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24/03/2021

Diversificar o hábito alimentar beneficia o microbioma intestinal e melhora a saúde

Hans Fröder, Marion Ruis, Tainá Drebes

O corpo humano é habitado por trilhões de bactérias, vírus e fungos, que coletivamente são conhecidos por microbioma. Enquanto algumas bactérias estão associadas a doenças, outras são extremamente importantes para o sistema imunológico, o coração, o peso e muitos outros aspectos da saúde. Trilhões desses seres microscópicos existem principalmente dentro do intestino e na pele. A maioria habita no intestino grosso e é chamada de microbioma intestinal. Embora muitos tipos diferentes vivam dentro desse microbioma, as bactérias são as mais estudadas. Existem até 1.000 espécies de bactérias no microbioma intestinal humano, e cada uma delas desempenha um papel diferente em nosso corpo, as chamadas bactérias funcionais (benéficas) e as que podem causar doenças (patogênicas). Ao todo, esses microrganismos podem pesar de 1 a 2 kg, que é aproximadamente o peso de nosso cérebro. Juntos, eles funcionam como um órgão extra no nosso corpo e desempenham papel fundamental na nossa saúde.

Os seres humanos evoluíram durante milhões de anos para viver com os microrganismos. Durante esse tempo, os microrganismos aprenderam a desempenhar papéis importantes no corpo humano. De fato, sem o microbioma intestinal seria muito difícil sobreviver. Ele começa a afetar nosso corpo no momento em que nascemos porque somos expostos a microrganismos. No entanto, evidências sugerem que os bebês podem entrar em contato com alguns microrganismos enquanto estão dentro do útero. Conforme crescemos, nosso microbioma intestinal se diversifica, o que significa que ele começa a conter muitos tipos diferentes de espécies microbianas.

A maior diversidade do microbioma é considerada benéfica para nossa saúde e está relacionada com os alimentos que consumimos. À medida que o microbioma cresce e se diversifica, ele afeta nosso corpo de várias maneiras, incluindo a digestão do leite materno. Algumas bactérias que começam a crescer no intestino dos bebês são as chamadas bifidobactérias, as quais digerem os açúcares saudáveis no leite materno que são importantes para o crescimento. Outras digerem fibras produzindo ácidos graxos de cadeia curta, que são fundamentais para a saúde intestinal. A fibra pode ajudar a prevenir o ganho de peso, o diabetes, as doenças cardíacas e o câncer. Ao se comunicar com as células do sistema imunológico, o microbioma intestinal pode controlar como o corpo responde à infecção. Pesquisas sugerem que o microbioma intestinal também pode afetar o sistema nervoso central, que controla a função cerebral, portanto, há várias maneiras diferentes pelas quais o microbioma intestinal afeta as principais funções corporais e a nossa saúde.

Ter muitos microrganismos não saudáveis pode levar a doenças. O desequilíbrio de microrganismos saudáveis e não saudáveis é chamado de disbiose do intestino e pode contribuir para o ganho de peso. Estudos mostram que o microbioma intestinal difere completamente entre gêmeos idênticos, um dos quais era obeso e o outro, saudável. Isso demonstra que as diferenças no microbioma não são genéticas. Curiosamente, em um estudo, quando o microbioma do gêmeo obeso foi transferido para camundongos, eles ganharam mais peso do que aqueles que receberam o microbioma do gêmeo magro, apesar de ambos comerem a mesma dieta. Esses estudos mostram que a disbiose do microbioma pode desempenhar um papel no ganho de peso. Felizmente, os probióticos são bons para um microbioma saudável e podem ajudar na perda de peso. No entanto, estudos revelam que os efeitos dos probióticos na perda de peso são provavelmente muito pequenos, com pessoas perdendo menos de 1 kg.

O microbioma também pode desempenhar um papel nas doenças intestinais, como a síndrome do intestino irritável (SII) e a doença inflamatória intestinal (DII). O inchaço, cãibras e dores abdominais que as pessoas com a SII têm podem ser devido à disbiose do intestino. Isso ocorre porque os microrganismos produzem muito gás e outros produtos químicos, que contribuem para os sintomas do desconforto intestinal. No entanto, certas bactérias saudáveis no microbioma podem melhorar a saúde intestinal, como bifidobactérias e lactobacilos, que são encontrados em probióticos e iogurtes, ajudam a selar as lacunas entre as células e impedem que bactérias causadoras de doenças se colem à parede intestinal. De fato, tomar certos probióticos que contém bifidobactérias e lactobacilos pode reduzir os sintomas da SII.

Um estudo com 1.500 pessoas descobriu que o microbioma intestinal desempenha um papel importante na promoção do bom colesterol (HDL) e triglicérides. Certas espécies não saudáveis no microbioma intestinal também podem contribuir para doenças cardíacas produzindo N-óxido de trimetilamina (TMAO) – substância química que contribui para o bloqueio de artérias, podendo levar a ataques cardíacos ou derrame. Algumas bactérias dentro do microbioma convertem colina e L-carnitina, ambos nutrientes encontrados na carne vermelha e outras fontes alimentares baseadas em animais, aumentando potencialmente os fatores de risco para doenças cardíacas. No entanto, outras bactérias dentro do microbioma intestinal, particularmente lactobacilos, podem ajudar a reduzir o colesterol quando tomadas com um probiótico.

Por fim, há muitas maneiras de melhorar nosso microbioma intestinal, ingerindo uma variedade de alimentos, o que pode levar a um microbioma diversificado, que é um indicador de boa saúde intestinal. Em particular, leguminosas, feijões e frutas contêm muita fibra e promovem o crescimento de bifidobactérias. Ingerir alimentos fermentados como iogurte, chucrute e kefir fornece bactérias saudáveis, principalmente lactobacilos, o que reduz a quantidade de espécies causadoras de doenças no intestino. Algumas evidências mostram que adoçantes artificiais como o aspartame aumentam o açúcar no sangue, estimulando o crescimento de bactérias nocivas, como enterobactérias, no microbioma intestinal. Alimentos nutricionais não digeríveis, os prebióticos, como alcachofra, banana, aspargo, aveia e maçã, estimulam o crescimento de bactérias saudáveis. Grãos integrais contêm muita fibra e carboidratos, como os polissacarídeos beta-glucanos, que são digeridos pelas bactérias intestinais e controlam o peso, o risco de câncer, diabetes e outras desordens. Dietas vegetarianas podem ajudar a reduzir os níveis de bactérias causadoras de doenças, como a Escherichia coli, bem como a inflamação e o colesterol. Alimentos ricos em polifenóis são compostos vegetais encontrados no vinho tinto, chá verde, chocolate amargo, azeite e grãos integrais que quando decompostos pelo microbioma estimulam o crescimento bacteriano saudável. Ingerir um suplemento probiótico, composto por bactérias vivas, pode ajudar a restaurar o intestino para um estado saudável após disbiose. Crianças, por exemplo, que são amamentadas por pelo menos seis meses têm bifidobactérias mais benéficas do que aquelas que são alimentadas por mamadeiras. Por outro lado, os antibióticos matam muitas bactérias boas e ruins no microbioma intestinal, possivelmente contribuindo para o ganho de peso e a resistência a antibióticos.

Referências:

MacGill, M. What are the gut microbiota and human microbiome? (2018). Disponível em: https://www.medicalnewstoday.com/articles/307998l. Acesso em: 21 ago 2020.

Thursby, E., & Juge, N. (2017). Introduction to the human gut microbiota. Biochemical Journal, 474(11), 1823-1836.

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