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A leitura como forma de interação com o mundo

Postado em 30/06/2017 10h13min

Por Tiago Silva

Ler bem é uma necessidade. Interagir com o conhecimento adquirido pela leitura é uma habilidade essencial nos dias de hoje. Por isso, ter consciência do modo como se lê auxilia na qualificação da compreensão do texto. Há várias estratégias que podem auxiliar o leitor. Duas delas, por exemplo, são a leitura do tipo top-down e a do tipo bottom-up. Se o leitor quiser “folhear” um jornal para se manter atualizado sobre as notícias do dia, pode optar pela leitura top-down. Mas, se quiser se aprofundar em um tema, precisa escolher a leitura do tipo bottom-up.
 
Conforme a doutora em Linguística Kári Lúcia Forneck, coordenadora do curso de Letras da Univates, a leitura bottom-up necessita de mais atenção, é mais linear e o foco é direcionado às particularidades do tema. “Quando você usa esse tipo de leitura, provavelmente você sabe previamente menos sobre o conteúdo do texto. É uma leitura feita mais nos detalhes”, enfatiza. “É uma estratégia de compreensão das minúcias para o todo”.
 
Já o modelo top-down segue o processo inverso: “é do todo para as partes”, afirma a pesquisadora de linguística, apontando que os conhecimentos prévios do leitor têm um peso importante nesse processo. “As relações entre o conhecimento novo e o que o leitor já tem são mais diretas na leitura top-down. Não há muito esforço de leitura. Você lê meia dúzia de palavras e já sabe, em um plano geral, do que trata o texto”, relata Kári.
 
“O modo como se lê tem a ver, primeiro, com o propósito que eu tenho com aquele texto e, segundo, com que tipo de conhecimento eu já tenho sobre aquele assunto”, esclarece a doutora. Essa clareza é chamada, na linguística, de metacognição: quando o leitor tem consciência do jeito como lê. “Ter essa consciência significa que você se torna mais proficiente e adapta seu modo de ler aos objetivos de leitura”, entende a professora.
 
Formação do leitor
Para Kári, o fato de o brasileiro apresentar tanta dificuldade em leitura, de modo geral, decorre do modo como essa questão é tratada na educação básica. Nas escolas, ainda falta mais desenvolvimento de duas questões primordiais: a compreensão e a interpretação do texto, que são atividades diferentes. “A gente pensa que, se o sujeito se alfabetizou, ele segue no piloto automático depois. Mas não lhe ensinaram a automonitorar o seu processo de leitura”.
 
Esse reflexo aparece depois, em índices negativos para o Brasil — como o Pisa, o mais importante exame educacional do mundo, elaborado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
 
No último levantamento, divulgado em dezembro de 2016, os estudantes brasileiros tiveram desempenho abaixo da média nas três áreas avaliadas (ciências, leitura e matemática). Entre as 72 nações, o relatório mostra o Brasil na 63ª posição em ciências, na 59ª em leitura e na 66ª colocação em matemática. No quadro geral, quase metade (44,1%) dos estudantes brasileiros obteve performance abaixo do nível 2 da prova, numa escala de 1 a 6.
 
Linguagem e pensamento
Kári entende que esse baixo desempenho em leitura pode limitar a forma como as pessoas interagem com o mundo. Ao lembrar do filme A Chegada (The Arrival, 2016) — ficção científica de Denis Villeneuve, em que uma linguista é recrutada para desvendar as intenções de alienígenas que aterrissam na Terra —, a professora explica sobre a Hipótese Sapir- Whorf: em síntese, essa hipótese, embora controversa, sustenta que a linguagem influencia o pensamento. “Eu consigo entender o mundo ao meu redor conforme minha abrangência linguística. Se meu vocabulário é restrito, por exemplo, o modo como eu racionalizo minhas experiências de vida também se restringe”, afirma a professora.
 
Esta matéria faz parte da edição nº 4 da Revista Univates. Confira a versão digital aqui.
 
Texto: Tiago Silva

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