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Os fluxos migratórios contemporâneos são diferentes daqueles que o mundo viu acontecer nos séculos XIX e XX. Atualmente há prevalência das migrações ocorrendo no sentido Sul-Sul, ou seja, quando indivíduos deixam seu lugar de origem, situado no Hemisfério Sul, procurando países situados também nesta faixa do globo.
Essa perspectiva global é o que ocorre no Brasil, que recebe imigrantes oriundos de países da África, Ásia e região do Caribe; e o que também se verifica no Vale do Taquari. Um levantamento do Núcleo de Estudos de População "Elza Berquó" (Nepo) também destaca outra característica dos movimentos migratórios humanos do século XXI: a interiorização das migrações, quando os sujeitos que migram se instalam em regiões no interior dos lugares de destino.
No Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD) da Universidade do Vale do Taquari - Univates o doutor Ivandro Rosa defendeu a tese “Fluxo migratório haitiano dinamizador de espaços em um pequeno município do Vale do Taquari – Rio Grande do Sul – Brasil”, que trata sobre o tema da migrações contemporâneas e o seus reflexos.
O trabalho teve a orientação do professor Eduardo Périco e da antropóloga doutora Margarita Rosa Gaviria Mejía.
Ao longo do trabalho o doutor observou pontos em que há interação dos imigrantes com a estrutura social local, como por exemplo, os setores públicos de acolhimento, áreas de trabalho e espaços de trocas culturais. A partir disso concluiu que os imigrantes têm contribuído para as localidades nas quais se instalam, além do auxílio com mão-de-obra, nas linhas de produção, principalmente nos frigoríficos de abate de suínos, também estimulando o dinamismo econômico das cidades, no enriquecimento cultural e na diversidade da população.
No caso da cidade e do grupo pesquisados por Rosa, os imigrantes, por exemplo, buscam cultivar uma relação de confiança com o comércio local. Em terrenos não utilizados na cidade, geralmente emprestados por proprietários em troca de manutenção e limpeza, há a instalação de lavouras comunitárias que são utilizadas para plantio de cultivares típicas do Haiti, ou temperos e condimentos que são plantados tanto aqui quanto na ilha caribenha.
“Precisamos conhecer as nossas políticas públicas municipais e as redes de apoio aos imigrantes para podermos aprimorá-las e incluir estas pessoas como cidadãs com direitos de participação na sociedade a qual estão ajudando com seu trabalho e dedicação”, destaca Rosa. Dessa forma, as relações entre os atores sociais, os locais e os imigrantes, e o espaço que ocupam vai provocando mudanças - reflexos de um tempo em que diferentes culturas são postas lado a lado.
“Com técnicas de plantio orgânico consorciado, os imigrantes que dominam a técnica de cultivo - oriunda do interior do país caribenho, plantam feijão, quiabo, pimentão, batata-doce, guandu, caruru, entre outras”, diz o pesquisador. No momento da colheita, compartilham o alimento com todo grupo - inclusive com aqueles que são provenientes da capital haitiana, Porto Príncipe, e que não dominam as técnicas agrícolas.
Imigração
A Univates desenvolve diversas atividades voltadas aos imigrantes e, também, a entender os reflexos e os motivos dos processos migratórios contemporâneos no Vale do Taquari. Pesquisas com a de Ivandro Rosa são um exemplo, e projetos de extensão e pesquisa se somam ao trabalho institucional em torno da temática. Faz uma década da chegada dos primeiros imigrantes haitianos à região do Vale do Taquari. Estima-se que, de 2010 a 2019, se instalaram na região 2,6 mil imigrantes internacionais. Aproximadamente 1,7 mil são haitianos. Os outros 900 são de originários de 50 nacionalidades. Por exemplo, recentemente, uma parceria com o programa Migrante Empreendedor, da Organização das Nações Unidas (ONU), e executado pelo Instituto Besouro de Fomento Social, foi implementada pela Instituição. O programa tem como objetivo contribuir para a integração econômica sustentável por meio da promoção de empregos formais e trabalho autônomo entre os migrantes dos países vizinhos ao Brasil.
