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Notícias

27 Junho de 2022

Museu do Gil – Um Papo Com Chris Fuscaldo

Nada mais justo, afinal de contas, a iniciativa é pioneira no Brasil e enfoca um dos mais importantes intelectuais brasileiros vivos. Logo nos primeiros momentos pós-lançamento, a primeira polêmica veio à tona: a descoberta de um disco inédito de Gil, gravado em 1982, nos Estados Unidos. Os autores da descoberta, Chris Fuscaldo e Ricardo Schott, são dois importantes jornalistas e pesquisadores musicais do Rio de Janeiro. Talentosos e espertos, só se surpreende com o mérito deles quem não os conhece. Chris, inclusive, colaboradora bissexta deste site, é uma das mais importantes biógrafas da música brasileira. Ela já assinou livros sobre Legião Urbana, Mutantes e Belchior. Editou publicações sobre Renato Russo e Jimmy Page. Sua editora, Garota FM Books, é uma orgulhosa instituição que vem desbravando a golpes de foice o mercado editorial brasileiro. Os próximos lançamentos são o compêndio de álbuns e artigos, “1979 – O Ano Que Ressignificou A MPB”, organizado pelo jornalista Célio Albuquerque e contando com 100 artigos sobre discos lançados naquele ano, assinados por vários pesquisadores, músicos, jornalistas, e “Cantadas – 35 Ensaios Sobre Grandes Vozes de Mulheres da Música Brasileira”, de autoria do jornalista carioca Mauro Ferreira.
 
Com este currículo em constante construção, Chris recebeu o convite do Google “para a curadoria de um museu virtual sobre um nome ligado à música nacional”. “Eu aceitei o trabalho sem saber que o museu era para o Gilberto Gil” – ela conta.
 
 
– Recebi o convite do Google num momento em que estava entre o Brasil e os Estados Unidos por conta dos meus estudos de Doutorado. Para o Google, estar em trânsito era algo que não importava e eu pude montar uma equipe de pessoas de confiança, que começaram a atuar no projeto. 
 
 
– Eu já tinha ouvido falar do Google Arts & Culture. Eles têm museus incríveis online, como o MoMa, um sobre o pintor holandês Van Gogh… A plataforma entrou no Brasil em 2019, com um museu dedicado ao pintor Cândido Portinari. A iniciativa sobre o museu do Gil passava por algo referente ao Rio de Janeiro e à música brasileira, mas, como eu disse, não foram ditos nomes.
 
 
Chris conta que, uma vez fechado o negócio, o nome foi, finalmente, revelado. E a partir disso, o trabalho iniciou-se com o desbravamento do tal acervo de 10 mil arquivos de mídia e documentos diversos, que haviam sido reunidos para uma iniciativa de museu virtual por parte do Instituto Tom Jobim, mas que não tivera muito fôlego para continuar. Este material estava reunido e havia sido finalizado em 2011, ou seja, havia muita coisa para atualizar e conferir.
 
 
Em cinco etapas de trabalho, Chris contou com a ajuda de vários pesquisadores, jornalistas e profissionais, que formaram uma equipe de trabalho recrutada por ela. Com a produção definida por setores e por cidades – havia gente em Salvador, Niterói e Rio, o time foi analisando tudo o que já havia sido selecionado e coletando mais dados, uma vez que havia um intervalo de oito anos entre o lote inicial de dados e o tempo presente (2019). E mais: vários dados estavam nomeados de forma errada.
 
 
– A gente precisou rever tudo e constatamos que havia muita coisa nomeada de forma incompleta ou mesmo imprecisa, ou seja, precisamos renomear para que pudéssemos realizar a organização do material já coletado pela Gege Produções.
 
 
Essa coleta de novos dados se deu em meio a tempos agitados para Gilberto Gil, que enfrentou uma doença renal em meados dos anos 2010. Além disso, ele lançou vários discos a partir de 2011, fez muitos shows solo, percorreu o país com Caetano Veloso – com quem lançou um álbum ao vivo – e, finalmente curado, soltou o disco autoral “Ok Ok Ok”, em 2018. E, já em 2022, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Por conta do trabalho, Chris fez várias reuniões remotas com Gil e sua família, e, já com o abrandamento da pandemia, pode visitar o cantor e compositor várias vezes. Ela conta que estava presente no dia em que ele recebeu o telefonema confirmando sua entrada na ABL:
 
 
– Foi um flagra deste momento. Eu só tive tempo de sacar o celular e filmar ele recebendo essa notícia. O vídeo foi parar numa das exposições do museu. A gente também realizou várias entrevistas com os familiares do Gil e com gente que conhece ele muito bem, como o ex-presidente Lula, com quem conseguimos falar no fim do ano passado somente. Ele contou várias coisas sobre o Gil – todas presentes nas exposições referentes a cultura e política que estão no Museu – e até confessou suas músicas preferidas – “Luar”, “Super-Homem – A Canção” e “La Lune de Gorée” – que, segundo Lula, viu e ouviu Gil cantá-la na Ilha de Gorée, no Senegal, quando lá esteve, em visita oficial em 2005.
 
