A humildade é uma característica peculiar. Muitas vezes ela não se revela nos momentos de queda, mas nos dias de glória, quando conquistamos algo importante, comemoramos vitórias ou nos sentimos plenamente realizados. É justamente nesses momentos que somos desafiados a manter os pés no chão. Quem nunca presenciou amigos, colegas ou até familiares que, após alcançarem o sucesso, pareciam ter se transformado completamente?
O êxito pode, sim, nos confundir. Em alguns casos, somos levados a acreditar que estamos acima de tudo e de todos, e é aí que mora o perigo. Surge aquela sensação de invencibilidade, como se estivéssemos blindados, donos do próprio universo. Passamos a ignorar conselhos, a desconsiderar vínculos importantes e, em nome da nossa “fase boa”, atropelamos tudo o que estiver no caminho. É o famoso "subiu para a cabeça".
Muitas vezes esse comportamento vem disfarçado de discursos sobre autoconhecimento, amor-próprio ou espiritualidade que, isoladamente, são muito valiosos. Contudo, quando nos tornamos reféns de frases prontas, como "foguete não tem ré" ou “acredito, confio, aceito”, corremos o risco de ignorar que a verdadeira evolução exige, antes de tudo, humildade. E aí vale a pergunta: será que estamos mesmo evoluindo?
Curiosamente, até no sentido literal, essa metáfora não se sustenta. A SpaceX já provou que foguetes podem dar ré. No sentido figurado, a vida também se encarrega de nos lembrar disso. Assim como os dias difíceis passam, os de euforia também são passageiros. A vida, afinal, tem mais a ver com uma roda-gigante do que com um foguete em ascensão: há momentos de subida, de topo e, inevitavelmente, de descida.
No ambiente profissional, a falta de humildade pode cobrar um preço alto. Um recém-formado que entra em uma empresa cheio de entusiasmo, mas acredita saber mais do que seus colegas experientes, pode rapidamente perder o apoio da equipe. Da mesma forma, lideranças que não reconhecem os méritos da equipe ou evitam admitir erros tendem a gerar ambientes hostis e pouco colaborativos. A humildade, nesses casos, não é sinal de fraqueza, é sinal de maturidade. Profissionais que sabem ouvir, aprender com os outros e reconhecer seus limites demonstram inteligência emocional e conquistam respeito de forma duradoura.
Na universidade, esse aprendizado começa cedo. Trabalhos em grupo, feedbacks sinceros, desafios acadêmicos e até tropeços fazem parte de um processo que vai muito além do conteúdo técnico. Aqui aprendemos que saber ouvir, reconhecer o valor das outras pessoas e continuar aberto ao aprendizado são sinais claros de inteligência e também de humildade.
Desenvolver a humildade é, portanto, um exercício contínuo. Ela não anula nossas conquistas, mas lhes dá sentido. Que cada passo da nossa trajetória pessoal e profissional seja guiado não apenas pela busca por resultados, mas também pelo respeito, pela escuta e pela consciência de que, em qualquer altura, o aprendizado não termina, afinal nem foguete sobe para sempre, e, quanto mais alto se vai, mais essencial é lembrar onde está o chão.
