O diplomado do curso de História, licenciatura, da Universidade do Vale do Taquari - Univates Patrick Vieira Gregianin concluiu seu curso recentemente e, como Trabalho de Conclusão de Curso, analisou a representação da bruxa no imaginário Medieval Ibérico, entre os séculos XIII e XV. O jovem investigou fontes documentais e históricas por meio de uma abordagem qualitativa, ou seja, buscando descrever os fenômenos analisados a partir de sua caracterização. O estudo foi orientado pelo professor Tiago Weizenmann.
Como resultados o jovem identificou a existência, na sociedade do período analisado na Espanha e em Portugal, de um ideal de subserviência feminina e uma influência muito marcante da Igreja no cotidiano.
Nesse sentido, aquelas mulheres que desafiavam as práticas sociais orientadas com vigor pela Igreja corriam o risco de serem chamadas de bruxas e de terem de lidar com o destino reservado a quem fosse associado à bruxaria ou ao misticismo. Dada a presença da Igreja Católica, muitas regras morais eram respeitadas com rigor, o que fez com que surgisse o controle do poder social, influenciando a formação da sociedade naquele contexto.
“Por intermédio de estudo qualitativo e da análise de fontes bibliográficas, pude identificar a existência de construções sociais em torno da representação da bruxa no imaginário medieval Ibérico, demonstrando a existência de elementos que nos levam a considerar o papel da Igreja e seus dogmas instituídos pelos poderes seculares e temporais. Alinhado a isso, também deve-se levar em consideração a criação de estereótipos sobre o feminino e as marcas deixadas pela misoginia, ciclicidade, perversão, infertilidade e intuição”, destaca ele.
A figura da mulher e da bruxa nos séculos XIII e XV esteve muito ligada uma à outra. Da mesma forma, os conhecimentos em torno das ervas medicinais, da cura de enfermidades de maneira natural e do misticismo também foram associados à figura feminina. Com o tempo, todos esses aspectos passaram a ser combatidos pela religião católica devido à presença de estereótipos associados à dissecação de animais, à utilização de plantas para poções e à cura de enfermidades.
Acervo Pessoal A figura da mulher foi, naquele contexto, acusada de crimes que deram início a orientações, protocolos e cuidados embasados em investigações e condenações das bruxas perante acusações inverídicas e quase sempre advindas da mentalidade masculina - destacando como eram perigosas e reforçando uma suposta relação com o diabo. O papel da Inquisição retrata as faces de longos séculos que reforçaram a segregação e a opressão à mulher e a sua liberdade de expressão, preconizando a onipresença da dominação masculina.
“É importante considerar o contexto histórico desse tempo, reconhecendo como os dogmas pertencentes à Igreja Católica acabaram por moldar o pensamento social em torno da representação que se tinha da mulher”, detalha o jovem. “Dessa forma, a pesquisa permitiu-nos analisar os elementos culturais da Idade Média presentes no imaginário e reconhecer a representação das bruxas em suas especificidades, a partir da descrição de conceitos e simbolismos, ao mesmo tempo em que buscamos compreender os dogmas e preceitos religiosos da Igreja Católica e dos processos inquisitoriais”.
Obras que foram referência documental do trabalho
BLOCH, Marc. La société féodale (1939);
BASCHET, J. e LE GOFF. Diabo;
Cf. NOGUEIRA. O nascimento da Bruxaria (1995);
DAOLIO, Jocimar. Da cultura do corpo (1995);
FERREIRA, Aline Guedes. Inquisição Católica: em busca de uma desmistificação da atuação do Santo Ofício (2011);
KRAMER, Heinrich; SPRENGER, James. Malleus Maleficarum: o martelo das feiticeiras (1993);
NOVINSKY, Anita. Viver nos tempos da inquisição (1982);
PRIORE, Mary Del. Magia e medicina: o corpo feminino (2009);
ROBLES, Martha. Mulheres, Mitos e Deusas: o feminino através dos tempos (2019).
