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Tuane Eggers

Pesquisadores da Univates descobrem novas espécies de ácaros encontradas no Brasil

Postado as 22/12/2020 09:41:15

Por Lucas George Wendt

A Universidade do Vale do Taquari - Univates, por meio do Laboratório de Acarologia, é referência nacional na descrição e identificação de ácaros. O trabalho de pesquisa na área é realizado pela Univates desde 2003. Recentemente a equipe do Laboratório esteve envolvida na descrição de três novas espécies do aracnídeo. 

Divulgação

Eustigmaeus crassifolius Bizarro & Johann

Eustigmaeus crassifolius

A descoberta de uma das espécies foi registrada no artigo “A new species of Eustigmaeus Berlese (Acari: Stigmaeidae) from Brazil”, publicado no periódico Acarologia. 

O novo animal recebeu o nome de Eustigmaeus crassifolius Bizarro & Johann, em referência à planta na qual foi encontrado, a Byrsonima crassifolia, popularmente conhecida como muricizeiro. 

A equipe da Univates envolvida na descoberta é composta pelo bolsista de pesquisa Gabriel Lima Bizarro e pelos pesquisadores doutores Liana Johann, Noeli Juarez Ferla e Guilherme Liberato da Silva. Liana e Gabriel emprestam seus sobrenomes à nova espécie. O estudo também teve o envolvimento da pesquisadora Aloyséia Cristina da Silva Noronha, da Embrapa Amazônia Oriental, que coletou os espécimes no Pará e os encaminhou ao Rio Grande do Sul. 

A descoberta é importante pois amplia o conhecimento sobre espécies frutíferas da região amazônica e, também, sobre as espécies que interagem com esta espécie em particular. O muricizeiro é a planta que dá origem ao murici, fruto com importância econômica no Norte e no Nordeste do Brasil pelo seu teor de fibras, cálcio, fósforo, ferro, vitaminas C, B1 e B2 e niacina. A planta Byrsonima crassifolia pode chegar a cinco metros de altura. Aparentado da acerola, o gênero Byrsonima tem mais de 130 espécies conhecidas, espalhadas por toda a América Latina. 

Lorrya tuttii e Benoinyssus oconnori

Além da publicação do E. crassifolius, em outubro Gabriel e seu colega Wesley Borges Wurlitzer descreveram, com a supervisão e colaboração da equipe do Laboratório, outras duas novas espécies. As amostras de solo com os ácaros foram enviadas da cidade de Novo Mundo, no Mato Grosso, pelo Departamento de Entomologia e Acarologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), para análises no laboratório da Univates. As espécies foram descritas e nomeadas como: Lorrya tuttii Bizarro, Wurlitzer & Da Silva, da família Tydeidae; e Benoinyssus oconnori Bizarro, Wurlitzer & Da Silva, da família Eupodidae. Os artigos que apresentam ao mundo os novos aracnídeos foram publicados na revista International Journal of Acarology.

enoinyssus oconnori Bizarro, Wurlitzer & Da Silva

enoinyssus oconnori Bizarro, Wurlitzer & Da Silva

Divulgação

enoinyssus oconnori Bizarro, Wurlitzer & Da Silva
enoinyssus oconnori Bizarro, Wurlitzer & Da Silva

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Lorrya tuttii Bizarro, Wurlitzer & Da Silva
Lorrya tuttii Bizarro, Wurlitzer & Da Silva

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A ciência da descrição das espécies 

Dois são os procedimentos aos quais empresas e órgãos de pesquisa recorrem à expertise do Laboratório de Acarologia da Univates: identificação de espécies e descrição de novas espécies de animais. Em geral o processo inicia da mesma forma, com a coleta de folhas, frutos, amostras de solo ou plantas - ou de outros objetos nos quais os ácaros possam estar. 

Após a coleta, no laboratório as amostras são observadas por meio de um microscópio estereoscópico. Todos os ácaros encontrados são coletados com o auxílio de um pincel muito fino e colocados em uma lâmina de microscopia. Após montada a lâmina seguindo padrões rigorosos de manejo, o objeto contendo os indivíduos fica de cinco a dez dias em uma estufa para a secagem e clarificação dos animais. Na sequência o material pode ser analisado em um microscópio óptico com contraste de fase, que altera o brilho do objeto analisado e permite observações mais detalhadas. No caso da identificação do ácaro coletado no Pará, as lâminas já chegaram prontas à Univates. 

Os especialistas que analisam os animais são experientes em grupos específicos de ácaros, o que permite desenvolver conhecimentos mais profundos para identificação dos animais de acordo com as suas características. Por exemplo, a professora doutora Liana Johann, na Univates, trabalha com a taxonomia da família Stigmaeidae. 

Natália Bottoni

 

Taxonomicamente todos os seres vivos são agrupados de forma hierárquica. Parte desses grupos inclui as famílias, que contêm gêneros que, por fim, reúnem os indivíduos em diferentes espécies. 

Primeiro identifica-se a família e o gênero do ácaro analisado. Depois de identificado o gênero, se faz uma busca pelas espécies que têm ocorrência registrada no Brasil. Para isso é necessário um referencial teórico consistente e trabalho intelectual criterioso de revisão de literatura científica por parte dos pesquisadores. 

Quando o animal paraense foi identificado como sendo pertencente ao gênero Eustigmaeus, os pesquisadores compararam a descrição das espécies já registradas do gênero e constataram que nenhuma espécie descrita no Brasil batia com as características do animal analisado. O mesmo processo comparativo é realizado para espécies já descritas no mundo todo, quando uma nova revisão de literatura é necessária. 

No caso da espécie analisada, não foram identificados espécimes semelhantes que apresentassem as mesmas características de reticulação, comprimento e disposição das setas, entre outras. Dessa forma, os pesquisadores chegaram à conclusão de que se tratava, efetivamente, de uma espécie nova.

Nesse momento, outra etapa inicia. É a descrição e medição minuciosa das características anatômicas e morfológicas dos animais estudados. São descritas a disposição de setas em cada segmento da perna (quetotaxia), as medidas de todas as partes corporais do indivíduo e como é organizado o órgão genital (quantas setas possui e quais são suas respectivas medidas). Como ácaros são animais muito pequenos, um desenho fiel dos exemplares é realizado de acordo com um padrão aceito para a descrição e a representação das espécies da família Stigmaeidae. 

Não é possível descrever uma espécie com um único indivíduo. No caso em questão, o holótipo, animal analisado para a descrição, e mais cinco parátipos, outros animais anatomicamente idênticos coletados, foram suficientes para a descrição e determinação da existência de uma nova espécie. Após a descrição, a espécie recebe um nome científico, conforme o Código Internacional de Nomenclatura Zoológica. Finalmente, um texto apresentando a nova espécie à comunidade acadêmica internacional é preparado, enviado para publicação, revisado por outros cientistas para assegurar o rigor metodológico da descrição e, por fim, publicado. 

Natália Bottoni

 

O Laboratório de Acarologia

O Laboratório de Acarologia foi criado em 2003 pelo professor doutor Noeli Juarez Ferla, estando atualmente instalado no Prédio 21 da Univates, como parte da estrutura de pesquisa do Parque Científico e Tecnológico Univates, o Tecnovates. Ele é vinculado ao curso de Ciências Biológicas e aos Programas de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD), em Biotecnologia (PPGBiotec) e em Sistemas Ambientais Sustentáveis (PPGSAS).

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