Recentemente, houve um aumento nos casos da doença conhecida como varíola dos macacos [1], mas, em geral, pouco se fala sobre diversos aspectos relacionados a essa doença viral.
Inicialmente, é interessante estabelecer alguns conceitos para compreender melhor os aspectos fisiopatológicos e epidemiológicos dessa doença, como, por exemplo, o fato de ela ser causada por um vírus, ou seja, um micro-organismo que não necessariamente pode ser classificado como forma de vida, composto por algum tipo de ácido nucleico (como o nosso DNA) e um capsídeo (uma espécie de “cápsula”).
A varíola dos macacos é causada por um tipo de Orthopoxvirus, da família Poxviridae [2], inicialmente encontrado na África Central e Ocidental, geralmente nas proximidades de florestas tropicais. Contraintuitivamente, seu hospedeiro natural não é o macaco, ainda que a doença tenha sido inicialmente descoberta e tenha capacidade de infectar primatas não humanos. Esse vírus também infecta esquilos, ratos e outras espécies de roedores. Além disso, não é uma doença “nova”, diferentemente da covid-19, tendo sido descoberta em meados da década de 1970 [3], na República Democrática do Congo, e apresentado surtos esporádicos em países como Serra Leoa, Gabão e Costa do Marfim na década de 1990 [4], por exemplo. Ainda assim, suas verdadeiras taxas de letalidade não foram completamente estabelecidas, tendo em vista que, apesar de já terem sido reportados casos nos Estados Unidos e no Reino Unido desde 2003, esses foram poucos e geralmente relacionados a viajantes, sendo considerados não endêmicos [5].
Especificamente, no mês de maio de 2022 foi detectado o aumento de casos da doença em diversos países, incluindo o Brasil (ver figura abaixo, adaptada livremente do relatório da Organização Mundial da Saúde ? OMS). Ainda assim, sabe-se que há uma baixa taxa de letalidade associada, em contraste com a varíola (uma das doenças virais com maior número de óbitos na história da humanidade) [6].
Sinais e sintomas
A varíola dos macacos é uma doença autolimitada, com uma pequena proporção de casos severos, os quais geralmente ocorrem em crianças ou imunocomprometidos [7]. Seus sintomas mais comuns incluem febre, cefaleia (dor de cabeça) intensa, dores nas costas e mialgias (dores musculares) [5, 7].
Além desses sintomas comuns em doenças virais, também podem ocorrer inchaços em nodos linfáticos e erupções na pele, mais concentradas em regiões como face e extremidades, podendo evoluir para lesões planas ou mesmo vesiculares (ou seja, contendo líquido em seu interior).
O diagnóstico consiste na identificação de sinais e na coleta de material para diagnóstico molecular, por meio da metodologia de PCR em tempo real (sendo a Fundação Oswaldo Cruz a atual referência no Brasil para diagnóstico desses casos) [8].
Tratamento/prevenção
Patologias causadas por este tipo de micro-organismo ? os vírus ? são extremamente difíceis de serem curadas por meio de tratamentos farmacológicos, sendo um clássico exemplo a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids/Sida), causada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), que pode ser tratada somente com um complexo esquema de medicações antirretrovirais [9]. A melhor estratégia para erradicar doenças virais é a imunização por meio de vacinas, como podem ser vistas no gráfico abaixo as tendências relacionadas à redução de casos e de mortes após a introdução de estratégias de vacinação de poliomielite [10].
Referências
[1] BRASIL M da S. Varíola dos macacos. 2022. https://bvsms.saude.gov.br/02-6-variola-dos-macacos/.
[2] Bunge EM, Hoet B, Chen L, Lienert F, Weidenthaler H, Baer LR, et al. The changing epidemiology of human monkeypox ? A potential threat? A systematic review. PLoS Negl Trop Dis. 2022;16:1-20. doi:10.1371/journal.pntd.0010141.
[3] Breman JG, Ruti K, Steniowski M V. Human monkeypox, 1970-79. Bull World Health Organ. 1980;58:165-82.
[4] Damaso CR. The 2022 monkeypox outbreak alert: Who is carrying the burden of emerging infectious disease outbreaks? Lancet Reg Heal - Am. 2022;13:100315. doi:10.1016/j.lana.2022.100315.
[5] Reed KD, Melski JW, Graham MB, Regnery RL, Sotir MJ, Wegner M V., et al. The Detection of Monkeypox in Humans in the Western Hemisphere. N Engl J Med. 2004;350:342-50. doi:10.1056/NEJMoa032299.
[6] Reynolds MG, Damon IK. Smallpox. Int Encycl Public Heal. 2017;:524-33.
[7] World Health Organization. Clinical Management and Infection Prevention and Control for Monkeypox. Interim rapid response guidance, 10 June 2022. 2022; June:76.
[8] Cruz FO. Monkeypox: Opas, MS e Fiocruz promovem capacitação na América Latina. 2022. https://portal.fiocruz.br/noticia/monkeypox-opas-ms-e-fiocruz-promovem-capacitacao-na-america-latina.
[9] Kuznik A, Iliyasu G, Habib AG, Musa BM, Kambugu A, Lamorde M. Initiation of antiretroviral therapy based on the 2015 WHO guidelines. Aids. 2016;30:2865-73.
[10] Pollard AJ, Bijker EM. A guide to vaccinology: from basic principles to new developments. Nat Rev Immunol. 2021;21:83-100. doi:10.1038/s41577-020-00479-7.
[11] WHO. Surveillance, case investigation and contact tracing for Monkeypox. 2022; June:1-7. https://apps.who.int/iris/handle/10665/354486.