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Notícias

29 Dezembro de 2022

Cássia Eller cantando o blues em 1991

Cássia Eller não era uma unanimidade nacional quando gravou este álbum, entre 1990 e 1991. Ela havia lançado seu disco de estreia, homônimo, e feito bastante sucesso com sua versão de “Por Enquanto”, então obscura canção do primeiro álbum da Legião Urbana, e só. Era uma promessa, uma voz diferente, naquele momento em que outras duas jovens cantoras haviam surgido – Adriana Calcanhotto e Marisa Monte. A favor de Cássia, uma intuitiva força e capacidade para lidar com estilos musicais próximos do rock, entre eles, o blues. O guitarrista argentino, radicado no Brasil, Victor Biglione, atento ao que acontecia no momento, convidou Cássia para entrar em estúdio e fazer um disco de blues, com standards do estilo, uma vez que ele percebia nela esta força, esta capacidade. Dito e feito. É esse registro – até agora inédito – que chega ao público por conta dos sessenta anos que Cássia comemoraria ontem, dia 10 de dezembro de 2022.
 
 
 
 
 
Gravado, portanto, entre a estreia da cantora e aquele que se tornou seu segundo trabalho, este “In Blues” tem oito faixas com a voz de Cássia e dois medleys instrumentais – em ambos os casos, as escolhas recaíram sobre os standards blueseiros, com uma ou outra boa sacada de originalidade, como no caso de “Prison Blues”, faixa do álbum solo de Jimmy Page, “Outrider” e “Got To Get Her Into My Life”, dos Beatles fase “Revolver”, inserida no tracklist com um arranjo de metais bem bacana, com resultado que tangencia o r&b. Cássia tinha, de fato, a capacidade de cantar blues com a postura que o estilo exige de um bom intérprete: a percepção da tristeza inerente ao que se canta, somada a uma atitude que pode ser de cinismo ou de revolta/indignação. Não por acaso, uma das canções – “If Six Was Nine”, de Jimi Hendrix, entraria em seu segundo álbum, “O Marginal”, lançado em 1992.
 
 
 
 
 
Cássia, é bom que se diga, não havia se tornado uma cantora pop. Ela o seria a partir do terceiro álbum, especialmente quando surgiu interpretando “Malandragem”, de Cazuza e Frejat, para se tornar, sim, um grande nome da música brasileira. Ela era capaz de borrar as fronteiras entre rock, blues e MPB, feito raro na época e ainda hoje. Sua voz, em 1991, ainda não estava “educada”, fato que dá a estas interpretações blueseiras um ar de rascunho, de demotape, de improviso e isso é bem-vindo. Como reflexo desta condição, “In Blues” é mais um disco de Biglione que de Cássia, uma vez que o guitarrista rege arranjos e escolhas, meio que dando espaço para uma cantora iniciante de se tornar mais conhecida. Neste caso específico, era a ideia do guitarrista que Cássia tivesse uma carreira internacional como intérprete de blues. Fazia sentido na época e este álbum comprova tal fato.
 
 
 
 
 
São boas as interpretações de clássicos como “I’m Your Hoochie Coochie Man”, de Willie Dixon, com vocais rascantes e instrumental seguro. Também dele é “I Ain’t Superstition”, mais cadenciado e no qual Cássia parece estar mais à vontade. Em “Same Old Blues”, de Don Nix, o arranjo de metais funciona às mil maravilhas, aquecendo o resultado final, mas o momento mais interessante e original é na já citada releitura de “Got To Get Her Into My Life”, dos Beatles. O original já traz um naipe de metais, mas não ousa no avanço das fronteiras com o r&b, algo que Biglione e os músicos presentes aqui fazem com muita desenvoltura e conhecimento de causa. E Cássia plana soberana no resultado final, com um inglês bastante bom para este tipo de empreitada.
 
 
 
 
 
No fim das contas, “In Blues” é um baita presente para os vários fãs da cantora brasiliense. Mostra Cássia num momento de afirmação como artista e procurando seu lugar entre um momento de ebulição da música nacional. Sempre fica o exercício de adivinhação sobre o que teria acontecido se ela desse o passo rumo ao blues. Nunca saberemos, mas teremos boas impressões com este registro honesto e simpático.
 
 
 
 
 
Ouça primeiro: “Got To Get Her Into My Life”
 
 
 

 

Fonte: Célula Pop 

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