Ano 2019, a humanidade cria os androides replicantes da série Nexus, com inteligência igual ou superior aos engenheiros que os projetaram. Relegados a trabalhos forçados, de alto risco, eles se rebelam e retornam para a Terra, onde são caçados. O contexto descrito é o enredo do filme Blade Runner, de 1981 (quem puder assista), e descreve um cenário apocalíptico no qual as tecnologias ditam o ritmo da vida humana e criam problemas nas relações entre humanos e sistemas inteligentes.
Há poucos anos, essa cena seria interpretada como algo pouco plausível e distante da realidade. Falar em inteligência artificial (IA) parecia assunto restrito a laboratórios de tecnologia e filmes de ficção científica. Ainda não temos robôs humanoides andando entre nós, interagindo cotidianamente com humanos, mas podemos afirmar que jamais experimentamos tanta interação com sistemas baseados em inteligência artificial como nos dias atuais. A Inteligência Artificial (IA) está em praticamente tudo: no celular que sugere o caminho mais rápido para casa, no site de compras que recomenda produtos, no aplicativo que organiza sua agenda e também em câmeras que reconhecem nossos rostos.
Estimativas mostram o crescimento da adoção da IA e das profissões ligadas à área. Segundo o PwC 2025 Global AI Jobs Barometer, indústrias altamente expostas à IA tiveram um crescimento três vezes maior na receita por trabalhador. Além disso, trabalhadores com habilidades em IA receberam um prêmio salarial de 56% em 2024 — o dobro do registrado em 2023. No cenário brasileiro, a demanda por habilidades em IA está crescendo, tendo quadruplicado em apenas três anos entre 2022 e 2024. O uso de IA em empresas tem aumentado substancialmente nos últimos anos, impulsionado por aplicações como análise de dados, automação de processos e atendimento ao cliente.
O impacto no mercado de trabalho é significativo. Funções repetitivas e burocráticas estão sendo automatizadas, como o processamento de formulários, a triagem de e-mails e o atendimento básico a clientes. Um exemplo prático é o uso de chatbots: segundo a consultoria Gartner, em 2024 mais de 70% das interações com clientes foram realizadas, pelo menos em parte, por assistentes virtuais. O principal objetivo, neste caso, é reduzir custos e agilizar o atendimento. Entretanto, a adoção dessas tecnologias modifica as funções de profissionais humanos, que passam a lidar com situações mais complexas e estratégicas.
Então, quais serão as nossas funções no futuro? Quais profissões serão extintas? Quais serão as novas habilidades e conhecimentos necessários para lidar com essas mudanças?
Certamente não existem respostas definitivas para essas questões, mas algumas tendências começam a ficar claras no horizonte. Novas profissões começam a se destacar, como engenheiro de IA, analista de dados e especialista em ética de algoritmos, especialista em machine learning, entre outras. Além disso, funções tradicionais estão se transformando. Um profissional de marketing, por exemplo, agora precisa dominar ferramentas de análise preditiva, modelos de IA, para entender o comportamento de consumo e criar campanhas mais direcionadas.
O setor de saúde é outro exemplo que ilustra a colaboração entre humanos e sistemas inteligentes. Hospitais já usam IA para analisar exames de imagem, como ressonâncias e tomografias, ajudando médicos a detectar doenças com mais rapidez. Estudos recentes mostram que, em alguns casos, algoritmos conseguiram identificar sinais iniciais de câncer de mama com uma precisão igual ou superior à de radiologistas experientes. O objetivo não é substituir o trabalho médico, mas ampliar a capacidade de diagnóstico.
Na área logística, a transformação também é visível. Empresas como Amazon e DHL utilizam IA para otimizar rotas de entrega, levando em conta trânsito, clima e até padrões históricos de demanda.
Quais habilidades serão essenciais no futuro do trabalho com IA?
Por outro lado, a adoção de IA traz desafios importantes, como a qualificação da mão de obra. Diversas estimativas e estudos mostram que profissionais de diferentes áreas precisarão aprender novas habilidades para acompanhar a automação. Não se trata de capacitar programadores, especialistas em IA, e sim de desenvolver habilidades para o uso crítico e equilibrado de sistemas baseados em IA nas diferentes áreas do conhecimento.
Para quem quer se preparar para o futuro com IA, existem dois caminhos complementares. Desenvolver habilidades técnicas, como análise de dados, uso de ferramentas digitais e compreensão básica de algoritmos e fortalecer competências humanas, como a criatividade, o pensamento crítico, empatia e capacidade de resolver problemas complexos, que continuam sendo característicos da inteligência humana.
O fato é que a IA já está moldando o presente, não apenas o futuro. Ela pode ser uma aliada poderosa para aumentar a produtividade, melhorar serviços e criar novas oportunidades, mas seu impacto final dependerá de como a sociedade decidirá utilizá-la.
A IA está aí, e, mesmo que existam motivos para temer o futuro, é fundamental compreender os seus impactos e nos preparar para o futuro. E isso exige curiosidade, atualização constante e, sobretudo, consciência de que a tecnologia deve estar a serviço das pessoas. Como toda ferramenta, ela pode destruir ou melhorar as nossas vidas, cabe a nós escolher o caminho.
