   pesquisa  

 

É  possível  produzir  uma  cinza  da  folha  de  bambu  para  utilizá-la  como  um  material               

capaz   de   atribuir   melhorias   significativas   na   resistência   e   rigidez   de   um   solo   arenoso?  

 

1.2   Objetivos  

 

1.2.1   Objetivo   geral  

 

Analisar  o  comportamento  mecânico  de  um  solo  estabilizado  com  uma  cinza            

produzida   a   partir   de   folhas   de   bambu.  

 

10  



 

 

1.2.2   Objetivos   específicos  

 

a) padronizar  um  procedimento  para  a  produção  de  cinza  a  partir  da  queima  das  folhas  de                

bambu   em   condições   controladas;  

b) analisar   o   potencial   pozolânico   da   cinza   produzida;  

c) caracterizar   quimicamente   a   cinza   da   folha   de   bambu;  

d) analisar  o  comportamento  mecânico  de  misturas  produzidas  com  a  adição  da  cinza  de              

bambu   produzida,   em   conjunto   com   cal   de   Carbureto   e   areia   de   Osório;   

e) verificar  a  influência  da  compactação,  através  do  peso  específico  aparente  seco  de             

moldagem,  das  misturas  na  resistência  à  compressão  simples  ( qu )  e  no  módulo             

cisalhante   inicial   ( ); G0  

f) verificar  a  influência  de  diferentes  teores  de  cinza  da  folha  de  bambu  adicionado  às               

misturas   na   resistência   à   compressão   simples   ( qu )   e   no   módulo   cisalhante   inicial ; )(G0  

g) julgar  qual  das  variáveis  (teor  de  cinza  da  folha  de  bambu  ou  peso  específico  aparente                

seco)   exerce   maior   influência   no   comportamento   mecânico   das   dosagens.  

 

1.3   Justificativa   da   pesquisa  

 

Avaliar  a  atividade  pozolânica  da  cinza  da  folha  de  bambu  como  um  novo  material               

para  o  meio  geotécnico,  em  conjunto  com  a  cal  de  carbureto,  na  estabilização  de  um  solo                 

arenoso.  Sendo  assim,  poderá  se  comprovar  as  propriedades  cinza  da  folha  de  bambu  e  sua                

capacidade  em  proporcionar  resistência  a  este  solo,  visto  que  a  areia  pura  possui  nenhuma               

resistência  quando  não-confinada.  Ainda,  a  cinza  da  folha  de  bambu,  gerada  pela  queima  em               

aterros  sanitários,  tem  a  possibilidade  de  ser  reaproveitada  e  reconhecida  como  um             

subproduto  sustentável,  visto  que  seria  um  material  descartado  e  atribuído  como  fonte  de              

poluição.  

 

1.4   Delimitação  

 

O  presente  estudo  é  delimitado  à  realização  de  análises  de  estudo  geotécnico,  sendo              

analisados  diferentes  teores  de  cinza  da  folha  de  bambu  em  uma  areia  de  Osório,  a  fim  de                  

avaliar  o  melhoramento  das  propriedades  deste  solo  através  de  ensaios  de  resistência  à              

11  



 

 

compressão  simples  ( qu )  e  do  módulo  cisalhante  inicial  ( ).  Estudos  sobre  a  adequação         G0      

dessa  cinza  para  o  uso  em  concreto,  argamassas  e  pastas  não  serão  abordados,  pois  não  são  o                  

foco   desta   pesquisa.  

 

1.5   Limitação  

 

Este  estudo  está  limitado  à  quantidade  de  cinza  produzida,  visto  que  o  processo  de               

queima  da  cinza  em  laboratório,  com  condições  controladas,  não  possui  um  alto  rendimento.              

Dessa  forma,  não  foram  realizados  ensaios  de  compactação  utilizando  a  cinza  da  folha  de               

bambu  e  o  número  de  amostras  moldadas  foi  reduzido,  devido  à  insuficiência  de  material.               

Para  tanto,  a  determinação  dos  pesos  específicos  aparente  secos  e  umidade  de  moldagem              

seguiram  padrões  da  literatura.  As  dosagens  foram  calculadas  através  de  um  projeto  de              

experimentos   fatorial   2k   +1PC   e   analisadas   estatisticamente.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

12  



 

 

 

 

 

 

 

2   REVISÃO   BIBLIOGRÁFICA  

 

 

Neste  capítulo  são  apresentadas  as  definições  sobre  estabilização  e  melhoramento  de            

solos,  assim  como  os  métodos  adequados  para  cada  tipo  de  projeto.  Além  disso,  são  revisados                

os  principais  tipos  de  estabilização  utilizados  na  construção  civil,  como  forma  de             

melhoramento  das  propriedades  do  solo,  além  de  uma  sucinta  contextualização  sobre            

materiais  pozolânicos,  em  destaque  a  cinza  da  folha  de  bambu,  que  é  a  base  do  procedimento                 

experimental   que   será   realizado   ao   longo   deste   trabalho.  

 

2.1   Estabilização   de   solos  

 

Desde  a  antiguidade,  o  emprego  do  solo  em  obras  civis  foi  fundamental  para  o               

desenvolvimento  das  sociedades,  provando  assim,  a  necessidade  de  entender  melhor  seu            

comportamento.  Por  essa  razão,  nos  dias  de  hoje,  engenheiros  seguem  estudando  as             

propriedades  e  as  técnicas  de  uso  do  solo,  principalmente  para  seu  uso  em  obras  de  fundações,                 

estradas,  contenção,  aterros,  barragens  e  escavações  subterrâneas  (LAMBE;WHITMAN,         

1969).  

Segundo  Núñez  (1991),  o  solo  é  visto  como  um  material  variável  e  complexo,  porém,               

devido  à  sua  abundância  e  baixo  custo,  oferece  muitas  oportunidades  em  obras  de  engenharia.               

É  muito  comum  que  um  solo  de  uma  determinada  localidade  não  preencha  de  certa  forma  as                 

exigências  de  projeto,  por  isso,  a  realização  de  obras  em  solos  com  características  geotécnicas               

desfavoráveis,  torna-se,  na  maioria  das  vezes,  economicamente  inviável.  Por  isso,  é            

necessário   fazer   a   escolha   entre:  

a) aceitar   o   material   existente   e   otimizar   o   projeto   dentro   das   suas   limitações;  

        13  



 

 

b) substituir   o   material   existente   por   outro   mais   qualificado,   ou  

c) melhorar  as  propriedades  do  solo  existente,  tornando-o  capaz  de  atender  as            

especificações   do   projeto.  

A  última  escolha  é  definida  como  estabilização  de  solos.  Ingles  e  Metcalf  (1972)              

descrevem-a  como  um  método  capaz  de  promover  melhorias  em  uma  ou  mais  propriedades              

de  um  solo,  dentre  as  principais  associadas  a  resistência,  deformação,  permeabilidade  e             

durabilidade.  Assim,  o  resultado  da  estabilização  é  um  novo  material  geotécnico  com             

propriedades  próprias,  tornando-o  capaz  de  responder  de  forma  satisfatória  às  solicitações            

previstas,  sendo,  além  disso,  uma  alternativa  viável  em  questões  técnicas  e  econômicas             

(PRIETTO,   1996;   CAPUTO,   H.   P.;   CAPUTO,   A.   N.;   RODRIGUES,   2015).  

Deve-se  verificar  que  na  estabilização  nem  toda  e  qualquer  característica  pode  ser             

alterada,  de  modo  a  considerá-la  um  processo  infalível,  por  isso,  para  uma  correta  aplicação  é                

necessário  identificar  claramente  as  propriedades  do  solo  a  serem  melhoradas.  Sendo  assim,  a              

estabilização  não  deve  ser  pensada  apenas  como  uma  correção  nas  propriedades  naturais  de              

um  solo,  mas  também  como  um  modo  de  prevenir  condições  adversas  que  possam  ocorrer               

durante   a   vida   útil   da   obra   (CRISTELO,   2001).  

 

2.1.1   Estabilização   e   melhoramento   dos   solos  

 

As  técnicas  de  estabilização  ou  melhoramento  um  solo  compreendem  a  aplicação  de             

qualquer  processo  de  natureza  mecânica,  física  ou  química,  com  efeito  de  modificar  as              

propriedades  dos  solos  de  modo  a  melhorar  o  seu  comportamento.  Um  exemplo  são  as               

misturas  de  solo  e  estabilizante  compactadas  e  camadas  estabilizadas  de  solos,  que  são              

designações   indistintas   de   solos   melhorados   para   solos   estabilizados   (NÚÑEZ,   1991).  

A  adição  de  materiais  ao  solo,  tem  sido  denominada  de  diferentes  formas  por  diversos               

autores,  sendo  comumente  utilizados  termos  como  solo  estabilizado,  solo  tratado,  solo            

modificado,   solo   melhorado,   dependendo   do   grau   de   alteração   nas   propriedades   do   material.   

A American  Concrete  Institute  (ACI)  define  estabilização  como  a  técnica  que  satisfaz             

requisitos  como  durabilidade  e/ou  resistência,  à  medida  que  solo  melhorado  tem  suas             

        14  



 

 

propriedades  relativamente  modificadas,  tais  como,  melhoria  da  plasticidade,  variação          

volumétrica  e  na  capacidade  de  suporte.  Para  Foppa  (2005)  os  critérios  para  definição  de               

estabilização  ou  melhoramento  dos  solos  dependem  do  grau  de  alteração  das  propriedades  no              

seu  estado  natural,  porém,  conceitualmente  os  processos  são  os  mesmos,  visando  promover             

melhorias   no   comportamento   dos   solos   empregados.  

Ainda,  Prietto  (1996)  explica  que  os  processos  de  melhoramento  e  estabilização  se             

diferem  quanto  ao  acréscimo  de  durabilidade  e  resistência  de  acordo  com  a  porcentagem  de               

aditivos  e  no  tempo  de  compactação.  Como  exemplo,  adições  de  cimento  em  até  2%               

modificam  (melhoram)  as  propriedades  do  solo  enquanto  que  teores  maiores  alteram            

radicalmente  as  suas  propriedades  (INGLES;  METCALF,  1972).  No  caso  da  cal,  a  adição              

ideal  para  as  alterações  da  plasticidade  do  solo  são  condicionadas  entre  1%  e  3%,  superior  a                 

isso  as  alterações  pela  combinação  da  cal  são  usadas  para  modificar  a  resistência  do  solo                

(USACE,   1994).   

Sobre  os  aspectos  práticos  de  melhoramento  do  solo,  Mitchell  (1981)  inclui            

considerações  como  o  tipo  de  solo  mais  adequado  para  o  tratamento,  propriedades  dos  solos               

tratados,  eficácia  do  tratamento,  principais  aplicações  e  os  custos  relativos.  Baseado  nisso,  o              

autor   relaciona   os   principais   métodos   utilizados:  

a) compactação;  

b) consolidação   por   eletro-osmose,   pré-carregamento   e/ou   drenos   verticais;  

c) injeção   de   materiais   estabilizantes   (grouting);  

d) estabilização   por   processos   físico-químicos;  

e) estabilização   térmica;  

f) reforço   de   solos   com   a   inserção   de   elementos   resistentes   (geotêxteis   por   ex.).  

