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Tuane Eggers

Biovales: Centro de Análises de Compostos Bioativos dos Vales

Postado as 23/06/2023 11:24:17

Por Lucelia Hoehne, Julia Baranzelli e Adriano Rayol da Silva

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Por Lucélia Hoehne, professora do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia (PPGBiotec) e coordenadora do projeto Biovales; Julia Baranzelli, bolsista de desenvolvimento tecnológico e industrial do projeto Biovales; e Adriano Rayol da Silva, bolsista de desenvolvimento tecnológico e industrial do projeto Biovales. 

 

A produção de alimentos tem sido associada a mudanças climáticas, redução da água doce e perda de biodiversidade (HALPERN et al., 2022; MILIÃO et al., 2022). Além disso, os custos de obtenção de matérias-primas de origem animal têm aumentado devido ao alto consumo de água, energia e insumos agrícolas, além da emissão de gases do efeito estufa (HOLDEN et al., 2018; SPRINGMANN et al., 2018). Esses fatos têm desencadeado o desenvolvimento de pesquisas que buscam alimentos mais sustentáveis e que causem menos impactos ambientais (MOURA et al., 2021; SCHNEIDER et al., 2023).

É necessário, portanto, estudar/conhecer produtos que atendam a essa tendência de mercado e forneçam nutrientes para humanos e animais. Nesse contexto, as Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs) e as microalgas têm emergido como potenciais suprimentos para a cadeia alimentar.

As PANCs também podem ser chamadas de plantas comestíveis silvestres e compreendem várias espécies vegetais rústicas e nativas da natureza (MOTTI, 2022). Podem ser descritas como espécies alimentares que possuem uma ou mais partes com potencial alimentar e sem uso diário. Também abrangem plantas alimentícias com métodos de processamento incomuns e geralmente não têm valor de mercado ou são vendidas apenas em pequena escala (MAPA, 2010).

O interesse pelas PANCs vem crescendo, pois são fontes de nutrientes, como proteínas, carboidratos, minerais, vitaminas, fibras alimentares e compostos bioativos (FERREIRA JÚNIOR; CAMPOS; DE MEDEIROS, 2021; MARIUTTI et al., 2021; MILIÃO et al., 2022; MOTTI, 2022). Dentre o potencial nutricional e tecnológico das PANCs, seu teor proteico pode apresentar papel importante na contribuição para a sustentabilidade dos sistemas alimentares, da biodiversidade e, até mesmo, para a distribuição mais eficiente de proteínas de alta qualidade para toda a população mundial (FASOLIN et al., 2019).

As microalgas, por sua vez, são consideradas o superalimento do futuro (SCHNEIDER et al., 2023), pois têm se destacado como fontes de compostos nutricionais como polissacarídeos, proteínas, lipídios, vitaminas, minerais e fibras alimentares (DE SOUZA et al., 2019; DOLGANYUK et al., 2020). Além disso, são a fonte mais rica de carotenoides naturais, que são pigmentos reconhecidos por suas propriedades antioxidantes e corantes alimentícios (BENBELKHIR; MEDJEKAL, 2022). O consumo de biomassa de microalgas demonstrou ter diversos efeitos à saúde, como atividade hipoglicemiante, propriedades gastroprotetoras e propriedades hipolipidêmicas (DE MEDEIROS et al., 2022; ZHOU et al., 2022). Sua adição a produtos alimentícios pode melhorar o valor nutricional, o perfil aromático e as propriedades tecnológicas (CHEN et al., 2022). A incorporação de microalgas em produtos alimentares comuns, como produtos de panificação, ajuda a melhorar a segurança alimentar e a combater problemas de desnutrição em países em desenvolvimento (GRAHL et al., 2020).

Desse modo, as fontes vegetais, como PANCs e microalgas, podem contribuir para a segurança alimentar, pois contribuem para a economia local. Esses alimentos podem ser explorados como fontes de nutrientes para combater a fome e a desnutrição, melhorar a produção de alimentos e o crescimento econômico das nações. Ainda, vão ao encontro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), mais precisamente os ODS 2 (fome zero e agricultura sustentável), 8 (trabalho decente e crescimento econômico) e 9 (indústria, inovação e infraestrutura) (UNITED NATIONS, 2020).

Nesse sentido, o projeto Biovales: Centro de Análises de Compostos Bioativos dos Vales foi aprovado no Edital InovaRS 2022, com a participação da Universidade do Vale do Taquari  - Univates, Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs) e Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), além de duas empresas da região, a Syntalgae Sustainable e a Inovamate. Tem como objetivo principal desenvolver uma metodologia rápida e barata para análises de compostos bioativos, em plantas e microalgas cultivadas na região dos Vales do Taquari e Rio Pardo, usando técnicas analíticas do tipo ecofriendly, que não demandam reagentes químicos tóxicos. 

