Aula inaugural de Psicologia discute o sofrimento relacionado ao mundo do trabalho
Postado em 27/03/2014 10h48min
Por Tuane Eggers
O curso de Psicologia da Univates realizou, na manhã desta quinta-feira, dia 27, a aula inaugural deste semestre. A atividade contou com apresentação da coordenadora do curso, professora Ana Lúcia Bender Pereira, dos integrantes do Diretório Acadêmico de Psicologia e de alguns docentes do curso que estavam presentes no evento. Após, foi realizada a palestra “Mundo do Trabalho na Atualidade – sofrimento e adoecimento psíquico”, ministrada pela psicóloga e doutoranda Carla Garcia Bottega.
No início de sua fala, Carla apresentou três pressupostos nos quais se baseia para a abordagem do tema: a saúde e o trabalho são questões muito íntimas; a centralidade do trabalho na sociedade; e o trabalho como constituidor do sujeito na sociedade. “Trabalho vai além da questão da venda da força de trabalho. Por que as pessoas fazem essa contribuição social? Porque elas esperam uma retribuição. O que as pessoas esperam, acima de tudo, é uma retribuição moral. Elas esperam que seja reconhecida a qualidade do seu trabalho. No entanto, esse reconhecimento tem sido esquecido e deixado de lado nos dias de hoje”, ressaltou a psicóloga.
Carla falou sobre diferentes tipos de reconhecimento, que podem ser muito especiais para o trabalhador. “Hoje em dia, é cada vez mais raro, principalmente, o reconhecimento hierárquico, pois as pessoas se conhecem cada vez menos no ambiente de trabalho”, explicou. De acordo com ela, o trabalho é algo que constitui o sujeito na sociedade. “É muito interessante pensar que quem não está em um ambiente de trabalho sofre profundamente. Assim como sofre quem trabalha. Então, temos um pressuposto de que sempre existe algo de sofrimento no trabalho”, acrescentou.
Segundo a psicóloga, o trabalho gera sofrimento porque exige o desenvolvimento de tarefas para as quais, muitas vezes, as pessoas não foram moldadas a fazer. “Mas, se esse trabalho que traz sofrimento é reconhecido, ele passa a nos trazer prazer, que é o que nos faz continuar naquela atividade. Se não temos reconhecimento em relação ao trabalho, a situação começa a ficar complicada”, destacou Carla.
A palestrante alertou que o sofrimento relacionado ao trabalho, se for um sofrimento patogênico, pode levar o trabalhador a pensar, inclusive, em suicídio. “Existe uma estrutura inerente a mim, e é a essa estrutura que tenho que me adaptar. Um dos grandes problemas que hoje enfrentamos é a organização do trabalho. É claro que existem outras questões, mas são mais sintomas físicos. A organização do trabalho é algo mais sutil, que nos atinge mais profundamente”, afirmou Carla.
A psicóloga acrescentou, ainda, que, quanto mais a organização do trabalho for construída com o trabalhador, mais colaborará com a saúde dele. “Não há uma neutralidade em relação ao trabalho: ou é a ocasião de se realizar, ou é a ocasião de se destruir”, complementou Carla.
Texto: Tuane Eggers
Tuane Eggers
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