Dentre  as  inúmeras  técnicas  de  melhoramento  de  solo,  o  processo  mais  simples  é              

obtido  através  da  compactação,  como  exemplo,  a  compactação  dinâmica,  que  utiliza  a  alta              

energia  de  compactação  para  recompor  solos  um  tanto  fracos.  Outra  forma  muito  utilizada  de               

obter  melhoria  nas  propriedades  do  solo  é  através  da  adição  de  pequenos  teores  de  cimento,                

cal,   betume,   pozolanas,   entre   outros   aditivos.  

        15  



 

 

Núñez  (1991)  explica  que  solo  melhorado  com  cal  ou  cimento  são  misturas  que              

possuem  baixo  teor  de  estabilizante  e,  por  isso,  não  apresentam  características  para  uso  em               

bases  de  pavimentos  rodoviários,  porém,  manifestam  melhorias  em  outras  propriedades  como            

variação  volumétrica,  plasticidade,  por  isso,  são  utilizados  como  reforço  e  melhoria  do             

subleito  em  obras  de  pavimentação.  Ainda,  segundo  o  autor, para  a  camada  de  base  de                

pavimentos  rodoviários  são  utilizadas  misturas  de  solo-cal  ou  solo-cimento,  garantindo           

durabilidade   e   resistência   ao   solo   em   questão.  

 

2.2   Métodos   de   estabilização  

 

A  estabilização  de  um  solo,  além  de  considerar  fatores  como  características  do             

material  e  propriedades  a  serem  alteradas,  é  influenciada  pelos  custos  totais  da  obra  e  sua                

finalidade.  Quanto  mais  elevado  é  o  padrão  de  uma  obra,  maior  é  a  exigência  sob  qualidade  e                  

durabilidade,  porém,  nem  sempre  o  material  natural  possui  propriedades  adequadas,  e            

substituí-lo  torna-se  economicamente  inviável.  Desta  forma,  sobrevém  a  hipótese  de  utilizar  o             

próprio   material   encontrado   em   obra   (CRISTELO,   2001).   

Sendo  assim,  estabilizar  o  solo  inapropriado  é  o  caminho  mais  simples  e  econômico              

para  melhorar  as  propriedades  específicas,  garantindo,  de  tal  maneira,  a  resistência  e             

durabilidade   exigidas   em   obras   de   engenharia   (BASHA   et   al.,   2005).   

Segundo  Ingles  e  Metcalf  (1972),  a  grande  variabilidade  dos  solos  incide  em             

diferentes  maneiras  de  alterar  suas  propriedades,  sendo  assim,  um  método  pode  se  adequar  a               

um  determinado  solo,  porém,  não  ser  bem  sucedido  à  outro  devido  suas  características              

distintas.  Por  isso,  além  de  conhecer  as  características  de  cada  material,  é  importante  conhecer               

as   propriedades   dos   estabilizadores.   

A  aplicação  de  procedimentos  específicos  de  estabilização  pode  ser  classificada  em            

três   grupos,   segundo   Cristelo   (2001):   

a) métodos  de  estabilização  mecânica:  significa  melhorar  as  propriedades  dos  solos  sem            

a  mistura  de  aditivos.  Esta  técnica  é  feita  basicamente  da  compactação,  da  mistura  de               

        16  



 

 

variados  solos  (granulometria)  e/ou  drenagem,  para  fins  de  redução  dos  vazios  entre  as              

partículas   sólidas;  

b) métodos  de  estabilização  física:  melhora  as  propriedades  do  solo  modificando  a  sua             

textura   a   partir   da   ação   térmica   ou   elétrica;   

c) métodos  de  estabilização  química:  são  técnicas  que  modificam  permanentemente  as           

propriedades  do  solo  através  da  adição  de  aditivos  que  promovem  a  união  das              

partículas.   

A  compactação  é  um  método  mecânico  de  estabilização  empregada  em  inúmeras            

obras  de  engenharia,  como  em  camadas  construtivas  de  pavimentos,  aterros,  construção  de             

barragens  de  terra,  preenchimento  de  valas,  entre  outros.  Ela  visa  aumentar  o  contato  entre  os                

grãos  e  tornar  o  solo  mais  homogêneo  através  de  sucessivas  cargas,  sendo  que  o  perfil  de  obra                  

e  o  solo  disponível  irão  determinar  o  modelo  de  compactação  a  ser  adotado,  a  umidade  do                 

solo   naquele   momento   e   a   densidade   a   ser   obtida   (PINTO,   2006).  

Outro  processo  mecânico  é  a  estabilização  mediante  correção  granulométrica,  que           

consiste  em  misturar  diversos  solos  com  diferentes  diâmetros  de  grãos,  onde  os  vazios  dos               

grãos  maiores  são  ocupados  pelos  grãos  médios,  e  o  vazios  desses  grão  médios,  pelos  grãos                

finos.  Essa  estrutura  densa  resulta  em  um  material  de  massa  específica  aparente  eminente  a  de                

seus  componentes,  dando-lhe  maior  impermeabilidade  e  resistência  (SENÇO,  2001).          

Geralmente,  as  técnicas  de  estabilização  mecânica  são  combinadas,  visto  que  a  compactação  é              

necessária   em   quase   todos   os   casos   (KÉZDI,   1979).  

A  técnica  de  estabilização  física  compreende  reações  térmicas  e  elétricas.  As  reações             

por  meios  térmicos  são  obtidas  através  do  aquecimento,  congelamento  ou  termo-osmose.  O             

aquecimento  busca  reordenar  a  rede  cristalina  dos  minerais  que  constituem  o  solo.  O              

congelamento  é  conhecido  por  ser  uma  solução  temporária,  onde  se  gelifica  a  água  presente               

nos  vazios  do  solo,  alterando  a  sua  textura.  Já  na  termo-osmose  ocorre  a  drenagem  pela  ação                 

dos  gradientes  de  temperatura  na  dissipação  de  um  fluído  entre  os  poros  (CRISTELO,  2001).               

Como  técnica  de  estabilização  elétrica,  Ingles  e  Metcalf  (1972)  citam  a  eletro-osmose,  que              

consiste  na  remoção  da  água  através  da  passagem  de  uma  corrente  elétrica  por  dois  eletrodos                

em   uma   massa   de   solo.  

        17  



 

 

O  método  de  estabilização  química  é  um  dos  métodos  mais  utilizados  para  a  melhoria               

das  propriedades  de  um  solo,  realizado  por  meio  de  adições  como  cimento,  cal,  pozolanas,               

betume,  resíduos  industriais,  etc.  Por  ser  a  técnica  escolhida  para  a  realização  dessa  pesquisa,               

será   apresentada   com   maior   ênfase   no   próximo   subitem.  

Em  geral,  é  considerável  dizer  que  para  areia  usa-se  cimento  e  para  argila,  a  cal,                

porém  isso  despreza  outros  procedimento  úteis  na  estabilização.  Sendo  assim,  o  Quadro  1              

abrange  as  técnicas  mais  comuns  de  estabilização  de  solos  -  mecânica,  cal,  cimento  e  betume-                

acrescentando   as   razões   para   a   escolha   do   determinado   estabilizante.  

Quadro   1   -   Resposta   dos   principais   componentes   de   solos   à   estabilização  

Principal   Comp.   do   Solo  Estab.    Recomendados  Motivos  
Matéria   Orgânica  Mecânica  Outros   métodos   ineficientes  

Areias  

Argila  Maior   estabilidade   mecânica  

Cimento  Maior   densidade   e   coesão  

Betume  Maior   coesão  

Siltes  Desconhecido  -   

Alofanas  Cal  Reações   pozolânicas   e   densificação  

Caolinitas  

Areia  Maior   estabilidade   mecânica  

Cimento  Ganho   rápido   de   resistência  

Cal  Ganho   rápido   de   trabalhabilidade   e   
resistência   a   longo   prazo  

Ilitas  
Cimento  Ganho   rápido   de   resistência  

Cal  Ganho   rápido   de   trabalhabilidade   e   
resistência   a   longo   prazo  

Motmorilonitas  Cal  Ganho   rápido   de   trabalhabilidade   
e   resistência   inicial  

Cloritas  Cimento  Motivação   apenas   teóricas   (sem   experiências)  

Fonte:   Adaptado   pela   autora   com   base   em   Ingles   e   Metcalf   (1972).  

A  interação  de  cada  aditivo  com  o  solo  ocorre  de  forma  particular,  seja  através  da                

modificação  mineralógica,  da  cimentação,  da  troca  de  íons,  polimerização,  precipitação,  entre            

outros.  Geralmente,  a  estabilização  com  o  uso  de  cimento  produz  bons  resultados  na  maioria               

dos   componentes   dos   solos.   

Em  solos  granulares,  como  a  areia,  além  do  cimento  ou  betume,  o  uso  da  argila,  como                 

material  fino,  pode  melhorar  a  sua  distribuição  granulométrica.  Nos  materiais  com            

granulometria  mais  fina  (Alofanas,  Caolinitas,  Ilitas  e  Motmorilonitas),  a  cal,  ao  entrar  em              

        18  



 

 

contato  com  os  argilominerais  presentes  em  suas  estruturas,  gera  uma  reação  pozolânica,             

manifestando  melhorias  nas  propriedades  desses  componentes.  Já  os  solos  compostos  por            

matéria  orgânica  e  silte  não  manifestam  melhoras  consideráveis  quando  estabilizados           

quimicamente.  Croft  (1967)  orienta  que  devem  ser  realizados  testes  experimentais  para            

determinação  do  agente  estabilizador  mais  apropriado  e  a  quantidade  necessária  à  cada  tipo  de               

solo.  

 

2.2.1   Estabilização   química  

 

Estabilizar  um  solo  quimicamente  significa  alterar  suas  propriedades  com  objetivo  de            

melhorar  seu  comportamento.  A  técnica  consiste  em  adicionar  um  certo  produto  químico  ao              

solo,  com  objetivo  de  controlar  ou  melhorar  a  estabilidade  volumétrica,  a  resistência  e  as               

propriedades   de   tensão-deformação   do   material   (BRITO;   PARANHOS,   2017).  

As  alterações  do  solo,  pelo  processo  químico,  são  permanentes.  A  estabilização            

química  se  dá  pela  relação  do  aditivo  estabilizador  com  os  minerais  do  solo  ou  pela  reação                 

química  no  contato  entre  adição  mineral  e  água,  de  modo  que,  as  resultantes  dessas  reações                

irão  determinar  o  sucesso  da  estabilização.  Geralmente,  os  agentes  químicos  mais  usados  para              

fins  de  estabilização  são  o  cimento,  a  cal,  a  cinza  volante  e  emulsões  betuminosas  (MEDINA;                

MOTTA,   2005).  

