Uma recente pesquisa conduzida por Edna Antônia da Silva Brito, Lury Silva de Castro, Naiara Antônia Nunes Vinhas, Aloyséia Cristina da Silva Noronha e Noeli Juarez Ferla revelou um panorama detalhado da diversidade de ácaros associados às plantações de cupuaçu (Theobroma grandiflorum) em Bragança e Augusto Corrêa, no Estado do Pará, Amazônia, Brasil. O estudo, publicado na revista International Journal of Acarology, traz dados sobre a biodiversidade desses organismos e sua interação com o agroecossistema local.
A pesquisa teve como objetivo principal identificar e analisar a fauna de ácaros associada aos pés de cupuaçu nessas duas localidades paraenses. As coletas foram realizadas sistematicamente em diferentes períodos e momentos específicos do ano, levando em conta fatores ambientais como temperatura, umidade relativa, pressão atmosférica e precipitação.
Foram coletados um total de 868 ácaros pertencentes a 53 espécies distintas, distribuídas entre 17 famílias e subordens. As cinco famílias mais abundantes identificadas foram: Eriophyidae (44,7%); Phytoseiidae (21,1%); Cunaxidae (9%); Oribatida (5,5%); e Tenuipalpidae (3,5%).
Os dados coletados são fundamentais para compreender a composição e o papel ecológico desses ácaros na cultura do cupuaçu, contribuindo para futuras pesquisas e manejos agrícolas sustentáveis na região Amazônica. Um dos aspectos mais interessantes do estudo foi a relação entre a quantidade de ácaros coletados e as condições climáticas. Observou-se um número significativamente maior de ácaros na estação chuvosa, com aproximadamente 90% a mais de amostras do que no período seco.
No entanto, em termos de riqueza, a estação seca se destacou, com 38 diferentes espécies identificadas. A diferença nos resultados sugere que, enquanto a umidade elevada favorece a proliferação de ácaros, a seca pode permitir maior diversidade devido às mudanças nas interações ecológicas.
As localidades de Bragança e Augusto Corrêa apresentaram diferenças na quantidade de ácaros coletados. Bragança registrou um total de 551 indivíduos, enquanto Augusto Corrêa teve 317. No entanto, o índice de diversidade de Shannon-Wiener indicou valores semelhantes em ambas as regiões, o que sugere que, apesar das diferenças numéricas, a diversidade foi equilibrada entre os dois locais.
Os resultados do estudo têm relevância para a ciência e para a produção agrícola no Brasil. O cupuaçu é uma das culturas mais importantes da Amazônia, sendo amplamente cultivado e comercializado para a produção de polpa, doces e cosméticos.
A presença de ácaros pode ter impactos positivos e negativos na cultura: algumas espécies, como as da família Phytoseiidae, são conhecidas por atuar como predadoras de ácaros-praga, contribuindo para o controle biológico natural; outras espécies, como as da família Eriophyidae, podem estar associadas a danos nas folhas e frutos, afetando a produção e qualidade do produto final.
Assim, compreender a dinâmica populacional e a diversidade desses organismos pode auxiliar na implementação de estratégias de manejo mais eficazes e sustentáveis.
Com a crescente expansão da agricultura na Amazônia, estudos como este são importantes para garantir que a produção se desenvolva de maneira equilibrada e com o menor impacto ambiental possível. A preservação da biodiversidade local e a implementação de técnicas sustentáveis de manejo são passos fundamentais para o futuro da agricultura na região.
Glossário
Índice de diversidade de Shannon-Wiener - o índice de diversidade de Shannon-Wiener (H') é uma métrica que mede a diversidade de espécies em um habitat. É um dos índices mais utilizados em ecologia.
Táxon = táxon é uma unidade de classificação biológica, ou seja, uma unidade taxonômica. É um grupo de organismos ou populações de organismos que compartilham características em comum. Os táxons são organizados em uma hierarquia, desde o reino até a subespécie.
