ESCAVAR E REMONTAR O ARQUIVO DE DOZE ANOS DE UM GRUPO DE PESQUISA
2013-2023: 10 ANOS DE HISTÓRIA DO GRUPO DE PESQUISA CURRÍCULO, ESPAÇO, MOVIMENTO (CEM)
Cadastrado no Diretório do CNPq desde o ano de 2013, o Grupo CEM/CNPq/Univates é uma iniciativa do Programa de Pós-graduação em Ensino da Universidade do Vale do Taquari – UNIVATES, que atua em articulação com instituições e pesquisadores de outras universidades do Brasil e do exterior.
Tem como aporte teórico-metodológico aproximações com o pensamento da Filosofia da Diferença, a partir de autores como Michel Foucault (2002, 2005, 2008, 2014), Nietzsche (1998, 2005), Deleuze (1992, 2003, 2006), Deleuze e Guattari (1997), entre outros. Complementarmente, as perspectivas curriculares pós-estruturalistas também compõem parte significativa da fundamentação que sustenta as atividades do Grupo.
No decorrer de sua trajetória, vem desenvolvendo investigações arqueogenealógicas (Foucault, 2005, 2008) e seus procedimentos exploratórios-experimentais, tomando como referência as noções de currículo, aprendizagem, ensino, aula e criação (Corazza, 2012, 2013), Silva (2001), Gallo (2011, 2012), Veiga-Neto (2012), entre outros. É integrante de duas redes nacionais de pesquisa, em colaboração com outras universidades brasileiras: a Rede de Pesquisa Escrileituras da Diferença em Filosofia-Educação e a Rede de Investigação em Inclusão, Aprendizagem e Tecnologia em Educação (RIATTE). Estabelece também uma colaboração internacional com o Grupo de Pesquisa Espai Hibrid, associado à Universidade de Lleida (Catalunha/Espanha).
Pensamos sobre arquivo como “um gesto de escrita ou à articulação de uma palavra, mas, por outro lado, abre para si uma existência remanescente no campo de uma memória” (Foucault, 2008, p. 36).
2013 – Repensando o escolar e o não escolar: a mudança conceitual e as perspectivas genealógicas e pós estruturalistas no Grupo CEM
- Criado em 2013, o Grupo de Pesquisa Currículo, Espaço, Movimento (CEM) estabeleceu como campo empírico escolas, museus e ONGs, pesquisando as articulações entre espaços escolares e não escolares no Brasil e na Colômbia.
- Após estudos e aproximações com campo empírico da investigação, houve uma mudança conceitual na forma de pensar o escolar/não escolar como “espaços” e escolarizado/não escolarizado como “movimentos”.
- O Grupo dedicou-se a leitura crítica do currículo, questionando-o como ferramenta de padronização e defendendo práticas que valorizavam a diversidade de saberes e experiências.
- Inspirado nos conceitos de espaço liso e estriado, de Deleuze e Guattari (1997), o grupo propôs uma abordagem nômade do currículo, marcada pela experimentação, fluidez e criação.
2014 – Investigações genealógicas e curriculares em espaços escolares e não escolares: aproximações empíricas, teóricas e artísticas
- Em 2014, o Grupo CEM focou sua atuação em uma maior aproximação empírica aos espaços investigados, incluindo uma nova escola pública.
- A genealogia foi adotada como foco, com base nas obras de Foucault (2002, 2005).
- Foram realizadas observações, entrevistas e análises documentais, orientadas por questões sobre funcionamento institucional e currículo. No processo, surgiram conceitos de Foucault e Deleuze que exigiram aprofundamento, como discurso, governamento, sociedade de controle, dispositivo, intercessores e linhas de fuga.
- As teorias curriculares também ganharam espaço, com destaque para autores como Corazza, Tadeu, Gallo e Veiga-Neto.
- O Grupo intensificou o interesse por abordagens artísticas, incorporando conceitos como “deriva” de Guy Debord, “caminhando” de Lígia Clark e “fortuna” de William Kentdrige que foram explorados para repensar as relações entre ensino, aprendizagem e arte de forma criativa e integrada.