Silva  (2007)  explica  que  as  reações  pela  adição  de  químicos  ao  solo  podem  ser               

geradas  através  de  quatro  mecanismos:  troca  de  cátions  adsorvidos  por  cátions            

hidrorrepelentes  e  substituição  das  moléculas  de  água;  formação  de  ligações  reforçadas  entre             

as   partículas   dos   agregados   pela   inserção   de   ligantes;   floculação   e   dispersão.   

Nos  solos  argilosos,  existem  estruturas  dispersas  e  floculadas  sensíveis  à  presença  de             

água,  que  acabam  interferindo  na  resistência  ao  cisalhamento.  Nesse  caso,  a  adição  de  um               

agente  químico  ajudará  na  dispersão  e  na  floculação  das  partículas,  bem  como  a  adição  de                

cimentos  contribuirá  para  uma  prévia  alteração  de  cátions  inorgânicos  por  cátions  orgânicos             

hidrorrepelentes.  Em  solos  granulares,  a  interação  do  ligante  nos  pontos  de  contato  entre              

grãos   tende   a   melhorar   sua   resistência   cisalhante   (GOULARTE;   PEDREIRA,   2009).   

        19  



 

 

Segundo  Kédzi  (1979),  os  métodos  de  estabilização  química  são  classificados           

conforme  a  interação  entre  o  produto  químico  e  as  partículas  do  solo,  podendo  ocorrer  da                

seguinte   forma:  

a) o  produto  químico  exerce  um  efeito  por  meio  da  interação  com  o  solo  ou  com  as                 

partículas  do  solo.  Desta  forma,  as  propriedades  físicas  do  produto  químico            

empregado   é   pouco   significativa;   

b) a   interação   e   as   propriedades   físicas   do   produto   químico   exercem   um   efeito   conjunto;  

c) as  propriedades  físicas  do  aditivo  usado  são  de  importância  decisiva,  enquanto  as  do              

solo   importam   menos.  

Ainda,  o  autor  elucida  que  o  estabilizador  pode  formar  uma  matriz  contínua  ou              

descontínua  do  solo.  Se  a  matriz  for  contínua,  significa  que  o  estabilizador  preencheu  todos  os                

poros,  e  as  partículas  ficam  mergulhadas  no  aditivo  químico  como  um  enchimento  inerte.              

Neste  caso,  as  características  do  sistema  serão  governadas  pelo  estabilizador,como  exemplo,  o             

betume.  No  caso  da  matriz  descontínua  o  estabilizador  (exemplo,  cimento  ou  cal)  não              

preenche  todos  os  poros,  e  seu  modo  de  ação  ocorre  através  da  mudança  das  propriedades  da                 

superfície  das  partículas  do  solo,  do  preenchimento  dos  vazios  intergranulares  com  um             

material   inerte,   e   da   conexão   das   partículas   do   solo   em   alguns   pontos   (solda   a   ponto).  

Dentre  os  estabilizadores,  os  mais  utilizados  são  o  cimento  e  a  cal.  Nas  misturas               

solo-cal  e  solo-cimento,  o  princípio  da  reação  se  caracteriza  como  físico-química,  onde  os              

cátions liberados  na  hidratação  do  cimento,  reagem  com  a  superfície  dos   Ca++           

argilominerais,  alterando,  dessa  forma,  o  pH  da  solução  eletrolítica.  Posteriormente           

formam-se  produtos  cimentantes  (silicatos  hidratados  de  cálcio  e/ou  sílico-aluminatos        CSH)(    

hidratados  de  cálcio )  por  meio  das  reações  pozolânicas  entre  os  argilominerais    CASH)(          

procedentes  do  solo  e  o  hidróxido  de  cálcio  resultantes  da  cal  ou  do  processo  de         Ca(OH) )( 2         

hidratação  do  cimento,  que  acrescem  a  rigidez  da  mistura  (NUÑEZ,  1991).  Para  melhorar              

consideravelmente  as  propriedades  do  solo,  o  uso  de  adições  pozolânicas,  como  a  cinza              

volante,  podem  ser  adicionados  ao  solo-cimento  ou  ao  solo-cal,  aumentando  a  disponibilidade             

de   sílica   presente   para   ocorrência   de   reações   pozolânicas   com   o   hidróxido   de   cálcio.  

        20  



 

 

A  estabilização  com  cimento  pode  ser  indicada  para  uma  diversidade  de  solos,  porém,              

sua  aplicação  mais  corrente  se  dá  aos  solos  granulares.  Já  a  cal  possui  maior  eficiência  em                 

solos  de  granulometria  fina,  onde  o  resultado  da  sua  reação  com  os  argilominerais  contidos               

nas  porções  finas  da  granulometria,  alteram  a  textura  e  a  cimentação  das  partículas  do  solo                

(INGLES;   METCALF,   1972).  

 

2.2.1.1   Estabilização   com   cimento  

 

Solo  estabilizado  com  cimento,  segundo  a  NBR  12253  (ABNT,  2012c)  é  um “produto              

endurecido  decorrente  da  cura  de  uma  mistura  compactada  de  solo,  cimento  e  água,  em               

proporções  definidas  por  meio  de  dosagem” .  Para  a American  Concrete  Institute  (ACI,  2009)              

a  mistura  significa “uma  quantidade  medida  de  cimento  e  água,  compactada  a  uma  alta               

densidade” .  

A  técnica  de  solo-cimento  é  uma  das  mais  usadas  dentre  os  métodos  estabilizadores,              

tendo  sido  comumente  utilizada  em  base  de  pavimentos,  proteção  de  taludes  e  barragens,              

camada  de  base  para  fundações  rasas,  revestimentos  de  canais,  entre  outros  (CONSOLI  et  al.,               

2011a).   

O  cimento  utilizado  como  estabilizador  de  solos  é  do  tipo  Portland,  composto             

proveniente  do  calcário  e  da  argila,  que  geram  a  combinação  de  óxidos  de  cálcio,  alumínio,                

silício  e  ferro.  A  presença  de  sílica  e  da  alumina  são  importantes  para  a        )(SiO2     Al O )( 2 3      

obtenção   de   produtos   com   elevadas   resistências.  

Nos  Estados  Unidos,  a  estabilização  de  solos  com  uso  do  cimento  ocorre  desde  o  ano                

de  1915,  quando  em  Sarasota, cidade  localizada  no  estado  americano  da  Flórida,  construiu-se              

uma  rua  utilizando  a  mistura  de  conchas,  cimento  e  areia.  No  ano  de  2009,  o  país  contabilizou                  

mais  de  200.000  km  em  pavimentos  utilizando  solo-cimento  como  base (ACI,  2009).             

Segundo  Kézdi  (1979),  a  primeira  estrada  estabilizada  com  cimento  foi  construída  em  1935              

em   Johnsonville,   na   Carolina   do   Sul.   

No  Brasil,  a  primeira  experiência  de  campo  utilizando  solo-cimento,  foi  realizada  no             

acesso  ao  aeroporto  de  Bauru,  em  um  trecho  de  500  metros  de  extensão,  com  um  teor  de                  

        21  



 

 

cimento  em  11%.  Em  seguida,  foram  pavimentados  14  km  do  acesso  ao  aeroporto  de               

Presidente  Prudente,  utilizado  teores  de  cimento  variando  entre  12%  e  14%  (SENÇO,  2001).              

Conforme  a  Associação  Brasileira  de  Cimento  Portland  (ABCP),  a  utilização  de  solo-cimento             

em  pavimentos  com  base  ou  sub-base  são  empregados  no  Brasil  desde  1939,  na  construção  da                

estrada  Caxambu-Areias,  em  Minas  Gerais.  Desde  então,  o  país  tem  mais  de  25.000  km               

executados   com   essa   solução.  

Outras  utilizações  de  solo-cimento  são  citadas  pelo American  Concrete  Institute  (ACI,            

2009),  como  por  exemplo,  a  substituição  de  estacas  por  solo-cimento  em  um  prédio  comercial               

de  38  andares  na  cidade  de  Tampa,  na  Flórida,  em  1980.  Outra  incrível  obra  foi  abaixo  de                  

duas  usinas  nucleares  em  Koeberg,  na  África  do  Sul,  com  a  substituição  de  uma  camada  de  de                  

5,5   metros   de   areia   com   potencial   de   liquefação.  

O  método  utilizado  na  mistura  de  solo  com  cimento  é  similar  ao  concreto,  o  que  os                 

distingue  é  o  agregado.  No  concreto,  o  agregado  dispõe  de  uma  granulometria  grossa,  e  as                

partículas  de  cimento  envolvem  o  agregado  ligando  suas  partículas,  atribuindo,  dessa  forma,             

grande  resistência  ao  concreto.  Já  no  solo-cimento,  os  grãos  de  solos  finos  envolvem  as               

partículas  de  cimento,  gerando  ligações  menos  resistentes.  Neste  caso,  a  quantidade  de             

cimento  varia  sobre  o  peso  do  solo  o  suficiente  para  estabilizá-lo,  atingindo  a  resistência               

desejada   no   composto   (VENDRUSCOLO,   2003).  

Qualquer  solo,  com  exceção  dos  materiais  altamente  orgânicos,  pode  ser  tratado  e             

melhorado  com  cimento.  Ingles  e  Metcalf  (1972)  evidenciam  que  solos  com  alta  plasticidade              

exigem  grandes  quantidades  de  cimento  e  equipamentos  misturadores  bastante  enérgicos,           

enquanto  os  solos  arenosos  bem  graduados  e  com  plasticidade  média/baixa,  requerem  baixos             

teores  de  aditivo,  sendo  facilmente  misturáveis  e  alcançando  maiores  resistências.  A  Tabela  1              

mostra   um   indicativo   do   teor   de   cimento   de   acordo   com   o   tipo   de   solo   para   estabilização.  

 

 

 

 

 

        22  



 

 

Tabela   1   -   Previsão   da   quantidade   de   cimento   em   função   do   tipo   de   solo   

Tipo   de   solo  %   de   cimento  
Pedra   finamente   britada  0,5   a   2  

Pedregulho   areno-argiloso   bem   graduado  2   a   4  

Areia   bem   graduada  2   a   4  

Areia   mal   graduada  4   a   6  

Argila-arenosa  4   a   6  

Argila-siltosa  6   a   8  

Argilas  8   a   15  
Fonte:   Adaptado   pela   autora   com   base   em   Ingles   e   Metcalf   (1972).  

As  variáveis  que  controlam  as  características  e  propriedades  da  mistura  solo-cimento            

são:  tipo  de  solo,  teor  de  cimento  na  mistura,  umidade  e  grau  de  compactação.  De  maneira                 

geral,  a  adição  de  cimento  eleva  a  rigidez  e  a  resistência,  diminui  a  compressibilidade  e  altera                 

os  limites  de  consistência.  Em  pavimentações,  por  exemplo,  a  NBR  12253  (ABNT,  1992)  diz               

que  a  resistência  média  à  compressão  deve  ser  igual  ou  superior  a  2,1  MPa  aos  7  dias  de                   

idade.  

