Utilizamos cookies neste site. Alguns são utilizados para melhorar sua experiência, outros para propósitos estatísticos, ou, ainda, para avaliar a eficácia promocional do nosso site e para oferecer produtos e serviços relevantes por meio de anúncios personalizados. Para mais informações sobre os cookies utilizados, consulte nossa Política de Privacidade.

Estudo de doutorado analisa traumas durante a infância e adolescência

Postado as 10/04/2019 17:00:11

Por Lucas George Wendt/DIPES

O professor e psiquiatra Rafael Moreno Ferro de Araújo atua no curso de Medicina da Universidade do Vale do Taquari desde 2016. Quando iniciou suas atividades como docente no Centro de Ciências Médicas (CCM), ele estava desenvolvendo seu estudo de doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Medicina e Ciência da Saúde da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). A tese intitulada “Whats makes physical punishment beneficial or harmful?” foi concluída recentemente.

Lucas George Wendt

 

No início da docência na Univates, com o mestrado concluído, Moreno já havia associado traumas infantis e comportamento suicida em adultos. “A dissertação virou um artigo científico que foi publicado no jornal European Psychiatry em 2016 com o nome ‘More than words: the association of childhood emotional abuse and suicidal behavior’”, conta.

O artigo, produto de sua dissertação de mestrado, foi bem recebido pela comunidade científica internacional e citado diversas vezes em outros estudos. “O tipo de trauma durante a infância e a adolescência mais associado ao comportamento suicida é o emocional, apesar de muitos pensarem que é o sexual ou físico”, explica o professor sobre os resultados aos quais chegou durante a pesquisa prévia ao doutorado.

Dando sequência aos estudos, durante a construção de sua tese, realizada na PUCRS, Moreno continuou analisando traumas na infância e na adolescência e suas consequências. Mais de 13,2 mil pessoas do Brasil inteiro responderam à primeira etapa de sua pesquisa (virtual) pelo site www.temperamento.com.br. Outras 4,3 mil respostas foram registradas na segunda etapa. “Perguntamos para aproximadamente 17,5 mil pessoas sobre as experiências abusivas ao longo da vida e perguntamos para os que nunca sofreram abuso físico se eles levaram palmadas na infância”.

O convite para o público em geral estimulando a adesão à pesquisa foi divulgado pela televisão nacional e em jornais de alta circulação, como a Folha de São Paulo.

“Inicialmente analisamos o impacto subjetivo das ocorrências de abuso físico, emocional e sexual durante a infância e adolescência”, revela o professor. “E após os resultados iniciais realizamos um segundo estudo analisando o impacto subjetivo e objetivo da punição física, desde a palmada até o abuso físico”, detalha.

Para analisar o impacto objetivo das ocorrências de abuso, o pesquisador questionou aos entrevistados sobre o uso de medicações psiquiátricas ao longo da vida - um indicativo global de saúde mental.

“Ficamos muito intrigados com os resultados sobre o abuso físico. Como tanto eu quanto o coorientador da tese temos filhos, pensamos: em que ponto as leis estão corretas ao proibir totalmente a palmada como método educativo?”, questiona ele. “Será que existe realmente um malefício comprovado cientificamente?”, prossegue.

Os resultados do estudo mostraram que não. Moreno explica: “quem recebeu palmadas na infância não apresenta melhor ou pior saúde mental do que quem não as recebeu. Uma descoberta interessante foi que pessoas que julgaram como positivo ter levado palmada são mais saudáveis psiquicamente e apresentaram menor uso de medicações psiquiátricas ao longo da vida”.

Moreno destaca que o doutorado foi um grande momento de sua vida. “Fui o primeiro da minha família a conseguir o título de doutor. Venho de uma família muito batalhadora de nordestinos que migrou para o Rio de Janeiro em busca de trabalho. Trabalhei muito por esse título e espero conseguir entrar em algum programa de pós-graduação para orientar mestrandos e seguir minha linha de pesquisa sobre comportamento humano”, diz. “O ser humano tem problemas com incertezas. Precisa de leis, de teorias poderosas e de líderes. Mas leis, teorias e líderes podem ser contestados por meio do método científico.”

O estudo que culminou na publicação de sua tese de doutorado foi orientado pela professora doutora Rita Mattiello e coorientado pelo doutor Diogo Rizzato Lara. A banca de avaliação da tese foi composta pelos professores doutores Linda Booij, da Concordia University/Université de Montreal, Bartira Ercilia Pinheiro da Costa, André Luis Fernandes Palmini, César Luis de Souza Brito e Christian Kristensen , da PUCRS.

No momento, os resultados, pelo teor de ineditismo do estudo, foram submetidos a revistas científicas de alto impacto. O doutor aguarda os pareceres das publicações.