2015 – Currículo em movimento: tensionamentos, rupturas e experimentos entre escolarização e espaços de arte
- Em 2015, o Grupo CEM passou a organizar suas atividades em torno de cinco eixos que originaram estudos e publicações: 1) tempo, espaço e heterotopias; 2) governamentalidade; 3) genealogia; 4) aprendizagem e 5) teorias do currículo.
- O currículo ocupou bastante espaço como tema dos estudos, sendo analisado a partir das reflexões de Olegário e Crizel (2015) como um dispositivo moderno que regula saberes, tempos e espaços, disciplinando corpos e moldando sujeitos, inclusive em ambientes não escolares.
- Após o fechamento de uma ONG, que era espaço de pesquisa há 10 anos por não se adequar às demandas do poder público, o Grupo levantou questionamentos sobre a viabilidade de uma educação não escolarizada e levou o grupo a aprofundar suas leituras pós-estruturalistas, especialmente por meio de Tomaz Tadeu (2001).
- Surge um novo parceiro, o Museu de Artes da Cidade do Rio de Janeiro.
- Os museus passaram a ser vistos como espaços propícios para discussões dos pontos de ruptura, de tensão, bem como sobre as relações de ensinar e aprender que se efetivam entre arte e educação. Para isso, foram desenvolvidas diversas atividades de estudos como: formação de mediadores, residências pedagógicas, visitas mediadas, oficinas, encontros, palestras e seminários.
- As experiências das formações foram compartilhadas em publicações de artigos por pesquisadores, bolsistas e voluntários, além de oficinas voltadas a professores da Educação Básica.
- Realização do “I Seminário Nacional Formação Pedagógica e Pensamento Nômade”, que propôs repensar a formação docente tradicional por meio de práticas estéticas e culturais, ampliando o debate sobre currículo e educação.
- Livro disponível em: https://www.univates.br/editora-univates/media/publicacoes/119/pdf_119.pdf
2016 – Transvisões curriculares: arte, docência e experimentações entre escolas e museus
- Em 2016, o Grupo de Pesquisa CEM estruturou suas atividades em dois núcleos – Museus e Escolas – mantendo o diálogo entre os dois contextos, não como espaços separados, mas como forma de buscar as diferenças e aproximações.
- Implementação do projeto de extensão “Transvisões”, que questionava as práticas educativas atuais, propondo novas formas de pensar a arte na docência como possibilidade de trans-formar a vida, a docência, o ensino e a aprendizagem.
- Publicação do livro “Currículo, Espaço, Movimento: notas de pesquisa (2016)”.
- Realização do “I Seminário Currículo, Espaço, Movimento: Ensina-me que te aprendo”.
- Livro disponível em: https://www.univates.br/editora-univates/publicacao/160
2017 – Entre escolas e museus: experiências educativo-artísticas e currículo em movimento
- Em 2017, teve início um novo macroprojeto institucional de pesquisa denominado “Ensino e aprendizagem: o currículo em meio a práticas educativas e artísticas”.
- Através do Edital PqG/FAPERGS 02/2017, foi aprovado o projeto “Aprender e ensinar em meio a práticas curriculares educativas e artísticas”.
- Foram criadas linhas de pesquisa, e os integrantes foram organizados por meio delas: GT1 – Aprendizagem, diferença e inclusão; GT2 – Aprendizagem, pensamento e criação; e GT3 – Processo de subjetivação em práticas educativas e artísticas.
- Através do Edital 01/2017-ARD-FAPERGS, o GT1 aprovou seu primeiro projeto de pesquisa com o título “Inclusão escolar: um itinerário de formação docente”.
- Publicação do e-book intitulado “Inclusão escolar: um itinerário de formação docente”. Embora o Grupo tenha mantido o enfoque genealógico como base metodológica, passou a incorporar também procedimentos de natureza exploratório-experimental.
- Em abril de 2017, foram realizados o “II Seminário Nacional Formação Pedagógica e Pensamento Nômade” e o “I Seminário Internacional Formação Pedagógica e Pensamento Nômade”, com apoio do CNPq e da FAPERGS.
- Realização do seminário anual “II Seminário Currículo, Espaço, Movimento: experimentações entre o ensinar e o aprender”.
