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O que impede mulheres residentes na zona rural de realizarem o exame citopatológico?

Postado as 01/06/2023 11:10:40

Por Paulo Émerson Cardoso da Silva

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O exame preventivo do câncer do colo do útero, popularmente conhecido como exame papanicolau, é um teste realizado para detectar alterações nas células do colo do útero e deve ser realizado em mulheres que possuem ou possuíam vida sexual e, principalmente, aquelas que estão entre os 25 e 64 anos de idade. O Ministério da Saúde recomenda que o exame Citopatológico Cervicovaginal (CP) seja realizado anualmente, porém, a partir de dois exames anuais com resultados negativos para displasia ou neoplasia, ele pode ser realizado com intervalo de três anos. 

Ainda que seja recomendado realizar com certa periodicidade o exame, mulheres moradoras da zona rural do estado do Rio Grande do Sul possuem determinados impasses para fazê-lo.

Motivada em compreender essas adversidades, identificar a porcentagem de mulheres que não o realizam e divulgar a importância do exame, a estudante Alessandra Seghetto Hilario, do curso de Enfermagem da Universidade do Vale do Taquari - Univates, com orientação da professora Aline Brietzke, desenvolveu um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) que resultou no artigo científico “Exame citopatológico em mulheres rurais”, recentemente publicado pela The Research, Society and Development Journal. 

A professora Aline explica que as populações rurais têm um foco muito ligado à produção e ao trabalho rural. Às vezes as questões de saúde ficam de lado, sendo vistas como de menor importância. “Entretanto, nosso trabalho é mostrar que a saúde da mulher é importante. E, para garantir uma trabalhadora ativa e feliz, a saúde da mulher precisa ser levada em consideração. Mesmo morando em áreas mais distantes, longe de centros de saúde, os profissionais podem fazer visitas domiciliares e agendar um horário de consulta para avaliação de saúde, conforme o melhor horário”, descreve a docente.  

Como o estudo foi feito? 

O estudo entrevistou 75 mulheres com idade entre 18 e 62 anos, residentes de um município do Vale do Taquari no interior do Rio Grande do Sul, por meio de um questionário individual. 

Das 75 mulheres entrevistadas, 17 nunca realizaram o exame, que é disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A pesquisa salienta que a maioria das que nunca realizaram o exame são moradoras mais distantes da Estratégia de Saúde da Família (ESFs) local, não possuem meio de transporte próprio e são identificadas como de baixa renda.

Os resultados da pesquisa são apresentados por meio de três categorias temáticas criadas pelas pesquisadoras e que emergiram das entrevistas com as mulheres participantes do estudo sobre as razões pelas quais as mulheres podem não procurar realizar o exame.

A primeira delas é “Sentir desconforto durante o exame”. Com base na análise de dados coletados, foi possível notar que todas as mulheres entrevistadas mencionaram algum tipo de constrangimento ao realizar o exame, mas o fazem para evitar complicações de saúde futuras. Também foi observado que a maioria delas não sente desconforto ao realizá-lo com um profissional do sexo feminino. As causas do desconforto são diversas, como pudor da exposição do corpo ou imposições misóginas do cônjuge. 

“A importância do enfermeiro na orientação às mulheres” é a segunda categoria. Entre as perguntas realizadas, havia com qual profissional as mulheres entrevistadas  preferem realizar o exame, se com o enfermeiro ou com o médico. Cerca de 56% das participantes responderam que preferem realizá-lo com o  enfermeiro. Devido à aproximação que esse profissional possui com o usuário do serviço de saúde, ele tem um papel fundamental na orientação de saúde para a mulher, pois desenvolve na prática assistencial a educação em saúde e assistência adequada, eficaz e humanizada.

A última categoria que emergiu das entrevistas é “Dificuldades encontradas pelas mulheres”. Além do desconforto que o exame pode causar, também estão presentes questões relacionadas à exposição do corpo no momento do exame, que podem causar vergonha e medo, sentimento negativo durante a espera pelo resultado, dificuldade no agendamento e a falta de informação sobre a importância e periodicidade da realização do procedimento. Para contornar essa situação, é necessário que haja uma boa comunicação e transmissão de conhecimentos para as pacientes.

Quais são os resultados?

Ao final da análise de dados, foi constatado que 52% (36) das mulheres realizam coleta de CP a cada dois anos, 42,5% (22) o fazem a cada três anos ou mais e a minoria, 38,7% (17), nunca o realizou. Comparando os resultados, pode-se concluir que tem uma grande quantidade de mulheres que nunca realizaram o exame, principalmente aquelas que residem distante da ESF.

Alessandra Seghetto refere em seu estudo que faz parte do papel do enfermeiro levar informações para essas mulheres que têm residência distante do serviço de saúde por meio de visitas domiciliares ou até mesmo em encontros que a ESF realiza em parceria com a equipe multiprofissional. Salienta que se sabe que a prevenção de câncer do colo de útero por meio do diagnóstico precoce aumenta as chances de cura em 80%. Sendo assim, a Enfermagem tem papel fundamental nesse processo. 

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