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Guerra Israel x Irã 2025: entenda as implicações geopolíticas do conflito que está acontecendo no Oriente Médio

Por Lucas George Wendt

Postado em 24/06/2025 12:57:22


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O conflito entre Israel e Irã em 2025 chegou a um dos momentos mais críticos da história recente do Oriente Médio. Nas últimas semanas, ataques aéreos, lançamentos de mísseis e represálias violentas marcaram uma escalada militar sem precedentes entre os dois países. 

As tensões aumentaram após bombardeios israelenses em território iraniano, com o Irã respondendo com mísseis e drones contra cidades israelenses. Em meio ao cenário de guerra, líderes internacionais anunciaram um cessar-fogo gradual, mas os ataques persistiram mesmo após o acordo, levantando dúvidas sobre a estabilidade da trégua.

Neste artigo, você vai entender o que motivou o conflito entre Israel e Irã, os principais acontecimentos até agora, o papel de potências internacionais como os Estados Unidos e as perspectivas para o futuro da região. Saiba como essa guerra pode impactar não apenas o Oriente Médio, mas também a economia global, os preços do petróleo e a segurança internacional.

Principais eventos da guerra Israel x Irã em 2025

13 de junho: Israel inicia uma série de ataques aéreos contra alvos estratégicos no Irã, incluindo bases do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC), centros de comando e instalações nucleares.

15 de junho: O Irã lança dezenas de mísseis balísticos e drones em retaliação, atingindo cidades israelenses como Haifa, Be’er Sheva e Tel Aviv.

19 de junho: Os Estados Unidos fornecem apoio a Israel com bombas de penetração ("bunker-buster") visando bunkers nucleares iranianos.

22 de junho: O Irã dispara mísseis contra a base aérea americana de Al Udeid, no Catar, aumentando a tensão global.

23 de junho: Donald Trump, ex-presidente dos EUA, anuncia um plano de cessar-fogo em fases, com início imediato das paralisações iranianas e, posteriormente, israelenses.

24 de junho: Mesmo após o acordo, novos ataques são registrados. O Irã atinge cidades israelenses e Israel responde com bombardeios em Teerã, incluindo a prisão de Evin e centros de inteligência do IRGC.

Professor Mateus Dalmáz, historiador e docente de Relações Internacionais da Univates apresenta panorama sobre a escalada militar no Oriente Médio. 

IRÃ X ISRAEL EM 4 ASPECTOS

Por Mateus Dalmáz

O atual conflito entre Irã e Israel pode ser compreendido como sendo derivado de quatro razões essenciais: primeiro, a demonstração de força por parte de Israel após ataque do Hamas, em outubro de 2023; segundo, a estratégia do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, de desviar o foco de críticas negativas internas e externas; terceiro, o desejo de Israel e dos Estados Unidos pelo desmantelamento do programa nuclear iraniano; e, por fim, a janela de oportunidade enxergada por Israel numa conjuntura de fragilidade do Irã. 

A demonstração de força por parte de Israel, perante o Oriente Médio, vem sendo uma das características da reação israelense ao ataque do Hamas, em outubro de 2023. Naquela ocasião, vale lembrar, o grupo radical sunita do Hamas havia lançado cerca de cinco mil foguetes contra Israel, a partir da Faixa de Gaza, com intenção de interromper a normalização em curso das relações entre Arábia Saudita e Israel. O contra-ataque israelense veio sob forma de bombardeios aéreos intensos e bloqueio de água, eletricidade e combustível na Faixa de Gaza (entre outubro e novembro de 2023); ofensivas contra aliados do Hamas na Síria e no Líbano, especialmente operações contra o Hezbollah - grupo radical xiita libanês aliado do Hamas - na fronteira com o Líbano, o que gerou resposta do Irã – financiador dos grupos radicais islâmicos – e dos Houthis – radicais xiitas do Iêmen, aliados do Irã -, com o lançamento de mísseis contra Israel, provocando ofensiva israelense contra os Houthis no porto de Iêmen (entre janeiro de 2024 e junho de 2025). 

A escalada de ataques israelenses em direção ao Irã se intensificou em junho: mísseis contra instalações nucleares (Natanz, Fordow, Isfahan) e bases militares (Tabriz, Hamadã, Parchin) iranianas; sabotagem da Mossad – serviço de inteligência israelense - para neutralizar defesas aéreas do Irã; reação de Teerã com o lançamento de drones e mísseis balísticos contra Israel; contra-ataque de Tel Aviv com bombardeio de instalações nucleares iranianas em Arak/Khondab. Após isso, houve o lançamento de mísseis de ambas as partes, atingindo alvos civis e militares. Tal cronologia expressa o interesse israelense em não apenas desmantelar o Hamas e os palestinos na Faixa de Gaza, como também desarticular a rede regional de apoio ao Hamas, enfraquecendo estratégica e fundamentalmente o Irã e, assim, demonstrar poder através do emprego violento da força militar. 

