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Como formamos nossa personalidade?

Postado as 21/12/2018 10:28:01

Por Artur Dullius

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Uns são mais tímidos, sérios e concentrados. Outros mais extrovertidos, alegres e brincalhões. As características mudam completamente de uma pessoa para a outra e são elas que definem a personalidade de cada um de nós. Você provavelmente já deve ter parado para pensar no que o faz ser quem você é!

Aliás, todos nós, em algum momento da vida, costumamos ouvir a tradicional comparação entre pai e filho ou mãe e filho. Mas, e aí, quais fatores influenciam na formação da nossa personalidade? Aquela conversa de “Ah, é teimoso igual o pai” será que faz sentido?

Artur Dullius

Conforme explica o médico geneticista e professor do curso de Medicina da Univates André Anjos, sim. Segundo ele, a genética tem muito a ver e uma importância considerável na formação da personalidade das pessoas. “Os traços da personalidade, assim como várias outras características dos seres humanos, são considerados, dentro da genética, o que denominamos de herança complexa, ou herança multifatorial, pois conta com diversos fatores envolvidos”, explica.

Mas, como tudo o que envolve o ser humano, as definições não são tão simples assim. Isso porque os genes não são determinantes para a formação da personalidade. Eles funcionam muito mais como “tendências genéticas”. “Além da hereditariedade, as questões ambientais também exercem influência na formação e definição das nossas características. São duas forças atuando na formação da personalidade das pessoas. Nenhuma é predominante e ambas atuam em conjunto para que os traços de comportamento se manifestem”, conta Anjos. É por isso que não é possível definir uma idade exata a partir da qual a personalidade de um indivíduo está estabelecida. Conforme o professor, o período da infância é bastante definidor dentro do que apresentaremos a respeito de características futuras, mas não podemos afirmar que somente na infância a personalidade estaria em formação.

Para mostrar a importância dos dois fatores no processo de formação da personalidade, o professor cita exemplos de estudos feitos com gêmeos monozigóticos (gêmeos idênticos que possuem o mesmo genoma), que apresentam personalidades diferentes. “Algumas pessoas dizem que gêmeos precisam ter atitudes e pensamentos similares, mas nós sabemos que isso não acontece. Encontramos inúmeros gêmeos que possuem fatores genéticos muito idênticos, mas personalidades completamente diferentes. Nesse caso, é a influência do meio ambiente a responsável por essa diferenciação”, lembra.

Por outro lado, ele lembra do caso de filhos adotivos que, mesmo sem contato com os pais biológicos, apresentam semelhanças na personalidade.

“Aí o fator genético teve maior influência”, conclui. Já para explicar as diferentes personalidades dentro de uma mesma família, o professor lembra que não é possível pontuar se a herança materna ou paterna é mais forte, pois isso depende de cada indivíduo.

Todas essas características não vêm de um único gene, pois não existe o gene da alegria, o gene da tristeza. São um conjunto de genes que formam uma característica. E é por isso que existe essa dificuldade de pontuar o quanto da genética pode vir do pai ou da mãe, justamente por ser uma mistura
André Anjos

Ou seja, o ideal é falarmos que a pessoa tem tendência genética à preguiça, ou então tendência genética ao otimismo. Pois é diante daquilo que vivenciamos no ambiente, ao que somos expostos, a forma como somos educados e a tudo que temos de experiência, que irão se manifestando mais ou menos as características predispostas. Isso vale para todos os traços, desde a inteligência, quantidade de sono, preguiça, gula.

O professor lembra que a situação é bastante similar com os casos trabalhados em algumas doenças, dentro da genética médica. Segundo ele, por mais que uma pessoa possa ter uma base genética predisposta a ter hipertensão, é conforme o que fizer, sua alimentação e rotina de exercícios físicos, que ela irá desencadear aquela doença ou não.

Ele conta, inclusive, que boa parte dos genes conhecidos dentro da genética comportamental só foram descritos e descobertos em razão do estudo de patologias. “Se pegarmos um grupo de pessoas depressivas e passarmos a estudar o que de base genéticas elas podem ter, começamos a encontrar genes relacionados à tristeza ou à felicidade”, lembra o professor.

Estudos dentro da Educação Física também têm analisado as aptidões físicas com os traços genéticos e tomam um caminho bastante parecido com as questões comportamentais. “Alguns genes podem dar informações para a formação de fibras musculares mais longas ou mais curtas, e, então, dependendo da musculatura que se forma, o organismo vai estar mais propenso a se dar melhor em um tipo de esporte, ou em outro. Mas eu preciso realmente ser exposto a essa prática para desenvolver essa característica”, afirma Anjos.

Essa matéria faz parte da Revista Univates, nº8. Confira a versão digital aqui.