Restauração ambiental: importante aliada para minimização do impacto humano no meio ambiente

Artigo escrito em colaboração com a professora doutora Elisete Maria de Freitas, doutora em Botânica, docente dos Programas de Pós-Graduação em Biotecnologia e em Sistemas Ambientais Sustentáveis e curadora do herbário HVAT.

O ser humano tem sido responsável por parte das mudanças climáticas que têm afetado todo o Planeta Terra nos últimos séculos, por meio das atividades industriais, crescimento da produção agrícola, da desflorestação e do uso dos transportes — que também são responsáveis pela intensificação da emissão de gases que contribuem para o aquecimento global.

Por outro lado, existe uma preocupação global cada vez mais evidente denotando a necessidade do cuidado do planeta. Por isso, a Organização das Nações Unidas (ONU) propôs os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, com metas em diferentes áreas para construir um futuro melhor para todos. Na área ambiental tem objetivos como, por exemplo, ação contra a mudança global do clima (ODS 13). Em uma escala global, a Assembleia Geral da ONU declarou o período 2021 – 2030 como a Década da ONU da Restauração de Ecossistemas.

Na prática, porém, verifica-se facilmente que os aspectos preconizados pelas leis não são cumpridos como deveriam, o que tem gerado danos ambientais em grande escala, sendo necessária a adoção de ações que visam a sua reversão ou minimização dos impactos. Dentre os danos causados pela ação humana está o surgimento de áreas degradadas que precisam ser restauradas. Para isso, existem diferentes técnicas que podem ser adotadas e aplicadas para que elas sejam restauradas e voltem a apresentar características ambientais semelhantes às condições originais, anteriores à sua degradação. 

Aplicando conhecimentos

Um projeto de pesquisa realizado pela Universidade do Vale do Taquari - Univates objetiva avaliar diferentes técnicas de restauração de áreas degradadas em margens de rios e arroios da Bacia Hidrográfica do Rio Taquari, no escopo do Programa de Pós-Graduação em Sistemas Ambientais Sustentáveis. A equipe do projeto, liderada pela professora doutora Elisete Maria de Freitas, é composta por professores da Univates, bolsistas de iniciação científica e estudantes de mestrado e doutorado. 

A iniciativa da pesquisa, ao divulgar as técnicas mais adequadas para cada condição ambiental, visa contribuir para reverter o atual quadro de degradação das matas ciliares de rios e arroios da Região. A equipe do projeto atua em nove áreas e, apesar de o projeto estar com apenas dois anos de execução, os resultados são promissores.

Algumas das técnicas de restauração ambiental são:

Plantio em área total: consiste no plantio de mudas de espécies nativas regionais, características dos ambientes degradados a serem restaurados, aleatoriamente em toda a área a ser restaurada. Esta técnica é uma das mais aplicadas e favorece o rápido adensamento da vegetação quando as mudas forem de qualidade e de espécies adaptadas ao tipo de ambiente em recuperação. Nesse sentido, as espécies selecionadas devem ser nativas e de diferentes hábitos (herbáceas, arbustivas, arbóreas e trepadeiras) e grupos ecológicos (pioneiras e secundárias iniciais). Além disso, as mudas devem ser de origem local.

Plantio em núcleos (Núcleo de Anderson): esta técnica consiste no plantio de mudas de “ilhas” ou núcleos produzidas em viveiro onde as mesmas são plantadas em grupos favorecendo a espécie central crescer em altura e as laterais a ramificar. Sempre procurando que a vegetação plantada tenha a  capacidade ecológica de melhorar significativamente o ambiente

Semeadura Direta: nesta técnica, as sementes são colocadas diretamente no solo, para restaurar os estratos herbáceos, arbustivos e arbóreos. Também podem ser dispersas em núcleos (covas, linhas, ou quadros) e em área total (a lanço). Esta técnica é de fácil aplicação, tem baixo custo e favorece a diversidade de espécies. Normalmente, as sementes de diferentes espécies são misturadas antes da sua distribuição na área a ser restaurada, compondo o que popularmente se conhece como MUVUCA. Os cuidados com a escolha das espécies são os mesmos adotados para a técnica de plantio.

Poleiros artificiais: são estruturas naturais ou artificiais destinadas a servir de pouso de aves. Os locais de pouso da avifauna favorecem a deposição de fezes no solo nas imediações, as quais podem conter sementes ingeridas em outros locais,favorecendo a germinação de plantas.

Transposição de solo: é uma técnica de nucleação em que o solo é retirado de uma área preservada e levado para uma área degradada que se planeja restaurar. Isto é importante porque os nutrientes, os organismos e o banco de sementes do solo da área preservada são transportados juntos para a área que está degradada. Espera-se que as sementes presentes no banco de sementes germinem compondo  uma nova comunidade vegetal (um banco de sementes é um conjunto de sementes dormentes presentes no solo).

Estas técnicas foram aplicadas nas áreas selecionadas para o projeto. Poleiros artificiais e transposição de solo não foram adequadas, provavelmente em consequência da presença de espécies exóticas invasoras que impedem a germinação e o crescimento das plantas e de fatores climáticos (excesso de chuvas ou seca, temperaturas elevadas como tem ocorrido em nossa região nos últimos anos). Já a associação de técnicas como plantio, tanto em núcleos como em área total, e semeadura em núcleos tem mostrado ser eficiente, tendo promovido  a formação de floresta em cerca de 18 meses. 

Avaliação 

A avaliação das diferentes técnicas pode ser feita com apoio de profissionais das áreas da Botânica e da Engenharia Ambiental. A restauração ambiental visa à recuperação de áreas degradadas, promovendo a sua reabilitação ecológica e a conservação da biodiversidade. Nesse sentido, a participação de especialistas é essencial para garantir que as técnicas empregadas sejam adequadas e eficazes.

Profissionais da Botânica têm conhecimentos específicos sobre as espécies vegetais e sua interação com o meio ambiente. Eles podem identificar quais são as plantas nativas mais adequadas para cada região, considerando fatores como o tipo de solo, o clima e as condições de luminosidade. Além disso, a Botânica também estuda a ecologia das plantas, o que permite compreender suas interações com outras espécies, como polinizadores e animais dispersores de sementes. Com base nesses conhecimentos, os especialistas em Botânica podem selecionar as espécies mais apropriadas para serem utilizadas nos projetos de restauração ambiental.

Por sua vez, os profissionais de Engenharia Ambiental possuem habilidades técnicas fundamentais para o planejamento e execução de projetos de restauração. Eles podem avaliar a viabilidade das técnicas propostas, considerando aspectos como a topografia do terreno, a qualidade do solo e a disponibilidade de recursos hídricos. A combinação dos conhecimentos dessas áreas permite a seleção criteriosa das espécies vegetais e a aplicação de técnicas adequadas a cada contexto, resultando em uma restauração ambiental eficiente e duradoura, capaz de promover a recuperação dos ecossistemas degradados e a conservação da biodiversidade.

1) Semeadura Direta: técnica, benefícios e eficiência nos resultados — Rede de Sementes do Cerrado — Semeadura Direta: técnica, benefícios e eficiência nos resultados.

2) Regeneração Natural com Manejo — Nucleação/Poleiros — Webambiente Wiki — webambiente:poleiros [Webambiente Wiki].

3) O que são os Sistemas Agroflorestais (SAFs)? — Sitio Pema — O que são Sistemas Agroflorestais (SAFs) e os benefícios.

Fique por dentro de tudo o que acontece na Univates, clique nos links a seguir e receba semanalmente as notícias diretamente no seu WhatsApp ou no Telegram.