O escritor uruguaio Eduardo Galeano foi tema de um sarau histórico literário realizado na noite desta segunda-feira, dia 25, na cafeteria do Prédio 9 da Univates. Professores dos cursos de História e de Letras abordaram diversos aspectos inerentes às suas obras. Além disso, acadêmicos e demais participantes leram trechos de seus escritos.

No início do evento, a professora Laura Imbriaco apresentou fatos sobre o escritor, contextualizando sua importância para o universo da História e da Literatura. Conterrânea de Galeano, a docente também comentou sobre os prêmios concedidos ao autor. “Ele foi um escritor que sempre escreveu para a maioria, que eram os pobres, os negros, os indígenas... e ele mesmo dizia que ele era um feminista”, explicou.

Após a exibição de um vídeo jornalístico do momento da despedida de Galeano, que faleceu no mês de abril deste ano, o professor Mateus Dalmáz falou sobre o livro “As veias abertas da América Latina”, considerada a principal obra do uruguaio. De acordo com ele, existe uma historiografia latino americana, criada após a Segunda Guerra, que buscou criar um novo perfil para esses países. No entanto, criou-se a ideia de que a América Latina caminha rumo a um futuro melhor, e o que se viveu até agora seria apenas o início do melhor, que ainda está por vir. “Em linhas gerais, a historiografia latino americana é essa: de que a nacionalidade e o desenvolvimento estão inacabados”, destacou.

Para o professor, a obra de Galeano, em termos históricos, ficou em uma abordagem marxista ortodoxa. “Acaba sendo uma história sem personagens, sem sujeito. Ficou baseada em estruturas que explicam a história. Mesmo assim, foi uma obra importante, na década de 1970, porque mostrou a conexão entre os regimes militares. Em uma época de censura, a obra foi importante para quem se engajou na prática contra o regime militar”, complementou ele.

Após, a professora Rosiene Haetinger abordou o viés literário da obra de Galeano, citando, principalmente, os livros “As palavras andantes” e “O livro dos abraços”. Segundo a professora, o escritor nunca deixava uma conclusão ou uma resposta pronta no final de seus escritos, deixando a reflexão para os leitores. “Enquanto em ‘As veias abertas...’ não se tem um sujeito, na sua obra literária estão todos os sujeitos, porque ele contava pequenas histórias”, argumentou ela, após ler um conto de “O livro dos abraços”.

Para fazer a comparação sobre a questão do sujeito, o professor Dalmáz leu um trecho de “As veias abertas da América Latina”. “Ele se refere à América Latina do século XIX como um Estado Oligárquico. Não há personagem, o que existe é uma estrutura socioeconômica que explica a história”, afirmou ele. Entretanto, Dalmáz explicou que o escritor uruguaio utilizou um modelo de análise científica para tentar compreender a história da América Latina. Por isso, não havia tanta liberdade literária no momento da escrita.

Alguns estudantes participaram da atividade lendo trechos do autor, tanto em português quanto em espanhol. Conforme a professora Rosiene, Galeano é capaz de deslocar nosso olhar para além do senso comum. “Outra coisa para a qual ele dá muito valor é a cultura do povo”, ressaltou ela, comentando sobre as xilogravuras presentes no livro “As palavras andantes”, feitas pelo artista de cordel nordestino José Francisco Borges.

 

Texto: Tuane Eggers