Professora da Univates destaca papel das matas ciliares na prevenção de tragédias climáticas durante fórum do TRF4

Postado as 21/10/2025 12:21:37

Por Lucas George Wendt

Com informações do Sistema de Conciliação do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (Sistcon/TRF4)

O Sistema de Conciliação do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (Sistcon/TRF4) realizou, na manhã de sexta-feira (19/9), a 13ª edição do Fórum Regional Interinstitucional Ambiental, que discutiu os desafios e caminhos para a preservação e recuperação das matas ciliares no contexto da crise climática. O evento online reuniu especialistas, gestores e representantes do Judiciário, com destaque para a participação da professora Elisete Maria de Freitas, da Universidade do Vale do Taquari - Univates, que levou ao debate reflexões baseadas nos eventos climáticos recentes vividos pelo Rio Grande do Sul.

Sob o tema “Matas ciliares: desafios e aprendizados pós-inundações”, Elisete apresentou uma análise contundente sobre as causas e consequências da degradação das margens de rios, ressaltando que a ausência de vegetação nativa foi um dos fatores que agravaram as enchentes que devastaram o Vale do Taquari e outras regiões gaúchas em 2023 e 2024.

Segundo a professora, as matas ciliares exercem papel importante na proteção dos cursos d’água, na estabilidade das margens e na mitigação de desastres ambientais. “A destruição ou substituição por espécies exóticas reduz drasticamente a capacidade natural dos ecossistemas de conter a força das águas. A vegetação nativa é uma barreira viva que protege o solo e o próprio rio”, afirmou.

Durante sua exposição, Elisete buscou desmistificar concepções equivocadas que circularam após as enchentes. “Houve quem dissesse que árvores nativas derrubaram pontes, mas o problema foi justamente o contrário: a falta de matas ciliares robustas aumentou o impacto das correntezas. As pontes caíram porque as margens estavam desprotegidas”, explicou.

A pesquisadora defendeu que a restauração ecológica deve ser prioridade, associada a políticas públicas de longo prazo e a estratégias de educação ambiental capazes de mobilizar a população. “Precisamos combinar técnicas de engenharia natural com o replantio de espécies nativas e com um processo educativo que envolva toda a sociedade. Sem essa consciência coletiva, a recuperação será apenas paliativa”, alertou.

Elisete também criticou a concentração de recursos públicos em ações de desassoreamento de rios, muitas vezes realizadas sem a devida recomposição das matas marginais. “Desassorear sem proteger as margens é como enxugar gelo. As enchentes voltam, e os prejuízos se repetem”, disse.

O Fórum, presidido pela desembargadora federal Gisele Lemke, vice-coordenadora do Sistcon, e coordenado pela juíza federal Clarides Rahmeier, teve ainda a participação do professor José Marcelo Torezan, da Universidade Estadual de Londrina (UEL), que abriu o evento com o painel “Em meio à crise climática, conservar e restaurar matas ciliares”. Torezan explicou que, além das florestas ribeirinhas, há vegetações não florestais — como as dos Pampas e do Pantanal — igualmente vitais para o equilíbrio ecológico. Ele ressaltou que a biodiversidade é a base da resiliência ambiental, permitindo que os ecossistemas se recuperem mais rapidamente de eventos extremos.

Em seguida, Danilo Funke, presidente do Comitê de Bacias Hidrográficas de Tijucas e Biguaçu (SC), e Talita Montagna, do Instituto Água Conecta, apresentaram o projeto “Pacto da Mata Ciliar”, um caso prático de recuperação de margens degradadas em Angelina (SC). A iniciativa, financiada por um edital socioambiental, possibilitou a reforma de um viveiro de mudas e a restauração de 6,5 hectares de áreas ciliares.

O juiz federal Antônio César Bochenek, coordenador de Demandas Estruturais do Sistcon, encerrou os painéis com a exposição “Destinação de valores de ações judiciais para soluções socioambientais”. Ele relatou o caso do derramento de óleo da Petrobras, ocorrido no Paraná em 2000, cujo acordo judicial resultou em um fundo de cerca de R$ 1,4 bilhão para reparação ambiental. Bochenek destacou que a gestão participativa dos recursos foi essencial para garantir a transparência e a efetividade das ações.

Ao final, o Fórum deliberou pela ratificação e encaminhamento de um conjunto de recomendações aos órgãos competentes, voltadas à preservação e restauração das matas ciliares, consideradas essenciais à resiliência climática.

O próximo Fórum Regional Interinstitucional Ambiental será realizado no dia 5 de dezembro e deverá aprofundar os debates sobre governança ambiental e sustentabilidade.

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