O uso de plantas nativas, além de valorizar a biodiversidade brasileira, é uma prática ambientalmente mais correta e pode proporcionar fonte de renda pelo seu valor nutricional. Um estudo sobre Rubus sellowii, conhecida como amora-preta, apresentado pela mestra Marelise Teixeira, de Lajeado, no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia (PPGBiotec) da Univates, mostra exatamente isso.
Como parte da pesquisa “Propagação de espécies vegetais nativas regionais de importância econômica e ambiental”, coordenada pela professora doutora Elisete Maria de Freitas, o estudo dos frutos desse arbusto, nativo de vários estados brasileiros e com ampla distribuição no Rio Grande do Sul, apontou que seus frutos apresentam elevada acidez, constituem importante fonte de sais minerais e proteínas, quando comparados a cultivares do mesmo gênero, ou seja, planta que foi desenvolvida ou selecionada pelo homem, além de ácido ascórbico (vitamina C) e de carotenoides. Mesmo em pequenas quantidades, a ingestão de seus frutos complementa a dieta e contribue para a proteção das células dos danos oxidativos, reduzindo o risco de desenvolvimento de algumas doenças.
“A pesquisa também mostrou que a amora-preta é muito indicada para a produção de geleias, em função do seu elevado teor de acidez titulável, além de ser indicada para produção de sucos e sorvetes, por exemplo. Isso reforça a possibilidade de a espécie passar a ser nova opção de renda em propriedades rurais que apostam na agricultura sustentável e pensam em diversificar a produção”, afirma Elisete. Essa prática também favorece a preservação da biodiversidade brasileira, completa.
A pesquisa com Rubus sellowii também aponta o potencial alelopático das folhas e dos frutos da planta, ou seja, sua capacidade de atuar na inibição da germinação e crescimento de outras espécies vegetais. Assim, a associação de plantas nativas com potencial alelopático em cultivos pode constituir uma opção para o controle de plantas invasoras, responsáveis pela redução significativa na produção de grãos. O estudo do potencial alelopático de espécies nativas pode favorecer o desenvolvimento de herbicidas naturais, reduzindo a aplicação de agroquímicos que agridem a natureza e a saúde do homem. O extrato da amora preta, por exemplo, tem boas perspectivas de potencial bioerbicida. Por ser nativa, a espécie é de fácil cultivo e tem frutificação geralmente entre janeiro e maio, o que favorece a sua exploração por longo período.
O trabalho conta com a colaboração da professora Clélia Paulete Correia Neves Afonso, do Instituto Politécnico de Leiria, Portugal, e da professora Neusa Fernandes de Moura, do campus de Santo Antônio da Patrulha da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), além dos professores Eduardo Miranda Ethur e Lucélia Hoehne do PPGBiotec da Univates. A pesquisa também está vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Sistemas Ambientais Sustentáveis da Univates.
Mais informações sobre o PPGBiotec podem ser conferidas em www.univates.br/ppgbiotec ou pelo e-mail ppgbiotec@univates.br.
Frutos nativos X frutos exóticos (cultivares)
A amora-preta é o nome popular para várias espécies do gênero Rubus, tanto nativas quanto exóticas e cultivares. A Morus nigra, espécie arbórea exótica e invasora de matas ciliares, também é conhecida como amora. Além disso, o cruzamento de diferentes espécies cria novos cultivares. De acordo com Elisete e Marelise, as cultivares, por apresentarem características selecionadas durante o seu desenvolvimento, formam frutos maiores e mais vistosos que atraem o consumidor. Explicam que, no entanto, “Os frutos maiores são mais atrativos para o mercado e para o consumidor, mas não necessariamente são os que apresentam mais nutrientes”. É o que foi confirmado na presente pesquisa. Os frutos da amora-preta nativa são nutricionalmente melhores do que os de cultivares do mesmo gênero.
Texto: Nicole Morás