- Lançamento do segundo e-book do grupo intitulado “Currículo, espaço, movimento: verbetes, ensaios poéticos & outras experimentações.
- Firmada uma nova parceria com uma fundação de arte no Rio Grande do Sul, envolvendo visitas mediadas, seminário e análise de materiais educativos.
- E-book’s disponíveis em: https://www.univates.br/editora-univates/media/publicacoes/327/pdf_327.pdf; https://www.univates.br/editora-univates/media/publicacoes/227/pdf_227.pdf
2018 – Grupo CEM amplia pesquisas e articulações em educação e arte
- Em 2018, os Grupos de Trabalho (GTs) do Grupo CEM, se fortaleceram e ganharam mais autonomia. Embora mantivessem as reuniões mensais com o grupo maior, os GTs passaram a desenvolver atividades de estudos e investigações próprias.
- O GT1, passou a investigar a inclusão a partir das experiências de professores das escolas parceiras, evidenciando a complexidade envolvida na construção de estratégias para o ensino e a aprendizagem. • O GT2 dedicou-se aos estudos sobre arquivos com base em Foucault (2008) e Derrida (2001), aprofundando se nos conceitos desses autores e nos procedimentos de arquivamento de Aquino e Val (2018).
- Aprovação de dois projetos do GT1 no Edital Universal MCTIC/CNPq 28/2018. O primeiro, sobre “Experimentações curriculares na formação de professores: a proposta pedagógica da Universitat de Lleida”, investigou a proposta pedagógica da Universitat de Lleida, na Espanha – que se tornou um novo espaço de investigação. O segundo projeto, contemplado no mesmo edital, intitulado “Procedimentos didáticos e a reinvenção de arquivos na docência”.
- Fortalecimento da internacionalização da pesquisa na Univates e o diálogo com o Grupo Espai Hibrid, da UDL. • O GT3, concentrou-se na discussão sobre o papel da escola na contemporaneidade, por meio da produção fotográfica com alunos concluintes do Ensino Médio e Fundamental das escolas parceiras. • O Grupo CEM passou a integrar a rede de pesquisa Escrileituras da Diferença em Filosofia-Educação, vinculada à UFRGS e composta por grupos de 15 universidades.
- Realização do “III Seminário Currículo, Espaço, Movimento: ensinar e aprender na contemporaneidade”, no qual foram apresentados os estudos arquivísticos do GT2, as pesquisas sobre inclusão do GT1 e as percepções de alunos sobre a escola contemporânea trazidas pelo GT3, que resultaram na produção de um artigo em parceria com uma professora voluntária.
- No final de 2018, o Grupo de Pesquisa CEM, em parceria com o projeto de extensão “Pensamento Nômade”, lançou o projeto “Objetos de pensar”, a ser desenvolvido em 2019.
2019 – Objetos de Pensar: experimentos docentes e estéticos em movimento
- Em 2019, o Grupo CEM teve como destaque o projeto “Objetos de Pensar”, que reuniu 50 propostas submetidas por diversos perfis acadêmicos.
- Lançamento do livro “Objetos de Pensar: Exercícios para a Docência”, publicado em 2020. • Realização de 32 oficinas em instituições de ensino, culminando em uma exposição no SESC/Lajeado (RS) e na produção de dez artigos científicos a partir das observações realizadas por bolsistas nas oficinas. • Expansão do campo de atuação do Grupo CEM, incluindo um novo espaço de arte em Lajeado como campo empírico.
- Integração a RIATTE – Rede de Investigação em Inclusão, Aprendizagem e Tecnologia em Educação –, vinculada a Universidade do Vale do Rio dos Sinos, juntamente a sete universidades do Brasil e da Colômbia.
- Livro disponível em: https://www.univates.br/editora-univates/publicacao/316
2020 – Educação em tempos de pandemia: criações, pesquisas e resistências
- Em 2020, com o avanço da pandemia de COVID-19 e as restrições à mobilidade, o Grupo CEM precisou adaptar suas práticas e investigações em andamento.
