Ensinar nunca foi uma tarefa simples, mas fazê-lo em tempos de distração constante é, sem dúvida, um desafio ainda maior. Com múltiplas telas disputando a atenção e estímulos incessantes ao alcance de um clique, a sala de aula enfrenta uma competição desigual com o universo digital presente nas mãos de cada estudante universitário.
Muitos professores relatam uma sensação recorrente: para manter o interesse dos estudantes, é preciso preparar verdadeiros “shows semanais”. As aulas devem ser envolventes, criativas, breves, dinâmicas e, de preferência, com algum efeito “uau!”. O conteúdo precisa disputar espaço com vídeos curtos, imagens e efeitos visuais que não param de surgir. Nesse cenário, a docência corre o risco de se confundir com uma performance contínua.
Mas será que educar deve se reduzir a entreter?
Não se trata de negar a importância da inovação pedagógica, da linguagem acessível ou do uso estratégico das tecnologias. Esses recursos são valiosos nos processos de ensino e de aprendizagem. A questão central é o equilíbrio, pois a aprendizagem profunda raramente ocorre sem esforço. Estudar exige disciplina, regularidade e comprometimento. Requer presença física e mental. Nem todo conhecimento é prazeroso ou imediato, e essa realidade precisa ser compreendida com clareza, tanto pelos estudantes quanto pelos educadores.
Conciliar trabalho e estudo é a realidade de muitos jovens que buscam cursar uma universidade no Brasil. Embora essa jornada seja, muitas vezes, exaustiva, ela não pode justificar uma postura de mínimo esforço ao longo da formação acadêmica. É necessário adotar uma atitude proativa diante do processo educativo, compreendendo que o Ensino Superior vai além da conquista de um diploma: representa um compromisso com o próprio desenvolvimento, com o aprimoramento das competências e com a preparação para os desafios da vida em sociedade.
Nesse sentido, cabe aos estudantes refletir sobre seu papel na própria trajetória de aprendizagem. A responsabilidade pelo conhecimento adquirido não recai exclusivamente sobre o professor. Definir metas, organizar o tempo, criar estratégias para lidar com distrações improdutivas, valorizar o saber, acompanhar e avaliar o próprio desempenho são atitudes indispensáveis tanto na vida acadêmica quanto na futura atuação profissional.
No processo de autodesenvolvimento, a sinceridade e a clareza interior tornam-se essenciais. São elas que nos permitem reconhecer tanto nossas potencialidades quanto nossas fragilidades, promovendo ajustes conscientes em nossas escolhas e condutas. Vale lembrar que as dificuldades e os erros também são oportunidades para repensar comportamentos muitas vezes automatizados, favorecendo o crescimento pessoal por meio da humildade, da coerência e da disposição para mudar.
Para os professores, o desafio permanece: encontrar formas de despertar o interesse dos alunos sem abrir mão da profundidade; motivar sem sacrificar a consistência do conhecimento; conectar-se com os estudantes sem transformar cada encontro em um espetáculo. Isso não significa retomar métodos antigos e distantes, mas, sim, valorizar a educação como uma experiência que transcende o entretenimento: um processo de formação crítica, significativa, humana e transformadora.
Em tempos de distração fácil, talvez o recurso mais revolucionário seja justamente defender o essencial: tempo, leitura, interpretação, engajamento, produção e expressão. Ensinar e aprender continuam sendo atos profundamente humanos e, por isso, merecem todo o nosso esforço. Lembre-se: o comprometimento que demonstramos por meio de nossas ações revela o valor que atribuímos ao momento. Se você precisa de um show para manter a atenção, reflita se está realmente interessado no processo de aprendizagem.