Um segundo fator tem a ver com o uso da guerra para amenizar problemas internos da gestão do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. O premier israelense vem sofrendo críticas negativas, como a ausência de estratégia clara após ofensiva em Gaza (uso vago da expressão “vitória total”), falhas de inteligência em outubro de 2023 (avisos de ataque do Hamas supostamente ignorados pelo governo), desrespeito ao judiciário e tendências autoritárias (reforma judicial com limites ao poder da Suprema Corte e influência de partidos de extrema-direita no governo), violações do direito internacional e crimes de guerra contra palestinos denunciados por Organizações Não-Governamentais (ONGs), países europeus (especialmente a França) e pelo Sul Global (com o Brasil sendo uma espécie de porta-voz), esquemas de corrupção internos (subornos do funcionalismo para favorecer editais para o Catar) e problemas socioeconômicos (déficit público e aumento de emigrados). A guerra, assim, vem sendo utilizada por Netanyahu como símbolo de liderança forte e distração de escândalos internos e de críticas externas, apelando para o afloramento de um nacionalismo israelense. 

A terceira razão para o conflito se refere às suspeitas de Israel e Estados Unidos a respeito do programa nuclear iraniano. Nos últimos anos, houve um conjunto de fatores que levaram ao quadro de desconfiança: enriquecimento rápido e elevado de urânio no Irã (chegando a 60%, próximo dos 90% necessários para armas nucleares), formação de estoques suficientemente grandes para armas (cerca de 200kg), omissão e resistência às inspeções da AIEA – Agência Internacional de Energia Atômica (encobrimento de dados, restrição de acesso e descarte de câmeras), ampliação da capacidade técnica para produzir bombas nucleares com rapidez (breakout) e falta de confiança interna na determinação religiosa anti-bomba (feita pelo Aiatolá Khamenei, em 2003). 

A repercussão diplomática do programa nuclear iraniano vem sendo negativa, havendo sanções multilaterais contra Teerã (manifestações de Estados Unidos, Inglaterra e França junto à AIEA). Os ataques israelenses ao Irã, assim, convergem com o interesse do Ocidente pela restrição ao enriquecimento do urânio no Irã e também com o desejo israelense e estadunidense de desmantelar o programa nuclear iraniano, algo que poderia contribuir para fragilizar o regime dos Aiatolás. 

Por fim, o quarto fator para compreender o conflito é a conjuntura internacional momentaneamente desfavorável para o Irã. Seus principais aliados sofreram revezes que os impedem de colaborar com Teerã: os grupos extremistas do Hamas, do Hezbollah e dos Houthis vem recebendo ataques israelenses nos últimos meses; o governo sírio de Bashar al-Assad, tradicional aliado dos Aiatolás, colapsou em dezembro de 2024; a Rússia, cuja influência no Oriente Médio é regularmente exercida com a aproximação ao Irã e à Síria, está envolvida na guerra na Ucrânia, o que dificulta a oferta de suporte material. 

O Irã também se mostra vulnerável em razão de ter sido atingido na sua capacidade de defesa anti-aérea, produção de mísseis e segurança de dados, o que o enfraquece diante de Israel, que reúne mais capacidades econômicas e militares. A conjuntura desvantajosa para o Irã se completa com o comportamento das grandes potências na atualidade, especialmente dos Estados Unidos e de seus aliados: ao invés da integração, do liberalismo e do multilateralismo, a Era de Trump tem incentivado o nacionalismo, o protecionismo e o unilateralismo, o que fragiliza os fóruns internacionais dentro dos quais uma mediação de conflitos seria viável.  

O nível de tensão entre Israel e Irã é delicado, uma vez que o explícito apoio de Trump a Netanyahu, com possível participação direta dos Estados Unidos no conflito, poderia atrair outros Estados para o tabuleiro da guerra. Contudo, a mobilização de lideranças do hemisfério Norte e Sul, junto à Organização das Nações Unidas (ONU), pode encaminhar o desfecho do conflito para um novo acordo nuclear com o Irã, algo parecido com aquele que havia desde 2015 e que os Estados Unidos se retiraram unilateralmente três anos depois, na gestão de Trump.  

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