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Cultura indígena é destaque em projeto de pesquisa da Univates

Postado as 09/04/2019 09:24:04

Por Carla Bagnara

Elise Bozzetto

 

Abril é um mês marcado por diferentes comemorações, como a Semana dos Povos Indígenas, que acontece entre os dias 14 e 20 e celebra o Dia do Índio (19). No Brasil, a data foi instituída em 1943, via decreto-lei, por Getúlio Vargas. Entretanto, do ponto de vista legal, somente com a Lei no 11.645/2008 que escolas e universidades têm a obrigatoriedade de inserir a temática indígena nos componentes curriculares.

Carla Bagnara

 

Para o professor doutor em História da Universidade do Vale do Taquari - Univates Luís Fernando da Silva Laroque, ter uma data que celebre a presença dos índios no Brasil é importante, porém o fundamental é trabalhar continuamente a questão, visto o valor cultural e histórico dos povos indígenas para o País. “Há legislações educacionais que tornam obrigatório que o assunto seja trabalhado não só em abril, mas no decorrer do ano letivo”, afirma.

 

Considerando a presença significativa de índios também no Rio Grande do Sul, existe na Univates o projeto de pesquisa Identidades étnicas em espaços territoriais da Bacia Hidrográfica do Taquari-Antas/RS: história, movimentações e desdobramentos socioambientais, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD). Conforme o professor Laroque, atual coordenador e pesquisador do projeto, os estudos consideram as ocupações indígenas Guarani e Kaingang, além de colonizadores, imigrantes europeus e seus descendentes, e os impactos sociais provocados pela presença dessas populações na região de estudo. “O objetivo geral do projeto consiste em analisar as dinâmicas de movimentações e desdobramentos socioambientais envolvendo identidades indígenas, de europeus e seus descendentes, americanas e africanas localizadas na bacia hidrográfica do Taquari-Antas no decorrer do processo histórico”, explica.

Elise Bozzetto

Diversidade nos estudos e nas análises

 

O projeto, de caráter inter e multidisciplinar, integra professores e alunos de diferentes áreas de atuação, como História, Engenharia, Letras, Direito, Ciências Biológicas, Pedagogia e Geografia, e provenientes de diversas instituições de ensino. Com a atuação de dois pesquisadores - Prof. Dr. Luís Laroque e Profª Dra. Margarita Gaviria Mejía -, o programa conta com o apoio de mais três professores voluntários: Dra. Neli Teresinha Galarce Machado, Dra. Fernanda Pinheiro e Dr. Tiago Weizenmann, que trabalham com 15 alunos do mestrado e doutorado do PPGAD, além de dois estudantes de graduação e mais três bolsistas de iniciação científica.

Como não há registros de indígenas Guarani no Vale do Taquari desde o final do século 20, apenas de indígenas Kaingang, conforme Laroque, o estudo sobre os índios Kaingang acaba sendo “o carro forte da pesquisa”. Porém, o programa contempla trabalhos que abordam distintas ocupações em diferentes espaços de tempo. Há estudos que retratam a presença dos índios Guarani no século 17 em áreas do Vale do Taquari e adjacências, outros que discorrem sobre o processo de colonização luso-açoriana e da imigração alemã e italiana nos territórios indígenas e os que examinam a presença dos Kaingang na atualidade, além dos trabalhos que envolvem pesquisa sobre os grupos indígenas de Mato Grosso - Enawene Nawe; de Roraima - Macuxi, Wapischana e Taurempang; e de Rondônia, principalmente os Tupari, Aruá e Kanoé.

 

Cada pesquisa, independentemente do grupo escolhido como objeto de análise, é desenvolvida com diálogo, respeito e reciprocidade, por meio da mediação com os indígenas. De acordo com Laroque, tem-se o cuidado de não desenvolver uma postura colonialista. “O que isso significa: irmos na aldeia quando desejarmos, levarmos quem a gente quer, falar o que eles devem ou não fazer. Não temos essa metodologia de projeto, mas uma relação de reciprocidade, sempre conversamos com eles antes de qualquer atividade ou ação”, afirma.

 

Pesquisas que valorizam a troca de vivências                                   

 

A doutoranda do PPGAD da Univates Emeli Lappe iniciou sua pesquisa com os índios Kaingang em 2010 quando era bolsista no projeto de extensão da Universidade “História e Cultura Kaingang”. Graduada em História e mestra em Ambiente e Desenvolvimento pela Univates, atualmente trabalha na linha de pesquisa Espaço e Problemas Socioambientais, pesquisando em sua tese as terras indígenas Foxá, em Lajeado, Jamã Ty Tãnh, na cidade de Estrela, Pó Mág, em Tabaí, e duas terras indígenas em Farroupilha, a Ká Mág e a Pã Nanh Mág.

 

Emeli acredita que atuar no projeto de pesquisa possibilita aos índios Kaingang o protagonismo de sua própria historicidade. “Estudar os Kaingang nos faz refletir e compreender aspectos alusivos ao território, cultura e as movimentações desses indígenas em contextos urbanos. Atuar nesse projeto faz com que nos tornemos pesquisadores dispostos a apresentar para a sociedade a visibilidade dos indígenas Kaingang”, completa.

 

A mestra em Ambiente e Desenvolvimento pela Univates Marina Invernizzi também considera esse tipo de investigação fundamental, pois trabalha com uma etnia que “vive em um mesmo espaço territorial globalizado e capitalizado, mas que possui peculiaridades nas suas formas de vida”. Para ela, a troca de experiências e o “desencontro de concepções” é o que certifica o programa.



Compreendendo o contexto

 

A Bacia Hidrográfica Taquari-Antas está localizada no nordeste do Rio Grande do Sul, abrangendo parte dos Campos de Cima da Serra e a região do Vale do Taquari. Possui área de 26.491,82 km², com população estimada de 1.207.640 habitantes. Os principais cursos de água são o rio das Antas, rio Tainhas, rio Lageado Grande, rio Humatã, rio Carreiro, rio Guaporé, rio Forqueta, rio Forquetinha e o rio Taquari. O rio Taquari-Antas tem suas nascentes em São José dos Ausentes e desembocadura no rio Jacuí. A captação de água na bacia destina-se à irrigação, ao abastecimento público, à agroindústria e à dessedentação de animais (Fonte: Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura).