Um estudo recente, publicado na revista Cuadernos de Educación y Desarrollo, aborda o cenário das queimadas no estado do Pará, Brasil. Este trabalho de pesquisa, realizado por Fernando O’Grady Cabral Júnior e os professores Carlos Cândido da Silva Cyrne e Luciana Turatti, da Universidade do Vale do Taquari - Univates, analisa as causas, frequência e impactos ambientais, sociais e econômicos das queimadas na região.
Baseando-se em dados entre 2014 e 2023, os pesquisadores descrevem como as queimadas afetam o meio ambiente e vida cotidiana e a economia local, e sugerem estratégias para mitigar seus efeitos.
A pesquisa identifica fatores tanto naturais quanto humanos como responsáveis pelas queimadas no Pará. A estação seca, frequentemente agravada pelo fenômeno climático El Niño, cria condições propícias para incêndios. Contudo, a ação humana é um fator preponderante, com práticas agrícolas tradicionais, expansão de pastagens e atividades ilegais como a grilagem e a mineração se destacando como impulsionadores do problema.
Estas queimadas, amplamente utilizadas para preparar a terra para a agricultura e a pecuária, refletem uma estratégia que é rápida e barata, mas que traz prejuízos ambientais. A situação é agravada por políticas públicas insuficientes e a fraca fiscalização ambiental, que não conseguem barrar o avanço desenfreado da fronteira agrícola.
Degradação do ambiente
O impacto ambiental das queimadas é severo e de longo alcance. As queimadas destroem vastas áreas de floresta contribuindo, assim, para a perda de biodiversidade. O estudo explica que, além da destruição de habitats naturais, há uma emissão de gases de efeito estufa, que agrava o aquecimento global e a mudança climática. Este ciclo de queimadas repetidas ao longo dos anos compromete a capacidade de regeneração da floresta, levando a um desmatamento crescente e irreversível em algumas áreas.
A poluição do ar, causada pela liberação de partículas finas e gases tóxicos, é outra consequência ambiental direta. Essa poluição não afeta apenas a saúde dos ecossistemas, mas também a saúde humana, principalmente nas comunidades que vivem próximas às áreas afetadas. Esses problemas ambientais se refletem, ainda, na qualidade da água e nos ciclos hidrológicos, impactando a disponibilidade e a qualidade dos recursos hídricos essenciais para as populações locais.
Consequências sociais: saúde, cultura e conflitos
As queimadas têm um impacto direto na saúde pública, com o aumento de problemas respiratórios e cardiovasculares na população. Comunidades inteiras são obrigadas a lidar com a fumaça constante e a baixa qualidade do ar, especialmente durante a estação seca, quando a incidência de queimadas atinge o ápice.
Além dos problemas de saúde, as queimadas também alteram práticas culturais e modos de vida. Comunidades indígenas e tradicionais, que dependem diretamente da terra e dos recursos naturais, sofrem com a perda de áreas de coleta e caça. Esse fenômeno resulta em deslocamento forçado, alterando a dinâmica social e criando conflitos pelo uso da terra. A luta por territórios para atividades agrícolas, muitas vezes ilegais, coloca em risco a segurança dessas comunidades e gera tensão entre diversos grupos sociais.
Impactos econômicos
Os impactos econômicos das queimadas são igualmente importantes. A pesquisa destaca que as queimadas comprometem a produção agrícola e a pecuária, atividades econômicas fundamentais para a região. O uso do fogo para manejo de terras leva à degradação do solo, reduzindo sua produtividade e aumentando os custos de recuperação. Esses custos são agravados pela necessidade de replantio e pela perda de colheitas, afetando diretamente a renda das famílias que dependem dessas atividades.
O turismo também é afetado, com a destruição de áreas naturais que poderiam ser exploradas de forma sustentável. Além disso, o valor das terras cai, o que afeta o mercado imobiliário rural e reduz o patrimônio dos proprietários. Esse ciclo negativo impacta a sustentabilidade financeira da região e desestimula novos investimentos, comprometendo o desenvolvimento econômico local.
Prevenção e controle
A conclusão do estudo enfatiza a urgência de estratégias integradas para a prevenção e controle das queimadas. Os autores recomendam o fortalecimento da fiscalização ambiental, com investimentos em recursos humanos e financeiros para monitorar e impedir atividades ilegais. A promoção de práticas agrícolas sustentáveis é apontada como uma solução para reduzir a dependência do fogo no manejo da terra.
Outras soluções incluem a criação de brigadas comunitárias de incêndio, que poderiam atuar de forma preventiva e emergencial nas áreas mais vulneráveis. Os pesquisadores também sugerem o uso de tecnologias de monitoramento, como satélites e drones, para identificar e combater focos de incêndio rapidamente.
Por fim, o estudo reforça a necessidade de políticas públicas mais eficientes e bem direcionadas. As leis ambientais brasileiras, como a Lei de Proteção da Vegetação Nativa e a Lei dos Crimes Ambientais, já estabelecem diretrizes para a proteção das florestas, mas a sua aplicação é frequentemente limitada pela falta de fiscalização e recursos.
Para acessar o estudo completo e entender mais sobre as estratégias propostas, consulte a publicação no Cuadernos de Educación y Desarrollo.