- Criação do projeto “Currículo, Espaço, Movimento: ensaios e criações em meio à pandemia”, com atividades realizadas entre 2020 e 2021, envolvendo estudantes, pesquisadores e professores da Educação Básica. Foram desenvolvidas atividades como: 1) E a casa se fez; 2) Oitentena: crianças e criações; 3) Entrar em uma arte por meio da outra: pistas para pensar a docência no tempo presente – parceria com o grupo Investigações Poéticas (ZIP) e programas de pós-graduação da UFRGS e UERGS.
- Lançamento da segunda edição do projeto objetos do pensar, agora com o título “Objetos de Pensar na Pandemia”.
- Publicação do e-book “Objetos de Pensar na Pandemia: Exercícios para Indagar/Perdurar a Docência” • O GT 1 iniciou o projeto “Escola, cinco anos depois: Olhares de Egressos”.
- Com apoio da FAPERGS, foi realizado o “II Seminário Internacional” e “III Seminário Nacional Formação Pedagógica e Pensamento Nômade”.
- E-book disponível em: https://www.univates.br/editora-univates/publicacao/355
2021 – A Aula como Criação: macroprojeto sobre inovação das práticas docentes
Em 2021, foi lançado o macroprojeto institucional “A aula como criação: interfaces com a docência, o ensinar e o aprender”.
- Reorganização dos Grupos de Trabalho (GTs) do Grupo CEM, agora nomeados como: GT1 – Ensino e Diferenças; GT2 – Arquivo, Docência e Criação; e GT3 – Aprendizagem, Docência Inventiva e Educação a Distância. Cada GT articula-se ao projeto central, explorando diferentes enfoques teóricos e metodológicos.
- O GT2, já realizava estudos sobre arquivo desde 2018, agora se amplia com o desenvolvimento do projeto aprovado no Edital PqG/FAPERGS 07/2021 com o título “A produção discursiva da área de conhecimento de Ensino: o que o arquivo nos diz?.
- Realização de leituras regulares das aulas de Michel Foucault no Collège de France, aprofundando o uso da noção de “arquivo” como método de pesquisa, com participação aberta a estudantes e pesquisadores.
2022 – Projeto Brocantes – arquivos escolares e produção discursiva: um estudo documental sobre a genealogia da escola
- Em 2022, uma nova pesquisa arquivística foi aprovada por uma pesquisadora do GT2 através do Edital Pq1/CNPq, intitulado “Palavras e coisas da escola: uma pesquisa arquivística” que segue em desenvolvimento.
- Realização de 17 feiras do projeto “Brocantes”, reunindo cerca de 1.500 documentos que estão em processo de digitalização e catalogação para serem disponibilizados em repositório digital.
- O GT1, em parceria com o PPG Ensino da Univates, lançou o e-book “Cenas de Inclusão: um convite para pensar sobre ensino e diferenças”.
- E-book disponível em: https://www.univates.br/editora-univates/publicacao/368
2023 – Reflexões contemporâneas sobre infâncias, planejamento docente e trajetórias escolares juvenis
- Em 2023, três novos projetos foram aprovados: O primeiro “Anos iniciais do ensino fundamental: que lugares ocupam as infâncias nesse contexto?”, aprovado pelo Edital Universal MCTI/CNPq 10/2023. O segundo, “O Planejamento Docente nos anos iniciais do ensino fundamental: uma questão de leitura e escrita de arquivos”, aprovado pelo Edital FAPERGS ARD/ARC 14/2022, O terceiro, “Pesquisar com jovens e imagens sua trajetória na escola: a experiência de ser ensinado”. Aprovado pelo Fulbright All Disciplines Scholar Award (2024-2025), para ser desenvolvido parcialmente na Arizona State University.
- Com apoio da FAPERGS, ocorreu de forma híbrida o “III Seminário Internacional Formação & Pensamento nômade” e o “IV Seminário Nacional Formação Pedagógica & Pensamento Nômade. Realizado também o “I Seminário Internacional de Pesquisa em Ensino”.
- Publicação do e-book “Ensino, arquivo e docência”. A obra reúne textos de pesquisadores do Brasil, Espanha e Portugal.
- E-book disponível em: https://www.univates.br/editora-univates/media/publicacoes/427/pdf_427.pdf