Um mosaico de histórias, saberes e experiências educativas que atravessam diferentes regiões e comunidades do Brasil. É assim que pode ser definido o livro “Estudos em Ensino e Ciências Humanas: das quebradeiras de coco à história dos povos indígenas no Brasil”, lançado em 2025 pelos docentes e pesquisadores Neli Teresinha Galarce Machado, Marcos Rogério Kreutz e Stella Maria Carvalho de Melo, vinculados aos Programas de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD) e de Pós-Graduação em Ensino (PPGENSINO) da Universidade do Vale do Taquari – Univates.
A obra reúne nove textos, que podem ser acessados aqui, produzidos ao longo de oito anos de pesquisas no âmbito do projeto Sociedade e Cultura: História Ambiental, Etno-história e Cultura Material, que desde sua criação tem buscado articular investigações acadêmicas com realidades sociais concretas. O livro documenta práticas de ensino e aprendizagens formais e não formais, e também dá voz a mulheres, povos indígenas, comunidades ribeirinhas e bairros urbanos, revelando como a educação pode ser um instrumento de empoderamento, resistência e transformação social.
Segundo os organizadores, a publicação é também uma celebração de 20 anos de pesquisa em Ciências Humanas na Univates, período no qual diferentes projetos foram desenvolvidos, consolidando uma linha de investigação comprometida com a pluralidade cultural e a valorização da diversidade brasileira.
Diversidade de olhares e experiências
O primeiro capítulo, escrito por Rosyjane Paula Farias Pinto (2015), mergulha no universo das mulheres quebradeiras de coco no Maranhão. O estudo destaca como os movimentos sociais têm funcionado como espaços de educação não formal, permitindo que essas trabalhadoras rurais se tornem protagonistas de suas próprias histórias e lutem por direitos coletivos.
Na sequência, Katiane Vargens (2018) traz para o debate as experiências da Associação de Mulheres “Cantinho da Amazônia” (AMCA), em Juruena, Mato Grosso. A autora mostra como a educação informal vivenciada nesse espaço fortalece a autonomia feminina e contribui para a construção de uma rede de solidariedade e empoderamento.
O terceiro capítulo, de Gildete Elias Dutra (2019), reflete sobre a Educação Escolar Indígena entre os povos Krikati e outros grupos do Maranhão. A pesquisa revela os desafios enfrentados por professores e comunidades indígenas para conciliar tradições culturais com as demandas do sistema escolar oficial, ressaltando a importância de políticas públicas sensíveis às especificidades desses povos.
Já o texto de Fábio Teixeira Lima (2022) se debruça sobre as realidades das comunidades ribeirinhas no Amazonas. O autor destaca as dificuldades enfrentadas por professores que atuam em áreas de difícil acesso, onde o ensino exige criatividade e adaptação constantes diante da escassez de recursos.
No quinto capítulo, Everline Luise Henrichs (2021) desloca o olhar para o espaço urbano, analisando o bairro Santo Antônio, em Lajeado (RS), como um território de aprendizado e cidadania. A pesquisa demonstra como a vida comunitária pode se transformar em um espaço educativo capaz de fortalecer laços sociais e promover práticas de solidariedade.
Histórias, patrimônios e saberes populares
Claudiana Ribeiro Santos (2021), em sua contribuição, analisa o uso de espaços não formais no ensino de História em Ribeira do Pombal, Bahia. A autora defende que museus, praças e outros espaços coletivos podem enriquecer o processo de aprendizagem, ampliando a compreensão dos estudantes sobre a realidade em que vivem.
No sétimo capítulo, Ivone Jacarandá Braga Mendes (2023) volta-se à comunidade de Mazagão Velho, no Amapá, onde tradições e saberes populares ainda resistem como elementos centrais de identidade. A pesquisa evidencia como a educação pode contribuir para o reconhecimento dessas práticas e para a valorização das lutas históricas locais.
Francisco Antônio Almeida Pereira (2024), por sua vez, explora o patrimônio cultural da Ilha de Mosqueiro, no Pará. Seu estudo aponta a necessidade de abordagens interdisciplinares no ensino do patrimônio, destacando que a preservação da memória cultural deve caminhar junto com a formação escolar.
Encerrando a coletânea, o texto de Marcos Rogério Kreutz (2016/2017/2018) revisita os primeiros contatos entre indígenas e jesuítas no Vale do Taquari, no início do século XVII. A análise oferece uma visão crítica sobre as relações de poder, resistência e adaptação cultural, iluminando aspectos pouco explorados da história regional e sua inserção em processos mais amplos da colonização brasileira.
Contribuição para as Ciências Humanas
“Estudos em Ensino e Ciências Humanas” funciona como um retrato da produção científica em Ciências Humanas realizada na Univates nos últimos anos. A obra mostra como a História pode servir de eixo estruturante para compreender fenômenos sociais e educativos, articulando realidades diversas, de comunidades indígenas e ribeirinhas à vida em bairros urbanos, de associações de mulheres trabalhadoras ao ensino em escolas formais.
Os organizadores destacam que a publicação reflete também as condições concretas de pesquisa no Brasil e os limites teóricos enfrentados por quem se dedica às Ciências Humanas. Ao mesmo tempo, o livro reafirma o papel das universidades regionais, como a Univates, no Vale do Taquari, na construção de conhecimento científico conectado às demandas sociais, culturais e históricas de diferentes territórios.