Para  que  haja  a  estabilização  com  cimento,  é  necessário  que  existam  reações  de              

hidratação  e  pozolânicas.  Leon  (2018)  explica  que  a  hidratação  ocorre  pela  combinação  de              

sílica,  cálcio  (silicato  tricálcico  ( )  ou  silicato  dicálcico  ( C2S ))  e  água ,  resultando     3SC        O)(H2   

na  formação  de  silicato  hidratado  de  cálcio,  o ,  e  um  excedente  de  cal  hidratada  (         SHC        

 -  hidróxido  de  cálcio),  visto  na  Equação  1,  ao  qual  sofre  hidrólise  (EQUAÇÃO  2) Ca(OH)2                

e  combina-se  com  sílica  ou  alumina,  onde  resulta  na  formação  de  ou  (aluminato            SHC   AHC   

hidratado  de  cálcio),  conhecidas  como  reações  secundárias  (EQUAÇÕES  3  e  4).  Conforme             

descrito  por  Moh apud  Vendruscolo  (2003),  as  equações  das  reações  de  solo-cimento  podem              

ser   representadas   da   seguinte   forma:   

Reações   primárias:   

Hidratação:                                                 (1) imento H O C S H  Ca(OH)  C +  2 →  3 2 x +  2   

Hidrólise:                                                                         (2) (OH)   Ca(OH)2 → Ca++ + 2 −  

Reações   Secundárias:  

                                                                               (3) 2(OH) SiO  CSH   Ca++ +  − +  2 →   

                                                                             (4) 2(OH) Al O  CAH   Ca++ +  − +  2 3 →   

        23  



 

 

As  Equações  3  e  4  são  chamadas  de  reações  pozolânicas  e  acontecem  de  forma  mais                

lenta.  Em  solos  granulares,  a  cimentação  se  dá  por  meio  das  reações  primárias  e,  em  solos                 

argilosos,   por   meio   das   reações   secundárias   (NUÑEZ,   1991).   

Bell  (1975)  explica  que  a  cimentação  em  solos  granulares  ocorre  através  dos  produtos              

gerados  na  hidratação  e  hidrólise  do  cimento,  propiciando  a  junção  dos  grãos  nos  seus  pontos                

de  contato,  aumentando  assim  a  resistência  ao  cisalhamento.  Esse  aumento  real  de  resistência              

dependerá  da  distribuição  granulométrica,  do  baixo  índice  de  vazios  e  do  número  de  pontos               

de   contato   entre   os   grãos.   

Nas  argilas,  Ceratti  e  Casanova  (1988)  explicam  que  durante  fase  de  hidratação  e              

hidrólise  do  cimento  a  cal  é  liberada,  elevando  o  pH  em  aproximadamente  12  e  diminuindo  a                 

fase  líquida.  Após  minutos  se  observa  forte  floculação.  Na  segunda  fase  acontece  a  formação               

de  substâncias  cimentantes  devido  a  presença  de  sílica  e  alumina  na  matriz  do  solo,               

ocasionando  a  cimentação  dos  grãos  de  argila  floculados  nos  pontos  de  contato,  ou  seja,  há  o                 

aumento   da   ligação   entre   as   partículas   gerando   estabilidade   ao   conjunto.  

Os  solos  granulares,  quando  misturados  com  cimento,  respondem  de  forma  satisfatória            

à  estabilização,  enquanto  que  os  solos  argilosos  reagem  melhor  com  a  cal.  Essa  reação  com  a                 

argila  ocasiona  a  diminuição  do  pH,  prejudicando  a  hidratação  e,  consequentemente,  o             

endurecimento  do  cimento.  No  momento  em  que  o  pH  baixa,  o  composto  reage             S HC3 2 x   

outra  vez,  formando e  cal.  Sendo  responsável  por  grande  parte  da  resistência    CSH     S HC3 2 x        

da  mistura,  o  surgimento  de torna-se  indesejável  quando  provido  deste  composto,      CSH        

sendo  favorável  somente  quando  originado  das  reações  da  cal  com  os  argilominerais.             

Portanto,  na  mistura  solo-cimento,  as  reações  hidratação  do  cimento  são  as  mais  importantes,              

pois   respondem   pela   grande   parte   da   resistência   final   (SZELIGA,   2014).   

 

2.2.1.2   Estabilização   com   cal   

 

Solo  estabilizado  com  cal,  segundo  o  Departamento  Nacional  de  Infraestrutura  e            

Transporte  (DNIT,  2019),  “é  um  material  estabilizado  proveniente  da  mistura  de  solo,  cal  e               

        24  



 

 

água,  em  quantidades  estabelecidas  por  processo  de  dosagem  em  laboratório,  de  maneira             

que   apresente   determinadas   características   de   resistência,   durabilidade   e   deformabilidade”.  

Essa  técnica  é  considerada  uma  das  mais  antigas  para  se  obter  estabilidade  em  solos               

instáveis.  O  uso  da  cal  gera  melhorias  consideráveis  na  textura  e  na  estrutura  do  solo,                

aumentando  a  resistência  mecânica  e  reduzindo  a  plasticidade.  Aliás,  o  aumento  da  resistência              

concebido  na  mistura  solo-cal  está  associado  ao  seu  mínimo  potencial  de  deformação             

(CRISTELO,   2001).  

Sua  utilização  é  constante  em  obras  de  pavimentação,  controle  de  erosão,  estabilização             

de  encostas  e  reforço  de  camadas  superficiais  de  solo.  Alguns  relatos  com  a  utilização  de                

sol-cal  em  pistas  experimentais  no  Brasil  é  citado  por  Guimarães  (2002):  Rodovia             

Cruz-Alta/Carazinho  (BR-377/RS)  –  2  trechos  experimentais  em  solo  argilo-arenoso  e  4%  de             

cal  cálcica;  Rodovia  Curitiba/  Porto  Alegre  –  próximo  ao  km  10,  no  Estado  do  Paraná,  com                 

1000  metros  de  extensão,  usando  de  3%  e  7%  de  cal  em  um  solo  siltoso;  Aeroporto  de                  

Congonhas  (São  Paulo)  –  em  uma  área  de  10.000  m²  foi  construída  uma  base  de                

solo-cal-agregado,  com  6%  de  cal  hidratada,  onde  o  material  apresentou  resistência  à             

compressão  simples  de  1,5  MPa  aos  28  dias;  entre  outros.  Ainda,  o  autor  cita  que  na  Suécia,                  

Noruega  e  Finlândia  são  construídos  mais  de  260  mil  metros  por  ano  de  colunas  solo-cal,                

sendo   40%   em   fundações   de   rodovias.  

A  cal  é  um  produto  químico  aglomerante  derivado  de  rochas  carbonatadas            

cálcio-magnesianas.  O  produto  resultante  da  calcinação  dos  carbonatos  de  cálcio  e  de  cálcio              

magnésio,  são,  respectivamente,  os  óxidos  de  cálcio  e  o  cálcio-magnésio        CaO)(     

,  denominados,  em  geral,  como  cal  viva  ou  cal  virgem.  A  cal  hidratada  é CaO gO)  ( −M               

resultante  da  hidratação  da  cal  viva.  As  reações  de  produção  da  cal  viva  e  da  cal  hidratada,                  

respectivamente,   são   representadas   pelas   Equações   5   e   6   (GUIMARÃES,   2002):  

                                                                                            (5)  aCO CO  CaCO3 → C +  2  

                                                                           (6) aO H O Ca(OH)  calor  C +  2 →  2 +   

O  produto  obtido  pela  reação  de  hidratação  mostrada  acima,  é  chamada  de  cal  cálcica.               

Da  calcinação  do  calcário  dolomítico,  obtém-se  a  cal  dolomítica,  composta  por  óxido  de              

cálcio  e  óxido  de  magnésio .  Ainda,  conforme  Guimarães  (2002),  as  cales      CaO gO)  ( −M        

        25  



 

 

comercializadas  no  mercado  brasileiro  apresentam  propriedades  com  valores  médios          

mostrados   na   Tabela   2.  

Tabela   2   -   Composição   das   cales   brasileiras  

Fonte:   Adaptado   pela   autora   com   base   em   Guimarães   (2002).  

Com  relação  à  cal  de  carbureto,  utilizada  nesta  pesquisa,  esta  é  obtida  através  da               

reação  entre  o  carbureto  de  cálcio  e  água ,  definida  pela  Equação  7       CaC )( 2    H O)( 2      

(THOME,1994).  

                                                                       (7) 2H O C H Ca(OH)  CaC2 +  2 →  2 2 +  2  

O  autor  explica  que  desta  reação  é  possível  obter  o  gás  acetileno ,  usado  para             H )(C2 2    

o  alcance  de  elevadas  temperaturas  por  meio  de  sua  queima,  que  é  empregue  em  processos  de                 

solda,  corte  de  metais  e  processos  produtivos  que  precisam  de  temperaturas  elevadas.  Além              

da  produção  deste  gás,  ocorre  a  geração  de  um  resíduo  da  composição  básica,  o  hidróxido  de                 

cálcio ),  em  forma  aquosa,  levado  para  tanques  de  decantação,  seguindo  para  o  Ca(OH)( 2             

redutor  de  umidade.  Saldanha  (2014)  explica  que  este  resíduo  é  um  potencial  poluidor  por               

conta   da   sua   alta   alcalinidade,   por   isso,   é   descartado   em   aterros   ou   comercializados.  

A  cal  carbureto  possui  algumas  características  que  restringem  o  seu  uso  na  construção              

civil,  como  a  sua  granulometria  mais  grosseira  e  sua  coloração  levemente  azulada.  Para  o               

concreto  armado,  ela  é  extremamente  corrosiva  em  contato  com  o  aço.  Apesar  disso,  a  cal                

        26  



 

 

apresenta  maior  pureza  comparada  à  cal  dolomítica,  comercializada  no  Rio  Grande  do  Sul              

(THOMÉ,   1994)   

As  propriedades  dos  solos  estabilizados  com  cal  se  assemelham  às  encontradas  em             

solos  estabilizados  com  cimento,  o  que  os  diferem  é  o  efeito  do  conteúdo  aditivo,  o  tempo  de                  

efeito  e  o  efeito  da  temperatura.  Na  estabilização  solo-cal,  o  ganho  de  resistência  pode               

continuar  por  um  longo  período  se  as  condições  de  cura  forem  adequadas.  Ainda  assim,  a  cal                 

é   um   estabilizador   bastante   versátil    (INGLES;   METCALF,   1972).  

