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Cadeia produtiva do suco de uva orgânico é analisada em pesquisa

Postado em 25/01/2016 09h21min

Por Nicole Morás

Por que não se consomem produtos orgânicos em maior quantidade? Foi essa pergunta que motivou o projeto de pesquisa “Da produção ao consumo: um olhar integrado sobre o mercado de alimentos”, desenvolvida no âmbito do mestrado do Programa de Pós-Graduação em Sistemas Ambientais Sustentáveis (PPGSAS) da Univates. Coordenado pelo doutor Marlon Dalmoro, o estudo tem como objetivo analisar o mercado de alimentos orgânicos, na amplitude de sua estrutura, desde a produção até o consumo, sob perspectiva cultural, tecnológica e estratégica.

“O mercado, que envolve um conjunto de agentes e técnicas, qualifica-se como um lugar de encontro e intermediação de aspectos econômicos e de elementos culturais e sociais importantes para o sucesso de um produto. Dessa forma, a pesquisa lança um olhar integrado e interdisciplinar sobre o assunto”, explica Dalmoro. Nesse projeto, a análise é focada no suco de uva orgânico e conta com auxílio da Vinícola Garibaldi – pioneira na oferta desse tipo de produto.

Na pesquisa, são investigadas as diferentes pessoas e organizações envolvidas desde a produção da uva orgânica, passando pelo processo de transformação e comercialização, até a chegada ao consumidor final. Também são abordados os significados dos orgânicos para os participantes de toda a cadeia. “Os aspectos técnicos não podem ser compreendidos só do ponto de vista técnico, mas também a partir do significado para os consumidores, pois, muitas vezes, a ideologia pode ser a principal barreira tanto para o consumidor como para o produtor”, argumenta Dalmoro.

Um exemplo disso é a ideia de que não pode haver vegetação no solo onde estão plantadas as parreiras. “No cultivo comum, com uso de agrotóxicos, realmente não cresce capim. Porém, no cultivo orgânico isso não só ocorre como é recomendado, como forma de proteção do solo”, argumenta o professor ao se referir ao imaginário dos produtores. Por outro lado, a mudança dessa visão tem garantido, em alguns casos, a permanência de herdeiros nas atividades de plantio. “Já ouvimos relatos de jovens que ficaram nas propriedades apenas com a condição de que o cultivo fosse orgânico. Caso contrário, eles prefeririam migrar para centros urbanos onde pudessem realizar outras atividades profissionais a realizar o cultivo com o emprego de insumos”, exemplifica o coordenador da pesquisa.

De acordo com Dalmoro, a Serra é uma das regiões do Rio Grande do Sul com maior consumo de agrotóxicos, de forma que a cultura de orgânicos é uma opção mais viável tanto para o meio ambiente como para o próprio produtor, que diminui sua exposição aos agrotóxicos. “Sem contar os ganhos financeiros, pois um produto diferenciado possui valor agregado maior. A pesquisa identificou que o consumidor está disposto a pagar de 20% a 30% a mais por um produto orgânico”, afirma o professor. No imaginário do consumidor, ele acrescenta que o consumo de orgânico é visto como duplamente benéfico, visto que é reconhecido como uma alternativa sustentável e mais saudável.
Para a Vinícola Garibaldi, a pesquisa oportuniza conhecer melhor toda a cadeia do suco orgânico de uva, já que o projeto tem grande importância para a Cooperativa. “Tem sido importante para a compreender o público consumidor, as expectativas que ele tem com relação ao produto e ao seu posicionamento no mercado. A partir disso, a Cooperativa Vinícola Garibaldi tem iniciativas de adequação do projeto de orgânicos, uma vez que o incentiva muito”, justifica Lara Silvestrin, do departamento agrícola da Garibaldi.

Um dos diferenciais da pesquisa é a abordagem sobre produtos de cadeia longa. De acordo com Dalmoro, geralmente são analisados apenas produtos de cadeia curta – cuja relação produtor-consumidor é direta. “Nosso objetivo é ver justamente como isso se dá em um produto de cadeia longa, que é mais complexa por passar por uma empresa transformadora e por um varejista antes de chegar aos consumidores”, argumenta ele, acrescentando que o estudo realizado até o momento aponta a falta de uma rede articulada para que houvesse consumo maior de orgânicos. “Não é só um agente que faz acontecer, pois se a produção não é disponibilizada ao consumidor, a cadeia não se completa. Da mesma forma, não adianta haver grande demanda por parte dos consumidores se não houver produção suficiente ou empresas que façam a transformação da matéria-prima em produto para ser disponibilizado pelos varejistas”, conclui ele.

A pesquisa tem financiamento da Univates e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail ppgsas@univates.br ou pelo telefone (51) 3714-5354.

Pesquisa inclui análise sobre propriedades químicas
A pesquisa também aborda os aspectos químicos da produção de uva orgânica em relação às propriedades do suco, conforme estudos coordenados pelo professor Wolmir Bockel. O objetivo é verificar se há maior incidência de polifenóis na uva orgânica do que na convencional. “Esses polifenóis são antioxidantes naturais encontrados na uva. Nossa ideia é verificar se, além de evitar o contato indireto do consumidor com o agrotóxico utilizado nas plantações convencionais, a uva apresenta melhores características químicas”, explica Böckel, adiantando que os materiais coletados ainda estão em análise.

Texto: Nicole Morás
Foto: Lukas Hafelle/unsplash

Lukas Hafelle/unsplash

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