A proposta é calibrar carotenoides e ácido clorogênico, usando a espectrometria de infravermelho em conjunto com ferramentas matemáticas, para prever possíveis compostos interessantes nas amostras. Uma vez validada a metodologia proposta, poderá ser utilizada para análise de outras matérias-primas e abranger demais regiões do Estado e até mesmo outros países. Sua importância se dá pelo alto potencial de crescimento e de agregação de valor aos produtos a partir do conhecimento e da quantificação dos compostos bioativos presentes nos produtos.

A intenção é que o projeto Biovales possa contribuir para a melhoria da renda dos pequenos produtores, gerando conhecimento e emprego. Também pode promover e incentivar políticas orientadas para o desenvolvimento que apoiem atividades produtivas, promovam o empreendedorismo e o crescimento das micro, pequenas e médias empresas. Por fim, apoia o desenvolvimento tecnológico, a pesquisa e a inovação, inclusive garantindo um ambiente político propício para a diversificação industrial.

Os resultados serão apresentados em palestras e minicursos ao longo dos próximos dois anos, para difundir o conhecimento sobre as espécies produtoras e sua identificação de compostos bioativos. O projeto proporcionará novas oportunidades de mercado, com foco no desenvolvimento sustentável até 2030, elevando a qualidade de vida da população local.

 

Referências

BENBELKHIR, F. Z.; MEDJEKAL, S. Microalgal carotenoids: a promising alternative to synthetic dyes. Algal Research, v. 66, n. 102823, p. 1-16, 1º jul. 2022. 

CHEN, C. et al. The potential and challenge of microalgae as promising future food sources. Trends in Food Science & Technology, v. 126, p. 99-112, ago. 2022. 

DE MEDEIROS, V. P. B. et al. Microalgae as source of functional ingredients in new-generation foods: challenges, technological effects, biological activity, and regulatory issues. Critical Reviews in Food Science and Nutrition, v. 62, n. 18, p. 4929-4950, 29 jun. 2022. 

DE SOUZA, M. P. et al. Potential of Microalgal Bioproducts: General Perspectives and Main Challenges. Waste and Biomass Valorization, v. 10, n. 8, p. 2139-2156, 1º ago. 2019. 

DOLGANYUK, V. et al. Microalgae: a promising source of valuable bioproducts. Biomolecules, v. 10, n. 1153, p. 1-24, 1º ago. 2020. 

FASOLIN, L. H. et al. Emergent food proteins – Towards sustainability, health and innovation. Food Research International, v. 125, n. 108586, p. 1-16, nov. 2019. 

FERREIRA JÚNIOR, W. S.; CAMPOS, L. Z. DE O.; DE MEDEIROS, P. M. Unconventional Food Plants: Food or Medicine? Em: Local Food Plants of Brazil. [s.l: s.n.]. p. 29-47. 

GRAHL, S. et al. Alternative protein sources in Western diets: food product development and consumer acceptance of spirulina-filled pasta. Food Quality and Preference, v. 84, n. 103933, p. 1-12, set. 2020. 

HALPERN, B. S. et al. The environmental footprint of global food production. Nature Sustainability, v. 5, n. 12, p. 1027-1039, 24 out. 2022. 

HOLDEN, N. M. et al. Review of the sustainability of food systems and transition using the Internet of Food. npj Science of Food, v. 2, n. 18, p. 1-7, 2018. 

MAPA. Hortaliças não convencionais. 2010. Disponível em:

MARIUTTI, L. R. B. et al. The use of alternative food sources to improve health and guarantee access and food intake. Food Research International, v. 149, n. 110709, p. 1-22, 1º nov. 2021. 

MILIÃO, G. L. et al. Unconventional food plants: nutritional aspects and perspectives for industrial applications. Future Foods, v. 5, 1º jun. 2022. 

MOTTI, R. Wild Edible Plants: A Challenge for Future Diet and Health. Plants, v. 11, n. 344, p. 1-2, 1º fev. 2022. 

MOURA, H. F. S. et al. Evaluation of multielement/proximate composition and bioactive phenolics contents of unconventional edible plants from Brazil using multivariate analysis techniques. Food Chemistry, v. 363, n. 129995, p. 1-11, 30 nov. 2021. 

SCHNEIDER, A. T. et al. Microalgae as superfood. Em: Algae Materials. [s.l.] Elsevier, 2023. p. 93-102. 

SPRINGMANN, M. et al. Options for keeping the food system within environmental limits. Nature, v. 562, n. 7728, p. 519-525, 25 out. 2018. 

UNITED NATIONS. THE 17 GOALS. Sustainable Development. 

ZHOU, L. et al. Bioactive compounds in microalgae and their potential health benefits. Food Bioscience, v. 49, n. 101932, p. 1-17, 1º out. 2022.

 

Tuane Eggers

O conteúdo e as opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade de seu autor. 

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