Goularte  e  Pedreira  (2009)  explicam  que  na  estabilização  de  solo-cal  ocorrem  diversos             

tipos  de  reações  químicas,  evidenciando  as  reações  pozolânicas  (cimentação),  de  troca            

catiônica  e  de  floculação.  As  reações  pozolânicas  entre  solo-cal  dependem  das  características             

do  solo  a  ser  estabilizado.  Essas  reações  ocasionam  a  formação  de  compostos  de  cimentação,               

que  ajudam  no  acréscimo  de  resistência  e  durabilidade  da  mistura,  que  se  desenvolvem  a               

longo  prazo.  Já  as  reações  por  troca  catiônica  e  floculação  ocasionam  alterações  instantâneas              

na   plasticidade   e,   em   pequenas   proporções,   na   resistência   mecânica   da   mistura.  

O  fenômeno  de  troca  catiônica  ocorre  pela  substituição  de  cátions  monovalentes  por             

multivalentes.  A  adição  de  determinadas  quantidades  de  cal  cria  uma  concentração  de             Ca++  

livre  que  são  capazes  de  substituir  de  forma  permanente  outros  íons  metálicos,  que  são               

adsorvidos   sobre   a   superfície   coloidal   através   desse   elemento   (TRB,   1987).  

Ainda,  a Transportation  Research  Board  (TRB,1987),  explica  que  na  presença  de            

água,  a  cal  tende  a  reagir  com  a  sílica e  alumina  presentes  no  solo,          SiO )( 2    Al O )( 2 3     

formando,  dessa  forma,  muitos  compostos  cimentantes,  como  o  (Silicato  Hidratado  de         SHC     

Cálcio)  e  (Aluminato  Hidratado  de  Cálcio).  Em  solos  específicos,  as  prováveis  fontes   AHC            

de  sílica  e  alumina  podem  compreender  os  argilo-minerais,  micas,  quartzo,  feldspatos  e             

minerais  silicosos  ou  alumino-silicosos,  apresentando  assim  uma  estrutura  amorfa  ou           

cristalina.  

USACE  (1994),  explica  que  a  reatividade  da  cal  é  mais  expressiva  em  solos  com               

média/alta  plasticidade,  a  qual  aumenta  a  resistência  e  a  trabalhabilidade,  e  diminui  a              

expansão  volumétrica.  Em  solos  granulares  que  contém  argila  ativa  com  alta  expansão,  há              

uma  redução  da  capacidade  de  suporte,  e  no  tratamento  com  a  cal  as  suas  propriedades  podem                 

        27  



 

 

ser  muito  melhoradas.  Em  solos  coesivos,  a  cal  diminui  a  influência  de  água  e  reduz  a                 

expansão,  ampliando  assim  o  seu  campo  de  aplicação.  Já  em  solos  com  pouca  ou  nenhuma                

argila  ou  altamente  orgânicos,  a  cal  tem  efeito  reduzido  (SENÇO,  2001;  INGLES;             

METCALF,   1972).   

A  Tabela  3  apresenta  a  porção  sugerida  de  cal  para  cada  tipo  de  solo,  consideração  sua                 

capacidade   de   suporte.  

Tabela   3   -   Previsão   da   quantidade   de   cal   em   função   do   tipo   de   solo  

Tipo   de   Solo    Cal   para   Modificação   (%)    Cal   para   Estabilização   (%)  
Pedra   finamente   britada  2   a   4  Não   recomendado  

Pedregulho   argiloso   bem   graduado  1   a   3  ~   3  

Areias  Não   recomendado  Não   recomendado  

Argila   arenosa  Não   recomendado  ~   5  

Argila   siltosa  1   a   3  2   a   4  

Argilas  1   a   3  3   a   8  

Solos   orgânicos  Não   recomendado  Não   recomendado  
Fonte:   Adaptado   pela   autora   com   base   em   Ingles   e   Metcalf   (1972).  

Em  testes  acerca  de  características  mineralógicas,  químicas  e  físicas  dos  solos  tratados             

e  não  tratados  com  cal,  constatou-se  que  testes  simples  de  pH  podem  determinar  a  quantia                

necessária  de  cal  na  estabilização  de  um  solo.  Esse  método  funciona  através  da  verificação  de                

diferentes  porcentagens  de  cal,  com  intuito  de  elevar  o  pH  da  mistura  solo-cal  em  12,4,                

mantendo  esse  valor  constante  até  obter  a  porcentagem  mínima  de  cal  necessária  para  que               

aconteçam  as  reações  pozolânicas,  ou  seja,  quando  ocorre  o  aumento  da  solubilidade  da  sílica               

e   da   alumina   (EADES;GRIM,   1966).   

Ainda  assim,  a  cal  não  elimina  a  utilização  simultânea  de  outros  estabilizantes,  ou              

seja,  além  de  ser  usada  previamente  na  melhora  das  características  do  solo,  ela  também               

permite  a  recuperação  desse  solo  na  estabilização  com  outros  aglomerantes.  Por  isso,  para              

saber  o  aditivo  mais  indicado  na  estabilização  é  necessário  levar  em  consideração  a              

plasticidade   e   a   granulometria   do   solo   (USACE,   1994).  

Craig  e  Knappett  (2018)  afirmam  a  importância  de  analisar  a  distribuição            

granulométrica  do  solo,  de  modo  a  classificar  e  identificar  o  comportamento  característico  do              

        28  



 

 

material,  como  a  sua  resistência.  Os  solos  resistentes  são  os  bem  graduados,  enquanto  solos               

finos   e/ou   com   elevado   índice   de   liquidez   e   plasticidade,   estão   dispostos   a   baixas   resistências.  

 

2.3   Materiais   pozolânicos  

 

Os  materiais  pozolânicos,  segundo  a  A  NBR  12653  (ABNT,  2015),  são  “ materiais             

silicosos  ou  silicoaluminosos  com  pouca  ou  nenhuma  atividade  aglomerante  quando           

sozinhos,  porém,  ao  serem  finamente  divididos  e  estando  na  presença  da  água,  reagem  com  o                

hidróxido  de  cálcio  à  temperatura  ambiente,  formando  compostos  com  propriedades           

aglomerantes ”.  

Apesar  de  serem  investigados  há  anos,  esses  materiais  ainda  não  possuem  uma  regra              

específica  a  ser  seguida,  pois,  como  se  trata  de  um  grupo  de  materiais  heterogêneos,  somente                

pode-se  afirmar  que  reagem  com  o  hidróxido  de  cálcio  e  então  adquirem  propriedades              

aglomerantes.  Esses  materiais  possuem  certas  características  que  auxiliam  durante  a  reação            

com  o  hidróxido  de  cálcio,  que  são:  a  presença  de  sílica  ou  sílico-alumina  amorfas,  são                

materiais   finos   e   possuem   alta   superfície   específica   (MORAES,   2019).  

Segundo  a  NBR  16697  (ABNT,  2018) as  pozolanas,  quanto  a  sua  origem,  são  dividas               

em  dois  grupos,  podendo  ser  naturais  ou  artificiais.  As  naturais  podem  ser  de  origem               

sedimentar  ou  vulcânica,  com  atividade  pozolânica;  e  as  artificiais,  como  subprodutos  de             

atividades   industriais   ou   procedentes   de   tratamento   térmico,   com   atividade   pozolânica.   

O  material  pozolânico  de  origem  natural,  com  exceção  da  moagem,  necessária  para             

aumentar  a  área  de  contato  para  as  reações,  isenta  qualquer  tipo  de  tratamento  para  apresentar                

ou  potencializar  a  sua  pozolanicidade.  Já  nas  pozolanas  artificiais,  frisando  as  que  necessitam              

de  beneficiamento,  são  feitos  tratamentos  a  temperaturas  elevadas  que  influenciam  na            

cristalização  do  material,  sendo  que  durante  o  resfriamento  essas  fases  cristalinas  são             

transformadas  em  amorfas,  fornecendo  reatividade  ao  material.  O  dióxido  de  silício            SiO )( 2  

existente  nos  materiais  pozolânicos,  contém  fases  polimórficas  (mais  de  uma  estrutura            

cristalina)  como  quartzo,  tridimita,  cristobalita,  entre  outras.  Os  materiais  que  possuem            

        29  



 

 

estrutura  desordenada  (amorfa),  são  os  que  contém  maior  reatividade,  em  comparação  com  os              

de   estrutura   cristalina    (CORDEIRO,   2006).  

A  NBR  12653  (ABNT,  2015)  classifica  os  materiais  pozolânicos  quanto  a  sua  origem,              

por   meio   de   três   classes,   apresentadas   da   seguinte   forma:   

a) classe   N:   Pozolanas   de   origem   natural   ou   artificial,   materiais   vulcânicos,  

argilas   calcinadas   e   terras   diatomáceas;  

b) classe   C:   Pozolana   gerada   através   da   combustão   de   carvão   mineral   oriundo  

de   usinas   termoelétricas;  

c) classe   E:   Pozolanas   não   enquadradas   nas   classes   anteriores.  

Ainda,  a  norma  estabelece  que  o  material  pozolânico  deve  estar  em  conformidade  com              

alguns  requisitos  físicos,  conforme  apresentado  na  Tabela  4.  Os  materiais  estudados  passam             

pelos  ensaios  de  resistência  mecânica  e  caracterização  física,  e  esses  requisitos  são  exigências              

a   serem   satisfeitas.  

Tabela   4   -   Requisitos   Físicos   dos   Materiais   Pozolânicos  

Propriedades  
Classe   do   material   pozolânico  

N  C  E  
Material   retido   na   peneira   com  

abertura   de   malha   de   45   μm  ≤   20%  ≤   20%  ≤   20%  

Índice   de   atividade   pozolânica  

-   Com   cimento   aos   28   dias   em  
relação   ao   controle  ≥   90%  ≥   90%  ≥   90%  

-   Com   a   cal   aos   7   dias  ≥   6   MPa  ≥   6   MPa  ≥   6   MPa  
Fonte:   Adaptado   pela   autora   com   base   na   NBR   12653   (ABNT,   2014).  

A  Tabela  5  exibe  um  comparativo  na  composição  química  elementar  de  algumas             

adições  pozolânicas  conhecidas,  tendo  como  característica  em  comum  o  alto  teor  de .  A             SiO2   

utilização  dessas  adições  pode  reduzir  o  custo  do  produto  final  em  aplicações  na  engenharia               

civil.  

 

 

 

        30  



 

 

Tabela   5   -   Análise   química   de   materiais   pozolânicos   conhecidos  

Composição   Química  
(%)  

Amostras  

Cinza   de   Casca  
de   Arroz  Metacaulim  Sílica   Ativa  Cinza  

Volante  

SiO 2  88,94  45,86  92,49  57,80  
K 2 O  4,18  -  2,76  3,00  

Fe 2 O 3  0,11  3,90  0,13  6,20  
CaO  1,10  0,14  0,51  1,60  
Al 2 O 3  2,42  46,05  1,91  26,30  
P 2 O 3  0,24  -  -  0,10  
TiO 2  -  2,22  -  1,30  
SO 2  2,08  1,69  2,08  0,30  

MgO  -  -  -  0,80  
ZnO  0,01  0,01  0,02  0,09  
MnO  0,88  0,01  0,07  0,09  
CuO  0,02  0,01  0,02  -  
Rb 2 O  0,02  0,01  0,01  0,10  

Tm 2 O 3  0,00  -  -  -  
SrO  -  0,01  -  0,10  

Fonte:   Adaptado   pela   autora   com   base   em   Raisdorfer   (2015).  

