Pesticidas ou defensivos agrícolas, também conhecidos como agrotóxicos, são produtos químicos utilizados em larga escala na agricultura atual. Um estudo divulgado recentemente pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) revelou que é alta a presença de resíduos de agrotóxicos em muitos alimentos presentes na mesa dos brasileiros. O Brasil, aliás, figura no ranking dos países que mais utilizam essas substâncias. Se, por um lado, muito se ouve falar sobre os agrotóxicos, por outro, em geral, não compreendemos quais os reais efeitos desses produtos em nosso organismo. A entrevista desta edição, com o professor de Toxicologia da Univates Welton Lüdtke, busca esclarecer alguns aspectos sobre o assunto.
Quais são os alimentos que apresentam os maiores níveis de agrotóxicos atualmente?
Recentemente, a Anvisa divulgou um estudo nacional sobre a situação atual envolvendo a presença de agrotóxicos nos alimentos comercializados no Brasil. No Rio Grande do Sul, os alimentos reprovados no teste por apresentarem quantidade de agrotóxico acima do limite ou por terem resíduo de agrotóxico não permitido para este alimento foram: pepino (1º lugar), morango (2º lugar), cenoura (3º lugar) e abacaxi (4º lugar). Os alimentos que não tiveram amostras reprovadas foram a maçã e o arroz.
Quais seriam os motivos de os agrotóxicos ainda serem tão utilizados no Brasil?
O principal motivo do uso dos agrotóxicos é o econômico, pois são produtos que melhoram a produção, visto que eliminam inimigos naturais das plantas (insetos, ervas daninhas, fungos etc.) e fazem com que o alimento, depois de colhido, se conserve por mais tempo.
Quais são os principais problemas que o consumo de agrotóxicos pode causar no organismo?
As consequências de uma intoxicação dependem do tipo de agrotóxico, da quantidade absorvida e da sensibilidade da pessoa contaminada. A intoxicação pode ser classificada como aguda, subaguda ou crônica.
Na aguda, os sintomas aparecem de horas a dias após a pessoa ser contaminada pelo agrotóxico. Podem ocorrer náuseas, vômitos, diarreia, dor de cabeça, reação de hipersensibilidade, tontura, dificuldade respiratória e até morte. A intoxicação aguda normalmente acontece com grandes doses desses produtos, ocorrendo principalmente com os agricultores que manuseiam e se contaminam de forma acidental ou por não utilizarem os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs).
Para nós, que consumimos alimentos, o tipo de intoxicação que pode acontecer é a crônica, que se caracteriza pela ingestão de pequenas doses do agrotóxico de forma contínua, por meses ou anos, acumulando-se no organismo, o que, em algumas pessoas, pode causar doenças. Isso depende do tipo de agrotóxico e da sensibilidade da pessoa, mas podem ocorrer gastrite, úlcera, enfisema pulmonar, asma, cirrose, câncer, alterações neurológicas (depressão, convulsão, tremores e Doença de Parkinson) e alterações nas células do sangue (anemia, diminuição das células brancas e plaquetas), entre outros.
É importante salientar que os agrotóxicos não são a causa principal dessas doenças, e que o consumo de alimentos de forma adequada ? sem exageros, variando os tipos de alimentos ? pode ajudar a preveni-las.
Existem alguns tipos de agrotóxicos piores do que outros, ou todos são nocivos da mesma forma?
Sim, existem agrotóxicos mais perigosos. Eles possuem em sua embalagem uma faixa vermelha, que indica que são extremamente tóxicos.
Quais as orientações para os consumidores que não possuem acesso a alimentos orgânicos diminuírem os riscos de alguma intoxicação?
O ideal seria que o alimento chegasse ao consumidor com uma quantidade de agrotóxico inferior ao que determina a legislação ou sem agrotóxico, mas, para isso acontecer, depende basicamente de o agricultor utilizar de forma adequada esses produtos, respeitando a quantidade máxima do agrotóxico por hectare, o tempo entre a aplicação e a colheita e utilizar o agrotóxico adequado para o alimento, ou não o utilizar, mas essa não é a nossa realidade.
Creio que deveria ocorrer mais fiscalização ao agricultor para que sejam respeitados esses limites, mas, para isso, é necessário que toda a cadeia alimentar, desde a produção até a venda, tenha rastreabilidade, sendo possível identificar o agricultor que desrespeita as normas. Outra forma que pode diminuir a quantidade de resíduo é lavar o alimento com água, retirar a casca e cozinhá-lo.
Controle biológico é alternativa construída com pesquisa na Univates
O controle biológico de pragas e doenças em plantas pode ser uma alternativa ao quadro exposto pela Anvisa. Na Univates, o Laboratório de Acarologia tem estudado o assunto. Os projetos de pesquisa desenvolvidos no laboratório, vinculados ao Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia da Univates, buscam analisar o controle biológico de ácaros-praga nas culturas por meio de métodos simples, com o mínimo de impacto ambiental. Para isso, fazem criação de inimigos naturais das pragas em laboratório e liberam-nos para fazer o controle das pragas. Com isso, os produtores não precisam usar veneno para controlar ácaros-praga.
O projeto intitulado ?Bioecologia e controle de ácaros em agroecossistemas e ambiente natural no estado do Rio Grande do Sul? é coordenado pelo professor Noeli Juarez Ferla. Uma das pesquisas vinculadas ao projeto trabalha com o controle de ácaros na cultura da videira com o uso de fungos produzidos em laboratório. Esses fungos possuem o papel de ?causar doenças? nos ácaros para resultar no controle biológico nessa cultura. A estratégia também pode ser utilizada em sistemas agroecológicos e na agricultura convencional.
Para assistir
O documentário ?O Veneno está na Mesa?, de Sílvio Tendler, é uma dica de filme sobre o assunto. A obra recupera as origens da revolução verde no Brasil para apresentar a lógica insustentável do modelo agrícola atual. O destaque vai para grandes multinacionais da química, que viram na agricultura o mercado perfeito para substituir o uso bélico do ?agente laranja?, napalm e outros. O filme pode ser assistido pela internet.
ESTA MATÉRIA INTEGRA O JORNAL DA UNIVATES, EDIÇÃO DE DEZEMBRO DE 2013, QUE PODE SER CONFERIDA NESTE LINK.