 
A própria Chris indica partes bacanas do Museu para serem visitadas.
 
 
– Tem muita coisa interessante. Há informações de várias facetas do Gil. A gente cobre todos os álbuns que ele lançou – quase oitenta – e eu faço uma discobiografia dele. Só sobre os álbuns são seis exposições diferentes. Também tem uma exposição só sobre os looks do Gil, sobre o cabelo dele, chamada “Cabelo Duro é Preciso”. Tem dados e informações sobre todos os encontros nacionais e internacionais da vida dele, tem a história da parceria de Gil com os Mutantes e algumas cançoes icônicas receberam exposições próprias e livres. “Expresso 2222”, “Domingo no Parque”, “Palco”, “Amarra o Teu Arado a Uma Estrela”. E há várias exposições livres, que se comunicam entre si, com artigos, crônicas, matérias jornalísticas, entrevistas, depoimentos de gente tão distinta, como Flora Gil, o ex-ministro da cultura Juca Ferreira, Marisa Monte, Regina Casé…
 
 
E ela continua.
 
 
– Também fizemos vários ping-pongues – perguntas e respostas rápidas -, entre eles, um com o Caetano Veloso, sobre quem seria o “autor” da Tropicália. Depois da entrevista, o Caetano me enviou um áudio afirmando que esta autoria seria do Gil e eu consegui colocar este áudio na exposição também. E tem uma exposição superatual, chamada “O Ano dos 80 Anos do Gil”, mostrando como este 2022 está sendo para ele. Tem participação da família, várias entrevistas inéditas…
 
 
Assim que o Museu foi anunciado, há cerca de uma semana, o principal assunto que tomou conta das mídias sociais foi a descoberta por parte de Chris e do jornalista e pesquisador niteroiense Ricardo Schott, de um álbum musical inédito, gravado em 1982 e engavetado por Gil.
 
 
– Eu e o Schott mapeamos (eu mapeei sozinha, aliás, com estagiários anotando enquanto eu ia falando o que tinha) gavetas e armários para podermos dizer ao Google o que havia de material, o total de páginas, o total de álbuns, cerca de mil mídias – CD, DVD, Betamax, VHS – para que fosse digitalizado. Quando recebemos o resultado, vieram esses arquivos todos codificados. Por exemplo, havia um desses arquivos chamado “You Need Love”, que é o nome da primeira faixa desse disco perdido. Como curadora, eu estava dividindo o trabalho de apuração e pedi ao Schott para avaliar esse material que parecia algo inédito. Ele lembrou que, no encarte do álbum “Um Banda Um” lançado na caixa Palco, em 2002, Gil e o produtor da caixa, Marcelo Fróes, comentam que existia um disco cancelado em 1982 que não foi encontrado para entrar na caixa. Daí a gente foi achando dados, por exemplo fotos que eram nomeadas como pertencentes à turnê do álbum “Um Banda Um”, de 1982. Só que elas mostravam vários músicos no estúdio e a gente foi pesquisando e levantando informações com a família, com o Liminha (produtor e sócio de Gil) e averiguamos que se tratava de um disco inédito, gravado nos Estados Unidos. Identificamos os músicos e os arquivos e confirmamos.
 
 
Chris se define como uma biógrafa musical. Tornou-se curadora desse Museu pioneiro. Ela conta:
 
 
– Foi um presente do acaso. Eu tinha preferência por mostrar artistas não-biografados, achei que nunca iria trabalhar com alguém que já fosse tão conhecido e destrinchado, como o Gil. Ele é um dos maiores artistas do Brasil, ele é a cara do Brasil. Do Brasil que eu quero. Foi um presente do acaso.
 
 
Amém.
 
 
*na foto – a pesquisadora Laura Zandonadi, Chris Fuscaldo e Gilberto Gil.
 
 
Fonte: Célula POP
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