A  propriedade  cimentícia  dos  materiais  pozolânicos  se  desenvolve  na  presença  de  cal,             

conforme  as  Equações  8,  9  10  e  11.  As  abreviações  dos  elementos  químicos  presentes  nos                

produtos  formados  conforme  a  convenção,  são:  C  = ;  S  = ;  A  = ;  e  H  =         OCa    SiO2    OAl2 3     

  (MINNICK,   1967): OH2  

                                                      (8) Ca(OH)  → xCaO. ySiO . zH O  SiO2 +  2
H O2 →  2 2  

                                                    (9) O  → xCaO. yAl O . zH O  Al2 3 + Ca(OH)2
H O2 →  2 3 2  

                         (10) iO O  → CaO. yAl O . zSiO  . wH O  S 2 + Al2 3 + Ca(OH)2
H O2 → x 2 3 2 2  

                    (11) O → CaO. yAl O . zCaSO H O  Ca(OH)2 + SO3
2− + Al2 3 

H O2 → x 2 3 4 + w 2  

Essas  equações  decorrem  da  composição  do  material  pozolânico,  sendo  assim,  se  for             

silicoso,  ocorre  a  primeira  reação  (EQUAÇÃO  8),  porém,  se  for  sílico-aluminoso,  ocorrem  as              

três  primeiras  (EQUAÇÕES  8,  9  e  10).  Dessa  forma,  a  sílica  é  o  componente  mais  importante                 

nos  materiais  pozolânicos,  evidenciando  assim  a  Equação  8,  que  pode  ser  reescrita  conforme              

mostra   a   Equação   12   (MEHTA,   1987):  

        31  



 

 

  (Reação   pozolânica)                                                               (12) H S→ SH  C +   H O2 → C  

A  sílica  amorfa  é  a  mais  importante  fase  ativa  das  pozolanas  e,  quando  em  contato                

com  água,  na  temperatura  ambiente,  solubiliza  em  meio  alcalino  e  reage  com  íons ,              Ca++  

formando  assim  o  silicato  de  cálcio  hidratado .  O  formado  é  similar  ao        CSH)(   SHC      SHC  

produzido  nas  reações  de  solo-cimento  (ver  Equações  1,  2,  3  e  4)  e  as  mesmas  reações  obtidas                  

em  solo-cal.  Os  materiais  pozolânicos,  na  presença  do  cimento,  desenvolvem  potenciais            

propriedades   aglomerantes   (BAUER,   1993).  

Vieira  (2005),  explica  que  para  ocorrer  a  reação  entre  os  materiais  pozolânicos  e  a  cal,                

formando  compostos  aglomerantes,  o  silício  e  o  alumínio  devem  estar  em  baixo  grau              

cristalino,  atomicamente  desordenadas.  Por  isso,  quanto  maior  for  o  arranjo  estrutural  e  sua              

instabilidade   em   meio   básico,   mais   intensa   será   a   reação   pozolânica.  

Existem  dois  importantes  fatores  na  reatividade  pozolânica:  a  parcela  de  hidróxido  de             

cálcio  combinado  e  os  fatores  que  induzem  à  velocidade  de  combinação,  sendo  que  a  CH)(               

quantidade  de  combinado  depende  da  quantidade  e  natureza  das  fases  ativas,  da   HC            

quantidade  de  sílica  amorfa  e  da  ligação  hidróxido  de  cálcio  -  pozolana  na  mistura.  A                

velocidade   de   combinação   está   relacionada   à   área   superficial   específica   (LANA,   2017).  

Segundo  Thashima  (2006),  quando  a  temperatura  de  combustão  do  produto  da  cinza             

ultrapassa  o  recomendado,  é  obtida  uma  cinza  parcialmente  cristalina  e,  consequentemente,  há             

uma  diminuição  da  atividade  pozolânica,  sendo  que  a  medida  que  aumenta  essa  temperatura,              

maior  é  a  presença  das  fases  cristalinas.  Outro  fato  relevante  é  em  relação  ao  tempo  de                 

queima,   onde   tempos   muito   longos   também   resultam   em   cinzas   com   caráter   cristalino.  

Na  estabilização  de  um  solo,  a  ligação  entre  a  pozolana  (como  exemplo,  cinza              

volante,  cinza  de  casca  de  arroz  e/ou  pó  de  vidro  moído)  e  o  hidróxido  de  cálcio,  irá  melhorar                   

as  características  mecânicas  deste  por  meio  da  formação  de  uma  matriz  cimentícia             

(MASSAZA,   2004).  

A  cinza  volante,  oriundo  da  combustão  de  carvão  granulado  ou  pulverizado,  segundo  a              

NBR  12653  (ABNT,  2015),  quando  finamente  dividido,  possui  significativa  quantidade  de            

sílica  e  alumina  na  sua  composição,  visto  na  Tabela  5,  e  seu  emprego  como  material                

        32  



 

 

estabilizante  aumenta  de  forma  exponencial  a  resistência  dos  solos,  reduzindo  o  teor  de              

umidade   ótima   e   o   número   de   vazios   (OTOKO,   2014).   

Na  cinza  da  casca  de  arroz  (CCA),  segundo  Thashima  (2006),  composta  basicamente             

por  sílica,  sua  atividade  pozolânica  está  totalmente  relacionada  ao  processo  de  combustão  da              

casca  de  arroz  (CA).  Este  material  é  considerado,  pelos  pesquisadores,  uma  fonte  alternativa              

no  alcance  de  sílica  amorfa  e  de  elevado  grau  de  reatividade.  Behak  (2007),  explica  que  as                 

reações  desenvolvidas  entre  a  cinza  da  casca  de  arroz  e  a  cal,  bem  como  seus  efeitos  físicos                  

sobre  o  solo,  são  semelhantes  aos  ocorridos  entre  a  cal  e  os  argilominerais  dos  solos  argilosos.                 

As  vantagens  do  uso  de  CCA  ao  solo  estão  associadas  às  melhorias  das  propriedades               

mecânicas   e   físicas   do   mesmo.  

Em  pesquisas  com  o  vidro  moído  (VM),  Kohlrauchs  (2018)  encontrou  um  material             

altamente  silicoso,  e  sua  adição  em  solos  apontou  um  aumento  no  ganho  de  resistência               

conforme  a  porcentagem  de  vidro  moído  adicionada.  Em  um  solo  argiloso,  Castro et.  al.               

(2019)  relatam  que  houve  melhoras  nas  propriedades  físicas  e  químicas,  uma  vez  que  houve  a                

diminuição  da  plasticidade  do  solo  e  o  aumento  significativo  da  densidade  e  da  resistência  ao                

cisalhamento,  fazendo  do  vidro  moído  uma  alternativa  para  estabilização  granulométrica,           

enquanto  contempla  às  questões  ambientais.  Consoli  et.  al.  (2018)  utilizou  vidro  moído  e  cal               

de  carbureto  para  estabilização  de  uma  areia  de  Osório,  e  afirmam  que,  ao  serem  misturados  e                 

compactados,  podem  ser  usados  como  base  e  sub-base  de  pavimento,  entre  outras  obras  de               

terraplenagem.  

 

2.4   Cinza   da   folha   de   bambu   (CFB)  

 

O  bambu  é  considerado  um  recurso  natural  com  inúmeras  finalidades  e  de  rápido              

crescimento.  Ele  é  bastante  usado  como  produto  alimentício  e  em  diversas  aplicações  na              

construção  civil.  Algumas  partes  desta  planta  são  inutilizadas  e  por  isso  são  descartadas,              

sendo  uma  delas  a  sua  folha.  Com  fins  de  descarte,  essa  folha  é  queimada  em  aterros,  gerando                  

a  cinza  da  folha  de  bambu,  considerada  um  material  sem  finalidade  adequada,  tornando-a  uma               

fonte   poluente   (SCURLOCK;   DAYTON;   HAMES,   2000).  

        33  



 

 

Entretanto,  pesquisas  como  a  de  Villar-Cociña  et  al.  (2010)  vêm  sendo  realizadas  com              

intuito  de  tornar  esse  resíduo  das  folhas  uma  alternativa  sustentável.  A  fim  de  caracterizar               

essa  cinza,  o  autor  realizou  a  queima  das  folhas  em  uma  mufla,  a  uma  temperatura  de                 

calcinação  de  600  ºC  durante  o  período  de  2  horas,  e  após  a  queima,  fez  a  composição                  

química  da  cinza  através  da  técnica  de  fluorescência  de  raio-X  (FRX),  revelando  uma  taxa  de                

80,4%  sílica .  Na  composição  mineralógica,  realizada  através  do  difratômetro  de  (SiO ) 2          

raio-X  (DRX),  a  cinza  mostrou  uma  natureza  fortemente  amorfa,  não  sendo  detectada  a              

presença  de  minerais  cristalinos.  Ainda,  a  forma  da  cinza  da  folha  de  bambu  mostrou-se               

semelhante  a  da  sílica  ativa,  usada  normalmente  na  fabricação  de  concretos  de  alto              

desempenho.  

Ainda,  Villar-Cociña  et  al.  (2016)  utilizou  diferentes  temperaturas  de  calcinação  para            

avaliar  suas  influências  nas  propriedades  pozolânicas  da  CFB.  A  produção  de  cinzas  foi              

através  da  mufla  à  uma  temperatura  de  500ºC,  600ºC  e  700ºC,  por  um  tempo  de  2  horas,  e                   

uma  taxa  de  aquecimento  de  10ºC/min,  avaliadas  posteriormente  através  de  condutividade            

elétrica  e  aplicação  de  modelos  matemáticos  para  determinar  os  parâmetros  cinéticos.  O             

resultado  foi  que  a  cinza  calcinada  à  temperatura  de  500ºC  foi  a  que  apresentou  maior                

reatividades,   seguido   pela   cinza   calcinada   a   600ºC   e   700ºC.  

Outra  pesquisa  feita  por  Moraes  (2019),  utilizou  um  forno  sem  temperatura  controlada             

para  produzir  a  cinza  da  folha  de  bambu,  sendo  monitorada  apenas  por  sensores  de               

temperatura  (termopares),  desenvolvido  pelo  grupo  de  pesquisa  MAC  -  Materiais  Alternativos            

de  Construção.  O  resultados  das  análises  da  cinza  revelaram  seu  alto  teor  de  sílica  (74,23%),                

sendo  92,33%  desse  óxido  uma  sílica  amorfa,  e  uma  perda  ao  fogo  de  11,34%  de  matéria                 

orgânica.  Neste  caso,  a  cinza  apresentou  picos  de  quartzo  em  7,67%  de  sílica  cristalina  em                

relação  a  sílica  total,  devido  à  contaminação  do  solo  no  material,  devido  sua  coleta  ser                

diretamente   do   chão.  

