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História negra e o batismo de adultos escravizados em Taquari, Rio Grande do Sul, são abordados em estudo científico

Postado as 26/05/2023 12:39:15

Por Paulo Émerson Cardoso da Silva

Alfredo Costa, 1922

Fotografia que retrata paisagem do contexto histórico da pesquisa

Fotografia que retrata paisagem do contexto histórico da pesquisa

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Karen Pires, 2021

Formação territorial de Taquari

Formação territorial de Taquari

Desenvolvido por Karen Pires, doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD) da Universidade do Vale do Taquari - Univates, o estudo “História negra e o batismo de adultos escravizados em Taquari, Rio Grande do Sul”, apresenta dados sobre o processo escravista na região de Taquari, interior do estado do Rio Grande do Sul.

O artigo, publicado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), na revista Projeto História: Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados de História, objetiva expor as relações de parentesco, ritual e fictício, entre os escravizados adultos e seus respectivos padrinhos e madrinhas. Para tanto, vale-se dos registros de batismo da Paróquia de São José de Taquari datados dos anos de 1805 a 1850.

 

Karen Pires, autora do estudo, é ativista em assuntos sociais. Ela é convidada para participar de momentos direcionados a diferentes públicos e apresentar explicações sobre ocenário escravista e pós-abolicionista na região do Vale do Taquari. Karen afirma que o estudo é muito importante por divulgar os dados da escravidão africana do Vale, uma região que sempre evidencia as raízes europeias e nunca as africanas. No entender dela, “a partir dos dados de batizados de africanos adultos, temos a prova da quantidade de pessoas advindas da África.”

Divulgação/Acervo pessoal

Karen Pires

A análise teórica e conceitual do projeto aconteceu por meio do método onomástico, estudo que utiliza o nome como condutor da investigação, e da micro-história, que tem sua pesquisa  delimitada a um tema específico em questão de temporalidade e espaço, para conseguir expor realidades que não são retratadas pela história geral. 

“Os negros escravizados foram batizados obrigados, como uma imposição do colonizador. Com isso, ocorreu também a mudança dos nomes dessas pessoas para nomes cristãos”, explica Karen. 

O que indicam os dados 

Os pesquisadores concluem que o estudo das relações de parentesco espiritual fictício entre escravizados adultos e seus padrinhos descritos nos registros de batismo da Paróquia de São José de Taquari demonstram a formação das redes sociais, de confiança e proteção unidas pelo batismo católico. Os dados levantados na fonte principal, os assentos batismais, apresentam dados onde a maioria dos padrinhos e madrinhas eram proprietários de escravizados, mas não se percebeu os próprios senhores batizando seus próprios escravizados. 

Eram senhores que foram padrinhos de propriedades diferentes daquela em que o adulto estava inserido. "Vimos também padrinhos e madrinhas de outras escravarias apadrinhando escravizados adultos. É possível identificar uma teia social formada entre esses indivíduos, com laços construídos fora dos limites geográficos de seus locais de trabalho", descrevem os autores. 

Outras informações mostram que os padrinhos descritos são escravizados, mas sem referência aos seus senhores, então os pesquisadores não podem afirmar se esses escravizados eram da mesma escravaria do adulto batizado. O compadrio também foi estabelecido com os mesmos escravizados mais de uma vez, casos em que o escravizado ou escravizada foram padrinhos e madrinhas de mais de um escravizado adulto, o que demonstrou que alguns indivíduos eram mais requisitados para a função de apadrinhamento dos adultos inseridos nas variadas propriedades de Taquari. Poderia ser uma indicação dos próprios senhores os nomes desses escravizados que serviram de padrinhos, como uma maneira de apaziguamento dos recém-chegados. O apadrinhamento por indivíduos na condição de forro pouco apareceu nos batismos dos escravizados adultos. 

A constituição de laços de parentesco com um liberto significava bastante para quem estava na escravidão, pois era a possibilidade de vantagens sociais em um cotidiano bem marcado pelos status sociais. Em uma situação de liberdade ou em especial no cativeiro, o afilhado poderia receber a proteção e conselhos de um padrinho e madrinha que conheciam o mundo da liberdade e poderiam ter uma rede de pessoas que favoreciam o afilhado ou afilhada. Os pesquisadores entendem que os laços de compadrio podem ser pensados como conquista de espaços de autonomia, estratégias por parte dos escravizados, brechas que foram criadas dentro de um sistema opressor a partir de uma formalidade cristã. 

Os estudos ainda não foram totalmente concluídos. Karen Pires entende que esses resultados servem para dar continuidade a pesquisas na região que buscam entender o passado escravista. 

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