A  produção  da  cinza  para  Frías  et  al.  (2012)  foi  semelhante  a  de Villar-Cociña  et  al.                 

(2010) ,  sendo  obtida  através  de  queima  controlada  em  forno  elétrico  a  600°C,  apresentando              

um  teor  de  sílica  de  78,7%  e  uma  natureza  amorfa.  Para  avaliar  sua  atividade  pozolânica,  o                 

autor  usou  o  método  de  aceleração  químico,  que  consiste  em  colocar  1  grama  de  cinza  da                 

folha  de  bambu  em  uma  solução  de  cal  saturada  (75  mL),  a  40  ºC,  por  1,  7,  28,  90  e  360  dias,                       

        34  



 

 

analisando  a  concentração  de ao  final  de  cada  período.  A  concentração  de  CaO  (mmol/l)     aOC           

foi  obtida  a  partir  da  diferença  entre  a  concentração  da  solução  controle  de  cal  saturada  (17,68                 

mmol/l)   e   a   concentração   de   CaO   na   solução   que   continha   a   amostra   de   cinza.  

A  CFB  consumiu,  em  6  horas,  50%  dessa  cal,  e  em  3  dias,  90%.  Após  esse  período  ela                   

se  estabilizou,  mostrando  uma  elevada  reatividade  nas  primeiras  24  horas,  comparando-se  a             

outras   pozolanas   altamente   reativas,   dentre   elas,   a   sílica   ativa.  

        35  



 

 

3   MATERIAL   E   MÉTODOS   

 

 

Neste  capítulo  são  apresentados  os  materiais  utilizados  para  esta  pesquisa,  enfatizando            

suas  características  e  os  métodos  de  caracterização  empregados  para  os  mesmos.  Também,  é              

descrito  o  programa  experimental,  com  definições  quanto  ao  método  de  dosagem  e  os  ensaios               

para   avaliar   as   amostras   moldadas   em   laboratório.  

 

3.1   Materiais  

  

Nesta  pesquisa,  os  materiais  utilizados  -  areia  de  Osório,  cinza  da  folha  de  bambu               

(CFB)  e  cal  de  carbureto  -  foram  caracterizados  através  de  ensaios  específicos  detalhados  ao               

longo  deste  capítulo,  a  fim  de  registrar  dados  importantes  para  conhecimento  desta  e  de               

futuras  pesquisas.  Em  principal,  a  análise  característica  da  cinza  da  folha  de  bambu  avaliou               

seu   nível   de   reatividade,   determinante   para   reconhecê-la   como   um   material   pozolânico.  

 

3.1.1   Areia   de   Osório  

 

O  solo  escolhido  para  este  trabalho  é  uma  areia  fina  proveniente  do  município  de               

Osório-RS-Brasil.  Conforme  seu  âmbito  geológico,  esta  areia,  oriunda  do  sistema  lagunar            

Barreira  III,  com  extensão  de  Torres  ao  Chuí,  conforme  apresentado  na  Figura  1,  possui  uma                

caracterização  quartzosa,  fina,  clara  e  bem  selecionada.  Esse  solo  se  correlaciona  aos             

depósitos  de  arenosos  marinhos  referidos  em  outros  pontos  do  litoral  brasileiro  e  em  regiões               

costeiras  pelo  mundo  (TOMAZELLI;  WILLWOCK,  2000). A  Figura  2  apresenta  a            

        36  



 

 

microscopia  ótica  da  areia  de  Osório.  Na  análise  é  possível  visualizar  o  formato  arredondado               

dos   grãos,   de   tamanho   uniforme   e   rugosidade   moderada.  

Figura  1:  Localização  do  município  de  Osório  e  mapa  geológico  simplificado  da  Planície              

Costeira   do   Rio   Grande   do   Sul  

 
Fonte:   Tomazelli;   Villwock   (2000).  

Figura   2:   Microscopia   da   areia   de   Osório   -   escala   200   𝝻m   e   500   𝝻m  

a)                                                                    b)   

   
Fonte:   Leon   (2018).  

        37  



 

 

3.1.2   Cinza   da   folha   de   bambu  

 

A  cinza  da  folha  de  bambu  é  um  material  fino,  produzido  através  da  queima  das                

referidas  folhas  em  temperatura  e  tempo  controlados.  As  folhas  utilizadas  para  a  produção  da               

cinza  foram  colhidas  no  campus  da  Universidade  do  Vale  do  Taquari  -  Univates,  na  cidade  de                 

Lajeado,   Rio   Grande   do   Sul,   conforme   mostrado   na   Figura   3.  

Figura   3   -   Folhas   de   bambu   secas  

 
Fonte:   da   autora   (2020).  

 

3.1.2.1   Produção   da   cinza   da   folha   de   bambu   (CFB)  

 

Após  colhidas,  as  folhas  foram  colocadas  na  estufa  (em  115  ºC)  por  um  determinado               

tempo  (entre  15  e  20  minutos)  para  que  houvesse  eliminação  total  da  umidade  ainda  presente.                

Depois  de  secas,  essas  folhas  foram  trituradas  em  liquidificadores  e  armazenadas.  A  Figura  4               

mostra   as   folhas   na   condição   de   trituradas.  

Para  cada  queima,  utilizou-se  a  quantidade  de  125  gramas  de  folha  triturada.  A              

temperatura  de  calcinação  em  500  ºC,  por  um  período  de  3  horas,  foram  definidos  através  do                 

ensaio  de  termogravimetria,  conforme  explicado  no  ítem  3.2.6. As  folhas  trituradas  foram             

inseridas  na  mufla,  modelo  JUNG  96.120,  localizada  no  Laboratório  da  Engenharia  Mecânica             

da  Univates,  conforme  visto  na  Figura  5.  Para  acomodação  das  folhas  trituradas,  optou-se              

pelo  uso  de  tijolos  refratários  devido  a  sua  resistência  a  altas  temperaturas  e  para  manter  a                 

        38  



 

 

cinza  isolada  de  possíveis  contaminações  por  fragmentos  de  outros  materiais  que  a  mufla              

pudesse   conter.  

Figura   4   -   Folhas   de   bambu   trituradas  

 
Fonte:   da   autora   (2020).  

Figura   5   -   Preparação   da   mufla   com   as   folhas   trituradas  

 
Fonte:   da   autora   (2020).  

A  mufla  foi  programada  para  estabilizar  na  temperatura  solicitada,  com  velocidade            

de  aquecimento  de  10°C  /min, e  desligar-se  assim  que  o  tempo  determinado  fosse  esgotado.               

Assim  que  ocorreu  a  interrupção  do  processo,  a  mufla  foi  imediatamente  aberta  para  que  a                

cinza  sofresse  choque  térmico,  a  fim  de  que,  de  fato,  ela  criasse  uma  condição  amorfa.  A                 

Figura  6  mostra  a  cinza  logo  após  a  queima.  Caso  a  mufla  não  seja  aberta  de  imediato,  a  cinza                    

pode  continuar  queimando  devido  à  alta  temperatura,  podendo  levar  à  cristalização  e  a  perda               

        39  



 

 

das  propriedades  requeridas.  Nessas  condições,  a  cinza  fica  escurecida,  conforme  mostra  a             

Figura   7   e,   dessa   forma,   o   lote   fica   inapto   para   sua   utilização,   por   isso   deve   ser   descartado.   

Vale  lembrar  que  existem  muflas  de  variados  tamanhos  e  a  quantidade  de  folha              

triturada  a  ser  colocada  nela  irá  depender  dessa  capacidade.  De  certa  forma,  para  que  haja                

uma   queima   uniforme   e   completa,   as   folhas   precisam   ser   dispostas   em   camadas   bem   finas.  

Figura   6   -   Cinza   da   folha   de   bambu   em   seu   estado   natural  

   
 
Fonte:   da   autora   (2020).  

Figura   7   -   Cinza   inapta   devido   ao   excesso   de   queima  

 
Fonte:   da   autora   (2020).  

        40  



 

 

3.1.2.2   Beneficiamento   da   cinza   da   folha   de   bambu  

 

Obtida  a  cinza,  fez-se  necessária  a  sua  moagem,  e  para  isso  foi  utilizado  o  moinho  de                 

bolas,  conforme  mostra  a  Figura  8.  Esse  equipamento  cilíndrico  horizontal  é  movido  a  motor               

em  baixa  velocidade.  Enquanto  gira,  ocorre  o  cascateamente  das  esferas  que  atritam  com  o               

material  inserido,  e  as  ações  de  cisalhamento  e  choque  ocasionam  a  redução  da  granulometria               

do  material.  Então,  para  a  moagem  da  cinza  da  folha  de  bambu,  foram  utilizadas  600  gramas                 

do   material   natural   e   6   kg   de   bolas,   em   10.000   voltas   a   uma   frequência   de   90   hertz.  

Figura   8   -   Moinho   de   bolas  

 
Fonte:   da   autora   (2020).  

Depois  de  moída,  a  cinza  foi  peneirada  na  peneira  nº  200  (0,075  mm),  conforme               

mostra  a  Figura  9,  a  fim  de  separar  as  impurezas  e  os  grãos  maiores  ainda  existentes,                 

sobrando  assim  o  material  fino  passante  (FIGURA  10).  Por  fim,  a  cinza  foi  pesada  e                

armazenada   em   local   seco   e   livre   de   impurezas,   estando   assim   pronta   para   ser   utilizada.  

  

        41  



 

 

Figura   9   -   Processo   de   peneiramento   da   cinza   da   folha   de   bambu  

 
Fonte:   da   autora   (2020).  

 

Figura   10   -   Cinza   da   folha   de   bambu   pronta  

 
Fonte:   da   autora   (2020).  

 

3.1.3   Cal   de   carbureto  

 

A  cal  de  carbureto  utilizada  neste  estudo  é  um  resíduo  proveniente  do  processo              

produtivo  do  gás  acetileno  de  uma  indústria  localizada  em  Sapucaia  do  Sul-RS.  Scheuermann              

Filho  (2019)  explica  que  essa  cal  possui  características  químicas  e  físicas  favoráveis,  podendo              

        42  



 

 

ser,  de  fato,  reciclada  e  empregada  na  engenharia  geotécnica,  visando  a  estabilização  de  solos.               

A   Figura   11   mostra   o   aspecto   físico   da   cal   de   carbureto.  

Segundo  Saldanha  (2014)  essa  cal  apresenta  uma  boa  afinidade  com  silicatos  e             

aluminatos  no  desenvolvimento  das  reações  pozolânicas.  Dessa  forma,  é  esperado  que,  em             

conjunto  com  a  cinza  da  folha  de  bambu,  essa  cal  desenvolva  resistências  significativas  ao               

final   deste   estudo.   

Figura   11   -   Cal   de   carbureto  

 
Fonte:   da   autora   (2020).  

 

3.2   Caracterização   dos   materiais  

 

Neste  item  são  apresentados  os  ensaios  de  caracterização  da  areia  de  Osório,  da  cinza               

da  folha  de  bambu  e  da  cal  de  carbureto.  O  Quadro  2  apresenta  os  ensaios  determinados  para                  

cada  material.  Na  sequência,  esses  métodos  são  descritos,  mostrando  ao  final  de  cada  um  os                

resultados   obtidos   para   os   respectivos   materiais.  

        43  



 

 

Quadro   2   -   Ensaios   de   caracterização   dos   materiais  

Tipo   de   Ensaio  Material  Norma  

Granulometria  

Areia   de   Osório  
● Peneiramento   e   sedimentação   -  

  NBR   7181   (ABNT,   2016)  
● Difração   à   laser  

Cinza   da   folha   de   bambu  Difração   à   laser  

Cal   de   carbureto  Difração   à   laser  

Classificação   do   solo  Areia   de   Osório  
AASHTO   -   D3282-15   (ASTM,   2015)  

SUCS   -   D2487-17   (ASTM,   2017)  

índice   de   vazios   
(emín   /   emáx)  Areia   de   Osório  emín   →   NBR   16843   (ABNT,   2020)   

emáx→   NBR   16840   (ABNT,   2020)   

Massa   específica  

Areia   de   Osório  NBR   6458   (ABNT,   2016)  

Cinza   da   folha   de   bambu  NBR   16605   (ABNT,   2017)  

Cal   de   carbureto  NBR   16605   (ABNT,   2017)  

Termogravimetria   (TGA   e   DTG)  Cinza   da   folha   de   bambu  -  

Área   específica   (BET)  
Cinza   da   folha   de   bambu  -  

Cal   de   carbureto  -  

Fluorescência   de   raios-X   (FRX)  
Cinza   da   folha   de   bambu  -  

Cal   de   carbureto  -  

Difração   de   raios-X   (DRX)  
Cinza   da   folha   de   bambu  -  

Cal   de   carbureto  -  

Classificação   pozolânica  Cinza   da   folha   de   bambu  NBR   12653   (ABNT,   2014)  

Método   Chapelle   modificado  Cinza   da   folha   de   bambu  NBR   15895   (ABNT,   2010)  
Fonte:   da   autora   (2020).  

 

3.2.1   Análise   granulométrica   por   peneiramento   e   sedimentação  

 

O  ensaio  de  granulometria  é  padronizado  pela NBR  7181  (ABNT,  2016c),  e  estabelece  o               

método  para  análise  granulométrica  de  solos,  realizada  por  peneiramento  ou  por  uma  combinação  de               

sedimentação  e  peneiramento,  como  é  o  caso  da  areia  estudada.  A amostra  foi  preparada  de  acordo                 

com  a  NBR  6457  (ABNT,  2016a).  Inicialmente,  realizou-se  o  ensaio  de  sedimentação,             

utilizando-se  120  gramas  do  material  passado  na  peneira  de  2,0  mm.  Para  o  ensaio  de                

peneiramento  fino,  o  material  precisou  ser  lavado  na  peneira  de  0,075  mm,  e  após,  secado  na                 

estufa  por  24  horas  para  então  realizar  o  ensaio.  A  Figura  12  mostra  os  ensaios  de                 

sedimentação  e  peneiramento.  A  Figura  13  mostra  o  resultado  da  curva  granulométrica  da              

areia   de   Osório,   demonstrando   que   a   mesma   é   uma   areia   de   granulometria   fina   (95,98   %).  

        44  



 

 

Figura   12   -   Ensaio   de   sedimentação   e   peneiramento   fino   da   areia   de   Osório  

 
Fonte:   da   autora   (2020)  

Figura   13   -   Curva   de   sedimentação   e   peneiramento   fino   da   areia   de   Osório  

 
Fonte:   da   autora   (2020).  

 

 

        45  



 

 

3.2.2   Análise   granulométrica   a   laser   

 

O  ensaio  de  granulometria,  realizado  pela  distribuição  de  tamanho  de  partícula  por             

difração  de  LASER  ( Light  Amplification  by  Stimulated  Emission  of  Radiation ),  utiliza  um             

aparelho  de  alta  resolução  que  viabiliza  avaliar  tamanhos  de  partículas  menores  do  que              

permite  o  método  por  peneiramento,  o  que  justificativa  sua  utilização  nesta  pesquisa,  pois  os               

grãos   da   cal   de   carbureto   e   da   cinza   da   folha   de   bambu   são   bastante   finos .   

Optou-se,  também,  por  usar  o  método  para  a  areia,  a  fim  de  averiguar  se  há  grande                 

diferença  comparado  ao  resultado  obtido  no  ensaio  de  granulometria  por  sedimentação  e             

peneiramento  fino. Os  dados  do  equipamento  são:  Analisador  CILAS,  Particle  Size  Analyser,             

modelo  CILAS  1180  Liquid  (CILAS,  Orleans,  França).  Faixa  de  análise:  0,04  µm  a  2500  µm,                

estando  disponibilizado  no  Laboratório  de  Materiais  Cerâmicos  (LACER),  Escola  de           

Engenharia   de   Materiais   –   UFRGS).  

As  curvas  de  distribuição  granulométrica  da  areia,  da  cal  e  da  cinza  são  apresentadas               

na  Figura  14.  A  partir  da  análise,  determinou-se  a  granulometria  dos  materiais,  conforme              

mostrado  na  Tabela  6,  que  define  a  areia  de  Osório  como  uma  areia  de  granulometria  fina                 

(96,20%) ,  a  cinza  da  folha  de  bambu  como  um  material  siltoso  (72%) ,  e  a  cal  de  carbureto                  

também   como   um   material   siltoso   (64%).  

Tabela   6   -   Análise   granulométrica   dos   materiais  

Característica   Areia   de   Osório  Cinza   da   folha   de   bambu  Cal   de   carbureto  
%   Argila   (   d   <0,005   mm)  1,80   9,00  18,00  
%   Silte   (0,005<   d   <0,05   mm)  2,00  72,00  64,00  
%   de   Areia   fina   (0,05<   d   <0,42   mm)  96,20  19,00  17,40  
%   de   Areia   média   (0,42<   d   <2   mm)  -  -  0,40  
%   de   Areia   grossa   (2<   d   <4,8   mm)  -  -  0,20  
Fonte:   da   autora   (2020).  

 
 
 
 
 
 
 
 

        46  



 

 

Figura   14   -   Curvas   granulométricas   dos   materiais   pelo   ensaio   de   difração   à   laser  

 
Fonte:   da   autora   (2020).  

 

A  comparação  entre  os  ensaios  de  granulometria  por  peneiramento  e  a  laser,  para  a               

areia  de  Osório,  é  analisada  no  gráfico  da  Figura  15.  As  mínimas  divergências  dos  resultados                

ocorrem  devido  a  precisão  dos  métodos.  Assim,  se  conclui  que  a  areia  de  Osório  possui  uma                 

granulometria   fina,   em   torno   de   96,00   %.  

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

        47  



 

 

Figura   15   -   Curvas   granulométricas   da   areia   de   Osório,   métodos   por   peneiramento   e   à   laser  

 
Fonte:   da   autora   (2020).  

 

3.2.3   Classificação   do   solo   (AASHTO   e   SUCS)   

 

A  composição  granulométrica  dos  solos  pode  apresentar  variados  níveis  de  partículas            

dos  grãos.  Sendo  assim,  para  classificá-los,  é  comumente  utilizado  o  sistema  de  classificação              

americano,  o American  Association  of  State  Highway  and  Transportation  Officials           

(AASHTO),  através  da  norma  americana  D3282  (ASTM,  2015).  O  estudo  é  baseado  na              

granulometria  do  solo,  através  da  curva  granulométrica  e,  seguindo  as  etapas  da  Tabela  7,  é                

possível  definir  a  classificação  do  solo.  Portanto,  o  resultado  de  classificação  do  solo,  de               

acordo  com  as  análises  apresentadas,  pôde  ser  classificado  como  A-3  pelo  Sistema             

Rodoviário   de   Classificação   (ASTM,   2015).  

 

 

 

        48  



 

 

Tabela   7   -   Classificação   dos   solos   -   AASHTO  

Fonte:   Adaptado   pela   autora   com   base   na   D2487-17   (ASTM,   2017a).  

Ainda,  outro  sistema  muito  utilizado  para  classificar  um  solo  é  o  Sistema  Unificado  de               

Classificação  de  Solos  (SUCS),  versão  desenvolvida  pela American  Society  For  Testing  and             

Materials  (ASTM).  Com  base  na  granulometria  obtida  através  da  curva,  foi  identificada  a              

fração  granulométrica  predominante.  Através  da  norma  americana  D2487  (ASTM,  2017a)  –            

SUCS,  identificou-se  o  solo  pelo  conjunto  de  duas  letras,  conforme  apresentado  no  Quadro  3.               

Após  identificar  o  solo  (neste  estudo,  como  uma  areia  -  S),  definiu-se  a  característica               

secundária.   A   classificação   do   solo   pelo   método   SUCS   é   definida   a   partir   da   Tabela   8.  

Quadro   3   -   Classificação   dos   solos   -   SUCS  

Característica  
principal  

G  Pedregulho  

Característica  
secundária  

W  Bem   graduado  
S  Areia  P  Mal   graduado  
M  Silte  H  Alta   compressibilidade  
C  Argila  L  Baixa   compressibilidade  
O  Solo   orgânico   

 Pt  Turfas  
Fonte:   Adaptado   pela   autora   com   base   em   Pinto   (2006).  

 

        49  



 

Tabela   8   -   Classificação   do   solo   -   SUCS   

 
Fonte:   Adaptado   pela   autora   com   base   em   Pinto   (2006).  

Portanto,  o  resultado  de  classificação  do  solo  pelo  Sistema  Unificado  de  Classificação             

dos  Solos  (ASTM,  2017a)  de  acordo  com  as  análises  apresentadas,  é  de  uma  areia  SP,                

podendo   ser   chamada   de   areia   fina   mal   graduada.  

 

3.2.4   Índice   de   vazios   mínimo   e   máximo  

 

Para  a  determinação  dos  índices  de  vazios,  utilizou-se  como  base  as  normas  brasileiras              

NBR  16843  (ABNT,  2020b)  para  índice  de  vazios  mínimo  de  solos  não-coesivos  e  a  NBR                

16840  (ABNT,  2020a)  para  índice  de  vazios  máximo  de  solos  não-coesivos.  Para  a  areia  de                

Osório,  foram  determinados  os  valores  de  0,60  para  o  índice  de  vazios  mínimo,  e  0,90  para